quarta-feira, 29 de agosto de 2018

DA CONSCIÊNCIA BURGUESA COMUNICACIONAL


josé paulo




Na eleição 2018, o PT é a continuação de Cuba por outros meios, ou seja, meios bolivarianos. É conhecida a amizade de Hugo Chaves com Fidel Castro, Raul Castro e o Partido Comunista Cubano.  Os revolucionários bolivarianos venezuelanos se consideram como adeptos da revolução cubana e continuadores desta revolução no continente latino-americano. A Venezuela é percebida por seus socialistas como a NOVA CUBA.

Florestan Fernandes teceu um evangelho professoral cubano fidelista no Brasil. Ele diz:
“É pela situação revolucionária que Cuba vem ser ‘universal’ (no sentido em que os antropólogos empregam o termo) e ‘novas Cubas’ terão de surgir, porque não é possível deter a história”. (Fernandes: 6).

Com efeito, Cuba ressurge com o PT e Lula, com Hugo Chaves, os bolivarianos no Uruguai e na Bolívia. Ela ressurge com a revolução sandinista que apodreceu moral e politicamente, desde o início, se tornando com Daniel Ortega, no poder nicaraguense, uma autocracia oligárquica de esquerda criminal do século XXI.

O bolivariano brasileiro é a negação de uma evidência de Florestan Fernandes. Para este:
“Por isso, elas também não sabem sequer lidar com o radicalismo burguês (se ele chega a manifestar-se de alguma forma tímida e arcaica) e não conseguem absorver socialmente as pressões radicais das classes despossuídas: não existem mais condições estruturais e dinâmicas para associar a mudança social progressiva às ‘revoluções dentro da ordem’”. (Fernandes: 9).

A nova Cuba brasileira é produzida como efeito de uma ideologia de radicalismo burguês. Durante os anos que o PT ficou no governo, ele criou uma “revolução dentro da ordem” para os mais pobres, classes médias, burguesia de compadre e burguesia financeira. Nesta revolução radical burguesa, o PT se aburguesou e Lula entrou para a sociedade do rico paulista.    

O mundo é o que percebemos como totalidade histórica inacabada. A gramaticalização do todo histórico é a percepção da gramática da comunicação historial. Sempre, há algo que escapa à gramaticalização. Assim, a ideologia científica (Gramsci. v.1: 173) de um acontecimento historial é a história que anda com a cabeça e que pensa com os próprios pés. Ao contrário, trata-se de se ocupar com a história como corpo, ou melhor, como gramáticas da comunicação. Florestan nada sabe sobre isto!

A consciência sociológica e socialista de Florestan não foi ultrapassada pela história da América Latina?

Ele diz:
“Em contraposição, Cuba não é somente o único país da América Latina no qual a consciência social burguesa entrou em colapso”. (Fernandes: 9).

A ideologia científica de Florestan encontra-se atrasada em relação à história, pois, não há um colapso da consciência social burguesa, entre nós. Hoje, a consciência social burguesa existe como consciência dos mass media em relação à realidade dos fatos nacionais em uma trama existencial. Ela fez a passagem para a consciência burguesa comunicacional. O trabalho da consciência burguesa dos mass media é buscar a significação ou sentido da palavra, de gesto humano (mesmos distraídos ou habituais). A consciência supracitada é o trabalho midiático de pôr forma em um mundo ao qual ela retrata como um todo de comunicação: sociedade de comunicação de massa!

A consciência burguesa massa media diz que o mundo não é aquilo que é pensado, e sim aquilo que é vivido; o sujeito midiático está aberto ao mundo, comunica-se indubitavelmente com ele, mas não o possui, pois, o mundo mass media é inesgotável. Há a passagem da consciência social burguesa para a consciência burguesa comunicacional. Assim, a consciência burguesa torna-se um fenômeno sedutor.
                                                                                II

Antes de falar do fenômeno sedutor da consciência em tela, me remeto ao problema da decadência ideológica da consciência social burguesa. E me permito seguir um conselho de Sun Tzu:
“21. Lorsqu’il se concentre, préparez-vou à lutter contre lui; là òu il est fort, évitez-le”. (Sun Tzu: 96).

Lukács diz:
“En esta lucha de clases, diz Marx, las campanas tocaran a muerto por la economía burguesa científica. Y no se trataba de si este o aquel teorema era verdadero, sino de si al capital le resultaba útil o perjudicial, cómodo o incómodo, de si contravenía o no las ordenanzas policiales. Los espadachines a sueldo sustituyeron a la investigación desinteresada, y la mala consciência y las ruines intenciones de la apologética ocuparan el sitial de la investigación científica sin prejuicios”. (Lukács. 1986: 19). 

A consciência burguesa comunicacional é a prova da decadência ideológico burguesa mundial. Ela faz uso de velhas ciências universitárias e extrauniversitárias (economia, política, psicologia) para construir um todo comunicacional que não se sustenta frente a crítica das ideologias midiáticas. No Brasil, a decadência ideológica comunicacional é a causa necessária da decadência da política burguesa (de esquerda e direita) que transmutou partido político em facção política.  Não obstante, ela reina na gramática do capitalismo neocolonial.        

Para a ideologia comunicacional de massa não se trata de saber se esta ou aquela estrutura de evidência é verdadeira, senão se ela é útil ao capital ou prejudicial, cômodo, incômodo a ele; se contraria ou não o poder policial. O discurso mass media não é desinteressado, ele é um efeito das redes de interesses econômicos, ideológicos e de poder do capital neocolonial, hoje.

A consciência burguesa comunicacional neocolonial tem a consciência exata de que todas as armas forjadas por ela contra o socialismo, se voltaram contra ela mesma, de que todos os meios      de cultura ilustrados criados por ela se rebelaram contra sua própria civilização, de que todos os deuses que criou abandonaram-na. Daí o controle rígido da cultura através de uma facção cultural que detém o monopólio da escrita nos grandes jornais, revistas da ilustração burguesa e grandes editoras.

Irradiadora de um materialismo utilitarista (Bentham: 9-11) desenha o mundo como um espaço de dor, desprazer (o mundo como um teatro de corrupção política, assassinatos, rapto em massa de crianças, roubo de cargas, novos cangaceiros, desastres naturais ou artificiais, povo doente, epidemias, colapso do Estado, insegurança pública urbana e rural generalizada, trabalho escravo, o mundo-da-vida sob comando das facções criminosas etc.) e prazer (função prazerosa estética do possível consumo de mercadoria na publicidade capitalista).

O materialismo midiático se define por trabalhar com o significante capitalista congelado (capitalismo sem adjetivação) e sem desenvolvimento desigual entre primeiro-mundo e terceiro-mundo. Assim, a gramática dos mass media não tratam da evolução do capitalismo para a gramática do capitalismo neocolonial. O mais importante: os mass media nunca abordam essa gramática do capitalismo neocolonial. 

Tratar cientificamente da consciência burguesa comunicacional em sua integridade depende de uma história da ideologia burguesa depois da II Guerra Mundial nos EUA e outros países. No Brasil, não existe estudos sobre a história da ideologia burguesa comunicacional, isto é, da posição da sociedade burguesa de comunicação em junção com as grandes correntes:  literárias, sociais, políticas e filosóficas que favoreceram o lugar da articulação da hegemonia cum dominação dos mass media na cultura, política e economia. Trata-se  de uma história  da passagem do  Estado tout court  para o telestado.

