José Paulo
Por ONDE começar?
No “A República”, há a comunidade de mulheres e crianças”, o
comunismo como realidade virtual. Aristóteles parte dessa realidade para
construir a realidade virtual da cultura política econômica.
Para existir, a cultura política econômica necessita de uma
gramática. Assim, na cultura política econômica do Oikos, há o <isto é meu> e o <isto não é
meu>. (Aristoteles: 714-715):
“Porém, na realidade, os cidadãos, ao ter comunidade de
mulheres e crianças, não os chamaria <seus>, neste sentido, senão que
entenderão o <seus> coletivamente e não particularmente, e de modo
semelhante chamarão <suas> as propriedades, entendendo com isto as
propriedades de todos eles, não de cada um individualmente”. (Aristoteles:
715).
A gramática da cultura política econômica se inicia com o
indivíduo e a propriedade particular da família senhorial escravista. Há essa
cultura política econômica natural produtiva e mais ainda. Há a economia
capitalista mercantil e a economia do dinheiro que faz dinheiro: capital de
dinheiro. (Aristoteles: 696).
A cultura política econômica grega da riqueza deve evitar o
heteróclito, Ela é o renascimento grego: “A riqueza é um coleção de
instrumentos a disposição do administrador da família e do político”.
(Aristoteles: 694). Os agentes do discurso do maître [senhor e governante]
solto no ar da vida de aquisição de riqueza se inclinam para o heteróclito.
Assim, a ética é o limite da acumulação de riqueza. O heteróclito:
“A causa dessa atitude consiste em que seus interesses estão
postos na vida , porém não em uma vida boa; e assim, posto que o apetite da
vida é ilimitado, desejam também sem limite os meios de satisfaze-los. E ainda
aqueles que põe sua meta em uma vida boa, buscam a vida boa enquanto vem medida
por gozos corporais, de maneira que, posto que esta parece também achar-se na
possessão da propriedade, todas as suas energias se concentram na consecução da
riqueza, e por causa disto tem nascido a segunda espécie da arte de enriquecer.
Pois, pressuposto que todo gozo corporal se encontra em um excesso, se dedicam
a buscar a arte de produzir esse excesso no gozo [...]. (Aristóteles: 698).
Aristóteles estabelece a relação entre o desejo ou gozo
corporal de enriquecer sem limite e o homem tirânico, o César, por analogia da
cultura política econômica romana? O César é o gozo corporal de enriquecer sem
limite [em uma realidade econômica política virtual] a partir da mudança da forma
de governo; passagem da república constitucional para a tirania romana ou
cesarismo.
Leo Strauss diz, ora:
“as cidades exaltam grandemente o tiranicídio”. (Strauss:
67-68).
A cultura política econômica senhorial natural ou da polis
´[do governante] é um fenômeno no qual o tiranicídio não é um fato da
normalidade da vida. Não o é, pois, há o limite ético para o enriquecimento da
família senhorial e do governante ou político, ou classe política.
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As formas de governo são do um, de poucos ou da multidão no
poder governamental. As formas de governo justas existem se o governante
governa pelos interesses comuns no9 campo político/estético: monarquia,
aristocracia, democracia constitucional. As formas injustas governam segundo os
interesses privados do um, de poucos, da multidão: tirania ou cesarismo,
oligarquia, democracia aconstitucional.
Então, o que é a tirania?
“a tirania é uma monarquia que exerce um poder despótico
sobre a comunidade política; a oligarquia é o controle do governo nas mãos dos
que possuem todas as propriedades; a democracia, ao contrário, existe quando o
poder está nas mãos daqueles que apenas nada possuem, ou seja, são pobres”.
(Aristoteles: 781).
O princípio da justiça na forma de governo foi cancelado pelo
republicanismo de Maquiavel ao criar a identidade absoluta entre monarquia e
tirania. Então, a felicidade não é mais um fenômeno da liberdade ´política:
Porém, se os homens se associam não só por causa da
existência material, e sim com o fim de lograr uma vida feliz [já que do
contrário, uma coletividade de escravos e de animais seria um Estado; e isso em
realidade é impossível, porque estes seres não participam em absoluto da
felicidade de uma vida baseada em uma vontade livre”. ( Aristoteles: 783-784).
A ciência política freudiana desfaz a fronteira entre homem e
natureza, pois ela fala de um campo político cultural animal:
“Poque nossos parentes, os animais, não apresentam uma luta
cultural desse tipo? Provavelmente, alguns deles – as abelhas, as formigas, as
térmitas – batalharam durante milhares de anos antes de chegarem às
instituições estatais, à distribuição de funções e às restrições ao indivíduo
pelas quais hoje os admiramos”. (Freud: 146).
