José Paulo
Há camadas e camadas de discurso circulando na internet. Um
deles ainda tem a televisão como modelo de julgar a realidade dos fatos e
artefatos. O livro “Sociedade do espetáculo” ainda é o guia de uma camada de
jornalistas e professores universitários. A televisão ainda oferece o consumo
de cultura para diversas classes sociais:
“O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação
social entre pessoas, mediada por imagens”. (Debord: 16).
Debord fala da tela gramatical da televisão de fenômenos
imagéticos:
“Sob todas as formas particulares – informação ou propaganda,
publicidade ou consumo direto de divertimento – o espetáculo constitui o modelo
atual da vida dominante na sociedade”. (Debord: 17).
As relações técnicas de produção da comunicação têm como
dominante não mais a sociedade do espetáculo, e sim a tela gramatical
cibernética: computador e celular. Ora, Debord fala da sociedade do espetáculo
como o meio de irradiação do campo de ideologias:
“Ele é uma Weltanshauung que se tornou efetiva,
materialmente traduzida. É uma visão de mundo que se objetivou”. (Debord: 17).
No Brasil, Muniz Sodré pensou a televisão não apenas como prática
de forma ideológica, e sim, sobretudo, como tela gramatical neogrotesca.
(Sodré: 1992).
No <além da época posmoderna>, a sociedade do
espetáculo continua oferecendo o espetáculo de música presencial para as massas
de consumidores. É apenas um fenômeno econômico de gozo corporal que não se
inscreve no campo político/estético? Atualmente, a sobredeterminação da
plurivocidade de tela gramatical da comunicação transforma o espetáculo de
música em uma tela gramatical narrativa para as massas vivas, atualizando-as
como fragmentos em carne e osso [das classes sociais virtuais] urbanos
político/estéticos.
Internet, televisão e rádio são os meios materiais de
existência da cultura política econômica da sociedade de comunicação. (Wolton:
1997). O <mass media> é o senso
comum dos grupos e classes sociais estético/políticos. Umberto Eco estudou tal
senso comum como gramática. (Eco; sem data).
No <além da época ´posmoderna>, há telas gramaticais
que desbancaram a tela posmoderna. Esta é:
“ – simulacres de simulation, fondé sur l’infrormation, le
modèle, le jeu cybernétique – opérationnalité totale, hyperréalité, visée de
contrôle total”. (Baudrillard: 177).
Além do neogrotesco, há na atualidade o grotesco
neoconcretista:
“Uma compulsão à repetição traz do passado imperial o campo
político cesarista/oligárquico. No entanto, ele é um outro fenômeno, pois, um
campo político/oligárquico Grotesco. Ferreira Gullar inventou a estética do
<grotesco> na América Latina”. (Bandeira da Silveira. 2024: cap. 15,
parte 4).
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A tela de fenômenos ideológicos tem agente, personagem, ator,
instituições [pública e privada] em seu domínio. O melhor livro universitário
sobre ideologia é de Terry Eagleton. Ele fala da ideologia como ilusão, como
corpo de ideias de um determinado grupo ou classe social [como concepção
política de mundo?], confusão entre realidade linguística e realidade de
fenômenos etc. (Eagleton: 15).
Ele fala da ideologia como fenômeno da oclusão semiótica. Mas
falta a forma ideológica como estrutura de dominação de uma cultura política
econômica da comunicação e da política.
A oclusão semiótica é a tela ideológica sgrammaticatura
(Gramsci:2341), isto é, anarcoempirista funcionando como estrutura de dominação
em um campo político/estético. A oclusão é o fechamento da percepção de grupos
e classes sociais para os fenômenos da tela gramatical estético/político.
Olhei para a tela gramatical da modernidade dos fenômenos no
campo político. A estrutura de dominação do discurso do universitário deixa de
ser um referente hegemônico no campo político ocidental. Ele é a estrutura de
dominação <tudo saber>. (Lacan. S. 17: 34). O logos moderno da ciência
natural é a fantasia ou objeto real no campo político em geral:
“A roupagem de ideias da ‘matemática e ciência matemática da
natureza’, ou a roupagem dos símbolos, das teorias simbólico-matemáticas,
abrange tudo aquilo que, para os cientistas, assim como para os homens
instruídos, substitui o mundo da vida e o mascara - como natureza
‘objetivamente efetiva e verdadeira’”. (Husserl: 41).
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A plurivocidade de tela gramatical moderna caracteriza a
modernidade no campo político de fenômenos da cultura:
“Se quisermos ter presente este ritmo, seguindo o seu modo de
trabalhar, veremos que o flaneur de Baudelaire não é tanto um
aurto-retrato com se poderia supor. Um traço importante do verdadeiro
Baudelaire – aquele que deu à sua obra – não aparece neste retrato. É o estado
de devaneio. No flaneur é muito evidente o prazer de olhar. Este pode
concentrar-se na observação – daqui resulta o detetive amador; ou pode estagnar
no simples curioso – e então o flaneur se transforma no badaud”.
(Benjamin. 1975: 8).
Um universitário de Paris diz que os europeus jamais foram
modernos, ele muito paparicado nas universidades do rio e de São Paulo:
“A modernidade possui tantos sentidos quanto forem os
pensadores ou jornalistas. Ainda assim, todas as definições apontam, de uma
forma ou de outra, para a passagem do tempo. Através, do adjetivo moderno,
assinalamos um novo regime, uma aceleração, uma ruptura, uma revolução do
tempo”. (Latour: 15).