Na história da ideologia burguesa comunicacional, um ponto de inflexão é a revolução utópica das massas gramaticalmente democráticas 2013. Os mass media comandaram a reação à revolução democrática atando as massas à imagem de desordem e caos urbano. Assim, o desenvolvimento democrático das massas na rua se tornou um alvo da Okhrana carioca e brasiliense que gerenciou a formulação de uma legislação enquadrando as massas em tela como terrorista. Hoje, um condottiere da Okhrana é candidato à presidência da República.

A Okhrana é constituída por redes de espionagem, de controle das massas na rua, de vigilância e perseguição aos democratas gramaticais. Ela é o suprassumo político da agenda dos mass media, agenda neoliberal, neoconservadora e neocolonial. O comitê central da Okhrana é composto por chefes capitalistas do mundo privado, das Forças Armadas, de várias instituições da sociedade civil, judiciário, poder policial, Congresso nacional e dos mass media. A Okhrana é um fenômeno mundial com uma gramática em narrativa comunicacional épica (televisão, rádio, jornal de papel, romances, textos científicos, filosófica, cinema, seriados de TV etc.). No Brasil, a campanha do candidato da OKhrana é um efeito da narrativa épica mundial dos serviços secretos (CIA, DEA, serviço secreto inglês, ou russo ou chinês em suas lutas contra o terrorismo islâmico, e os lobos solitários e terrorismo de etnias etc. Na eleição 2018, ela pode ser transmutada na mais poderosa facção política criminal brasileira neocolonial, neoconservadora, neoliberal, se ela conquistar o poder nacional.  

No “Doutor Fausto”, Thomas Mann fala da cultura que preparou o terreno para o nazismo alemão. Trata-se do romantismo alemão do triunfo da vontade, de toda a filosofia alemã da segunda metade do século XX, da historiografia e da ciência ariana e/ou racista. Quanto à filosofia, Lukács estabeleceu as conexões históricas entre a filosofia alemão, a ciência estética e o nacional socialismo. (Lukács. 1959:124).

O nazismo alemão não foi um raio em um céu azul. Toda uma formação cultural alemã preparou o terreno para a construção de Hitler como rhetor percipio. Como um cabo do exército, artista plástico frustrado, escritor pasteurizado e político representativo medíocre se tornou o gramático fascista da revolução conservadora alemã? 

A TV apresenta Bolsonaro como candidato das redes sociais digitais. Trata-se de uma astúcia, pois, a televisão preparou o terreno para o desenvolvimento e crescimento do candidato como homem forte em uma narrativa épica. Se o mundo é aquele mundo doente carioca e paulista que a televisão ficcionaliza como sendo o real, então o capitão Bolsonaro é a cura. A televisão preparou o terreno para a revolução fascista conservadora tupiniquim sob comando político da Okhrana em um contraponto a tentativa do PT voltar ao poder nacional.  

Os mass media são a vanguarda da consciência burguesa comunicacional. Se havia uma decadência da ideologia burguesa como consciência social, pois, esta evitava falar abertamente da realidade e das forças moventes desta (a luta de classes, o desenvolvimento do capitalismo etc. ), com a ideologia burguesa comunicacional, o exército  de jornalistas faz uma luta para conquistar o monopólio da percepção da realidade. Tal exército pesca um significante de realidade que oblitera (no imaginário político mundial) as forças práticas da evolução do capitalismo do século XXI. A decadência ideológica social não é sinônimo de um ensarilhar das armas da consciência burguesa na medida em que ela se torna uma consciência comunicacional. 
                                                            III  

Qual cultura preparou o terreno para o bolivariano?

Toda uma literatura, crítica literária, filosofia política, sociologia, cinema, música, artes plásticas, política etc. preparou o terreno para o bolivariano do PT e Lula no Brasil. O bolivariano é um efeito do multiculturalismo (nascido na América) que destronou as ideologias nacionais brasileiras. A gramática multiculturalista invadiu os mass media estabelecendo uma esdrúxula aliança formal comunicacional entre o bolivariano e a televisão carioca. Esta passou a fazer apologia da revolução cubana, obscenamente, enquanto destruía, na prática comunicacional, a revolução utópica democrática 2013, revolução percebida, por Dilma Rousseff como uma ameaça do real da política à conservação do poder nacional em mãos da esquerda do bolivariano.

A ruptura da TV carioca com o bolivariano se deve a posição sensata que os mass media foram obrigados a assumir (a contragosto) contra o apocalipse econômico venezuelano. Neste ponto, as relações internacionais latino-americanas determinaram a mudança de posição dos mass media em relação às novas Cubas.  

Uma distância irrevogável existe entre o imaginário da elite cultural da primeira metade do século XX e a elite cultural da segunda metade do século XX.

Representante da elite cultural da segunda metade do século XX, Florestan Fernandes vive em um imaginário político no qual a nação é um fato menor:
“Não podemos ignorar os fatos e, se há algo admirável com relação a Cuba, é a forma pela qual a revolução procurou subjugar e ultrapassar os fatos mais duros e adversos. Não se deve ignorar isso, se se quiser compreender, amar e servir à revolução cubana”. (Fernandes: 6).

Em seu opúsculo “Porque me ufano do meu país”, Affonso Celso diz o contrário de Florestan:
“Entre esses ensinamentos, avulta o do patriotismo. Quero que consagreis ilimitado amor à região onde nascestes, servindo-a com dedicação absoluta, destinando-lhe o melhor da vossa inteligência, os primores do vosso sentimento, o mais fecundo da vossa atividade, - dispostos a quaisquer sacrifícios por ella, inclusive a vida”. (Affonso Celso: 1). 

A Cuba de Florestan e da esquerda brasileira bolivariana é o signo da integração revolucionária latino-americana. O livro de FHC “Dependência e desenvolvimento na América Latina” (amigo marxista burguês de Florestan) é o evangelho sociológico da integração latino-americana. A ideologia marxista pró-Cuba teve com FHC seu presidente da República.

A admiração da revolução cubana pelos sociólogos marxistas da USP pode ser medida pela citação seguinte:
“A ‘revolução dentro da ordem’ foi um momento real da revolução cubana. Durou pouco e se extinguiu depressa porque só os deserdados da terra se mobilizaram para lutar por ela. A ‘revolução contra a ordem’ tornou-se, alternativamente, uma realidade permanente e em aceleração crescente. Porque não havia nada mais a salvar do capitalismo e só o socialismo respondia ao radicalismo nacional e democrático da maioria”. (Fernandes: 13).

A política no comando da economia, eis a fórmula de Lenin (autonomia do político na revolução socialista) que Cuba teria levado às últimas consequências:
“Ora, em Cuba o político se desprendeu com um grau de liberdade relativa que não se configura em nenhuma outra grande revolução deste século (mesmo que as comparações tomem como ponto de referência a União Soviética, a China, ou o Vietnã), embora a autonomia do político nem sempre pudesse ser aproveitada concretamente na mesma extensão e com a mesma rapidez na criação dos pré-requisitos da transição, e, portanto, na aceleração do desenvolvimento socialista. Não se trata, aqui, de um ‘mito’ da revolução, gerado pelos revolucionários e aceito ingenuamente pelo observador da cena histórica”. (Fernandes: 10-11).

