quarta-feira, 16 de novembro de 2022

REVOLUÇÃO BARROCA NA AMÉRICA LATINA

José Paulo 







CLASSE MEDIA NEOBARROCA

NO TWITTER, o GENERAL Villas Boas fala da multidão nacional que ontem, 15 de novembro, dia da Proclamação da República, pede para o exército um golpe de Estado e a implantação de uma ditadura militar. o general diz que é um movimento constitucional pacífico protegido pela liberdade de expressão.
Diz a lenda que Villas Boas foi o artífice da candidatura de Jair Bolsonaro à presidência da república. Ele convenceu os militares de que o antigo soldado - afastado do exército por indisciplina, um mal soldado em um dito do general presidente Geisel - era uma boa solução para derrotar a esquerda. Como pagamento, Bolsonaro militarizou o aparelho civil de Estado com cerca de 8 mil oficiais.
Com a vitória de Lula em 30 de outubro, a desmilitarização do aparelho civil é um dos objetivos do governo Lula. Assim, a lógica de interesse econômico explica em parte a multidão-15.
Na nota do Twitter, o general diz que a grande mídia não fez a cobertura da manifestação. A grande mídia se põe contra o golpe de Estado e a destruição da Constituição de 1988.
Afinal, o que é a multidão-15?
Eis uma interrogação que não interessa ao jornalismo e, atualmente, nem à universidade pública.
Estaríamos diante de uma multidão neobarroca-cibernética?
A classe média neobarroca foi classe-apoio do governo de Bolsonaro. Ela derrubou Dilma Roussef, ela é identificada por ser uma multidão branca, em sua maioria na rua do Rio. Ela fez uma promessa de desafiar o governo Lula, permanentemente.
O exército não é mais o exército do capital de 1964. O exército da ditadura do grande capital. Daí, ele não apostar em jogos de poder que destruam a Constituição-1988. Ele hoje é movido pela lógica de interesse econômico da carreira dos altos oficiais. O militar quer viver bem e, agradavelmente, ter um bom soldo, uma excelente aposentadoria etc. generais já querem uma entrevista com Lula para tratar de assuntos da aposentadoria. O generalato não se preocupa com os interesses da instituição. Não há projetos de futuro para a instituição.
O exército se tornou um exército de classe média. Mas não é só isso!
O exército é a metonímia das forças armadas. Hoje, ele é um exército neobarroco cibernético, ou seja, um exército em uma tela neobarroca cibernética. Ele não tem como princípio a defesa da soberania nacional; ele não considera, por exemplo, que a Amazônia ocupada pelo capitalismo criminoso, (aliança do narcotráfico latino-americano com os Banco do EUA etc.) é um problema de soberania popular, um problema do exército.
O exército neobarroco de classe média se representa na política pela multidão neobarroca de rua. Homens e mulheres usaram os muros de um quartel para rezar o <pai nosso> - pedindo intervenção militar na política. há, inclusive, mulheres de general dirigindo a multidão-15.
Trata-se de mais um problema prático complexo para o governo Lula resolver.

DA CLASSE GOVERNANTE VIRTUAL
Pessoas inteligente se indagam como sociedades brutalmente desiguais no capitalismo com democracia não se autoaniquilam. Porque tais sociedades são governadas por uma plurivocidade de tela gramatical.
Há o governo virtual da tela gramatical do Estado neobarroco cibernético. Os proprietários da tela cibernética são os jornalistas, youtubers etc. A tela 1984 foi uma invenção dos EUA. Com ela passa a existir a classe governante virtual. O jornalista e o youtuber são o governo dos governados ou usuários simples da tela.
Como o homem comum não acredita na tela 1984, o poder da tela consiste no homem comum não acreditar que ela existe. A relação entre governante (youtuber, jornalista etc.) e governado ou usuário da tela já se traduz na geração tela, que alguns psicólogos estudam no comportamento infantil.
Vigiar, observar, ouvir o usuário através da tela é algo que todo youtuber e jornalista sabe fazer. Ou é levado a fazer. A gramática da tela 1984 consiste na ideia de que não existe fora da tela vida inteligente. Todos os inteligentes têm que fazer parte da tela voluntariamente ou involuntariamente.
Infelizmente, a tela 1964 é tida pelos universitários como parte da ficção literária. Infelizmente, a ficção 1984 se tornou a realidade palpável da relação entre governante e governado. Neta relação, a manipulação é mais manipulação que apropria manipulação no sentido que o real é mais real que o próprio real: Hiper-realidade.
A física e a engenharia cibernética constroem o mundo como plurivocidade de tela cibernética neobarroca. Daí surge uma classe governante, virtual, neobarroca, cibernética que faz da vida cotidiana uma transparência obscena, pois sem mais segredos íntimos, pois, pois.
O que fazer?
Parar de usar a tela?

