terça-feira, 24 de março de 2015

NOTÍCIAS DA GUERRA

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.



SÍLVIO ROMERO/HOMEM/MÁQUINA
Sílvio Romero recolheu o conto popular mestiço luso-brasileiro “O homem que quis laçar Deus” no livro Contos populares do Brasil. Deus pode ser claramente concebido como inscrito no campo simbólico popular. O conto trata disso: “Havia um homem que era muito pobre e com muita família. No lugar em que morava, havia uma estrada muito grande e se dizia que ali passava Deus e o mundo. Ouvindo dizer isto o homem, e querendo saber a razão por que Deus o tinha feito tão pobre, armou um laço e assentou-se na estrada à espera de Deus”. A estrada que passa Deus e o mundo é vizinha do homem. Ela é a junção do Simbólico (Deus) com o Real (mundo da facticidade das mercadorias com o qual o homem alucina). Laçar Deus é o processo de simbolização capaz de fazer o homem integrar a facticidade do mundo ao inconsciente político. No entanto, não se trata do inconsciente mestiço, mesmo o conto sendo mestiço.
Um velhinho dá quatro vinténs ao pobre homem, ou será homem pobre, e diz que ele tinha de comprar algo exatamente deste valor. A miséria espiritual do homem não o deixa perceber que o velhinho é a encarnação de Deus, é o simbólico em carne e osso? Então, por que ele segue a ordem ao pé da letra? De qualquer maneira, fica muito contente e procura um compadre negociante rico para este trocar os quatro vinténs por um objeto em sua viagem a buscar sortimentos para sua loja. A única coisa que o rico negociante encontra por quatro vinténs é um gato. Era um animal raro naquele lugar. O significante que dá acesso a simbolização do inconsciente político é algo raro? Então começa o caminho que leva ao desejo do Outro. O desejo é o desejar o desejo do Outro. O desejo do Outro é possuir o gato porque o valor dele é exatamente quatro vinténs, ou seja, o valor estabelecido por Deus para um significante raro. Raro porque dá acesso ao processo de simbolização. Note bem, o valor não é o preço do mercado, ele não é estabelecido pela lógica da mercadoria, mas pela lógica populista de Deus, na medida em que Deus vai até o pobre! Para o pobre a simbolização através do mercado é impossível.
O desejo do amigo rico do negociante pelo gato - pelo processo de simbolização – o leva a comprar este significante raro por uma grande soma de dinheiro. Pela lógica da mercadoria o bem raro vale isso. O homem rico tem acesso à Deus pela lógica da mercadoria? Trata-se de um acesso perverso. Aqui a mercadoria é o objeto a (pequeno objeto-dejeto) que vai tamponar o buraco no simbólico.  Marcuse esclarece isso no seu livro Razão e Revolução. Para Hegel: “A lei (Gesetz) transforma a totalidade cega das relações de troca na máquina conscientemente regulada do estado”. O processo de simbolização - que significa a integração dos significantes raros ao inconsciente político – não pode se fazer através da mercadoria, mesmo ela sendo rara. A lei que propicia a simbolização está indissoluvelmente ligada a uma máquina, ao Estado como máquina. A lógica da mercadoria inicia o sujeito em um processo de simbolização por abstração – perverso-  das relações concretas através do objeto a. Através da lei, a máquina – que é uma máquina de guerra inibida em sua finalidade do uso absoluto da violência – inicia o homem em um processo de simbolização universal-concreto. Mas qual é o caminho do conto?
O rico deveria dar o dinheiro obtido com a venda do gato para o compadre pobre. A miséria espiritual do rico – que acredita que nenhum pobre tem o direito de ficar rico – o leva a enganar o pobre homem subtraindo-lhe a multiplicação dos quatro vinténs divinos através do significante raro: gato. Deus intervém para que o negociante rico devolva o dinheiro para o homem pobre ameaçando-o com uma moléstia mortal. No final, o rico entrega a rica soma de dinheiro e é curado por seu gesto.
Sem passar pelo inferno do trabalho abstrato e, portanto, pela lógica da mercadoria o homem pobre torna-se um homem rico pelas mãos de Deus: quatro vinténs divinos. O pobre homem é abençoado por Deus, pelo grande Outro, pelo discurso do Outro. Para o homem pobre, este não é o discurso do capitalista, ou a lógica da cultura política do dinheiro. Qual cultura política abençoa o pobre com a esperança de retirá-lo da pobreza sem que este tenha que fazer o caminho do self made man da cultura capitalista do dinheiro? Não seria a cultura política populista latino-americana? Uma máquina de guerra populista não inicia o pobre em um processo de simbolização que integra os significantes que povoam seus mais intensos desejos de riqueza a um inconsciente político arcaico? A locução da cultura política latina auri sacra fames (desejo do ouro, de ficar rico) não é algo do início da história da civilização arcaica? O populismo latino-americano não se filia - por caminhos misteriosos - à auri sacra fames? Ele não é o desejo de acumular ouro (dinheiro, riqueza) por meios divinos? Todos os caminhos não levam a Deus?                                                                                                           
MULTIDÕES-2015/BRASIL
Duas espécies de multidões tomaram as ruas das capitais do país em 13 e 15 de março de 2015. Na web, na grande imprensa de papel e eletrônica, a versão dos fatos não sai do modelo esquerda versus direita. Este modelo é a lógica do fantasma que pilota o imaginário político brasileiro. No entanto, há diferenças que precisam ser ressaltadas, pois elas são uma ruptura com tal imaginário.
A multidão-13 é um efeito da crise brasileira? Os sindicatos (CUT etc.) e alguns movimentos sociais (MST, Sem Teto etc.) foram para a rua como um sujeito esquizo. Um sujeito-multidão que deseja Dilma Rousseff no poder, mas não a facticidade neoliberal do poder rousseffiano: a realpolik petista. A divisão do eu da multidão é o espelho da divisão do eu petista. A multidão-13 foi articulada pelos diversos aparelhos de Estado petistas: burocracia estatal petista, aparelho sindical, aparelho social = movimentos sociais rural e urbano. A multidão-13 apresentou-se, afinal, como uma multidão institucional situacionista. Ela defende o status quo. Ela defende Dilma mesma que essa signifique o fim dos direitos trabalhistas, a suspensão das políticas sociais etc.   O eu esquizo deu lugar à lógica da fantasia rousseffiana: sacrifique-se. A população petista deve sacrificar-se para que o PT (a esquerda) continue no poder. Cuba não deve perecer! Ainda estamos muito longe da crise da Venezuela articulada pela lógica da fantasia bolivariana de que é preferível que a população chavista torne-se uma população de lemingues à substituição de Maduro por alguém da oposição ao chavismo! Mas é preciso assinalar que a crise brasileira e a crise venezuelana são duas superfícies contínuas: elas constituem um só espaço político.
MULTIDÃO E POLÍTICA (São Paulo)
A questão principal da atual conjuntura política o seguinte. Por que São Paulo se transformou na capital política do País no alvorecer do segundo governo Dilma Rousseff? No dia 15 de março de 2015 não aconteceu a repetição diferente e lúdica de Junho de 2103? E não houve um deslocamento da rua como centro político do país do Rio para São Paulo? Por quê? Junho de 2013 significou o ponto de partida da dissolução da política articulada pelo modelo ideológico esquerda versus direita. E a esquerda perdeu o monopólio da política da rua! Mas não estava claro a natureza da contradição principal. A razão disso é que a esquerda, inclusive criptopetista, bolivariana procurou desviar e capturar o desenvolvimento do contrafluxo ideológico da multidão com o auxílio da sociedade do espetáculo. A multidão reagiu com não queremos partidos na rua conosco! Junho de 2013 levantou claramente a bandeira do fim do monopólio da política pelos partidos. Inconscientemente para a multidão, havia um partido dominante de Estado (aliança tácita do PT/PMDB/PSDB e partidos satélites) como fator de corrupção absoluta (corrosão) da política e do Estado brasileiros.
O 15-M retomou em um outro diapasão a contradição multidão (rua) versus partido dominante de Estado (espaço político restrito). Tal contradição derivou para a contradição principal entre a sociedade civil hegeliana (carregada na rua pela multidão) e o Estado petista ou Urstaat (Estado despótico arcaico). Apenas São Paulo poderia dar vida a contradição sociedade civil hegeliana versus Estado não-moderno. Trata-se obviamente da sociedade civil burguesa. Nas palavras de Hegel _ “Estão contidos na sociedade civil burguesa os três momentos seguintes: 1) a mediação da carência e a sua satisfação num sistema das carências e de fruições de todos os outros Em São Paulo a satisfação do sistema de carências está seriamente ameaçada de modo iminente); 2) a proteção da propriedade pela constituição jurídica (a possível desintegração da cidade é a negação da propriedade privada articulada pelo direito moderno) ; 3) a prevenção universal com vistas ao bem comum do indivíduo singular e com vistas a existência do direito: a polícia” (a polícia não pode existir e agir como uma máquina de guerra freudiana contra a população).
A sociedade civil burguesa é uma realidade cindida pela lógica do particular. Ela é o espaço dos indivíduos como pessoas privadas tendo por fim seus próprios interesses. A lógica do interesse domina a sociedade civil. A lógica do particular subsume a sociedade. Como membro ou cidadão do Estado, o indivíduo será sujeito político. O indivíduo moderno é cindido entre o burguês e o cidadão. Esta contradição articula a sociedade civil. A corporação – o conjunto das atividades industriais e comerciais em sentido amplo – é o significante-mediação que articula o Estado à sociedade civil: “Nos nossos Estados modernos, os cidadãos têm apenas uma limitada parte nos negócios universais do Estado; e, contudo, é necessário proporcionar ao homem ético uma atividade universal fora de seus interesses privados. Esse universal que o Estado moderno nem sempre lhe dá, encontra-o ele na corporação”. Já o Estado moderno é o desenvolvimento da Sittlichkeit, ou seja, da ética social imediata, que passa pela cisão da sociedade burguesa e vai até o Estado. A contradição sociedade civil hegeliana versus Estado moderno se resolve porque o Estado moderno racional constitui o resultado de todo o processo do direito moderno. A sociedade civil paulista está dirigindo na rua (Avenida Paulista) um processo político nacional que quer substituir o arcaico Estado brasileiro semi-moderno por um verdadeiro Estado moderno hegeliano. O que isso tem a ver com esquerda versus direita? 
A VOZ DA MULTIDÃO e o PCPT
“Segundo informações oficiais das Polícias Militares dos Estados, no mínimo, 1,950 milhão de brasileiros foram às ruas, a maioria vestida de verde e amarelo e com cartazes pedindo impeachment, renúncia da presidente e até mesmo a intervenção militar”.
http://especiais.g1.globo.com/politica/mapa-manifestacoes-no-brasil/15-03-2015/
“TOTAL DE PESSOAS, SEGUNDO A POLÍCIA ESTIMATIVA TOTAL 2,2 MILHÕES”
“Ao longo de todo o dia, ao menos 160 cidades registraram atos contra Dilma e a corrupção em todos os estados do país”.
A visão do PT é: a DIREITA se levantou como um só homem para desfechar um golpe de Estado no governo Dilma Rousseff. Eles não lembram mais do verso: “A praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião”. Esse verso só serve como hino para as massas antiditadura militar?
Cartazes pediam “até mesmo a intervenção militar”. Quem teria a coragem de negar que a cultura política totalitária habita o mundo-da-vida ou a sociedade civil hegeliana no Brasil. Os cartazes apenas indicam que o Exército brasileiro é identificado, por uma pequena parcela da massa, com a cultura totalitária. No entanto, isso não faz da M-15 uma multidão totalitária. A voz da multidão não é totalitária!
A M-15 pede o impeachment. Isso não é parte da solução, mas parte do problema. O impeachment não põe a raposa para tomar conta do galinheiro? Quando o PCPT lançou a ideia da Renúncia Já!, ele estava pensando nisso. Mas o governo pensa: se não há remédio, remediado está! Se o Congresso não é a solução, sobra o governo como solução para o problema: a crise brasileira. O país está num mato sem cachorro? Chegou ao fim da linha? Fernando Gabeira escreveu que o PT não existe mais como um centro intelectual de pensamento capaz de tecer uma saída para nós. O Instituto Lula é apenas um lugar para celebrar a ideologia petista de que a ESQUERDA deve governar o país para sempre! O Instituto Fernando Henrique Cardoso – por sua total inapetência intelectual – não chega a ser nem um salão burguês de criação de ideias. O PCPT tem dito que a solução da crise brasileira não será o resultado de uma política autárquica. O Brasil não é mais um engenho, apesar do desejo colonial   de Renan Calheiros e Eduardo Cunha de fazer do engenho (PMDB) o único centro da política brasileira. O PMDB é o grau zero da produção (um engenho fantasmático no Vale do Paraíba)) de um pensamento capaz de retirar o país da crise.
A crise brasileira é uma superfície contínua com a superfície da crise mundial. Trata-se de um único espaço mundial. O PCPT tem insistido neste ponto. Guevara queria que mil Vietnãs se levantassem contra os USA! Hoje, a crise não pulula em vários elos da cadeia mundial? Também o planeta chegou ao fim da linha? Ou foi a elite mundial que tornou-se volátil como um centro de pensamento capaz de pensar uma solução global para a crise mundial? Se ela não consegue perceber que existe uma crise mundial, o que será do planeta? A elite mundial tornou-se a máquina de guerra psicótica (temida por Freud depois da Primeira Guerra Mundial) que vai desintegrar a vida humana na terra? Máquina psicótica terrorista sublime?
Se em todo o mundo ocidental, as elites ensarilharam as armas do Iluminismo, por que não se deve contar com a possibilidade das massas serem o motor de um pensamento, de uma reflexão, de uma simbolização não apenas para a crise brasileira (ou venezuelana), mas para a crise da política mundial?
Evocando mais uma vez a poesia política de Marx:
Hic Rhodus, hic salta!
Aqui está Rodes, salta aqui!

