domingo, 26 de abril de 2015

UM POUCO MAIS DE FÍSICA DA POLÍTICA

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.


REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL/AUSCHWITZ
hhttp://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/18/politica/1429310629_943954.html
hhttp://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/17/politica/1429304117_352824.html
O Congresso brasileiro discute a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Esta é uma questão prática que põe 87% da população a favor da mudança na lei. “A preocupação das pessoas, que é a disseminação da violência no cotidiano, é correta. Mas a solução é equivocada. O número de menores infratores responsáveis por crimes violentos é inferior a 1% do total”, segundo uma pesquisa da USP”. Os partidos se dividem com a esquerda contra e o PSDB e o DM a favor. O PMDB racha. Então se apenas 1% dos menores matam, por que transformar os 99% em possíveis candidatos da população carcerária para adultos, ou seja, para maiores de 18 anos?
A mudança é puxada pela “bancada da bala” constituída por delegados e policiais deputados. Eles representam a vontade da maioria da população nesta questão da violência associada à segurança. A política tem várias dimensões e esta é uma dimensão do mundo-da-vida. “As pessoas têm opiniões cristalizadas com base em sentimentos de medo e de raiva. Justiça não rima com vingança”. Certamente, a opinião da maioria está alicerçada no campo dos afetos, principalmente da cólera da população contra o cotidiano violento. Mas podemos ir além dessa superfície para pensar essa questão prática da política do mundo-da-vida?
Por que a esquerda assume uma posição no campo do liberalismo político e a direita assume uma posição totalitária? Interrogação complexa que deveria ser respondida por uma investigação empírica sobre a articulação entre pensamento político e prática política dos partidos. Mas não é preciso fazer nenhuma investigação profunda para chegar à conclusão que a bancada da bala é uma formação política totalitária no Congresso Nacional. Como efeito de um estado de guerra permanente freudiano, a violência física sobre o corpo da população é um exercício do poder das máquinas de guerra estatais e criminais em uma superfície política do mundo-da-vida. Esta colossal aplicação de força sobre o significante população (matéria e espírito) a transforma em uma massa (em uma opinião pública majoritária) disponível, abstratamente, para a cultura política totalitária. Então, ergue-se um campo de batalha no qual os partidos vão decidir se a população juvenil vai virar cliente da prisão brasileira. Entre nós, a prisão é um artefato totalitário sagrado (da cultura política totalitária brasileira), intocável, exterior à reflexão e simbolização no espaço público procedimental. A maioria abstrata totalitária parece “legitimar” a prisão brasileira como o recurso para solucionar a questão da violência. Isso não amarra as mãos do parlamento e da comunidade jurídica do campo do liberalismo político brasileiro? Com efeito, a verdadeira questão deve ser posta na mesa. A prisão brasileira é um artefato totalitário porque ela é um CAMPO DE CONCENTRAÇÃO para uma raça brasileira formada por mestiços, negros e brancos pobres. Uma questão prática não é apenas um problema empírico, pois ela é parte da cultura política de um país!   

MÚSICA/FÍSICA
Assistindo Caetano Veloso, Seu Jorge, Xande de Pilares e a banda Dônica (Tom Veloso?) não resisti a fazer o primeiro texto sobre música no campo da física da história. A música popular do século XX está associada à lógica do valor, à lógica da mercadoria. Ela é um artefato importante na cultura industrial de massas capitaneada pelos USA no mundo-da-vida mundial. Mas é só isso? Através da lógica do valor o que a música organiza (articula) como mundo? A cultura totalitária da ditadura militar no Brasil gerou um ambiente opressivo na política em si e no cotidiano do mundo-da-vida. A cultura totalitária da ditadura foi um vórtice monstruoso de desintegração da energia narcísica no mundo-da-vida. Isso tornou a vida mais triste nestes Tristes Trópicos. A história destes é a história do monopólio da RIQUEZA NARCÍSICA (energia narcísica) nas mãos da elite oligárquica-totalitária do Engenho de cana-de-açúcar. A ditadura militar é a ditadura do Engenho de cana-de-açúcar militarizada, é o dominus do discurso do Engenho militarizado. Neste dominus sombrio, Caetano, Gil, Chico, Milton, Lô Borges e uma comunidade de músicos antitotalitários fizeram o bom combate ao totalitarismo brasileiro colonial na sua versão militar. Tal comunidade continua seu combate em um refluxo da música popular brasileira. Esta cabe inteiramente no conceito libertário de cultura brasileira de Gilberto Freyre. Como contraconceito, tal comunidade antitotalitárias de músicos constituem parte de uma luta pela organização da dupla energia (pulsão de morte e narcisismo) que organizam (articulam) o mundo na história política universal natural. Tal comunidade liga o Brasil à história universal. Por quê? A música erudita era a música do mundo aristocrático, uma música que, com raras exceções, é um artefato, logicamente, ligado ao inconsciente político ariano. A música popular brasileira mestiça é uma música que por fios invisíveis se liga à Canudos, é um artefato simbólico do inconsciente político mestiço. Em um campo global de forças mundial, a música popular brasileira é um significante sonoro-poético que não deixa morrer a dialética inconsciente político mestiço versus inconsciente político ariano:
“Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada”

TELEVISÃO E NARCISISMO
A Corporação de Ofício Freudiana se fecha no uso técnico da linguagem freudiana inacessível ao leigo. Mas ela é impotente para analisar a lógica do narcisismo na cultura, especialmente, industrial. Durante 24 horas por dia, a televisão transmite a propaganda com celebridades (Papa Francisco, Obama etc.) e finaliza com o dizer: “todo mundo tem algo a falar. Ligue para nós” (telefonema pago pelo espectador). O Papa e o presidente dos USA estão no espelho televisivo. Eles são a imagem do espectador que crê na mensagem. Trata-se da lógica do valor, pois a televisão é uma empresa capitalista interessada em vender uma mercadoria. O que este veículo eletrônico está vendendo além da ligação paga do espectador? Ele vende a energia narcísica que é um significante que estrutura o mundo-da-vida. O espectador é narciso fascinado com sua imagem no espelho d’água: Francisco (energia narcísica sagrada); Obama (energia narcísica laica). A energia narcísica é um significante mais universal do que o universal da história universal
No Brasil colonial, o Padre José de Anchieta (canonizado em 2014 pelo papa Francisco) ficou, ao mesmo tempo, maravilhado e horrorizado com uma prática das tribos indígenas brasileiras. Trata-se da prática dos índios usarem veneno de bicho para engrossarem o pau (pênis). Isso encantava as índias mais bonitas e com uma disposição sexual anárquica. Este investimento narcísico no falo não é algo que se remeta para o inconsciente freudiano. Com efeito, tal narcisismo é um significante de um inconsciente político primitivo. Tal articulação não tem a ver com a energia narcísica mitológica grotesca? A sociedade primitiva se define por evitar o Urstaat. Mas ela não é capaz de viver sem a energia narcísica grotesca - o gozo corporal narcísico que inscreve a sexualidade primitiva no Grande Outro, no campo do Simbólico.
Tal gozo narcísico pode ser um gozo espectral? um gozo sexual sem corpos materiais envolvidos? Isso não é o que a televisão e o espectador compartilham no “todo mundo tem algo para falar”? São corpos espectrais do imaginário de uma determinada cultura política cultural, industrial e totalitária. Esta distribui energia narcísica, a conta gota, para o espectador. Como evocação obcedante (e obcecante) o gozo narcísico inscreve uma certa sexualidade imaginária do espectador no Grande Outro. Na sociedade do espetáculo industrial, a necessidade desse consumo de energia narcísica cotidiana não é algo equivalente à necessidade de oxigênio em um ambiente rarefeito de tal energia? 

EUROPA/IMIGRAÇÃO
O estado de guerra freudiano permanente em regiões da África e do Oriente Médio é a liberação de energia mítica (pulsão de morte) do buraco negro simbólico estacionado sobre a Terra. Isso não é um fenômeno da física teórica, mas um contraconceito da física da história universal. A desintegração de países e principalmente de povos milenares tem como efeito funesto a dissolução das epistemes políticas orientais. Isso não é similar a uma catástrofe ambiental ciclópica? “Segundo o Ministério Público da Itália, entre 500 mil e 1 milhão de pessoas estariam na Líbia aguardando o momento de cruzar o Mediterrâneo”. A Europa está entrando em um estado psíquico permanente de horror e pânico com a invasão em massa das “hordas hunas”. (A estética do grotesco se tornará a estética natural do planeta?) E os imigrantes ilegais morrendo em massa no mar! Trata-se de um fenômeno milenarista! Assim, não estamos próximos da subsunção da razão europeia às energias míticas (pulsão de morte e narcisismo)?  A lógica do inconsciente político não irá dissolver no ar a cultura política liberal europeia (e o humanismo) modelada pela razão moderna? O buraco negro simbólico está tragando a organização das sociedades orientais por antigas culturas políticas e suas respectivas epistemes políticas. Qual o significado (em termos de potência) do Terrorismo islâmico diante da Imigração? Esta não é a bomba de Hiroshima e o terrorismo a guerra de guerrilha cubana? Tal espetáculo humanitário e político assustador pode ser atribuído a geopolítica dos USA para as regiões em desintegração. Até quando esta brincadeira de criança vai continuar nos meios intelectuais, políticos e da cultura industrial de massas?
A Imigração significa, em última instância, a desintegração da energia narcísica que a Europa vem acumulando e consumindo em larga escala que sustenta a razão moderna e a episteme política europeia como algo distinto da episteme capitalista. A Europa foi capaz de manter uma episteme cultural fazendo pendant com a episteme capitalista na articulação política de muitos países do continente. Trata-se do conceito concreto hegemonia gramsciano. O último artefato político desta episteme da hegemonia foi o modelo oligarquia política híbrida em um processo acelerado de desmoronamento. O que é preciso fazer para mostrar que o conceito CRISE (política, econômica, cultural) foi tragado pelo buraco negro simbólico e liberado em uma escala de fenômenos sem solução política no horizonte de eventos? Hegel (não Marx) formulou a seguinte ideia: o homem só formula problema passível de solução, ao menos teoricamente. A produção do contemporâneo parece estar associada a um fantasma do futuro: o fim da história universal. Isso é a visão do contemporâneo moldado pelas velhas linguagens articuladas principalmente em torno do discurso da universidade. Estão cegos? Não veem que o discurso da universidade está subsumido à lógica do desmoronamento? Que ele não é mais capaz nem de articular o capitalismo mundial e nem a política mundial? Nem de conceituar sobre tais fenômenos? O velho mundo está morrendo e o novo mundo está sendo anunciado! Não conseguem ver isso?  



CUBA
Estive em Cuba, como turista, na década de 1990. Conheci cubanos a favor e contra o regime, a favor e contra a revolução. Constatei que mesmo só tendo ração alimentar para 3 dias na semana, a maioria da população apoiava o poder fidelista. Confesso que fiquei intrigado e achando que a ideologia política (socialismo fidelista) tinha um poder material e espiritual para além de minha vã ciência política marxista. Minha ida à Ilha fortaleceu minhas convicções de que o totalitarismo marxista estava com os dias contados! No Brasil, Lula e o PT faziam profissão de fé antitotalitária. Isso me dava uma certa tranquilidade espiritual! Quanta ingenuidade!  
Mas o que é o socialismo fidelista? Ele não é, certamente, aquela civilização superior ao capitalismo em termos materiais e espirituais. Então, os cubanos são energúmenos prolixos? Não há riqueza material e cultural para distribuir em Cuba como há nos USA. Os cubanos ignoram isso? A fé cega em Fidel (e Guevara) jogou um véu opaco sobre a realidade realmente existente do povo cubano? Eles metabolizaram o discurso fidelista de que miséria material e da cultura intelectual da vida cubana é causada pelos USA? A esquerda totalitária latino-americana repeti este truísmo ideológico há décadas. Muito emprego depende disso na América Latina! Por razões da geopolítica norte-americana, Obama parece quere pôr um fim nesta versão totalitária da esquerda latina e, consequentemente, causar um desemprego em massa da esquerda.  
Então, Cuba é creio porque é absurdo? Credo quia absurdum? Lógica que Freud disse fazer funcionar a cultura política cristã, em geral. Não quero defender Cuba, mas a física da história política universal me põe em uma posição da qual não posso escapar. Em termos de riqueza energética (energia narcísica), a Revolução Cubana significou uma distribuição da RIQUEZA NARCÍSICA por toda a população. A sexualidade anárquica de uma parte da população é a expressão desta democratização da energia narcísica. Cuba foi o paraíso sexual “tropical” da década de 1990 para, principalmente, os canadenses da terceira idade. É claro que a elite se apossou, e se apossa, da parte mais requintada, luxuosa do narcisismo do país. Fidel tem duas ilhas (dois paraísos naturais bucólicos) para viver e gozar a vida. A episteme do engenho é a episteme do marxismo cubano. Cuba é certamente uma Ilha como um senhor de Engenho: Fidel Castro (agora fazendo pendant, no poder, com o irmão Raul). Há décadas, o discurso fidelista do senhor de Engenho é soberano na Ilha. No entanto, o apoio do povo cubano ao regime é uma adesão baseada na crença de que a cultura política socialista desfez o laço absoluto elite/massa, em termos de distância social. O homem do povo vê sua imagem refletida em um espelho d’água que tem a imagem de Fidel no outro lado do espelho. A televisão cubana passa o dia inteiro dizendo que essa é a verdade cubana. Meninos, eu vi! 
PSICANÁLISE/GRAMSCI
A crítica de Gramsci à psicanálise se resume na ideia do pensamento de Freud ser uma inimaginável - até então – concentração de energia narcísica em um significante: homo clausus. Por isso este marxista considerou Freud o último ideólogo da ilustração do século XVIII. Hoje está ficando claro que a ligação de Freud – na maturidade – com o Romantismo alemão salvou a psicanálise, se esta ligação transforma o pensamento freudiano em física freudiana da história. Nesta borda, não existe psicanálise ou psicanalista!
O marxismo de Gramsci é muito ligado à filosofia do sujeito. No entanto ao abordar a questão sexual a partir da literatura psicanalítica, Gramsci estabelece um esboço de modelo de história dos instintos que pode surpreender o leitor desprovido de preconceitos ideológicos em relação seja à Gramsci, seja a Freud. Gramsci estabelece uma dialética entre a cultura política rural patriarcal e a cultura política civil (ética-civil). Parece que a mulher é o objeto a partir do qual a violência física e simbólica sobre o corpo e o espírito dela sofre uma mutação quântica na passagem do campo para a cidade. O campo concentra na Itália rural uma taxa de crimes sexuais monstruosos, realização de desejos bestiais dos homens e o incesto em 30% por cento das famílias. A civilização citadina italiana parece resolver este quadro de violência sobre a mulher de um modo descontínuo. A civilização deve ser entendida pelo conceito de hegemonia que não depende para existir e funcionar apenas da ideologia como um artefato superestrutural. O modelo americano de hegemonia implica a expansão da elite como “força motriz de uma expansão universal, de um desenvolvimento de todas as energias nacionais”. A hegemonia é um fenômeno como “unidade de fins econômicos e políticos, mas também unidade cultural e moral”. Gramsci diz que a vida instintual (inconsciente) deve ser regulada pela racionalização da produção e do trabalho (racionalização instrumental do modelo americano). Portanto, na esfera da estrutura econômica também! De qualquer ângulo que se observe não se trata de inconsciente freudiano articulado como homo clausus. A hegemonia é uma expansão da classe dominante através da cultura e do Estado: aparelhos de hegemonia. A hegemonia remete para o inconsciente da sociedade de classes! A hegemonia significa um agenciamento das massas (como uma forma de população da civilização industrial) pela razão moderna (ciência). Tal agenciamento significa direcionar a energia nacional (pulsão de morte e narcisismo) para a construção da nação capitalista. Em Gramsci, nota-se um esforço impressionante de transformar o marxismo em uma física da política: ciência marxista da política. E no horizonte dessa física não está a superposição do inconsciente freudiano com o inconsciente político? Em uma carta de 15 de fevereiro à Tania, ele escreve: “Eu não tenho conhecimentos vastos e precisos sobre a psicanálise”!     
PSDB/EPISTEME DO ENGENHO
 “Na semana passada, o presidente da Câmara foi obrigado a recuar e adiar por uma semana a votação das emendas para evitar que um requerimento apresentado pelo PSD, para retirada da matéria de pauta, fosse aprovado com apoio do PT e de parte do PSDB. Depois da intervenção do presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), os tucanos voltaram a apoiar o texto-base do projeto”.
O PSDB não é um saco de gatos famintos. Em algumas questões práticas chegou a agir como um partido pautado pela lógica do liberalismo político. Mas na questão estratégica da terceirização do trabalho se decidiu pelo modo de produção flexível do capitalismo de Engenho mineiro de cana-de-açúcar. O discurso do senhor de Engenho se fez atualizar pela voz ativa do presidente do PSDB, o mineiro do “Grande Sertão: veredas” Aécio Neves. De uma família que funde oligarquia social (são latifundiários) e oligarquia política (ele é sobrinho do indefectível, para a ideologia dominante, Tancredo Neves (Never), nosso Napoleão Bonaparte do sertão mineiro), Aecinho sabe agir como um agente da política oligárquica, ele que é a maior parte do tempo, na vida público-privada, um playboy de Belo Horizonte. A vocação para a política oligárquica lhe foi ensinada pelo Tio.
Com efeito, a presidência nas mãos de Aecinho significa que o PSDB minerou no sentido de transforma-se em uma máquina de guerra política do Engenho. Agora, o modelo arcaico (simbólico) do PSDB é a máquina de guerra freudianas que fundou o Brasil: as bandeiras. Esta caçava, capturava e matava os índios seja para escraviza-los, seja pelo prazer de matar o bugre. Os banhos de sangue como os corpos da sociedade primitiva brasileira é o significante a partir do qual se ergue o Brasil oligárquico. As bandeiras eram o Engenho que caminha em direção ao sertão (ao interior do Brasil). Ela trazia a casa (Engenho) nas costas. Para o PSDB real, os trabalhadores estão no lugar dos índios (e depois dos escravos afro-brasileiros). A repetição do discurso do senhor (Aécio Never) de Engenho significa pôr os trabalhadores no lugar de um objeto colonial: o escravo (amarelo, negro, ou mestiço). Quando chegou ao poder, a esquerda passou a ser um instrumento – uma máquina de guerra política totalitária – a serviço da Dama. Trata-se de um caso de amor cortês, e a Dama é a classe oligárquica. Para servir à Dama, a esquerda ajudou a desintegrar o significante REVOLUÇÃO BRASILEIRA. Lula disse para uma jornalista: “minha filha, não existe esse negócio de oligarquia no Brasil. Você devia arrumar um psicanalista” (versão livre da fala de Lula). O PT glorificou Sarney como campeão da fundação da República Democrática de 1988. E no entanto, Sarney é mais oligárquico que a própria oligarquia brasileira. Sarney não vem de uma família oligárquica e começou sua vida como funcionário do Banco do Brasil. Sua biografia autorizada é uma empulhação que não joga um fiapo de luz se quer para iluminar esse grande mistério da política brasileira: o oligarca ex nihilo. Com o PSDB de Aecinho, a condensação de energia narcísica do Engenho mineiro na política nacional conduz o país por qual deserto?  Para o bonapartismo  oligárquico do “Grande Sertão: veredas” do Rosa?  

