sábado, 21 de fevereiro de 2015

cadernos do cárcere-web

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.

Estes textos são a pequena análise concreta de uma situação concreta do campo da física das máquinas de guerra freudianas.   

FÍSICA DAS MÁQUINAS DE GUERRA

A ideia não é fazer nestes textos-web uma fenomenologia política a partir do campo contraciência freudiana da política. O fato deste modelo alcançar os fatos (artefatos) do cotidiano da política demonstra apenas que ele existe como possibilidade de se tornar a linguagem-espelho do mundo. No Brasil, há uma crença na “comunidade intelectual do século XXI” da era petista de que só intelectuais dos USA ou da Europa podem fazer isto. Nem sempre foi assim. Vide por exemplo a linguagem-espelho do mundo criada por (só vou citar alguns) por  Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, Ruy Mauro Marini e outros. Felizmente não somos órfãos intelectuais submetidos a um padrasto-dominus europeu ou americano, ou seja, colonizados pelo USA e a Europa. Vejamos alguns “fatos” que associam a política brasileira à política mundial.

“A batalha migratória recrudesce nos Estados Unidos: um juiz federal suspendeu temporariamente as medidas executivas ordenadas em novembro pelo presidente Barack Obama para regularizar a situação de cerca de cinco milhões de imigrantes ilegais. A Casa Branca não demorou a reagir, e anunciou nesta terça-feira que o Governo apelará da decisão, visto que considera que Obama agiu “dentro de sua autoridade legal”. (Estadão). Este fato revela que o sujeito político é, na democracia normalmente, condensação de múltiplas culturas políticas. Obama que age como um artefato do totalitarismo americano em várias áreas (política externa , por exemplo) e situações (relação com a imprensa independente, por exemplo), no caso dos imigrantes, age de acordo com a lógica da cultura política liberal. O xifópago é o ser político, por excelência, da política nas democracias representativas. O Partido Republicano e a Comunidade Jurídica do Texas agem como máquinas de guerra freudiana do totalitarismo americano. A comunidade jurídica age como uma máquina de guerra especifica do universo das máquinas de guerra freudiana: a máquina de guerra heideggeriana.