A revolução do tempo consiste na transformação da gramática
do tempo (Boaventura Santos; 2021) da cultura política econômica em um campo
político/estético nacional ou internacional.
A gramática do Youtube é um continente cibernético da
comunicação com pouca reflexão na América Latina. O jornalismo do Youtube se
distancia do jornalismo de papel, do rádio e da televisão. Ora, o jornalista do
Youtube é um flaneur que acaba na oclusão semiótica como badaud? O jornalista é um espectador da realidade? Mas
de qual realidade?
Ele é um espectador das estruturas de dominação dos fenômenos
ideológicos. Ele dá as costas para o gravíssimo:
“O gravíssimo é que, todavia, não pensamos; nem na atualidade,
a pensar de que o estado do mundo instiga cada vez mais o que pensar”.
(Heidegger: 10).
Não pensar nos fenômenos
da ´plurivocidade de tela gramatical narrativo/analógica, eis o que é
gravíssimo. Tal acontecimento do não
pensar é próprio do jornalista, do professor universitário, do intelectual das
formas ideológicas esquerda/direita.
Os fenômenos gramaticais da tela estético/política têm forma e
conteúdo: ‘através de sua forma a obra de arte é um centro vivo de reflexão”.
(Benjamin: 81).
Como pensar?
“Courbet anunciara seu programa desde 1847: realismo
integral, abordagem direta da realidade, independente de qualquer poética
previamente constituída. Era a superação simultânea do <clássico> e do
<romântico> como poéticas destinadas a mediar, condicionar e orientar a
relação do artista com a realidade”. (Argan:75).
A tela gramatical do jornalismo do Youtube é análoga a tela courbetiana.
Ela não faz mediação poética entre a realidade dos fenômenos ideológicos e o
consumidor. O jornalista é o artista realista da modernidade brasileira em analogia com a
realidade do Brasil.
A tela realista do Youtube é um fenômeno cibernético estético/político
do além da época posmoderna. Ela se distancia da tela da televisão, pois, esta mediava
poeticamente a realidade como a estética política neogrotesca ou neobarroca. (Calabrese;
1988).
Lucien Sfez diz:
“Nessa polissemia os objetos de comunicação se constituem ciências
particulares, cada uma das quais enaltece o seu percurso teórico como o que
deve dominar (por sua importância, amplitude de ponto de vista, rigor), todos
os outros; assim, a linguística pareceu ser por muito tempo a ciência que
melhor podia dar conta dos fenômenos de comunicação, já que a linguagem é um laço
irrefutável e evidente entre os membros de uma sociedade, um laço <falante>,
se podemos nos permitir esse jogo de palavras. Só a linguagem pode ligar. A comunicação
seria, antes de tudo, linguística”. (Sfez: 38).
Na tela gramatical da comunicação de massa: “O tempo volta-se
sobre si mesmo. Tornar-se circular. Deixa de haver desenvolvimento linear”.
(Sfez: 51).
A tela gramatical do mass media tradicional opera com o tempo
circular da Cundaline. A serpente mágica que morde o próprio rabo. Todavia, a
gramática da cultura política econômica da comunicação se contrapõe à sociedade
de comunicação:
“trata-se de um tempo reversível, no sentido de que não
acarreta mudança na composição interna dos elementos. Parra os defensores do Creatura,
o tempo do ser vivo e da física contemporânea é irreversível”. (Sfez; 63).
Sfez fala da gramática da comunicação:
“E a formação através de um contexto surge enfim pelo que é:
uma gramática. Nova gramática da comunicação, sem relação com a antiga,
analítica, substancialista, desagregadora”. (Sfez: 53).
A atualidade
complementa a crítica da comunicação de Sfez falando de plurivocidade de tela gramatical da
comunicação, funcionando em um campo de fenômenos político/estéticos.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. SP: Companhia das Letras,
1992
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna.
EUA: amazon, 2024
BENJAMIN, Walter. A modernidade e os modernos. RJ: Tempo
Brasileiro, 1975
BENJAMIN, Walter. O conceito de crítica de arte no Romantismo
alemão. SP: EDUSP, 1993
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS. A gramática do tempo. Par uma
nova cultura política. Belo Horizonte: Autêntica, 2021
BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée,
1981
CALABRESE, Omar. A idade neobarroca. Lisboa: Edições 70, 1988
DEBORD, Guy. La société du Spectacle. Paris: Gallimard, 1967
EAGLETON, Terry. Ideologia. SP: UNESP, 1997
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. SP: Perspectiva, sem
data
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. v. 3. Torino:
Einaudi, 1977
HEIDEGGER, Martin. Que significa pensar? Buenos Aires: Nova,1972
HUSSER, Edmund. A crise das ciências europeias e a
fenomenologia transcendental. RJ: Forense, 2012
LACAN, Jacques. Le Séminaire. Livre 17. L’envers de la psychanalyse.
Paris: Seuil, 1991
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. SP: 34, 1994
SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. SP: Loyola, 1994
SODRÉ, Muniz. O social irradiado.: violência urbana, neogrotesco
e mídia. SP: Cortez, 1992
WOLTON, Dominique. Penser la communication. Paris: Flammarion,
1997
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