OS 7 ERROS DE FHC QUE ABALARAM O BRASIL
1) Quando professor de sociologia escreveu o livro “Capitalismo dependente e associado” que defendia este modelo econômico como a via de desenvolvimento para o Brasil (e países da América Latina) pós-capitalismo colonial. Ele jamais imaginou que um dia este modelo seria corretamente apresentado como uma forma de capitalismo de Engenho, portanto, uma espécie de capitalismo colonial. 2) Influenciado por este modelo econômico criou (a partir do governo Itamar Franco) o modelo de capitalismo neoliberal autárquico na época do globalismo do capitalismo corporativo mundial. Isso define a crise estrutural e orgânica da economia brasileira. 3) Desfechou um golpe de Estado branco na Constituição da República Democrática de 1988 (dizem que até com compra de votos) para implementar os 8 anos seguidos de mandato para a presidência da República. Ele queria se reeleger. Este golpe encerrou a vida do modelo oligarquia política híbrida. 4) Impediu que o Congresso começasse o processo de impeachment de Luís Inácio LULA da Silva com o argumento que o PSDB deveria deixar Lula sangrar até o fim do mandato. Lula se reelegeu em 2006 e ainda elegeu, em 2010, Dilma Rousseff: um poste político. 5) impediu que o Congresso começasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Agora a imprensa a esta glorificando como a mãe-salvadora da Petrobrás e vestal petista. 6) Entregou o PSDB para Aécio Neves. Este está transformando o PSDB em uma máquina de guerra do Engenho de cana-de-açúcar de Minas Gerais. Isso significa que o PSDB vai desmoronar como possibilidade de partido político e de um  partido orientado pelo liberalismo político. 7) Se autodeclarou o Príncipe da Sociologia brasileira nos tempos de professor da USP, ele que fez apenas uma sociologia modelada pela episteme política do Engenho. Com efeito, deveria ter se declarado o barão da sociologia brasileira!      

BIANCA RAMONEDA/GLÓRIA PEREZ
Bianca entrevistou Glória na televisão acompanhadas de um público seleto formado por professores e estudantes da PUC e artistas da Globo. Glória fez uma formulação de um velho problema filosófico como algo de uma filosofia espontânea pop: “não há sentido no cotidiano; a ficção (novela) atribui sentido às ações do cotidiano” (versão livre da fala e glória). Trata-se da separação absoluta entre ficção e sociedade; separação absoluta entre linguagem (toda linguagem é uma ficção) e ação no mundo-da-vida. No campo freudiano, Freud estabeleceu uma linguagem (chiste, ato falho etc.) associada ao desejo: inconsciente freudiano. Esta linguagem aparentemente tomada pelo nonsense é plena de sentido. Abreviando, o desejo é um significante que atribui sentido à realidade externa: “desejo, logo existo”. Ele é um significante de uma linguagem natural que, inclusive, organiza o cérebro contra o espontâneo caos cerebral. Assim não há a partir do campo freudiano uma separação absoluta entre ficção (linguagem) e vida cotidiana. A linguagem (ficção) é constitutiva da vida cotidiana.
As pessoas com sorte na vida nascem e se desenvolvem em alguma família ou em algum tipo de associação social. Gramsci pensou um conceito marxista de “família” a partir da literatura psicanalítica. O taylorismo e a racionalização em geral são os novos métodos organizando o mundo-da-vida. “Estes novos métodos requerem uma rígida disciplina dos instintos sexuais (do sistema nervoso), isto é, um reforçamento da “família” em sentido amplo (não no sentido de tal ou qual forma de sistema familiar) da regulamentação e estabilidade das relações sexuais”. Isso é a “família” como laço social ou sociedade. Taylorismo, fordismo, toyotismo, enfim, aquilo que se pode considerar como a racionalização do mundo pela linguagem capitalista, em geral, constituem o cotidiano. Tal racionalização do mundo moderno pela ciência significa que várias linguagens (da física, da química, da engenharia, da medicina etc.) estruturam e atribuem significados (ou então significações) ao mundo-da-vida. O indivíduo entra em uma pharmácia e os frascos e embalagens dos produtos (remédios e outras mercadorias) contém o sentido do mundo criado pela ciência moderna. Isso independe do indivíduo saber que tais linguagens (ficção) estruturam o mundo.
O maior físico moderno fez esta fórmula ainda não entendida inteiramente: “A tradição pesa como chumbo no cérebro dos vivos”. A tradição é o discurso do mestre articulada no mundo por culturas política totalitárias em tantas épocas históricas. A tradição é constituída por ideias-força que agem no cérebro humano. Ela é linguagem quase orgânica como coerção (violência simbólica cerebral) que articula massa cerebral e sentido. Claro que não se trata de substituir a separação absoluta entre ficção e sociedade pela identidade absoluta entre linguagem e  realidade exterior ou interior (segundo o velho vocabulário freudiano). Ficção e realidade mantém uma autonomia relativa que define suas especificidades. Se não for assim, caímos novamente na episteme política totalitária. A plateia letrada na alta cultura burguesa da escola de comunicação da PUC/RJ poderia ter problematizado a fórmula supracitada de Glória Perez?    

PRÉ-FÍSICA DA COMUNICAÇÃO INDUSTRIAL/MUNIZ SODRÉ
Comecei minha vida universitária na EcO (Escola de Comunicação da UFRJ) na década de 1970. Nessa escola fiz o primeiro curso de Freud com o filósofo althusseriano Carlos Henrique Escobar. Não tive a oportunidade de fazer cursos com Muniz Sodré, então um jovem intelectual com maior projeção na indústria cultural do que na universidade. Na década de 1980, Sodré se tornaria o marxista pós-moderno especialista em cultura pós-industrial no jargão preferido da comunidade cultural de comunicação. Sodré sempre buscou uma formação transdisciplinar. Além de jornalista e literato fez cursos de graduação e pós-graduação em direito, sociologia da comunicação e Letras. Mas para o que importa aqui, ele é o primeiro intelectual a fazer uma pré-fisica da sociedade de comunicação industrial. Seu livro “A máquina de narcísico” é quase a obra de um físico freudiano da política. Ele pensa a telerrealidade a partir dos conceitos de máquina e de narcisismo. Quanto ao conceito de máquina não cabe nesta postagem uma discussão mesmo que seja breve. Mas em relação ao conceito de narcisismo, ele já o pensa a partir da ideia de energia psíquica (14), se aproximando de um contraconceito de narcisismo como energia mítica. Sodré também parece quase conceber a história a partir das epistemes política balbuciando sobre um conceito de episteme pós-moderna que funcionaria pela lógica do simulacro narcísico (25, 28, 40). No entanto, sua pré-fisica nunca se desenvolveu pela falta de significantes como cultura política, máquina de guerra freudiana, discurso (Lacan), episteme política (Lacan/Bandeira da Silveira), inconsciente político e outros contraconceitos. Talvez sua leitura equivocada da história do Brasil (como dialética entre brancos e negros) tenha bloqueado seu percurso em direção à física freudiana da política. Se tivesse feito a boa leitura de Gilberto Freyre saberia que a dialética brasileira tinha como principal significante o inconsciente político mestiço, a espiritualidade mestiça como disse Gilberto no “Casa-Grande e Senzala”. A física da política poderia ter sofrido uma influência decisiva da ECO, na figura de Muniz Sodré. Mas eu jamais fui convidado para participar de qualquer evento naquela instituição universitária. Então, esta postagem não é aquele tipo de ajuste de contas feito por Marx em relação à filosofia europeia no magistral “A ideologia alemã”. É só uma pontuação sobre a história intelectual do Rio de Janeiro do meu ponto-de-vista! 

CÂNCER/MITO/LULA
“A preocupação com a imagem aparece em outra iniciativa recente do ex-presidente. Nas últimas semanas, ele lançou página especial para desmentir "mitos" sobre ele, como o de que teria saído na capa da revista Forbes como um dos homens mais ricos do Brasil. O "mito 3" desmente justamente que o ex-presidente, que agora exibe sua rotina saudável, tenha tido um recaída do câncer”.
Em trinta anos 40% da população mundial terá câncer. A ciência capitalista é o discurso que organizou e articulou a vida especialmente a partir da segunda metade do século XX. Ela mantém Lula vivo!  O organismo de Lula programou a morte do ex-presidente e todos os tipos de câncer começam devido ao crescimento anormal e fora de controle das células. As células cancerosas também podem invadir outros tecidos, algo que as células normais não fazem. O crescimento fora de controle invadindo outros tecidos é o que torna uma célula em cancerosa. O câncer na laringe tem um potencial fatal alto. Mas a família esperava que o mais velho morresse primeiro, e, no entanto, morreu o mais jovem.
A medicina não perde tempo com a causa (ou causas) que produz tal doença. Como uma ciência moderna, ela descarta a ação das forças mitológicas (as energias pulsão de morte e narcisismo) no organismo humano. Culturas medicinais antigas da Ásia sempre se preocuparam com a busca do equilíbrio do organismo frente ao caos que as energias supracitadas significam para o corpo humano. Com sua inteligência e cultura sertaneja, Lula parece saber que o mito move a história e joga (brinca no sentido de Walter Benjamin) com isso. Ele parece querer usar o mito (o seu carisma que é uma energia mítica) contra a fusão das energias míticas (pulsão de morte e narcisismo) que programou a morte anunciada de seu organismo, pois depois da sua biografia política ele continuará vivo espiritualmente para além de seu corpo físico. A medicina mantém Lula vivo, a política o manterá vivo espiritualmente nas próximas décadas. Ele não quer morrer como Sade que inclusive não queria túmulo para não ser cultuado na posteridade. Isidoro Eduardo poderia falar disso melhor do que eu! Mas Lula não é o Marquês de Sade, pois este articulou a máquina de guerra sadiana através da sua escritura. Qual a obra realizada por Lula? Onde se encontra a materialidade de seu carisma? O Carisma é a condensação em uma biografia individual de uma grande concentração de energia narcísica. Se o amor é um significante que condensa energia narcísica, o amor ao mestre é a relação narcísica entre o líder e as massas. Estas amam o mestre como imagem de si no espelho político. Mas afinal o que as massas amam no líder? Exatamente o fato de ele ter deixado de ser um membro da massa (um ser político vulgar) e ter se tornado um elemento da aristocracia. O amor ao mestre, não se trata de um amor vulgar (a massa não abraça o baixo, o inferior), pois a massa ama o superior, o que está no alto: o aristocrata! Para as massas do sertão, Lula é um Príncipe da linhagem da família real brasileira; ele vem depois de Pedro I e de Pedro II na linhagem dinástica política brasileira.  