Há a relação entre forma de governo e cultura política
econômica:
Nem se realiza em ordem ao comercio e as relações
financeiras..., pois se fosse assim, os etruscos e os cartagineses e todos os
povos que têm relações comerciais entre si seriam virtualmente cidadãos de um
único Estado”. (Aristoteles: 784).
Há o campo político internacional virtual através da
gramática da cultura política econômica do capital? A gramática da cultura
política econômica do capital da modernidade cria e recria um campo
política/estético planetário?
Adam Smith tem uma visão cor de rosa do campo político da
civilização do capital:
“O principal comércio de todas as sociedades civilizadas é
mantido entre os habitantes da cidade e do campo. Consiste na troca da produção
bruta pela produção manufaturada, troca essa que é ou imediata, ou feita por
intermédio da moeda, ou de alguma espécie de papel que representa moeda. O
campo fornece à cidade os meios de subsistências e as matérias-primas da
manufatura. A cidade paga esse abastecimento enviando aos habitantes do campo
toda uma parte da sua manufaturada”. (Smith e Ricardo: 233).
Marx teceu um campo político do capital inglês da estética
brutalista:
“As leis cruéis contra as coligações dos trabalhadores foram
abolidas em 1825 ante a atitude ameaçadora do proletariado. Mas, apenas em
parte. Alguns belos resíduos dos velhos estatutos só desapareceram em 1959.
Finalmente, a lei do Parlamento, de 29 de junho de 1871, pretendeu eliminar os
últimos vestígios dessa legislação de classe como reconhecimento legal das
Trades Unions. Mas uma lei do Parlamento, da mesma data [destinada a modificar
a legislação criminal na parte relativa a violências, ameaças, e ofensas],
restabelece, de fato, a situação anterior sob nova forma. Com essas
escamoteações parlamentar os meios que podem ser utilizados pelos operários em
caso de greve (...) foram subtraídos ao domínio do direito e colocados sob uma
legislação penal de exceção, a ser interpretada pelos próprios fabricantes, na
sua qualidade de juízes de paz”. (Marx:539).
Marx é irônico com a civilização capitalista da economia
política:
“A serenidade estoica com que o economista político presencia
as violações mais cínicas do ‘sagrado direito de propriedade’ e as violências
mais contundentes contra as pessoas desde que necessárias para estabelecer as
bases do modo de produção capitalista [...]. (Marx: 528).
A propósito. Cria-se uma superfície profunda da meia-noite
para o proletariado no campo político/estético do cesarismo/tirania da cultura
política econômica do capital inglês.
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Em Marx. um problema estratégico da cultura política econômica
do capital é a mais-valia econômica:
“Como nasce a mais-valia? Não brota da circulação, senão que
se realiza na circulação. Os produtos se vendem por seu valor, não por mais do
que eles valem; o preço não excede seu valor; E ainda vendendo pelo que valem,
o vendedor obtém uma mais-valia”. (Marx. 1974: 35).
O fenômeno da mais-valia na tela gramatical do capital se
traduz por relação de exploração entre as classes sociais: burguesia e classe
operária. Como a mais-valia é o referente da produção da riqueza capitalista, a
burguesia aparece como uma classe parasita [abjeta] do trabalho alheio. Então, há
necessidade para a reprodução ampliada do capital da cultura política econômica
brutalista do capital.
Na economia política de Ricardo permaneceu a dúvida se ele
havia descoberto a mais-valia:
“O valor de uma mercadoria, ou seja, a quantidade de qualquer
outra pela qual pode ser trocada, depende da quantidade relativa de trabalho
necessário para a sua produção, e não da maior ou menor compensação que é paga
por esse trabalho”. (Ricardo e Smith: 255).
Diz um especialista em Ricardo sobre a mais-valia:
“Em todo caso, Ricardo não ofereceria uma orientação clara. A
julgar pelos Principles, poderia facilmente obter-se a impressão de que
o trabalho é simplesmente a medida e não a fonte do valor, e que o valor não
significa mais que as relações de cambio entre as mercadorias. Ricardo foi,
muitas vezes, muito explícito a este respeito”. (Blaug: 68).
Na cultura política econômica do capital, o capital não é uma
coisa, como pensa Ricardo, e sim relação social de produção industrial; assim,
a cultura política econômica põe e repõe a luta de classes no campo político/estético
capitalista.
