sexta-feira, 19 de abril de 2024

MAQUIAVEL

 

José Paulo 

 

O texto sobre a vida de Castruccio Castracani pode ser lido, ao mesmo tempo, com o texto “Belfagor, o Arquidiabo”?

O tradutor professor de ciência política da UNB diz que:

“’A vida de Castruccio Castracani’ não é um ensaio biográfico, mas uma <fantasia> [o próprio Maquiavel a qualificou assim] baseada na vida de uma pessoa real, ditador de Luca do princípio do século XIV”. (Maquiavel: 1).

O Belfagor é uma fábula sobre a verdade em um tribunal do inferno. Evoca Dante? Os textos têm algo em comum. Eles falam da realidade molecular da guerra civil na tela gramatical do fim da Idade média italiana. Castruccio é o Príncipe como um fenômeno do campo simbólico molecular; Honesta é o nome da esposa do arquidiabo Rodrigo. Este é a fantasia institucional <o diabo que se casou>, por outro lado, Castruccio é fantasia institucional do Príncipe/condottiere. A fábula da verdade requer um tribunal diabólico, um tribunal mitológico funcionando na Itália e no reino de Plutão: terra e inferno. A metafísica do mal rege a realidade molecular institucional do Príncipe e da fantasia/esposa do diabo. Se o Príncipe nos envia para o cesarismo, a fantasia <o diabo que se casou > fala da alegoria da Xantipa de Sócrates na cultura política estética, econômica, jurídica italiana.     

  

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Spinoza - multidão, Schelling, Heidegger

 

José Paulo 

 

Spinoza fala da tela gramatical do campo simbólico da política a partir do intelectual como fantasia ou objeto externo da história do Ocidente. Há uma autonomia absoluta do campo político em relação ao filósofo-rei? Este não parece ser capaz de governar a <comunidade pública> (Spinoza: 918) em suas diferentes formas de governo.

O filosofo-rei é ersatz de intelectual hegemônico da juventude de Gramsci. Este marxista ocidental abandonou o intelectual hegemônico pelo hegemonikon do estoicismo, pois, este fenômeno articula razão linguística e tela gramatical e o outro é o efeito da razão do logos ocidental.

Na formação do bloco histórico no campo simbólico, o hegemonikón ou eu político advém da tela gramatical narrativa e contempla as coisas [fato e artefato] e os agentes, atores e personagens inclusive da superfície profunda do teatro político:

D’aprés lesquels même les souveraines Puissances devraient administrer les affaires publiques dans le plein respect des príncipes sacrés de moralité, auxquels les particuliers sont dans l’obligation d’obéir. Néanmoins, lorsque ces personnages formé par la pratique s’avisent d’écrire sur un sujet politique, ils le traitent indubitablement beaucoup mieux que les philosophes, puisqu’ils n’enseignent rien qui ne soit applicable”. (Spinoza: 919).    

A relação entre afecções e afetos do campo político do indivíduo ou tela gramatical psíquica e campo simbólico da política é considerado como algo normal na história humana:

‘En d’autres termes, les sentiments par exemple d’amour, de haine, de colère, d’envie, de glorification personnelle [gloria], de joie et peine par sympathie [misericórdia], enfin tout les mouviments de sensibilité n’ont pas été, ici, considéré comme des défauts de la nature humaine. Ils en sont des manifestations caractéristiques, tout comme la chaleur, le Froid, le mauvais temps, la foudre etc., sont des manifestation de la nature de l’atmosphère. Or, si désagréables que soient parfois les évenément physiques, ils n’en sont pas parfois les événement physiques, ils n’en sont pas moins nécessaires et n’en ont pas moins leurs causes rigoureuses, à partir desquelles nous essayons de les comprendre. Mais à les étudier tels qu’ils sont, l’esprit trouve autant de satisfaction, qu’à connaitre ceux dont les sens humains sont agréablement impressionnés”. (Spinoza: 920).

Na tela gramatical da política, a natureza humana não existe como defeitos ou vícios, ou, então, doença. A sensibilidade do homem no campo simbólico político é parte da atmosfera e, assim, o desagradável aparece como acontecimento singular da prática política, ele é do reino do necessário como agente de mudança da natureza da estrutura da forma de governo. A ciência política literária de Spinoza se move pelo princípio do prazer de conhecer ao lidar com fenômenos [que vão da realidade psíquica à realidade política], fenômenos que são da esfera do phatos e não da ética.      

Na democracia representativa, a multidão em insurreição aparece como um fato desagradável, como doença para a política do dominante e sua ciência política. Ela quebra o funcionamento natural da forma de governo. Na ciência política literária, a multidão é o sintoma social da crise política da forma de governo representativo. Assim, é necessário e natural que a democracia imponha certos limites ao agir da multidão pelo aparelho de exceção de Estado/legislação penal? Agindo assim, a classe política trata a multidão como uma <questão de polícia>, como um problema agônico da estrutura de dominação. A classe política não vê a multidão como expressão de afecções e afetos traduzidos da realidade psíquica para a política na rua. Não olha para a multidão como um problema estético/político, isto é, como um fato das relações políticas de articulação de hegemonia. Ora, a multidão pode aparecer como um agente/motor da necessidade de aprofundamento da democratização da forma governo liberal política, por exemplo.   

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A ciência política literária moderno/barroca não tem uma concepção política de vida na qual a multidão aparece como realidade heteróclita, como um dos fenômenos monstruosos da revolução. Spinoza não vê a natureza humana do campo político como um fenômeno da superfície profunda da meia-noite irrevogável, como multidão negra niilista:

“Tout le monde connaît le premier principe de Spinoza: une seule ubstance pour touts les attributs. Mais le trosième, quatrième ou cinquième principe, on le connaît aussi: une seule Nature pour tous les corps, une seule Nature pour tous les individus, une Nature qui est elle même un individu variant d’une infinité de façons”. (Deleuze: 164).

Afinal, o que é a Natureza humana?

A vejo como tela gramatical universal de todas as civilizações e o recurso evolutivo que criou e recriou outras regiões no cérebro para além da região do homem das cavernas. A natureza da tela gramatical do campo político é barroca, ela é uma superfície profunda que vem à luz na consciência histórica da multidão em processo revolucionário. A Tela é  um campo de afetos e de afecções. É logos ou razão linguística?

“Dans les vingt premières propositions du de Libertate  sont exposées les conditions d’une maîtrise de l’affectivité, permettant à l’âme de se libérer en se dominant, en exerçant un certain contrôle sur elle-même. Ce qui caractérise cette démarche, c’est son caractère progressif: suivant une formule particulièrement intéressante qui apparaît dans l’énoncé de la proposition 7, elle suppose <qu’il soit tenu compte du temps> [si ratio temporis habeatur]; ceci signifie que la procédure de libération s’installe au départ dans l’ordre de la durée qui définit, comme nous l’avons déjà indiqué, <l’existence presente>, c’est-à-dire, l’existence vécue au présent, suivant donc la règle imposée par le temps”. (Macherey: 49).

Como traduzir esse <jogos de linguagem> da filosofia política para os <jogos de gramática> da ciência política literária moderno/barroca?

A multidão tem sua gramática imposta pelo tempo da tela gramatical do campo político/estético da atualidade, onde ela adquire existência como agente de transformação da natureza da estrutura do campo político:

“o Uno da multidão não é por isso o Uno do povo. A multidão não converge numa vontade geral, por um motivo muito simples: porque já dispõe de um general intellect. O intelecto público que no pós-fordismo aparece como mero recurso produtivo, pode constituir um diferente ‘princípio constituinte’, pode buscar uma esfera pública não-estatal”. (Virno: 26).

O tempo é associado à cultura política da multidão que pode ser moderno ou pós-moderno:

“O tempo é aquele da cultura política moderna e pós-moderna. Tempo moderno e pós-moderno. A gramática é aquela do tempo como organização, regulação e/ou emancipação dos povos no espaço da cultura política de uma sociedade determinada”. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 3, parte 2).

A multidão pós-moderna é da tela gramatical pós-moderna que a rege pela lógica do simulacro de simulação. (Baudrillard: 177). A guerra civil pós-moderna é aquela da multidão pós-moderna que crê que seus atos são simulações de atos reais e por isso fora do alcance do aparelho de Estado/legislação penal. Um exemplo. No 08 de janeiro de 2023, uma multidão bolsonarista destruiu os prédios dos três poderes em Brasília. A Polícia Militar de Brasília se dividiu entre conter a multidão e, simultaneamente, conduzir a multidão ´para o local de destruição. A multidão não viveu seu ato como real e sim como princípio de prazer na esfera pública do simulacro de simulação. A reação do STF foi aplicar penas severas que a multidão recebeu como injustiça, ela recebeu o princípio de realidade da lei como algo sem sentido, no entanto, acabou para ela sendo vivido como a lei mais real que o próprio real vivido.