Com efeito, Florestan divulga, no Brasil universitário, uma mitologia política criada por Fidel Castro e Che Guevara. A metabolização por nós se deve ao fenômeno da revolução cubana se realizar contra o neocolonialismo americano.

O que era o neocolonialismo?
“No caso de Cuba, alguns autores utilizaram o conceito de protetorado (que não é correto) e o de neocolonialismo (que vem a ser preciso, se se entender por essa palavra a situação típica, transitória, ou permanente, na qual a dominação indireta gradua e limita o alcance e o ritmos da descolonização, freando-a em proveito da nação ou das nações hegemônicas”. (Fernandes: 37-38).

Uma realidade impossível de ser suportada, pois, abjeta como discurso do senhor, o neocolonialismo americano sempre foi o grande anti-herói para a esquerda latino-americana:
“A situação neocolonial, em Cuba, representa o produto do aproveitamento das contradições da velha ordem colonial por uma potência que logrou converter-se em centro imperial, impedir o êxito militar e político da revolução nacional e engendrar um novo colonialismo.
Esse novo colonialismo não passava pela dominação centralizada aos níveis econômico, cultural e político. Ele se fundava em controles indiretos, criados pelos mecanismos de mercado e do desenvolvimento capitalista ou pelos dinamismos da incorporação e da satelização. Desse ângulo, Cuba foi convertida em apêndice segmentar e especializado dos Estados Unidos”. (Fernandes: 42).

O capitalismo neocolonial de Florestan significa redes de poderes econômico, político, cultural que criam uma Cuba subalterna ao centro imperial americano, nas relações internacionais, a partir de um regime extrativista mercantilista de uma única commodities, o açúcar. (Fernandes: 42-43). Florestan esquece o papel do narcotráfico da máfia americana durante o regime de Batista que transformou Cuba em um grande cassino do Caribe e em um puteiro de luxo para os ricos e políticos americanos enquanto a maioria da população cubana era pobre, doente e faminta.  

Vejamos a diferença entre o capitalismo neocolonial de Florestan e o capitalismo neocolonial do século XXI.

No capitalismo neocolonial de ontem, a ideologia capitalista é aquela da consciência social burguesa; no capitalismo de hoje, a ideologia é aquela da consciência burguesa comunicacional. O capitalismo neocolonial de ontem é uma categoria geográfica (relações internacionais geopolíticas ou geoeconômicas) de uma ideologia científica sociológica; o atual se constitui como uma gramática em narração comunicacional do marxismo brasileiro. Não há centro geográfico no capitalismo neocolonial da atualidade. O capitalismo neocolonial é o próprio centro geopolítico e geoeconômico: capitalismo neocolonial americano, europeu, chinês, do terceiro-mundo etc.

O neocolonialismo é uma realização capitalista de colonização da subjetividade pelo inconsciente matemático lacaniano e pela mercadoria como Deus mortal; uma colonização de territórios objetivos da economia, política e cultura.  Não é uma realidade das relações entre Estados dominantes e Estados subalternos. Isto, não significa negar a realidade das relações de subordinação entre nações e Estados autônomos e/ou dependentes. Há uma autonomia relativa entre as relações entre gramáticas do capitalismo neocolonial (primeiro-mundo e terceiro-mundo etc.) e as relações entre Estados nacionais e destes com Estados satélites.    

O bolivariano continua “pensando” o mundo pelas categorias do marxismo sociológico da USP.
                                                                IV

A Consciência burguesa comunicacional é um poder sedutor da gramática da estatização do campo de poderes do capitalismo neocolonial. Como poder sedutor, ela é parte do Estado ampliado ou integral constituído pela sociedade política e sociedade civil, hegemonia e dominação (Buci-Glucksmann: 114); mas vai além.

No direito internacional, o Estado é uma pessoa moral de direito público territorial e soberano. (Lacoste: 1). Já a geopolítica trata de rivalidades de poderes sobre um território. Não há raciocínio geopolítico sem referência aos Estados, quer se trate de suas relações mais ou menos conflituosas ou, por cada um deles, de problemas de geopolítica interna, como as desigualdades regionais ou as reivindicações de minorias nacionais.

Observe-se que a América Latina não é assolada pelos problemas supracitados. A Venezuela encontra-se em um apocalipse econômico, e nenhum Estado moveu um dedo para evitar a destruição de um Estado com um passado de capitalismo, razoavelmente, organizado.   

As duas características fundamentais de um Estado são sua configuração territorial e a ordem de grandeza do efetivo de sua população. Nos países do terceiro-mundo, a evolução demográfica vai na contramão dos países do primeiro-mundo. Há um crescimento populacional efetivo na América Latina. Trata-se de um traço geopolítico que a desordem do capitalismo neocolonial transforma em uma bomba demográfica explodindo na cara dos EUA.

O Brasil é na geopolítica o outro polo de poder nacional (ao lado dos EUA) nas Américas. Todavia ao contrário dos EUA, o Brasil não tem uma política de segurança americana continental como tem os EUA.

As elites brasileiras só se interessam por uma geopolítica interna que consiste em explorar a riqueza nacional até a última gota, e manter o controle da população que tem uma imensa plebe doente e sem cuidados mínimos da alimentação, escola, higiene e saúde. O Brasil está muito próximo de perder o Estado nacional como pessoa moral e soberano, pois, as elites se transformaram em facções (na economia, política e cultura); e facções criminosas repartem como Estado legal o monopólio da violência real no mundo-da-vida.
                                                                                       V

A geopolítica brasileira levantou, nas últimas décadas, um poderoso e eficiente Estado sedutor capaz de dominar e controlar a vida das massas, mesmo com todo o sofrimento que a desintegração do capitalismo dependente e associado está gerando na vida das massas desempregadas. A consciência burguesa comunicacional é o poder sedutor que carrega as elites nas costas.   

Ela funciona pelo princípio esperança em uma contraposição dialética ao caos, ficionalizado por ela, da vida nacional. O capitalismo neocolonial é o futuro do país:
“Le futur, c’est ce que l’on craint ou ce que l’on espère; sur le plan de l’intention humane, qui refuse l’échec, l’avenir c’est qui est espéré. La fonction et le contenu de l’espoir sont constamment vécus et dans toutes les sociétés ascendentes, ils ont été mis en oeuvre et développés”. (Bloch: 10).  

O princípio esperança da gramática dos mass media compõem a agenda sedutora do poder da consciência burguesa comunicacional. Trata-se das revoluções midiológicas da gramática de estatização do campo de poderes. Podemos observar a passagem do Estado público universal de Hegel (Taminiaux: 274), do Estado educador de Gramsci e Debray (direção moral e intelectual das massas) para o telestado, isto é, a política humilhada pela técnica. (Debray: 101). Trata-se do homo informacionalis como governabilidade.

Debray resume:
Un État est une longue patience. Il fonctionne au temps long, et droit avoir la force d’attendre. C’est à la fois une morale et une précaution. L’historien a les mêmes.  Or le temps vidéo n’attend pas. C’est un support pressé (le signal magnétique se dégrade). L’État vidéocratique l’est aussi. Il ne peut attendre les historiens – ni souffrir de confier ses secrets aux Archives nationales où, jadis, ils allaint goûter un lent sommeil réparateur, trente au cinquante ans, selon la loi. Pour écrire son histiore, l’État-Polaroïd se fait son propre journaliste”. (Debray: 139).