No Brasil, a Câmara de deputados está – pela linguagem política tradicional – sob o domínio conservado e tem na presidência o PMDB: “Depois de travar uma batalha contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e conseguir o apoio de uma Câmara mais conservadora que nas legislaturas anteriores para se eleger presidente da Casa, Eduardo Cunha, o deputado carioca evangélico da ala rebelde do PMDB, começa a colocar na ordem do dia medidas polêmicas, que contrariam bandeiras progressistas, feministas e da comunidade LGBT” (El Pais). Eduardo Cunha é um político tradicional do Rio de Janeiro, ou seja, um artefato da cultura oligárquica do estado. A cultura política oligárquica se define pela privatização da política (privatismo). Ao lado de Renan Calheiros (presidente do Senado pelo PMDB), Cunha trata o Congresso Nacional como se fosse sua propriedade privada. Na linha de força que o liga à cultura política oligárquica colônia, Cunha (e Renan) “pensa” e age como se o Congresso fosse o seu Engenho, a sua autarquia política no Vale do Paraíba. Mas o PMDB está dando uma guinada para o totalitarismo brasileiro em choque com a interseção de culturas políticas liberal e libertária dos movimentos progressistas, feministas e da comunidade LGBT. Note-se que o PT, nesta área não condensa cultura totalitária em uma prática política simular a de Obama. Assim, a superfície da política brasileira se caracteriza por ser um espaço contínuo ligado à superfície política norte-americana. Chamar o Partido Republicano, a Comunidade Jurídica do Texas (e de tantos outros estados) e o PMDB de Cunha de conservador é fruto de uma linguagem política anacrônica usada pelo jornalismo sob o domínio do modernismo político sustentado pela ciência política universitária americana. O discurso da universidade continua sustentando tal linguagem corriqueira das mídias do Ocidente. O Partido Republicano, a Comunidade Jurídica do Texas (e de tantos outros estados americanos) e o PMDB de Cunha se constituem como máquinas de guerra freudianas articuladas por culturas políticas totalitárias. Então precisamos de uma física das máquinas de guerra freudianas para a reflexão e simbolização da política mundial, ou mais precisamente, da política universal.   
ARGENTINA/MÁQUINA (19/02/2015)
A física das máquinas de guerra é uma contraciência da política. Ela trabalha com contraconceitos, isto é, fluxos que são contrarrazão conceitual. Um contraconceito é constituído por um efeito de dizer da investigação que articula teoria e artefato histórico. Ele é uma rede de significantes que se condensa na dialética universal/particular/singular de uma superfície lógico-histórica: a política universal.
A máquina de guerra freudiana é um contraconceito articulado por uma rede de significantes transdisciplinar, ou seja, uma rede eclética de significantes que tem como centro tático os significantes freudianos. Assim, ela é a realização da satisfação da pulsão de morte de um sujeito cuja finalidade é o uso sem limite da violência. Toda grande máquina de guerra tem como modelo o Urstaat. A lógica do fantasma do Urstaat articula qualquer grande de máquina associando psicologia do indivíduo, psicologia grupal, metapsicologia e physica-psychologia. Portanto, tal contraconceito é um efeito de dizer no campo contraciência freudiana da política.
“Embora os organizadores da manifestação tenham ressaltado o caráter apolítico do ato - não havia bandeiras de partidos, apenas cartazes que não fossem de Nisman ou da bandeira argentina - as razões para a presença iam além da morte do promotor e atingiam indiretamente os políticos. "É uma marcha silenciosa, então não vou falar mal do governo. Mas estamos indignados com tudo, com a corrupção que mata", afirmou María Guevara, dona de casa de 62 anos, segundo ela parente em 5.º grau do revolucionário” (Estadão) http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,homenagem-a-promotor-reune-400-mil-sob-chuva-e-eleva-pressao-sobre-cristina,1636222.
A notícia sublinha o caráter apolítico do ato. Uma multidão marcha em “silêncio, desde as imediações do Congresso, onde começava a marcha, até a Praça de Maio, onde ela terminava” (El Pais) http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/18/internacional/1424297883_889426.html .
O silêncio é um contraponto com o barulhento e efusivo carnaval do Brasil do sudeste. Enquanto o Brasil se diverte, a população vizinha simboliza a crise argentina.  Não estamos sozinhos! No entanto, marcha apolítica seria algo fora da política, inarticulada, invertebrada, um nonsense como um desafio matemático que se contrapõe à lógica política. A Marcha saiu diretamente das páginas de um Lewis Carroll argentino (a multidão em Buenos Aires) surrealista e dadaísta. Buenos Aires é a capital da melhor literatura e da mais exuberante dramaturgia da América Latina. A poesia parece ser constitutiva da marcha pela memória do promotor assassinado Nisman. Mas para a física das máquinas de guerra a multidão argentina é uma poética contramáquina de guerra freudiana. Ela é um pequeno ato da história política universal que é constituído pela dialética máquina de guerra versus contramáquina de guerra. Mas isso não é tudo!
 “A marcha foi convocada por cinco promotores como uma homenagem ao companheiro falecido quando se cumpre um mês de sua morte. Era um fato insólito. O Poder Judicial, ou parte dele, jamais havia convocado uma marcha ao longo das últimas três décadas de democracia argentina. Os principais dirigentes da oposição se somaram imediatamente à iniciativa. Mas o Governo viu uma tentativa de desestabilização, uma forma suja de fazer política sob o pretexto de render homenagem ao promotor morto. Entre as duas posições ficou gente como o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, que se mostrou crítico ao Governo e também aos organizadores da marcha, que acusou de oportunismo político” (El Pais). A marcha foi convocada por uma peça da máquina de guerra jurídica heideggeriana argentina (promotores). O governo de Cristina Kirchner chamou a multidão de jogo sujo da política nacional. Tal governo é uma articulação da cultura política populista totalitária e sua linguagem é a linguagem do totalitarismo argentino. Ela não tem nada de poético; é vulgar; é de baixa moral; é a linguagem do lumpesinato portenho. Então uma máquina heideggerina é capaz de articular uma multidão- contramáquina de guerra freudiana. A física de Heidegger não é a física de Freud! Mas no fundo da cena da política argentina, há este choque entre uma peça da máquina heideggeriana com a máquina populista terrorista com seu dominus:  Cristina Kirchner.
E o prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel? Ele se tornou o camponês que não para de arar seu terreno vizinho ao campo de operações da batalha de Waterloo. Pérez Esquivel é um ser antediluviano da era de uma linguagem política anacrônica que deixou de ser o espelho do mundo, inclusive na Argentina.         
ISLÂNDIA/GRÉCIA (20/02/2015).
“O colapso dos bancos no final de 2008 levou a Islândia a perder 8% de sua riqueza em dois anos e a uma taxa inédita de desemprego de 11,9%. A economia da ilha deu uma guinada a partir de 2011. Baseada sobretudo no turismo, nas exportações pesqueiras e na indústria de alumínio, a Islândia recuperou o terreno perdido: hoje, a taxa de desemprego oscila entre 3% e 4% e o Governo previu uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,3%. O presidente do país, Ólafur Ragnar Grimsson, atribuiu parte dessa recuperação ao fato de não ter levado em consideração os conselhos dos órgãos internacionais, em particular a Comissão Europeia, para que aplicasse medidas de austeridade” (El Pais). http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/18/economia/1424281414_946592.html.