A ciência política literária de Spinoza é moderno/barroca. Ela não admite a realidade do simulacro da ciência política literária do Sócrates de Platão. Spinoza é um sujeito de conhecimento, como um efeito da cultura política estética espanhola de Lope de Veja ou Francisco de Quevedo. (Negri: 140). O moderno parece ser uma ponte com o futuro do iluminismo. Kant fez a filosofia da conciliação barroca do iluminismo com a cultura política estética barroca. (Rawls:122).

A propósito. a multidão da nova modernidade não será aquela de um Príncipe negro, como é a multidão pós-moderna voltada para a prática de crime na guerra civil brutalista, inclinada ao grau zero da política:

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“No ‘O Principe', Agátocles Siciliano é o exemplo de um condottiere de sucesso, pois se tornou rei de Siracusa. Ele vinha de origem abjeta e sempre teve uma vida criminosa em sua cidade; ele criou a identidade entre crime política; ele instala um campo político cesarista brutalista italiano como grau zero da política. (Bandeira da Silveira: 2024: cap. 2, parte 2).

A multidão pós-moderna é uma multidão heideggeriana voluntarista, expressão da filosofia do sujeito fenomenológico. (Lukács: 401). A multidão pós-moderna crê em uma liberdade de ação criminosa pilotada por uma fantasia virtual que não é um fato de sentido?

“Com qual sentido apreendemos o fato da liberdade se nós não a vemos, não a ouvimos, não a tocamos não a cheiramos e sentimos o gosto? (Heidegger: 19).

A liberdade não é um fenômeno sensível ou uma questão de gosto. Ela não é um fato estético da tela gramatical do campo simbólico da política. A filosofia do sujeito põe e repõe a liberdade como um ato que só depende da vontade do indivíduo na prática política. assim, ela é a multidão como grau zero da gramática, ela não cria uma esfera pública na rua, ao contrário, ela faz da rua uma esfera privada da política pós-moderna. Lukács fez o retrato do campo das ideologias alemãs do século XIX. Ele diz que Schelling fez a ideologia da restauração como conciliação entre a burguesia e o feudalismo absolutista do Príncipe Federico Guilhermo IV. Schelling fala da multidão que desintegra o Estado prussiano, logo, multidão como um fenômeno criminoso. A multidão não é um agente da transformação da forma de governo. (Lukács: 146). O nosso autor funda o campo ideológico da direita reacionária alemã como conciliação barroca do passado com o presente. (Lukács: 147). O pensamento político de Schelling nos envia para a contrarrevolução alemã permanente? A liberdade da vontade seria a liberdade da conciliação barroca entre o passado e o presente em uma atualidade ideológica reacionária? A multidão como um agente político da ordem ideológica reacionária? O grau zero da revolução alemã moderna?

“A doença propicia aqui, a comparação mais adequada, pois, enquanto desordem instalada na natureza pelo uso equivocado da liberdade, é a verdadeira réplica do mal e do pecado. A doença universal nunca ocorre sem que irrompam as forças veladas do fundamento: ela surge quando o princípio de ira que deveria vigorar como o elo mais profundo entre as forças no silêncio das profundezas se torna ato ou quando o arqueu provocado abandona sua moradia silenciosa no centro para invadir a periferia”. (Schelling: 46).

Schelling não fala de uma multidão moderna como agente de transformação da natureza da estrutura do campo político europeu, como o acontecimento da revolução francesa. Ele fala de uma multidão na superfície profunda da meia-noite da tela gramatical pós-moderna? Multidão como arqueu ou princípio vitalista que rege e mantém o desenvolvimento e a continuidade dos seres vivos da realidade heteróclita. Então, a liberdade da vontade aparece como um fenômeno da doença social? - da tela gramatical nacional e/ou da tela gramatical das relações políticas entre os povos.

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 Na <Caverna> de Platão, o indivíduo é a alegoria da multidão-criança que olha para a tela de imagens na parede. A multidão-narcísica crê que a imagem da parede é semelhante a imagem dela. A tela de imagem é o grau zero da multidão/narcísica, essa sem gramática, habitada por imagem/simulacros de coisa, animal e homem:

“Apré quoi, repris-je, figure-toi, en comparaison avec une situation telle que celle-ci, la condition de notre propre naturel sous ler apport de l aculture ou de l’inculture. Réprésente-toi donc des hommes qui vivent dans une sorte de demeure souterraine en forme de caverne, possédant, tout le long de la caverne, une entrée qui s’ouvre largement du côté du Jour; à l’intérieur de cette demeure ils sont, depuis leur enfance, enchaînés par les jambés et par le cou, en sorte qu’il restent à la même place (b) ne voint que ce qui est en avant d’eux, incapables d’autre parte, en raison de la chaîne qui tient leur tête, de tourner celle-ci circulairement. Quant `la Lumière, elle leur vient d’un feu qui brûle en arrière d’eux, vers le haut et loin. Or, entre ce feu et les prisonniers, imagine le montée d’une Route, en travers de laquelle il faut teb représenter qu’on a élevé un petit mur qui la barre, pareil á la cloison que les montreurs de marionnettes placenta devant les hommes qui manoeuvrent celle-ci et au-dessus de lequelle ils présentent ces marionnettes aux regards du plubic – Je vois dit il – Alors, le long de ce petit mur, vois des hommes qui portent, (c) dépassant le mur, toutes sortes d’objets fabriques, des atatues, (a) ou encore des animaux en pierre, en bois, façonnés en tout sorte de matière; de ceux qui longent en les portant, il y en a, vraisemblablement, qui parlent, il y en a qui se taisent – Tu fais lá, dit-il, une étrange description et tes prisonniers sont étranges!. (Platon: 1101-1102).

 

“Narcíso, filho da ninfa Lisíope e de Céfiso [...] tendo desposado a ninfa Eco, por isso foi punido pela deusa Nemesis. O adivinho Tirésias predissera a seus pais que ele viveria enquanto não visse sua própria imagem. [...] Narcíso parou à margem de uma fonte, em cujas águas percebeu sua imagem. Apaixonou-se por sua semelhança, e não se cansando de contemplar o rosto na água cristalina, consumiu-se de amor à beira da fonte. (Mitologia: 132).   

Narciso é a realidade virtual da multidão na tela mitológica de imagens a sua semelhança. Afinal, o que é a mitologia?

 “Alors que l’intelligence décompose les sens, le mythe le composse. C’est pourquoi il ne saurait être compris d’aprés une supposée valeur explicative: le mythe n’est pas une Science des primitifs mais un moyen de compréhnsion immédiate du reel. L’opposé du sym-bolique, c’est, proprement, le dia-bolique”. (Godin: 732).

 A soberania popular nasce como uma multidão moderna, multidão-maioria com gramática da cultura política, jurídica, estética nacional. Como multidão pós-moderna, a soberania popular é o grau zero da cultura política estética em uma relação imediata e brutalista com o real, único modo de relação estética, assim para ela, com a realidade. Ela é a realidade mitológica diabólica da superfície profunda da meia-noite sem luz do luar do campo político: do Brasil profundo (Bandeira da Silveira; 2021) ou do Ocidente profundo.

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Platão proibiu que a cultura política grega falasse do mal ou fizesse a ciência política do mal. A fabricação de um Estado ditatorial policial pós-moderno tem como agente histórico a metafísica do mal? ou ainda pior a ciência política do mal?

Heidegger diz:

“Se menciono o mal na nova determinação, formulada primeiro na forma assertiva, , da essência da liberdade humana <como faculdade para o bem e para o mal>. O mal é, segundo isto, uma possível decisão do ‘Ser’- livre, um modo de ‘Ser’-livre do homem. Porém o ‘Ser’ é, segundo o conceito formal e dentro da tradição da exegese idealista do Ser, na qual também Schelling mantem a pesar de toda sua posição, a determinação fundamental do ‘Ser’ em si do ente em geral. A possibilidade interna do mal só pode, por isto, ser esclarecida se se retrocede a interrogação: o que é próprio da determinação de um ente que subsiste por si mesmo”. (Heidegger: 130).

Primeiro o mal é o ente da tela gramatical narrativa dos fenômenos políticos oriundos da superfície profunda do campo político europeu. É o Estado nacional socialista como revolução alemã? O mal é o ente da tela gramatical além da época pós-moderna como plurivocidade de fenômeno que cria e recria o Estado tirânico policial pós-moderno?

