sexta-feira, 27 de abril de 2018

GRAMÁTICA DA LÓGICA DO PIOR CAPITALISMO


José Paulo

Começar em Freud pela gramática do ersatz com o conceito de sublimação na economia política do desejo A sublimação é um ersatz (substituto), que substituiu o sexo e a violência ou instinto de morte pela ciência, arte e ideologia:
“A sublimação do instinto constitui um aspecto particularmente evidente do desenvolvimento cultural; é ela que torna possível às atividades psíquicas superiores, científicas, artísticas ou ideológicas, o desempenho de um papel tão importante na vida civilizada”. (Freud. v. XXI: 118).

A sublimação tem sua articulação com a felicidade no homem de ação que nunca abandonará o mundo externo, onde pode testar sua força. Trata-se de uma técnica da vida que pode lhe trazer satisfações substitutivas no lugar da fuga para a neurose e a desesperada tentativa de rebelião que se observa na psicose.

A sublimação é a gramaticalização do ersatz que substitui, em segundo grau, objetos como neurose e psicose pelo objeto felicidade. (Freud. v. XXI: 103-104). A sociedade do capitalismo do globalismo neoliberal quase nulifica a gramática da sublimação ao transformar: a educação institucional formal em carreira privada autotélica desvinculada da cultura pública, fazendo pendant com o crescimento desproporcional da classe média simbólica em relação ao trabalho útil para a vida econômica, política e cultural; ao fazer da arte, ciência, ideologia objetos mercantis impossíveis, impassíveis, substitutos da realização da satisfação dos instintos no mundo-da-vida; ao quase nulificar a busca da felicidade no  mundo onde a sedução é mais real que o próprio desejo na hiper-realidade do objeto-de-desejo .

A nulificação abre a porta para a sociedade do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Trata-se de um mundo onde a felicidade torna-se um objeto substituto com perda de energia, objeto como déficit de energia (Derrida: 244), se olhado como força do direito ou força gramatical de realidade. Não se trata do fim do desejo de felicidade e sim do desejo encarcerado como fenômeno da vida privada substituído na vida pública pelo ersatz sedução. O mundo da sedução tende para o grau zero da felicidade na gramática do ersatz da cultura política da sociedade da economia neocolonial do terceiro-mundo.   

A sedução é a estratégia fatal dos jogos como substitutos do lúdico infantil como tal fruto da atividade da imaginação que troca o despertar da piedade na relação criança-mãe pela escritura sem piedade no adulto. (Derrida: 212). Ao exercer o papel de suplente (Derrida: 213), a piedade como lógica do suplemento perigoso nos jogos de azar é o ersatz da felicidade freudiana da sublimação. O prolongamento no socius da relação original de piedade mãe-filho no domínio da felicidade se serve da lógica do pior ersatz lúdico, fático, com a reprodução ampliada da sociedade narcose freudiana (Freud. v. XXI: 100) – que mergulha o homem no real mais real que o próprio real. Aí forma-se uma gramática de massas disponíveis para a expansão da sociedade ilegal do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo lumpesinal; trata-se de uma gramática de massas capitalistas que fazem pendant com o capitalismo criminoso. (Platt: 20-21).

A gramática do ersatz sedutor perigoso na vida política faz da soberania popular um lugar onde o intervalo espacial (comparável ao intervalo da música) entre o representante e o representado seja preenchido pelo significante corrupção (os jogos sujos de azar do significante na cultura política) substituto do homem honesto no domínio da publicidade em geral. (Ortega e Gasset: 64). Trata-se do anverso do gentleman: “El gentleman, repito, no es intelectual. Busca el decorum en toda su vida: alma limpia  y cuerpo limpio”. (Ortega e Gasset: 65).

A peça teatral Os bandoleiros custou ao jovem Schiller a família e a pátria. Em uma época na qual a Alemanha era propriedade privada de príncipes e nobres, a peça é um ataque à subjetividade aristocrática. O pai aristocrata Velho Moor exclama diante do discurso do filho Franz sobre a vida corrupta do filho predileto da família:
“O Velho Moor (chorando amargurado) – O meu nome! O meu honrado nome! (Schiller: 14).
A exclusão do seio da família é pena que deve curar o filho corrupto:
“O Velho Moor – Quero lhe escrever dizendo que afasto minha mão de cima dele. (Idem: 19).
“O Velho Moor – Que ele jamais apareça diante de meus olhos”. (Idem: 20).

Aliás, o nome da família remete para um eu de uma subjetividade aristocrática que nunca consuma a entrada no mundo político como algo privado, e sim como membro de um grupo, de um estamento, de uma classe dos melhores:
“Su posición política y social descansa en una relación abierta, demonstrativa y autofruitiva entre poder y consideración personal. El narcisismo político da aristocracia vive de esta arrogancia elegante y consciente de su poder. Ella podia creer ser la privilegiada en todos os aspectos existencialmente esenciales y estar llamada a la superioridad: militarmente más fuerte, estéticamente superior, de educación refinada y vitalmente inquebrantable (sólo que con referencia a la nobleza cortesana no parece ser muito exato) ”. (Sloterdijk: 100).

A soberania popular parece ter herdado a ideia de uma gramática de massas eleitorais equivalentes moralmente à aristocracia do gentleman. Trata-se de uma continuação por outros meios de uma moralidade da cultura política burguesa (científica e política) que começa como república de eruditos para terminar na república de cidadãos. (Idem: 101). A soberania popular se cristaliza no imaginário político como as massas de moralidade superior de cidadãos republicanos. Mais adiante veremos que as massas da soberania popular do trágico não se deixam afetar por essa tradição republicana supracitada.      
                                                                          II 
 
A lógica do pior suplemento na soberania popular (substituição do representado pelo representante na definição da fonte do poder político) pode pretender conceder ao povo todo o poder menos aquele que se encontra nas mãos do representante. Trata-se de uma certa ideologia conservadora comparável à lógica do pior suplemento político que pode conceder aos cidadãos da República todas as liberdades exceto aquela de atentar contra a liberdade. Ao não participar da energia da fonte do poder político (que retira sua energia narcísica intolerante da liberdade de atentar contra a liberdade em qualquer domínio ideológico e prático), a soberania popular torna-se o lugar das massas trágicas comparável ao pensador trágico:
“Em primeiro lugar, o pensador trágico é o único a não ser jamais afetado por tipos de pensamento e comportamento dos quais não participa: na medida em que é incapaz, viu-se, de levar a sério uma ideologia seja qual for sua forma, em que recusa pensar que os objetos confessados da crença sejam objetos de adesão verdadeira. Lutar contra uma ideologia – e a tais lutas resume-se toda forma de intolerância – seria, a seus olhos, lutar contra nada: nenhum tema lhe é intolerável, porque nenhum tema, por desagradável que seja em aparência, tem realidade”. (Rosset: 170).

Nesse intervalo musical da relação representante e representado, a soberania popular abre mão da luta contra a ideologia da corrupção. Lutar contra a lógica do pior suplemento político não é uma tarefa levada a sério pelas massas trágicas da soberania popular a partir do domínio do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo lumpesinal. Na ruptura desta superfície do intervalo gramatical representante e representado, as massas são neutralizadas pelo campo de poder institucional (estatização do campo de poderes) e se nulificam no que diz respeito a questões morais na política. A ideologia da corrupção é o grau zero da moralidade na política das massas gramaticalmente do trágico.   

As massas da soberania popular não são corruptas ao reproduzir através de eleições democráticas uma elite política corrupta. Tais massas são trágicas pois consideram que a ideologia e a prática da corrupção não as afetam. As massas do trágico político da narrativa lógica da gramática suplementar do pior se constituem como massas da democracia formal desassociada da nação e da ideia de bem comum, ambos regulando a economia da cultura política pública e a política estrito senso. As massas do trágico se formam no intervalo da relação da soberania popular com a elite do poder, intervalo entre representante e representado como lógica do pior suplemento político gramatical.                        

                                                                                  III

Derrida lê a gramática do ersatz em Rousseau como gramática do suplemento, substituição de um objeto natural por um objeto artificial. (Derrida:  243-44). Se abrimos mão do conceito de natureza na gramática suplementar, a faculdade do virtual e atual começa no ato e potência de Aristóteles. (Derrida. 228). A substituição da ideia teológica pela ideia naturalista foi um progresso ideológico no século XVIII. (Rosset: 176). Hoje, o naturalismo encontra-se na lata de lixo da cultura pública em geral. Não se trata de substituição de um objeto natural por um artificial. Trata-se de ato e potência na atualização da política virtual como a Constituição. A gramática do ersatz substitui a linguagem da Constituição pela política como tal, no processo de atualização. A soberania popular da Constituição republicana democrática pode ser atualizada na política representativa em diferentes modos.  

Na modernidade, como soberania popular, a representação funciona como ersatz da democracia direta. A produção capitalista como ersatz da economia mercantil tout court.

Baudrillard ataca o ersatz em Marx, Freud, Lacan e Derrida. Trata-se de um ataque à gramatica do ersatz em geral e à gramática suplementar em particular. Trata-se de um ataque à gramatologia da economia, cultura e política. A realidade não começa com a diferença entre potência e ato, virtual e atual, original e cópia (Platão), natureza e cultura, homem e animal, real e ficção, natureza e artifício, fato e artefato, estado de guerra ou natureza e sociedade em Hobbes, piedade ou não-piedade em Rousseau, vontade de potência em Nietzsche, realidade latente e manifesta em Freud, representação em Foucault, suplemento em Derrida, eu da enunciação e do enunciado, consciência e inconsciente em Lacan (metafísica lacaniana). Ainda mais: guerra e paz, sociedade civil e sociedade política, sociedade e Estado, dominação e hegemonia, gramática e sgrammaticatura (Gramsci), necessidade e liberdade, pré-reflexão e reflexão, bem e mal, bom e mau, máquina e humano, imaginário e simbólico. O ataque é uma ambição dissolvente da relação significante e significado, escritura e fala, verdade e erro, verdadeiro e falso, logos e lógica, racional e irracional, sujeito e objeto, subjetividade objetividade, filosofia e ciência, ideologia e metafísica, causa e efeito, essência e aparência.    

Primeiro, é preciso ir além da física e da metafísica aristotélica. Depois, ir além da economia da produção em Marx, em seguida ir além da sublimação e do desejo em Freud e da lógica do suplemento. Também dissolver a modernidade da representação como ersatz sem antes desintegrar a cultura como reflexão e moralidade.  Por fim, desfazer a faculdade da imaginação como atividade que desperta a piedade na subjetividade da mulher, na relação mãe e criança comparada à relação de piedade entre homem e espécie humana.   
O ataque à gramatologia aparece com mais seriedade, pois, é um ataque a gramatologia da política de Derrida a Gramsci. Dois livros de Baudrillard resumem a ambição dissolvente das relações em tela: Simulacros e simulação e Da sedução. Baudrillard ambicionava gerar, finalmente para a cultura europeia, um saber pós-metafísico.   

                                                                                 IV
Ultrapassando o dualismo de Platão, Aristóteles o faz pela sua teoria substancialista da realidade enquanto ser (einai). Existe a substância individual e a realidade é definida pelo conjunto de substâncias individuais. O homem não existe; existe Sócrates, um ser individual concreto. Baudrillard se desfaz da metafísica substancialista ao recusar o substancialismo que se sustenta no par essência e aparência. Na psicanálise, essência e aparência se traduz como discurso latente (onde se encontra a verdade-desejo do sujeito) e discurso manifesto. (Baudrillard. 1991a: 61).

A separação latente/manifesto dá lugar à interpretação da profundidade metafísica da verdade do discurso, do sentido oculto do discurso. Todo o discurso de sentido quer pôr um ponto final às aparências: “inexoravelmente o discurso encontra-se entregue a sua própria aparência, portanto, às apostas da sedução e ao seu próprio fracasso como discurso. (Baudrillard. 1991a: 62).

O discurso que não fosse semblância é um impossível baudrillardiano. Lacan faz esta discussão no Seminário 18, Um discurso que não fosse semblância. Lacan tenta sustentar que há verdade no discurso do analista. Baudrillard diz que a psicanálise é um discurso que seduz a si mesmo: “forma original pela qual ele se absorve e se esvazia de seu sentido para melhor fascinar os outros, sedução primitiva da linguagem”. (Baudrillard. 1991a: 62).

Em resumo, o discurso é constituído como sedução da aparência das semblâncias, pois, seduzir os próprios signos é mais importante que a emergência de qualquer verdade.

A sedução das semblâncias dissolveu a cultura como essência e aparência. Só existe a aparência no discurso que se implode na vida sedutora das semblâncias. A sedução é uma estratégia fatal para a metafísica do discurso na economia (fim da produção), na política (fim da representação) e na cultura (fim da profundidade e da história). Na história, o fim da história se articula com a conjuntura do globalismo neoliberal cuja alavanca se encontra nos anos 1990. O fim da história significa a cultura sem profundida, a cultura como sedução da aparência das semblâncias.

Assim, é semblância pensar o discurso como potência e ato. Não existe a semente em ato que contém a arvore como potência. Não há verdade nas categorias de mudança e transformação no reino da aparência das semblâncias, a não ser como semblância.