EPISTEME POLÍTICA CAPITALISTA OU PARADIGMA CAPITALISTA?
Benjamin Franklin fez um manual do discurso do capitalista antes do modo de produção especificamente capitalista existir no século XIX. Seu axioma “time is Money” pode muito bem fazer parte da episteme política capitalista. Mas foi Marx que produziu o contraconceito episteme política capitalista. Thomas Khun fica próximo do contraconceito de episteme política com seu conceito de paradigma? Ele diz: “Um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma”. A episteme política não é algo que possa ser inscrita no conceito sociológico de comunidade. Como contraconceito, ela foi criada a partir da articulação entre o discurso do mestre e a filosofia ex-sistindo e funcionando em uma cultura política determinada, isto é, a cultura política grega da antiguidade. O discurso do capitalista é uma versão moderna do discurso do mestre da antiguidade. Assim como este não articula qualquer comunidade na antiguidade, ou seja, a comunidade de senhores e escravos, o discurso do capitalista não articula a comunidade capitalista constituída por burgueses e operários. O significado mínimo de comunidade no Houaiss é: “conjunto de habitantes de um mesmo Estado ou qualquer grupo social cujos elementos vivam numa dada área, sob um governo comum e irmanados por um mesmo legado cultura e histórico”. Essa ilusão sociológica (ou talvez antropológica) do laço social como comunidade é claramente idealista e antidialética. A episteme política se refere ao laço social (sociedade) na história universal que é dialética e materialista. Ela implica o conceito de guerra. A episteme política é articulada, nas diferentes épocas históricas, por máquinas de guerra de pensamento e por máquinas de guerra políticas em uma determinada cultura política.
O capital é o centro da episteme capitalista. Ele é uma relação social (Marx), um laço social ou sociedade (Lacan), ele é uma máquina de guerra econômica (física freudiana da política). Na sua forma acabada, o capital ex-siste na dialética com o trabalho assalariado do qual ele expropria a mais-valia (riqueza da sociedade) para a reprodução ampliada do próprio capital. Trata-se, portanto, de um contraconceito materialista e dialético do maior físico da história econômica universal. E o que é a mais-valia? Ela é condensação da energia pulsão de morte e da energia narcísica desviada para o processo de produção que tem como significante referencial o trabalho excedente. No processo de produção capitalista, a classe operária é abstratamente separada da história mítica (definida pelos motores míticos energia narcísica e pulsão de morte) e mergulhada em uma história prosaica que Max Weber designou como o fenômeno moderno de desencantamento do mundo. A luta de classes não põe e repõe a classe operária como uma linha de força da história universal? esse breve comentário é suficiente para mostrar o quanto o conceito de paradigma está obsoleto?                                                                            
              

                          

                                                          

segunda-feira, 13 de abril de 2015

EPISTEME E POLÍTICA


CHARLES DARWIN: máquina de guerra cientifica da biologia
A teoria biológica de Darwin já estava encaminhada em 1939. Mas este cientista era um membro da cultura política da ordem (anglicana, vitoriana, Wigh) em choque com a cultura política contra a ordem: socialista, anárquica, reformista. Durante vinte anos o manuscrito Origin os Species foi cuidadosamente guardado no estúdio de Darwin. Por causa desta investigação científica, ele apresentava um quadro de estado paranoico. Ele se isolou, evitou festas e declinou convites ingênuos; chegou a instalar um mecanismo do lado de fora de seu estúdio para espiar os visitantes que subiam a rampa de sua casa; recusou-se por vários anos a dormir em qualquer outro lugar, a não ser que a casa fosse segura, casa de algum parente mais próximo. Ele tinha medo de ser assassinado? Ele concebia a sociedade habitada por máquinas de guerra, inclusive, no mundo-da-vida?
Nosso biólogo inglês emerge na cultura política mundial como uma máquina de guerra científica do campo da biologia moderna em 1859. Neste ano, Darwin foi praticamente forçado a publicar seu livro. Mas o fez com apenas algumas sugestões escassas sobre as origens do homem. Os 20 anos de ocultamento dos estudos sobre as origens das espécies significam que Darwin sabia do choque simbólico traumático que seu livro ia produzir na cultura científica, em geral, e na cultura política dominante do império ocidental onde o Sol nunca se põe?
Sua biologia falava de contingência e acaso na história natural e articulava uma rede de significantes que explicavam a vida como um estado permanente de guerra. A pulsão de morte de Nietzsche e Freud tem uma raiz na ciência biológica? Da rede de significantes darwinista caiu o objeto a (dejeto ou lixo simbólico) atraído pela gravidade do campo do campo da cultura liberal Vitoriana. Tal lixo foi capturado pela vulgata darwinista liberal do modo de produção especificamente capitalista. Na cultura liberal darwinista (“darwinismo social”), o progresso da sociedade - assim como a evolução da natureza – desenvolve-se pelo extermínio dos indivíduos mais fracos (não adaptados). A competição anárquica, o livre comércio, o imperialismo inglês, o extermínio de raças, a desigualdade de sexos, a inferioridade dos negros eram fatos naturais e a biologia darwinista o paradigma para a explicação da história da humanidade. A biologia darwinista tornou-se um significante-mestre do discurso do capitalista da era liberal no século XIX. Não foi um acaso o funeral deste mais notável cientista que já existiu acontecer na Abadia de Westminster. Como explicar que o corpo não tenha sequer sido sepultado nesta Abadia?
O livro “Darwin. A vida de um evolucionista atormentado” trabalhou com o conceito de cultura política para reconstituir a vida do nosso biólogo. Agora trata-se de refazer a vida de Darwin tendo como ponto de partida o contraconceito cultura política do campo da física das máquinas de guerra científicas e culturais políticas que fabricaram materialmente e dialeticamente a era moderna no século XIX. Trata-se de pensar Darwin como a máquina de guerra científica do campo da biologia que gerou uma revolução quase bíblica no campo das ciências e da cultura política capitalista. Então, por que Marx o admirava incondicionalmente? Será que Marx viu em Darwin a possibilidade do marxismo ser algo homólogo à uma ciência biológica. Pensou na possibilidade da ciência da história ex-sistir e funcionar como história econômica universal natural? O contraconceito de capital não estabelece que este é uma máquina de guerra econômica (homóloga a espécie humana como máquina de guerra natural) já existente na mais antiga história da civilização? O capital instala a guerra na sociedade assim como a espécie humana instala um estado de guerra permanente contra a natureza? Darwin e Marx estão mortos para o século XXI?      


MERCADO: GUERRA E PAZ
Max Weber diz que na história universal o mais frequente na criação das cidades era a coexistência uma grande máquina de guerra patrimonial principesca (ou senhorial territorial) com o mercado. A grande máquina de guerra política da antiguidade é definida a partir do conceito “administração política”. Este conceito trabalha pela lógica do poder a partir da qual um quadro administrativo em si ou uma burocracia irracional (só existe burocracia racional na era moderna tardia que se caracteriza pelo uso limitado da violência regulado pelo direito moderno) usa violência física sem limite sobre a população para garantir uma determinada ordem vigente em determinado território geográfico em um certo período de tempo. A lógica do poder ex-siste e é articulada em uma cultura política concreta associada a um determinado inconsciente político.
O conceito de mercado pode ser definido como associação econômica? Ou melhor seria adiantar para o leitor que se trata de um contraconceito do campo da física das máquinas de guerra. Se o capitalista é a personificação do capital. O mercador é a personificação da lógica do mercado, da lógica da mercadoria, da lógica do valor. Se a lógica do poder é concreta a lógica da mercadoria é abstrata. Mas o mercado tem o seu lado concreto, pois ele é habitado por máquinas de guerra econômicas. Estas se caracterizam pelo uso da violência econômica (física, mas principalmente simbólica) para desfazer o laço econômico (laço social) do “inimigo” em uma hiperdialética. Trata-se de uma dialética onde a dialética concreta   é mais dialética do qualquer conceito de dialética. É o contraconceito de  dialética.    Entretanto, a cidade não é o lugar do mercado que bloqueia (às vezes obtêm êxito, às vezes não) a lógica da máquina de guerra econômica. A cidade é essa estrutura que busca a paz econômica, antes de se definir como algo que buscava a paz pública.
O incomum historiador Fernand Braudel já pensa o mercado constituídos por redes, malhas e conquistas. Toda rede mercantil associa uns aos outros certos números de indivíduos, de agentes (máquinas de guerra econômicas), pertencentes ou não à mesma firma, situados em vários pontos de um circuito ou de um feixe de circuitos. O comércio vive desses revezamentos, dessas cooperações e ligações que se multiplicam como por si sós com o crescente sucesso do interessado. O laço econômico é um laço social fundado na confiança e na obediência cega. A lógica econômica concreta se instala como uma cultura política mercantil baseada no entendimento e na colaboração mercantis. Isso exige fidelidade, confiança pessoal, exatidão, respeito pelas ordens dadas: uma espécie de ética comercial muito rigorosa. Talvez não seja demais dizer que tal cultura política funciona por uma solidariedade mercantil que tem a força de lei ocidental (força simbólica) similar à solidariedade de classe social. No entanto a lógica da solidariedade mercantil é confrontada na rivalidade dos negócios, de indivíduos a indivíduos e, mais ainda, de cidade a cidade ou de “nação” a “nação”. As redes mercantis completam-se, associam-se, substituem-se, afrontam-se também. Há “inimigos complementares”, há coexistências hostis, feitas para durar. Frente a frente durante séculos, os mercadores cristãos e os mercadores da Síria e do Egito fizeram a guerra econômica mas sem que a balança se desiquilibrasse entre “inimigos econômicos” indispensáveis uns aos outros. Braudel pensou a guerra econômica das máquinas de guerra mercantis como uma dialética que não é nem a dialética de Hegel, nem a de Marx, nem a dialética negativa de Adorno. Trata-se da dialética que contem em si a guerra e paz como lógica que busca não a destruição do objeto ou a síntese das redes mercantis antagônicas. É preciso pensar em uma dialética que evita tanto a identidade absoluta entre sujeito e objeto ou a autonomia absoluta deles. A dialética mercantil tem como lógica a sustentação da autonomia relativa entre sujeito (máquina de guerra) e objeto (inimigo econômico). Enfim, o mercado mundial é constituído por redes mercantis que tem como nós máquinas de guerra econômicas de diferentes tipos, espécies, cores e sabores. Mas como diz Aristóteles fazemos a guerra para viver a paz (econômica).
  O liberalismo econômico autista prega que o mercado obedece meramente à lógica pacífica. Como Braudel mostrou o mercado é um geostóricosignificante que contém a guerra, a paz e as máquinas de guerra mesrcantis. Isso já é o contraconceito de mercado na física das máquinas de guerra. Braudel fez a física da história econômica mercantil. O liberalismo econômico faz uma defesa do mercado como o lugar da autonomia de decisão, da liberdade de comprar e vender, de investir, de empenhar-se. Mas na alcova admite as escolhas não assim tão livres, pois estão limitadas pelos recursos sempre nas mãos de poucos. Os recursos são um monopólio de poucos ricos (oligarquia) que querem transformar o mercado no alfa e no ômega da política mundial. O mercado é o motor do mundo e a explicação final da vida. Assim uma aristocracia econômica pretende ser o dominus da história política universal (totalitarismo econômico) no lugar do Urstaat. Este que sempre foi o significante-mestre universal da história política universal enredada no inconsciente político ariano (=mito). Para o totalitarismo econômico (inclusive para o economicismo de Marx) o mercado seria a passagem do mito para a história?   

BURACO NEGRO SIMBÓLICO
 “Stephen Hawking descreve no artigo que o que existe no buraco negro não é nem o horizonte de eventos nem o "firewall", mas um “horizonte aparente”. Esse fenômeno seria capaz de reter e manter a matéria temporariamente, com a possibilidade de liberá-la posteriormente, porém em um formato totalmente distorcido e "bagunçado".
“O objeto caótico em colapso irá irradiar de forma determinística, porém caótica. Será como a previsão do tempo na Terra. Ela é determinada, mas caótica, então há perda efetiva de informação. Não é possível prever o clima com mais de alguns dias de antecedência”, compara Hawking, na conclusão de seu artigo.
Em entrevista à “Nature”, o físico Don Page, especialista em buracos negros da Universidade de Alberta, no Canadá, afirma que a nova teoria de Hawking é plausível, porém radical ao apresentar a possibilidade de que “qualquer coisa, em princípio, poderia sair de um buraco negro”.
Esta teoria do buraco negro de Stephen de Hawking é o ponto e partida para pensar o contraconceito de buraco negro simbólico da física das máquinas de guerra. O “horizonte aparente” é o centro de gravidade constituído por energia narcísica que atrai a matéria RSI (Real/Simbólico/Imaginário) da história política universal como objeto caótico em colapso que irá irradiar de forma determinística, porém caótica, a liberação  posterior de  máquinas de guerras de várias espécies. Em determinadas épocas históricas, a matéria liberada transforma a terra em um território geostórico caótico onde só existem máquinas de guerra totalitárias e escravos (ou povos a serem escravizados) como a Idade Média Europeia (e o Brasil colonial). Neste tempo geostórico, o significante dominação weberiano é realmente um tipo ideal que raramente se instala na terra.     
Tal episteme totalitária (RSI) age sobre o mundo aplicando força sobre o caos do cérebro constituindo discursos que articulam a história política universal desde a civilização arcaica. O discurso do mestre é o primeiro artefato epistémico na produção de tal história através da articulação de cultura política totalitária e das máquinas de guerra totalitárias derivadas de tal cultura. O buraco negro simbólico é compatível com o contraconceito de repetição  Nietzschiana (eterno retorno do mesmo) para a história política universal. Já a algum tempo, um buraco negro simbólico está atraindo a matéria do RSI {homem (grego), humano (Freud), instituição política (Weber) etc.} e liberando Coisa totalitária na superfície política do mundo-da-vida e na política stricto sensu. No mundo-da-vida, há liberação de nanomáquinas de guerra em escala planetária no lugar da humanidade. Na política stricto sensu, o homem moderno condensado em instituição política (que se define pelo uso inibido de violência) está sendo substituído por cultura política totalitária que articula máquinas de guerra totalitárias que se definem como um polígono. No primeiro lado deste polígono, encontra-se o Urstaat que é liberado pelo buraco negro simbólico - modelo arcaico de toda e qualquer máquina de guerra totalitária. O discurso do mestre é o outro lado do polígono totalitário que libera cultura política que estrutura o mundo a partir da estrutura RSI INJUSTIÇA. Trata-se de um polígono totalitário menor dentro do polígono maior totalitário. Os vários lados da INJUSTIÇA são: a) fazer o mal sem ser punido; b) sofrer o mal sem reparação; c) usar o poder para ajudar os amigos; c) usar o poder para prejudicar os outros (objeto=inimigo). Este é o RSI que está sendo liberado caoticamente pelo buraco negro simbólico estacionado próximo à TERRA. Pura ficção científica?     