Heidegger:

“’Ser’ não é entendido aqui no sentido de ‘essência’ de uma coisa, mas no sentido que falamos de um ‘ser vivente’, ao que se alude é ao ente que subsiste em cada caso por si mesmo como um todo. Em cada ente desse tipo há que distinguir seu ‘fundamento’ e sua existência. Isso significa que o ente tem que ser entendido como existente e como legislador de fundamento. ‘Fundamento’ quer dizer sempre para Schelling: lugar, princípio, suporte; assim pois, não significa ‘fundamento’ no sentido de ratio, ao qual se opõe o conceito de ‘consequência’, enquanto o ‘ratio’ indica porque uma proposição é válida ou não. ‘Fundamento’ é para Schelling precisamente o não-racional; porém por outra parte temos que cuidarmos de lançar esse fundamento no pântano primitivo do chamado irracional. (Heidegger: 131).

Sobre Jesus e o mal:

“Em seguida, chamando para junto de si a multidão, disse: ’escuta  e entende! Não é o que entra na boca que torna o homem mal, mas o que sai da boca, isso sim o torna impuro’”.

“não entendes que tudo o que entra pela boca vai para o ventre e daí para a fossa? Mas o que sai da boca procede do coração e é isso que faz o homem mal, impuro. Com efeito, é do coração que precedem o mal: assassinos [...]”. (Bíblia. Mateus; 1867-68).

O coração é alegoria das afecções do mal e fantasias [homem assassínio] no campo político da superfície profunda da meia-noite sem luz de luar do indivíduo. O agente da metafísica do mal é falado por Jesus como um fenômeno a ser evitado na história da civilização cristã. O cristão não deve ser suporte da metafisica do mal secular que sai da boca do homem.

Bem! O que sai da boca do homem é a fala como gramática do Estado, como cesarismo romano ou como cesarismo do Estado tirânico policial pós-moderno; o cristão não deve dar esse fundamento, ou  como não racional, ou como um efeito do pântano da cena primitiva do mitológico diabólico. Assim, nos afastamos da <razão lógica>, pois, o mal é um fenômeno da razão linguística, de uma tela gramatical de plurivocidade de fenômeno: político, cultural, econômico, ideológico etc.

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O fundamento ou fundação da tela gramatical metafísica pressupõe a existência de uma forma de governo cesarista/tirânica:

‘Assim, pois, um Deus é devir! Certamente. Se Deus é o ente mais ente que o próprio ente, tem que haver nele o futuro mais difícil e maior; e esse devir tem que ter a mais extrema amplitude entre seu <de onde>e seu <aonde>. Ao mesmo tempo é verdade que esse de onde, assim como o aonde, só pode ser em Deus e enquanto Deus mesmo: Ser! Porém para conceber esse Ser já não é suficiente a determinação do ente no sentido da presença de uma coisa presente. Por isso existência é entendida de antemão como <sair fora de si>, patentizarse e, se tornar novamente patente, advir a si mesmo e, por virtude de acaecer . ‘Ser’ consigo próprio, e ser desse modo em si e para si próprio. Deus como existência, isto é, o Deus existente é esse Deus histórico em si mesmo”. (Heidegger: 134).

A fundação da tela gramatical do uno é um acontecimento histórico da natureza da estrutura do campo político cesarista regido por uma tela gramatical metafísica:

“É a natureza em Deus, um ser certamente inseparável dele, porém, contudo, diverso”. (Heidegger: 134).                 

A natureza da estrutura do campo político cesarista é inseparável da tela metafísica e, ao mesmo tempo diverso dela.

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Brasil Profundo. EUA: amazon, 2021

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Gramática do general intelect. EUA: amazon, 2022

 BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna. EUA: amazon, 2022

BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée, 1981

BIBLIA de Jerusalém. Mateus. SP: Paulinas, 1980  

MITOLOGIA grega e romana. Commelin, P. RJ: Ediouro, sem data

DELEUZE, Gilles. Spinoza. Philosophie pratique. Paris: Minuit, 1970

GODIN, Christian. La totalité. Volume 1. De l’imaginaire au symbolique. Paris: Champ Vallon, 1998

HEIDEGGER, Martin. Schelling. La libertad humana. Venezuela: Monte Avila, 1985

LUKACS, Georg. Assalto à razão. Barcelona: Grijalbo, 1967

MACHEREY, Pierre. Introduction à l’Ethique de Spinoza. Paris: PUF, 1994

NEGRI, Antonio. L’anomalie Sauvage. Puissance et pouvoir che Spinoza. Paris: PUF, 1982

PALTON. Oeuvres completes. V. 1. La République. Paris: Gallimard, 1950

RAWLS, John. História da filosofia moral. SP: Martins Fontes, 2005

SCHELLING, F. W. A essência da liberdade humana. Petrópolis: Vozes, 1991

SPINOZA. OEUVRES COMPLÈTES. Traité de l’autorité politique. Paris: Gallimard, 1954

VIRNO Paolo. Gramática da multidão. SP: Annablume, 2013

   

 

                                        

 

 

 

     

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Psicanálise e ciência política literária

 

José Paulo 

 

 

Platão afala da relação do campo político do indivíduo com o campo político da polis como forma de governo. Eles são governo e governados e a forma de governo pode ser nos dois campos: monarquia ou tirania; aristocracia ou oligarquia; democracia negra da multidão brutalista ou democracia constitucional da multidão soberana moderna/barroca*

Com Freud, o campo político da alma/carne aparece governado por fantasmas [objeto virtual seculares, enquanto o campo político civil [polis] é governado por fantasia ou objeto externo, objeto real como o governo dos homens. Freud admite que há um aparelho de Estado animal, natural, sem fantasia virtual ou real, sem gramática. Na alma/carne, o aparelho de Estado/penal animal pode existir como fantasia?

Há uma plurivocidade da fantasia no governo do homem, mulher, criança; a tela gramatical da forma de governo tem conselheiro, súdito, escravo, monarca, governado/governante. O soberano é a fantasia que deve ser atravessada pelo sujeito pois, só assim haverá a transformação da forma de governo tirânica para outras formas de governo como aristocrática [governo de poucos fantasmas] ou democrática ´governo de uma multidão de fantasia ou objeto virtual. Na clínica analítica, busca-se a forma de governo ou aristocrática ou democrática com a travessia final do fantasma tirânico na tela gramatical alma/carne.

Com o cristianismo, a relação entre tela gramatical da polis e tela do indivíduo fazem pe3ndant no governo da alma/carne. A tela gramatical cristã é povoada por anjos, demônios e santos, alguns santos do pau oco. Claro que este fenômeno é da tela em um campo político de religião absolutistas do Um. A Igreja católica é o campo político cristão em relação agônica com o campo político do cristão. A queda do paraíso remete para a fantasia do pecado original: fantasia de uma forma de governo monárquico angelical. Como fantasia virtual, o lugar do papa aparecia na Idade média como o molecular/singular e universal a partir do qual as relações de força e de poderes se alteravam com o novo papa. Hoje, o papa é uma fantasia virtual que se atualiza em discurso político conservador para a família católica. O papa aparece como um clown em analogia com o papa detentor do poder espiritual da Idade Média. O poder espiritual do papa é uma paródia de poder espiritual feudal.

De Freud a Lacan, há a secularização da fantasia virtual no campo simbólico. Este como: ideia/signo/imagem/alegoria/fantasia virtual ou real. Fantasmas como: Édipo, Electra, César, Antígona, Hamlet, Coriolano, Xantipa, Madame Bovary aparecem como objeto virtual de uma ciência política literária dos jogos de gramática da psicanálise europeia seguida pelas escolas de psicanálise do Novo Mundo.

Bem, as Américas ou são protestantes e evangélicas ou católicas. Portanto, os fantasmas da criança ou são anjos, ou demônios ou santos. Com Lutero e Calvino, os fantasmas se divertem como que espécie de entidade? A visagem de Belém do Pará da minha infância pode ser um objeto virtual para o                                                                                                                                               homem, mulher e criança evangélicos? Há frases de um aparelho de Estado bíblico que funcionam como objeto virtual na alma/carne do cristão não católico?  A fantasia da <prosperidade> e/ou fantasia <do domínio> fazem a junção da alma/carne com o campo político neopentecostal do pastor do templo - fantasia da ascensão ao poder secular pelas igrejas evangélicas?   Se não há anjo, arcanjo, santo barroco, Maria/Rosário como objeto virtual, então, só há legião de demônios? 

Para Calvino, a liberdade absoluta é um objeto virtual no campo político do cristã:

“E julgam que nada vai correr bem, a menos que seja dada uma nova face ao mundo inteiro, sem tribunais, leis, magistrados ou qualquer coisa da mesma espécie que elas [pessoa] supõem possam obstruir sua liberdade”. (Calvino: 79).

Ao contrário, o aparelho de Estado/legislação penal civil e a liberdade do cristão não são fenômenos incompatíveis, pois a liberdade cristã é a liberdade em Jesus, ela não se confunde com a liberdade política civil:

‘Portanto, devemos tomar todo o cuidado em confinar a liberdade que nos é prometida e oferecida em Cristo dentro de seus próprios limites”. (Calvino: 79).