São semblâncias de discursos as categorias como poder, sexo, produção:
“Todo discurso é cumplice desse encantamento, dessa derivação sedutora e, se ele mesmo não o faz, outros farão em seu lugar. Todas as aparências conjuram-se para combater o sentido, para desenraizar o sentido intencional ou não e para convertê-lo em jogo, numa outra regra do jogo, por sua vez arbitrária, num outro ritual inapreensível, mais aventuroso, mais sedutor que a linha diretriz do sentido. Aquilo contra o que o discurso deve lutar é não tanto o segredo de um inconsciente, mas o abismo superficial de sua própria aparência e, se é preciso triunfar sobre alguma coisa, não são fantasmas ou alucinações prenhes de sentido e contra-sentido mas sim a brilhante superfície do não-sentido e de todos os jogos que ela torna possíveis”. (Baudrillard. 1991a: 63)               

Consciência e inconsciente são categorias de uma realidade metafísica do ser, que se dissolvem quando o ser é substituído pela aparência de semblâncias.
                                                                            V

Original e cópia prefiguram a aparência das semblância do discurso de Platão. No mundo do simulacro de simulação (Baudrillard. 1981: 177) a cópia não é um ersatz de um objeto original, pois não existe objeto original. Ela é um signo do signo. (Derrida: 254). Não se trata da representação (signo) da realidade dos fatos. Trata-se da aparência de semblâncias fundadas sobre a informação, o modelo, o jogo cibernético, - operação total, hiperrealidade, visada de controle total. Na hiperrrealidade, a política é mais real que a própria realidade dos fatos da política. A hiperrealidade dissolve as relações de poder, a soberania política torna-se um simulacro de simulação, a democracia uma semblância-efeito de efeitos autoritários no mundo-da-vida. Tornam-se semblância: a relação sociedade civil e sociedade política, dominação e hegemonia, privado e público, sociedade e Estado. Permanece no jogo dos discursos aqueles que constituem uma realidade sedutora:
“O que estamos a viver é a absorção de todos os modos de expressão virtuais no da publicidade. Todas as formas culturais originais, todas as linguagens determinadas absorvem-se neste porque não tem profundidade, é instantâneo e instantaneamente esquecido. Triunfo da forma superficial, mínimo denominador comum de todos os significados, grau zero do sentido, triunfo da entropia sobre todos os tropos possíveis. Forma baixa da energia do signo. Esta forma inarticulada, instantânea sem passado, sem futuro, sem metamorfose possível, precisamente por ser a última, tem poder sobre todas as outras. Todas as formas actuais de actividade tendem para a publicidade, e na sua maior parte esgotam-se aí”. (Baudrillard. 1991b: 113).

Notável criador da publicidade moderna, David Ogiluy diz que a publicidade tem sua gramática. (Ogiliuy: 34-35). Trata-se da gramatologia da aparência das semblâncias publicitária. A ideologia do pós-modernismo se ampara na gramatologia publicitária que organiza o discurso dos mass media na era do capitalismo do globalismo neoliberal, que subtraiu da cultura seu papel de organizador da política como articulação do hegemonikón. Trata-se de um universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido. (Baudrillard. 1981: 119).

Com a internet, o domínio dos mass media na gramática da cultura política publicitária perde seu monopólio no mundo das semblâncias. As redes sociais digitais restauram o sentido ideológico na política, se constituem como uma gramática ideológica da aparência das semblâncias digitais de sentido fragmentado, atomizado ou tribal (espaço digital do sentimento). É o espaço da tribalização mundial da política tardia da cultura do sentimento. (Maffesoli: 141).  

O pós-modernismo também é em si uma gramatologia da publicidade que invade a economia (sedução no lugar da produção), a política (a corrupção como sedução da representação) e da cultura (sedução da aparência das semblâncias no lugar da profundidade da verdade e do sentido). A gramática supracitada é aquela do capitalismo do globalismo neoliberal suprassumida pela gramatologia do capitalismo neoliberal doterceiro-mundo.
                                                                       VI

A gramatologia da narrativa ersatz da lógica do pior capitalismo é aquela do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo lumpesinal - que se desenvolve no Brasil. Na política, a lógica do pior é o ersatz da sociedade política mafiosa no lugar do partido político. O PP (Partido Progressista) é o ersatz empírico de antecipação da sociedade mafiosa na política. Trata-se do partido mais envolvido na corrupção da elite política de Brasília.

Um único fato é capaz de caracterizar esse partido como mafioso. Ele é a vanguarda no Congresso (ele é a terceira bancada na Câmara de deputados) do movimento nacionalizado mafioso internacional em defesa dos jogos de azar. Este sintoma social faz do PP o partido carro-chefe da sociedade mafiosa do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo lumpesinal. Como em uma boa parte da história italiana da modernidade política há: “a presença de um ‘veneno misterioso, sutil...floresce sob a capa da máfia a força da política, sob a capa da política a força da máfia”. (Lupo: 159).

Entramos em uma época na qual a miséria do Estado policial fático neocolonial (avesso do Estado constitucional) terá que enfrentar uma sociedade mafiosa do capitalismo neocolonial lumpesinal do terceiro-mundo, instalada nos domínios dos de cima e dos de baixo. 

BAUDRILLARD, Jean. Da sedução. Campinas: Papirus, 1991a
--------------------------   Simulacres et simulation. Paris: Galilée, 1981
---------------------------- Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D’Àgua, 1991b
DERRIDA, Jacques. Gramatologia. SP: Perspectiva, 1973
FREUD. Obras Completas. O mal-estar da civilização. v. XXI. RJ: Imago, 1974
LUPO, Salvatore. História da máfia. Das origens aos nossos dias. SP: UNESP, 2002
MAFFESOLI, Michel. A transformação do político. A tribalização do mundo. Porto Alegre: Sulinas, 1997
OGILUY, David. Confissões de um publicitário. RJ: Bertrand Brasil, 2003
ORTEGA Y GASSET. Meditacion de la técnica y otros ensayos sobre ciencia y filosofia. Madrid: Alianza Editorial, 1982
ROSSET, Clément. Lógica do pior. RJ: Espaço e Tempo, 1989
SCHILLER. Os bandoleiros. Porto Alegre: L&PM, 2001
SLOTERDijK, Peter. Crítica de la razón cínica. v. 1. Madrid: Taurus, 1989
PLATT, Stephen. Capitalismo criminoso. SP: Cultrix, 2017
     
                      

     


terça-feira, 17 de abril de 2018

HEGEMONIKÓN – DA RECENTE MODERNIDADE DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA


José Paulo


É um truísmo a ideia de que a cultura cristã articula o imaginário político ocidental. Assim, nos encontramos diante de uma circunferência (ou periferia lacaniana) com um centro que é o logos divino. Nesta periferia, os seres contingentes (vida, a semelhança essencial, o laço social e outras realidades) são efeitos participados da ação criativa de Deus. Em suma, o sujeito é um efeito do logos divino. Na teoria do discurso de Lacan, Deus é S2 no lugar do agente, pois, Deus é causa. Trata-se do discurso da universidade que faz pendant com o discurso do burocrata que não é saber-de-tudo, e sim tudo saber. (Lacan. 1991: 34).   

A cultura metafísica cristã deduz uma hierarquia dos seres em relação à distância que eles se encontram do centro-logos divino: mais próximos de Deus, os anjos são os mais espirituais, os mais unos, inteligentes e perfeitos, os mais próximos de tudo saber; os anjos são seguidos pela alma do burocrata em todas tais perfeições.

A Igreja é o modelo da forma de governo autoritário piramidal. A pirâmide é a imagem de uma gramática da política de uma estrutura governamental cuja fonte de autoridade jaz externa a si mesma (no logos divino), porém cuja sede de poder se localiza em seu topo, do qual a autoridade e o poder político se filtram para a base de maneira tal que cada camada consecutiva possua alguma “autoridade”, embora menos que a imediatamente superior, e onde, exatamente por causa desse cuidadoso processo de filtragem, todos os níveis, do topo à base, se encontram firmemente integrados no todo e se inter-relacionam como raios convergentes cujo ponto  focal comum é o topo da pirâmide, bem como o fundamento transcendente de “autoridade” acima dela. (Arendt. 1988: 135).

A gramática em tela é aquela do tipo cristão de governo autoritário fazendo pendant com o discurso do burocrata. Trata-se da republique prêtre (Marx. 1982: 359) desenvolvida na Idade Média. Tal gramática fornecia o necessário ponto de referência de um imaginário político celestial cristão de igualdade entre os fiéis, não obstante a estrutura de vida estritamente hierárquica na terra. Como filosofia da política angelical, tal gramática eleva ao céu do governo autoritário o credo quia absurdum:
“De qualquer modo, uma forma autoritária de governo, com sua estrutura hierárquica, é a menos igualitária de todas as formas; ela incorpora a desigualdade e a distinção com princípios ubíquos”. (Arendt. 1988: 136).       

O imaginário da cultura cristã divide o sujeito em anjo e homem. Na teologia metafísica cristã, o logos divino é causa da formosura e da bondade. Nada há nada na natureza que não participe da formosura e bondade. A formosura de Deus (neste imaginário teocêntrico) é exaltada como origem de toda causalidade. Quanto à alma do burocrata, ela deve ser impessoal, seguidor das normas do direito e movida pela razão instrumental. Trata-se do imaginário político weberiano da junção sociedade moderna e Estado moderno. Nesta junção, não há distinção entre a burocracia e a empresa capitalista. Trata-se da forma moderna do discurso do senhor ou maître.  

Na teoria lacaniana do discurso, Deus é o campo simbólico (Grande Outro, S2, campo dos saberes). Deus não é a causa do imaginário político ocidental. A causa encontra-se no lugar do agente ocupado por S1 (significante-mestre). O S1 moderno pode ser a sociedade dos significantes capitalista - que tem como motor o capital da modernidade. Deus encontra-se no lugar do Outro.

Na cultura metafísica cristã, o sujeito é um efeito do logos divino no lugar do Outro. Em Lacan, o sujeito é efeito do significante no lugar do agente do discurso do capitalista. O agente é a causa do efeito sujeito capitalista. Com a teoria dos discursos lacaniana, o imaginário político do sujeito liga-se a causalidade do significante-mestre. Só para refrescar a memória do leitor, o significante-mestre não é um logos-divino.

Como o significante-mestre é o motor da causalidade do laço social, a junção do real (o S1 capital advém do Real) com o imaginário produz um sujeito não-cristão, um sujeito que pode ser o sujeito da cultura da antiguidade, ou grega, ou romana, ou moderna com o capitalista. Lacan diz algo do Ocidente que não é articulado como imaginário político da cultura metafísica cristã. O R.S.I. (Real, Simbólico e Imaginário) é as periferias que não se articulam a partir de um centro ou logos. Elas se articulam fazendo junção até chegar a junção R.S.I. Na modernidade, a junção é a sociedade dos significantes capitalista.

Não há propriamente um logos (o R.S.I. não é um logos) e sim hegemonikón. Este não é uma causalidade de formosura ou bondade. Ele pode ser, inclusive, a causa do mal-estar da civilização ocidental.

O que é o hegemonikón? Qual é sua relação com a autoridade?  

Hegemonikón é um significante que faz pendant com a ideia estoica eloquência perfeita. Ele se articula na relação rhetor percipio/regido. Trata-se de uma certa unidade gramatical teoria/prática de elementos contínuos e descontínuos. Em Sêneca está claro que o hegemonikón é o princípio diretor que fornece a unidade a todos os membros e impede a autonomia anárquica das diversas partes, que irremediavelmente conduziria a uma conformação monstruosa (Elorduy, S. J.: 111) ou um corpo político sem alma, sem forma.

Na sociedade moderna em um sentido amplo, o hegemonikón é a junção de três periferias: economia, política e cultura. As duas últimas são providas de autonomia relativa em relação à economia por onde advém o capital como significante do real. No entanto, o capital não é o centro das periferias supracitadas. Ele é a causa do hegemonikón da sociedade dos significantes capitalista que é a junção das periferias em tela.    
                                                                    II

Na política da modernidade, o corpo político com alma exige um rhetor percipio ou gramático (hegemonikón em sentido estrito) que exclui a gramática pessoal no comando da política. Trata-se do choque entre o rhetor percipio república democrática moderna e a gramática pessoal de Luís Bonaparte no O 18 Brumário de Luís Bonaparte. A gramática pessoal de Luís destruiu o rhetor percipio ou hegemonikón da política francesa e pôs no lugar dele o Segundo Império que é um corpo político sem alma, pois provido por uma gramática pessoal. 

O Segundo Império abole o hegemonikón como autoridade moderna da política ou eloquência perfeita. Trata-se de dominação com hegemonia. A hegemonia existe em função da coerção política. Ao contrário, o hegemonikón não está submetido a coerção alguma, pois responde a heimarméne. (Idem: 141). Obedecer ao rhetor percipio não significa um ato de coerção. Porém o sujeito homem (ou mulher) pode ir mais ou menos contente no carro da heimarméne (obediência política sem coerção), porém não pode dispor de sua liberdade para fazer o contrário.

Na República democrática moderna, a heimarméne faz pendant com o hegemonikón como gramática constitucional da política que excluiu a gramática pessoal anarquista (corpo político fático sem alma da modernidade dos de baixo) como elemento da vida política. A vida anárquica é a república das mil gramáticas pessoais.

Hegemonikón e heimarméne não nos remete para a reflexão da autoridade em Hannah Arendt?

Para cortar qualquer tentativa de uma interpretação da república democrática moderna pelo pensamento conservador, recorro a Marx:
“Enquanto o domínio da classe burguesa não se tivesse organizado completamente, enquanto não tivesse adquirido sua pura expressão política, o antagonismo das outras classes não podia, igualmente, mostrar-se em sua forma pura, e onde aparecia não podia assumir o aspecto perigoso que converte toda luta contra o poder do Estado em uma luta contra o capital. Se em cada vibração de vida na sociedade ela via a ‘tranquilidade’ ameaçada, como podia aspirar a manter à frente da sociedade um regime de desassossego, seu próprio regime, o regime parlamentar, esse regime que, segundo a expressão de um de seus porta-vozes, vive em luta e pela luta? O regime parlamentar vive do debate; como pode proibir os debates? Cada interesse, cada instituição social, é transformado aqui em ideias gerais, debatido como ideias; como pode qualquer interesse, qualquer instituição, afirmar-se acima do pensamento e impor-se como artigo de fé? A luta dos oradores na tribuna evoca a luta dos escribas na imprensa; o clube de debates do Parlamento é necessariamente suplementado pelos clubes de debates dos salões e das tabernas; os representantes, que apelam constantemente para a opinião pública, dão à opinião pública o direito de expressar sua verdadeira opinião nas petições. O regime parlamentar deixa tudo à decisão das maiorias, como, então, as grandes maiorias fora do Parlamento não hão de querer decidir? Quando se toca música nas altas esferas do Estado, que se pode esperar dos que estão embaixo, senão que dancem? (Marx. 1974: 366).