A ciência econômica tece a linguagem econômica do capitalismo como espelho do mundo. Fazer ela funcionar é uma tarefa das instituições econômicas (Comissão Europeia, FMI, Banco Mundial etc.) as quais têm como guia a produção intelectual dos economistas burgueses. De Marx, a crítica da economia política foi criada para desconstruir tal linguagem econômica como espelho do mundo. No entanto, tal método de Marx acabou tornando-se a fonte do economicismo stalinista, a base de uma cultura política totalitária. O economicismo quer explicar a política (e fazer da política) um fenômeno determinado pela linguagem econômica. Isso é a base articulatória da cultura política totalitária stalinista e capitalista. O discurso do capitalista articula o mundo político através de um determinismo econômico. Tal fenômeno produz a cultura política do dinheiro como um artefato simbólico totalitário. O economicismo engendra o capitalismo como máquina de guerra freudo-econômica sob o dominus da oligarquia financeira mundial. Em nome do funcionamento ótimo do sistema econômico, a máquina de guerra capitalista aplica a força máxima sobre países, povos, civilizações e pessoas. É a realização da satisfação da pulsão de morte (violência absoluta sem limite) por outros meios, isto é, por meios econômicos ou, mais precisamente, financeiros. Tal violência sem limite tem produzida a maior devastação do planeta com um estado guerra aberta, permanente e fatal contra a natureza.  
A Islândia constitui-se em uma contramáquina de guerra freudo-econômica vitoriosa. Os analistas mostraram porque a posição deste país na relação de força com a oligarquia financeira mundial foi favorável aquele. Um país não precisa ser uma máquina de guerra econômica para resolver sua crise econômica. Só os que se alinham favoravelmente com o domínio da física das máquinas de guerra sobre a política mundial são partidários da solução totalitária (economicismo) para a crise econômica. Esta nunca é apenas um problema econômico, pois ela é a condensação de uma rede de significantes de culturas políticas que podem ser ou totalitária (discurso do capitalista), ou liberal (liberalismo político), por exemplo. A cultura política totalitária resolve o problema através da máquina de guerra capitalista. Já a liberal tende a instalar uma contramáquina de guerra econômica para a solução da crise. Por sua educação nas universidades norte-americanas ou seguindo os modelos matemáticos de tais universidades, os economistas preferem o agir da máquina de guerra econômica. A Grécia é o último objeto da aplicação de força de tal máquina capitalista que tem como master a oligarquia financeira mundial. Agora veremos se a União Europeia é apenas um epifenômeno do discurso do capitalista ou se ela é capaz de conceber uma solução que acabe com a inércia do domínio da oligarquia financeira sobre a política mundial. Mas o capitalismo parece se comportar como o modelo universal da máquina de guerra para Freud, a saber: a máquina de guerra psicótica. Um fantasma assombra a humanidade: a máquina de guerra stalinista. Stalin representa o modelo de máquina de guerra psicótica que o capitalismo contemporâneo usa como espelho para conduzir a espécie humana a um destino funesto!
POUR FRANCISCO WEFFORT
“A separação entre o público e o privado na investigação da Operação Lava Jato se impôs como um dos maiores desafios do Governo Dilma Rousseff. Diante da encruzilhada em que se encontra, de prestar contas à sociedade e manter em pé as empresas envolvidas no escândalo da Petrobras, a presidenta trafega numa tênue fronteira que separa os dois mundos (...)
Um deles é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que fez duros comentários sobre a condução de Cardoso por meio da sua conta no Twitter ao longo da semana. 'Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça', atacou Barbosa no dia 14 de fevereiro. Nos dias seguintes, tuitou diversos recados criticando a postura do ministro. 'Os que recorrem à política para resolver problemas na esfera judicial não buscam a Justiça. Buscam corrompê-la. É tão simples assim', replicou ele nos dias seguintes”.
A modernidade política pode ser definida ou pela separação absoluta entre privado/ público, ou pela autonomia relativa entre privado/público. Já a subsunção do público ao privado como lógicas do inconsciente político significa que estamos aquém ou além da modernidade política. As conjunturas históricas de um determinado país, ou de uma região, ou de um continente podem ser periodizadas a partir da soberania de uma destas lógicas. A conjuntura cardosista (FHC) tentou manter a lógica da autonomia relativa público/privado. A era FHC foi o ensaio geral da soberania do discurso do capitalista liberal que foi substituído pelo discurso do mestre colonial na era Lula. No entanto, um ato totalitário de FHC fez seu período governamental mergulhar na lógica mais profunda do inconsciente político brasileiro, que é o da subsunção absoluta do público ao privado. Trata-se da lógica da sociedade oligárquica articulada ao inconsciente político colonial. O ato de FHC foi a da mudança da Constituição de 1988 que não admitia reeleição para a presidência da República. FHC teve um ataque privatista ao tratar o Congresso como coisa privada para seu gozo de poder, um artefato simbólico criado pela elite política aristocrática, digo oligárquica, de Pedro II. Mas como o ato foi totalitário? FHC agiu – através da aliança PSDB/PFL – como uma máquina de guerra narcísica que veio a definir a política brasileira do século XXI, até agora. A reeleição permitiu o domínio de Lula sobre a política de 2003 até 2018, até o momento. Lula tornou-se uma máquina populista irremediavelmente carismática que caiu nas graças de uma maioria de leitores com a ajuda do seu benevolente Bolsa Família. Através do Bolsa Família Lula tornou-se o senhor colonial de Gilberto Freyre: sádico (totalitário) e benevolente. Este significante da cultura política cristã que foi secularizado, inclusive, na era moderna. Lula ligou-se às empreiteiras, inclusive, levando-as para uma colonização econômica, política e ideológica da África e fez a colonização do aparelho industrial de Estado brasileiro. Dilma Roussef aprofundou tal colonialismo petista que tem como raiz a cultura política do Brasil colonial que é uma interseção de cultura oligárquica com cultura totalitária das máquinas de guerra. Estas aparecem clara e distintamente no livro de Francisco Weffort, Espada, cobiça e Fé. As origens do Brasil: “‘Existia uma educação para a agressividade e a vingança fazia parte do código de honra vigente’. Seria demasiado admitir que algo desse espírito persiste na história contemporânea d Ibéria e da América Ibéria, inclusive no Brasil?” Weffort:172). O livro pode estabelecer um novo começo para a historiografia sobre o Brasil e a América Latina.
Da comunidade jurídica brasileira, Joaquim Barbosa aposentado se sente qualificado a falar como uma voz legítima desta máquina de guerra heideggerina. A máquina de guerra governamental só reconhece a voz da razão de uma outra máquina de guerra. O jornalismo brasileiro só reconhece como legítimas - no espaço público totalitário - as vozes das máquinas de guerra. Isso é o que se pode designar hoje como o funcionamento da ideologia dominante no sentido de Marx. A ideologia dominante nunca foi a superfície do agir cultural de sujeitos livres, ilustrados, enfim do intelectual de Gramsci. Ela sempre foi o espaço do agir da máquina de guerra cultural-burguesa na sociedade capitalista. Pode-se redinamizar, reconstruir a noção de intelectual se ele for integrado ao campo da física das máquinas de guerra. Esta é uma leitura materialista possível da história da cultura. Mas a cultura tem que concebida em uma topologia lacaniana como espaço de interseção com a cultura política.                                         