ESTADO CIBRNÉTICO NEOBARROCO
No livro “Simulacros e simulação”, Jean Baudrillard fala de uma televisão que assiste e ouve o receptor. Parecia uma profecia do futuro tecnológica. Tal televisão foi inventada nos EUA. Ela é o início do Estado de vigilância neobarroco-cibernético.
A televisão, o computador, o celular são telas do Estado de vigilância. Se seu telefone celular faz uma chamada para alguém da sua intimidade, sem que você tenha feito a chamada, pode não ser um erro da máquina e sim um ato do Estado cibernético. Se você faz sexo com a televisão ligada ao vivo na sala ou no quarto, você pode estar sendo observado ou ouvido. Baudrillard designa esse fenômeno como <transparência obscena>. Por via das dúvidas, Baudrillard não assistia televisão!
O jornalista hoje é o proprietário da percepção construída pelo Estado cibernético. Ele, inclusive, ascende na carreira por usar obscenamente a vigilância sobre pessoas, em geral da elite. Ele é o agente da transparência obscena.
Vivemos em um mundo dominada pela tela gramatical neobarroca-cibernética. O youtuber é um conhecedor e agente do Estado de vigilância neobarroco. Há hoje uma divisão entre aqueles que trabalham em uma tela cibernética e aqueles que são seus usuários. Trata-se da dominação cibernética neobarroca entre governantes (youtuber representando o jornalista em geral) e governados: simples usuário.
O mundo de hoje fez da tela cibernética a sociedade polícia política secreta que torna obsoleto a polícia secreta política governamental.
A elite que se cuide!

REVOLUÇÕES BARROCAS NA AMÉRICA LATINA
Com a Bolívia de Evo Morales, inaugura-se a era das revoluções barrocas dentro da ordem democrática na América Latina. A direita neobarroca, ariana, cibernética, com a ajuda dos EUA, das multinacionais, da oligarquia política etc., procurou interromper o ciclo das revoluções barrocas, entre nós.
O golpe de Estado neobarroco fracassou, pois o partido de Evo retornou ao poder boliviano. No Chile, Boric derrotou o candidato da extrema-direita neobarroca Antonio Kast, que obteve 44,14%dos votos. A divisão do Chile entre uma esquerda barroca e o campo da direita neobarroca é o sintoma da época de hoje. A esquerda fez uma Constituição que foi rejeitada em um plebiscito. A Constituição continha a transformação do Estado nacional chileno em um Estado regido por uma plurivocidade de nação. Ao contrário, no centro do palco político chileno, encontra-se a transformação do Estado fascista de Pinochet. Assim, o governo Boric teve que retomar a revolução barroca dentro da ordem gramatical chilena.
No México, pouco se sabe no Brasil sobre a revolução barroca de Obrador. Um México barroco é algo natural na política mexicana. No século XX, ocorreram revoluções barrocas no México. O México é a capital do barroco da América Latina.
Na Colômbia, Gustavo Petrus iniciou a revolução barroca. Ele quer uma reforma agrária e que os ricos paguem impostos decentes. Petrus derrotou um populista neobarroco do campo da direita. Uma multidão neobarroca já se levantou contra Petrus, ele que assumiu o governo há dois meses.
O que caracteriza a evolução barroca?
Ela fala a linguagem do sofrimento de uma gramática barroca. Lula chorou compulsivamente em uma apresentação à imprensa em São Paulo. Jornalistas o acusaram de impostura. Lula verteu suas lágrimas copiosas em nome dos pobres que passam fome, em milhões. A linguagem do sofrimento de uma gramática barroca se expressou na política pelo choro de Lula. O campo da direita neobarroca, cibernética secular se manifesta contra o inconsciente barroco lulista.
A tela gramatical barroca na política está sendo fabricada por governos de esquerda que já não são mais a esquerda clássica, a esquerda renascentista. No Brasil, uma Frente Ampla que derrotou Bolsonaro aparece como uma síntese de múltiplas determinações e contradições. Lula é o artífice da revolução barroca e um político que navega na revolução barroca latino-americana.
A esquerda brasileira pode se reinventar como esquerda barroca?