O Estado sedutor opõe-se radicalmente `anatomia como o destino. Ele cria e recria o fim da era freudiana: “Somente a sedução rompe com a sexualidade distintiva dos corpos e a inelutável economia fálica dela  resultante”. (Baudrillard: 15). A política deixa de funcionar pela atração sexual ou aversão sexual das massas pelo líder. A sedução dos mass media é um processo altamente ritualizado, uma missa rezada todo santo dia pelos jornalistas que são os sacerdotes da modernidade da atualidade:
“A questão da superioridade profunda das lógicas rituais de desafio e de sedução sobre as lógicas econômicas do sexo e da produção permanece inteira”. (Baudrillard: 51).

O marxismo brasileiro trabalha com uma dimensão que suprassume a lógica tout court da sociedade. Trata-se das gramáticas da comunicação. Assim, o Estado-sedutor torna-se um significante gramatical de uma história universal inacabada.


AFFONSO CELSO. Porque me ufano de meu paiz. RJ: Livraria Garnier, 1908
BAUDRILLARD, Jean. Da sedução. Campinas: Papirus, 1991
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. SP: Abril cultural, 1974
BLOCH, Ernest. Le principe esperance. v. 1. Paris: Gallimard, 1976
BUCI-GLUCKSMANN, Christine. Gramsci et l’État. Paris:  Fayard, 1975
DEBRAY, Régis. L’État séducteur. Paris; Gallimard, 1993
FERNANDES, Florestan. Da guerrilha ao socialismo. A revolução cubana. SP: TOA, 1979
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. RJ: Civilização Brasileira, 2015
LACOSTE, Yves (org). Dictionnaire geopolique des Etats. 1996. Paris: Flammarion, 1995
LUKÁCS, Georg. El asalto a la razón. Barcelona: Grijalbo, 1972
LUKÁCS, Georg. Marx y el problema de la decadencia ideológica. Espanha; Siglo XXI, 1986
SUN TZU. L’art de la guerre. Paris; Flammarion, 1972
TAMINIAUX, Jacques. Naissance de la philosophie hégélienne de l’État. Paris: Payot, 1984
       
                
      
  
              
                
  


sábado, 25 de agosto de 2018

O CANDIDATO ÉPICO DA OKHRANA


José Paulo

Com o progresso das eleições no Brasil, os mass media já sabem de sua importância desproporcional na determinação do resultado eleitoral presidencial. A gramática dos mass media fica oculta na parte invisível da tela gramaticas da sociedade de comunicação. O trabalho do marxismo brasileiro é traze-la para a dimensão visível da tela gramatical.  

Os mass media são um fenômeno industrial capitalista no Ocidente e periferia ocidental. Eles são regulados pelo princípio da mercadoria (econômica, política, cultural).

Os mass media se vendem como mercadoria econômica para obter volumosa renda de publicidade; se vende como mercadoria política para influenciar no processo eleitoral e na composição do poder nacional (e local) pelas facções políticas dominante; se vende como mercadoria cultural (a mercadoria é o Deus mortal) para seduzir a massa eletrônica.

Os mass media são um campo de múltiplas contradições (funcionamento democrático em período normal) entre as facções de entretenimento, cultural e homo informacionalis. A facção infomacionalis (sob o comando dos jornalistas) detém o poder comunicacional, no domínio político mediático. As outras facções trabalham pare ela na época eleitoral, pois, se trata de fazer política comunicacional para fazer presidentes e depor presidentes.

Em época de eleição, os mass media funcionam em um regime de exceção comunicacional. Eles passam a funcionar como uma burocracia weberiana, isto é, segundo uma cultura hierárquica inflexível, e uma racionalidade instrumental funcional. Nesta burocracia corporativa, industrial comunicacional, neocolonial, o jornalista torna-se o “funcionário público” capitalista regulado pelo princípio do dever com o dono da empresa. A manutenção do emprego grita mais forte do que ideologias políticas pessoais. O funcionamento democrático é substituído por outro, autocrático. A política comunicacional é realizada por jornalista que obedecem cegamente ao patrão editor. A alta administração dita as linhas editoriais a serem seguidas automaticamente pelos jornalistas.      

A facção cultural é constituída de músicos criativos, atores e atrizes, cientistas, médicos, psicólogos, economistas, cientistas políticos e outros especialistas de diferentes áreas de saber. Ela é tática para garantir a legitimidade: os mass media como poder legítimo em uma era de poder ilegítimo dos políticos tout court.

No período eleitoral, os mass media precisam tomar a decisão de qual candidato eleger. A escolha não é uma besteira, não é feita por critérios da indeterminação, e sim de hiperdeterminação. A decisão é um efeito da gramática social sobre os mass media. Na sociedade neoliberal do capitalismo neocolonial, a decisão obedece à lógica das classes dominantes que dominam poderes estatais: poder do Congresso nacional, poder governamental, poder judiciário.

Como se trata de um campo de poderes de múltiplas contradições, os mass media servem e são enredados pelo poder econômico dominante do capitalismo neocolonial.

No Brasil, a economia de commodities neocolonial é o poder econômico dominante. No Congresso, ela existe como um bloco de poder conhecido como b.b.b (bala, bíblia, boi) e se entrelaça com o Centrão, tendo o PP ou Progressistas como facção congressual no comando da política das facções neoliberais, neoconservadoras e neocoloniais.

O candidato oficial neocolonial, neoconservador (Opus Dei) e neoliberal  é o paulista Gerald Alckmin. No entanto, saído da escola política b.b.b., Bolsonaro é o candidato estepe do poder econômico dominante. Com Geraldo até agora sem chances de chegar ao segundo turno (e Bolsonaro em primeiro lugar nas pesquisas de opinião devoto) os mass media do Rio já fazem campanha (nada sutil) para o carioca Bolsonaro.

Quem é Bolsonaro?

Trata-se de um capitão aposentado do Exército com ideologia favorável ao Estado 1968 fascista, em primeiro lugar. Contudo, a biografia política de Bolsonaro só se torna inteligível associada à história da Okhrana.  

Na presidência, Fernando Collor extingui legalmente o SNI: Okhrana estatal. Os agentes secretos do SNI passaram a servir à burguesia e pequena burguesia do comércio no Rio e em São Paulo. A Okhrana se tornou um serviço secreto burguês, privado de vigilância, espionagem interempresarial, espionagem e perseguição do inimigo gramatical do capitalismo neocolonial  e proteção do comércio das grandes cidades etc.

Em 1999, FHC recriou o SNI e serviços secretos das forças de segurança (exército, marinha, aeronáutica, polícia militar, casa civil nacional etc.). O novo SNI púbico/privado (Okhrana) é um poder secreto da gramática de estatização do campo de poderes. Trata-se de um poder que não atua contra o poder criminoso. A explicação deste fato é um segredo guardado a sete chaves. Falar do agir da Okhrana é falar de um agir que domina a dimensão invisível da tela gramatical da política.

Portanto, não se trata de falar de fatos, e sim de sintomas.