INTELECTUAL/COMÉDIA
O conceito de intelectual passou para o proscênio da vida cultural com Gramsci. Com este marxista italiano e fundador do PCI, o intelectual passou a existir – de um modo distinto do homo clausus cultural burguês – como agente da articulação da cultura com a política. Trata-se obviamente do intelectual “orgânico” em um contraponto ao intelectual inorgânico. Mas Gramsci vai além! O Príncipe Moderno é o intelectual coletivo na figura do Partido Comunista. Para existir, o Príncipe necessitava da existência do intelectual hegemônico. Esta episteme política marxista concebia a política moderna – talvez a política ocidental em várias épocas – como dominação e hegemonia. A dominação se refere ao exercício do poder político pela violência física exercido por uma máquina de guerra militarizada. A hegemonia significa o exercício do poder político exercido pelo discurso ideológico no território da cultura através dos intelectuais. Com a cultura industrial de massas, o exercício desse poder ideológico adquiriu uma importância descomunal. Mas afinal, o que é o poder?
O poder é a aplicação de força sobre determinada matéria (objeto). A aplicação física pode chegar até a desintegração do objeto. Quando o Estado age como uma máquina de guerra militarizada aplicando força sobre a multidão, a finalidade política, em geral, é a desintegração do objeto (multidão). O poder ideológico é uma espécie de poder político cuja aplicação de força simbólica sobre o objeto-multidão a desfaz como laço social. No Brasil, a ação da televisão contra a multidão de 2013 buscava esta finalidade. Trata-se da televisão, especialmente, como máquina de guerra clowniana que faz da comédia vulgar a sua arma simbólica contra a multidão. Nesta máquina ideológica, os seus intelectuais são clowns eletrônicos que dramatizam a violência da multidão como algo terrível. O clown ideológico faz as massas televisivas gozarem com a violência das máquinas de guerra do mundo-da-vida no cotidiano apresentando-a como comédia vulgar, e, simultaneamente, condena a violência da multidão como quase terror, como quase terrorismo. A lei contra o terrorismo no Congresso é uma lei tecida – com imagens e palavras – pela televisão. E tudo isso se passa no terreno da hegemonia? No lugar da produção de ideias, a televisão irradia palavra-imagem. Isso é um espelho d’água narcísico que captura o desejo grotesco das massas de espectadores: sentir horror. Essa energia narcísica articula as massas de espectadores ao inconsciente político ariano!
Gramsci acreditava que a produção de ideias hegemônicas organizava um espaço de interseção entre a cultura e a política. Esta seria a função dos intelectuais no funcionamento do poder político. Hegemonia versus contrahegemonia seria o resultado de uma dialética que, no terreno da cultura, opunha intelectuais representando classes antagônicas. Assim, poder e contrapoder seriam artefatos simbólicos da sociedade de classes. Não é preciso um grande esforço para entender que a teoria gramsciana do intelectual perdeu sua substância: a dialética da sociedade de classes. Então por que os intelectuais universitários continuam dizendo que a política é pautada pela lógica direita versus esquerda? Baixa comédia? Eles continuam fazendo de conta que a direita representa o capitalismo e a esquerda o socialismo! Essa é a função atual do intelectual? Fingir que há um espaço de exercício da hegemonia capitalista e de contrahegemonia socialista? Enquanto o intelectual moderno gramsciano brinca de fazer política no plano das ideias, a cultura industrial de massas é o poder clowniano que age no plano fáctico 24 horas por dia, todos os dias, de segunda à segunda. Isso é a verdadeira comédia de massas. Esse poder faz e desfaz, cotidianamente, os laços simbólicos da população quanto à capacidade desta de interpretação da crise nacional. Mas a comédia foi sempre um monopólio cultural do poder usado pela cultura política totalitária como um exercício de força simbólica para desfazer a multidão como laço social? 
No século XII, os clérigos goliardos constituíram-se como uma contramáquina de guerra clowniana transformando a política em alta comédia através da poesia satírica. A ordem feudal taxou-os de errantes, vagabundos, lascivos, pseudo-universitários e bufões. Eles misturavam, com muita competência, a vida clerical, a vida universitária e a bufonaria da feira. Como surgiu esta contramáquina de guerra poética satírica em um mundo que tinha horror, sobretudo, à anarquia intelectual e a comédia? A poesia goliárdica atacava todos os representantes da ordem no século XII: o eclesiástico, o nobre e até o camponês. Na Igreja, os alvos favoritos dos goliardos eram o papa, o bispo e o monge. Os goliardos aparecem como a primeira contramáquina de guerra poética que procura promover, dentro do quadro urbano, uma cultura laica. Eles podem ser classificados como um artefato simbólico do espírito grotesco romântico, pois engendraram uma galeria de eclesiásticos metamorfoseados em besta: monge, bispo, papa. Existe hoje no Ocidente algo levemente parecido com esta contramáquina de guerra poética? Trata-se da primeira máquina de guerra intelectual contratotalitária mergulhada em um mundo católico-feudal hiper-totalitário! Charlie Hebdo seria – até ser destruído física e simbolicamente pelo Islã Político – a repetição diferente e lúdica dos goliárdicos? Existe no Brasil a possibilidade de surgimento de um pensamento político que faça da alta comédia uma arma simbólica para a defesa das multidões políticas?      
ERCEIRIZAÇÃO DO TRABALHO/CAPITALISMO DE ENGENHO

A CUT considera que a terceirização das relações trabalhistas seja o fim da CLT. Falando pelo governo, Joaquim Levy é contra o projeto de EDUARDO CUNHA por considerar que ele vai acarretar a imigração do trabalho formal para o terceirizado provocando uma queda fatal para o governo na arrecadação. Para o governo seria, portanto, um problema fiscal enquanto para os trabalhadores é uma questão que atinge os consagrados direitos trabalhistas instituídos na ditadura militar. Para a CUT, o projeto da terceirização é uma ofensiva da burguesia industrial sobre os direitos da classe operária. Trata-se de luta de classes econômica levada no terreno político: Congresso nacional. Toda luta de classe é uma luta política! Em bloco, o PT se bate contra o projeto mostrando que é um partido operário, o partido da classe operária brasileira. Já o governo Dilma Roussef é contra o projeto por ele ser um problema fiscal rotundo! O governo não é o governo da classe operária. Parece pusilânime? O governo quer que a CUT o defenda na rua contra o impeachment, mas nega na prática, em um momento crucial e fatal para os operários, sua ligação orgânica com os trabalhadores. É o velho problema da autonomia relativa do Estado em relação às classes sociais. O Estado pode não ser uma correia de transmissão dos interesses das classes; de nenhuma classe. Marx nos ensinou isso no seu livro “18 Brumário de Luís Bonaparte”. Então, por que o senhor de Engenho político do Vale do Paraíba (líder do modelo por excelência de partido oligárquico entre nós) tornou-se o defensor dos interesses econômicos, políticos e ideológicos do capitalismo no Brasil? O PMDB não é uma instituição política (WEBER), mas uma máquina de guerra oligárquica colonial que volta seus canhões contra a classe operária.  Por quê? Porque tal máquina é organicamente ligada no campo simbólico ao capitalismo autárquico, do capitalismo de engenho tocado a carro de boi. A verdadeira desgraça da classe trabalhadora não é o capitalismo, mas a espécie de capitalismo brasileiro. Os operários são os escravos “modernos” desta forma de capitalismo colonial. O discurso do capitalista no Brasil é o discurso do senhor de engenho: EDUARDO CUNHA!               

RACIALIZAÇÃO/USA
“North Charleston, terceira cidade mais povoada da Carolina do Sul, tem 100.000 habitantes, 47% dos quais são negros e 37%, brancos. O departamento de polícia, entretanto, é composto em 80% por brancos, segundo os últimos dados do Departamento de Justiça, de 2007”.
A força policial branca da polícia norte-americana enlouqueceu? O racismo pode ser concebido como uma coisa ligada ao campo dos afetos, uma paixão que agencia a cólera contra o outro, ou será contra o Outro? A inexistente sociologia disciplinar concebia o racismo como um problema entre dois grupos “raciais”. No caso dos USA entre brancos e negros. Lá, uma gota de sangue negro faz de um branco um negro. Os USA querem que a racialização da sociedade seja um problema biológico. No entanto, a espécie humana é geneticamente mestiça.
A racilização não é um fato biológico, mas um artefato do laço social (=sociedade) da episteme política RSI (Real/Simbólico/Imaginário). Ela é um saber articulado pelo discurso do mestre americano, no caso dos USA. Oliveira Vianna estabeleceu que a episteme política brasileira (episteme do engenho de cana-de-açucar) fez um laço social em torno da relação “étnica entre branco senhorial e mestiço como problema central da história política brasileira. Segundo Vianna, a questão brasileira sempre foi impedir que a comunidade dos mestiços tomasse o poder político material ou Espiritual. Trata-se do discurso do senhor de engenho associado ao inconsciente político ariano em uma dialética com o inconsciente político mestiço. Assim, o Brasil faria parte de uma linha de força da história política universal. Já os USA teriam se constituído por uma linha de força moderna? A episteme política americana seria uma liberação do buraco negro simbólico responsável pelo mundo moderno americano que assimilou a população negra africana como uma mercadoria das redes mercantis a partir dos Grandes Navegações. O africano foi liberado pelo buraco negro simbólico - que estacionou ao lado da Terra - como mercadoria de um capitalismo mercantil que está na origem do modo de produção especificamente capitalista. A injustiça é a estrutura que articula o mundo-da-vida moderno que teve como motor o capital mercantil como a máquina de guerra totalitária que antecede na aurora da modernidade o grande capital industrial.        
No Brasil, a inexistente ciência política disciplinar e o jornalismo dos quatro costados insistem que os USA é um país democrático, um país de uma cultura política democrática com esta mancha antidemocrática: a racialização da sociedade. Se a racialiização não é um problema sociológico, o que ela é de fato? Não se trata de uma racialização sociológica espontânea entre brancos e negros. A racilização não é um fato da cultura política americana no mundo-da-vida? Ela é externo-centrada em relação à vida democrática dos USA? Uma herança patológica do modo de produção escravista colonial americano? Se é assim, tal modo de produção foi o motor da constituição de uma cultura política totalitária secular que é parte do mundo-da-vida americano no século XXI. A opinião liberal norte-americana acredita que se a população da força policial for inundada por negros, a racialização será desfeita como laço social e a questão da violência policial resolvida. No Brasil, a força policial é constituída de negros e mestiços – em sua maioria – fazendo parte de uma máquina de guerra híbrida totalitária que – segundo a Anistia Internacional – assassinou 1000000 de negros e mestiços nos últimos 30 anos. Isso é a cultura política totalitária brasileira que cultiva e articula máquinas de guerra totalitárias. Não se trata de patologia, mas de normalidade e normalização da sociedade brasileira no mundo-da-vida. Por que nos USA isso é uma simples patologia curável com a engenharia social dos saberes inexistentes da sociologia, da antropologia e da ciência política agenciados pela boa-vontade do poder americano?      

A PESTE NEGRA POLÍTICA
A CPI da Petrobrás recebeu o Tesoureiro do PT para interrogatório. José Vaccari Neto representa a burocracia do PT e ele é provavelmente da facção stalinista que domina o partido desde que José Dirceu assumiu a Secretaria Geral deste aparato político. Este já foi a esperança utópica de representação da praxis manufatureira política capaz de produzir um país próspero e livre.  A maioria do eleitorado acreditava nisso de 2003 até o fim de 2014. Hoje, o PT é anátema!
A burocracia do partido e a representação parlamentar do PT construíram a versão – tecida pelo marqueteiro do partido João Santana – de que o partido é inocente, que ele não fez nada. O discurso do PT diz que a Crise da Petrobrás não existe (assim como não existe a CRISE BRASILEIRA) e a prova disso é a vitória de Dilma Rousseff na eleição de 2004. O PT ignora a queda brusca da popularidade da presidenta e do governo (e a sua possível desintegração) a taxas alarmantes mesmo para o mais autista dos políticos. O autismo é o traço unário do político brasileiro. Essas taxas são a prova matemática de que a CRISE BRASILEIRA caiu na boca do povo. Mas o trabalho da toupeira é invisível.
Um funcionário do Congresso espalhou ratos na sala da CPI e foi imediatamente demitido por Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal. O rato é um animal que vive nas catacumbas e nos esgotos e sempre foi uma ameaça à humanidade. Ele é o portador da peste negra que costumava dizimar as populações da terra até o advento da era moderna. Para o funcionário da Câmara, o conceito concreto de político brasileiro (condensado no PT) significa a peste negra política. Trata-se de uma peste que pode também trazer a morte à população. O político que espalha a peste negra é o avesso da elite republicana. Ele é a prova definitiva que não existe uma ELITE REPUBLICANA e, portanto, ele é a CERTEZA da impossibilidade de solução da CRISE BRASILEIRA dentro do arcabouço constitucional da República Democrática de 1988. A solução da elite-peste negra é demitir o funcionário e, se puder, calar todos aqueles que estejam mostrando que a peste é a lógica do desmoronamento do país. O gesto de Eduardo Cunha foi um ato totalitário aplaudido pelo PT e por quase todos os deputados presentes na reunião da CPI. Este episódio de ratos  e vaccaris no Congresso Nacional não jogou uma estranha luz no conceito concreto POLÍTICO BRASILEIRO?

DA TIRANIA/FERNANDO PESSOA
No Brasil, Fernando Pessoa é apenas conhecido, principalmente, por sua poesia. O livro “Ultimatum e páginas de sociologia política” é um livro sobre física da política. É um livro de 1918 escrito por causa da Primeira Guerra Mundial. Esta é concebida como um fato do campo dos instintos, ou seja, do inconsciente político europeu. O conceito de tirania de Fernando Pessoa tem como essência a ideia de força: “Temos, pois, que a tirania é o exercício de força”. A essência da força tirânica é o que nos: “obriga absolutamente a fazer ou deixar de fazer uma cousa, sem que possamos tomar outro partido; ou nos obriga a fazer ou deixar de fazer uma cousa, castigando-nos ou sujeitando-nos a prejuízos e a males vários de tomamos outro partido”. Há três espécies de força: a forca física; o número; o habito (tradição e fantasma do futuro=utopia). Há várias formas de tirania como, por exemplo, as tiranias religiosa e política. Quando rezo, a tirania religiosa é a força aplicada por mim em mim. A Inquisição foi tirania política exercida em nome da religião católica. O homem (mulher ou criança) bomba é tirania política em nome do Islã político.
Uma forma de tirania é a TIRANIA DO DESTINO, a única tirania absoluta. A tirania do destino substitui o acaso pela lei natural, a sorte é tragada pelo determinismo. Quando na política de um país (de um povo) é suprimido o acaso e ele passa a ser regido pelo determinismo da lei natural, isso é a mais totalitária das tiranias: a tirania do destino. Qual força tirânica (como um conjunto de forças que constituem um poder político unitário em um quadro global de forças) constitui-se como uma aplicação global de força que determina o destino do Brasil? A nossa tirania do destino NÃO é ter uma elite impotente para solucionar a CRISE BRASILEIRA? As páginas de Fernando Pessoa (sobre a política como física das forças do inconsciente político e da razão) não podem jogar uma luz sobre a tirania do destino brasileiro? O poeta diz: “Uma ideia expressa é uma força; nunca é demais fazer valer os direitos da Inteligência”! A poesia da física da política não pode ser uma força capaz de reverte a tirania do destino? 