TEOLOGIA NEGRA E JORNALISMO

 

A teologia negra é a noção da política como guerra - levada por meios não militares. Parece que a nossa política na família parte da teologia negra. Além da família, o jornalismo (que assisto no meu celular) parte da teologia negra em um espaço de simulação da atividade jornalística como guerra baseada no uso da informação como arma militar.    

Uma boa parte da política de simulação só existe graças ao jornalismo cibernético. Tal jornalismo é uma continuação do ciberespaço como simulacro de simulação da política como guerra.

É a teologia negra digital.

Não existe mistério para o apoio do jornalismo a Jair Bolsonaro. Ambos são partidários da noção de política como guerra cibernética. Muito jornalista será demitido com o fim de Bolsonaro na política. Já está acontecendo expurgos em certos emissoras.

 Na época neobarroca. a profissão de jornalista embota a inteligência do jornalista. Tal fato vai além do conhecido dito de que “a opinião do jornalista é a opinião do patrão”. O jornalismo político se transformou em uma estrutura de novela na qual herói e vilão recebem o merecido, todo santo dia.

A novela da TV Globo é o paradigma do jornalismo político. A NOVELA trabalha com a noção de política da teologia negra.

Uma atmosfera teológica negra é fabricada pelo jornalismo cotidianamente. É uma atmosfera com raridade de oxigênio democrático. A teologia política negra é um pensar e julgar a realidade a partir de uma ótica autoritária.  

Se Lula foi bombardeado durante meses pelo jornalismo político como um homem abjeto, eis a ação da mais abjeta teologia negra jornalística.

Será possível o jornalismo adotar um outro modelo, um modelo democrático de comunicação com as massas de receptores?

 

CAPITALISMO SUICIDARIO

 

Com o capitalismo financeiro da globalização neoliberal, o capital fictício assume o comando da economia, política, ideologia. Há o desenvolvimento do Estado suicidário do complexo industrial-militar mundial. O capitalismo industrial se torna uma sociedade burguesa de segunda categoria.

Marx desenhou o fim do capitalismo pela lógica do capital. Trata-se do modelo capitalista e não da realidade capitalista. O fim do capitalismo é um fenômeno virtual que pode se tornar atual.

O fim do capitalismo ocidental passou do virtual para o atual com a implosão da globalização neoliberal. Claro que a Guerra da Rússia foi um fator de tal implosão. No entanto, o esgotamento do modelo da globalização ocidental se deve ao colapso do capitalismo financeiro como hegemonia do capital fictício sobre o planeta.

O fim da globalização ocidental faz pendant com a ascensão do mercantilismo do capital asiático. Neste, o capital industrial comanda a economia, política e campo das ideologias. 

Como o Ocidente reage à ascensão da geopolítica capitalista mercantilista chinesa?

O capitalismo neobarroco é a resposta do Ocidente à Asia.

O capitalismo neobarroco se constitui em uma sociedade capitalista suicidária. Temos então o capital suicidário no comando da economia, da política, do Estado, do campo das ideologias etc. O capital suicidário ignora a lógica do fim do capitalismo. [No Brasil, a aliança do capital fictício com a agroindústria instala a sociedade burguesa suicidária]. No campo das ideologias do capital neobarroco, a lógica do fim do capitalismo é tratada como tagarelice da esquerda marxista.

Há, entre nós, uma poderosa burguesia suicidária que não acredita na necessidade do governo do capital ser um governar para todos. Como a esquerda clássica procura governar, também, para os pobres, o capital suicidário quer exclui-la da política, na democracia representativa.

Bolsonaro personificou o governo do capital suicidário. E foi derrotado por Lula.

Entramos na época da sociedade neobarroca. Uma direita neobarroca conservadora já se estabeleceu como um campo político. Os extremistas  suicidários desse campo explodem em violência e confronto com o Estado-1988.   

“Precisamos estar atentos e fortes”...

 


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