A liberdade do campo político do indivíduo/cristão não necessita da liberdade civil para existir:

“a menos que seja porque a liberdade espiritual e a servidão civil podem muito bem permanecer juntas? (Calvino: 80).

A liberdade virtual não é aquela da fantasia/iníquo, ou criminoso, ou pecador inveterado:  

“A desfaçatez dos iníquos é tão grande, e sua maldade tão incorrigível, que [até mesmo] leis de grande severidade mal conseguem reprimi-los. Se nem mesmo a força é suficiente para impedi-los de praticar más ações, como seria de esperar que eles agissem uma vez [que tivessem] visto que poderiam praticar, com impunidade, as maldades que lhes aprouvessem”. (Calvino: 82).   

Não há liberdade cristã para cometer crimes, a liberdade não é absoluta nem no campo político do indivíduo que não pode viver a fantasia iníquo sem recalque.   

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O Evangelho fala de uma fantasia [<batismo de Jesus>] que religa imagem, alegoria e ritual:

Batismo de Jesus. Nesse tempo, veio Jesus da Galiléia ao Jordão uaté João, a fim de ser batizado por ele. Mas João tentava dissuadi-lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim’? Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar por enquanto, pois, assim, nos convém cumprir toda a justiça’. E João consentiu”. (Bíblia. Mateus: 1842).

A imagem do ritual batismo é a alegoria da justiça sagrada. João é o senhor de Jesus, uma prova que Jesus não é ex nihilo. Vem de uma longa e extensa lista de profetas bíblicos. Porém, há uma função alegórica que deve se mencionada. Ersatz do Papa, o padre que batiza se encontra na posição sagrada de João e o ser batizado na posição de Jesus para sempre e, assim, se realiza a justiça santa.  

Com o Evangelho, o campo simbólico sagrado se define por ideia de justiça divina, João/signo do pastor, imagem angelical de Jesus, alegoria de um ritual virtual que se atualiza na relação padre/fiel, um ritual santo que inclui a prática como tradição no campo simbólico. A tela gramatical narrativa cristã contém a definição de campo simbólico acabada, completa.

Koyré escreve:

“Rien de tout cela ne s’applique à Dieu ou à nous âmes qui ne sont pas objets de l’imagination, mais du pur entendement et n’ont pas de partis séparables, et surtout pas de partis ayant une grandeur ou une forme déterminées. C’est précisément parce qu’ils n’ont pas d’extension que Dieu, l’âme humane et qu’un nombre quelconque d’anges peuvent être en meme temps dans le même lieu”(Koyré: 146).

A tela gramatical do entendimento do psiquismo não atribui valor ou forma determinada à plurivocidade de fantasia virtual sem partes separadas da alma e do Um. A fantasia [anjo] não ultrapassa a extensão de Deus, assim, a alma e um número qualquer de anjos podem ser, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, isto é, no campo simbólico da tela gramatical narrativa do psiquismo na qual o Um é soberano em um espaço de plurivocidade de objeto virtual.  

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O fenômeno da liberdade existe em analogia no domínio da filosofia e no campo da ciência política literária dos jogos de gramática:

“As investigações filosóficas sobre a essência da liberdade humana podem, por um lado, tender ao seu justo conceito, na medida em que o fato da liberdade, do qual se possui um afeto imediato, não aflora tanto na superfície, exigindo pureza e profundidade de sentido pouco comuns, mesmo que apenas para exprimi-lo em palavras”. (Schelling: 21).

Segue:

“considerando-se que nenhum conceito pode se determinar isoladamente, que somente a comprovação de seu nexo com o todo é que pode lhe propiciar a plenitude científica e que, em quaisquer dos casos, o conceito deve ter realidade [...]”. (Schelling: 21).

A liberdade é um fenômeno de uma tela gramatical de um campo simbólico de uma forma de governo “que pode conceber pelo deus dentro de si e o deus fora de si”?

A tela gramatical é o espaço do hegemonikón (Elorduy: 26) ou eu político que não é o eu da tela gramatical psíquica, e sim do campo simbólico político:

“afirmar somente a existência de vontades individuais que constituiriam, cada uma para si, um centro e onde cada eu, segundo a expressão de Fichte, apresentar-se-ia como substância absoluta”. (Schelling: 22).

 O fenômeno da liberdade não é separável da concepção política de mundo de uma forma de governo no campo político simbólico:

“o nexo entre o conceito de liberdade e o todo da concepção de mundo sempre permanecerá objeto de uma tarefa necessária [...]. (Schelling: 22-23).

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A lação da soberania popular com o homem comum que decide, que é o soberano, se sustenta na fantasia do ignorante do campo simbólico psíquico:

“Com ajuda desses termos, até o ignorante, desde que informado a seu respeito, poderia julgar e sentenciar sobre o mais digno a ser pensado”. (Schelling: 23).

O agente não tem autonomia absoluta em relação a Deus [á tela gramatical] para viver e praticar a ciência política dois jogos de gramática do campo simbólico político. Para evadir-se do campo das ideologias sobre o fenômeno da liberdade:

“Será que a única maneira de escapar a esse raciocínio é argumentar que a liberdade do homem é impensável se tomada em antagonismo ao todo-poderoso e que, para salvar-se na essência divina, o homem não pode ser fora de deus mas somente em deus?”. (Schelling: 24).

O homem é um objeto virtual da tela gramatical metafísica do9 campo simbólico político ocidental. Ele não existe fora dessa tela e desse campo de realidade virtual.

A tela gramatical panteísta não estabelece a autonomia relativa entre coisas, agentes e tela:

“os defensores de tal afirmação haverão de proclamar que o panteísmo não professa que deus seja tudo [o que, todavia, a imagem comum de seus atributos não é capaz de evitar], mas que as coisas nada são[...]”. (Schelling: 26).

O agente nada é no campo simbólico político?

Há uma tela gramatical do voluntarismo no campo simbólico político como campo de ideologias e futuro de ilusão política:

“Na última e mais elevada instância, não existe nenhum outro ser além da vontade. A vontade é o ser primordial [Ursein] e somente a ela se adequam os predicados como ausência de fundamento, eternidade, independência do tempo, auto-afirmação”. *(Schelling: 33).

Análoga ao fenômeno com profundida no campo simbólico político, a liberdade é apenas uma fantasia da tela psíquica?

“De outro lado, porém se a liberdade é o conceito positivo do em-si. A investigação sobrea liberdade recairá, mais uma vez , no universal já que o inteligível, que constitui seu fundamento, é também essência das coisas”. (Shelling: 34).

A tela gramatical do barroco virtual se atualiza em Schelling:

“Todo nascimento é nascimento da escuridão para a luz. A semente deve mergulhar na terra e perecer na escuridão para que surja uma configuração luminosa mais bela, a desenvolver-se com raios de sol. O homem se forma no corpo materno, E é da escuridão, característica da falta de entendimento [própria do afeto, da nostalgia, essa mãe sublime do conhecimento] que brotam os pensamentos luminosos. (Schelling: 41).     

A tela gramatical nasce da superfície profunda da escuridão de um campo político/estético que tem como agentes históricos, por exemplo, a guerra e/ou a revolução. Ambas fazem da razão linguística sua alavanca de mudança da natureza da estrutura do campo simbólico político:

“Poder-se-ia esboçar uma tela da gramática normativa que opera espontaneamente em toda a sociedade determinada na medida em que ela tende a unificar-se, seja, como território, seja como cultura, isto é, na medida em que nela existe uma classe dirigente cuja função seja reconhecida e seguida”. (Gramsci. 1968: 169).

Todo homem, mulher e criança possui seu próprio caminho da gramática onde navegar é preciso, mas viver na tela gramatical não é preciso:

O número das <gramáticas> espontâneas ou <imanentes> é incalculável: pode-se dizer, teoricamente, que cada indivíduo tem sua própria gramática. Todavia, ao lado desta desagregação de fato, deve-se sublinhar os movimentos unificadores de fato, de maior ou menor amplitude, seja como região territorial, seja como volume linguístico. As <gramáticas normativas> escritas tendem a abranger todo um território nacional e todo um <volume linguístico >, para criar um conformismo linguístico nacional unitário que, outrossim, põe e repõe em um espaço superior o <individualismo> expressivo, já que cria e recria um esqueleto mais robusto e homogêneo para o organismo linguístico nacional, do qual cada indivíduo é o reflexo e o intérprete> (Gramsci.1977: 2343).

Gramsci pensa a formação de um bloco histórico no campo simbólico político com tela gramatical que não é mais a do <intelectual hegemônico>, e sim uma tela que contém o hegemonikón como classe dirigente de uma guerra ou revolução que pode desintegrar a natureza da estrutura do campo político/estético. 