PAPA/DIABO/MÉXICO/PABLO ESCOBAR
“Papa Francisco: ‘O diabo castiga o México com muita fúria’
Pontífice identifica a violência do povo mexicano com uma força diabólica”
O bispo de Roma Francisco “explica” a violência mexicana como o domínio do Diabo sobre o México. Seria a lógica do Credo quia absurdum est (Creio porque é absurdo)? Freud estabeleceu que esta era a lógica preferida da Bíblia católica. Acho que não é isso! Francisco está, talvez, dizendo que a elite laica mundial não tem explicação para a violência mexicana. Isso é ou não é verdade? Se nenhuma ciência moderna explica, então cabe uma explicação bíblica. Sinal dos tempos? Ou a fala de Francisco não aponta o dedo para a crise global da cultura moderna?
O Papa diz que o Diabo é o responsável. Lacan diz que Deus é o simbólico, se olharmos o campo simbólico pela cultura política católica. Ele cometeu um equívoco por causa de sua psipolítica de fazer a punção do Romantismo do pensamento de FREUD. Fundador do campo freudiano, Lacan transformou Freud em um Homem da ilustração. Por isso, ele não podia assimilar a ideia de Goethe (papa literário do Romantismo Alemão), do Fausto, de que o Diabo é o simbólico na cultura política católica:
“Mefistófoles _ Sou parcela do Além,
Força que cria o mal e também faz o bem”
O Papa comete o erro também de identificar o Diabo apenas com o mal. Lacan leu Goethe, Francisco não!
Considerando que o Diabo é o campo simbólico, ele é o articulador da cultura política que gera a violência mexicana. Qual seria tal cultura política? Não é a cultura política totalitária que articula máquinas de guerra freudianas, totalitárias, terroristas no mundo-da-vida? Tal máquina se define pelo uso da violência sem limite sobre os outros.
“Há três semanas, declarações de Francisco sobre o México levantaram polêmica. O Papa disse que estava preocupado com os problemas de criminalidade que enfrenta seu país de origem, a Argentina, e que esperava que não evoluíssem para um conflito da mesma natureza do mexicano: “Tomara que estejamos a tempo de evitar a ‘mexicanização’. Estive falando com alguns bispos mexicanos e a coisa é um terror”.
A criminalidade mexicana – que se destaca- é a dos cartéis criminosos, ou seja, do “crime organizado”. Enquanto crime organizado, os cartéis são um artefato da cultura política totalitária mundial. No México, eles alcançaram uma forma acaba de crime organizado como narcotráfico e narcopoder. Não é visível, mas como o Diabo, eles criam o mal e fazem o bem. No entanto para conhecer tal força diabólica, é mais preciso ler sobre a Colômbia de Pablo Escobar.
Multidão/indústria da comunicação/jornalismo
ETC.
A produção histérica dos jornais escritos, digitais e televisivos sobre a multidão 15-M é um fato, ou melhor, artefato que não pode ser deixado em branco. Conversando com Almir Pereira, ele apontou o processo de dissolução do significado do protesto com Dilma Rousseff ocupando o proscênio da cena política televisiva. Assim, no verso da comunicação industrial Dilma Rousseff vestindo uma nova máscara: a sacerdotisa humilde. No reverso do objeto político comunicacional, jornalistas, cientistas políticos e quejandos dizendo alguma coisa sobre a multidão – muito vezes, às avessas ao sentido político do protesto. Todo esse processo parece confirmar que o funcionamento fáctico da indústria de comunicação – televisiva, digital, de papel – é o buraco negro do sentido político. A multidão entra no buraco negro comunicacional e encontra a Singularidade política, o coração de um buraco negro comunicacional, onde o tempo para e o espaço deixa de existir para a multidão na superfície política do mundo-da-vida. Um buraco negro comunicacional da política começa a partir de uma superfície denominada horizonte de eventos políticos, que marca a região a partir da qual não se pode mais voltar. No entanto na física das máquinas de guerra, o buraco negro comunicacional é uma megamáquina de guerra de comunicação industrial que tenta sugar a matéria (multidão) para a Singularidade política. O adjetivo negro em buraco negro se deve ao fato deste não refletir a nenhuma parte da luz que venha atingir seu horizonte de eventos, atuando assim como se fosse um corpo negro perfeito em termodinâmica. Na física das máquinas de guerra, a multidão é uma matéria que não só pode escapar do buraco negro comunicacional como dificilmente atua, quando sugada, como se fosse um corpo perfeito negro em termodinâmica.   
SAMBA/MÁQUINA DE GUERRA
Existe alguma relação entre o samba e a máquina de guerra cultural?
Por que gosto de Gilberto Freyre? Ele concebeu o significante cultura brasileira mestiça no axioma antropo-sociológico: “os brasileiros são espiritualmente mestiço”. Houve um tempo em que intelectuais de esquerda tentaram fazer do samba um artefato cultural negro. Eles queriam desbancar o bom Gilberto. Mas Beth Carvalho mostrou para o Brasil que o samba é mestiço. O samba é uma articulação do inconsciente político mestiço brasileiro. Ele é a continuação – por meios musicais e poéticos – de Canudos. Então, a fronteira entre as religiosidades populares torna-se plástica no encontro delas no inconsciente político sincrético. Este é o significante de preferência de Isidoro Eduardo Americano do Brasil para designar o inconsciente político mestiço.
O significante de Gilberto CULTURA BRASILEIRA é o reverso do significante máquina de guerra cultural. Um é a cultura instalando a paz na sociedade; o outro instala a cultura como guerra no mundo da vida e da sociedade. Os dois são os lados opostos de um medalhão: verso e reverso  da cultura no território brasileiro. Assim como o Estado moderno (instituição política) é o reverso do anverso Estado brasileiro. Este jamais foi moderno e sempre – nas horas críticas – agiu como megamáquina de guerra psicótica, terrorista através de um uso da violência sem limite (da lei) contra a população: Canudos, Contestado...A cadeia de significantes chega aos 1000000 de pessoas assassinadas nos últimos 30 anos pela máquina de guerra psicótica, terrorista que tem como principal mecanismo – mas não único - a Polícia Militar em todo o território nacional. A cultura brasileira gilbertiana faz uma interseção com a cultura política mestiça que têm como motor o inconsciente político mestiço. O inconsciente político ariano tem como motor o mito da racialização da política. Nietzsche disse: “eles dominam porque são superiores”. A física das máquinas de guerra diz: “eles são superiores porque dominam”. Com o inconsciente políticos ariano não há passagem do mito para a história. Esta passagem do mito para a história só ocorre com o inconsciente político mestiço.
  Lacan diz que há passagem do mito para a história na Bíblia (Seminário 11). Há história na Bíblia, segundo ele. Tenho de entender melhor a ideia de história de Lacan. A história nasce na Grécia como contraponto à narrativa lendária. Trata-se da história como lógica dos fatos! O fato histórico é um significante da cultura letrada grega. Mas Lacan fala no Seminário 18 em artefato. Não existe fato! Só artefato! É uma crítica direta aos gregos fundadores da historiografia.
A física das máquinas de guerra articula o contraconceito inconsciente político: Inconsciente ariano versus inconsciente mestiço. O primeiro tem como motor o mito da racialização da política e do mundo-da-vida. Não há passagem do mito para a história! Trata-se de uma história mitológica.
O inconsciente político mestiço tem como motor a mestiçagem. Ele tem como motor a genética. A partir dele a física vai poder metabolizar e simbolizar sobre os problemas do campo das ciências naturais. Mas o fundamental é que ele articula-se a um certo Real biológico. Neste sentido, ele é a verdadeira passagem do mito para a história. E mais, não passagem do mito para a história factual {ou artefactual do Homem (Platão)}, mas da passagem do mito para a história natural da espécie humana como história política universal                

ARGENTINA/ FÁBULA/TOTALITARISMO
A Piauí (março/102) publicou um longo artigo do jornalista argentino Gabriel Pasquini sobre a morte do promotor Alberto Nisman. Trata-se de uma vontade de explicar a Argentina pós-crise de 2001 – que teria passado a funcionar na política pela fabulação - e a morte de Nisman como inexplicáveis devido ao imaginário fabular que domina o país. Pasquini pretende desvelar tal imaginário pela lógica dos fatos racionalizados. Então, não se trata mais de fatos, mas de artefatos jornalísticos. A Argentina é explicada por uma lógica de fatos hiper-racionais. Se o leitor conseguir atravessar este deserto da hiper-realidade, onde o texto de Pasquini é mais racional que a própria racionalidade, talvez possa usar o texto para pensar por que a Argentina foi lançada para o reino da fábula política. Trata-se de fazer a leitura do país que tem o mito como motor da vida política.  
O texto de Pasquini tem como principal conclusão que Cristina Kirchner não está envolvida com a morte (assassinato) do promotor Nisman. Considerando que a Piauí é uma revista criptobolivariano, eis o provável interesse da revista no relato cientificista de Pasquini.
Mas o texto nos permite uma outra leitura da situação argentina. A implosão do prédio da Amia – Associação Mutual Israelita argentina, coração da comunidade judaica nacional – e o atentado à bomba da embaixada israelita tornaram-se possíveis porque a máquina de guerra terrorista que o praticou foi impulsionada pela cultura totalitária argentina. Esta articula máquinas de guerra totalitárias: a comunidade jurídica (máquina de guerra jurídica heideggeriana); a indústria de comunicação (televisão, rádio, jornal de papel etc.) como máquina de guerra cultural; também o Partido Peronista como uma máquina de guerra política-populista. Na superfície política do bloco no poder, a Argentina encontra-se dominada por uma oligarquia econômica que funciona também como uma máquina-elite totalitária de guerra. Eis a explicação para a política encontrar-se dominada pelo mito. As máquinas de guerra totalitárias são articuladas pelo mito! Assim, Os ricos não são objetos da máquina de guerra jurídica heideggeriana. Esta só encarecera os pobres (pg. 26). Trata-se da racialização da cultura política – rico=superior; pobre=inferior –, racialização que é a prova mais cabal de que o totalitarismo populista (peronista) domina a Argentina, até agora sem resistência consistente ou visível! Nisman - que era um agente de tal totalitarismo populista – acabou fulminado por este fenômeno, sem direito a túmulo político. Então, quando a Argentina vai passar do mito para a história?    

FERNADO COLLOR/TIRANIA
A universidade é um lugar triste. Os alunos não têm o menor interesse em saber, refletir e simbolizar os artefatos históricos do período recente. Collor é ainda um fato político que acabou de sair do forno. Para os estudantes Collor é deixado para as calendas gregas. No plano factual, ele foi o primeiro presidente brasileiro cuja cabeça foi decepado pelo impeachment. As massas que derrubaram Collor (pois o impeachment foi um efeito do movimento de massas sem qualidade) eram espontâneas: não exista ainda a internet. No auge da crise, Brizola defendeu Collor. Quando os biógrafos vão fazer a biografia de Brizola? Trata-se de um político que elevou aos píncaros o papel do desejo na política brasileira. O desejo de Leonel de se tornar presidente o levou a defender a prorrogação do mandato do general Figueiredo e tentar impedir a queda de Collor. O desejo de Dilma Rousseff de ficar até o fim do mandato é algo que a põe na galeria das grandes máquinas de desejo (de Deleuze e Guattari) brasileiras, ao lado de Brizola e Collor. Mas qual era o desejo de Fernando Collor? Tratava-se do desejo tirânico iluminado por Platão no livro que funda a ideia de contraciência da política: A República. O estudo de Collor como tirano pós-moderno do século XX (uma vez que Floriano Peixoto foi o primeiro tirano republicano ligada à tradição brasileira e Getúlio Vargas foi o primeiro tirano moderno contra a tradição brasileira) encontra-se no link abaixo. A juventude universitária brasileira quer provar que a tradição não pesa como chumbo no cérebro jovem depois do diluvio, ou seja, depois dessa longa jornada do PT no PODER. No entanto, mais grave do que isso é a visão mentirosa repetida ad nauseam pelo jornalismo sobre o papel histórico de Fernando que dissimula o caráter tirânico de Collor na aurora da República Democrática de 1988. Tristes Trópicos?   