Sobre a modernidade da república democrática no século XXI, talvez, seja mais prudente seguir o pensamento de Heidegger:
Por lo demás, no es una cuestión meramente externa de denominación si se considera la era actual como el fin de la edad moderna, o si se reconece que hoy por hoy el proceso tal vez largo y difícil del perfeccionamiento de la edad moderna está recién iniciándose. (Heidegger. 1972: 154).
                                                                       III

No livro Entre o passado e o futuro, Hannah Arendt começa a discussão sobre autoridade falando da desarticulação do discurso do senhor em regiões pré-políticas como a relação adulto-filho e mestre-aluno, modelos para grandes variedades de formas autoritárias de governos. Aqui, o discurso do senhor faz pendant com a teoria/prática da autoridade tradicional dos grandes impérios absolutistas patrimonialistas da aurora da idade moderna.

Hannah diz que movimentos políticos buscando substituir o sistema partidário e o desenvolvimento de uma nova forma totalitária de governo contribuíram para a dissolução da forma de autoridade tradicional. Como já vimos, o discurso do senhor retorna na forma moderna do discurso da burocracia fazendo pendant com o discurso capitalista. (Lacan. 1991: 34). Trata-se de uma nova forma de autoridade baseada no hegemonikón da sociedade capitalista da modernidade: autoridade moderna.

A autoridade faz pendant com a obediência. Aí ela é confundida com alguma forma de poder ou violência. Contudo, a autoridade exclui o uso de meios externos de coerção; onde há coerção, a autoridade fracassou. A autoridade não é a persuasão no espaço público da argumentação, lugar que pressupõe igualdade, ou seja, o contrário da ordem autoritária hierárquica. Se há argumentos, a autoridade é suspensa. A autoridade se contrapõe à coerção como a persuasão pelo argumento.

Hannah Arendt pensa a relação entre religião, tradição e passado como elementos essenciais para se definir a perda de autoridade na idade moderna. Com a perda da tradição e crise da religião cristã, rompe o fio que ligava o homem ao passado como profundidade: “Pois memória e profundidade são o mesmo, ou antes, a profundidade não pode ser alcançada pelo homem a não ser através da recordação”. (Arendt. 1988: 131).

A moderna perda de autoridade retira a profundidade da aparência das semblâncias do domínio político. Quanto ao cristianismo, ele é reduzido à profundidade da semblância do credo quia absurdum. (Idem: 131). Assim, o domínio político se livra da religião e da profundidade da essência. Ele passa a ser efeitos que produzem efeitos sem jamais chegar a conhecer a causa.

A perda de autoridade significa também perda de fundamento do mundo. Ao perder profundidade, a política passa a mudar, se modificar e transformar com rapidez sempre crescente de uma forma para outra, sem ser a história cíclica da antiguidade grega. É: “como se estivéssemos vivendo e lutando com um universo proteico, onde todas as coisas, a qualquer momento, podem se tornar praticamente outra coisa”. (Idem: 132). Esta formulação supracitada tem um axioma em Marx: tudo que é sólido desmancha no ar!

Como perda de autoridade, o tudo que é sólido desmancha no ar faz pendant com o hegemonikón, pois o desmanche no ar não instala o caos, a paralisia do mundo na economia, na cultura e na política:
“Mas a perda de permanência e segurança do mundo – que politicamente é idêntica à perda de autoridade – não acarreta, pelo menos não necessariamente, a perda de capacidade humana de construir, preservar e cuidar de um mundo que nos pode sobreviver e permanecer um lugar adequado à vida para os que vêm depois”. (Idem: 132).

Obviamente, Hannah se refere à sociedade capitalista com hegemonikón. Se refere a idade do capitalismo moderno tout court. Da década de 1950 até hoje, o capitalismo passou por transformações radicais. Assim: “preservar e cuidar de um mundo que nos pode sobreviver e permanecer um lugar adequado à vida para os que vêm depois” não é mais tão óbvio.

Hannah escreve em um momento no qual a democracia liberal ocidental não havia ainda sido corroída em seus fundamentos, mesmo sendo alvo de uma cultura que iria abolir a profundidade da aparência da semblância da profundidade. Com o capitalismo do globalismo neoliberal, a democracia é destituída de sua ontologia, e seu ser não persiste mais como axiologia de valores políticos que a contrapõem as inúmeras formas autoritárias: despotismo oligárquico, tirania, regime autoritário, ditadura.

O campo das relações internacionais tem o utilitarismo (significante interesse) no comando da percepção cultural política. E trata-se de um domínio sem valores políticos que tracem o sulco que estabeleça uma fronteira clara, nítida, entre Ocidente e Oriente asiático, entre democracia ocidental e totalitarismo asiático. Sem profundidade e, por conseguinte, memória de cultura política, a democracia se vê reduzida a uma mera semblância em um contraponto com a semblância ditatorial. 

A democracia liberal não é a semblância autêntica e sim inautêntica: "Estas últimas, miragens como a de alguma fada Morgana, dissolvem-se espontaneamente ou desaparecem com uma inspeção mais cuidadosa; as primeiras, como o movimento do Sol levantando-se pela manhã para pôr-se ao entardecer, ao contrário, não cederão a qualquer volume de informação científica, porque esta é a maneira pela qual a aparência do Sol e da Terra parece inevitável a qualquer criatura presa à Terra e que não pode mudar de moradia”. (Arendt. 1992: 31).

Já o regime ditatorial asiático aparece como uma semblância autêntica do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Este capitalismo é o tudo que é sólido dissolve no ar do capitalismo moderno desenvolvido do primeiro-mundo. Neste último mundo, os sujeitos deixaram de crer e ter fé na democracia liberal ocidental como universo de solução de seus problemas domésticos ou do âmbito das relações internacionais. Um mundo de gramáticas pessoais (como a gramática de Donald Trump) levam vantagem, por enquanto, sobre a gramática da república democrática moderna. Com efeito, se estabelece uma luta entre gramáticas pessoais e a gramática da recente república democrática moderna pelo comando da política nacional e internacional.

Nem toda a aparência política é capaz de evitar o surgimento da recente república democrática moderna como semblância autêntica em um contraponto à semblância autêntica totalitária asiática. Quanto maior o domínio da ditadura asiática nas relações internacionais, mais potente se fará a expressão política da recente república democrática moderna, apesar e contra a gramática política pessoal republicana de Donald Trump.

Esta recente república democrática moderna do século XXI regula-se pela autoridade como heimarméne.      
                                                                         IV  

No século XIX, a cultura política funcionou segundo a banda de Moebius tendo no lado direito o a autoridade (conservadorismo) e no lado avesso a liberdade (liberalismo). Trata-se do século que caba por ser possuído pelo significante história transdialético nietzschiano:
“Nossas mentes rechaçam a ideia de nascimento de uma coisa que pode nascer de uma contrária, por exemplo: a verdade do erro; a vontade do verdadeiro da vontade do erro; o ato desinteressado do egoísmo ou a contemplação pura do sábio, da cobiça”. (Nietzsche. 1981:17).

Ao lado da teoria da modernidade política como destruição da autoridade e da liberdade, Hannah é nietzschiana (transdialética) no seu conceito de história:
“Além disso, resulta da natureza da própria imagem em que a história é usualmente concebida – como processo, fluxo ou desenvolvimento – que todas as coisas por ela compreendidas podem se transformar em quaisquer outras coisas, que as distinções se tornam sem sentido por ficarem obsoletas, e como que submersas no fluxo histórico no momento de sua aparição. Desse ponto de vista, o liberalismo e o conservadorismo apresentam-se como as filosofias políticas que correspondem a Filosofia da História muito mais geral e abrangente do século XIX. Em forma e em conteúdo, elas são a expressão política da consciência histórica do derradeiro estágio da época moderna”. (Arendt. 1988: 139).

No século XX, a transdialética transforma a época do liberalismo em conservadorismo, e vice-versa: “tentando em certas ocasiões reafirmar a autoridade e em outras, reafirmar a liberdade, resultaram somente em um maior solapamento de ambas, confundindo os problemas, borrando as linhas distintivas entre autoridade e liberdade e, por fim, destruindo o significado político de ambas”. (Arendt. 1988: 138). A Banda de Moebius liberalismo/conservadorismo é suplantada pela transdialética marxismo/fascismo. Assim, estiola-se os significantes autoridade e liberdade.

A gramática da cebola é a mais adequada para se pensar o governo totalitário. O centro se localiza em um espaço vazio onde habita o líder carismático ou condottiere. O rhetor percipio da gramática totalitária comanda seus ´súditos de dentro, e não de fora ou de cima. O governo pode ser uma hierarquia autoritária ou uma tirania que é metabolizada gramaticalmente como um fato normal, pois, a banda exterior da cebola possui uma aparência de semblância de normalidade por sua ausência de fanatismo e de extremismo, enquanto, ao mesmo tempo, aparece como o mundo normal ao movimento totalitário. (Arendt. 1988: 137).

Adorno e Horkheimer falam de uma ideologia oca de significações realmente existentes (de cunho niilista em relação à modernidade política e de exaltação à vida cega) para se referirem a vida da cultura política do fascismo alemão. (Adorno: 54, 138, 140). Quanto ao totalitarismo stalinista, ele é provido de uma ideologia política com excesso de significações no domínio da memória historial. Trata-se do discurso político mitológico da revolução russa e da sociedade de classes sendo substituída por uma sociedade de significantes do povo ariano russo.  
                                                                 V

A destruição da autoridade e da liberdade complica a vida do governo que se legitima no exercício do poder político. O problema é a confusão traçada pelas ciências humanas nos esforços por encontrar um princípio legítimo de coerção. Trata-se de encontrar a coerção na própria relação governante/governado e que fosse anterior à efetiva emissão de ordens.

A persuasão e a discussão na esfera pública se mostram insuficientes como fonte legítima de exercício de poder governamental. A razão pública como instrumento da busca da verdade é um modo de coerção não-violenta. Porém, a verdade deixou de se constituir como comando do reino da aparência das semblâncias. De qualquer maneira, a coerção pela razão pode alcançar uma minoria letrada em alta cultura política pública. Ela não alcança as massas.

No século XX, a educação pública universal se tornou o instrumento para se obter uma relação de governar e obedecer não-coercitiva na recente república democrática da modernidade do século XXI.

Trata-se de caminho análogo ao da auctoritas romana? Voltaremos a este problema depois.

A educação pública para a política significa em constituir massas simbólicas ou melhor, massas gramaticalizáveis. Estas só existem na medida em que são capazes de gramaticalizar juízos, sentenças e axiomas sensatos, razoáveis, baseados no bom-senso da política (que podem se tornar normas e padrões adequados para serem transformados em leis), voltados para o bem comum da sociedade dos significantes republicana democrática moderna.

E o que é esta sociedade?

Tal sociedade é provida de uma gramática de cultura política pública enquanto um gramático. A educação escolar é o ensino para as massas de várias espécies de gramáticas, em especial a gramática da língua materna. Este é o caminho para as massas (de elite ou vulgar) serem preparadas para metabolizar a relação governar/obedecer como uma gramática da cultura política pública nacional em junção com a cultura política internacional.

O gramático recente republicano democrático moderno é um modo de governar e ser governado sem coerção violenta real ou simbólica. É verdade que o aprendizado da gramática implica uma certa dose de coerção gramatical não-violenta - que depois desaparece com a constituição do gramático como um ente gramatical já dado na cultura política pública nacional.
                                                                 VI 

Na Grécia antiga, a educação ou paidéia faz junção com a política na cultura política aristocrática, cultura guerreira da nobreza como seus valores aristocráticos: excelência humana, a superioridade de seres não-humanos, a força dos deuses ou a coragem e rapidez dos cavalos de raça. (Jaeger: 19).  A arete é indispensável à prática da educação grega voltada para a política. A arete faz pendant com o discurso do senhor aristocrático. (Idem: 19). A política é feita por aqueles que governam crianças, mulheres e escravos:
“Em geral, de acordo com a modalidade de pensamento dos tempos primitivos, designa-se por arete a força e a destreza dos guerreiros ou lutadores e, acima de tudo, heroísmo, considerado não no nosso sentido de ação moral e separada da força, mas sim intimamente ligada a ela”. (Jaeger: 19).

A cultura política da nobreza se faz presença presente até na politeia. Esta é a democracia aristocrática em um contraponto à democracia das massas lumpesinais que governam de acordo somente com seus interesses egoístas, esquecendo as outras partes da sociedade dos significantes de classe social. A paidéia não faz parte da educação das massas como cultura política democrática pública no sentido da arete na democracia lumpesinal. Esta é uma apropriação da riqueza da nação como cultura política privada das massas que governam.  

Na politeia, a arete política torna-se um poder e um saber (Jaeger: 99). A educação na arete é política. (jaeger: 418-419). Na politeia, a virtude (arete) do cidadão consistiu na livre submissão de todos, sem distinção de dignidade ou de sangue, à nova autoridade da lei. A cultura aristocrática torna-se uma cultura igualitária dos cidadãos. Os valores aristocráticos se constituem como um lastro da cultura pública aristocrática através da educação para a cultura política de obediência às leis.

Trata-se da techne política como estrutura vital do homem como ser político para a vida comum como súmula da vida mais elevada e adquire até uma qualidade divina. A corrupção da techne política pela história cíclica das formas de governo está associada ao colapso da politeia.