Qual a relação dos fenômenos supracitados com o passado?                     

                                                                    5

A tela gramatical narrativa do campo simbólico/estético existe a partir de uma razão gramatical que é um fenômeno de realidade virtual que se atualiza como algo vizinho do sagrado como tradição:

“Em correspondência à nostalgia [...] gera-se no próprio deus, uma representação reflexiva e interior. Por ela, deus vislumbra a si mesmo em uma imagem semelhante, na medida em que essa representação não pode possuir outro objeto a não ser deus. Essa representação é a primeira realização de deus, observado absolutamente, não obstante ela se cumpra apenas nele mesmo: no princípio ela é em deus e o próprio deus gerado em deus. Essa representação é, ao mesmo tempo, o entendimento – a palavra [o verbo] dessa nostalgia. (Schelling: 41).  

Em analogia com os jogos de linguagem da filosofia romântica, a ciência política literária dos jogos de gramática fala da tela gramatical das coisas dela e de seus agentes históricos de mudança como: pólemos, stásis e bloco histórico.

No Brasil, um bloco histórico que começa no Brasil profundo (Bandeira da Silveira; 2021) tem como nostalgia o passado do Brasil colonial.

A tela gramatical pode ser tomada pela doença?

“A doença propicia, aqui, a comparação mais adequada, pois, enquanto desordem instalada na natureza pelo uso equivocado de liberdade, é a verdadeira réplica do malo e do pecado. A doença universal nunca ocorre sem que irrompam as forças veladas do fundamente: ela surge quando o princípio de irritabilidade que deveria vigorar como o elo mais profundo entre as forças veladas no silêncio das profundezas se torna ato ou quando a tela provocada abandona sua moradia silenciosa no centro para adentar a periferia. (Schelling: 46).

  A liberdade de Schelling é a liberdade, sob a direção de um hegemonikón de um bloco histórico nacional e local, em promover a revolução alemã, olhando para o passado e, no presente, indo rumo ao futuro.

Hegel, Holderlin e Schellinhg são três fenômenos da cultura política, econômica, jurídica, estática da revolução alemã que foi derrotada pela história (Heidegger: 2):

“E se revelara a profunda falsidade da frase que Napoleão dissera a Goethe em Erfurt: a política é o destino. Não, o espírito é o destino e destino é espírito. Porém, a essência do espírito é a liberdade.”.

“Em 1809 apareceu o livro de Schelling sobre a liberdade. Ele é a maior obra de Schelling, e por sua vez uma das obras mais profundas da cultura alemã e, assim, da filosofia ocidental”. (Heidegger: 2).

As telas gramaticais da revolução alemã não foram reconhecidas e seguidas, seja pela elite, seja pelas massas, os três filósofos,:

“Eles levaram a cabo, cada um segundo sua lei, apenas uma configuração do espírito alemão, cuja transformação em uma força histórica não se cumpriu ainda – e a qual só poderá ser realizada quando nós apreendermos a preservar e admirar uma obra criadora”. (Heidegger; 3).

Telas gramaticais da revolução são fabricadas e não reconhecidas e seguidas, pois, elas dependem de um bloco histórico como força prática (Lenin:29) de homens e mulheres, na execução de ideias, para ser um agente da transformação da natureza da estrutura do campo simbólico político/estético

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Brasil Profundo. EUA: amazon, 2021

BÍBLIA SAGRADA. Mateus. SP: Paulinas, 1980

CALVINO E LUTERO. Sobre a autoridade secular. SP: Martins Fontes, 1995

ELORDUY, Eleuterio. El Estoicismo. Madrid: Gredos, 1972

HEIDEGGER, Martin. Schelling. La libertad humana. Venezuela: Monte Avila, 1985

KOYRÉ, Alexandre. Du monde clos a l’univers infinit. Paris: Gallimard, 1973

LENIN. Cuadernos filosóficos. Madrid; Ayuso, 1974

MAcCARTHY, Thomas. La teoría de Jurgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1992

SCHELLING, F. W. A essência da liberdade humana. Petrópolis: Vozes, 1991

GRAMSCI, Antonio. Literatura e vida nacional. RJ: Civilização Brasileira, 1968

GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. v. 3. Torino: Einaudi, 1977  

     

  

 

          

 

            

      

 

domingo, 14 de abril de 2024

PHILONENKO - guerra e revolução

 

José Paulo 

 

Há uma diferença estrutural entre guerra e luta? (Philonenko: 36). A antiguidade distinguia entre stásis [rebelião, motim, insurreição, guerra civil] e pólemos ou guerra entre cidade/Estado ou entre nações.

A luta de classe pode se tornar a guerra civil de classe, outra etapa que desencadeia a revolução social militar na tomada do poder nacional. Grandes revoluções históricas levaram Marx a dizer que <a violência é a parteira da história>. Marx fala de uma violência vinculada à história e mais, ainda?

Violência da multidão inscrita na história pressupõe uma razão linguística? Não pressupõe um logos. Então, a luta de classe pressupõe um logos, isto é, uma razão logica de classe. A Guerra como história da violência pressupõe uma tela gramatical na qual a violência adquire um sentido histórico de desintegração de estruturas de dominação/hegemonikón e fabricação de outras estruturas históricas.

A tela gramatical da guerra [stásis ou pólemos] é um fenômeno histórico de mudança da estrutura do campo político e da forma de governo. A globalização pós-moderna instaurou, sobretudo, uma guerra pós-moderna contra as grandes nações, grandes potências. A União Europeia é a guerra pós-moderna contra as grandes nações europeias para evitar a pólemos, guerra sem adjetivo entre os velhos Estados-nação, que participaram da Primeira e da Segunda guerra mundial.

Inventado por Hitler e os EUA, o Estado suicidário nuclear já é o grau zero da história da guerra como tela gramatical. Ele é o fim da história, pois, pois. Fim da história do homem e do animal superior. Há luta no reino animal, a luta não necessita de tela gramatical e sim de logos, no caso, animal. O animal não é só um campo de afetos.

Freud diz que há animais que fabricam Estado natural:

“Por que nossos parentes, os animais, não apresentam uma luta cultural desse tipo? Não sabemos. Provavelmente, alguns deles [abelhas, formigas, térmitas] batalharam durante milhares de anos antes de chegarem às instituições estatais, à distribuição de funções e às restrições ao indivíduo que nos enchem de admiração. Constitui um signo de nossa condição atual o fato de sabermos, por nossos próprios afetos, que não nos sentiríamos felizes em quaisquer desses Estados naturais ou em qualquer das funções neles atribuídos ao indivíduo. No caso das outras espécies animais, pode ser que um equilíbrio temporário tenha sido alcançado entre as influências de seu meio ambiente e os instintos mutuamente conflitantes dentro delas., havendo ocorrido assim uma cessação de desenvolvimento. Pode ser que no homem primitivo um novo acréscimo de libido tenha provocado um surto renovado de atividade por parte do instinto destrutivo. Temos aqui muitas questões para as quais ainda não existe resposta”. (Freud: 146). U

Minha ideia é a seguinte. O aparelho psíquico que nasce no cérebro humano distingue o homem do animal? Ora, o animal parece ter aparelho psíquico, também. O Estado natural é o aparelho de Estado animal. Logo, essa não é a diferença básica. Homem e animal se distinguem pelo aparecimento de uma tela gramatical narrativa por analogia e comparação de fenômenos no homem, o homem como um campo político do indivíduo com uma plurivocidade de fantasia.        

Freud não aceita que a história da espécie humana tem uma autonomia absoluta em relação à história das outras espécies animais. A fronteira entre natureza e cultura para de funcionar na forma de governo que pode ser humana e, também, pode ser animal. Uma forma de governo autômato é o governo do logos animal, da razão lógica animal. Por analogia de luta [regida por logos (Philonenko: 35-37)] e luta animal, há a razão lógica natural. A tela gramatical é o recurso evolutivo que estabelece uma fronteira [com uma pequena tropa de combate] entre natureza e homem, isto é, condição humana.

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Entre o reino da necessidade e o reino da liberdade, encontrasse a guerra:

“Dizer que a guerra pressupõe a história na sua definição, é também dizer que a guerra implica a liberdade”. (Philonenko: 37).

Voltando para o deserto. A relação entre natureza e tela gramatical passa pelo signo. Este é uma realidade virtual [significante] e realidade atual natural ou presença [significado], como rastro (Derrida. 1973: 22) do referente na tela gramatical narrativa (Faye: 150-151).

 A Relação entre animal [aparelho psíquico de Estado] e humano [tela gramatical pilotado [pelo fantasma] portador de um conhecimento dos fenômenos por analogia e comparação de fenômenos naturais como reino da necessidade] já é o ersatz de condição humana no homem primitivo.