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.

Textos do PCPT
Getúlio hoje
A crise política de 1954 ainda está obnubilada pelas brumas de Avalon da ideologia política dominante brasileira. Esta é um artefato simbólico de uma linha de força histórica amálgama de culturas políticas oligárquica, populista e totalitária. Gregório Fortunato (Anjo Negro de Getúlio) era o chefe da temível guarda pretoriana de Vargas. Ele foi um antigo membro do bando oligárquico da família Vargas do interior do Rio Grande do SUL. Gregório organizou e orientou as figuras do submundo do lumpesinato carioca na realização de um ato terrorista. Tal ato matou o major Rubens Vaz e parece ter ferido no pé Carlos Lacerda. Hoje, tal ato terrorista não deve ser tomado como objeto político (sinthoma) de uma parte da história republicana que parece não ter chegado ao fim? Lula não é a repetição (lúdica e diferente) do populismo getulista?  
A origem e formação de Getúlio ocorre na cultura oligárquica sulista conhecida pela degola dos inimigos nos combates entre os bandos oligárquicos. O bando é a forma concreta de um significante de tal cultura oligárquico: máquina de guerra oligárquica. Trata-se de uma máquina terrorista! Com a Revolução de 1930, Vargas instalou um estado de exceção dando início a produção da cultura política totalitária republicana. Na década de 1930, Getúlio transformou-se na primeira máquina de guerra populista brasileira que produziu a cultura totalitária republicana. Assim como artefato simbólico, Getúlio tornou-se o objeto político que tornou possível a interseção entres as culturas oligárquicas, populista e totalitária. Estas duas últimas foram uma criação simultânea da máquina de guerra getulista.
O ato terrorista de Gregório Fortunato na rua Tonelero (Copacabana) foi um ato que saiu da interseção das culturas oligárquica e totalitária. Esta é a verdade do fato, ou melhor, do artefato. A versão da ideologia política dominante (populista/oligárquica/totalitária) diz que o móbile da ação terrorista foi a forte ligação afetiva do Anjo Negro com seu mestre. O campo dos afetos teria sido o motor de tal ato. Gregório estaria emocionalmente convulsionado pela ação demolidora de Carlos Lacerda – na imprensa de papel e eletrônica – na desconstrução da imagem pública/privada de Getúlio. O Anjo Negro era possuído por um amor profundo ao seu antigo mestre oligárquico. Este não é um ponto de partida para a re-leitura da história republicana? O discurso do mestre é o fantasma que ronda a historiografia brasileira!                   