A gramática da cultura política encontrou nos sofistas o fundamento da educação milenar. Os exemplos do treino do corpo e da criação de animais são mais uma prova da possibilidade de cultivar e educar a physis. Traduzida para o latim, a comparação da educação humana com a agricultura se inscreveu no pensamento ocidental e criou a nova metáfora da cultura animi: a educação humana como cultura política pública:
“Nesta profunda e ampla fundamentação do fenômeno educacional, mais uma vez se manifesta a natureza do espírito grego, orientado para aquilo que de universal e de total há no ser. Sem ela, nem a ideia de cultura nem a de educação humana teriam vindo à luz naquela forma plástica”. (Jaeger: 253).
Na cultura política moderna pública, trata-se de fazer a junção da educação pública universal com dois significantes estoicos: heimarméne e hegemonikón.   
                                                                 
                                                              VII

Marx diz:
“A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando aparecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestados os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada. Assim, Lutero adotou a máscara do apóstolo Paulo, a Revolução de 1789-1814 vestiu-se alternadamente como a República Romana e como o Império Romano, e a Revolução de 1848 não soube fazer nada melhor que parodiar ora 1789, ora a tradição revolucionária de 1793-1795”. (Marx. 1974: 335).

Conjurar os espíritos do passado (trazer o passado de volta) e tomar a linguagem da tradição política emprestada, eis a política como experiência de fazer da tradição (como memória do passado) a gramática da revolução republicana democrática moderna na França.

Re-ligare a modernidade política à gramática da cultura política romana é o ponto de partida de Hannah Arendt para pensar a crise da república democrática do Ocidente:
“Pois, se estou certa ao suspeitar que a crise do mundo atual é basicamente de natureza política, e que o famoso ‘declínio do Ocidente’ consiste fundamentalmente no declínio da trindade romana da religião, tradição e autoridade, como o concomitante solapamento das fundações especificamente romanas de domínio político, então as revoluções da época moderna parecem gigantescas tentativas de reparar essas fundações, de renovar o fio rompido da tradição e de restaurar, mediante a fundação de novos organismos políticos, aquilo que durante séculos conferiu aos negócios humanos certa medida de dignidade e grandeza”. (Arendt. 1988: 185).

A história pode ser um vale de lágrimas, nunca uma latrina; nunca o domínio dos objetos da baixa matéria dos fatos históricos.

O colapso do Ocidente faz junção com a dissolução secular da gramática da cultura política romana ou da ideia e da prática da auctoritas:
“a única experiência política que trouxe a autoridade como vocábulo, conceito e realidade à nossa história – a experiência romana da fundação – parece ter sido completamente perdida e esquecida. E isso a tal ponto que, no momento em que começamos a falar e pensar acerca da autoridade, que é afinal de contas um dos conceitos centrais do pensamento político, é como se fossemos apanhados em um labirinto de abstrações, e metáforas e figuras de linguagem, em qualquer coisa que pode ser confundida com qualquer coisa, por não dispormos de nenhuma realidade, seja na história, seja na experiência cotidiana, à qual possamos unanimemente recorrer”. (Arendt. 1988: 181).

Faço uma radiografia da gramática da cultura política romana para ficar claro como a autoridade se diferencia do governo e do poder político.

A gramática da cultura política romana tem como fundamento a religião, a tradição e a autoridade. Autoridade é um conceito e uma palavra de origem romana. Auctoritas implica uma espécie de governo romano especial. A relação entre autoridade, religião e tradição faz junção no significante fundação da polis romana (Roma). Se há incerteza quanto a história política, o mesmo não ocorre com a história religiosa. (Dumézil: 29). A religião romana tem um conteúdo intensamente político religado à fundação da polis. A religião significava ser ligado ao passado (literalmente re-ligare): ser ligado ao passado, obrigado para com o enorme, quase sobre-humano e por conseguinte sempre lendário esforço de lançar as fundações, de erigir a pedra angular, de fundar para a eternidade”. (Arendt. 1988: 163).

A religião e a atividade política poderiam ser consideradas idênticas, pois o poder coercivo da fundação era ele mesmo religioso, pois, a polis romana oferecia também aos deuses do povo um lar permanente: “mais uma vez, ao contrário dos gregos, cujos deuses protegiam as cidades dos mortais e, por vezes, nelas habitavam, mas possuíam seu próprio lar, distante da morada dos homens, no Monte Olímpio”. (Arendt. 1988: 163).

Freud diz:
“Para os romanos, que não fundaram no amor sua vida comunal como Estado, a intolerância religiosa era algo estranho, embora entre eles, a religião fosse do interesse do Estado e este se acha impregnado dela”. (Freud: 137). 

O significante auctoritas é derivado do verbo augere (“aumentar”). A fundação é aquilo que a autoridade ou os de posse dela constantemente aumentam. Os dotados de autoridade eram os anciãos, o Senado, os quais a obtinham por descendência e transmissão (tradição) daqueles que haviam lançado as fundações de todas as coisas futuras, os antepassados designados de maiores.

A autoridade dos vivos era derivativa da autoridade dos mortos. A autoridade se distinguia do poder político (potestas), pois tinha seus fundamentos no passado. Esse passado era presença presente no presente assim como a potestas e a força dos vivos. Enio diz: Moribus antiquis res stat Romana virisque. (Arendt. 1988: 164).

Autoridade remete para autor e não para artífices. O autor não é o construtor, e sim aquele que inspirou todo o empreendimento e cujo espírito, portanto, muito mais do que o do efetivo executor, se acha representado na própria construção da política. Distintamente do artifix, que somente faz, é ele o verdadeiro autor do edifício político, vale dizer fundador. Ele é o “aumentador” da polis romana ou da política tout court.

A característica mais visível daqueles que detém autoridade é não possuir poder político. Cum potestas in populo auctoritas in senatu sit ou enquanto o poder político reside no povo, a autoridade pertence ao Senado. O Senado aumenta o exercício do poder político governamental, trata-se de um acréscimo que o Senado deve aditar às decisões políticas. Não se trata de poder; é curiosamente evanescente e intangível: “assemelhando-se a esse respeito de maneira notável ao ramo judiciário governo, de Montesquieu, cujo poder foi por ele chamado ‘de certo modo nulo’ (en quelque façon nulle) e que constitui, não obstante, a mais alta autoridade nos governos constitucionais”. (Arendt: 164-165).

O judiciário como auctoritas e auctor da política como tal passou a existir a partir de 17 de março de 2014, no Brasil. Esta data inaugura uma conjuntura política na qual o judiciário age como auctoritas ou auctor da política brasileira. Trata-se da recente fundação da república democrática moderna brasileira em um período de crise do regime liberal oligárquico 1988.

Há dois campos de forças lutando pela posse da vida política brasileira. O velho campo de forças oligárquico liberal da Constituição 1988 e o novo campo de forças da recente fundada república democrática moderna: hegemonikón cum heimarméne!       

ADORNO & HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento. RJ: Jorge Zahar Editor, 1985
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. SP: Perspectiva, 1988
ARENDT, Hannah. A vida do espírito. O pensar, o querer, o julgar. RJ: UFRJ/Relume-Dumará, 1992
DUMÉZIL, Georges. La religione romana arcaica. Milano: Rizzoli Editore, 1977
ELORDUY, S. J., Eleuterio (com a colaboração de J. Pérez Alonso). El estoicismo. Madrid: Editorial Gredos, 1972
FREUD. Obras Completas. O mal-estar na civilização. RJ: Imago, 1974               
HEIDEGGER, Martin. ¿Que significa pensar? Buenos Aires: Editorial Nova, 1972
JAEGER, Werner. Paidéia. A formação do homem grego. SP: Martins Fontes/UNB, 1986
LACAN, Jacques. Le Seminaire. Livre XVII. L’envers de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1991
MARX & Engels, Carlos & Federico. Obras Fundamentales. v. 1. Marx. Escritos de juventude. Crítica del derecho del Estado de Hegel. México: Fondo de Cultura Económica, 1982
MARX. Pensadores. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. SP: Abril Cultural, 1974
NIETZSCHE. Além do Bem e do mal. SP: Hemus-Livraria, 1981
   


    
  
  
  
   

                                        
     

  

      
     

segunda-feira, 9 de abril de 2018

ANÁLISE CONCRETA DE SITUAÇÃO CONCRETA


José Paulo

POLÍTICA E INCERTEZA GRAMATICAL

Com a prisão decretada, Lula faz um discurso em um palanque em frente ao sindicato de São Bernardo em claro desafio ao mandato de prisão. Após atacar, furiosamente, o Estado legal brasileiro, Lula diz que logo será solto, pois, a verdade está ao lado dele, um Lula inocente.
As massas do lulismo se levantaram em quase todo o país com violência, especialmente contra os jornalistas. Nesta presença presente, as massas do lulismo evocam as massas do fascismo alemão na década de 1930.

Lula se entregou à Polícia Federal no início da noite do 07/04/2018. Na manhã seguinte, um jornalista de Grupo Globo diz que Carmen Lucia acatara a questão de ordem do juiz Marco Aurélio (da família oligárquica de Fernando Collor de Mello) para pôr em debate no pleno do STF o princípio da reclusão em segunda instância adotado em 2016 por esse próprio plenário.

Na linguagem rala da política traduzida pelo jornalismo, a prisão em segunda instância é uma confusão que começou em 2009. Até este ano, a prisão em segunda instância estava em vigor. Ela caiu devido a aplicação de força da oligarquia política criminosa sobre o STF em 2009.

A mudança de posição do PT foi decisiva nesse evento em tela. De partido de massas líder do lado político do republicanismo democrático, o PT se transformou em um poderoso partido de massas do lado da oligarquia política criminosa. Com o PT e o lulismo, as massas do bolivariano passaram a ser massas gramaticalmente disponíveis para o poder oligárquico do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.  

O comportamento violento fascista das massas petistas neocoloniais (elas passaram a perseguir corporalmente os juízes Carmen Lucia e Fachin) pode ser um fato que quebrou o juízo inflexível de Carmen Lucia, segundo o jornalismo carioca.

O que está em questão? A candidatura de Lula para presidente em 2018!

A esquerda quer governar o Estado brasileiro, mas não se deixa governar pelo Estado brasileiro. Para o PT, o Estado brasileiro não é um fenômeno político legítimo, a não ser quando governado pela esquerda.

Se Lula não tomar de assalto o Estado brasileiro em 2018, o efeito provável é a desarticulação do regime do bolivariano na América Latina, regime que tem o apoio do jornalismo do bolivariano na Europa e nos Estados Unidos.      

Como a política não é geologia (ela não se materializa em matéria tectônica ao ponto de se definir antecipadamente ao fato gramatical), e sim gramática, ela depende do estado gramatical da correlação de força do momento determinado como fato gramatical, incluindo as massas na rua.     
Hoje, a nossa política vive um fatal princípio da incerteza gramatical.

CORPO POLÍTICO SEM ALMA

A alma política é a forma inseparável (incorpórea) do corpo político; ela não pode separar-se e subsistir por si mesma; logo não é corpo político; o corpo político subsiste por si próprio, independente da alma; o corpo político é o fazer e o sofrer; ele não é matéria passiva; ele é atividade, ação e reação.

Na política, o corpo político sem forma é o sintoma de uma crise política cujo limite, ou é o corpo em busca de uma nova alma, ou é o corpo despedaçado incapaz de encontrar uma nova forma.

A crise brasileira é aquela de um corpo político sem alma? Tenho buscado formas para tal corpo político sem atentar para a possibilidade da hipótese do corpo sem alma. O que significa tal hipótese?

A alma política é a forma gramatical formal do corpo? Ou o corpo sem alma possui sua própria gramática fática? existe uma gramática fática?  Esta é uma plurovicidade de regra política? No limite cada sujeito em uma posição destacada de poder usa sua própria gramática pessoal para fazer a política ou sofrer a política. O efeito sobre o corpo político é este se tornar uma sinfonia anárquica tocada sem maestro, sem o gramático.

A alma política é o virtual que depende do corpo político para se atualizar. Na democracia, a alma é a Constituição. Esta alma política é o gramático impessoal, da objetividade, do corpo político. Se os agentes qualificados e autorizados para interpretar o gramático o fazem pessoalizando (no Brasil se fala fulanizando), isto é, interpretam o gramático a partir da situação de um indivíduo ou grupo de indivíduos; chega-se, assim, a gramática fática da má interpretação infinita.

Passemos à análise concreta de uma situação concreta.

No Brasil, a Constituição passou a ser interpretado do ponto de vista da gramática pessoal do indivíduo Lula. (Gramsci diz que há gramática de um indivíduo, gramática pessoal da política).  A esquerda quer que Lula dispute a eleição presidencial mesmo estando ele condenado em segunda instância. Em 2009, houve uma interpretação da Constituição 1988 pelo STF. Nesta interpretação, acabou-se com o princípio da prisão em segunda instância vigente apelando-se para a ideia constitucional de que o réu só pode ser preso após esgotarem-se todos os recursos de apelação na última instância ou quarta-instância (STF). Em 2016, voltou o princípio da prisão em segunda-instância.

O meio jurídico, o jornalismo e a ciência política discutem a gramática deste imbróglio como se ela fosse uma alma ou forma sem corpo político, como se ela existisse separada e independente do corpo político.

A primeira manifestação material do corpo político é a cultura política. Outra manifestação é a sociedade dos significantes social.

A cultura política brasileira soberana é a cultura oligárquica criminosa. O grosso da elite política está sob suspeita judicial no poder judiciário. Um partido de massa como o PT tornou-se um suspeito criminalmente. O PT transladou do lado republicano democrático para o lado da oligarquia público/privada criminosa. O efeito mais notável foi o PT carregar as massas do bolivariano para tal lado transformando-as em massas criminais disponíveis para a política gramatical neocolonial do terceiro-mundo. 

Lula é o primeiro colocado nas pesquisas de opinião. Assim, as massas eleitorais do bolivariano se estabelecem em um confronto como a gramática formal do Estado inscrita na realidade pelo STF. São massas criminais contra o Estado brasileiro.