LUTA DE CLASSES OU LUTA DE MASSAS
O modelo geral de interpretação ideológica da esquerda latino-americana é o da luta de classes? A esquerda lulo-petista transformou a luta de classes em luta entre ricos e pobres. O Bolsa Família é o programa do governo Lula que materializou tal concepção ideológica. O PCPT vem desenvolvendo já há algum tempo a hipótese de que a luta de classes não ocupa mais o centro tático da política mundial. Professores de filosofia política da UNICAMP tentaram demonstrar em vão que a eleição presidencial de 2014 foi articulada pela luta de classes. Além do interesse escuso envolvido nisso, há a tentativa de falsificar a hipótese do PCPT. Fracassaram rotundamente!
A multidão de 13-M (13 de Março) seria constituída por massas saída da luta de classes: operários, camponeses, lumpencitadino, lumpenpolítico e vai por aí. Trata-se obviamente da operação estratégica de um vasto aparelho de Estado ampliado (burocracia sindical, burocracia camponesa, aparelho social urbano, aparelho partidário etc.) que pôs na rua estas massas disponíveis por serem contra o neoliberalismo do governo Dilma Rousseff. A política não segue linhas retas. Para a política o caminho mais curto entre dois pontos não é uma reta! Então, tais massas artificiais cantaram o hino do continuísmo de Dilma em um contraponto às massas naturais esperadas para o 15-M. O leitor talvez concorde que o Estado ampliado petista instalou na interseção entre o 13-M e o 15-M a lógica da luta de classes como simulacro de simulação.  
Com o 15M, o petismo desandou a falar em massa pobres (13-M) contra massas ricas. Um jornal inglês foi mais longe e falou em massas brancas de alta classe média e da elite. Eles se tornou o corifeu petista na Europa. O jornal inglês poderia ter usado a ideia do PCPT de que a história política universal é a dialética entre o inconsciente político ariano e o inconsciente político mestiço. Como nenhum sábio europeu sabe nada sobre isso, o jornal caiu no ridículo! De qualquer ângulo que se olhe a luta de classe não ocupa o centro da política confirmando a frase – não sei se é apenas uma frase de efeito – do jornalista espanhol Juan Arias: “A quem interessa manter essa luta surda de classes criada por ideologias que até a esquerda mais iluminada considera superadas e que semearam no mundo milhões de mortes?”. É claro que a luta de classes não foi uma criação de ideologias. Mas também é possível dizer que hoje a luta de classes é um “processo” determinado pela lógica do simulacro de simulação associado ao modelo ideológico esquerda “versus” direita. Até quando a cultura jornalística vai insistir em ver a política brasileira pelo binóculo da interpretação ideológica esquerda versus direita? Para superar tal modelo não é preciso que o jornalismo passe a simbolizar a partir das ideias materiais produzidas por um campo de pensamento realmente epistêmico?   

PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT)
“A situação é pior entre os jovens. Pela 1.ª vez na série histórica, o PT foi alcançado pelo PSDB e não lidera a preferência entre quem tem 16 e 24 anos. A pesquisa mostra que 6% preferem os tucanos e 5% os petistas. O porcentual de eleitores sem preferência partidária também é recorde: 75%.” (mar 19, 2015 ~ Deixar um comentário ~ Escrito por Rodrigo Burgarelli, do blog do Estadão)
A crise brasileira se traduz em números desastrosos sobre a relação dos jovens com os partidos. Mas o que os números traduzem em termos de sentido político. Trata-se de um retrato pós-eleitoral do divórcio entre os jovens e o ‘sistema partidário”? Sim! Por quê? O que a juventude viu na eleição que a levou a denegar os partidos? Essas perguntas deveriam ser formuladas por cientistas políticos assim como as respostas. Mas vamos ao esboço de resposta no campo da física das máquinas de guerra.
A primeira máquina de guerra política da República Democrática foi Fernando Collor. Na época como eu ainda não havia nomeado uma certa política como máquina, chamei Collor de Príncipe Infame. O Ricardo III de Shakspeare foi o modelo para designar esta máquina de guerra política collordemello. Na eleição de 2014, o PT copiou collordemello e agiu como um Príncipe Infame, ou seja, como uma máquina de guerra política. Marina Silva foi o objeto-inimigo fulminado pelos raios do Príncipe Infame. A máquina de guerra política é o avesso de uma instituição política. Na primeira predomina o uso da violência simbólica para desintegrar o inimigo subjetivamente. Ela faz da política um campo de guerra simbólica. No “Acreditavam os gregos em seus mitos”, Paul Veyne se refere a máquina de guerra de pensamento guerreando em um campo de forças simbólicas. Mas esta aplica força sobre o pensamento de outra máquina ou do homem. O objeto a ser desintegrado é a ideia do outro, não o outro como sujeito. A máquina de guerra política aplica força simbólica para destruir o outro como sujeito: a subjetividade política do Homem. Esse foi o espetáculo que o PT (e o PSDB) proporcionaram para o eleitor. O partido é uma instituição política que deve agir pacificamente na luta política. Ele não deve ou pode visar a destruição do outro. Ele se caracteriza por ter sob controle o uso da violência simbólica. Então, a reação da juventude parece indicar que ela quer a política como um território pacificado. Esse parece ser o sentido político dos números que expressam o desejo da juventude brasileira. As máquinas de guerra políticas querem afundar a política brasileira no abismo do MITO, pois esse é o habitat delas.  Este caminho já está sendo trilhado pela Argentina, como mostra a postagem Argentina/Fábula/Totalitarismo. O mito é um tertium quid, nem verdadeiro nem falso. As máquinas de guerra políticas querem fazer o Brasil passar da história (onde tem um regime de verdade efetivo sustentado por uma episteme) para o mito, onde nada na política é verdadeiro ou falso. Isso é perfeito para o regime da política brasileira que desde o século XIX estabeleceu a política como simulacro de simulação, onde o verdadeiro é um simulacro de verdade!
A Colômbia de Pablo Escobar foi o grau zero da passagem da história para o mito na América Latina da segunda metade do século XX.

CRISE BRASILEIRA
A história dos partidos no Brasil começa não com partidos, mas com as máquinas de guerra políticas. Republicanos e liberais foram as duas máquinas de guerra que derramaram muito sangue. Sempre desfraldando a bandeira liberal à brasileira, a máquina de guerra federalista intervém no movimento da Independência, ensanguentando o Primeiro Reinado e a Regência. O Estado se constituiu como uma megamáquina de guerra (chamado de exército nacional) que sob o comando de Caxias derramou cachoeiras de sangue até desintegrar a máquina federalista.      A revolução de 1917 e a Confederação do Equador foram artefatos produzidos pelo trabalho da máquina de guerra republicana. A máquina de guerra liberal ensanguentou as províncias em movimentos como a Sabinada ou a guerra dos Farrapos, bastante aparentados com os que tinham se sublevado, em 1917 e 1924, o governo de Pedro I. Agora, no entanto, a situação era mais grave. Não era contra um tirano que arrepiava a juba o leão liberal. Era contra a unidade do Império. A crise brasileira do século XIX foi a crise da desintegração do Império que poderia se transformar na desintegração do Brasil. Uma história materialista da política tem que partir da história das máquinas de guerra para abordar a crise do século XIX e a história dos partidos. O liberal Bernardo Pereira de Vasconcelos foi o artífice da constituição do Partido Conservador, um amálgama de liberalismo de direita com antigos restauradores de esquerda ligados aos interesses da lavoura do café - a commodities principal que foi a base econômica da solução da crise brasileira. O Partido conservador foi a primeira instituição política partidária. Ele não era uma máquina de guerra freudiana. Este partido foi o artefato simbólico que encaminhou uma solução para a crise brasileira do século XIX.
A crise brasileira do século XXI já está sendo falada até na televisão. Mas afinal o que é a crise do nosso século? O PCPT não é pescador em águas turvas. Ele está voltado para a busca da contraverdade da crise brasileira que deve ser fruto de um refinamento maior que a própria verdade. Admitir que estamos na crise brasileira é o início de uma reflexão e uma simbolização que podem gerar o Bernardo Pereira de Vasconcelos do século XXI? Bernardo foi o nosso Príncipe moderno que poderia servir de espelho para a política brasileira atual. Mas não podemos esquecer que com a capitalismo de commodities na hegemonia do bloco no poder os problemas do século XXI são: a desintegração da República e a dissolução do país. Fui longe demais?    

PSICOPATA AMERICANO
O psicopata é um pesadelo da vida americana que passeia na estrada por onde passa o mundo, mas não passa Deus ou o Diabo. Ele é um significantepsi da cultura freudiana industrial de massas dos USA. Ele está além do mundo freudiano habitado por comunidades de neuróticos - que dominam o Ocidente - perversos e psicóticos. Os psicanalistas atacam e desqualificam o conceito de psicopata a partir do reducionismo freudiano. O que é isso? O reducionismo em geral é a privatização do objeto de pensamento, como esclareceu Claude Lefort. Trata-se da lógica privatista do objeto-pensamento como continuação da lógica privada do inconsciente político no campo do pensamento. As “escolas” de psicanálise (que fazem o reducionismo psi) constituem a Corporação de Ofício Freudiana em vários continentes. O privatismo freudiano quer dizer o que existe e o que não existe no mundo-da-vida. Ele é a vontade de poder de instituir o mundo por um efeito de um dizer psi: privatização freudiana do mundo-da-vida.
O significante psicopata foi alvo de uma guerra levada no campo da cultura pela Corporação de Ofício Freudiana. Esta faz a política que instala uma guerra psi no campo da cultura, em geral. Na atualidade, tal corporação já fez movimentos no sentido de desintegrar o significante máquina de guerra freudiana. O Psicopata não é Homem. É o além do Homem! Ele também não é cyborg: a biologia humana com protese. O Piscopata e o cyborg tem algo em comum? São máquinas como artefato simbólico no corpo humano? Refiro-me ao cyborg como máquina de guerra híbrida dos filmes de ficção científica. Mas qual é diferença entre o cyborg e o psicopata? Os dois são máquinas freudianas cujo agir usa uma violência sem limites? Os dois são como o camaleão: muda de cor (face, rosto) com o ambiente. Eles se confundem facilmente com os neuróticos na comunidade mundial dos neuróticos. Eles simulam neurose. A lógica do simulacro de simulação é a lógica da máquina de guerra que simula ser humana. Então, mais uma vez, onde está a diferença?
O psicopata é uma máquina de guerra psicótica natural in extremis. O psicopata é uma vocação cerebral; ele é exterior ao laço RSI (Real/Simbólico/Imaginário; ele é facticidade pura impossível de se tornar artefato ou significante integráveis ao inconsciente político. Ele é parte da galeria das grandes máquinas de guerra freudianas da história política universal: pensem em Gengis Khan ou Hitler.  Ele é uma máquina de guerra psicótica todo o tempo e em qualquer espaço. No mundo próximo de nós, ele é faticidade - do campo da cultura política freudiana industrial de massas – produzido pela racialização da superfície política do mundo-da-vida cotidiano. Só a racialização articulada pelo narcisismo das pequenas diferenças pode produzir e “explicar” que os Balcãs - com o fim do socialismo realmente existente – tenham passado para o domínio de psicopatas como Milosevic. Este foi o paradigma das máquinas de guerra psicóticas terroristas que viviam dos banhos de sangue das populações diferentes da etnia deles, em geral. O cyborg é uma máquina de guerra psicótica derivada da alma neurótica. A história do cyborg articula-se na família, na vizinhança, nos aparelhos e instituições. Ele tem alma e o psicopata não! Esta é a diferença marcante entre eles! O cyborg é, em geral, a pequena máquina de guerra cortesã que se tornou notável nas Cortes Europeias no fim do feudalismo e na aurora da era moderna. Ela se define pela inibição do uso da violência, por um redirecionamento da energia (pulsão de morte) para o estado de emulação!  Já a sociedade de guerreiros medievais esteve sob o domínio das grandes máquinas de guerra psicóticas terroristas (psicopata): os guerreiros medievais. O psicopata e cyborg não podem ser reconstruídos como significantespsi das culturas políticas pela física das máquinas de guerra? 
PRÍNCIPE MODERNO OSWALDIANO
“O Príncipe de Maquiavel poderia ser estudado como uma exemplificação histórica do “mito”soreliano, isto é, de uma ideologia política que se apresenta não como fria utopia, nem como  raciocínio doutrinário, mas como uma criação da fantasia concreta que atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e organizar a sua vontade coletiva” (Gramsci). O mito de Sorel associa política e guerra: “Os homens que participam dos grandes movimentos sociais representam sua ação imediata sob a forma de imagens de batalhas que asseguram o triunfo de sua causa. Propus chamar de mito essas construções”. A representação da ação política como parte da guerra remete para a ideia de que a política não é um mero fenômeno racional, mas um fenômeno ligado ao inconsciente político. A guerra é um significante do inconsciente político presente desde o início arcaico da história da política universal. A fantasia concreta da guerra ronda também a modernidade política. A lógica desse fantasma atualizada pode transformar os partidos modernos weberianos (ou os partidos tradicionais oligárquicos) em máquinas de guerra. Em países onde a modernidade política é quase modernidade, a lógica do fantasma (=guerra) costuma tomar posse dos partidos transformando a política no reino das máquinas de guerra “partidárias”.
A solução da crise brasileira passa, antes de mais nada, pela construção do Príncipe Moderno, entre nós. Ele não pode ser pensado como um artefato político meramente racional. Ele tem que ser constituído a partir da fantasia da contraguerra política, ou seja, como um artefato simbólico do inconsciente político brasileiro, e não do imaginário europeizante que domina a elite, as mídias e a universidade. A contraguerra do inconsciente político brasileiro popular remete para o SERTÃO e para o Bom Jesus e Canudos. Este foi a contramáquina de guerra poética (máquina de guerra autodefensiva) do Sertão que batalhou até a sua aniquilação contra a máquina de guerra terrorista (exército republicano florianista):
“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio (de 1924) é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá o ouro e a dança.”. O Manifesto da poesia Pau-Brasil é a poesia como técnica das técnicas da cultura política mestiça. Tem cheiro e sabor de sertão no coração do Litoral político brasileiro!       