A Okhrana é como o complexo de Édipo um sinthoma. (Lacan.2007: 23). Ela é um sujeito suposto:
“Contudo, a experiência demonstra-nos que essa suposição está sempre entregue ao que chamarei de uma ambiguidade. Quero dizer que, como tal, o sujeito sempre é não somente duplo, mas dividido. Trata-se de dar conta do que, dessa divisão, instaura o real”. (Lacan. 2007: 30).
                                                                              II


A Okhrana é o sujeito esquizo, pois, ela é um sujeito legal (ABIN) e ilegal-terrorista (maior parte dos serviços secretos que agem na sombra da legalidade). Gianfranco Sanguinete estudou a Okhana no caso do sequestro e assassinato de Aldo Moro.

S. diz: “Ora o terrorismo italiano é o último enigma da sociedade do espetáculo e só quem raciocinar dialeticamente o poderá resolver”. (Sanguinetti: 23). A Okhrana é, hoje, um enigma da sociedade do espetáculo comunicacional funcional do capitalismo neocolonial. Ela é um agir de espionagem legal de Estado (ABIN) e uma prática política terrorista agindo no lado invisível da tela gramatical da política. Como sujeito esquizo, ela instaura o real da política burguesa brasileira. 

S. diz:
“Todos os actos do terrorismo, todos os atentados que tiveram e têm poder sobre a fantasia dos homens, foram e são ou acções ofensivas ou acções defensivas (...) O terrorismo defensivo dos Estados é por eles praticados direta ou indiretamente, com as suas próprias armas ou com as de outrem”. (Sanguinette: 63).

O terrorismo introduz uma gramática na política que corrói a democracia em geral:
 “Todos o grupúsculos terroristas secretos são organizados e dirigidos por uma hierarquia que permanece clandestinamente para os próprios militantes na clandestinidade, o  que reflete perfeitamente a divisão do trabalho e dos papéis própria desta organização social: na  cúpula decide-se e na base executa-se”. (Sanguinette: 64).

A Okhrana é constituída por grupúsculos terroristas secretos que instaura o real do sujeito esquizo na política da democracia 1988. Ações defensivas têm praticado a OKhrana. Estas ações não já suprimiram vidas importantes da política brasileira?  

A Okhrana age, eleitoralmente em 2018, através de grupúsculos digitais terroristas nas redes sociais. O agir desses grupúsculos não provocou uma reação violenta simbólica do poder judicial tentando controlar o terrorismo nas redes digitais?    

Como dizer a verdade sobre o sujeito Okhrana?

Lacan diz sobre a verdade:
“só há verdade na medida em que ela apenas pode ser dita pela metade, tal qual o sujeito comporta. Para exprimi-lo conforme o enunciei, a verdade só pode ser meio dizer”. (Lacan. 2007: 31).

Notem e anotem que os mass media não tratam jamais das ações da OKhrana em solo pátrio. Os mass media brasileiros cultivam uma grande admiração pela OKhrana americana, especialmente, pela CIA. Esta aparece como um sujeito de uma saga épica da política mundial.

A CIA é um herói transliterário (Bakhtin: 29), pois, é o herói romanesco transladado para a realidade invisível da tela gramatical da política mundial. A facção cultural americana dos mass media cria e recria uma cultura (filmes, seriados, documentários, história em quadrinhos, livros científicos, romances etc.) em uma narrativa na qual a Okhrana é um herói épico.   

A CIA é o herói épico da narrativa romanesca dos mass media brasileiros. A Okhrana é constituída por redes secretas interligadas mundialmente e em luta permanente, entre si. O Brasil faz parte dessa Okhrana mundial. O terrorismo de Estado da CIA criou o primeiro grupúsculo terrorista da esquerda brasileira na década de 1960:
“”qualquer serviço secreto pode inventar uma sigla ‘revolucionária’ e levar a cabo um certo número de atentados, que a imprensa se encarregará de propagandear, e a partir dos quais lhe será fácil formar um pequeno grupo de militantes, ingénuos, que dirigirá com a maior das facilidades”. (Sanguinette: 64).

A CIA criou vários grupos terroristas islâmicos. No México, a Okhrana fez aliança informal com  El Chapo (capitalista neocolonial lumpencriminal), usando-o como moeda de troca da política mexicana formal. Na segunda década do século XXI, a segunda prisão de El Chapo é obra da Okhrana mexicana e americana (DEA). O túnel cavado para a fuga de El Chapo da prisão de segurança máxima é obra da Okhrana. E finalmente, a extradição de El Chapo para os EUA é obra da Okhrana.     
No Brasil, a Okhrana pode estar por trás da criação de organizações criminais que dominam a parte invisível da tela gramatical da política. Fenômenos estranhos acontecem (explosões de aviões como o do ministro de Sarney Marcos Freire, assassinatos políticos de ambientalista e Marielle Franco, movimentos de sublevação criminal fazendo pendant com sublevação policial, criação de legislação para enquadrar as massas na rua como terroristas, corrupção em larga escala da elite política e econômica etc.), e eles têm a mão invisível da Okhrana.

Teoria da conspiração?

A Okhrana é a argamassa gramatical do b.b.b (b. de economia de commodities, b. de fundamentalismo neoconservador, b. de complexo industrial-militar) e do movimento pela legalização dos jogos de azar, entre nós. A Okhrana faz pendant com o complexo industrial-militar mundial

                                                                            III

Dou um salto qualitativo no marxismo brasileiro ao tratar com as gramáticas da sociedade de comunicação.

Dominique Wolton diz que, no modelo ocidental, através das raízes judaico-cristãs por emergência dos valores modernos do indivíduo livre, observa-se, nitidamente, o ideal de emancipação individual e coletivo. Comunicar implica, de um lado, a adesão aos valores fundamentais da liberdade e da igualdade de indivíduos. De outro lado, a busca de uma ordem política democrática. Mesmo no capitalismo neocolonial, a ideologia técnica industrial “cultural” ocidental supracitada é um guia da ação de comunicação dos jornalistas dos mass media. Sem drama até aqui!

A indústria cultural mescla a gramática da comunicação normativa com a gramática da comunicação técnica social.

Wolton diz:
“Par communication normative il faut comprendre l’idéal de communication, c’est-à-dire la volonté d’échanger, pour partage quelque chose en commun et se comprendre. Le mot ‘norme’ ne renvoie pas à um impératif, mais plutôt à l’idéal poursuivi par chacun. La volonté de compréhension mutuelle est ici l’horizon de cette communication. Et qui dit compréhension mutuelle suppose l’existence de règles, de codes et de symboles. Personne n’aborde ˂naturellement> autrui. Le but de l’éducation puis de la  socialisation est de fournir à chacun les règles nécessaires à l’entrée en contact avec autrui”. (Rolton: 17).

Fazendo pendant com a gramática da comunicação funcional, a gramática da indústria cultural introduz um ponto de inflexão na história das gramáticas da comunicação:
Par communication fonctionelle il faut entendre les besoin de communication des économies et des sociétés ouvertes, tant pour les échanges de biens et de services que pour les flux économiques, financiers ou administratifs. Les règles jouent ici un rôle encore plus important que dans le cadre de la communication interpesonnelle, non dans une perspective d’intercompréhension ou d’intersubjectivité, mais plutôt dans celle d’une efficacité liée aux nécessités ou aux intérêts”. (Wolton: 17).