Parece que em inúmeras democracias ocidentais, os partidos só consideram legítimo o Estado por eles governados; quem está na oposição não considera o Estado legítimo: O Estado governado pelo outro não é legítimo.  Basta observar como funciona a democracia trump nos Estados Unidos para se ter clareza do fenômeno em tela. A paixão tomou conta da política. Trata-se de um fenômeno sumamente humano, não do animal político, pois, o animal é desprovido de paixão.   

A América continua sendo exemplar para a existência do gramático democracia liberal. Se nesta, passa a prevalecer a gramática fática, tal fenômeno abala os alicerces gramaticais da política democrático liberal. A democracia americana caminha para a situação corpo político sem alma fazendo parelha com o Brasil.

Há uma aplicação colossal de força sobre o STF para que ele ponha a política segundo o funcionamento jurídico 2009. Trata-se do funcionamento político-judicial oligárquico neocolonial. O platô judicial-político 2009 é a data do início do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo no Brasil.

Em 2014, a Lava Jato (atividade do poder judicial contra a oligarquia criminosa) iniciou uma jornada na qual um dos efeitos foi o restabelecimento do princípio da prisão em segunda instância.        

 Na manifestação material sociológica do corpo político, temos uma luta do poder judicial (e aliados na sociedade de comunicação de massa e parcela minoritária da universidade) contra a societas sceleris da oligarquia brasileira. Trata-se de uma luta na qual, ou vence a gramática do corpo com alma democrático republicano, ou vence o corpo sem alma liberal-democrática da cultura oligárquica criminal.

O corpo político é capaz de subsistir com suas próprias pernas; ele pode existir separado da forma liberal-democrática, que é a alma política da democracia ocidental. Parece que tanto o Brasil como os EUA podem escolher esta situação concreta. No entanto, não será o Brasil que provocará o choque dissolvente sobre a democracia liberal ocidental a médio prazo. O Brasil pode inventar uma gramática fática para o corpo político do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Mas tal fato não é decisivo para o desfecho da política ocidental.

Já a América pode provocar um choque gramatical devastador sobre a democracia liberal ocidental a partir da gramática pessoal da política de Donald Trump.  


DO ESPIRITO DA CONSTITUIÇÃO 1988

“Do espírito da lei” é um livro de física da política. AS leis são um efeito da existência do estado de guerra (campo das forças individuais e entre nações). As leis retiram a sociedade do estado de guerra. “A lei em geral é a razão humana na medida em que governa todos os povos da terra, e as leis políticas e civis de cada nação devem ser apenas os casos particulares em que se aplica a razão humana”. A razão humana é o logos governamental: gramática governamental dos vivos.

O logos governamental se traduz nas leis articuladas segundo relações destacando-se o grau de liberdade que a constituição permite; a religião dos habitantes, inclinações morais destes, riqueza, número da população, relações de produção e forças produtivas, costumes e maneiras, hábitos. Montesquieu diz que as relações formam em conjunto o Espírito das Leis.

 As relações em conjunto (Espírito das leis) em junção com a realidade das coisas precisam de um significante que traduza o Espírito das leis para a linguagem da ciência gramatical da política. Daí usarmos o significante cultura gramatical da política como atualização do significante virtual Espírito das leis.

A cultura política republicana se define pelo amor a igualdade e à pátria. Trata-se não de virtude moral ou virtude cristão, e sim de virtude política. A Constituição republicana se regula pelo princípio da igualdade que é o avesso do princípio oligárquico, naquilo que nos diz respeito. Na cultura política oligárquica, prevalece a ideia de que a Constituição é feita para os melhores – que formam uma minoria.

O princípio da Constituição atualiza-se como logos governamental. Trata-se de uma gramática ou republicana ou oligárquica. O Espírito das leis na linha da cultura política é o gramático que articula a vida constitucional. A lei oligárquica é o avesso (lei despótica) da lei republicana regulada pelo princípio da igualdade: “todos são iguais perante à lei”. A lei despótica oligárquica aplica o princípio da justiça: fazer o bem para os melhores, prejudicar os outros.

Qual é o Espírito da Constituição 1988? A presunção de inocência caindo só na última instância é um princípio oligárquico ou republicano? Como só os melhores (ricos e/ou poderosos) são capazes de contratar os advogados de alto calibre caríssimos capazes de protelar o cumprimento da pena (a tática é fazer com que ela prescreva), trata-se obviamente de uma gramática oligárquica.

A presunção de inocência e a pena só após o trânsito em julgado são dois princípios que ligam à Constituição 1988 à gramática da cultura política oligárquica (Espírito das leis despótico dos melhores). A prisão em segunda instância começa a estabelecer uma ligação da Constituição com uma gramática da cultura política igualitária ou Espírito das leis republicano.  

Um passo para fora da democracia oligárquica representativa em direção à república democrática representativa pode ser dado transformando a jurisprudência da prisão em segunda instância 2016 em uma cláusula da Constituição. Este passo pode ser realizado pelo Congresso que será eleito em 2018.
Há uma banda podre oligárquica no STF que quer transformar constitucionalmente a nossa política em uma democracia oligárquica representativa (trata-se, rigorosamente, de um corpo político sem alma, sem forma) para livrar da prisão a oligarquia política criminosa.

Esta é a questão cadente que está sendo jogada continuamente pelo STF.  
       

    
        
  

           

         


quarta-feira, 4 de abril de 2018

TEXTOS SELETOS


José Paulo


A FALSA CRISE DA ESQUERDA TEÓRICA

Há um debate no Sudeste sobre a crise da esquerda como efeito da derrocada final do bolivariano na América Latina. No Brasil, fala-se da desintegração do lulismo, pois, Lula está prestes a ser encarcerado. Sem Lula, o PT fica reduzido a um partido médio com grandes chances de se tornar um partido nanico nas eleições 2018.

Como PCdoB, PSOL, PCO, PSTU não possuem expressão prática na política brasileira, é fácil aceitar a crise prática da esquerda brasileira. Além da crise prática estes partidos (incluindo o PT) vivem um colapso teórico, pois, nada praticam do marxismo. Tais partidos não sabem manejar o marxismo do século XX russo ou asiático (ao qual eles naturalmente são filiados) e desconhecem (ou fingem desconhecer) a rica e deslumbrante herança marxista brasileira e latino-americana.

Ao contrário do que a sociologia rural do PSOL prega, não há crise teórica do marxismo brasileiro. O Rio é a sede do desenvolvimento de uma ciência da história marxista gramatical que faz pendant com as filosofias marxistas de Zizek e Alain Badiou. Marxismo só há: o de Marx e Engels. Os outros marxismos precisam de complemento como por exemplo marxismo-leninismo, marxismo maoísta, marxismo ocidental etc. O marxismo carioca é marxismo gramatical ocidental.

O marxismo ocidental gramatical age na internet (blog josé paulo bandeira e Facebook- Internacional Marxista gramatical) e tem vários livros recentes publicados na editora digital amazonan. O ensaio sobre o capitalismo profundo mundial (“Gramatologia do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo”) lança a discussão sobre a história brasileira (e a nossa política) para um outro patamar. Muitas ideias do marxismo gramatical estão sendo usadas como se fossem fatos pela esquerda partidária-universitária. Esta esquerda não cita o marxismo gramatical, não nomeia o marxismo gramatical como a única fonte intelectual de produção de ideias originais no país do lado esquerdo.

A produção universitária, o jornalismo dominante e os intelectuais em geral (os paulistas dominam a cena) fazem de conta que o Rio não é a sede da vanguarda intelectual brasileira. Há ressentimento, logo, niilismo cultural agindo nesta experiência de não tomar o marxismo gramatical ocidental como o gramático da cultura nacional em um país sem nação.  

Então, há uma crise prática da esquerda brasileira em um desenvolvimento desigual e associado com o desenvolvimento teórico do marxismo carioca. Ao contrário do que diz a esquerda partidária, não há crise teórica da esquerda, não há crise do marxismo das Américas.    
     
  
  “CENAS DO CRIME” 

À desorganização da cultura carioca nos últimos tempos podemos atribuir a passagem em brancas nuvens (para o grande público letrado) de um livro como “Cena do crime”, do professor de literatura da PUC, Karl Erik Schollhammer, de 2013.

O livro é uma obra erudita em marxismo sobre a estética do trauma e a cultura experiência do choque que define a própria modernidade – o choque perceptivo da mudança, da velocidade, da desagregação e da alienação. A estética do trauma aparece como uma arte e uma literatura que radicalizam a estética do choque e que, ao ativar o poder estético negativo, procuram romper a anestesia cultural da realidade da sociedade do espetáculo de massa, anunciando um choque do real, que já não pode ser integrado ou absorvido na percepção do homem comum do próprio espetáculo de massa.

Um passo adiante da estética em tela parece ser a estética forense da artista plástica mineira Rosângela Rennó na obra “Apagamentos”; e também a estética neocolonial do terceiro-mundo na obra de Artur Barrio “Trouxas ensanguentadas”. Com Barrio, a repressão violenta criminosa da ditadura militar adquiriu realidade material metafórica com as indicações dos pedaços de cadáveres desovados em inúmeros lugares. O discurso estético de Barrio põe e repõe o Brasil no caminho da realidade neocolonial da África profunda!   

O passo a frente dado por Rennó e Barrio se deve não mais a associação da estética com o capitalismo tardio de Habermas, ou a modernidade industrializada de um Benjamin. Ambos artistas já falam de um acontecimento (que eles antecipam em uma profecia estética) que só se revelaria por completo na segunda década do século XXI.

Barrio se filia a estética primitiva do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo presentes na literatura de um Graciliano Ramos e no filme “Deus e o Diabo na terra do sol”, de Glauber Rocha. Só que Barrio trata diretamente da violência santificada no cadáver como corpo despedaçado, em uma cena de crime a céu aberto, pela realidade do capitalismo mundial supracitado.

A estética forense de Rennó põe e dispõe sobre a relação entre imagem fotográfica, cena do crime da ciência forense, o real, a representação impossível da realidade morta e a história como estética da pós-história: “a fixação fotográfica do cotidiano oferece um fundo flagrante para a violência e o crime que aqui teve lugar”.

A estética forense se apropria criminalmente da ciência forense ao revelar o sigilo jurídico-policial dos arquivos e da arqueologia forenses. A quebra da percepção de mundo do legista remete aquele que olha a obra de Rennó para um platô que associa a ciência do legista na cultura da sociedade do espetáculo de massa com o desenvolvimento mundial do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo.

Na história da estética, o Brasil viu a evolução das artes plásticas (e a fotografia da arte) como um posto de observação das cenas de crime incompletas do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo. Hoje, o capitalismo em tela alcançou sua forma completa como a realidade mais pungente e vontade de potência dominante nas cenas de crime estéticas espalhadas inclusive no capitalismo desenvolvido do primeiro-mundo ocidental.

Talvez seja a hora de uma interpretação das artes plásticas desterritorializada do contexto empírico no qual elas foram geradas e reterritorializada na atualidade da presença presente do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo.

O ASSASSINATO COMO MÉTODO POLÍTICO

O assassinato de uma vereadora carioca da esquerda revela a profunda realidade primitiva do capitalismo atual?

A esquerda intelectual orgânica continua sua luta contra os estados de violência do homem que é um efeito intenso da espécie de capitalismo existente na América Latina. Tal capitalismo faz regressar a máquina despótica asiática (relação senhor-servoescravo político) que sustenta toda a violência contra a mulher.

Por um lado, estamos diante de máquinas de guerra militares no lugar do senhor; por outro lado, temos o escravo político como povo da favela se expandido como povo da cidade.

A máquina de guerra despótica quer impor sua ORDEM DESPÓTICA no morro e no asfalto, pois, agora ela faz suas operações militares no asfalto, na cidade. Ela selecionou sacrificar uma mulher negra, favelada, gay, com diplomas universitários e produção intelectual como um caso exemplar de instauração da ordem despótica do capitalismo profundamente primitivo neocolonial do terceiro-mundo.    

O assassinato da vereadora é uma operação de subtração típico de uma máquina asiática despótica. As massas reagiram no Rio e em São Paulo e fora do Brasil porque sabem que o capitalismo está reterritorializando os código e fluxos de uma ordem despótica asiática como capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

As lutas das massas de classe média contra a máquina despótica asiática podem se constituir em fluxo que abale a aliança do Estado real com a ordem despótica asiática? Há um certo ceticismo realista da sociedade civil progressista quanto isto. AS redes sociais funcionaram como máquina desejante despótica ao enxovalhar a imagem da vereadora e subtrair a importância do assassinato político como método de luta da direita canibal contra a esquerda ilustrada.

A morte de Marielle pode significar a militarização do campo de lutas entre direita e esquerda, pois, as redes sociais legitimaram o método do assassinato político como parte das lutas esquerda/direita. Podemos assistir um confronto entre a máquina despótica do capitalismo neocolonial (e suas massas da direita brasileira) e as massas progressistas de classe média aliadas às massas das favelas?    

DO NOSSO ESTADO REALMENTE EXISTENTE

O México é o país que tem a forma mais completa do Estado na América Latina? Não se trata de um Estado-nação; o aparelho repressivo é entrelaçado como o crime de fio a pavio; não há mais a divisão clara entre Estado legal e Estado real; o crime tomou conta dos de cima e dos de baixo. A grande cidade é um valhacouto da bandidagem privada e pública. A política se transformou em uma forma expressiva das relações de produção e formas produtivas do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo criminal.

O que está em cima é igual ao que está em baixo. Os lados do polígono da política não se sustentam mais como esquerda/direita, liberalismo/socialdemocracia, fascismo/socialismo. A ideologia política que era um véu diáfano que permitia aos sujeitos políticos falarem da política se rasgou.

Na economia, a economia política legal privada e pública encontra-se misturada com a economia lumpesinal criminal. O Estado detém o monopólio da fabricação e venda de munição. Só as forças armadas e policiais podem comprar tal munição. O Fim da separação entre Estado legal e Estado real significa que as forças militares e policiais fazem parte de um mercado de munição para os cartéis de drogas e outras organizações criminais. Não se trata de desvio de munição! Rigorosamente, o México só é um país geograficamente, pois, suas fronteiras ainda não foram invadidas por outros países.