PMDB=MÁQUINA DE GUERRA OLIGÁRQUICA
Veja_ “Fora das instituições não há salvação”
Com esta palavra de ordem Veja entra no movimento do golpe de Estado parlamentar do PMDB. Triste figura do jornalismo brasileiro. Para o leitor jovem é preciso dizer que a revista já teve momentos grandiosos. Mas isso parece ter ficado no passado!
Sobre Eduardo Cunha, ela diz; “Quem foi condenado foi o procurador. Cunha pode não ser, como parece mostrar seu passado, um monumento de ético. Mas, desde que seus pecados pertençam ao passado e seus compromissos seja com a saúde institucional, a Constituição e a democracia, há esperança porque o nosso povo mereeeece respeito”. Isso não lembra o ditado popular: “quem não tem cão, caça com gato”?
A Veja usa uma linguagem política que assegura que o PMDB é uma instituição política, uma instituição de salvação nacional com o colapso do PT. Partido (=instituição) significa que ele não está envolvido com lógica ou estrutura que instalam a guerra na política stritu sensu ou na política do mundo-da-vida. O PMDB é um “partido” de fala mansa aprendida com a política oligárquica, com os coronéis do SERTÃO. Estes coronéis - transfigurados pela relação do sertão com o poder federal petista – são verdadeiras máquinas de guerra oligárquicas e tirânicas. O coronel é uma máquina de guerra oligárquica individual e biográfica que cochicha mansamente no ouvido do jagunço a ordem para matar o inimigo. Isso é uma tradição do poder oligárquico no Brasil. No governo do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral deu a ordem mansa no ouvido do Secretário de Segurança para o uso da violência sem lei sobre a multidão. O coronelismo de Cabral tinha apoio no Judiciário através de juízes que agiram como máquinas de guerra heideggerianas. Estes juízes pertenciam ao bando oligárquico e Cabral. A máquina de guerra jurídica heideggeriana é a continuação da violência da máquina de guerra policial sobre a população por meios jurídicos despóticos!
Eduardo Cunha começou na política sob a direção do inesquecível PC Farias que era o subchefe do bando oligárquico collorido das Alagoas. PC tinha ligações com máfias que acabaram assassinando-o. Depois através com garotinho, Cunha se integrou à máquina de guerra evangélica do Rio de Janeiro. O privatismo evangélico (apropriação privada da coisa pública em nome de Jesus) foi sempre o seu guia na política. Para completar também é ligado à Paulo Maluf, que parece ter saído das páginas do livro Arte de Furtar, de autor anônimo da época colonial.
Isso é o que a Veja chama de instituição capaz de salvar o Brasil. Cinismo, oportunismo, irresponsabilidade burguesa e canalhice jornalística em último grau!
Por isso, já há algum tempo o PCPT lançou a ideia da Renúncia de Dilma Rousseff como um agir capaz de evitar que o PMDB tome através do golpe de Estado parlamentar - em conluio com o PSDB - o poder brasileiro. É possível que Dilma e o PT ainda tenham na memória o tempo que o partido gramsciano representava o projeto da esquerda brasileira para implantação de uma sociedade em ruptura com a sociedade oligárquica colonial que o PMDB sempre representou. Isso seria o começo para a política brasileira sair do domínio das grandes máquinas de guerra partidárias como o PMDB e o PSDB. Este poderia ser o último gesto do PT como máquina de guerra. Trata-se de um gesto grandioso, de um republicanismo capaz de agenciar um liberalismo político ainda inexistente no Brasil. Se o PT acreditar que a política é arte de tornar possível o impossível, ele poderia começar a sua transformação de máquina de guerra em instituição política: PARTIDO.

CULTURA INDUSTRIAL DE MASSAS/NIETZSCHE
Em Nietzsche, a feira e os clowns dela são metáforas para se pensar a cultura industrial de massas da sociedade do espetáculo. Ele se refere à sociedade do espetáculo como a grande comédia: “em torno dos comediantes giram o povo e a fama: “é esse o caminho do mundo”.  O comediante faz os o espectador acreditar nele e no agir dele na cultura industrial de massas. Amanhã, ele terá nova crença e, depois de amanhã, outra, também nova. Possui sentidos rápidos, tal como a plebe, e faro de caminheiro. Com efeito, ele só acredita nos deuses que fazem grande estardalhaço no mundo. Repleta de clowns está a sociedade de espetáculo – e a plebe espectadora ufana-se de seus grandes “homens”, que são, para ela, os senhores da hora. Paradoxalmente, os clowns da cultura industrial de massas são absolutos e apressadores em fazer funcionar absolutamente a doxa. A doxa é o terreno cultural mais primário da articulação da cultura política totalitária no mundo-da-vida. A sociedade do espetáculo é a máquina de guerra clowniana, mas como simulacro de simulação da comédia ou antiga ou histórica. É longe da cultura industrial e da sociedade do espetáculo – da feira, dos clowns e da fama – que os físicos das máquinas de guerra as leem como elas realmente funcionam. A cultura industrial de massas é a vontade cultural de produzir o espectador como pequeno e miserável. De prepara-los para a invisível vingança do mundo pequeno e miserável. Vingança autoaniquiladora!  Esta visão de mundo (“Weltanschauung”) laica substitui a visão de mundo da cultura política católica de que “a vida é apenas sofrimento” causada pela pulsão de morte. Então, tratais, portanto, de que cesse essa vida que é somente sofrimento”. Este era o gozo milenar da cultura política católica que a era moderna alterou substancialmente. No lugar dele, entrou o gozo da cultura política industrial de massa: goze com a vida pequena e miserável espiritualmente sendo um espectador entretido pelos grandes e pequenos clowns da sociedade do espetáculo.
Como fenômeno político, a multidão é o avesso do espectador pequeno e miserável espiritualmente. Ela é grandeza espiritual e quando faz acontecer a revolução política passa por uma metamorfose histórica que só assusta os áulicos ou os fariseus. Ela de plebe ignara se transforma em uma multidão sublime.

EXISTE UM PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO?
Raymundo Faoro escreveu tal livro a partir do qual a juventude (dos 14 aos 36) pode estabelecer um ponto de partida para a revolução política brasileira. Um sinthoma da nossa cultura política atual é justamente a denegação da juventude em relação ao passado, à história política do país. Talvez, ela saiba sem saber que sabe que a nossa história foi instituída, constituída pela TRANSAÇÃO de absolutismo português colonial com o simulacro de simulação de liberalismo a partir do Terremoto de Lisboa (1755) que levou o Marquês de Pombal ao poder tutelado por D. José I. Este é o modelo político luso-brasileiro colonial que - com o liberalismo constitucional de 1923 e 1824 - se transformou em modelo neopombalino que continuou com o fim do Império de Pedro II por meios republicanos. A própria República Democrática de 1988 foi subsumida a este neopombalismo. Enfrentando Oliveira Vianna, Faoro diz algo diferente da hipótese consagrada que associa liberalismo brasileiro e oligarquia (aristocracia) da terra. Movimentos liberais – 1789 (Inconfidência Mineira), repressão do Rio de Janeiro (1794, revolução dos Alfaiates da Bahia (1789) e a irradiação das revoluções liberais em 1817, 1824, 1831, nas insurreições regenciais, e eventualmente na Praieira (1848) – tornaram significante liberal fora da transação integrado ao inconsciente político brasileiro. Faoro acredita que um pensamento político do inconsciente nietzschiano brasileiro pode se articular como uma cultura política capaz de ser a junção de logos e praxis- ideais e massas – em um processo revolucionário que possa finalmente desintegra o modelo neopombalino colonial-imperial-republicano.
No entanto, a junção de logos e praxis no século XXI necessita se condensar em uma contramáquina  de guerra de pensamento política. A multidão que derrubou Collor, as massas de junho de 2013 e a multidão (mais de 2000000 de pessoas) do 15-M de 2015 não seriam um sinthoma do pensamento liberal do inconsciente político nacional? Trata-se de um liberalismo político não assujeitado à lógica colonial da TRANSAÇÃO? Para evitar tal lógica, guiado pela contramáquina de guerra de pensamento político autônomo, o pensamento liberal articula-se a lógica da cultura política mestiça insurgente em Canudos. Em um ponto, Raymundo Faoro tem inteira razão: o inimigo principal da revolução brasileira é o Urstaat neopombalino despertado ao longo da história republicana e agora!   

GOLPE DE ESTADO
O primeiro golpe de Estado no Brasil nasceu do choque político entre o imperador Pedro I e a Assembleia Nacional Constituinte de 1823. Trata-se do choque entre o executivo e o legislativo. Pedro diz na abertura da Assembleia Constituinte: defenderei com a minha espada a constituição se “fosse digna do Brasil e de mim”. O choque fica mais claro se o leitor aceitar que Pedro I se apresenta não como poder constituinte e constituído pela aclamação popular, mas como a espada do trono, ou seja, como a primeira máquina guerra política absolutista luso-brasileira.
José Honório Rodrigues interpretou o choque como o perigo da Constituinte arrogar-se, como se arrogará, a encarnação da soberania nacional sobrepujando-se ao Príncipe despótico. A Constituinte foi dissolvida pela tropa militar – máquina de guerra militar arquetípica da burocracia militar brasileira – dominada naquele momento pela facção portuguesa sob ordem direta e clara de Pedro I. Assim, o país mergulhou no absolutismo pombalino novamente, de onde nunca havia saído.
Octávio Tarquínio de Souza esclarece que José Bonifácio na Constituinte considerava o liberalismo político como uma metafísica dissociada de qualquer realidade política, gerando máquinas de guerra terroristas que banhavam em sangue França e a Espanha. Elas alimentavam e potencializavam o estado de guerra permanente freudiano (anarquia permanente) que tomava conta da política mundial com a desintegração parcial das monarquias absolutistas, ou seja, do poder despótico absolutista. Os liberais mais exaltados se opunham a Bonifácio dizendo que as Repúblicas liberais não eram anarquia política ou um artefato simbólico como resultado de um estado de anarquia política. O liberalismo político não tinha como motor um desejo de anarquia política!  
O primeiro projeto da Constituinte foi a lei da anistia. Ele reconhecia que a política brasileira estava sob domínio das máquinas de guerra políticas civis e militarizadas que lutavam contra o Urstaat absolutista: a máquina das máquinas de guerra militarizadas. A anistia levantou constitucionalmente o problema da violência sem lei do Urstaat, entre nós, que funcionava como uma Santa Inquisição laica amplamente amparada na cultura política católica. Contra a anistia, levantou-se José Bonifácio – o paulista mais culto e inteligente com formação europeia – que encerrou sua participação constitucional sobre o problema da violência despótica dizendo que ela era um instrumento necessário para a salvação da pátria. A constituinte rejeitou a anistia na sessão de 22 de maio de 1823 fornecendo para a cultura política dominante o carácter divino da violência do Urstaat absolutista. A violência divina metabolizada pela cultura política dominante a partir da decisão da Assembleia Constituinte sobre a anistia articulou-a (como mito) concretamente ao inconsciente político ariano brasileiro. Esta é a leitura da violência divina sem limite do Urstaat brasileiro como significante da história política universal que articula a cultura política totalitária no mundo-da-vida no século XXI brasileiro. Imaginação sartreana?                                               

quarta-feira, 11 de março de 2015

MINIMA MORALIA POLITICA

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.

Textos mínimos de  análise concreta de uma situação concreta do campo da física das máquinas de guerra freudianas.   