FÍSICOS LITERÁRIOS DA POLÍTICA/MACHADO DE ASSIS
Já está estabelecido Fernando Pessoa como o maior físico poética da política em língua portuguesa. Agora estabelece-se Machado de Assis como o maior físico literário da “última flor do Lácio, inculta e bela”. O conto em extensão “O Alienista” é um objeto físico-literário, uma obra-prima da interseção da ficção com a cultura política na superfície literária do mundo-da-vida O General Golbery do Couto e Silva foi o gênio da raça política da ditadura militar? Quem disse esta barbaridade? Já Machado de Assis é o gênio da raça universal. “O Alienista” poderia constar no cânone literário ocidental como o conto mais canônico da língua portuguesa ao lado do Hadji Murad, de Tolstoi, o mais canônico dos contos canônicos da literatura ocidental.
A estrutura da superfície da cultura política literária do mundo-da-vida de Itaguaí (Rio de janeiro) faz dessa cidade um objeto que é a junção de uma cidade ficcional com uma cidade real, ou seja, uma cidade mitológica. Com o nosso Machado, Itaguaí torna-se um significante ficcional-real da física da política brasileira. Há um contraconceito de poder nessa física. Ele é um conceito dialético do choque de forças entre a aplicação de violência física-simbólica do poder psiquiátrico sobre a população e a reação da cidade como força autodefensiva (contraforça): “A ideia de meter os loucos na mesma casa (hospício), vivendo em comum, pareceu em si mesma um sintoma de demência, e não faltou quem o insinuasse à própria mulher do médico” (Machado. O. C: 254). Depois a cidade se rebelou contra a Casa Verde: “Morra o Dr. Bacamarte! Morra o tirano! uivaram fora trezentas vozes. Era a rebelião que desembocava na Rua Nova”  (Idem: 271)).  
Para os amantes de Michel Foucault, “O Alienista” pode ser reconstruído pela episteme política microfísica do poder: a cidade com um território geográfico literário ocupado por um dispositivo de saber-poder: a psiquiatria. Para a física da política, Itaguaí é o território físico-literário ocupado por uma máquina de guerra psiquiátrica literária. Trata-se da máquina de guerra psiquiátrica mitológica que teria criado o protótipo literário do hospício Juliano Moreira carioca de Jacarepaguá: o campo de concentração para psicóticos. Os contraconceitos estratégicos do Alienista são: a superfície literária da cultura política como mundo-da-vida; a máquina de guerra psiquiátrica mitológica e a cidade como contrapoder.
O alienista é a narrativa sobre o médico Simão Bacamarte que caminha para atingir sua finalidade em Itaguaí como máquina de guerra psiquiátrica – regulamentada pelo poder legislativo - contra todas as expectativas: “_ Os cálculos não são precisos, disse ele, porque o Dr. Bacamarte não arranja nada. Quem é que viu agora meter todos os doudos dentro da mesma casa? _Enganava-se o digno magistrado; o médico arranjou tudo. Uma vez empossado da licençcomeçou logo a construir a casa” (Idem: 255). A cidade inteira ia sendo encarcerada como louca como um personagem do “Elogio da Loucura”: _ Nada tenho a ver com a ciência; mas se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?” (Idem: 270). Se o Dr. Simão Bacamarte ressuscitasse hoje quem ele encarceraria na Casa Verde: o PCPT ou a classe política brasiliense? Ambos?
CUBA/USA
A aproximação entre Cuba e os USA é um signo capaz de enviar um conjunto de sinais, capaz de articular múltiplas significações. Obama é esta máquina de guerra política americana que tem o poder quase divino de provocar uma mudança histórica no imaginário latino-americano. Guevara estabeleceu que com Cuba a América seria duas: a América dos USA (e Canadá) e a América Latina. Não se trata de uma repartição entre uma América anglófila e uma América luso-espanhola (latina)? Esse fantasma do passado é um hábito-força que se juntou a um hábito-força fantasma do futuro (socialismo realmente existente) que Cuba queria tornar sangue e ossos em toda a América luso-espanhola. Assim, a história política das Américas tornou-se uma história determinada pela lógica fantasmática. O fim da Guerra Fria não esconjurou a lógica do fantasma do futuro que parecia ter se materializado nos corpos políticos dos governos petistas (=Lula) e dos bolivarianismos no século XXI. Octávio Ianni diria que tal ciclo histórico está sendo encerrado e com ele o gozo conspiratório da história fruído principalmente pela esquerda.
Os USA patrocinaram golpes de Estado em toda a América Latina (latrina política para norte-americanos como Henry Kinssinger e o general Wernon Walters). Vivi toda minha infância, adolescência e uma parte longa da minha vida adulta em uma ditadura militar que os USA ajudou a implantar e a se reproduzir em nome da luta contra o comunismo. É praticamente impossível esquecer tal fato! João Goulart, JK, Miguel Arraes e Brizola eram comunistas? O golpe de Estado USA+ militares totalitários+ oligarquia brasileira foi desfechado contra eles! Foi um golpe de Estado que interrompeu o desenvolvimento do conceito concreto de democracia no Brasil e da constituição da elite republicana, entre nós. A corrupção na escala ciclópica é uma obra política da aliança dos generais com os coronéis do SERTÃO ARIANO!   Esse é o mais fáctico significado do conceito de ditadura militar brasileira: corrupção e antires publicanismo. Agora que chegou a hora da onça descer para beber água (a CRISE BRASILEIRA), o país talvez se empenhe em simbolizar a partir das significações que Obama e Raul Castro estão doando à América. Obama é a máquina de guerra imperial de um império agora inexistente. Em relação à Cuba, o ato de Obama obedece a um cálculo político da lógica do desmoronamento do conceito concreto IMPERIO AMERICANO!     
CRISE BRASILEIRA/2015
Comecei a estabelecer o conceito de CRISE BRASILEIRA em 16/09/2014 e 23/09/2014. Estava ministrando na universidade um curso chamado “Crises da realidade brasileira”. A turma era formada por uma maioria de alunos petistas e do PSOL. Os alunos interpretaram o conceito como uma tentativa de ganhar votos para Marina Silva em um reduto do PT e de Dilma Rousseff. Na época, o PCPT não existia e os textos foram publicados no meu blog. Em setembro de 2014, a ideia de crise brasileira era vista como um simples delírio professoral. Freud diz que se você delira sozinho, você está louco. Se outros participam do teu delírio você não está louco, pois o delírio que faz laço social não deve ser catalogado como loucura. Freud não considerava Hitler louco! Em 2015, o delírio crise brasileira é a linguagem-espelho da realidade! Até FHC usa o termo crise brasileira.
O conceito concreto CRISE BRASILEIRA é a síntese de múltiplas contradições e determinações. Na velha linguagem usada por FHC é a crise que contém várias crises: econômica, política, moral etc. Como contraconceito, a CRISE BRASILEIRA é a crise das cadeias de significantes (econômica, política e cultural) sobredeterminada por um significante. Este é a junção da cultura totalitária com a cultura oligárquica. Os leitores do PCPT já sabem que a interseção do totalitarismo com o oligárquismo se define na episteme política “Engenho de cana de açúcar”. Tal episteme nasceu no Nordeste brasileiro e seu maior interprete continua sendo Gilberto Freyre? Trata-se da dialética senhor versus escravo metamorfoseada em dialética entre o inconsciente político ariano e o inconsciente político mestiço. [Gilberto concebeu o Engenho pela dialética senhor ariano e escravo (negro)].  Trata-se do discurso do senhor do engenho como modelo da episteme política que tem articulado a nossa história política, desde o Brasil colonial. Sim! Caio Prado Jr sempre teve razão! A história brasileira é a repetição (diferente e lúdica) do modelo Brasil colonial! Ele só não podia saber o quanto esta verdade é verdadeira! Caio Prado diz que a revolução brasileira ou se faz por uma ruptura radical com o Brasil colonial, ou não se faz!
Agora, a Crise Brasileira está se transformando na lógica do desmoronamento das classes sociais subalternas urbanas: classe operária e classe média. Na imprensa, o recatado sacerdote do jornalismo independente Juan Arias já escreve sobre a necessidade de uma ruptura política, antes que seja tarde demais. Este jornalista espanhol-brasileiro representa os interesses das classes subalternas e do país na nossa cultura. Ele é o movimento das contradições do passado, presente e futuro na cultura. No entanto, Dilma Rousseff diz para todos os presidentes das Américas – reunidos para encerrar o fim da Guerra Fria no continente americano-  que não há crise no Brasil. Ela é o avestruz que enterra a cabeça sob a terra para deixar a tempestade de areia passar na Austrália ou em algum desenho animado norte-americano da minha infância! Só falta os petistas substituírem o marketing de João Santana por cantigas de nina! O PCPT está esperando ansioso!                 

DIALÉTICA E POLÍTICA
Engels foi severamente reprovado por sua dialética da natureza. Ele tentou conceber a NATUREZA por uma episteme política ignorada pela comunidade científica e odiada pela filosofia positivista. Hegel concebeu a NATUREZA como impossibilidade epistêmica. Engels não devia ter ignorado este axioma do mestre da dialética moderna. Vanguarda das máquinas de guerra de pensamento capitalista, a filosofia positivista sempre considerou a dialética materialista uma pseudofilosofia e um método científico naïf. Ela ignorou que Lenin usou a dialética materialista para fazer a Revolução Russa em um país semicapitalista. Os positivistas consideram a Revolução Bolchevique algo da lógica fáctica, da lógica dos fatos. Lenin que sabia que a dialética é a lógica artefatual dos fatos foi além do conceito de revolução marxista impossível na Rússia semicapitalista e dominantemente feudal. O conceito dizia: só se pode fazer revolução socialista nos países capitalistas desenvolvidos. Então, Lenin transitou do conceito para a Ideia de revolução. No “Cadernos sobre a dialética de Hegel”, ele concebeu a Ideia de revolução, ou seja, o contraconceito de revolução: “O conceito não é ainda a noção mais alta; ainda mais alta é a “Ideia” = unidade do conceito e do real”. Essa episteme materialista dialética contida na episteme global RSI (Real/Simbólico/imaginário) de Lacan diz que o REAL é a lógica fáctica. Mas, ele é, essencialmente, o buraco negro do conceito dialética materialista. Mas não do contraconceito dialética materialista. O conceito europeu de revolução social pode cair no buraco negro oriental europeu (e depois asiático) e ser liberado como contraconceito Revolução Russa (e Revolução chinesa). Diante destes fatos históricos, o positivismo é apenas uma máquina de guerra ideológica capitalista niilista!
O contraconceito de CRISE BRASILEIRA é parte da episteme (contraepisteme) da física da política. Na lógica da contraepisteme desta física, o conceito de crise brasileira está sendo atraído pela gravidade da energia narcísica do buraco negro (= REAL). Por canais misteriosos, Dilma Rousseff sabe que o Real pode tragar a multidão na rua. Então, ela espera isso, ou seja, isso que para ela é um fenômeno misterioso. Ela deve se achar um personagem do filme Hobbit. O Real brasileiro deve ser visto como a estrutura que sustenta a distância absoluta entre a superfície política do mundo-da-vida (RUA) e a política institucional. Trata-se de uma estrutura totalitária. Nesta estrutura, o partido é e não é partido. A física da política pensa o partido como força. E Lenin diz que “a força é a unidade negativa na qual é resolvida a contradição do todo e da parte”. Um partido como instituição política é uma força constituída para levar para a política institucional a lógica da multidão, se esta representa a maioria da população: força numérica (todo). Assim. o partido resolve a contradição entre si (parte) e o todo (Nação).
O partido deixa de ser um partido quando a sua lógica passa a ser apenas a lógica da parte desligada do todo: privatismo político. Ele deixa de ser um partido e passa a agir como máquina de guerra política de uma cultura política totalitária-oligárquica. Nessa contraepisteme política,  a dialética materialista é a dialética do inconsciente político. A política não é um agir orientado pelas consciências. Isso é o mínimo que uma política do homem poderia almejar! Ela é hoje no Brasil o domínio das maquinas de guerra política, mediática, jurídica. Por isso, o leitor não deve se impressionar com a sociedade do espetáculo das máquinas de guerra. Em algum momento, o buraco negro pode também tragar as máquinas de guerra e liberar a revolução brasileira!   
NAÇÃO/ELITE NACIONAL
Um europeu disse que a nação é uma comunidade imaginada. Ele esqueceu de dizer que ela não é apenas da ordem do imaginário. Ela é também um artefato simbólico fabricado na interseção da cultura em si com a cultura política no mundo-da-vida e na política in nuce. A União Europeia tem o lado do desmoronamento da lógica articuladora das nações europeias? Nas duas grandes guerras mundiais, as nações europeias viram e viveram o espetáculo de banhos de sangue de dezena de milhões de pessoas no enfrentamento dessas nações como magnas máquinas de guerras psicóticas. O enfrentamento principal na Segunda Guerra foi entre duas magnas máquinas de guerra psicóticas e totalitárias: Hitler e Stalin. Cansados de tais máquinas de guerra psicóticas, uma elite ilustrada imaginou a União Europeia. O globalismo neoliberal da década de 1990 parece ter atribuído um sentido apenas capitalista a tal projeto de unidade da Europa. Então, a coisa toda é sugada pelo buraco negro simbólico estacionado na política mundial.
O Brasil também foi fabricado como comunidade imaginada e artefato simbólico nacional. Apenas para ficar em um exemplo, o conceito de cultura brasileira de Gilberto Freyre era essa fabulação imaginária e simbólica do Brasil-nação. As religiões afro-brasileiras, o sincretismo religioso, a Semana de Arte moderna, a música clássica de um Vila Lobos e a música popular brasileira - que encantaram brasileiros e até estrangeiros - são – foram – um agenciamento da riqueza narcísica (energia narcísica) para o cultivo e a articulação do Brasil-nação. Isso exigiu uma vontade de saber-poder voltada para a construção da nação e para a sua reprodução. Qual foi o papel da classe política nesse processo cultural em si e cultural político? Nenhum? Entre nós, a classe política não se constitui culturalmente como elite nacional. Os marxistas latinos americanos já baterem suficientemente nesta tecla. O fascínio pela Cuba de Fidel não se encontra no fato de uma ilha do Caribe ter engendrado uma elite como elite nacional ao lado dos USA? Os norte-americanos não têm sua elite nacional como um dos tesouros do Tesouro dos USA? Agora, que o capitalismo constituiu-se como uma máquina de guerra econômica antinacional como devem os latino-americanos (e o Brasil) agir diante desse fato?                                                     
                   

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Leitura das máquinas de guerra antigas, modernas e outras