A comunicação funcional dos mass media instala no real da tela gramatical comunicacional o trans-sujeito industrial cultural da sociedade de comunicação de massa.  Em tal sujeito, a determinação não se obra em favor da indeterminação, e sim a favor de uma hiperdeterminação, no vazio. (Baudrillard. 1983: 12). Os fenômenos de inércia se aceleram; as massas caem em um gigantesco processo de inercia por aceleração. (Baudrillard. 1983: Além desse ponto só ficam uns acontecimentos sem consequências (e teorias sobre as massas sem consequências), porque absorvem precisamente seu sentido em si mesmos, não refratam nada, no pressagiam nada. Mais além deste ponto aparecem as catástrofes. (Baudrillard. 1983: 13).

O capitalismo neocolonial da comunicação funcional é a estratégia catastrófica como última etapa do capitalismo mundial:
“La catastrophe est l’événement brut maximal, là encore le plus événementiel que l’événement – mais l’événement sans conséquence et qui laisse le monde en suspens”. (Baudrillard. 1983: 17).

A sociedade de comunicação da cultura industrial do homo informacionalis fez da transparência o elemento da gramática que retrata a catástrofe como um dado natural da época contemporânea. E a transparência comunicacional significa que é subtraído da tela gramatical da comunicação funcional a sua parte invisível. Assim, a Okhrana fica protegida de uma exposição fatal na cultura de massa. No entanto, na era da comunicação catastrófica, a transparência torna-se uma estratégia cínica. A chefe da CIA de Donald Trump é uma mulher acusada de praticar tortura com presos muçlumanos.

Vivemos uma época na qual a comunicação catastrófica funcional dos mass media já metabolizou a legitimidade de candidatos presidenciais da Okhrana. Trata-se da emergência de uma consciência cínica funcional mass media na política nacional. Observe-se que também o poder judiciário não tem jurisdição sobre o agir da Okhrana.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação literária. SP: Martins Fontes, 1992
BAUDRILLARD, Jean. Les stratégies fatales. Paris: Grasset, 1983
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 23. O sinthoma. RJ: Zahar, 2007
SANGUINETTI, Gianfranco. Do terrorismo e do Estado. Lisboa: Antígona, 1981
WOLTON, Dominique. Penser la communication. Paris; Flammarion, 1997





                
    


 
   
    
  


        
        

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

MASS MEDIA, POLÍTICA, ELEIÇÃO


José Paulo

A investigação dos mass media começa com a relação deles com a cultura. Hegel apresenta um conceito de cultura claro e distinto:
“Também a filosofia precisa surgir na vida do Estado, já que, como foi mencionado, é por meio de um conteúdo que se obtém a cultura, a qual é a forma inerente ao pensamento. A filosofia, que nada mais é do que a consciência dessa forma, o pensar do pensar, prepara, com isso, o material singular para a estrutura ainda em formação”. (Hegel. 1995: 64).

A cultura significa pensar e os mass media inauguram o espaço da incultura industrial: lugar onde não se pensa a gramática social. Todavia, há três facções coexistindo lada a lado, e simultaneamente, nos mass media: facção informacionalis (sob gestão dos jornalistas); facção do entretenimento; facção cultural (que tem como agentes especialistas universitários e extra- universitários a serviço dos mass media, que fazem de conta que pensam as gramáticas sociais).

Humberto Eco diz que a visão aristocrática dos mass media tem interesse em cataloga-los como lugar da incultura, do homem inculto em um contraponto ao homem culto. Assinalar a existência de uma facção cultural nos mass media não significa suprassumir tal divisão homem culto versus homem inculto?

A ideia de que os mass media são uma democratização da cultura parte do pressuposto de que as únicas massas são aquelas massas eletrônicas dos mass media. Ao contrário, há massas de rua gramaticalizáveis e portadoras do pensar político; há massas eleitorais portadoras de um certo saber político, de um certo pensamento político; a facção cultural dos mass media se dirigem às massas que querem pensar a política, sem sucesso.

A propósito, as massas althusserianas que fazem a história são massas gramaticalizaveis por um certo saber, por uma certa gramática; elas são capazes de pensar a história universal, como portadoras de filosofia marxista. (Althusser. 1973: 42).   

A gramática dos mass media (Eco: 66) se define por tomadas em recuo (vinheta após vinheta, campos extensos (tomadas de rua, paisagens caóticas), campos fechados centrado no rosto e no corpo do apresentador tensionados etc., visando produzir o efeito da efemeridade da vida (Eco: 13). A metafísica da finitude da vida é um aspecto da gramática dos mass media que escapou as melhores teorias da sociedade de comunicação industrial de massa. Portanto, os mass media se definem pela junção do inculto com um certo pensar estúpido de máquina industrial de comunicação de massa.

As facções dos mass media são facções industriais. Me interessam: 1) as facções capitalistas dos mass media seja pelo laço de interesse econômico deles com as facções econômicas capitalistas; 2) seja pelos laços políticos com as facções políticas do Congresso e governo nacional; 3) seja pelo laço ideológico com o capitalismo (as facções informacionalis, de entretenimento  e cultural se definem por possuírem laço ideológico- de diferentes espécies- com a gramática capitalista dominante).

Os mass media funcionam com o aparelho ideológico de informação na gramática do campo de poderes estatizado. (Althusser.1976: 94). Na sociedade industrial do espetáculo, a ideologia dominante é criada e recriada por agentes-suportes humano da gramática dos mass media (de papel, eletrônico, digital) 

                                                                                 II

A gramática dos mass media é compósita e heteróclita. Começo pelo eufemismo na linguagem jornalística eletrônica. O eufemismo é redução da linguagem eletrônica a uma pasteurização, ou seja, a uma vulgarização a que é submetido o discurso como tática de torná-lo menos contundente e, assim, mais palatável para o grande público, fabricando-o como massa eletrônica da civilização industrial dos mass media. (Eco: 35).

Trata-se de uma simplificação e empobrecimento, de um uso simplório da língua. O pastiche é um elemento natural dos mass media, pois, o normal é a cópia grosseira da cópia dos discursos produzidos nos mass media ou dos discursos da alta cultura.

O eufemismo é o paraíso da indeterminação do sujeito nos massa media. Por exemplo, a violência real é transmutada em violência do espetáculo midiático, violência indeterminada; a stásis não existe como uma unidade contraditória de determinações; a guerra civil generalizada, mais ou menos oculta como elemento da gramática capitalista (Marx.1975. v. 1: 33) é foracluída, lacanianamente.   

Os mass media são, por excelência, produção e circulação de besteira, conscientemente:
“Este indeterminado, este sem-fundo, é igualmente a animalidade própria ao pensamento, a genitalidade do pensamento: não esta ou aquela forma animal, mas a besteira. Com efeito, se o pensamento só pensa coagido e forçado, se ele permanece estúpido enquanto nada o força a pensar, aquilo que o força a pensar não é também a existência da besteira, a saber, que ele não pensa enquanto nada o força? Retomemos a palavra de Heidegger: ‘o que mais nos dá a pensar é que nós não pensamos ainda’. O pensamento é a mais elevada determinação, efetuando-se em face da besteira como do indeterminado que lhe é adequado. A besteira (e não o erro) constitui a maior impotência do pensamento, mas também a fonte de seu mais elevado poder naquilo que o força a pensar”. (Deleuze.1988: 434).