ÍNDIO/AGRONEGÓCIO

http://politica.estadao.com.br/blogs/roldao-arruda/conflitos-com-indios-vao-se-agravar-preve-ex-presidente-da-funai/

 “Há uma reação cada vez mais forte na sociedade brasileira às demandas das populações indígenas, na avaliação do antropólogo Márcio Meira, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). A reação decorre do crescimento econômico e o consequente avanço sobre áreas ocupadas pelos índios por empreendimentos do agronegócio, da mineração e hidrelétricas, segundo o especialista” (Estadão).  

A história do Brasil é desde o início parte da história universal. Não por colocar em confronto brancos e índios. Mas por causa da dialética entre a máquina de guerra branca e a sociedade primitiva. Esta se caracterizou no início da história da espécie humana por evitar o Urstaat (Estado despótico arcaico), este modelo de máquina de guerra universal da história política universal, desde a civilização arcaica. As bandeiras da oligarquia paulista constituem a primeira máquina de guerra freudiana no Brasil que usou a violência sem limite contra as nações indígenas brasileiras. As bandeiras dos grandes proprietários da terra usavam a população mestiça como uma arma humana para combater os índios, que se opunham à expansão da fronteira luso-brasileira, para caçá-los implacavelmente e aprisiona-los para o trabalho escravo. A oligarquia rural é desde o início do Brasil a máquina de guerra social da colonização luso-brasileira. O agronegócio é um eufemismo da linguagem capitalista que oculta a realidade do choque capitalista com a sociedade primitiva no século XXI. A ideologia dominante (linguagem política) é a ideologia da classe dominante.  O agronegócio é o nome fantasia burguês da oligarquia capitalista urbano-rural. Esta é a repetição diferente (capitalista) e lúdica (fantasia econômica burguesa = agronegócio)) da oligarquia rural colonial. Trata-se de uma máquina de guerra oligárquica-totalitária capitalista cuja característica é o uso da violência sem limite cuja consequência é a desintegração da SOCIEDADE PRIMITIVA e a devastação da NATUREZA (Floresta Amazônica).

 “Outro fator preocupante para os índios, na avaliação do especialista, é o fortalecimento da bancada ruralista no Congresso e o seu alinhamento com grupos religiosos que apoiam missionários. Meira afirma que o objetivo da Proposta de Emenda Constitucional 215 (PEC-215), que está sendo desarquivada na Câmara, é a paralisação da Funai – cuja missão legal é a proteção dos interesses indígenas”. A cultura política totalitária-oligárquica está condensada no Congresso Nacional através de uma ampla aliança de partidos -dirigida pelo PMDB – e de blocos políticos como abancada ruralista e a bancada religiosa, de extração evangélica. Tradicionalmente defendendo os direitos indígenas, o PT – movido pela lógica do poder – faz de conta que ainda defende a sociedade primitiva. Na segunda década do século XXI, o Brasil continua atualizando a luta entre a máquina de guerra oligárquica colonial (agora capitalista) e as sociedades tribais. Durante a ditadura militar, camadas intelectuais - liberal, de esquerda católica, de esquerda laica, antropólogos, sertanistas, jornalistas, cineastas, artistas etc. e políticos burgueses -  formaram uma poderosa força social em defesa da sociedade primitiva. Hoje, o Xingu parece estar só, dependendo apenas de suas próprias forças tribais e ancestrais!

Grécia × Oligarquia financeira mundial

A União Europeia decide não agir como a máquina de guerra do globalismo neoliberal. Trata-se de um movimento contrário ao da oligarquia financeira mundial como a máquina de guerra que é o dominus da política mundial. Lênin disse: “A política no comando da economia”. A União Europeia começa a simbolizar que o domínio de tal máquina significa a progressão geométrica da cultura política totalitária no mundo-da-vida (Lebenswelt), no coração do Ocidente. E isso é fazer o jogo do totalitarismo islâmico (Islã Político). A máquina de guerra oligarquia financeira mundial tem no Islã Político um aliado tácito. A finalidade deste xifópago é o uso da violência sem limite contra o mundo que condensa cultura política liberal (liberalismo político). O domínio da oligarquia financeira mundial sobre o planeta significa a continuação da política totalitária alemã (Hitler) por meios outros meios, meios econômicos. Hitler foi derrotado militarmente, mas venceu no terreno da cultura política. O Terceiro Reich pode finalmente dominar por mil anos! Trata-se da verdadeira peste milenarista que faz da lógica do fantasma do Urstaat(Marx) o master da história da espécie humana, no início do século XXI.
O totalitarismo é o significante que está sobredeterminando a cadeia de significantes que articulam e regulam a política mundial. É claro, então, que a política mundial está sobredeterminada pela história política universal. Trata-se de duas superfícies contínuas, ou seja, de um único espaço político. O Syriza vem, inegavelmente, de uma tradição totalitária: o comunismo europeu redefinido pelo stalinismo. No entanto, o totalitarismo do século XXI impõe à ultraesquerda uma reconstrução para que ela não se torne uma máquina de guerra totalitária das espécies totalitárias de máquinas do século XXI. Marine Le Pen parece caminhar para uma definição de seu partido (Frente Nacional) em um sentido antitotalitário. Será mero simulacro de simulação de uma ultradireita? Esta não conseguirá se desvincular, de modo algum e por mais que deseje, de sua raiz totalitária - da França de Vichy, do inefável, para os franceses criptofascistas, general Philippe Pétain (1856 - 1951)? O fantasma do pai pesa como chumbo no cérebro de Marine Le Pen!   
O CHOQUE VENEZUELANO
 “A sociedade venezuelana precisa que termine, o mais rápido possível, a situação de insegurança, física e jurídica, que atravessa o país e que piora a cada dia. Governo e oposição têm a responsabilidade – não na mesma medida, obviamente – de controlar a situação o quanto antes. Não é admissível a degradação material e institucional de um país que, por seus recursos materiais e humanos, deveria estar nos primeiros lugares no que diz respeito à prosperidade econômica e política da América Latina. Neste contexto, o Executivo de Nicolás Maduro e os políticos da oposição (que precisa se unificar sem demora) devem fazer um exercício de realismo que leve a aceitar algum tipo de iniciativa internacional – como a mediação proposta ontem pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos – que possa abrir uma nova perspectiva à difícil situação do país”.
Este editorial do El Pais mostra a incapacidade do melhor jornalismo entender a crise da Venezuela por falta de uma linguagem política que seja o espelho dos fenômenos políticos. A crise venezuelana não é um fenômeno separado, singular, da política mundial. Trata-se da crise de um imaginário político ocidental e extremo-ocidental que está baseado na fé de que a política é ditada pela lógica da divisão do mundo entre esquerda versus direita. O Editorial propõe, subliminarmente com um certo desespero, que o país instale o modelo europeu (que articulou a política europeia depois da Segunda Guerra Mundial) – oligarquia política híbrida. Neste, esquerda e direita governam em algum tipo de rodízio. Este modelo é o suprassumo da lógica simulacro de simulação. A esquerda finge que é esquerda, e a direita finge que é direita. De fato, trata-se do xifópago neoliberal. Na França em quase toda a Europa, a lógica do modelo foi quebrada. Marine Le Pen e o Syrusa são a prova disso!
O problema central consiste no seguinte. O totalitarismo é o significante que está sobredeterminando a cadeia de significantes da política mundial. O totalitarismo redefiniu o bolivarianismo na América Latina? Não se deve partir da ideia:  bolivarianismo=totalitarismo. A Bolívia é uma história de bolivarianismo indígena que não deve ser jogada na lata de lixo do totalitarismo, simploriamente! Mas o chavismo fez a junção do populismo revolucionário com o totalitarismo republicana. Trata-se de duas culturas políticas fabricadas pela máquina de guerra populista e republicana Simón Bolívar. Hugo Chaves não é a paródia de Simón Bolivar. No cérebro do presidente Maduro, a história venezuelana não é reversível. Ela não pode ser a repetição de um passado, no qual cultura política oligárquica e totalitarismo republicano governaram o país, por décadas, sem mudar um milímetro do velho modelo neocolonial de poder e economia. A direita venezuelana não é a direita europeia. Ela é essencialmente um artefato geosimbolicamente ligada à propriedade da terra. A revolução chavista transformou em terra arrasada este campo geosimbólico. A direita venezuelana viva de conjurar o fantasma oligárquico da terra senhorial. Para o novo surgir, a direita teria que se redefinir no campo da cultura política liberal.
A crise da Venezuela é a crise do totalitarismo de esquerda na política mundial. Nela, o velho não quer morrer, e o novo não quer nascer. Por quê? O novo simplesmente não existe! No entanto, as “vivandeiras da tropa” (intervenção externa) começam a pulular e desejam transformar a crise em um problema a ser concebido no plano das relações internacionais. Tédio! Não há solução para a crise enquanto a elite e a população venezuelana não começarem a simbolizá-la no sentido de integrá-la ao inconsciente político latino-americano! Há necessidade de redefinir a política venezuelana jogando na lata de lixo da história o totalitarismo republicano latino-americano do século XIX!      
LULA/MÁQUINA DE GUERRA 
“Clube Militar chama Lula de 'agitador' após discurso
JOSE ROBERTO CASTRO
Associação rebate declarações de Lula em ato pela Petrobrás e diz que há apenas 'um exército' no País”.
Esta manchete do Estadão apresenta um sinthoma da política brasileira? Lula diz que a política em resguardo é a política das máquinas de guerra? O MST é a máquina de guerra militarizada criptopetista? Pedro Stedile é o chefe militar de tal máquina? O Clube militar defende que o monopólio da violência é um “direito constitucional” do Exército. As Forças Armadas são a única máquina de guerra militarizada permitidas legalmente no país? Mas um passado sombrio – a ditadura militar – pesa como chumbo no cérebro da nação desvalorizando a ideia constitucional do monopólio legítimo da violência nas mãos do aparelho militar de Estado. Tendo como uma de suas engrenagens a Polícia Militar, uma máquina de guerra muito complexa em sua montagem e práxis assassinou 1000000 de brasileiros nos últimos 30 anos.  No seminal “Política e Segurança”, Heloisa Rodrigues Fernandes começou a estudar tal máquina de guerra no Estado de São Paulo. Agora é preciso integrá-la ao campo da física das máquinas de guerra freudianas como um artefato-aparelho militarizado nacional.
Na Venezuela, há várias espécies de máquina de guerra militarizada, além das Forças Armadas. Lula e os petistas imaginam um Brasil no qual a política seja o campo de atos das máquinas de guerra bolivarianas militarizadas ou civis? Lula quer ligar a história nacional à história política universal na qual a máquina de guerra é o agente-sujeito-ator universal? Transitamos para a pós-modernidade sem nunca termos sido modernos? Oliveira Vianna fez da história do Brasil um tempo-espaço dominado pelas máquinas de guerra até, inclusive, na República. Getúlio Vargas foi a máquina de guerra populista que, na década de 1930, articulou totalitarismo republicano com populismo nacionalista. Ele comandou um exército na Revolução de 1930, para tomar o poder, no ocaso da República Oligárquica. Lula se filia no campo simbólico ao populismo getulista. No cérebro de Lula, o Brasil revolucionário populista de Getúlio se mistura com a Venezuela revolucionária de Maduro. O cérebro de Lula não é o cérebro de Lênin, mas é um organismo no qual a faculdade imaginativa para a política é hiperbárica! Os intelectuais da sociedade civil do PSDB não conseguem refletir sobre os sintomas da política brasileira e, aliás, nem simbolizá-la. Aliás, houve um fabuloso investimento de capital para constituir a intelligentia brasileira atual em puro estado de consumição cultural.    
BRESSER PEREIRA/sociologia marxista desenvolvimentista
Bresser Pereira continua pensando o mundo a partir da nação. Sua sociologia marxista burguesa respira de novo no mar da globalização com a onda crescente de movimentos, partidos e forças políticas que veem o globalismo neoliberal como produto da cultura política capitalista totalitária. Para ele, a burguesia nacional é o sujeito da história moderna: “Porque não há nação sem burguesia nacional”. Mas Bresser também diz que o Brasil está voltando a ser uma economia primária-exportadora com uma desindustrialização brutal. O governo Dilma seria o fracasso do pacto-nacional lulista exitoso constituído por empresários, classe operária, setores da burocracia pública e da classe média baixa. A sociologia marxista burguesa de Bresser ignora a hegemonia da oligarquia financeira mundial durante a era Lula. Inegavelmente, os governos Lula significaram uma mudança no equilíbrio de força entre tal oligarquia e o Estado brasileiro. Mas de modo algum isso se traduziu como fim da hegemonia abstrata da oligarquia financeira sobre o nosso bloco no poder. A diferença Lula/Dilma consiste na captura de Dilma nas redes de poder concretas de tal oligarquia. Tais redes se condensam atualmente no aparelho econômico de Estado: Ministérios da Fazenda, do Planejamentos etc. Joaquim Levy é a máquina de guerra biográfica econômica que faz o país funcionar pela lógica da oligarquia financeira mundial. Marine Le Pen tem razão quando diz que tal oligarquia mundial é uma máquina de guerra totalitária. Nietzsche iluminou este ponto para nós. Uma elite pode existir como uma máquina de guerra totalitária. Talvez seja preciso reler o livro “O Capital” (e o “Grundrisse”) a partir deste olhar nietzschiano. Bresser Pereira sempre pensou e continua pensando o Brasil. Sou um leitor dele desde a minha juventude. No entanto, a sociologia marxista burguesa não conjura a modernidade como repetição histórica? Não lembra o Dom Quixote que desejava a repetição da sociedade dos cavaleiros medievais na modernidade? Bresser Pereira não é Cervantes, é um personagem de Cervantes! Cervantes é a conciliação da literatura com a era moderna. Bresser é o niilismo que quer desintegrar a era pós-moderna pela repetição da modernidade. A sociologia marxista burguesa é um espírito destrutivo em relação ao mundo e a si própria! 
TOTALITARISMO/VEJA
Nas duas últimas edições, a revista Veja convidou Marine Le Pen e uma desconhecida médica muçulmana inglesa - que mora nos USA - para abordar o tema totalitarismo associado ao Islã. Marine Le Pen quer pensar o totalitarismo no século XXI. Mas seus recursos intelectuais são modestos, digno de pena. É lamentável que a Veja esteja entupido seus leitores desse lixo cultural francês. A frente Nacional é um partido tradicionalmente ligada à cultura política totalitária francesa de Vichy. Trata-se da versão francesa do totalitarismo alemão alimentada e regada pela sofisticada culinária francesa e muita água mineral.
Se a bonita médica Qanta Ahmed, de 46 anos, entender de medicina como entende de totalitarismo, então, seus pacientes são tratados por uma medicina do século XX. Ela usa várias vezes o termo totalitarismo tal como foi cunhado pelos professores das universidades americanas para ser uma arma ideológica na luta contra a URSS e o Pacto e Varsóvia. “Nós americanos somos partidários de uma cultura individualista e democrática enquanto os “russos, em geral” são constituídos pelo totalitarismo coletivista”. A verdade é que os USA e a Europa ainda estão pensando o totalitarismo dessa forma.  Por isso, o termo totalitarismo tornou-se obsoleto e anacrônico. Em um curso de ciência política de 2014 introduzir uma nova concepção do significante totalitarismo que não despertou o interesse dos alunos, pois eles só conhecem a vulgata norte-americana que é um ataque generalizado à esquerda. A maioria dos alunos se filiam à esquerda brasileira. Desenvolvi a investigação sobre este novo conceito de totalitarismo em um blog, livros e agora no Facebook. Existe um grupo no Facebook com o nome “Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo” (PCPT). Se os leitores se derem o trabalho de ler a entrevista da médica inglesa verão que o jornalista entrevistador auxilia tal médica fazendo a distinção entre Islã (cultura) e Islã Político (cultura política totalitária) Tal distinção tem sido objeto de um trabalho textual, inclusive, no PCPT. Os jornalistas muito bem pagos da Veja consideram que não devem reconhecer as fontes intelectuais da nova ideia de totalitarismo que eles já estão usando. Realmente, é preciso considerar que a linha Editorial -  das Páginas Amarelas (Entrevistas) – está se desvencilhando do abjeto neoliberalismo que tem orientado tal revista há décadas. A revista quer mudar sua linha ideologia básica (neoliberal) dizendo para os leitores que as fontes intelectuais dessa mudança são europeias ou norte-americanas. Trata-se do velho colonialismo cultural do qual Veja é um artefato simbólico importante. Para o leitor da revista, trata-se de uma operação intelectual fraudulenta. A Veja é uma revista burguesa e deseja que o pensamento brasileiro ou seja feito por burgueses ou por intelectuais brasileiros que tenham como maître professores universitários europeus ou norte-americanos. Trata-se de uma espécie de aburguesamento dos intelectuais brasileiros como categoria social.  A operação da Veja é mais uma tentativa de se apropriar da nova discussão sobre totalitarismo para transformá-la mais uma vez em uma arma contra a esquerda mundial e os movimentos de multidões. Eles não precisam para isso recorrer a Le Pen ou Qanta Ahmed para produzir esta vulgata como ideologia dominante brasileira para exportação. A obra de oliveira Vianna já fez isso! O PCPT é um recurso modesto para lutar contra essa tentativa de Veja comandar a produção de uma ideologia dominante redefinida a partir do novo conceito de totalitarismo. Mas ele vai desconstruir cotidianamente esta operação de guerra cultura dos competentes e inefáveis – para a elite – jornalistas da Veja.
POUR OCTÁVIO IANNI/ciclo da revolução burguesa
A leitura do livro “O ciclo da revolução burguesa” de Octávio Ianni pode ajudar a pensar o século XXI brasileiro? Ianni foi um dos criadores da escola de sociologia marxista da USP cassado pela ditadura militar. Seu livro “A ditadura do grande capital” é um texto obrigatório para o estudo do totalitarismo militar brasileiro. Aliás, sua obra de sociologia historiográfica contém uma “sociologia dentro da sociologia” a ser garimpada. Quanto ao presente, a simplicidade da exposição d’O ciclo da revolução burguesa parece iluminá-lo: “Há um fio militarista que tece a larga história do Estado autoritário, amarrando passado e presente, região e Nação. Canudos e ABC, sociedade civil e Estado. Tanto que os ideólogos do militarismo, do aparelho estatal militarizado, criam e recriam o lema da ordem & progresso, ou segurança & desenvolvimento, de permeio a ditadura & exploração. De repente, toda a história política se reduz à história militar. [General Walter Pires de Carvalho Albuquerque]: ‘Guiado pelos ensinamentos de Caxias, o Exército se fez presente nos magnos episódios da vida nacional: teve influência decisiva n abolição; proclamou a República; participou dos movimentos que culminaram com as conquistas sociais de 1930; repeliu a intentona comunista de 1935; lutou contra o nazifascismo na Europa; derrubou a ditadura em 1945 e desencadeou a Revolução democrática de 31 de março de 1964, atendendo ao apelo de todos os setores da comunidade nacional’”(pg. 25). Um ciclo longo da revolução burguesa envolve um aparelho estatal militarizada e a cultura política militarizada e autoritária. O Estado é uma máquina de guerra militarizada articulado à uma cultura totalitária republicana. A destruição de Canudos (e do Contestado) pode ser lido, finalmente, como a realização da finalidade de tal máquina de guerra: o uso da violência sem limite contra o povo brasileiro insubmisso.
O outro elemento do ciclo da revolução burguesa é o seguinte: “Ao longo da história da República, desde 1888-1889 até o presente, o poder estatal confunde-se cada vez mais com a economia política do capital, da acumulação capitalista” (pg. 33). Uma leitura dialética materialista partiria destes dois aspectos da história burguesa até o fim do governo Sarney: a) aspecto principal - a máquina de guerra militarizada por dentro do Estado; b) aspecto secundário - a máquina de guerra econômica que articula sociedade civil e Estado (o grande capital). Com a República democrática de 1988, a máquina de guerra econômica (o capital) deslocou-se para o aspecto principal da contradição principal: a contradição entre a máquina de guerra militarizada e a máquina de guerra econômica. FHC, Lula e Dilma são os animais políticos vocais (o poder civil) na política brasileira desta máquina de guerra econômica. Na atualidade, PSDB/PT são o xifópago neoliberal de tal máquina. A questão candente que não quer calar: o ciclo de domínio do grande capital urbano sobre a política está no fim? Isso não significa a repetição da crise de hegemonia de 1930? A atual crise de hegemonia se faz em um quadro global de relação de forças diferente da Revolução de 1930? Em 1930, a oligarquia capitalista do café não se sustentava mais como poder hegemônico. A solução foi substituí-la, em uma transição demorada, pelo grande capital urbano. Na segunda década do século XXI, o grande capital urbano-industrial do Sudeste deixa de ser a força hegemônico no bloco no poder. Qual a solução para isso? Substituí-lo pela nova oligarquia rural-urbana capitalista de commodities? Esta é uma máquina de guerra econômica-totalitária completamente distinta da antiga oligarquia capitalista do café. Pois ela, em sua finalidade, define-se pelo uso da violência sem limite contra a natureza (Floresta Amazônica) as nações indígenas. Tendo como vanguarda uma máquina de guerra partidária totalitária no Congresso formado pela aliança entre o bloco ruralista, o bloco evangélico e a facção militarista capitaneada por Bolsonaro, tal máquina já quase domina a Câmara dos deputados através de seu presidente Eduardo Cunha. No governo Dilma Rousseff, tal máquina controla o Ministério da Agricultura com a indefectível ruralista Kátia Abreu. Será este o novíssimo ciclo da revolução burguesa?                                                               
                                                                                                                                            