Os economistas burgueses se esforçaram em negar a mais-valia
e a luta de classes. Eles chegaram a falar em cultura política econômica capitalista
visando o bem-estar:
“Se o valor é a importância que os bens possuem para o
bem-estar humano, e se essa importância se baseia no fato de haver algum ganho
de bem-estar que depende de se dispor deles, também é claro que a grandeza do
valor deve necessariamente ser determinada pela grandeza do ganho de bem-estar
que depende do respectivo bem. Um bem terá valor elevado se dele oferecer uma
importante vantagem para nosso bem-estar, e terá um valor baixo se dele oferecer
apenas um ganho de bem-estar insignificante”. (Bohm-Bawerk:160).
Althusser chamou a luta entre a concepção política de mundo
de Marx e a concepção burguesa como luta de classe na teoria. A luta de classe
é o motor da história, um processo sem o sujeito homem (Althusser:26, 31). A luta
de classe se transformou hoje, em uma luta no campo do general intellect
gramatical. Este existe como um fenômeno das classes médias universitárias que,
ou servem como estrutura de dominação na cultura política econômica do capital,
ou resistem ao domínio do capital no campo político estético. O fenômeno em pauta
encontra-se na tela gramatical da cultura política econômica do mercantilismo
do capital. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 8, parte 2).
Retomando a linha mestra. Os economistas do general intellect
gramatical burguês viveram seu drama de classe média intelectual:
“e assim se compreende por que, desde Adam Smith até nossos
dias, inúmeros teóricos acabaram por se desesperar totalmente de encontrar a
natureza e a medida do valor dos bens em relação com o bem-estar humano e
recorreram a outras explicações estranhas: ao trabalho ou ao tempo de trabalho,
aos custos de produção, à ‘dificuldade da obtenção’ à resistência da Natureza
contra o homem e a outras desse gênero”. (Bohm-Bawerk:161).
Os economistas burgueses da classe média universitária
ocidental procuraram desintegrar a crítica da gramática do capital. Ora, o
mercantilismo do capital asiático hoje hegemônico, ou seja, como paradigma do
capitalismo mundial, tem como cultura política econômica de vanguarda a China.
A cultura política econômica chinesa tem como um pilar a crítica da gramática
do capital:
“No mercantilismo capitalista, o general intelecto empresarial
existe no processo de produção e como práxis social. Existe como força
produtiva direta e, também, como práxis social no ciberespaço. Este fenômeno tem
sido alvo de interpretações como do semiocapital, capital semiótico: uma
crítica da economia política do valor”.
“A partir de ‘O capital’, a crítica do valor econômico se
tornou uma luta do capital contra o trabalho. A crítica da economia política de
Marx não é economia política, simplesmente. Ela vê esta como campo de
ideologias econômicas a serem desmascaradas”. (Bandeira da Silveira. 2021: cap.
3).
Vivemos em uma época além da pós-modernidade:
“A relação entre os fenômenos da globalização
anarcocapitalista e o mercantilismo do capital asiático chinês é o de escuridão
que avança sobre o campo de luz. Aliás, o mercantilismo do capital asiático
aparece através de fenômenos com cores quentes e vibrantes. O que substitui a
globalização em desintegração final?”. (Bandeira da Silveira. 2024: cap. 6,
parte 4).
ALTHUSSER, Louis. Réponse a Jonh Lewis. Paris: Maspero, 1973
ARISTOTELES. Obras. Politica. Madrid: Aguilar, 1982
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Crítica da gramática do
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BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Mundialização do
mercantilismo capitalista. EUA: amazon, 2021b
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Gramática do general
intellect. EUA: amazon, 2022
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. além da época posmoderna.
EUA: amazon, 2024
BLAUG, Mark. Teoria económica de Ricardo. Un estudo
histórico. Madrid: Ayuso, sem data
FREUD. Mal-estar na civilização. Obras Completas. Volume 21.
RJ: Imago, 1974
BOHM-BAWERK. Teoria positiva do capital. Volume 1. SP: Abril
Cultural, 1986
MARX., Carlos. Teorias de la plusvalia. Tomo 1, Madrid: Editor
Alberto Corazon, 1974
MARX, Karl. Le capital. Livre premier. Paris: Editions
Sociales, 1977
RICARDO E Smith, David e Adam. Investigação sobre a natureza
e as causas da riqueza das nações. Princípios de economia política e
tributação. Pensadores. SP: Abril Cultural, 19743
STRAUSS, Leo. De la tyrannie. Paris: Gallimard, 1977