Os mass media são o animal informacionalis que produz e faz circular a besteira sobre a gramática do capitalismo neocolonial. A observação exaustiva, sistemática, metódica do funcionamento dos mass media levou a criação e recriação do marxismo brasileiro. 
                                                                               III

A unificação de um povo em um Estado é um problema vital da filosofia política em Kant:
“Isto resulta de ser justamente a vontade geral, dada a priori (em um povo ou na relação de vários povos entre si), que determina unicamente o que é de direito entre os homens; esta união da vontade de todos, porém, sempre que realizada de maneira coerente, também segundo o mecanismo da natureza, pode ser ao mesmo tempo a causa capaz de produzir o efeito visado e pôr em prática o conceito de direito. Assim, por exemplo, é um princípio da política moral que um povo deva unir-se para constituir um Estado segundo o conceito único do direito da liberdade e da igualdade, e este princípio não se funda sobre a sabedoria mais sobre o dever”. (Kant: 147-148).

Guy Debord fala da sociedade do espetáculo como uma realidade que contém os mass media como manifestação superficial mais esmagadora (Debord: 26). A sociedade do espetáculo é o mundo econômico (e o mundo-da-vida) sob comando da mercadoria: “O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido”. (Debord: 36, 39).

A mercadoria no comando da vida é a mercadoria no comando da economia, política e cultura. Assim, chega-se a ideia doa sociedade do espetáculo (sociedade da mercadoria) como gramática de unificação de um povo (povos, país, regiões, continentes geoeconômicos):
“O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a própria sociedade, como uma parte da sociedade e instrumento de unificação”. (Debord: 16).

Como instrumento de unificação ele se encontra no lugar da vontade geral kantiana condensada no Estado republicano. Como isso é possível:
“O espetáculo não pode ser compreendido como o abuso de um mundo da visão, o produto das técnicas de difusão maciça das imagens. Ele é uma Weltanschauung que se tornou efetiva, materialmente traduzida. É uma visão de mundo que se objetivou”. (Debord:17). Assim, o espetáculo é um liame social de uma religião laica, ele é a reconstrução material da ilusão religiosa (Debord: 24):
“O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens”. (Debord: 16).

Na eleição, trata-se de vender o candidato dos mass media como a mercadoria - a mercadoria como Deus mortal sedutora (Baudrillard: 51) desejada pela massa eleitoral.  

A relação social mediada por imagens é regida pelo mundo das aparências de semblância autêntica e inautêntica. As massas da sociedade do espetáculo são vergadas por semblâncias autênticas como os equivalentes virtuais do Sol levantando-se pela manhã para pôr-se ao entardecer, aparência que mesmo um volume imenso de informação científica não é capaz de mudar tal percepção do homem comum. (Arendt: 31).  

Em Debord o espetáculo aparece de modo mais simplificado:
“Considerado de acordo com seus próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda vida humana –isto é, social- coo simples aparência”. (Debord: 19).
O espetáculo é a gramática dos mass media como mundo de aparências de semblância. 
                                                                                 IV

A gramática da política é: ˂sede astuto como as serpentes>. A gramática da política oligárquica é: ˂fazer o bem para o amigo, prejudicar os outros>. A moral acrescenta-se como condição limitante à gramática da política, ou seja: sede astuto ˂ sem maldade>.
Kant diz:

A MORAL é já por si mesma uma prática, no sentido objetivo, enquanto totalidade de leis que ordenam incondicionalmente, de acordo com as quais devemos agir, sendo evidente absurdo alguém, depois de ter admitido a autoridade deste conceito de dever, querer dizer que não se pode realiza-lo”. (Kant: 130).

A moral já foi a teoria da política como doutrina do exercício do dever. Se tomarmos a doutrina do bem comum como objetivo da política, a moral, como ética, pode ser a ideologia do agir do partido político?

A política como um problema do partido político é coisa do passado. Ser “astuto como uma  serpente” é a política dos mass media, aparentando astucia sem maldade. A política da serpente é aquela política real da oligarquia eletrônica em tela. Trata-se da redução da política partidária à política da facção industrial eletrônica, no espaço da cultura de massa.

A entrada dos mass media na política da sociedade do espetáculo pôs em segundo plano a política da definição  weberiana, como espetáculo:
“La ‘política’ sería, así, para nosotros: aspiración a la participación en el poder, o a la influencia sobre la distribución del poder, ya sea entre Estados, o, en el interior de un Estado, entre los grupos humanos que comprende, lo qual corresponde también esencialmente al uso linguístico”. (Weber.1984: 1056).

O princípio da gramática saussuriana da soberania popular é a relação arbitrária entre significante e significado (representante e representado, governante e governado). Os mass media confiscaram o lugar dos partidos políticos como ˂canais de comunicação>privilegiados entre as elites políticas e a população. (Gingras: 41), agindo como fornecedor de ideologias para a relação  de representação entre governante e governado. Pôr no lugar das ideologias nacionais a ideologia multiculturalista já significava a antecipação do domínio da gramática capitalista neocolonial, sem nação, sem Estado-nação!

Antes apanágio da luta democrática, o homo informacionalis é hoje onipresente. Trata-se de uma trans-subjetividade que faz pendant com as sociedades complexas quanto ao seu funcionamento. O homo informacionalis é a argamassa gramatical que articula economia, política e cultura. (Wolton: 1960. Hoje, desenvolve-se uma contradição transdialética entre o homo informacionalis e a democracia representativa industrial.    

Os mass media provocam uma alteração nas práticas políticas e no discurso político. A oratória (a eloquência) como prática política é jogada para o segundo plano diante do debate. A formação profissional conquistada na carreira política cede diante do amadorismo político das personalidades dos mass media. A personalização da política faz presidentes da República, inclusive nos EUA. Ela é o ersatz do político carismático weberiano. O carisma weberiano torna-se a conquista da aura gramatical-midiática pelo político normalizado pela por narrativas da tela  gramatical da política. A influência demagógica do líder carismático é reduzida ao grua zero do acontecer político, principalmente, em eleições. (Weber.1944 :1084-1085)

A política como lugar tradicional do uso da palavra e da representação simbólica cede seu lugar para a política como excesso de drama e de personalismo, beirando o culto da personalidade midiática. A política midiática se dirige ao campo dos afetos e ao campo de animus (raiva, medo, temor).   

A agenda setting ou o estabelecimento de prioridades políticas faz pendant com a importância atribuída a certos sujeitos pelos mass media. As questões da política se constituem como uma agenda midiática facilitando ou dificultando a capacidade de governar. O espaço político como esfera das relações de poder é expandido. Ele se torna uma gramática de estatização do campo de poderes virtuais, onde os massa media aparecem como, verdadeiramente, o 4°Poder.

A política midiática faz do político um refém. A transpolítica é a política dos mass media. (Baudrillard. 1983: 39,29).

A política dos mass media altera o discurso e a prática da política tout court no capitalismo neocolonial das “sociedades” em crise permanente. A política lida com artefatos (Lacan. 2009: 15) eletrônicos passados para o receptor como fatos da lógica dos fatos da realidade e até, em raros casos, do real. O fato é uma ficção factual vendida, verdadeiramente, como algo do real da realidade dos fatos.