      

              
                             
MP669/2015+Lista de Janot
 “A MP 669/15 foi editada na última quinta-feira. A medida altera alíquota de 1% de contribuição previdenciária sobre a receita bruta, aplicada principalmente para setores da indústria, para 2,5%. Já a alíquota para empresas de serviços, como do setor hoteleiro ou de tecnologia da informação (TI), subirá de 2% para 4,5%”. (Folha de São Paulo).
A devolução da MP669 para o governo significa algo além de uma tática do presidente do Senado, Renana Calheiros, para alterar sua posição no quadro da relação de força dele com o governo e o STF? Ele está na Lista de Janot e acredita que o STF petista pode evaporar tal artefato jurídico-político. O caminho é fazer pressão sobre o governo para que ele mais uma vez faça do STF uma correia de transmissão do poder governamental petista. O argumento de que o governo em sua fúria legiferante está expropriando, quebrando o princípio da independência dos três poderes, o princípio da independência do poder legislativo em relação ao executivo é puro ato cínico. Lacan definiu o político como alguém que não tem vergonha e por isso não precisa de análise clínica. Renan não precisa de análise!  Renan defende a autonomia do Legislativo em relação ao Executivo e, simultaneamente, exige, tacitamente, que o Executivo faça o STF funcionar como sua linha auxiliar dissolvendo a MP669 no ar rarefeito – quanto a ética res publicana - de Brasília. A lógica política brasileira funciona por dois princípios éticos não- republicanos, ou será melhor dizer aéticos: a volubilidade e a volatilidade. Pela volubilidade a posição de Renan é da ordem do inconstante, que muda facilmente de opinião, que se move facilmente. Tudo vai depender da linha de força que ele deseja estabelecer. A aética de Renan segue a posição favorável obtida por ele em relação à Lista Janot, ou seja, a volatilidade desta. Renan quer que o STF aja como uma máquina de guerra heideggeriana subsumida ao governo Dilma Roussef e, portanto, em última instância, voltada para realizar seu interesse político-pessoal. Trata-se de um episódio que não reflete um surto de liberalismo político do presidente do Congresso, como quer o PSDB. O acontecimento MP669 não significa a interseção da cultura política oligárquica com a cultura totalitária? Renan trata o Congresso como seu engenho do sertão das Alagoas. Ele está se valendo da lógica privatista-oligárquica colonial - ao apropriar-se privadamente do cargo de presidente - ao tomar uma decisão que cabe pela lógica pública da instituição aos plenários do Senado e da Câmara de deputados. Ele quer agenciar o totalitarismo do governo petista para fazer o STF agir como uma máquina de guerra heideggeriana, que é uma máquina de guerra jurídica totalitária. O PCPT não pode ficar calado diante desta manobra oligárquica-totalitária maquinada nos porões do Senado.     
FREGUSON/USA
Os USA tomaram a frente no estabelecimento de uma concepção de racialismo na política mundial. O governo Obama diz que a comunidade jurídica e a polícia de Ferguson são sistemicamente racistas. O comediante mais sério da televisão dos USA, Bill Maher, já disse que se trata de sistema cultural. O governo Obama usa a velha sociologia – de Talcott Parsons? – para atribuir o racismo a partes do aparelho de Estado, à parcelas do Sistema político. Trata-se de um problema sistêmico. Assim, ele evita o tema da cultura política totalitária que tem a racialização como um artefato simbólico estratégico no funcionamento dela. O governo já não opera com a ideia que o racialização é um problema sociológico entre brancos e negros, um problema que tem que envolver necessariamente dois grupos étnicos, simplesmente. O Sistema pode ser racista e assim fica explicado porque negros policiais estão matando homens negros civis. Ok! Avançamos! Mas Bill Maher não botou o dedo na ferida ao dizer que o problema é um problema cultural no mundo-da-vida que alcança o aparelho de Estado? Ele não usou o termo completo, pois trata-se de um problema de cultura política totalitária no mundo-da-vida. Tal cultura totalitária articula a comunidade jurídica institucional de Ferguson como uma máquina heideggeriana que é uma máquina de guerra totalitária por usar a técnica jurídica moderna em atos de violência jurídica contra a população alvo. Também, a cultura totalitária norte-americana articula o aparato policial – não como uma instituição da tradição americana da cultural do liberalismo político – como uma máquina de guerra freudiana cuja finalidade é o uso da violência não limitada pela lei. Inegavelmente, o governo Obama e a comédia americana derma um passo importante para a metabolização do pensamento político do século XXI por uma cultura política liberal-política mundial. Avanti popolo!     
O FIM DA HEGEMONIA PETISTA
A hegemonia petista se refere a articulação da política com o mundo intelectual. Para encurtar o assunto, as universidades públicas constituem a base material de tal hegemonia. A hegemonia da esquerda vem antes da hegemonia petista, ela começa com os intelectuais do PCB, o ISEB, e depois passa a ter como centro cultural tático a USP. Não foi um acaso, Francisco Weffort ter assumido a secretaria geral do PT na fundação do partido e Florestan Fernandes ter representado o PT na Assembleia nacional Constituinte de 1988.
Dilma Roussef está implantando um programa neoliberal que sucateia as universidades federais, em todo o território nacional. Assim o governo desarticula a base material e institucional da hegemonia petista. A implosão das universidades públicas significa a desarticulação do pensamento unidimensional da esquerda? A ideologia da esquerda petista é resiliente. A hegemonia se desfaz, mas a juventude – e não só ela – continua enredada pelo Imaginário política de esquerda, que é, hoje, latino-americano: bolivariano.
Quanta à universidade, ela não vai encontrar apoio na grande imprensa – principalmente, no jornalismo televisivo -, pois esta não perdoa as universidades federais de terem sido, por mais de uma década – um aparelho ideológico do PT. A grande imprensa vai apoiar o governo Dilma Rousseff na aniquilação das Universidades Federais (UFs). Um fato curioso. O jornalismo – principalmente o televiso – usa cotidianamente os professores das UFs para comentar notícias que precisam de uma elaboração especializada. A Globo News tem preferência pelos professores e pesquisadores da UFRJ. E no entanto, não atribui a crise desta universidade ao corte de verba empreendido pelo Ministério da Educação. Fazendo um jornalismo pusilânime e pustuloso, a direita totalitária do jornalismo deste canal acusa a reitoria de ser a responsável pela crise, por má gestão.
  O FIM DA HEGEMONIA PETISTA
A hegemonia petista se refere a articulação da política com o mundo intelectual. Para encurtar o assunto, as universidades públicas constituem a base material de tal hegemonia. A hegemonia da esquerda vem antes da hegemonia petista, ela começa com os intelectuais do PCB, do ISEB, e depois passa a ter como centro cultural tático a USP. Não foi um acaso, Francisco Weffort ter assumido a secretaria geral do PT na fundação do partido e Florestan Fernandes ter sido o representante mais ilustrado do PT na Assembleia nacional Constituinte, de 1988.
Dilma Roussef está implantando um programa neoliberal que sucateia as universidades federais, em todo o território nacional. Assim o governo desarticula a base material e institucional da hegemonia petista. A implosão das universidades públicas significa a desarticulação do pensamento unidimensional da esquerda? A ideologia da esquerda petista é resiliente. A hegemonia se desfaz, mas a juventude – e não só ela – continua enredada pelo Imaginário política de esquerda, que é, hoje, latino-americano: bolivariano.
Quanta à universidade, ela não vai encontrar apoio na grande imprensa – principalmente, no jornalismo televisivo -, pois esta não perdoa as universidades federais de terem sido, por mais de uma década – um aparelho ideológico do PT. A grande imprensa vai apoiar o governo Dilma Rousseff na aniquilação das Universidades Federais (UFs).
Um fato curioso. O jornalismo – principalmente o televiso – usa cotidianamente os professores das UFs para comentar notícias que precisam de uma elaboração especializada. A Globo News tem preferência pelos professores e pesquisadores da UFRJ. E no entanto, não atribui a crise desta universidade ao corte de verba empreendido pelo Ministério da Educação. Fazendo um jornalismo pusilânime e pustuloso, a direita totalitária do jornalismo deste canal acusa a reitoria de ser a responsável pela crise, por má gestão.   
REVOLUÇÃO POLÍTICA
A comunidade jurídica representada no Procurador-Geral e no ministro do STF deu um passo importante para a transformação de um problema jurídico em um problema prático da esfera pública procedimental. A era Lula-Dilma transformou o aparelho jurídico de Estado em uma máquina de guerra jurídica heideggeriana. Em outros textos já desenvolvi tal assunto.  Isso só foi possível por causa da inexistência da lógica liberal política da separação e independência dos poderes institucionais articulados pela República Democrática de 1988. O funcionamento político do Estado brasileiro pela lógica do simulacro de simulação garante a existência das instituições políticas como poderes fácticos, artefáticos. Ou seja, elas funcionam pela lógica dos fatos políticos – artefatos políticos – assim como a indústria de comunicação – televisão, especialmente – funciona pela lógica dos fatos midiáticos, ou seja, artefatos comunicacionais industriais. O saudoso prefeito César Maia designou tais artefatos pelo nome de factóides. Não é a mesma coisa, mas a comparação é útil, pois não existem fatos; só existem artefatos.
No Brasil, o liberalismo político sempre caracterizou o idealismo da elite jurídica ou de uma fração da elite política. As Constituições brasileiras são peças montadas segundo – em alguma medida – princípios liberais, que garantem a aparência liberal de um funcionamento prático da política como simulacro de simulação de liberalismo político. Então, o país jamais saiu do grau zero de liberalismo político. Os atos da comunidade política não apontam em uma certa direção política? Não se trata simplesmente do impeachment. A CRISE BRASILEIRA é profunda e está ficando cada vez mais intensa. O governo atual (presidência, Congresso, partidos etc.) está fornecendo provas cabais de que não sabe refletir e muito menos simbolizá-la. A solução da CRISE não está nem no horizonte intelectual! Para sair dela é preciso que haja uma transubstanciação da elite, globalmente. Inclusive, a integração do país as redes do capitalismo corporativo mundial exigem a transubstanciação política do país. Qual é o caminho mais curto e possível? Outras forças – políticas, culturais, intelectuais – podem se juntar à comunidade jurídica republicana em um processo que viria a adquirir o sentido de uma revolução política liberal efetiva. Os primeiros passos desta revolução política podem começar com a renúncia dos presidentes da Câmara e do Senado e a rearticulação das forças partidárias no sentido da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A crise brasileira deve se socorrer na dialética materialista de Mao Tsé- Tung: “que desabrochem as cem flores”! Como existem muitos admiradores da China no meio empresarial e jornalístico, a conjuração de Mao, neste momento gravíssimo, não deve ser recebida como uma heresia política.   
BANCOS MUNDIAS SUBTERRÂNEOS
“Em entrevista exclusiva, Falciani explica o funcionamento do “sistema HSBC”, fala sobre as implicações no Brasil, das relações com o esquema de corrupção criado na Petrobrás e sobre as táticas de lavagem de dinheiro da corrupção por meio do uso de empresas abertas no Panamá – como a criada pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. O alerta é chocante e sombrio: ‘O Brasil é o maior cliente de bancos opacos do mundo’”.
O jornalismo quer sustentar que existe um capitalismo financeiro racional, ético (visível) e um capitalismo financeiro mafioso: pathos invisível. Trata-se da aplicação de um paradigma da medicina ao sistema econômico: a vida se reparte entre o normal e o patológico. Indubitavelmente, há regras racionais, normas institucionais para funcionamento da economia capitalista. Não vou desdizer Max Weber! No entanto, Marx mostrou no “O capital” que o capital fictício (capital financeiro) funciona por uma lógica quase irracional, quando ele passa a ser o dominus da economia capitalista. Este é o aspecto principal da economia mundial na atualidade. A economia e a política mundiais estão sob o domínio (“hegemonia”) da oligarquia financeira mundial. Assim, não há futuro para o capitalismo sustentado pela lógica da reprodução ampliada do capital fictício. Os economistas críticos estão cansados de repetir isso!