A tela gramatical narrativa é a fonte de um saber fazer (Lacan. S. 17: 21) de uma cultura política natural, no sentido de Estado natural de Freud, aparelho psíquico de Estado natural. Ao fazer pendant com o campo simbólico humano [ideia/signo/imagem/alegoria/fantasias], o homem, a mulher e a criança se tornam humanos para além do animal político aristotélico.

A guerra já é parte da condição humana:

“Enquanto a linguagem na sua definição não pressupõe a guerra, essa na sua definição pressupõe um aspecto da linguagem muito preciso, isto é, a escritura [gramática], indispensável suporte de qualquer história real. A linguagem é logo um fenômeno mais universal do que a guerra pois, a guerra pressupõe a linguagem como escritura” (Philonenko: 36), isto é, como gramática, essa inscrita na história da violência como criação e recriação de gramáticas de estrutura de dominação.

Segue:

“Quando queremos dizer que a guerra pressupõe a a linguagem como escritura e quando nos ligamos essa a história, quero igualmente dizer que a guerra é uma prática superior da conduta humana e descartamos todas as manifestações primitivas da luta sobre a qual a etnografia nos revela os segredos. A luta nas comunidades primitivas não é a guerra, pois mergulhadas na mitologia ela não alcança a objetividade da consciência histórica. (Philonenko: 36). 

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Para progredir na análise concreta da situação concreta (Lenin: 20), é necessário estabelecer as relações entre a cultura política do direito natural, o campo simbólico, a estrutura de dominação, e o campo das ideologias. Hoje, o Brasil tem uma estrutura de dominação que designo como <Brasil Profundo. (Bandeira da Silveira; 2021). O Brasil profundo é um campo político de dominação fazendo pendant com duas estruturas de dominação: a <sociedade de narcose> (Freud: 100) que é o suporte da Societat Sceleris. Trata-se de estruturas de dominação regidas por uma tela gramatical narrativa pós-moderna.

Para entender essa situação concreta recorro ao campo político russo do século XIX e início do século XX.  O campo pós-moderno substititui a guerra moderna pela guerra pós-moderna que já não é uma guerra civil, mas um fenômeno niilista:

“O niilismo descreve uma condição em que há uma disjunção entre nossa experiencia do mundo e o aparelho conceitual de que podemos dispor, e que herdamos, para interpretá-la”. (Ansell-Pearson: 48). Nos retirando da filosofia do sujeito. O niilismo aparece na situação concreta na qual chegasse ao grau zero da tela gramatical da região direita no campo político/estético. Uma longa citação de Alberto Camus vai orientar melhor o leitor:

“A primeira previdência de Nietzsche é aceitar aquilo que conhece. Para ele, o ateísmo é evidente., ele é <construtivo e radical>. A vocação superior de Nietzsche, se acreditamos nele, é provocar uma espécie de crise e de parada decisiva no problema do ateísmo. O mundo marcha para acaso, ele não tem finalidade. Logo, Deus é inútil, já que ele nada quer. Se quisesse alguma coisa, e aqui se reconhece a formulação tradicional do problema do mal, ser-lhe-ia necessário assumir <uma soma de dor e de ilogismo que diminuiria o valor total do devir>. Sabe-se que Nietzsche invejava publicamente Stendhal pela fórmula: <a única desculpa de Deus é que ele não existe. Privado da vontade divina, o mundo fica igualmente privado de unidade e finalidade. É por isso que o mundo não pode ser julgado. Todo juízo de valor emitido sobre o mundo leva finalmente à calúnia da vida. Julga-se apenas aquilo que é, em relação ao que deveria ser -reino do céu, ideias eternas ou imperativo moral. Mas o que devia ser não existe.; este mundo não pode ser julgado em nome de nada. <As vantagens desse tempo: nada é verdadeiro, tudo é permitido>. Essas fórmulas, que se repercutem em milhares de outras fórmulas, suntuosas ou irônicas, são suficientes em todo caso para demonstrar que Nietzsche aceita o fardo inteiro do niilismo e da revolta. Nietzsche põe um (...): < Problema: por quais meios se obteria uma fórmula rigorosa de niilismo completo e contagioso, que ensinaria e praticaria com um conhecimento inteiramente científico a morte voluntária”. (Camus: 87-88).    

O campo simbólico ocidental é o grande Outro, ou seja, Deus. Um campo político sem finalidade e vontade divina. A tela gramatical cristã desaparece do campo político europeu moderno da secularização. Ora, ele retorna como tela gramatical pós-moderna nas Américas do século XXI. O Estado pós-moderno não é a fórmula niilista no lugar da guerra ou pólemos?             

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O campo simbólico cristão tzarista se enfraqueceu como estrutura de dominação por causa do desenvolvimento do niilismo russo. O populismo russo já é um efeito do niilismo sobre o campesinato. (Tvardovskaia: cap. 2). A modernidade russa não é desenvolvida pelo liberalismo, apenas um apêndice ruim do tzarismo. Pllekhanov é o início molecular da cultura política marxista, isto é, da modernidade como campo de ideologias políticas como linguagem da vida real. (Plejanov: 153). Lenin será o desenvolvimento espetacular do marxismo russo como campo de ideologias. Tradução da cultura política, econômica, estética para o campo das ideologias políticas:

“A análise do regime econômico e social e, partindo da estrutura de classe da Rússia, que se apresenta nessa obra é baseada nas pesquisas econômicas e sobre um exame crítico e informações estatísticas, tudo se encontra confirmado atualmente pela ação política direta de todas as classes no curso da revolução. O papel dirigente do proletariado foi confirmado. Do mesmo modo, é confirmado que a força do proletariado no movimento histórico é infinitamente mais importante que sua parte no conjunto da população. O fundamento econômico desses dois fenômenos foi demonstrado nessa obra”. (Lenine: 19).  

 O fim da forma de governo tazarista cristã foi desintegrada pela s classes socais nacional/popular sob a direção do partido da socialdemocracia. Em 1917, Lenin viu a transição da revolução capitalista liberal política para uma revolução especificamente. Ele  pensava a partir do marxismo barroco e se guiava pela verdade histórica. o marxismo de Lenin é aluta de classe na teoria da modernidade russa. Tal fenômeno cria e recria a ciência política literária leninista de jogos de gramática da revolução socialista.  

“Mias é preciso saber aplicar [o marxismo]. Para saber o que significa exatamente essa verdade quando ela é aplicada a tal ou qual problema, é indispensável proceder a uma análise concreta da situação concreta e dos interesses das diferentes classes”. (Lenine: 20).

O que é a verdade da revolução social no século XX?

“os marxistas consideram que os homens têm como critério da verdade de seu conhecimento do mundo exterior a prática”. (Mao: 331).

O que é a prática para a ciência política literária? Ela se revela nos jogos de gramática da revolução social?

“Só quando o proletariado moderno aparece ao mesmo tempo que as relações técnicas de produção ciclópicas – da grande indústria – só assim os homens puderam alcançar uma compreensão histórica completa do desenvolvimento da sociedade e transformar esse conhecimento em uma ciência, a ciência marxista”. (Mao: 331).

Mao é a origem molecular da ciência política literária dos jogos de gramática marxistas. Se Lenin fabricou a tela gramatical  da revolução russa, Mao teceu a tela gramatical da revolução asiática nacional popular. O que é a prática maoista?

“A prática social dos homens não se limita a uma única atividade de produção; ele existe em outras formas: luta de classes, vida política, atividades científicas e artísticas; logo, enquanto social, o homem participa em todos os domínios da vida prática da sociedade”. (Mao: 330).

Observe leitor que Mao fala da prática cientifica e artística como dimensões da prática social da revolução asiática. Ele fala do general intellect gramatical como parte da direção política, intelectual e moral da sociedade de classes:

“A luta de classes é imanente à conexão interna e necessária da crítica da gramática do capital. D alei do valor se deduz que a força de trabalho não é só capital variável – a força de trabalho a serviço do proprietário do capital – que produz mais-valia; ela se constitui em uma classe social cuja existência encontra-se associada à revolução social, e teorias e práxis”. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 9).  

Na transição da época pós-moderna para atualidade, uma outra modernidade/moderna veem à luz a sociedade de classes que a tela gramatical pós-moderna escondera na superfície profunda da meia-noite sem luz natural do campo político ocidental. Assim, uma nova época de revolução social desponta no horizonte do fim do milênio pós-moderno.