O comércio estatal de munição faz da política representativa oficial mexicana uma farsa mantida pela minoria branca que domina o país. No México, a corrupção dos agentes estatais tornou-se uma segunda natureza da cultura política deste país. Organizações criminosas oligárquicas dominam territórios inteiros autônomos em relação ao poder central. Tais oligarquias tem suas frações criminosas dos de baixo que funcionam como poder policial de controle da população. O Kriminostat não é um conceito sociológico acadêmico, é a própria realidade dos fatos mexicanos.

Se o México é a forma mais completa de Estado latino-americano, isto significa que os outros Estados latino-americanos caminham na direção do desenvolvimento de um Estado mexicano? No México, a televisão e o jornalismo em geral são um efeito dos estados de violência do capitalismo profundamente primitivo neocolonial. Eles usam uma linguagem que não oculta mais a situação neocolonial do país. O mexicano perdeu a inocência, a ingenuidade e a esperança de um retorno aos tempos que o país não era dominado pelo capitalismo neocolonial.


O ATO DE COLHER O OBJETO POLÍTICO COM AS MÃOS

Zeus envia Mercúrio para dar uma inteligência política ao seu inimigo, o homem, a fim de que este não pereça desamparado da Providência (=Prometeu acorrentado tendo seu fígado comido por abutres). O começo do saber é a ação cognitiva como o ato de colher um objeto com as mãos como faz o detetive ao recolher os cartuchos de bala na cena do crime.

A inteligência política é o ato de colher o objeto político com as mãos. A elite política brasileira entende a inteligência como ato de recolher para si com as mãos o objeto político (=dinheiro público). Aí é o fim da nação!  

Tal inteligência política está se tornando o paradigma da inteligência política ocidental e mundial? Ela definiu a inteligência política colonial dos séculos coloniais na aurora da época moderna. Ela possuía uma forma de Estado (Estado patrimonialista), o Estado privado da casa real do império português ultramarino. Neste, a inteligência política é o ato de saber do rei ao colher com as mãos o objeto político riqueza imperial ultramarina.

A burocracia moderna já é uma abstração ou desterritorialização da espécie de inteligência real. O que significa o ato de colher com as mãos o objeto político pela inteligência burocrática moderna. É ao ato do racionalismo instrumental que faz igual a inteligência privada capitalista e pública estatal condensadas no aparelho econômico privado (capitalista) ou no aparelho político-burocracia-pública (do Estado-nação).

Ao domínio da ordem patrimonialista sucede o domínio da ordem capitalista. Nesta, o saber é o ato de colher com as mãos a riqueza das nações. Lacan define o rico como aquele que não quer pagar nada à Nação. Trata-se do trans-sujeito capitalista. Porém, a realidade capitalista é um processo objetivo de produção de mais-valia ou excedente. O excedente é o objeto recolhido pelas mãos do capitalista e da sociedade como Estado-nação. Há este antagonismo (confronto aberto ou oculto) pela disputa do colhimento do excedente entre o privado capitalista e o público estatal.

Há uma gramática em narrativa lógica na realidade capitalista que significa a redução do Estado-nação ao Estado mínimo no recolhimento com as mãos do excedente. Contradições clamorosas e fatais surgem nesta narrativa supracitada. Por exemplo: quem ou o quê (qual aparelho repressivo) vai garantir a segurança pública e privada do rico? O rico pagar privadamente pela segurança do rico não sai mais caro, e ineficiente, do que a segurança pública do rico?  

O rico tinha chegado à conclusão de desacorrentar Prometeu, colhendo com as próprias mãos um objeto político: o Estado Providência. Trata-se de uma inteligência política avançada que se afasta da inteligência primitiva do rico capitalista na aurora do capitalismo moderno. No século XXI, há um regresso à inteligência primitiva do rico capitalista original do início do século XIX.

Fazendo pendant com esta inteligência primitiva, uma nova era deslumbrante, sem ética capitalista weberiana, de acumulação primitiva de capital se define por não concentrar capital nas nações. Isto se chama a desterritorialização capitalista primitiva da nação. A ação cognitiva como o ato de colher um objeto com as mãos do rico se desfaz da inteligência burocrática (abrindo mãos do saber universitário civilizador) e busca se definir como ato cognitivo de colher o objeto da política com a mão do rico capitalista no lugar do Rei patrimonialista!   

 DA NOVA DIREITA 

O crime que sacrificou a vereadora negra do PSOL e seu motorista Anderson é um CRIME POLITICO? Nas redes sociais, uma certa direita fez propaganda de que se tratava de um crime comum envolvendo lutas de facções criminosas do tráfico, milícia, polícia. Trata-se de uma cortina de fumaça!

A polícia do Rio está confusa, pois, tem a cena do crime, o cadáver, mas não tem o motivo! A polícia não sabe investigar crime político, pois, o motivo do crime é muito complexo e extrapola a cena do crime, em parte.

Então resta trabalhar com hipótese científica da ciência da história.

O crime político Rio 2018 é um fato histórico. Ele produz um efeito cristalino na política em ano eleitoral. O efeito é o surgimento da NOVA DIREITA!

A Nova Direita surge como organização criminosa paramilitar (mais complexa do que a organização paramilitar da Colômbia da era Pablo Escobar até hoje) com redes criminosas civis na internet (redes sociais digitais).

O crime corporal físico foi cometido no asfalto de um bairro do Rio parece que sob domínio do Comando Vermelho. Trata-se, portanto, de uma verdadeira ousadia! No entanto, há a continuação do crime físico por outros meios, meios culturais (que assassinam o corpo da alma) quando uma desembargadora, um deputado federal civil, um delegado de polícia do Recife e Marcos Feliciano (pastor-deputado federal) fazem publicidade nas redes sociais do crime contra a esquerda como método político.

Para completar esta tela gramatical em narrativa lógica, o candidato real Jair Bolsonaro (primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos) manteve um silêncio sepulcral sobre o assassinato político. Na política, quem cala, aprova!

A eclosão da NOVA DIREITA significa uma inflexão na política em geral e na política eleitoral, em particular, pois, ela faz do assassinato um método político de subtração de intelectuais da esquerda, começando com os intelectuais orgânicos. Para completar este quadro macabro, a esquerda prática e teórica faz de conta que se trata de uma tempestade no deserto australiano e usa a tática canguru: enfia a cabeça debaixo da terra política, esperando passar a tempestade. 

Talvez, a tempestade australiana passe e não retorne, pois, ela não obteve o efeito que pretendia. Ela teve a pretensão de unificar toda a direita e o centro-direita com a palavra de ordem de que a esquerda está se autodestruindo por se encontrar envolvida nas lutas das facções criminosas e outras organizações criminosas. Neste final de março, a Nova Direita foi derrotada na internet graças à intervenção da grande mídia (papel, audiovisual, rádio) no acontecimento.

Agora, fica a expectativa de que a imaginação galopante ferrabrás da Nova Direita planeje um novo evento eleitoral!  

SOPHIA E ANJOS 

Uma ideia da antiguidade é aquela que diz que a “sabedoria” (Sophia) buscou morada entre os homens e não encontrando foi habitar com os anjos.

O uso capitalista do saber associa a Sophia a uma mercadoria, associa a sabedoria à ideia de interesse econômico. Tal ideia capitalista dá sentido à busca da sabedoria na idade moderna (como razão instrumental) em um contraponto a atividade angelical de Sophia.
Como professor público lecionei uma atividade de conhecimento e ganhava um provento para isso. Como nunca associei a busca do saber universitário ao meu interesse econômico, vivo com uma aposentadoria que é a metade da aposentadoria que a carreira universitária podia me proporcionar.

Hoje, a oligarquia quer substituir o trabalho assalariado universitário por trabalho voluntário não-pago. Trata-se de um modo tacanho oligárquico do extremo-Norte de ver a atividade universitária como Sophia angelical vulgar.

Dominando o Congresso de Brasília, tal Sophia angelical oligárquica caipira é, de fato, um efeito primitivo na mentalidade oligárquica do desenvolvimento - no terreno da cultura - do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Agora, tudo que é primitivo (primitivo, selvagem, bárbaro, civilizado) se refere a oligarquia neocolonial que vai tomando conta do país. Ontem, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu se tornar uma oligarquia por antecipar uma decisão que retira da cadeia todos os políticos e ricos corruptos condenados em Segunda-Instância.

O STF assim agiu para tornar Lula o candidato que vai para o Segundo-Turno com o antigo capitão do exército Bolsonaro militante direitista da era da Ditadura Militar 1968.  Bolsonaro é o agente político de uma mentalidade militar que define política como continuação da guerra por meios políticos que pode abraçar o terrorismo político de Estado ou paramilitar. A concupiscência política (ambição pelo objeto político como luxúria) de Bolsonaro e dos bolsonaristas (redes sociais digitais e famílias) faz pendant com o uso da violência política no processo eleitoral.

Curiosamente, os loucos batalhões bolsonaristas se veem como fruto de uma política angelical contra o dragão da maldade que trouxe o caos ao país. Bolsonaro é um primitivo cristão, mas não é um cristão primitivo!

Com Lula no páreo, a luta eleitoral 2018 ganhará contornos do “Apocalipse Segundo São João”?

MARCAS GRAVADAS SOBRE AS COISAS 

A invenção da incultura audiovisual dá um passo à frente da cultura linguística do rádio. O rádio ainda trabalhava com a palavra como meio de ação, como vínculo unificador dos entes sociais, e rede coesiva da sociedade do homem, mulher e criança. Ao menos no Brasil, a cultura do rádio não quebrou a cultura linguística oral popular que fazia poetas (como Cartola) no domínio da música popular, sem escolaridade. A cultura do rádio é organizada por uma gramática norma culta popular e o rádio chegou a se constituir como um gramático da física e metafísica da ação da cultura linguística da ação física e metafísica.

O audiovisual tornou-se hegemônico na sociedade de comunicação na segunda metade do século XX. É uma invenção desenvolvida nos Estados Unidos e metabolizada por uma infinidade de países. Segue-se aí o fim da hegemonia da cultura linguística. Os signos da língua deixam de articular as práticas na cultura de massa e na política. A imagem eletrônica assume o lugar da palavra. Esta é abandonada como unidade de investigação das ciências da língua ou da linguagem. O caos se instala no uso da língua e a palavra perde sua força de direito ou efeito de realidade. Diz o ministro Barroso do STF: “as palavras perderam o sentido, entre nós”.

O audiovisual é uma “linguagem” produzida segundo as leis da natureza da máquina de produção de imagens eletrônicas. As “palavras” do audiovisual não se produzem conforme o desejo (libido) do homem e que serviriam como etiqueta significativa dos seres. Não são, portanto, um meio de comunicação para vincular as pessoas entre si. De fato, as “palavras” do audiovisual “são marcas gravadas sobre as coisas”.

Tomando a violência como carro-chefe do audiovisual, as imagens da violência se constituem como marcas gravadas sobre as coisas, especialmente a cena do crime e o cadáver desta cena. Neste andar da carruagem, a violência é a coisa gravada como audiovisual. Tal fato significa o colapso da cultura linguística no século XXI?

A esfera da comunicação digital é uma retomada da cultura linguística por outros meios. No entanto, nesta esfera, o uso da língua culta convive com um uso da “palavra” digital que não obedece às leis da cultura linguística, às regras da gramática. Ao contrário do rádio de antigamente, o digital não se constitui como um gramático. Talvez, aí esteja a causa de o digital não assumir o lugar de demiurgo (rhetor percipio) da cultura linguística.

Como o digital é a incultura da juventude, esta continua a ser alfabetizada no aparelho escolar em termos de cultura linguística. Mas um certo caos está instalado na reprodução da cultura linguística. Por um lado, a cultura linguística durava milênios. Por outro, não é certo que o homem primitivo fosse incapaz de abstração. Mas ele desconhecia a abstração lógica, filológica e gramatical.

A incultura linguística do audiovisual e da esfera dominante do digital não significa uma regressão do homem, mulher e criança do século XXI ao estado linguístico do primitivo? Pode haver luta contra tal estado de homem primitivo?

A luta só pode se realizar na família (enquanto ela não é uma família do jovem gravado como coisa = jovem-milênio), na instituição escolar e nas instituições culturais linguísticas como a universidade, museus etc. Tal luta depende da organização consistentemente linguística de uma burocracia patriótica que tenha amor à cultura linguística nacional.

Nos EUA, há uma certa impressão de que tal luta cultural linguística sofreu uma derrota sem precedente. A América é o lugar onde o audiovisual faz pendant com o digital na articulação da dominação que se estende da sociedade civil ao mundo-da-vida alcançando o Estado federal tentando se reerguer como tal como poder imperial do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo, profundamente primitivo.  

No século XXI, cada povo está sujeito a fazer sua própria luta para não desaparecer como cultura linguística! 

LÍNGUA E IMPERIALISMO

Talvez, a relação política entre línguas tenha ficado mais claro com o imperialismo linguístico romano. A colonização romana dos outros povos incluía a substituição compulsória das línguas vernáculas pelo latim. Roma deixava aos povos uma certa autonomia política no domínio dos costumes políticos, mas obrigava a elite a falar e escrever em latim. O imperialismo é antes de tudo o estabelecimento de um Império linguístico político em latim na antiguidade.

Se Roma é um fenômeno linguístico cultural político tout court, o imperialismo da modernidade começa como um fenômeno de cultura linguística econômica. Por que é tão natural o inglês ser a língua cosmopolita do planeta? Porque trata-se de um fenômeno cultural político econômico que cria redes de comunicação econômica em inglês entre entes de diferentes povos. O imperialismo moderno é econômico antes de se transformar em um imperialismo político-militar.

No imperialismo econômico, a América tomou o lugar do Império britânico. Usando a cultura linguística do inglês industrial, os Estados Unidos continuam como a nação imperialista linguística imitada por uma China capital-socialista (que tem a vontade de se tornar um império econômico) que se comunica com o planeta em inglês.