Outro problema é a estrutura do poder brasileiro está integrado ao capitalismo mundial pela lógica oligárquica das redes mafiosas do capital fictício. O capital fictício é uma privatização (privatismo) da política mundial em escala global. Ele atua no sentido da privatização das estruturas de poder de todos os países – que contam – constituindo-se como hegemonia abstrata do bloco no poder na maioria dos países. A relação dele com os impérios pós-modernos precisa ser ainda iluminada. No caso brasileiro, as redes mafiosas-oligárquicas estabelecem uma hegemonia concreta do capital fictício mundial no bloco-no-poder. No centro do estabelecimento e funcionamento desta hegemonia encontra-se o stalinismo petista. Não é possível mais pensar a ligação ente economia e política (bloco no poder) fora da articulação dela pela cultura política. A cultura política totalitária stalinista no Brasil gerou uma profunda transformação do conceito bloco no poder, ao associá-lo às máfias capitalistas. No entanto, a Colômbia de Pablo Escobar é o grau zero latino-americano dessa transformação. É só conferir no “Leitura materialista da política universal (Segunda Parte)”.      
BORIS FAUSTO/totalitarismo historiográfico
Boris Fausto é um historiador uspiano que ganhou uma certa notoriedade com o livro “Revolução de 1930”. Ele é parte da época intelectual na qual o marxismo uspiano deu um golpe de Estado na cultura universitária brasileira. Mas ele tem algo especial na plêiade uspiana. Ele é o autor de uma vulgata marxista sobre a história do Brasil. Tal vulgata antimaterialista e antidialética foi metabolizada por várias gerações de professores e estudantes de história como uma ideologia totalitária historiográfica. O livro “História do Brasil” é a obra-prima deste totalitarismo historiográfico. Para ilustra o texto, vejam a narração do século XVI e XVII. Nela, estão foracluídas – em uma operação tipicamente stalinista – fatos históricos (artefatos) e fenômenos fundamentais para o entendimento desta época que definiram uma determinada subjetividade brasileira. As “entradas”, as “bandeiras”, as Reduções, os jesuítas castelhanos, os índios guaranis foram apagados da história do Brasil. O choque fatal que as bandeiras produziram nas nações indígenas, e, em especial, nos guaranis é suprimido do mesmo modo que a polícia secreta stalinista apagou a imagem de Trotsky dos retratos oficias soviéticos, e até de retratos familiares. As entradas e as bandeiras constituíram as máquinas de guerras totalitárias – psicótica e neurótica, respectivamente – de definição geográfica do território brasileira. É verdade! Mas elas também são parte do elenco de máquinas terroristas que definiram a história da nossa subjetividade tropical. Em uma linha genealógica que começa na colônia, podemos filiar a elas o Exército florianista que destruiu Canudos e a Polícia Militar envolvida com o assassinato de 1000000 de pessoas nos últimos 30 anos. Nesta história, uma máquina biográfica terrorista é o arquétipo das máquinas individuais terroristas que habitam a Polícia Militar em todo o território nacional: o bandeirante Antônio Raposos Tavares. Trata-se de uma máquina terrorista banhada em sangue guarani cuja vida pode ser estudada como exemplo da articulação do mundo brasileiro pela racialização. Ele é o arcanum ariano (racista) da classe dominante paulista e brasileira reconstruída e glorificada – para nossa felicidade - nos livros de Oliveira Vianna. Esta máquina de guerra raposo tavares é um ponto da linha de força universal que articula a cultura totalitária colonial brasileira. O totalitarismo historiográfico de um Boris Fausto se define pela denegação destes fenômenos totalitários seminais do Brasil colonial, cuja repetição é fruto da existência da cultura totalitária brasileira. Suprimir os significantes – as máquinas de guerra terroristas, as missões, os guaranis – é uma operação totalitária da linguagem historiográfica, pois: “Mais de uma coisa no mundo é passível do efeito do significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando com ele se articula o significante. Nunca, jamais surge sujeito algum até que o fato seja dito. Temos que trabalhar estas duas fronteiras” (Lacan. Seminário 16: 65).
IMPEACHMENT/FHC
Partidos de oposição da direita brasileira (PSDB, DEM, PPS e SD) querem representar nas ruas as forças políticas institucionais. Eles estão fazendo uma discussão sobre o significado do impeachment na atual conjuntura política. O decano intelectual deles diz que o impeachment é um salto no abismo. FH teme que o impeachment, ou jogue o poder nacional nos braços do PMDB (Michel Temer), ou seja um meio para o retorno de Luís Inácio Lula da Silva. Ele não acredita no papel das massas no processo político. Não crê que as massas possam ser agentes de uma invenção na política para além do cálculo político da elite oligárquica-totalitária. Outro argumento-arma de FH para evitar que as multidões ditem o rumo da política brasileira é a ideia de que a democracia está ameaçada. Ele não se interroga sobre qual democracia está ameaçada. Qualquer criança de dez anos sabe que a democracia ameaçada é a atual democracia despótica sustenta pelo discurso do mestre colonial luso-brasileiro.  A crise brasileira tornou tal democracia volátil. As massas são um contraponto ao domínio da política pelo discurso do mestre.
 No Instituto FHC (aparelho ideológico isebiano de direita), a intervenção de FH mostra que os partidos de oposição à direita não têm um modelo lógico-empírico para a análise concreta de uma situação concreta. Eles são impotentes para pensar a crise brasileira como crise global. Por isso a fala de FH cai no abismo do Real. FH olha para o ABISMO e este responde: primeiro, Delenda Lula. FH é o nosso senador romano Catão, o Velho (234-149 a.C.) Lula transformou-se no grande fantasma da política nacional seja para a direita, seja para a esquerda. Para a direita, ele é a peste política. Esta remonta à lógica da classe dominante tecida no Brasil colônia. Ela concebeu o mestiço superior como o maior inimigo da elite aristocrática arianista. Para a esquerda, o fantasma Lula representa, sem que ela o saiba, a ligação da política brasileira com o milenarismo (ou quilianismo) sebastianista. A fé da esquerda no papel salvacionista de Lula é um fato político (artefato da cultura política) que a liga ao SERTÃO, ao Bom Jesus, à Canudos: ao inconsciente político mestiço. No entanto, Lula é a expressão grotesca do inconsciente político mestiço. Trata-se do grotesco como amalgama do bufão (esfera do cômico), do bizarro (esfera do insólito onde o ridículo torna-se cômico e o engraçado tinge-se de alguma extravagância), do fantasma-estético (esfera do fantástico que cria formas imaginárias imprevistas pela realidade), do pitoresco (esfera das formas políticas curiosas, interessantes, complexas onde a aparência superficial se auto-finaliza.  Entretanto, tal fenômeno é denegado à ferro e fogo por um marxismo europeizante. Glauber Rocha já tinha apontado o seu dedo escandaloso para este fenômeno da esquerda brasileira.  Ele que tentou tecer um marxismo baiano-tropicalista. Lula e o fantasma que ronda a política na mais profunda – e agora quase intensa – crise brasileira. Esta pode rumar para a crise final da República a nível nacional.
A crise brasileira não define uma superfície descontínua em relação à política mundial. Como Pablo GBS sabe, há uma evolução da crise mundial em três dimensões: crise política (crise universal da República); crise cultural (crise da modernidade que sustenta o sistema representativo); crise do capitalismo cujodominus é a oligarquia financeira mundial. FH não sabe que não há descontinuidade entre a superfície política brasileira e a superfície política mundial. Se ele simbolizasse isso, teria que admitir que a solução da crise brasileira passa pelo rumo que a política mundial vai tomar diante da CRISE MUNDIAL. Quando FH disse, “esqueçam o que eu escrevi”, estava falando de sua falência intelectual para pensar o mundo e, obviamente, o Brasil. Assim, sua fala acabou tornando-se o blablablá mais luxuoso da política nacional! Mas o país ainda o considera como o sábio mais longevo da política brasileira. Aí o discurso político brasileiro não para de não se inscrever como processo de simbolização da crise global!   
FANTASMA PRIMEVO/MARIO VARGAS LLOSA. 11/03/2015
“para não serem acusados de reacionários e “fascistas’”, os governantes latino-americanos que chegaram ao poder graças à democracia estão dispostos a cruzar os braços e olhar para o outro lado enquanto um bando de demagogos assessorado por Cuba na arte da repressão vai empurrando a Venezuela até o totalitarismo”
Sou leitor de MARIO VARGAS LLOSA inclusive de seus textos políticos para o jornal espanhol El Pais. Seu raciocínio claro e preciso não deixa dúvidas sobre o sentido de seus textos. LLOSA é um defensor do liberalismo político na América Latina. Ele é um dos poucos escritores latinos que associa Cuba com o totalitarismo, sem meias palavras. Neste sentido, ele encontra-se entre as aves raras latino-americanas. O IMAGINÁRIO POLÍTICO latino-americano atual constituiu-se a partir do MITO Revolução Cubana. Tal mito rompeu com o paradigma ideológico dos USA da Guerra Fria que punha Cuba entre as nações totalitárias. Neste paradigma, os USA eram a DEMOCRACIA e a URSS o TOTALITARISMO. Para a América-latina, Cuba era uma exceção neste paradigma que confirmava a regra ideológica criada pelos USA. Os militares brasileiros nunca consideraram Cuba uma exceção. Eles voltaram americanizados da Segunda Guerra Mundial.    Segundo LLOSA, a Venezuela caminha para tornar-se uma nova Cuba!
“seis jovens já foram assassinados nas últimas semanas pela polícia ao tentar calar os protestos de uma sociedade cada vez mais enfurecida com os atropelos desenfreados da ditadura chavista”.
A Venezuela é uma ditadura chavista que caminha para o totalitarismo cubano”. LLOSA não consegue ver – ou não quer admitir – que a Venezuela não é uma ditadura. Trata-se de uma discussão tediosa – inclusive da ciência política brasileira – que divide este campo entre direita e esquerda. A direita diz – de pés juntos – que a Venezuela é uma ditadura; a esquerda jura que ela é uma democracia. Será que para o leitor, o mundo político se divide entre as linguagens ideológicas da esquerda e da direita? No Facebook brasileiro, os internautas estão cada vez mais insatisfeitos com a interpretação da política por tais ideologias. Mas afinal qual é o problema da linguagem ideológica?
Ela oculta a realidade? Função primária da ideologia concebida por Marx. Mas isso é ainda insatisfatório para pensarmos a política funcionando pela ideológica. Por que homens, mulheres e crianças são levados a viverem a política como ideologia? A leitura da contraciência freudiana da política inscreve a seguinte ideia: o fantasma pilota toda e qualquer linguagem ideológica da política. No campo freudiano, o fantasma primevo é a junção da criança com a Mãe (das Ding=Coisa). Essa junção é o ato e canibalização da Mãe que o ato de mamar no peito diz para a criança que a canibalização absoluta é uma coisa possível. Mas a junção absoluta com a Mãe é algo impossível. A humanidade dá um salto qualitativo do inconsciente freudiano para o inconsciente nietzschiano ou inconsciente político, quando ocorre a interseção entre o inconsciente freudiano (Mãe= das Ding) com o inconsciente político (Urstaat= Estado despótico arcaico). Na contraciência freudiana da política o das Ding condensa, na história biográfica do indivíduo, o fantasma do Urstaat que articula indivíduo, sociedade e Estado. O ser humano deseja – e isso também articula sua vontade – a junção com o Urstaat. Isso é o fantasma do Estado despótico arcaico que pilota a história política universal. Trata-se de um fantasma totalitário arcaico, universal acoplado ao significante-unívoco do discurso do master capaz de articular o gozo totalitário. Não é necessário dizer que isso agencia o gozo mais universal da humanidade na história política universal. A sociedade primitiva desconhece e esconjura tal gozo! A história política universal também produz o significante eclético articulado ao inconsciente político mestiço em um contraponto ao discurso do mestre.
O paradigma ideológico dos USA dizia: “não desejamos a junção com o Urstaat; não somos canibais”. A democracia é um modo de evitar o canibalismo político. Sejamos civilizados, não canibais! Deixem nossas mães em paz, pelo amor de Deus! LLOSA quer deixar sua mãe em paz e ficar em paz consigo mesmo. Mas a paz dele acaba quando ele é levado a conclusão de que a Venezuela não é uma ditadura. Isso é insuportável para Mario Vargas. Então, fora da contraposição ideológica esquerda versus direita a Venezuela é o quê? Não é democracia ou ditadura em sentido moderno! Mario é talvez um dos grandes romancistas modernos latino-americano vivo! O desejo de Mario é que o mudo moderno não acabe na literatura ou na política. Ele vê o fim da modernidade como algo apocalíptico? Para ele, o fim da modernidade significa que a paz das Mães sobre a TERRA acaba definitivamente?