 

ANSELL-PEARSON, Keith. Nietzsche como pensador político. RJ: Zahar, 1997

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Brasil Profundo. EUA: amazon, 2021  

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Gramática do general intelecto. EUA: amazon; 2022

CAMUS, Albert. O homem revoltado. RJ: Record, 1996e

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. SP: Perspectiva, 1973

FAYE, Jean Pierre. La raison narrative. Paris: Balland, 1990

FREUD. Obras Completas. V. 21. 1974. O mal-estar da civilização. RJ: Imago,   

LACAN, Jacques. Le Seminaire. Livre 17. L’envers de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1991

LENINE. Oeuvres. Le développement du capitalisme en russie. Paris/Moscou: Éditions Sociales/Éditions du Progrés, 1982

MAO TSE-Toung. Oeuvres Choises.l Tomo 1. Pekin: Éditions en langues Etrangeres, 1976on langues Etrangeres, 1976o

PHILONENKO, Alexis. Essais sur la philosop0hie de la guerre. Paris: J. Vrin, 1988

PLEJANOV. O padre do marxismo russo. Samuel H. Baron. Samuel H. Baron. Madrid: Siglo XXI, 1976

TVARDOVSKAIA, Valentina A. El populismo ruso. Madrid: Siglo XXI, 1978

        

       

              

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Dante Alighieri- cesarismo, tirania, Petrarca

 José Paulo 

 

A ciência política literária de Dante contempla o campo político do indivíduo e da sociedade e vai além. Ele tem como referente virtual o campo político dos anjos, do Arcanjo Gabriel, campo angelical que tem no Papa sei símbolo carnal:

“Árdua e excessiva para mim é a obra em que me aventuro. Não é, porém, tanto em minhas forças que confio, mas na luz desse Benfeitor: ‘que dá a todos com abundância e sem restrição’”. (Dante: 194).

O leitor da atualidade pode considerar que isso é papo de doidão, de drogado em LSD. No entanto, Dante está falando de seu fantasma/fantasia institucional que rege o campo político do indivíduo na tela gramatical medieval cristã.  O arcano Gabriel pode muito bem ser o fantasma institucional da realidade virtual da alma/carne.  

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Na Europa, Petrarca é a revolução intelectual molecular no campo simbólico italiano. Ele produz ideias e poesia do lado de fora da escolástica e da cultura política gótica. A universidade é a estrutura de dominação cultural ao lado da Igreja no campo político medieval. Qual a relação de Petrarca com o discurso do universitário? Pode-se ver este discurso do ponto de vista de Lacan, para quem o discurso universitário é a tela gramatical do tudo saber?  (Lacan: 34):

“De 1200 a 1500, é com a Universidade, no seio da Universidade, em redor da Universidade ou contra a Universidade que se joga o essencial do encontro entre intelectuais e política. A Universidade é um elemento, um ator e um lugar de vida política da Idade Média ocidental, um fenômeno próprio ao Ocidente Latino, que não é estranho ao desenvolvimento que o mundo ocidental conhece durante a Idade Média tardia e a transição política que ele vai progressivamente exercer sobre o resto do mundo. A Universidade é o terceiro poder da sociedade medieval”. (Libera: 451).

A Idade das trevas descobriu e inventou a universidade medieval e o intelectual universitário ao lado do intelectual clerical e do poder do soberano:

“Como sublinha J. Le Goff, a <formação do poder universitário>,, em outras palavras o estabelecimento de uma nova figura do sistema trifonctionnel de Dumézil, esse formado pelo poder clerical, o poder monárquico e o poder universitário – sacerdotium, regnum, Studium -, tal é o fenômeno o qual o historiador tem que descrever”. (Libera: 452).

O problema que se impõe é se na história intelectual italiana, Petrarca é o intelectual hegemônico (Libera: 452) da modernidade latina ou o hegemonikón estoico ou eu político no campo simbólico da cultura política estética da Itália. Ele é certamente, o nascimento de uma cultura política estética antinômica à cultura do direito e à cultura cosmopolita do clero.

Petrarca é a revolução molecular europeia latina que vai à antiguidade grega através dos textos da antiguidade europeia conservados e interpretados pela cultura árabe (Libera: 452). Um discurso universitário se encontra na origem da existência de uma sociedade laica fazendo pendant com a sociedade religiosa católica,

O discurso universitário laico já é uma desterritorialização do campo simbólico da cultura política, estética da Igreja. Esta era a protagonista da tela gramatical escolástica/gótica. No campo político, o hegemonikon (Elorduy: 26) universitário faz pendant com a revolução molecular da cultura nacional italiana latina de Petrarca?

Dante é um efeito do discurso universitário fazendo pendant com o campo simbólico nacional de Petrarca? (Gilson. 1995:903):

“o pensamento político ocidental é penetrado por influências arabo-mulçumanas, as quais, sob a capa de aristotelismo, é renovado, de fato, com uma inspiração profundamente platônica. A monarquia de Dante, é a polis ideal d’al-Fârâbî, essa versão mulçumana da República de Platão: o monarca, o imperador é para a cristandade o que é l’imâm- filosofo na sociedade mulçumana. Há uma diferença muito próxima – mas ela é um detalhe: o imperador – lugar do macrocosmo e do microcosmo, reina na ordem da natureza e existe, ao lado dele, independente dele, um outro monarca, esse espiritual, o papa”. (Libera: 454).

Dante é um pensador do cosmopolitismo da cultura europeia, ele não é a revolução nacional no campo simbólico italiano. Ele faz laço social com a cultura política, jurídica, econômica, estética do cesarismo de Roma. A forma de governo que ele elogia é o império romano.   

O campo simbólico da tela gramatical da cultura política/estética é um domínio que se sobrepõem ao campo político molecular do indivíduo, ao campo político da polis secular e campo político celestial católico do papa, dos intelectuais clericais e da realidade virtual dos anjos e arcanjos. Estes existem como fantasma (objeto virtual) do campo político do individuo e fantasia (objeto real/esterno) do campo político da multidão cristã. A cultura universitária laica vai fornecer outras fantasias para o indivíduo. Não existe um só fantasma [que pilota a gramática e a vida], mas uma plurivocidade de fantasia no campo político do indivíduo e da multidão.          

 A “Divina Comédia”, fala dos fantasmas que pilotam a alma sem carne na viagem de um campo político virtual, que era bem entendido, familiar ao homem medieval. Ora:

“Prefiro sublinhar aqui que o imperador de Dante é um intelectual ao sentido preciso onde al Fârâbî define a natureza daquele que é digno de ser chefe: ser inteligência divina, isto é, por sua vez <sábio filosófico perfeitamente inteligente> [pois de intermediário em intermediário, qualquer coisa de Deus emana sobre seu intelecto possível] e <profeta> [pois o que é do alto emana sobre sua potência imaginativa. Lhe <anuncia o que advirá ou lhe informa dos acontecimentos atuais>], mais o que o intelectual tem em face dele mesmo é um outro poder: o poder do papa”. (Libera: 455).

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Dante faz uma descoberta e invenção, em um debate sobre a natureza da prática política universal. Ele distingue o cérebro humano do cérebro animal, não pela inteligência simplesmente, mas pela inteligência política, que o animal não possui. (Dante: 194).

A inteligência política não é aquela de um agente no campo político: do indivíduo, família, aldeia, cidade, reino em particular. (Dante: 194). A inteligência do crebro humano é aquela de uma tela de razão linguística em língua latina [tela gramatical narrativa da política]:

A virtude intelectiva de que falo se estende às formas universais ou espécies; e ainda, de certa maneira, às formas particulares. Eis porque se costuma dizer que o intelecto especulativo se transforma em intelecto prático, cujo fim é o agir e o fazer. Digo agir, por causa das ações que coordena a prudência política; digo fazer, por causa das ações manuais que as artes dirigem. Todas essas ações são servas da especulação, bem supremo, para o qual a Bondade Suma criou o gênero humano. De onde recebe toda a luz a máxima política: <Impõem-se naturalmente aos outros os dotados de vigorosa inteligência>. (Dante: 195). 

A especulação é a tela gramatical da ciência política literária dos jogos de gramática, jogos jogados por agentes políticos em um campo político universal. 

A estrutura de dominação cesarista é o domínio do direito do mais forte?

“Espantava-me, outrora, de que o povo romano houvesse chegado ao domínio do universo sem qualquer resistência; a minha visão era superficial, e pensava que Roma tivesse triunfado não pelo direito, mas, apenas, pela força das armas”. (Dante: 205).

A estrutura de dominação pelo direito doa mais forte é do campo simbólico do injusto, da injustiça mundial:

“Com efeito, só do fato de que o Império Romano apareça conforme o direito decorrem duas consequências necessárias: primeiro, que os reis e os príncipes que se apoderam de cargos públicos pela força, e que imaginam erradamente que o povo romano agiu como eles, terão a vista desanuviada; depois, que todos os, povos se reconhecerão livres do jugo imposto a eles pelos tiranos” (Dante: 205).

O problema de Dante é falar de uma estrutura de dominação mundial que não seja uma <tirania/cesarista, e sim um <monarquia cesarista>.