Será que a China se tornará a Roma imperialista do século XXI? Será que ela após dominar a economia internacional das coisas irá impor o mandarim (economia política cultural linguística dos signos) como veículo de comunicação econômico entre os países satélites do imperialismo chinês?

Como não ver sentido político nas estranhas decisões de Donald Trump sobre o comércio dos Estados Unidos com as outras nações, especialmente com a China?

A história mundial atual é uma luta de imperialismos econômicos (um estabelecido, o outro se estabelecendo progressiva e aceleradamente) na era do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo. Nesta era, a cultura linguística passa necessariamente pelo audiovisual e pela linguagem digital.

O imperialismo do século XXI é uma combinação de imperialismo linguístico fazendo pendant com o audiovisual e digital do capitalismo dominante na terra, ou seja, o capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. A China tem boas chances de reinar com o imperialismo do capitalismo se
Este futuro do presente chegará nos próximos dez anos?     

FILOSOFIA POLÍTICA E AS MENINAS

A filosofia política é a filosofia que fala da política. Ela faz pendant com o direito no sentido do que o que se diz, se faz. No direito, o poder judiciário faz o que diz que vai fazer. E na política? Na era moderna da divisão do Estado em três poderes, o poder legislativo diz o que deve ser feito pelo poder executivo. No legislativo, a verdade é algo dito; mas as palavras precisam vir confirmadas pelos fatos do dizer pelo poder executivo.

De qualquer maneira, o dito precisa se transformar em fato. Isto lembra a conclusão litúrgica das orações, que termina com amém. Ao dizer amém se manifesta o querer de que o dito se transforme em fato. Falo aqui de práticas (ajoelhou tem que rezar) milenares.

Há fidelidade porque as palavras vêm confirmadas pelos fatos do que se diz. Então, fé no que se diz, fiel ao que se diz, fé no dito, eis as formas de um gramático milenar da filosofia política (e do direito). A essência da crise da política e do direito encontra-se na dissolvência do gramático em tela.

Se a política (e o direito) se articulam pelo interesse econômico, há a transformação do gramático supracitado em aparência de semblância. Pode ser esta em forma ideológica, mas não necessariamente. A ideologia oculta a fidelidade do dizer; a semblância cria uma superfície de aparências de que o dizer é fiel aos fatos.

Falando em fatos, a política atual pode ser fiel aos interesses capitalistas e o dito senatorial se transforma em fato capitalista. Um movimento de milhões de jovens americanos luta contra o sistema capitalista industrial de produção de mercadorias de armas de fogo. Tal sujeito gramatical (jovem americano) surge pela passagem dos escolares pelos estados de violência do homem americano ligado ao capitalismo militar. Os escolares são assassinados nas escolas por outros escolares que tem o porte de armas de fogo de guerra.

Os jovens escolares sobrevivente querem que o dito do movimento de massas contra a posse de armas por escolares se transforme em lei. Esta é a filosofia política do movimento escolar supracitado. Tal filosofia política se choca com o coração produtivo técnico e desejante do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

A indústria de armas de fogo mundial é a vanguarda do capitalismo profundamente primitivo neocolonial do terceiro-mundo. Ela trabalha com a vontade de matar do homem. Até agora nenhuma menina escolar providenciou assassinatos em série na escola americana. Tal fato passa despercebido pela mídia e a cultura em geral. Curiosamente, as meninas tomaram o comando do movimento de massas escolar contra o assassinato em medida serial.

O movimento de massas escolar encontra-se no centro tático do choque do sujeito gramatical (saídos da passagem pelos estados de violência) com o capitalismo mundial. Trata-se do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo que faz pendant com a dominação do planeta pelo Banco, pelo capital fictício mundial.

Depois da luta da mulher contra o uso capitalista de seu corpo sedutor, surge a luta do jovem escolar contra a destruição de seu corpo e alma pelo capitalismo militar neocolonial do terceiro-mundo. 

CRISE BRASILEIRA – COLAPSO DO PODER CIVIL

A crise brasileira passou por vários estágios até alcançar a substituição da democracia liberal por uma espécie de democracia representativa lumpesinal, versão avançada da democracia oligárquica. Na Grécia antiga, Aristóteles reservava o significante democracia para a democracia direta lumpesinal. Nesta democracia, o interesse econômico das massas determinava toda a política; os ricos sofriam uma expropriação de sua riqueza sem esboçar reação. Tratava-se do colapso do poder democrático da politeia.

A crise brasileira da democracia liberal se deve aos interesses econômicos da elite do poder determinar toda a política até 17 de março de 2014. Esta é a data da criação da Lava Jato. Trata-se da atividade jurídico-policial (com centro judicial federal em Curitiba) que passou a lutar contra a democracia representativa lumpesinal.

A Lava-Jato combate na esfera do domínio do antagonismo entre o poder civil e o campo de poder lumpesinal. Este é a corrupção do poder civil e, portanto, da democracia liberal.

O Rio de Janeiro se tornou o elo mais fraco territorial da corrupção do poder civil e da democracia liberal. O governador do Rio Sérgio Cabral e o PMDB fluminense (agora MDB negro para diferenciar do MDB original do bem comum político das lutas contra o Estado militar 1968) desenvolveram a prática da corrupção do poder civil, que acabou na aplicação do Capítulo VI (Da Intervenção), Artigo 34 da Constituição 1988 ao estado do Rio. O governo federal do PMDB escolheu como Interventor uma dúzia de generais do Comando Militar do Leste.

A Intervenção não se tornou um governo militar deixando o estado do Rio (e principalmente a capital carioca) sem governo civil, logo, sem governo algum formalmente e na prática da política territorial. Para o carioca, o colapso do poder civil é uma realidade palpavelmente carnal e cruel.

Hoje, o poder civil se apresenta como poder da política judicial que encarcerou centenas de indivíduos ricos, políticos poderosos e altos funcionários estatais envolvidos em diversos crimes, não só crime de corrupção. Este poder civil faz regressar do limbo da pós-modernidade a categoria de legitimidade. Como? Ele estabeleceu uma relação de legitimidade entre o poder do Estado e as massas. Assim, trata-se de um poder que se defini como aquele que surge a partir da relação dos cidadãos debaixo (poder da sociedade civil) com o poder da burocracia patriótica estatal.

A instituição jurídica-policial da prisão em Segunda Instância é a alavanca do poder civil brasileiro 17/março/2014. Tal instituição foi estabelecida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2016. Hoje, a oligarquia política criminal usa a indelével candidatura de Lula (condenado em Segunda-Instância) para fazer uma pressão colossal com o objetivo de alterar o estado jurídico do poder civil brasileiro 17-março. A oligarquia criminosa quer acabar com a prisão em Segunda-Instância lançando para as calendas gregas (condenação em Quarta-Instância) a prisão de mais de uma centena de políticos julgados no STF. Seria uma fuga legal em massa dos encarcerados em Segunda-Instância.

Trata-se da vitória da oligarquia política criminal (e seus aliados ricos criminosos) sobre a Lava Jato. Vitória da democracia representativa lumpesinal sobre a democracia liberal 1988. E por via lógica a dissolução do gramático poder civil.

A oligarquia política em extensão (participação do jornalismo e outras instituições da sociedade de comunicação) já faz propaganda da solução do poder militar no lugar do colapsado poder civil. Ela crê que um Estado militar (nos moldes da ditadura militar apoiada na oligarquia senatorial de 1964) pode se repetir na terceira década dos anos 2000.          

A gramática do STF decide no início de abril sobre o fim do poder civil 17-março. É um pequeno passo frugal, frutuoso, para os juízes e um passo ciclópico para a crise brasileira.



VIOLÊNCIA, NATUREZA E SOCIEDADE

A violência real é a protagonista da programação da televisão, jornal de papel, rádio e universidade, enfim, da cultura de massa (incultura) e da cultura acadêmica com sua abordagem da política brasileira. Nesta, o governo Temer se define como violência política contra o bolivariano petista.
No entanto, há discussão sobre a causa da violência criminal dos de cima e dos de baixo? O cineasta Padilha diz que a violência da corrupção tem como causa o que ele chama indeterminadamente MECANISMO. Em 1966, o marxista aristocrático Caio Prado Jr associou a corrupção à existência de um fenômeno objetivo: BURGUESIA BUROCRÁTICA.

A burguesia burocrática é o laço gramatical entre o mundo privado das empresas capitalistas e o mundo público dos interesses estatais. Para C. P. Jr trata-se de um fenômeno normal suportável pelo país até que a burguesia burocrática se constitua em um SISTEMA público/privado de alto grau de violência imoral, niilista e consciência burguesa cínica do país.

Atribuir a violência burguesa da corrupção ou a violência real armada dos de baixo contra a sociedade à natureza humana do brasileiro, eis um argumento que só o militarismo em ascensão usa para reivindicar uma disciplinarização (tentada no Estado militar 1968) conservadora e reacionária do país.

Foucault com Rousseau diz que não existe a natureza criminosa, e sim a criminalização dos sujeitos. A natureza não explica a violência em geral. A sociedade é a fábrica de produção e circulação de criminalização. Então, a sociedade brasileira é o processo de produção e circulação do criminoso. Porém, o que é a sociedade brasileira que nos últimos tempos amplia geometricamente a produção do criminoso em cima e em baixo?

A conjuntura da burguesia burocrática encontra-se ultrapassada. Ninguém fala mais em Caio Prado Jr. Fala-se em MECANISMO vazio de explicação da corrupção. Quanto a violência dos de baixo não se fala da tradição sociológica que a descortinou como violência lumpesinal.

Hoje, se fala em uma gramática da violência. A comunidade jurídica se refere a uma gramática da criminalização. Trata-se da sociedade gramatical que produz a criminalização dos de cima e dos de baixo. A vontade de poder de tal gramática já transformou a democracia liberal 1988 em democracia lumpesinal representativa 2016. O governo Michel Temer e o grupo de conjuntura do MDB neocolonial são a marca destes novos tempos.

Qual é então a gramática da sociedade política 2016?

Com o MDB neocolonial, a sociedade brasileira se transmutou em sociedade neocolonial do terceiro-mundo. Hoje se discute no Congresso a privatização das águas do rio São Francisco. Também, se debate os projetos do governo Temer que vão trocar a energia elétrica do Norte por energias alternativas, como se isso fosse possível.

Então, qual o gramático no comando da gramática da sociedade neocolonial? Há um gramático a partir do qual a sociedade brasileira se determina como neocolonial? Tal sociedade brasileira não é uma plurivocidade de efeito do gramático que se define como capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

Eis um ponto-de-partida (que não é mais rousseauniano ou de Foucault) da reflexão sobre o ser da economia política produtiva da violência dos de cima e dos de baixo.    

A SUBJETIVIDADE DA CLASSE POLÍTICA E A CONSTITUIÇÃO DO POVO

Dissolver toda a linguagem da filosofia e das ciências humanas na cultura burguesa é uma realidade do século XXI?

Trocar a cultura burguesa (moral, estética, literatura etc.) pela incultura da sociedade do espetáculo de massa é um esforço do americanismo depois da II Guerra Mundial, por volta da década de 1960. No período da democracia 1988, o Brasil, acabou por imitar o americanismo inculto do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo?  

A Constituição 1988 é a Carta virtual narcísica de produção de uma classe política da cultura jurídica do terceiro-mundo?  A classe política passa a ter um Fórum Especial para ser julgada. Trata-se do STF (Supremo Tribunal Federal). Esta prática judicial gera a gramática do narcisismo neocolonial da classe política, pois, ela está acima das outras classes (inclusive do rico). Ela é melhor que os outros.

Está acima do homem comum da cidadania (inclusive seja ele rico) gera a vontade de subjetividade como prazer de ser classe política. Ao entrar na classe política pelo procedimento eleitoral, o sujeito passa a ser educado como ator político neocolonial.  

A educação da classe política é obra de uma cultura política que habita as instituições parlamentares e governos executivos de Brasília, dos estados e dos municípios e a soberania popular neocolonial.

Trata-se de uma educação autotélica narcísica que tem como gramática o enriquecimento público da classe política. A educação se baseia na ideologia política da ascensão social para os que vem de baixo e de mais enriquecimento para os que vem de cima. A soberania popular vê, ouve e tem sentimentos de empatia com aqueles que obtém êxito via carreira política neocolonial. Por quê?

O político se elege usando a sociedade do espetáculo de massas neocolonial. Para o eleitor, ele mente, faz publicidade enganosa, se diz do lado do bem. O eleitor tem sido, durante décadas, a gramática sociológica do “me engana que eu gosto”. Porém, a passagem da esquerda neocolonial pelo poder de Brasília parece ter alterada tal gramática.

A corrupção foi identificada com a esquerda neocolonial no poder “nacional”. As aspas significam que a esquerda no poder federal diluiu a cultura política nacional civil. Então, a ideia de nação se fixou nas Forças Armadas. Hoje, 47% da população quer um Estado militar. Quer um estado de militarização do país. Trata-se de uma opção conservadora que significa o desiderato ao poder policial-militar com toda a aplicação de violência real possível.

A subjetividade (ou trans-sujeito) da classe política neocolonial é a força dissolvente do que resta da democracia liberal 1988. Como já apontamos, a Constituição 1988 é um conglomerado de contradições virtuais que ao se atualizar desintegra parte por parte a democracia liberal. Trata-se de um Constituição do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. A Carta virtual antecipa o real.

Hoje, a defesa da democracia liberal é realizada por parte do poder judiciário que propõe (com sua prática judicial Lava Jato) a mudança da Constituição 1988 da classe política por uma Constituição de todo o povo. Para isto, o Congresso teria que acabar como Fórum Privilegiado para os políticos em geral.