  A MORALIA DO CONGRESSO
No Elogio da loucura, Erasmo escreveu: “Coragem, vamos! Dissimular, enganar, fingir, fechar os olhos aos defeitos dos amigos (políticos), ao ponto de apreciar e admirar grandes vícios como grandes virtudes, não será, acaso, avizinhar-se da loucura”. A lógica do simulacro tem uma fronteira volúvel com a loucura. Esta é a máquina de guerra erasmoana que se move ao sabor das paixões. A paixão do Congresso articula-se na interseção do gozo totalitário (subsunção da população à fala da geleia geral Tropicalista) com o gozo privatista (oligárquico). A ação jurídica de Janot/Zavaski gerou tal geleia geral política do Tropicalismo. A CPI da Petrobrás foi transformada em um simulacro de tribunal legislativo bordeando a loucura da elite política, ou seja, a elite como máquina de guerra erasmoana. Qual a minima moralia política do Congresso? O texto abaixo quer começar essa discussão na web.  
O MODELO AMERICANO MÍNIMO E MÁXIMO
Benjamin Franklin: “Time is money”  

 Existe um modelo americano mínimo? Sim! Ele é tecido pelas culturas políticas oligárquica e totalitária. No entanto, a leitura da política no campo da física das máquinas de guerra é dialética e materialista. A dialética estabelece a relação entre o universal, o particular e o singular como ponto de partida necessário. A oligarquia é um significante universal que adquire formas específicas em sua história particular. Ele pode assumir uma forma singular em determinados momentos históricos. Isso é mais raro. A oligarquia é uma forma particular no Brasil, na Argentina, no México, nos USA. No Brasil, ela é urbana-rural articulada pela cultura do capitalismo de commodities no mundo-da-vida burguês. Claro que isso é a materialidade econômica do significante. No entanto, a oligarquia é um artefato (materialidade) simbólico como cultura política no mundo-da-vida da população. A cultura capitalista de commodities não articula sozinha a parte oligárquica do modelo americano. Este é articulada pela cultura política oligárquica seja burguesa, seja plebeia. Um truísmo: sem o voto e a legitimação cotidiana da população o modelo americano volatiliza-se. No entanto desde Getúlio Vargas, o populismo foi a máquina de guerra política que inscreveu o totalitarismo no modelo americano brasileiro. O PT é o estágio superior de uma cultura totalitária de massas policlassistas e também indeterminadas socialmente. Estes dois pilares do modelo americano mínimo (oligarquia e totalitarismo) aparecem – em formas particulares – em todas as Américas.
Os USA tem um modelo americano máximo. As culturas oligárquica e totalitária do mundo-da-vida americana podem ser ou burguesa ou plebeia. As duas são capitalistas e urbanas. No entanto, a elite cultural norte-americana denega a existência do totalitarismo. Todavia, a sociedade americana possui uma máquina de guerra totalitária visível na economia capitalista do complexo industrial-militar. Também visível no sistema de segurança e inteligência constituído pela CIA, DEA, ASN etc. A política externa dos USA é dirigida por esta máquina de guerra totalitária e terrorista que, aparentemente, tem como centro tático o governo. Nem Obama escapou de se integra e ser integrado como uma mola a tal máquina. Mas os USA tem como tradições o liberalismo político, o populismo não-totalitário e outros artefatos do campo simbólico que acabam por constituir – de algum modo e em certa medida - o modelo americano, portanto, máximo. E é impossível negar que a cultura capitalista do dinheiro parece sobredeterminar a cadeia de significantes que constituem o modelo americano como máximo.
As informações sobre as redes (digitais) - que estão na direção do movimento que quer o impeachment de Dilma Rousseff -  permitem uma interpretação da política brasileira para além do modelo esquerda/direita? É claro que o movimento ‘virtual” na web tem que se apoderar da rua para adquirir substância política. Se este for o caso, podemos estar diante de um provável movimento de massas capitalistas. Com efeito. Isso será um acontecimento inédito na política brasileira. FHC sabe disso e ficou assustado com esta possibilidade ainda “virtual”. FHC enviou um comando para o jornalismo Global no sentido deste fazer parte de uma frente política contra o impeachment. A prudência de FHC é uma prudência que esconde o medo das massas capitalistas. Incrível! Ele teme que a multidão capitalista acabe com o simulacro político esquerda/direita que tem dominado a política nacional do século XXI. Seu mestre uspiano escreveu um livro sobre a Revolução burguesa no Brasil. Trata-se de uma ilusão sociológica criada por um marxismo europeizante. Agora, o país esta frente a frente com a possibilidade de uma revolução capitalista em um tempo de possível desintegração da República brasileira. Por enquanto, a revolução capitalista parece envolver mais de um milhão de web-rianos. Ela seria a repetição da marcha da família com Deus, pela pátria e contra o comunismo de 1964 teleguiada pea máquina de guerra ideológica militarizada IPES/IBAD/ESG? Improvável! Esse movimento todo nas redes da web pode ser metabolizado por uma cultura política capitalista totalitária? Isso é algo possível de acontecer. Desde a década de 1960, o capitalismo está articulado a uma cultura capitalista totalitária. Isso foi concebido na época por Marcuse. De qualquer maneira, este acontecimento brasileiro é o sinthoma de que o paradigma esquerda/direita esgotou suas possibilidades concretas. Também parece dizer algo sobre a impossibilidade de implantação do modelo europeizante oligarquia política híbrida, no Brasil, almejado ardorosamente por FHC.