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Pensar o cesarismo moderno, levou Marx a falar de uma tela metafísica na política francesa na segunda metade do século XIX:

“A Assembleia Nacional eleita está em relação metafísica com a nação ao passo que o presidente eleito está em relação pessoal com ela. A Assembleia Nacional exibe realmente, em seus representantes individuais, os múltiplos aspectos do espírito nacional, enquanto no presidente esse espírito nacional encontra a sua encarnação. Em comparação com a Assembleia, ele possui uma espécie de direito divino; é presidente pela graça do povo”. (Marx: 346).

A forma de governo presidencialista permite que o presidente seja o símbolo, em carne e osso, divino [o Um como símbolo da realidade virtual do campo da nação]. Tal visão de Marx pode ser aplicada às relações políticas da tirania em geral?

La Boétie diz:

“No momento, gostaria apenas que me fizessem compreender como é possível que tantos homens, tantas cidades, tantas nações às vezes suportem tudo de um Tirano só, que tem apenas o poderio que lhes dão, que não tem o poder de prejudicá-los senão enquanto aceitam suportá-lo, e que não poderia fazer-lhes mal algum se não preferissem, a contradizê-lo, suportar tudo dele. Coisa realmente surpreendente [ e, todavia, tão comum que se deve mais gemer por ela do que surpreender-se] é ver milhões e milhões de homens miseravelmente assujeitados e, de cabeça baixa, submissos a um jugo deplorável; não que a ele sejam obrigados por força maior, mas porque são fascinados e, por assim dizer, enfeitiçados apenas pelo nome de Um, que não deveriam temer, pois ele ´s só , nem amar, pois é desumano e cruel para com todos eles”. (La |Boétie: 74).

Qual é a tela gramatical do Um e da estrutura de dominação do eu só no campo político? Platão fala da Tela gramatical do filósofo/rei.

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Um fenômeno da atualidade mundial é a estrutura de dominação da tela gramatical pós-moderna da globalização. Ela é um agente político que procurou desintegrar o Estado-nação. O efeito mais visível é a desintegração das relações internacionais como velha estrutura de dominação/hegemonikón moderna. Hoje, as fronteiras nacionais aparecem e desaparecem como aparências de semblância. Povos fazem guerra entre si, e o aparelho militar de Estado não é mais aquele do Estado moderno funcionando pela gramática do direito fazendo pendant com a legitimidade. (Dante:210-211). O Estado pós-moderno da globalização funciona sem direito e sem gramática da legitimidade no espaço das “relações internacionais”. Um domínio anárquico e niilista vai se impondo na vida das relações entre os povos.

A estrutura de dominação/hegemonikon mais notável na historia do mundo é o império romano da antiguidade. A tela gramatical da dominação existe a partir do Um e do múltiplo. Roma combinou o um e o múltiplo em uma estrutura de dominação mundial:

“Como, então o fim do gênero humano está subordinado, e subordinado como meio necessário, ao fim universal da natureza, é necessário que a natureza a ele atenda. E por isso diz o Filósofo no segundo livro sobre o som natural que a natureza age sempre para um fim. Como natureza não pode atingir esse fim mercê dum homem só, desde que numerosas são as operações requeridas e se impõe uma multidão de agentes, tem a natureza de produzir uma multidão de homens ordenados a operações múltiplas. Para realizar tal multidão de indivíduos são de grande utilidade, com a influenciados atros, diversas propriedades dos lugares inferiores. Eis por que vemos que certos indivíduos, melhor, certos povos, nasceram para o comando, ao passo que outros para obedecer e servir, como pensa o Filósofo na sua Política. ‘Serem governados’ diz, é para alguns não apenas natural como justo, mesmo a que a isso sejam constrangidos”. (Dante: 211-212).           

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A forma de governo autômato (Edmond: 55) é parte da mitologia política de Platão. Ela seria fabricada pelo filósofo-rei. Por sua natureza, este filósofo possui o direito celestial que o põe e repõe acima do homem político comum. Sua prática política angelical faz dele um ser acima das leis (Edmond: 54), dos costumes e hábitos políticos, um ser não determinado por gramáticas da política. Ele não tem amigos ou inimigos, ele é de um campo simbólico de produção de ideais políticas celestiais. Essa leitura virtual de Platão é a herança da antiguidade do filósofo-rei na cultura política, jurídica, estética, ocidental.

Popper se levantou contra ela e acusou Platão de estar na origem d forma de governo totalitária do século XX. Popper diz que a forma de governo autômato totalitária funciona pela mentira política em benefício do bem comum, da polis. (Popper: 155):

O filósofo é o agente de fabricação da gramática da Constituição:

“Como ‘pintor de Constituições’, o filósofo deve ser auxiliado pela luz da bondade e da sabedoria”. (Popper: 163).

O filósofo tece gramáticas constitucionais usando a ciência política literária dos jogos de gramática de Sócrates. Ora, o mal da tirania consiste em retirar da maioria do povo o poder de controlar suas próprias leis (Nieschike:64) e o funcionamento da tela gramatical narrativa do campo político/estético. A prática política da multidão soberana da politeia faz a junção da política com a ciência política literária dos jogos de gramática dos sofistas. Tal fato permitiu que a democracia constitucional existisse por cerca de duzentos anos.

A tela gramatical metafísica do Um tem um pressuposto saber, ou melhor, uma concepção política de mundo que é a base de seu funcionamento no campo político. Ela funciona pelo princípio da identidade absoluta entre sujeito/soberano e a prática política:

“Compreender e explicar racionalmente qualquer coisa, é assimilar o ainda desconhecido ao já conhecido. Em outros termos, é o conceber como idêntico em natureza a qualquer coisa que nós já conhecemos. Conhecer a natureza do real em geral é logo saber que cada um dos seres do qual se compõe o universo é, ao fundo e quaisquer que sejam as diferenças aparentes que os distingue, idêntica em natureza à n’importe quel autre être réel ou possible”. (Gilson. 1994: 24).  

Na plurivocidade de tela gramatical, a tela metafísica rege a realidade virtual do campo político/estético:

“La métaphysique est l’étude des causes últimes dub réel. Pour l’homme moderne, il n’est pas si facile de s’engager dans une discipline qui demande le plus haut degré d’expérience authentique, une grande capacité d’abstration, ‘analyse et de déduction, tout en étant, en même temps, dépourvue d’utilité pratique immédiate. La valeur suprême dela métaphysique reside justement dans le fait qu’elle nous procure l’ultime e la plus profonde vérité quanta u réel. Elle nous donne la nourriture dont nous avons le plus besoin. Elle peut, en effet, nous rapprocher le plus possible de notre <demeure réelle>, et nous préparer à une connaissance nouvelle et supérieure de l’Etre Premier”. (Elders: 43-44).

A maior ilusão do homem pós-moderno é não ver que a tela gramatical metafísica é uma região do cérebro humano, que o distingue do cérebro animal. Marx não é possuído por esse fantasma pós-moderno. É necessário falar da ilusão do monarca que não é um tirano da tela gramatical barroca/iluminista. Hoje, uma estrutura de dominação /hegemonikon mundial tem como referente o mercantilismo do capital asiático amarelo:

“Em Leibniz, o barroco é uma tela gramatical estética do século XVII, na Alemanha. Kant segue Leibniz e, ao promover a fratura com o barroco [e criar a ilustração], continuou a se barroco. Não há antagonismo entre iluminismo e barroco, portanto, há conciliação barroca”. (Bandeira da Silveira. 2024: cap. 3).   

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época pós-moderna. EUA: amazon, 2024-

DANTE ALIGHIERI. Seleção de Textos. Monarquia. SP: Abril Cultural, 1973

ELDERS, Leo J. La métaphysique de Saint Thomas d’Aquin. Paris: J. Vrin, 1994

EDMOND, Michel-Pierre. Le philosophe-rei. Platon et la politique. Paris: Payot, 1991

ELORDUY, Eleuterio. El estoicismo. V. 2. Madrid: Gredos, 1972

GILSON, Étienne. L’être et l’essence. Paris: J. Vrin, 1994

GILSON, Etienne. A filosofia na Idade Média. SP: Martins Fontes, 1995

LA BOÉTIE, Etienne. Discurso da servidão voluntária. SP: Brasiliense, 1982

LACAN, Jacques. Le Seminaire. Livre 17. L’envers de la psychanalyse. Paris: SEUIL, 1991

LIBERA, Alain de. La philosophie médiévale. Paris: PUF, 1993

MARX. Os Pensadores. O 18 do Brumário de Luís Bonaparte. SP: Abril Cultural, 1974

NESCHKE-HENTSCHKE, Ada. Platonisme politique et théorie du droit naturel. Paris: Édition Peeters, 1995

POPPER, Karl R. A sociedade democrática e seus inimigos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959