O OCIDENTE É UM CADÁVER QUE CHORA?
“A República” de Platão é uma obra de um filósofo e de um físico das máquinas de guerra. A filosofia política de Platão não é filosofia, mas, sobretudo, física das máquinas. Platão criou a partir da cultura oral de Sócrates a dialética episteme versus doxa. A episteme significa máquina de guerra de pensamento platônica e a doxa máquina de guerra sofista. A episteme articula “A República” de Platão como o nascimento de uma estrela: o Ocidente como máquina de guerra política-cultural contra o Oriente. Derrida mostrou como Pólemos (guerra  externa) e stásis ( discórdia=luta política) criaram a fronteira entre a polis e o mundo bárbaro (oriental). A polis é o lugar da paz, pois nela, o homem busca a felicidade. Aristóteles foi categórico sobre esta questão: “E pensamos que a felicidade depende do lazer, pois trabalhamos para ter direito ao lazer, como fazemos a guerra para poder viver em paz”.
O Ocidente é a junção da cultura greco-romana com a cultura política greco-romana que tem sua forma mais acabada na Roma res publicana. Esta inventou a hegemonia como articulação da cultura com a política metabolizando os artefatos simbólicos da cultura grega. Hegemonia significa a luta cultural na superfície política do mundo-da-vida que evita a instauração do reino das máquinas de guerra na política strictu sensu. O Império romano significou a desintegração da hegemonia res publicana  e sua substituição pelo discurso do mestre cesarista que articulou a cultura política totalitária imperial como dominus do inconsciente político romano. Mas não devemos nos perder nos meandros da história romana. Pois, o fundamental é que o choque político com o Oriente definiu o Ocidente como máquina de guerra imperial em constante batalha para se autodefender ou tonar-se imperialista em relação ao Oriente. A história política universal nasceu no Oriente; o Urstaat nasceu oriental (arquétipo-máquina de guerra das máquinas de guerra) e o mundo greco-romano foi um ponto de inflexão na história universal. No livro “Filosofia da história”, Hegel quer provar que a história universal é ocidental. Hegel é a máquina de guerra de pensamento platônica moderna que retoma a dialética Ocidente versus Oriente no século XIX pela negação do Oriente como parte positiva e autônoma da história universal. Na idade Média, as Cruzadas foram apenas o sintoma deste choque quase permanente entre Ocidente e Oriente.
O livro “A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental” anunciou o fim do Ocidente no território da cultura mundial. Husserl faz da fenomenologia transcendental a máquina de guerra de pensamento platônica que ia salvar a cultura europeia. Mas Nietzsche tinha razão quanta a soberania da pulsão de morte (vontade de matar) na história universal. Soberania que o Ocidente tentou esconjurar através da distinção entre pólemos e stásis: paz para cidade-estado e guerra para o exterior. No entanto, pólemos se impôs como lógica política no espaço europeu (agora visto como uma cidade-estado) – na Primeira Guerra Mundial e na Segunda – como lógica da pulsão de morte (uso da violência sem limite ou lei) agenciada pelas frações da oligarquia financeira internacional em luta. Isso gerou um banho de sangue apocalíptico – através dos Estados-nação-  que devorou dezenas de milhões jovens europeus. Freud ficou chocado e chamou isso de mal-estar da civilização europeia!
Assim, o Ocidente europeu parecia ter chegado ao fim. Mas ele sobreviveu como uma cópia americana do ocidente: os USA. A cópia americanizou do Ocidente (=Europa) ao ponto deste ficar irreconhecível, pois tratava-se de um simulacro de simulação do Ocidente. Mas tudo parecia continuar o choque entre o Ocidente (USA) e o Oriente agora marxista (URSS, China). A guerra do Vietnã foi o maior choque traumático orientalista para o Ocidente americanizado. No entanto, o fim da URSS apareceu como a vitória definitiva do Ocidente americanizado sobre o Oriente marxista suplementada pelo globalismo neoliberal. Tratava-se do apogeu do Ocidente, simulacro de Ocidente! Depois, os USA deixaram de ser a única superpotência da política mundial e o globalismo neoliberal entrou em crise. Na Europa e nos EUA, a cultura política totalitária desbancou o individualismo liberal como artefato simbólico no mundo-da-vida e na política strictu sensu. O colapso do modelo oligarquia política híbrida é questão de tempo! Finalmente chegamos no Obama máquina de guerra terrorista-drone em combate com o Oriente (Islã Político), na máquina de guerra criptonazista e antissemita declarada Viktor Orbán e Marine Le Pen: a nanomáquina de guerra totalitária francesa arrependida em Nome do Pai. Enfim, o Ocidente se autoaniquila e sobrevive apenas nos espasmos cadavéricos da cultura europeia mergulhada em um narcisismo infinito. O narcisismo é um recurso evolutivo da história universal que na atualidade funciona na história cultural mundial como um modo de denegação cultural de um fenômeno: o Ocidente é o cadáver que chora lágrimas de cristais!        
                           
HEGEL/MARX/LENIN
Esta postagem é uma leitura de Hegel pela física das máquinas de guerra a partir do livro “Política e Liberdade em Hegel”, de Denis L. Rosenfield. Nós precisamos urgente começar a investigar a história intelectual a partir do agir das máquinas de guerra de pensamento na interseção da cultura com a cultura política, tendo presente que a história intelectual e a história do acontecimento guardam sempre uma autonomia relativa.
Seja qual for o conceito de crítica em Kant e Fichte, em Hegel e Marx ele existe e funciona como máquina de guerra de pensamento. Em Hegel, a crítica é um artefato (arma) simbólico, motor que decide o futuro do mundo na crítica do que é existente. Esta máquina de guerra de pensamento da Ilustração alemã tem em seu agir a realização do processo de simbolização pela articulação da unidade (totalidade que articula identidade e diferença) entre o pensamento e o pensado. A vontade é uma peça desta máquina de guerra ilustrada que articula-a como vontade ilustrada de uma comunidade de homens livres como motor de uma cultura política moderna. A finalidade desta máquina de guerra moderna é liberar, no presente, o que se encontra voltado para o futuro. O futuro dorme no presente!
“O Capital” de Marx tem como subtítulo “Crítica da Economia Política”. Os marxistas acreditaram em Marx e tomaram a crítica da economia política como o método maior do materialismo histórico. Marx não sabia que havia criada a máquina de guerra de pensamento que repartiria o mundo em dois no século XX? Lenin que é o Calvino dessa história disse que uma lógica verdadeira é sempre uma “Logik in Aktion”. Definição sublime da metamorfose da máquina de guerra de pensamento em máquina de guerra política revolucionária. Assim, Lutero (Marx) e Calvino (Lênin) articularam um mundo histórico sob o dominus da cultura política totalitária do socialismo realmente existente.
Pela lógica hegeliana da história, a vontade da máquina marxo-leninista  teve o direito e o dever de dizer não ( afinal a realidade não é um efeito do dizer?) à facticidade (capitalismo), teve o direito e o dever de transformar o realmente existente, teve o direito de não aceitar o mundo como ele é imposto. Assim, o processo de resultante desse movimento (revolução) surgiu com a diferenciação de uma unidade que se tornou, portanto, o seu próprio outro. O conceito se exteriorizou no processo de universalização de sua própria particularidade. Do mesmo modo que o fato não é nada sem o movimento que o constitui em artefato simbólico, a totalidade só existe pelo processo que produz cada parte como membro do todo e, assim, pelo desdobramento de sua particularidade como universal. Tal processo define a revolução como simbolização das figuras do espírito como liberdade e vontade. Hegel foi o pensador da Ilustração que pensou a simbolização na cultura política moderna como futuro do pensamento livre como vida ética e, inversamente, o reconhecimento da vida ética como livre pensamento. Isso é o fundamento do conceito realista de hegemonia da Ilustração articulado pela máquina de guerra de pensamento hegeliana, pois a confrontação e o diálogo são as formas mesmas da produção do conceito. O Príncipe Moderno de Gramsci, inegavelmente, bebeu sofregamente, nesta fonte. Com efeito, não há uma distância estrutural entre “A Filosofia do Direito” e a “Crítica da Economia Política”?   

CORPORAÇÃO DE OFÍCIO FREUDIANA/SANTO OFÍCIO FREUDIANO
Quando morre um campo de pensamento significa que ele perdeu a força da gravidade conceitual e simbólica. Assim, o conceito torna-se visagem do significante. Ele perde sua força de lei, isto é, sua força simbólica. A alma livre o abandona e, ou a alma ancilar se apossa do corpo conceitual, ou, como na atualidade, torna-se um corpo sem alma que pode ser associado ao corpo sem órgão deleuziano: o capital é um corpo desalmado sem órgão.   
A alma de um campo de pensamento como a do campo freudiano era uma alma livre – até uma determinada fronteira geosimbólica – capaz de fazer voos para além do corpo freudiano como Corporação de Ofício Freudiano: o corpo freudiano sem alma. No estágio atual, a corporação freudiana tornou-se o Santo Ofício Freudiano – o corpo desalmado sem órgão {cultura política freudiana do dinheiro (capital)} - através da transformação do pensamento de Freud em algo da ordem do sagrado, ou melhor, do mito (Totem e Tabu): “talvez ao senhor (Einstein) possa parecer serem nossas uma espécie de mitologia e, no presente caso, mitologia nada agradável. Todas as ciências, porém, não chegam, afinal, a uma espécie de mitologia como esta? Não se pode dizer o mesmo, atualmente, a respeito da sua física?” (Freud. Por que a guerra?: 254). A articulação mitológica do pensamento freudiano pelo Santo Ofício Freudiano é metabolizada por uma cultura política freudiana totalitária, que tem seu território principal na cultura industrial freudiana de massas dos USA. Esta não adora mitos cadavéricos?  
Para começar a discussão sobre o totalitarismo do campo freudiano basta tomar com objeto a episteme freudo-lacaniana. O centro tático epistêmico do pensamento de Freud gira ao redor dos significantes: neurose, perversão e psicose. São as estruturas existenciais a partir das quais todo sujeito é determinado, como demonstrou Alain Juranville no seu excelente “Lacan et la philosophie” (Juranville: 242-276). O discurso do analista seria o artefato simbólico através do qual o determinismo das estruturas existências seria reduzido em sua fácticidade possibilitando o sujeito respirar debaixo do oceano freudiano? O totalitarismo freudiano consiste em transformar tais estruturas existenciais nos únicos psisignificantes universais da história política universal, desde a civilização arcaica. Todas as geoculturas políticas articularam-se (articulam-se) – e foram habitadas - apenas por estes psitipos ideias (estrutura) existenciais? Ou, então, eles são os tipos existenciais de um universo finito freudiano que constitui uma vontade totalitária de imperar sobre todos os campos de pensamento da história universal? O pensamento totalitário é um universo fechado, finito. No entanto, esta episteme finita seguia a lógica empiricista totalitária – reversível – que o Santo Ofício Freudiano transformou em cultura totalitária fáctica. Como isso foi possível?
Lacan é o criador do campo freudiano (ele o nomeou assim), pois ele teceu o pensamento formal freudiano – até a matematização, especialmente lacaniana, do objeto freudiano – que institui a episteme facticamente totalitária. O RSI (Real/Simbólico/Imaginário) é a episteme totalitária que possibilita a conceituação dos quatro discursos para toda a história universal. Trata-se de um enunciado tipicamente totalitário: “só existem quatro discursos”. E segue, a história é constituída apenas pelo discurso; não existe fato, somente artefato etc. O RSI foi uma estratégia lacaniana para colonizar todos os campos de pensamento incluindo as ciências ambientais. Para isso, ele bloqueia a lógica do inconsciente nietzschiano: o inconsciente político como TERRA.  Além disso, ele denega a episteme transdisciplinar ou qualquer significante da tradição ocidental eclética, ou retirado da cultura política sincrética. O totalitarismo lacaniano tem horror ao contraconceito inconsciente político mestiço! O RSI opera como uma episteme disciplinar freudiana cuja vontade se constitui como um reducionismo freudiano dos saberes e dos fenômenos, inclusive do fenômeno político. O totalitarismo lacaniano é um fator que concorre para a impotência e inapetência atual da filosofia? Ele ajudou a desintegra a totalitária divisão do trabalho disciplinar do campo das ciências humanas? Estas se recusaram a substituir o seu totalitarismo disciplinar pelo totalitarismo freudo-lacaniano, mesmo depois de mortas. No século XXI, uns e outros tornam-se cadáveres que falam uma língua morta, ou seja, a luz de uma estrela que já não mais existe! E o campo freudiano tornou-se um resto de Ocidente cadavérico que balbucia na liturgia, na língua sagrada, consagrada freudo-lacaniana, do Santo Ofício Freudiano. Estou condenado a vagar eternamente pelo inferno de Dante por profanar o campo freudiano? Mas não é um campo científico? O confronto e o diálogo não são parte do funcionamento substantivo dele?  

RECONSTUÇÃO DA PSICANÁLISE
Na década de 1960 nos USA, Marcuse ensaiou a formulação de um conceito: totalitarismo freudiano. Na década de 1970 na França, Poulantzas transformou o marxismo ocidental em uma arma demolidora do totalitarismo ocidental capitalista. Para ele, o essencial era usar o marxismo para tecer uma cultura política antitotalitária. Simultaneamente na Alemanha, Habermas concebeu uma nova epistemologia: "reconstrução do materialismo histórico". Não é possível ignorar a natureza antitotalitária deste novo campo marxista. Habermas acreditava que o marxismo reconstruído poderia ser metabolizado pela cultura procedimental. Assim, a ideia de esfera pública ilustrada parece vital para o processo de reflexão/simbolização da política no mundo da vida para os sujeitos que não se constituem como máquina de guerra freudiana. Se o totalitarismo deriva da cultura política freudiana e, simultaneamente, articula as máquinas de guerra, a RECONSTRUÇÃO da psicanálise é um artefato simbólico contratotalitário do século XXI. A reconstrução da psicanálise significa a produção de um campo de pensamento funcionando através de contraconceitos como cultura política freudiana, máquina de guerra freudiana, totalitarismo freudiano e outros. Tais contraconceitos serão desenvolvidos pela análise freudo-lacaniana concreta de uma situação concreta. Este é o único interesse que constitui a vontade espiritual de fundação e desenvolvimento da contraciência freudiana da política.
Isso era o estágio do confronto e do diálogo da física das máquinas de guerra com o campo freudiano até o Santo Ofício Freudiano atacar violentamente o contraconceito máquina de guerra freudiana como fruto de uma imaginação sartreana. Hoje, a física das máquinas de guerra se estabelece como uma contramáquina de guerra de pensamento mestiça (eclética, sincrética) articulada ao inconsciente político mestiço a à contracultura política mestiça. Ela é habita por uma alma livre que só e livre por estar enredada a uma ética mestiça. O objeto/alvo desta contamáquina é o inconsciente ariano e o que deriva dele principalmente o totalitarismo em todas as suas formas e cores étnicas. Assim, a reconstrução do campo freudiano só será possível a partir do agir da contramáquina mestiça de pensamento sobre o arianismo (totalitarismo) dele. A contramáquina de guerra de pensamento mestiça reconstrói o pensamento de Lacan, pois: “é que de ex nihilo nada se cria senão o significante” (Lacan. S. 11: 266). Se a história do inconsciente nietzschiano mestiço é parte da história natural da espécie humana, da biologia, ele não é um significante criada ex nihilo. Este enunciado lacaniano do ex nihilo é apenas a prova que o campo lacaniano não fez a passagem do mito (totalitarismo epistêmico) para a história: história natural da espécie humana.