O STF rema na defesa da Constituição da classe política neocolonial, na defesa do Fórum Privilegiado. O ministro Toffoli é o herói da classe política no STF. Outros juízes do STF defendem incondicionalmente (ou por ingenuidade ou por astúcia) a Constituição 1988 da classe política em tela. Trata-se do STF neocolonial?

A Constituição pode ser reformada para se tornar uma Constituição do povo. No momento, o STF neocolonial é o maior obstáculo a tal evento.  

DO ESTADO CRIMINOSO BRASILEIRO 

Dois episódios da história republicana mostram uma face criminosa do Estado brasileiro: Canudos e Contestados.

Uma versão metabolizada da Guerra de Canudos: latifundiários da região, unindo-se à Igreja católica mobilizaram o imaginário político republicano vulgar atacando Canudos como uma ameaça contra o poder local e o poder republicano no Nordeste. Na capital da república, o jornalismo fez uma campanha florianista de um povoado fortemente armado monarquista que se rebelara contra a recém-criada República. 

Canudos foi atacada pelo Exército brasileiro que após várias derrotas acabou destruindo o povoado do Bom Jesus. A guerra terminou com a destruição total de Canudos, a degola de muitos prisioneiros de guerra, e o incêndio de todas as casas do arraial. Um Estado militar assassino bárbaro assassinou quase vinte mil sertanejos e perdeu cinco mil soldados.

 A Guerra do Contestado foi uma guerra civil camponesa em luta contra os representantes dos poderes estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina. 

 A fronteira entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de Contestado por ter os camponeses contestado a doação que o governo brasileiro fez aos grandes capitalistas madeireiros e à Southern Brazil Lumber & Colonization Company. Como região deflagrada ficou conhecida como Contestado, pois, havia disputas de limites entre os dois estados brasileiros.

A guerra civil do Contestado pôs de um lado o Estado brasileiro e de outro o povo rural. O Estado “nacional” republicano urbano voltou suas armas contra os camponeses em uma luta que fez do Estado um Estado fático, um Estado sem lei. Trata-se da versão republicana criminosa do Estado brasileiro.

O Estado fático criminoso agiu durante a democracia getulista na década de 1930. A perseguição ao jornalista Carlos Lacerda na democracia getulista da década de 1950 acabou em um atentado ao jornalista que desencadeou a derrubada de Getúlio e seu suicídio. A face do Estado criminoso republicano tomou o poder em 1964. A ditadura militar é a continuação do Estado republicano criminoso que destruiu Canudos e o Contestado.

Com o regime de democracia liberal 1988, o jornalismo e seus companheiros intelectuais universitários criaram a ideologia política que ocultava a face criminosa do Estado republicano. O fim da era petista desfez a ideologia do Estado republicano 1988 dos direitos humanos. Hoje, o Estado republicano criminoso age abertamente participando do assassinato de políticos de esquerda no Sudeste. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o Estado brasileiro criminoso usa o método do assassinato político para conter a ascensão da esquerda brasileira em um sentido amplo.

O fato que assinála a existência do Estado criminoso no Sudeste é o assassinato de uma vereadora do PSOL, no Rio, (uma emboscada feita em alta velocidade) em plena existência de uma paródia de governo do Comando Militar do Leste no estado do Rio de Janeiro. A face criminosa do Estado brasileiro se deixa entrever pela total incapacidade (ou falta de vontade policial) da polícia investigativa em descobrir os executores e os mandantes do crime. Um general encontra-se no comando da investigação policial.

O Estado criminoso brasileiro espera que o jornalismo esqueça o assassinato da vereadora Marielle e de seu motorista Anderson. Tal Estado quer fazer do jornalismo seu cúmplice no estabelecimento do método do assassinato político no Sudeste no ano eleitoral 2018.
A eleição 2018 começou com o velho Estado republicano assassinando Marielle Franco e Anderson.     

DA CONTRADIÇÃO PRINCIPAL DA POLÍTICA

Há uma luta entre a narrativa do jornalismo e a narrativa do marxismo gramatical ocidental.

Para a primeira, a contradição principal da política brasileira ocorre entre o aparelho repressivo de Estado (que quer a intervenção militar em todo o país decretada pelo governo de plantão) e a bandidagem armada que faz da vida urbana um inferno.

Para o marxismo gramatical, a contradição principal ocorre entre a DIREITA PARAMILITAR (que usa esquadrão da morte para assassinar militantes, no Sudeste inclusive, da esquerda em um sentido amplo) e a esquerda gramatical.

A contradição do jornalismo estabelece uma narrativa que oculta a existência de um Estado brasileiro que acaba por dar cobertura à ação da direita paramilitar. Nenhum militante de direita é assassinado no país, pois, o assassinato como método político passa por dentro do Estado brasileiro. Este se define por querer o monopólio ilegítimo das armas e da violência real que é usado (ativamente ou passivamente) na luta entre a direita paramilitar e a esquerda gramatical. 

O Estado brasileiro pode ser definido como um vasto conjunto de aparelhos de Estado (com contradições entre os aparelhos) que intervém nas lutas da contradição principal da política. Neste sentido, o aparelho repressivo de Estado é possuidor de uma gramática da política (racionalidade gramatical) que é o guia de seu agir. A gramática em tela age contra a possibilidade de eclosão de uma esquerda diferente do PT: esquerda da gramática neocolonial oligárquica.

Hoje, o PSOL (e o PCdoB) se tornou o alvo da direita paramilitar no elo mais fraco da política oligárquica neocolonial: o estado do Rio de Janeiro. Com o MDB neocolonial como corpo despedaçado no estado do Rio, a direita paramilitar usa armas de fogo para conter o avanço da esquerda liderada pelo PSOL e PCdoB.

A eleição para governador do Rio é o laboratório do elo mais fraco da contradição principal da política nacional. Eis o real motivo do governo do MDB neocolonial de Brasília pôr generais para governar o estado do Rio. Tal fato faz dos generais uma força política ligada (consciente ou inconscientemente) à direita paramilitar em sua guerra civil contra a esquerda gramatical.

A narrativa do jornalismo fala de um real que não é real da realidade dos fatos políticos!

GRAMÁTICO DA SOCIEDADE EM REDE

A teoria da conspiração pressupõe que há centro na política. Esta velha imagem topográfica da política remete para o imaginário político do partido bolchevique (depois Partido Comunista da URSS) na revolução russa.

A topologia do cume político ainda domina o imaginário da política neocolonial do terceiro-mundo. Toda criança de dez anos sabe que a comunicação se realiza pelo imaginário. Então, continuamos a falar de esquerda e direita como se fossem de uma topologia imaginária da linha reta.

No campo simbólico em junção com o real, a política existe em uma topologia de lados, do polígono mistilíneo. Há o lado da esquerda, o lado da direita, o lado do bonapartismo, do bolivariano, retas e curvas. Mas a política não se reduz a tal topologia poligonal, pois, a política é o gramático da sociedade em rede.

A gramática da sociedade em rede atravessa sociedade civil e sociedade política, público e privado, sociedade e Estado, dominação e hegemonia. Vejamos um exemplo.

A temporada de caça da esquerda militante antineocolonial oligárquica começou no Sudeste. Seria teoria da conspiração falar de uma direita paramilitar organizada verticalmente (a maneira leninista ou hitlerista), tendo um centro de comando. Não é assim que a coisa funciona.

A direita para militar é uma gramática da política como sociedade em rede. Trata-se de um gramático político. O que é isso?

O gramático da política funciona em redes do lado de fora em junção com o lado de dentro do Estado, sem centro político real (como as milícias fluminenses), pois, seus agentes ou são do aparelho repressivo do Estado ou já foram desse aparelho. Como parte da gramática da sociedade em rede que liga o lado de fora ao lado de dentro do Estado, os atores da milícia têm a proteção natural do aparelho repressivo de Estado.    

As milícias têm ligações com os agentes da política? A política fluminense é controlada pelo MDB neocolonial. Trata-se de um tradicional partido (antigo PMDB) da direita brasileira que domina o Estado brasileiro federal e o Estado local do Rio de Janeiro. Logicamente, as milícias se ligam ao aparelho de Estado do MDB neocolonial oligárquico.   

Estas observações acacianas teriam efeito de realidade se o imaginário político brasileiro não estivesse sob o monopólio da sociedade do espetáculo eletrônico (que coloniza as redes sociais digitais), da sociedade de comunicação de massa.

Os recortes na linguagem da sociedade são realizados, principalmente, pelo imaginário político comandado pela sociedade de comunicação de massa. Remar contra tal correnteza é uma questão de sanidade mental em uma época de decomposição da democracia liberal.
O que o leitor acha disso? 

DA CONSTITUIÇÃO 1988 A CONSTITUIÇÃO 2016

Algum filósofo do direito já disse que a Constituição é uma coisa viva. Ela não é um pedaço de papel preenchido por palavras-artigos fixadas em um quadro na parede do gabinete do juiz como a borboleta morta. A Constituição é a borboleta voando.

Como as instituições, a Constituição não é um raio em um céu azul, pois, ela é feita por homens definidos por uma gramática da cultura política de um país. No caso brasileiro 1988, é a gramática da cultura política oligárquica.

A Constituição 1988 foi obra de homens da oligarquia política do sim e do sim senhor. O sim era a oligarquia política de oposição ao regime militar. O sim senhor era a oligarquia política que governou com os generais em um Estado militar oligárquico que começa com o general Médici.

A soberania popular do regime pós-ditadura militar teve que votar nos militantes da oligarquia política para a Assembleia Constituinte 1987-1988. O resultado foi a feitura de uma Constituição oligárquica com uma gramática que contemplou os direitos do Estado popular getulista. Só ser preso em última instância (STF) e ter Fórum Privilegiado (no STF), eis dois direitos de uma gramática político-judicial oligárquica.

As lutas contra a gramática oligárquica da Constituição 1988 dividiu a comunidade jurídica em duas. Uma fração oligárquica de advogados criminais e juízes do STF lutando pelo instituto da prisão em terceira-instância (STF), e uma fração de juízes federais, procuradores da República e juízes do STF pela prisão em Segunda-Instância. Tal luta se desenvolveu com a crise da soberania popular oligárquica que é crise da democracia oligárquica. Aí ficou claro que o eleitor é refém do imaginário da gramática da cultura política oligárquica. 

Em 2016, O STF criou uma nova Constituição em estado prático. Trata-se da Constituição republicana democrática 2016 que se determina pelo estabelecimento da prisão em Segunda-Instância e o fim do Fórum Privilegiado para o pessoal do Estado, que afeta, principalmente, a oligarquia política criminosa.

Amanhã, a Corte Suprema se reúne para decidir sobre o Habeas Corpus do candidato à presidência Lula. Está nas mãos da juíza Rosa Weber a decisão sobre o H.C. A juíza pode votar de acordo com a Constituição Oligárquica 1988 ou de acordo com a Constituição republicana democrática 2016.

Será Rosa Weber da fração oligárquica da Corte Suprema? Nesta quarta-feira de 04 de 2018, Rosa Weber decide se faz parte da ação política de uma democracia republicana inédita em 2019.

No dia 04/04/2018, a juiza Rosa Weber decidiu  negar o Habeas Corpus de Luís Inácio Lula da Silva. Sob o comando do pulso forte da presidente do STF (Carmen Lúcia), Rosa Weber parece ter jogado a pá de cal na era do bolivariano na América Latina. 

No início da noite de 07/04/2018, o ex-presidente Lula se entregou à Polícia Federal.  

 POLÍTICA E INCERTEZA GRAMATICAL
Com a prisão decretada, Lula faz um discurso em um palanque em frente ao sindicato de São Bernardo em claro desafio ao mandato de prisão. Após atacar, furiosamente, o Estado legal brasileiro, Lula diz que logo será solto, pois, a verdade está ao lado dele, um Lula inocente.
As massas do lulismo se levantaram em quase todo o país com violência, especialmente contra os jornalistas. Nesta presença presente, as massas do lulismo evocam as massas do fascismo alemão na década de 1930. O lulismo de massa é um movimento de massas fascista do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. 
Lula se entregou à Polícia Federal no início da noite do 07/04/2018. Na manhã seguinte, um jornalista de Grupo Globo diz que Carmen Lucia acatara a questão de ordem do juiz Marco Aurélio (da família oligárquica de Fernando Collor de Mello) para pôr em debate no pleno do STF o princípio da reclusão em segunda instância adotado em 2016 por esse próprio plenário.
Na linguagem rala da política traduzida pelo jornalismo, a prisão em segunda instância é uma confusão que começou em 2009. Até este ano, a prisão em segunda instância estava em vigor. Ela caiu devido a aplicação de força da oligarquia política criminosa sobre o STF em 2009.
A mudança de posição do PT foi decisiva nesse evento em tela. De partido de massas líder do lado político do republicanismo democrático, o PT se transformou em um poderoso partido de massas do lado da oligarquia política criminosa. Com o PT e o lulismo, as massas do bolivariano passaram a ser massas gramaticalmente disponíveis para o poder oligárquico do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.
O comportamento violento fascista das massas petistas neocoloniais (elas passaram a perseguir corporalmente os juízes Carmen Lucia e Fachin) pode ser um fato que quebrou o juízo inflexível de Carmen Lucia, segundo o jornalismo carioca.
O que está em questão? A candidatura de Lula para presidente em 2018!
A esquerda quer governar o Estado brasileiro, mas não se deixa governar pelo Estado brasileiro. Para o PT, o Estado brasileiro não é um fenômeno político legítimo, a não ser quando governado pela esquerda.
Se Lula não tomar de assalto o Estado brasileiro em 2018, o efeito provável é a desarticulação do regime do bolivariano na América Latina, regime que tem o apoio do jornalismo do bolivariano na Europa e nos Estados Unidos.
Como a política não é geologia (ela não se materializa em matéria tectônica ao ponto de definir a política antecipadamente ao fato gramatical), e sim gramática, ela depende do estado gramatical da correlação de força do momento determinado como fato gramatical, incluindo as massas na rua.
Hoje, a nossa política vive um fatal princípio de incerteza gramatical.