No domínio eleitoral, as práticas políticas são: o marketing político, sondagens de opinião eleitoral, retenção de informação, estelionato eleitoral, manter os segredos de campanha no anonimato, negociações a favor de uma cobertura mais favorável (por exemplo, a cobertura de Bolsonaro da Globo News é sempre a última apresentada entre os candidatos e sempre o mostra nos braços do povo; é a única candidatura com uma narrativa dramatizada explorando a imagem do homem forte).   

A tela gramatical da política dos mass media funciona como uma unidade de múltiplas contradições e determinações. As facções dos mass media (já supracitadas) mantém uma luta velada, às vezes aberta, em período eleitoral, visando influir (Habermas) nos resultados eleitorais. A luta mais efetiva é aquela entre personalidades públicas contempladas pela aura midiática.

A luta das facções dos mass media é apresentada como um ersatz realizando a prática do espaço público procedural:
Para Hannah Arendt, o fenômeno básico do poder não é, como para Max Weber, a chance de impor, no âmbito de uma relação social, sua própria vontade contra vontades opostas, e sim, o potencial de uma vontade comum formada numa comunicação não coagida”. (Habermas: 187).  

O funcionamento econômico, político e cultural dos mass media limita o quadro explicativo dos acontecimentos chegando a descontextualização dos problemas , à ocultação dos fenômenos, estruturalmente, gramaticais, ao esquecimento histórico, à negação das relações de poder, a foraclusão das relações de classes baseadas na lógica dos interesses econômicos e ideológicos. O capitalismo neocolonial não é apontado como causa da destruição da natureza ou da instalação da natureza objetivada que afeta catastroficamente a vida humana, animal, dos povos indígenas e das Florestas, rios e mares.

Como o capitalismo neocolonial é o estado permanente de crise do capitalismo, os mass media não abordam tal fenômeno como totalidade, isto é, como gramática. A política em tela é aquela  do ritmo rápido, da aceleração política de produção e circulação de besteira. O quadro dramático retratado pela política midiática (mostrando as mazelas do país) servem para capturar a classe política na tela gramatical da política dos mass media. Em regime presidencialista, a época de eleição é governada pelas facções dos mass media nos debates de jornalistas e especialistas com os candidatos e pelo jornalismo e programas de debates de  especialistas (e jornalistas) sobre a eleição . A agenda jornalista dita a fala dos  candidatos!  

A fragmentação das mensagens políticas consiste na apresentação de fatos e no capital político que se arrisca de toda ordem de ˂informação-capsula>, a fragmentação das questões correspondendo a um efeito-clip, à um efeito scrum. Os mass media demandam da política tout court uma velocidade de agir (e falar) fora do alcance dos políticos.  

Em épocas de crise estrutural, os mass media fazem uma pauta de ataque aberto à classe política, poupando elites econômicas; o mundo público é o único responsável pelo mal que assola o país: desemprego, degradação dos bairros nas megalópoles, habitação social inadequada e insuficiente, criminalidade urbana e rural, problemas com transportes de passageiros, engarrafamentos cotidianos, assédio sexual, fome, doenças e epidemias etc.

Não se deve esquecer que os políticos tem interesse de interditar o pensar dos problemas políticos e econômicos do capitalismo neocolonial; interesse em ocultar a gramática e o modo de agir dos políticos na insolubilidade dos problemas históricos e estruturais, jogando assim com uma ampla margem de manobra na construção das alternativas propostas ao eleitorado. O  estelionato  eleitoral é um fenômeno normalizador da vida da classe política.

Com a crise da sociedade industrial urbana na América Latina, os políticos e os mass media fazem de conta que se trata de uma crise possível de ser revertida com investimentos do capital privado no sistema industrial morcelado. Para isto acontecer, o governo tem que adotar o  receituário do “Consenso de Washington”, aprofundado como ideologia neoliberal do regime de acumulação financeira global. Isto significa, a curto prazo, a necessidade de destruição do Estado amplo substituindo por um Estado neoliberal barato. 

No Brasil, a destruição das profissões públicas (como a de juiz etc.) não aparece como contradição, pois, o neoliberalismo já jogou na lata de lixo da história a moral jurídica como teoria da política.
Para o neoliberalismo, a Constituição 1988 é papel envelhecido que não  serve para articular a política em  geral. Como ela contém um Estado social, o neoliberalismo a classifica como uma Constituição corporativa-populista, na linguagem dos cientistas políticos e economistas de plantão nos mass media. Rasgá-la aos pedaços é a obra que o Congresso neoliberal de commodities, indústria de armas e do criminostat (Virilio: 54-55) vem efetuando desde a República do bolivariano, de FHC e Lula.     

O neoliberalismo já metabolizou que o crime organizado age como parte da acumulação primitiva do capital no capitalismo neocolonial do terceiro-mundo - que invade, inclusive, o primeiro-mundo. Os mass media têm como função ocultar para o eleitor as contradições gritantes e estressantes do neoliberalismo para o eleitor.

Os mass media apostam até no bonarpatismo de chumbo (de um Bolsonaro) como uma forma de resolução eleitoral da evolução do capitalismo neocolonial, entre nós. Tal modelo político é proposto como gramática da política latino-americana. Geraldo Alckmin representa o bonapartismo soft. O PT significa a tentativa de conciliação e transação entre a esquerda bolivariana privatista, inconfessadamente neoliberal, e os interesses do capitalismo neocolonial.

Deus não joga dados com o universo. As facções das elites brasileiras jogam dado com o destino da nação, encaminhando-a para o comando da economia, política e cultura sob a batuta do capitalismo neocolonial extrativista mercantil fóssil. 

E, no entanto, há resistência, cada vez mais  visível na tela gramatical da política, à esquerda no horizonte eleitoral.


ALTHUSSER, Louis. Réponse a John Lewis. Paris: Maspero, 1973
ALTHUSSER, Louis. Positions. Idéologie et appareils idéologiques d’Etat. Paris: Éditions Sociales, 1976
ARENDT, Hannah. A vida do espírito. O pensar, o querer, o julgar. RJ: UFRJ/ Relume Dumará, 1992
Baudrillard, Jean. Les stratégies fatales. Paris: Grasset, 1983
BAUDRILLARD, Jean. Da sedução. Campinas: Papirus, 1991
DEBORD, Guy. La société du spectacle. Paris: Gallimard, 1967
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. RJ: Graal, 1988
ECO, Humberto. Apocalípticos e integrados. SP: Perspectiva, Sem Data
GINGRAS, Anne-Marie. L’impact des communications sur les pratiques politiques. Communication et politique. Hermès 17-18. Paris: CNRS Éditions, 1995
HABERMAS. Direito e democracia. Entre a facticidade e a validade. v. 1. RJ:  Tempo Brasileiro, 1997
HEGEL. Filosofia da história. Brasília: UNB, 1995
KANT. Textos Seletos. Petrópolis: Vozes, 1985
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 18. De um discurso que não fosse semblante. RJ; Zahar, 2009          
MARX. Obras Escogidas de Marx e Engels. Manifesto do Partido Comunista. Madrid: Editorial Fundamentos, 1975
WEBER, Max. Económia y sociedad. México: Fondo de Cultura Económica, 1944
WOLTON, Dominique. Penser la communication. Pareis: Flammarion, 1977    
VIRILIO, Paul. Vitesse et politique. Paris: Galilée, 1977