A VERDADE SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA
A comunidade dos economistas profissionais e universitários quer ter o monopólio sobre o pensamento econômico baseado na ideia axiomática de que a economia só pode ser tratada por cientistas, pois trata-se, em resumo, de ciência econômica. Assim, os USA controlaram o pensamento econômico depois da Segunda Guerra Mundial. No contrafluxo deste totalitarismo economicista norte-americano, o nosso Celso Furtado fez uma junção do pensamento econômico com Freud. Então, é preciso ter clareza que o pensamento econômico não é, em sua totalidade, uma máquina de guerra de pensamento totalitária neoliberal. Se tomarmos o exemplo da Venezuela, a história recente deste país começa com a intervenção na economia de uma máquina de guerra neoliberal modelada pelo Consenso de Washington. Reeleito presidente em fevereiro de 1989, Carlos André Peres baixou um plano de austeridade fiscal que foi duramente contestado pela população venezuelana, especialmente a de Caracas. Tal descontentamento popular ficou conhecido como Caracazo e é tido por muitos como a gênese do fenômeno Hugo Chávez (que soube construir sua liderança política ao longo da década de 1990, canalizando este descontentamento). A máquina de guerra de pensamento neoliberal está na origem do domínio da Venezuela pela máquina de guerra bolivariana-chavista que levou a Venezuela para o abismo com Nicolas Maduro. 
Não sou da comunidade profissional dos economistas, mas escrevi um livro demonstrando que o problema econômico da crise brasileira do século XXI encontra-se no governo Fernando Henrique Cardoso e na adoção do modelo neoliberal autárquico FHC pela era Lula. A guinada para um simulacro de modelo capitalista de Estado - que rompe com o modelo neoliberal a partir de 2008 - só piorou a nossa situação. O modelo-2008 introduziu um elemento que a economia brasileira havia superado desde FHC. Tratou-se de evitar permanentemente o funcionamento da economia pela lógica do caos. Guido Mantega é o mestre econômico stalinista (com doutorado em economia na UNICAMP) que fez a economia brasileira passar a funcionar por um discurso do mestre econômico que transformou a população brasileira em escrava potencialmente dócil ao funcionamento da lógica do caos. Este é o problema fáctico que atormenta a vida brasileira. A população já percebeu que a elite tem na panaceia neoliberal (Consenso de Washington) o remédio para a crise brasileira. Hoje, estaríamos em um espaço-temporal da “Revolta da Vacina” no Rio de Janeiro da República Velha? Joa antigaquim Levy é o nosso Oswaldo Cruz? Ou ele é o nosso Moisés Naim, a máquina de guerra de pensamento neoliberal que instalou (irresponsavelmente)o caos político do Caracazo?     

DA ALMA/CONTRAMÁQUINA DE GUERRA
“Da Alma” é um livro de Aristóteles tão fundamental para o campo da física das máquinas de guerra quanto o “A República” de Platão. Os dois tratam da alma como um significante da cultura filosófica da Antiguidade. Platão definiu a alma associada às práticas como dirigir, governar e deliberar e todas as práticas desse gênero (Ediouro: 47). Assim, a alma pode ser má ou boa. A má dirigi ou governa mal e a boa bem. Aí temos uma diferença entre o modelo universal ocidental de máquina de guerra (tirânica) e o homem. A alma má é a alma da máquina de guerra tirânica. A alma boa é a alma da polis (homem). Estamos longe do psicopata que é uma máquina de guerra em si, isto é, sem alma. A alma é uma categoria que alcança Nietzsche: “A alma aristocrática venera a si mesma”. Em Nietzsche o problema do narcisismo não é um problema simplesmente psicológico, ele só adquire inteligibilidade na relação da elite com a cultura política. A elite aristocrática venera a si própria não como um fato gratuito, vulgar. A veneração de si da alma aristocrática estabelece aquele pathos da distância estrutural entre superior (aristocracia) e inferior (plebe). Mais de uma cultura política articula-se a partir da estrutura narcísica, pois esta é o significante mais potente e universal da história natural da espécie humana. Mas não se trata simplesmente do imaginário lacaniano, em jogo. Teólogo evangélico do século XIX, William Channing escreveu: “O desenvolvimento e a proteção de seres humanos como deuses é o objetivo de todas as instituições sociais. O espírito humano é maior e mais sagrado que o Estado e nunca deve ser sacrificado a ele”. Quando os cristãos diziam que a grandeza da alma era o caminho narcísico mais curto para Deus, eles falavam que a grandeza da alma era o caminho da simbolização que elevava o homem ao campo simbólico. Isso é diferente da sublimação da pulsão de morte na cultura em geral: arte, ciência, religião.
A sublimação acadêmica do século XX tomou a alma (e o espírito) como significantes metafísicos a serem secularizados. Mas eles não o foram por uma física das máquinas de guerra, e sim por inúmeras disciplinas universitárias que foram forjando conceitos como mente, cérebro, aparelho psíquico, subjetividade, consciente e inconsciente freudiano. A secularização dos significantes metafísicos como alma (e espírito) restringiram-no ao espaço da cultura política religiosa. A física das máquinas de guerra está mergulhada, ecleticamente, em uma reconstrução da alma como contraconceito. Mesmo a máquina de guerra psicótica tem alma, mas trata-se da alma má platônica. Trata-se da alma que se define pelo mal governo e pela má direção da comunidade dos homens, mulheres e crianças. A alma da máquina de guerra totalitária não simboliza um caminho para a polis em direção ao campo simbólico da cidade-estado. A lógica dela é privatista, a vontade dela é a de privatizar o Grande Outro: particular como simulacro de universal: “Asi, pues: em un ser vivo (ou na polis), como decimos, es donde primeramente no es posible discernir el gobierno del señor (máquina de guerra) y del hombre de estado; el alma rige el cuerpo (político)con el dominio de un señor (máquina); la inteligencia rigi los apetitos  con una autoridad de jefe político o de rey, y en estos ejemplos resulta evidente que es natural y útil para el cuerpo (político) ser gobernado por el alma (da máquina) , y para las emociones ser gobernadas por el intelecto y la parte del alma que posee la razón (contramáquina), mientras que para ambas partes es, en todos los casos, nocivo hallarse en igualdad de condiciones o en posiciones contrarias” (Aristoteles. Política). Note bem! Trocando máquina por contramáquina, Aristóteles antecipou na cultura política da antiguidade o Príncipe Moderno de Gramsci  e de Maquiavel. O significante da cultura política da antiguidade grega aparece como repetição na cultura Renascentista e na cultura moderna, mas diferente e lúdico. Um mistério que a física pretende desvendar. Há uma homologia com Aristóteles na tradução da ideia de hegemonia hegeliana para a cultura política maquiavélica que Gramsci transformou em uma contramáquina: Príncipe moderno. Em Gramsci o Partido Comunista deveria ser uma contramáquina hegemônica antinômica ao Partido Stalinista: máquina de guerra psicótica. O Príncipe Moderno é a junção Príncipe (= Condottiere ou máquina de guerra maquiavélica) com a modernidade política (hegemonia=Hegel). O Príncipe gramsciano tem como modelo particular o condottiere italiano como contramáquina de guerra voltada para uma finalidade, a saber: a construção da hegemonia no sentido hegeliano. Este conceito de príncipe moderno jamais se tornou um fato da TERRA, do inconsciente político (nietzschiano). Ele permaneceu como uma abstração conceitual marxista. Agora, ele deve ser pensado como um contraconceito da física das máquinas de guerra.

CULTURA RELIGIOSA TOTALITÁRIA NO BRASIL

“Na maioria das vezes, trata-se de casas ligadas à Igrejas Católica ou igrejas evangélicas, onde os próprios dependentes de drogas, em estágio mais avançado de recuperação, conduzem os demais pelo caminho da abstinência do vício. O tratamento, muitas vezes, é baseado na leitura da bíblia e o consumo da droga é creditado à influência de espíritos malignos. Não há um número oficial de quantas dessas instituições existem no Brasil, mas um Censo de 2011 da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) aponta que são cerca de 1.800. Em 2011, 68 delas foram fiscalizadas pelo Conselho Federal de Psicologia, que apontou que a regra nas comunidades visitadas era o tratamento sem recursos terapêuticos, com uso de castigos, torturas e a imposição religiosa”.
“Esse tipo de instituição se tornou o centro das atenções no final de 2011, quando o Governo Dilma Rousseff (PT) lançou o programa “Crack, É Possível Vencer”. Desde então, essas entidades, que não faziam parte da rede de atenção aos dependentes de drogas do Governo federal, passaram a ser financiadas pelo poder público. Em 2013, o Governo Rousseff liberou às entidades 82 milhões de reais. Em 2014, o valor subiu para 99,6 milhões, destinado a 375 entidades, que têm, juntas, 8.300 vagas. Órgãos Estaduais e municipais também as utilizam. O Governo de São Paulo, por exemplo, criou o programa Recomeço, em 2013, uma política baseada na parceria com essas comunidades terapêuticas em que a internação à força de dependentes de droga é permitida”.
As Igrejas e os governos querem fazer o bem para a sociedade? A ética religiosa (secundada pela política de Estado) está fazendo o Bem? Trata-se de uma inscrição destes artefatos (Igreja, Estado) no SIMBÓLICO (=Deus)? Ou é a lógica do Diabo de Goethe: “faço bem e também faço o mal? Talvez não seja melhor falar em JUSTIÇA? No “A República”, o que é a injustiça (e a justiça)? Cometer injustiça é, por natureza, um BEM e sofrê-la uma Mal. A origem da justiça estaria no meio termo entre o maior BEM, que é cometer injustiça sem sofrer castigo, e o maior MAL, que é sofrer injustiça sem poder castigá-la! O campo de concentração não é o avesso deste meio? termo. O nazista comete injustiça sem sofrer castigo (os USA e a Argentina acolheram em massa os nazistas e a Igreja católica os protegeu); o judeu sofre injustiça sem poder castiga-la. O campo de concentração nazista não é o conceito prático (universal concreto) de uma máquina de guerra psicótica totalitária? O sofista Trasímaco concebe (e defende) que a justiça é o BEM de um outro (da elite) e o interesse do mais FORTE (totalitarismo), enquanto a injustiça é conveniente e proveitosa para quem a pratica (a elite como máquina de guerra totalitária), e só prejudicial ao FRACO (a população, em geral): “Trata-se do paradigma no direito ocidental da lógica totalitária. A antipsiquiatria foi um movimento contra a lógica totalitária do campo de concentração para psicóticos. Fiz palestra no abjeto Juliano Moreira. Eu vi com meus próprios olhos como funcionava tal campo de concentração: sinistro. Seu fechamento obedeceu à lógica da batalha contra a cultura política totalitária no mundo-da-vida patrocinada pelo Estado, pelo poder público. Agora o poder político privado (igrejas Católica e Evangélica) financiado pelo poder político público ocupam o lugar do nazista (novamente) e os “dependentes de drogas” o lugar do judeu nesta máquina de guerra freudo-heideggeriana, que é o campo de concentração para “dependentes de drogas”. A comunidade jurídica liberal brasileira não vai intervir neste poder fáctico totalitário? Não chegou a hora de abandonar a tradicional justiça oligárquico-totalitária brasileira colonial (ajudar os amigos, prejudicar os outros=inimigos) por um outro conceito de justiça: “NÃO FAZER O MAL PARA NINGUÉM”! Não é este o tempo de não deixar que a lógica do maior bem (cometer injustiça sem sofrer castigo) regule poderes políticos público e privado? Evitar que tais poderes políticos (privado/público) concorram para instalação da cultura política totalitária no mundo-da-vida brasileiro?     

