sexta-feira, 8 de julho de 2022

ELEIÇÃO 2022 – VERTIGEM

 

JOSÉ PAULO 

 

 


 

A eleição de 2022 é um momento privilegiado para se falar do discurso político brasileiro?

Uma velha crença da ciência social brasileira é aquela da singularidade do discurso político nacional. Aqui mostro que se trata de uma ilusão ingênua.

A eleição de 2022 vem marcada pelo uso do dinheiro público para a compra de voto na Câmara e Senado pelo governo de um Jair Bolsonaro. O <Orçamento Secreto> das emendas do relator transforma o dinheiro público em vil metal da corrupção do poder parlamentar.

Há uma contradição sendo desenvolvida entre a política e a moralidade pública, ou melhor, moralidade republicana. Tal fato caracteriza o discurso político brasileiro atual. A compre de voto se tornou o leitmotiv do funcionamento do poder parlamentar, o motor da política brasileira.

O bolsonarismo explica o nosso discurso político?

Se a resposta é sim, então, a visão de mundo do bolsonarismo se tornou a visão de mundo da política parlamentar. No entanto, o bolsonarismo faz pendant com um outro fenômeno da política, a saber: o Centrão.

O Centrão designa uma reunião de partidos políticos formais que domina o Congresso. Ele é dito como a política fisiológica da relação entre governo e parlamento do <é dando, que se recebe>.

O fisiologismo brasileiro combina apropriação do dinheiro público com a ambição de carreiras política biográficas - duradouras. Aliás, o partido político é um rótulo que existe em função das biografias políticas.

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O discurso político é o laço social entre governante e governado; na era moderna, é o vínculo social entre representante e representado, entre poder político e eleitor/cidadão, ou homem e mulher livres de coações externas em relação a sua consciência histórica..

Assim, a soberania popular aparece como o fundamento da fabricação de um poder nacional a partir da livre escolha do eleitor: um homem, um voto. A compra de voto é, portanto, um modo de corrupção da democracia republicana, enfim, um modo de destruir o fundamento do poder democrático-republicano. Trata-se da crise profunda da república democrática.

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Há conjunturas históricas europeias nas quais o discurso político ocidental se desenvolveu clara e distintamente.

O discurso político oligárquico foi teorizado pela teoria das elites e pela gramática weberiana. Neste discurso, o poder nacional encontra-se nas mãos de uma oligarquia política. Trata-se da democracia liberal estrito sensu. Uma elite política domina a cena política através de partidos burgueses.

Com a entrada do proletariado na cena política, há um aprofundamento da democracia e o nascimento do disso político socialdemocrata. É a era do poder socialdemocrata com seu Estado do bem-estar.

No interregno, um outro poder político se constitui em discurso político. É a época dos partidos políticos paramilitares, da luta entre a esquerda e o fascismo, que na Alemanha desembocaria na construção do poder nazista que é a causa imediata da 2° Guerra Mundial.

No Brasil 1988, há a tentativa de construção, limitada, do paradigma socialdemocrata - com FHC e Lula. Claro, que é um poder socialdemocrata da periferia latino-americana do Ocidente.

O poder socialdemocrata mantém as aparências de semblância republicanas da política nacional. A moralidade republicana ainda é um semblante importante na vida biográfica dos políticos profissionais.

O discurso político oligárquico domina a cena brasileira com Michel Temer e Bolsonaro. Então, se desenvolve a contradição entre moralidade republicana e a política oligárquica como privatização do poder brasileiro.

Com o governo Bolsonaro, a compra de votos com dinheiro público torna-se o móbile da vida parlamentar. Como as pesquisas de opinião de voto dizem que Bolsonaro perde no 1° Turno para Lula, Bolsonaro e o Centrão encaminham o golpe de Estado branco (parlamentar) para mudar o equilíbrio de força eleitoral em julho de 2022. A eleição é no dia 2 de outubro.

O golpe de Estado torna a eleição como reino as ilegalidades, pois, o golpe de Estado é um golpe contra a Constituição e as leis eleitorais.  Enquanto Bolsonaro fala em golpe de Estado clássico, caso não vença, o Centrão dá o golpe de Estado realmente existente na política brasileira, em julho.  

A política do conluio criminoso entre o governo nacional e o parlamento é, de fato, o colapso da república democrática-1988.

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O poder político nacional não é um artefato social solto no ar. Ele se constrói e existe em função de sua relação com a economia, ou seja, com o capitalismo.

O discurso político oligárquico faz pendant com o domínio absoluto do poder do Banco (em aliança com o agronegócio) na política. O ministro Paulo Guedes personifica o poder do Banco na vida nacional e local. O neoliberalismo político subdesenvolvido e perverso é a narrativa nuclear que cria o laço social ente governo e capital.

A crise do neoliberalismo político da globalização faz do Brasil o elo mais fraco do capitalismo mundial. Com a política neoliberal, o país se isola na gramática da geopolítica capitalista do mercantilismo do capital.

Assim, o Brasil caminha para o abismo econômico com a reeleição de Jair Bolsonaro, que insiste em manter Paulo Guedes no comando da economia. Jair disse para Paulo: <cairemos juntos ou reinaremos junto, eternamente.

A PEC da compra de votos da classe média do Sudeste e do eleitor pobre do Nordeste, é a tática da oligarquia política para se conservar no poder brasileiro, mesmo <que a casa caia>.

A PEC <medinho de Lula> (na formulação espirituosa de um jornalista antibolsonarista) revela o desenvolvimento da contradição entre moralidade republicana e política privada, política de apropriação privada do poder brasileiro, por indivíduos e clãs.  

A eleição de 2022, conta com a intervenção do exército bolsonarista no processo eleitoral, tentando alterar o equilíbrio de força para favorecer Bolsonaro. A desmoralização das Forças Armadas gerou o discurso do fim da necessidade de F.A. no Brasil.  

A corrupção ou corrosão das altas instituições de Estado é parte da estratégia do bolsonarismo para conservar o poder brasileiro. Tal niilismo político de destruição da república democrática tem como suporte 1/3 do eleitorado. São dezenas de milhões de eleitores. Portanto, a crise orgânica brasileira torna o país o elo mais fraco do capitalismo mundial, do mercantilismo do capital.

A derrota de Bolsonaro e do bolsonarismo em outubro de 2022 seria o ponto-departida para o país iniciar o debate sobre sua integração à nova ordem capitalista mundial. Eis, o segredo de polichinelo da política brasileira de hoje.  

A construção de um novo discurso político pelo novo poder brasileiro não aparece no horizonte da nossa política-2022?