ANDREASAIRBUS A320
“A revelação de que o copiloto Andreas Lubitz deliberadamente provocou a morte de outras 149 pessoas a bordo do Airbus A320-211 da Germanwings, braço da Lufthansa, autoriza pesadelos e dúvidas: é certo confiar tantas vidas ao comandante a seu parceiro na cabine”. Sim, mas os fatores humanos são essenciais para segurança de voo e devem merecer os mesmos cuidados dispensados às tecnologias” (VEJA. 01/abril/2015: 69).
A VEJA “pensa” a partir do contraponto humano/máquina. Isso é muito útil juridicamente para a Germanwings, pois ela não será responsabilidade pela falha humana. VEJA é uma revista capitalista e a defesa da empresa capitalista submete a lógica desse jornalismo à cultura política do dinheiro. No entanto na televisão, um psicanalista iniciou uma discussão de que existe o campo humano e o campo da máquina que não é tecnológica, da máquina “humana. Nesta os indivíduos podem ser parte dela como um mecanismo no mínimo neural. Assim, o problema seria o seguinte: quem (ou o quê) estava pilotando o avião em um voo catastrófico em direção à terra?
O psicanalista identificou o copiloto como portador de um quadro crônico depressivo psicótico. O psicótico é um tipo existencial (humano) tratado pela comunidade dos neuróticos como uma ameaça potencial à comunidade dos neuróticos. Freud deixou páginas, ao longo de sua obra, associando violência física e psicose. Freud se orgulhava de ser um neurótico leve. A cultura industrial de massas dos USA ganhou e tem ganhado muito dinheiro com esta ideia da vulgata freudiana. O jornalismo dominado pelas comunidades de neuróticos se mobilizou para mais uma vez transformar o psicótico em objeto da violência simbólica dos neuróticos. Agora vamos aos fatos!
O maior desejo do copiloto era virar piloto: comandante da espaçonave.  Este desejo parecia cada vez mais difícil de se realizar devido ao conflito da depressão de Andreas com a cultura autocrática (totalitária) que rege a aviação, em geral, e a aviação civil capitalista, em particular. Então, ele podia ser copiloto, mas não o capitão do navio. O desejo de Andreas - vivido na cultura autocrática – como único desejo que articulava o sentido de sua da vida, se constituiu, finalmente, como uma vontade de derrubar o Airbus. Fator humano? A cultura política totalitária articula seres humanos enquanto máquina de guerra na história universal desde a civilização arcaica. Assim, neuróticos, perversos e psicóticos têm sido articulados como máquina de guerra psicótica. Assim, mantemos a ideia de Freud de que o neurótico também pode se constituir em máquina de guerra psicótica. Não é uma coincidência atroz para os psicóticos, Andreas ser um psicótico? E se fosse um perverso? No caso do psicótico, os psi sacam logo a ideia de que ele estava delirantemente se sentido perseguido pela empresa. No caso do perverso eles não encontrariam explicação na vulgata freudiana. Não pode ser neurótico, pois um neurótico jamais cometeria uma violência desse tipo. Só poderia ser um psicótico, então!
A passagem ao ato do humano para a máquina de guerra terrorista (uso da violência sem limite) pode muito bem ser entendida. O ato de Andreas-máquina teve um sentido muito claro. Uma única vez, ele foi o capitão da espaçonave, pois decidiu sobre o destino final dela: o choque com a TERRA. Mas não se tratou de uma decisão racional, calculista. A nanomáquina de guerra-andreas foi constituída como vontade de matar (Nietzsche) a partir de sua integração simbólica ao inconsciente político ariano. Este sempre esteve associado ao discurso do mestre que articula cultura política totalitária que se define pela realização da satisfação da pulsão de morte por máquinas de guerra, em geral, terrorista. Só um estudo sério poderia descobrir quando Andreas se tornou a nanomáquina-andreas terrorista. A finalidade do ataque desta foi o uso da violência física sobre os passageiros para gerar a violência simbólica sem limite contra os usuários de avião comercial em todo o planeta. Essa violência simbólica só existe graças a transformação da morte de 149 pessoas a bordo em espetáculo, durante 24 horas por dia_Transformação da morte em artefato imaginário-simbólico da cultura industrial de massas “ocidental”. O sentido do ato da nanomáquina era gerar um choque simbólico em uma dimensão específica do Imaginário mundial através da sociedade do espetáculo. Teve êxito? Até quando a sociedade do espetáculo vai propiciar o gozo necrófilo dos espectadores ao redor do planeta? Afinal para ela isso é apenas uma mercadoria, a morte pilotada pela lógica da mercadoria!      
CONTRAMÁQUINA DE PENSAMENTO MESTIÇA/MULTIDÃO
 A história intelectual brasileira é digna de ser narrada? Inquestionavelmente, jamais intelectuais brasileiras criaram um campo epistêmico próprio para o estudo da história do Brasil e, por conseguinte, da América Latina. Sempre estivemos submetidos às revoluções epistêmicas europeias. No entanto, isso não é inteiramente verdade. Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, a sociologia da USP do século XX, Celso Furtado e muitos outros intelectuais nativos se dedicaram a criar o terreno para a construção de uma episteme brasileira.
O caso de Luís Pereira merece ser lembrado. Vindo da sociologia eclética marxista da USP (o ecletismo é uma janela para o pensamento contratotalitário), já acossado por uma doença incurável foi estudar na França para se converte ao marxismo estruturalista althusseriano, especializando-se no pensamento de Nicos Poulantzas. Esta conversão resultou em um livro de crítica à ciência política   marxista da USP que monopolizava o campo dos problemas que orientava a historiografia brasileira. A explicação da Revolução de 1930 e dos fenômenos políticos gerados por esta revolução, como por exemplo, o Estado de compromisso 91930-1964) eram parte de tal monopólio. Hoje, os alunos de ciências sociais não se interessam pela história em si ou pela história intelectual do país. Quem perde? A sociologia da USP foi um artefato simbólico que articulado a uma determinada cultura política chegou ao poder nacional com Fernando Henrique Cardoso. Não foi um acaso. Ela é o motor da constituição, entre nós, do modelo oligarquia política híbrida (um modelo estéril que não pode gerar uma saída para crise brasileira atual) e do modelo neoliberalismo autárquico, que entrou em colapso em 2008. Assim como Luís Pereira não começou no Brasil o desenvolvimento intelectual de uma cultura contratotalitária marxista– como o fez Poulantzas na França -, FHC não começou a revolução cultural na política (afinal ele esteve no poder durante 12 anos) capaz de transformar o espaço político brasileiro. Desde o Brasil colonial, este espaço foi articulado pela interseção da lógica do simulacro liberal introduzida pelo Marquês de Pombal com a cultura totalitária substantiva secundada pela cultura oligárquica. A pergunta é a seguinte: não precisamos retomar o pensamento político mestiço de Euclides da Cunha, de Mário de Andrade, de Oswald de Andrade e Gilberto Freyre? Tal pensamento não está associada às revoluções e revoltas – como Canudos – que metabolizaram uma cultura política mestiça no mundo-da-vida brasileira? O estudo das revoluções e revoltas pela física das máquinas de guerra – que se estabelece a partir de uma episteme para integrar o Brasil e a América Latina à história política universal – não pode ser importante para articular contramáquina de pensamento mestiço, multidão e inconsciente político mestiço? Realmente, não há saída no horizonte da crise brasileira? Não podemos estar, finalmente, na antessala da revolução contratotalitária no país? Ou vamos perder mais uma vez o bonde da história como diziam os meus amigos do PCB?    
QUE AS CEM FLORES DESABROCHEM!
O livro de Bruno Latour “Jamais fomos modernos” é da década de 1990. O deseja da dialética maoísta parece pilotar o ensaio: que cem flores desabrochem. Latour fala de cem conceitos de modernidade, ou ele queria mais, ainda? Vocábulos como moderno, modernidade e modernização já não são usados corriqueiramente na linguagem política do século XXI. Ninguém quer ser moderno, nenhum país vê na modernidade ou na modernização a solução para a sua crise. O Brasil não vê na modernidade a saída para a sua crise do século XXI. No apagar da linguagem política moderna, outra linguagem está sendo tecida? Ou linguagens-fantasma do passado ocupam o vazio da linguagem moderna?
Uma definição de modernidade se dissolveu no ar como fato. Trata-se da definição que era a junção do desejo de emancipação de todo despotismo (Hegel falou sobre o fim da história sob domínio do discurso do mestre) com, através da ciência, o domínio absoluto sobre a natureza. O marxismo foi moderno neste sentido e hoje a juventude continua acreditando nele. Trata-se do marxismo-fantasma que preenche o vazio do fim da modernidade.
Em seu complexo conceito de modernidade lunar, Latour diz que a modernidade é a denegação de um fenômeno avassalador: os híbridos. Só a episteme das redes sóciotécnicas pode descortinar este mundo recalcado no inconsciente político da modernidade. “As redes são ao mesmo tempo reais (fácticas) como a natureza, narradas como o discurso, coletivas como a sociedade”. Ela articula-se três conjuntos ontológicos; fatos, poder e discursos. Como junção do sujeito com o objeto, natureza e cultura, o híbrido acaba, de fato, com a lógica moderna da autonomia absoluta entre as três dimensões (variedades) ontológicas. Por isso: “jamais fomos modernos”. O híbrido cria uma identidade absoluta entre as três variedades ontológicas: fato, poder, discurso. Assim, ele torna-se o significante que vai sobredeterminar a cadeia de significantes da política mundial e talvez da história política universal. Ao definir a modernidade como um conceito totalitário voltado para apagar da história os híbridos, Latour substitui tal conceito pelo conceito totalitário de rede sóciotécnica híbrida. Isso porque ele não consegue pensar que um conceito não-totalitário de modernidade precisa manter a distinção entre as dimensões ontológicas supracitadas assegurando na prática a autonomia relativa entre natureza (fato), política (poder) e sociedade (discurso). Em um conceito antitotalitário latourniano, o discurso faria o laço social entre as três variedades ontológicas existentes especificamente através da autonomia relativa. Mas é preciso subjetivar – para seguir adiante no processo de simbolização para a tessitura de uma nova linguagem política – o apagar da luz dos significantes como fato, poder e sociedade, que desarticula três campos de saber: historiografia tradicional e moderna, ciência política universitária ou foucaultiana e a sociologia moderna. Enfim, o livro ainda suscita uma boa discussão! 

MAX WEBER: uma flor de lótus moderna?   
O conceito de modernidade pode jogar com a fluidez, com a impermanência, com a inconsistência e está baseado na lógica da purificação. Mas o conceito de modernidade de Weber define bem a sua fronteira transdisciplinar, a sua consistência, a sua permanência. Weber acreditava que a burocracia moderna era indestrutível e sobreviveria em um modelo político futuro na junção do oriental-Egito da civilização arcaica. Há uma homologia entre a burocracia privada (empresa capitalista) e a burocracia pública (Estado moderno). Há uma autonomia relativa entre o público e o privado, não há uma autonomia absoluta como quer a modernidade totalitária que busca assim a pureza do público e do privado. No século XX, articulou-se a junção do público com o privado no capitalismo de Estado. Isso para Weber era um outro caminho da cultura política totalitária moderna.  
Uma rede de significantes sobredeterminada pelo significante burocracia racional faz a modernidade ex-sistir e funcionar fácticamente pela lógica racional-burocrática: empresa capitalista, funcionário profissional, direito moderno, máquina sem alma, técnica moderna, cultura totalitária (Espírito hierárquico centralista), Estado moderno e, finalmente, burocracia moderna.
A burocracia moderna define o Estado moderno como administração institucional política, ou seja, como instituição política. A diferença entre a administração em si (quadro administrativo) e a burocracia racional (administração política institucional moderna) se define pelo uso da violência. Na primeira, trata-se do uso da violência sem limite; na segunda, a violência tem que ser legítima, ou seja, inibida em sua finalidade (violência sem limite) pelo direito.
O conceito em Weber é um tipo ideal. Ele não existe na história e na geografia, a não se raramente. Então, ele adquire a consistência de um contraconceito. Ele aparece como um   geostóricosignificante. Ele ex-siste historicamente em um determinado território geográfico. Que só pode exitir uma  religião. Assim é possível dizer, com certa tranquilidade, que o Estado moderno existiu (existe ainda?) na Europa ocidental. E dizer que ele jamais existiu na América Latina. Nesta, ele ex-sistiu como um simulacro de Estado moderno que tem como espelho a linguagem do pensamento político liberal da comunidade jurídica.s cristãos
O que fazer com isso?                                                                                                          
                                                                           
CRISTIANISMO/NIETZSCHE
A cultura cristã em si não materializa o elemento universalista (totalitário) de que só existe um Deus e, portanto, só pode existir uma religião sobre a terra. Esse elemento universalista não faz a passagem para o ato simbólico na cultura religiosa no início do cristianismo primitivo. A literatura primitiva cristã se dirigia apenas à comunidade cristã. A perseguição do Império Romano aos cristãos foi o motor inicial que articulou o cristianismo como uma cultura religiosa no século II como corpo literário através do qual os cristãos falavam à maioria da população pagã em sus própria defesa. Mas esta cultura cristã como coro polifônico não podia, na sua apologia, defender a ideia de religião universal. Assim, tal cultura religiosa era defendida como paideia (cultura letrada superior). Ela se dirige a maioria letrada, educada, inclusive aos governantes do Império Romano. A forma da sua difusão não é a eloquência cristã, mas o espírito filosófico. Os cristãos necessitavam se defender contra a acusação de canibalismo declarado porque, na eucaristia, comiam a carne e bebiam o sangue de Deus.  Eram designados como ateus, pois não adoravam os deuses do Estado. Negavam honra divina ao próprio imperador, ou seja, o ateísmo cristão era visto como rebelião política cultural. A cultura política cristã tem como motor a cultura política totalitária romana. Tácito encarava os cristãos como um setor politicamente fanático do povo judeu à frente da rebelião contra os suseranos romanos, que terminará com a destruição de Jerusalém sob Tito. Filósofo estoico imperador, Marco Aurélio tinha horror a entusiástica vontade grotesca cristã de sofrer a morte através dos animais selvagens no Coliseu. Nesta linha de força cristã surge uma máquina de guerra grotesca aterradora e arrebatadora. Trata-se de uma máquina de guerra que se adequa ao conceito de grotesco, de Wolfgang Kayser, pois ela gera o horror no inimigo.
Nietzsche pode ter partido deste ato cristão de martírio grotesco no seu “Anticristo”? Como o maior físico das máquinas de guerra da era moderna, ele reconstruiu os significantes bom, mau e felicidade. Bom é tudo que aumenta o poder da máquina de guerra aristocrática, o sentimento do poder, a vontade para o poder, o próprio poder. Mau é tudo quanto aumenta a fraqueza. Felicidade é o sentimento com que o poder se engrandece, com que se vence uma resistência. “Não contentamos, senão mais poder; não paz antes de tudo, senão guerra”. O cristianismo é o hiper-vício, ele é o vício mais vicioso que o próprio conceito de vício. Mas Nietzsche admite que o cristão é “a besta doméstica, a besta de rebanho, a enferma besta humana”. Besta é o significante que designava para a cultura grega da Antiguidade (Platão, Aristóteles) uma Coisa que parece animal, mas não é animal. Tratava-se claro da máquina de guerra bárbara. Assim, Nietzsche admite que o cristão é uma máquina de guerra que volta a violência sem limite sobre o corpo do cristianismo. Mas a finalidade não é o suicídio da comunidade cristã. Aplicar a força sobre si significa o uso de violência física em um sentido de violência simbólica (e também de violência simbólica pura) para gerar uma Igreja universal. A violência simbólica aplicada sobre si – sobre o partido -  é a lógica que Lenin usou para fazer a auto-reconstrução (teórico-prática)  permanente do partido bolchevique – como máquina de guerra política marxista - até o golpe de Estado que iniciou a Revolução Russa. Além disso, nenhum campo de pensamento se desenvolve a não ser aplicando violência simbólica sobre si próprio em um trabalho permanente de auto-reconstrução das redes de contraconceitos que o faz existir e funcionar.        

CHARLES DICKENS/MARX
Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos diretos para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário – em suma, o período era em tal medida semelhante ao presente que algumas de suas mais ruidosas autoridades insistiram em seu recebimento, para o bem ou para o mal, apenas no grau superlativo de comparação” ( “Um Conto de duas Cidades”)
O primeiro romance que li, aos treze anos, foi o “Tempo e o Ventos” de Érico Veríssimo. Fiquei tão maravilhado que nunca mais parei de ler romances. Hoje sei porque fui arrebatado por ele. Além de ser o nosso “Guerra e Paz”, e em função dessa dialética (guerra e paz), a temática dele fala, com muita competência, da máquina de guerra universal. No momento estou me preparando para transformá-lo em um objeto do campo da física das máquinas de guerra.
Mas o parágrafo acima   que começa o romance de Dickens fala de um tempo que é humano? Na física da máquina de guerras, as máquinas de guerra são o dominus da história universal política natural sobre homens, mulheres e crianças desde o tempo da civilização arcaica. O tempo de Dickens parece ser humano (esperança, Paraíso, Inferno) do homem e da máquina de guerra. A antiguidade greco-romana inventou o homem a semelhança da polis (cidade-estado); polis=cidade=homem. Isso só foi possível pela articulação do humano pela ética da cidade, ética do homem. A máquina de guerra é articulável por alguma espécie de ética? Na ética do homem, a razão antiga ou moderna deve ser o dominus do campo da pulsão de morte e do campo dos afetos. Então é possível começar a investigar o Homem pelo funcionamento da ética aristotélica (Ética a Nicômacos) ou pela ética da razão prática (ética kantiana) nas culturas políticas da antiguidade e da modernidade. Freud estabeleceu a ética do humano, pois essa só é possível de ser lida na história da psicologia do indivíduo a partir da existência do inconsciente freudiano. Mas Lacan fez o campo freudiano deslizar para a cultura política ao falar de um tempo no qual a ética do desejo seria o dominus, sem a abertura de todas as comportas. Ele estava pensando no incesto? Em Aristóteles e Platão, determinados desejos bestiais (incesto, canibalismo, parricídio etc.) transformam o humano em besta, e impossibilitam a articulação do homem. A besta era o nome pelo qual eles designavam o bárbaro. Hoje sabemos que eles estavam estabelecendo a dialética homem (grego-civilizado-ocidental) versus máquina de guerra (bárbara, oriental) para além do humano.

Quando li o Um Conto de duas Cidades, eu vivia sob o dominus de uma visão de mundo marxista. Mesmo sendo uma visão modelada pelo “Guerra Civil em França (visão anarco-marxista; vejam bem não confundi-lo com o abjeto narco-marxismo), esse marxismo me fez interpretar o romance de Dickens como uma obra contrarrevolucionária. Eu ainda não tinha conhecimento da interpretação da Revolução Francesa de François Furet. Hoje mergulhado no campo da física, leio Dickens como um romance sobre humanos, homem e máquinas de guerra. Nele o homem aparece como parte do tempo da sabedoria, da sensatez, da época da Luz. É particularmente impressionante o modo ficcional da transformação da população em multidão revolucionária e desta em uma máquina de guerra grotesca. Com Dickens, a literatura inglesa é integrada - como cultura intelectual - à cultura política universal através do inconsciente político literário ocidental. Marx concebeu o contraconceito tragédia histórica no “18 Brumário”. Assim, a estética tornou-se constitutiva da cultura política e da política in nuce. Com Marx, a ficção deixou de ser um monopólio da CORPORAÇÃO DE OFÍCIO DAS LETRAS (monopólio sagrado da literatura) para se transformar em algo constitutivo da história. Esse contraconceito de estética não é estratégico para pensar o campo da física das máquinas de guerra? A máquina de guerra pode não precisar da ética na sua articulação. Mas ela não se articula sem a estética. A estética (a ficção) é constitutiva da máquina de guerra. Não existe uma estética grotesca da multidão-máquina de guerra revolucionária no “Um Conto de duas Cidades”?