Reconstrução da psicanálise
Na década de 1960 nos USA, Marcuse ensaiou a formulação de um conceito: totalitarismo freudiano. Na década de 1970 na França, Poulantzas transformou o marxismo ocidental em uma arma demolidora do totalitarismo ocidental capitalista. Para ele, o essencial era usar o marxismo para tecer uma cultura política antitotalitária. Simultaneamente na Alemanha, Habermas concebeu uma nova epistemologia: "reconstrução do materialismo histórico". Não é possível ignorar a natureza antitotalitária deste novo campo marxista. Habermas acreditava que o marxismo reconstruído poderia ser metabolizado pela cultura procedimental. Assim, a ideia de esfera pública ilustrada parece vital para o processo de reflexão/simbolização da política no mundo da vida para os sujeitos que não se constituem como máquina de guerra freudiana. Se o totalitarismo deriva da cultura política freudiana e, simultaneamente, articula as máquinas de guerra, a RECONSTRUÇÃO da psicanálise é um artefato simbólico contratotalitário do século XXI. A reconstrução da psicanálise significa a produção de um campo de pensamento funcionando através de contraconceitos como cultura política freudiana, máquina de guerra freudiana, totalitarismo freudiano e outros. Tais contraconceitos serão desenvolvidos pela análise freudo-lacaniana concreta de uma situação concreta. Este é o único interesse que constitui a vontade espiritual de fundação e desenvolvimento da contraciência freudiana da política.
USA
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/11/internacional/1423672180_535760.html
A proposta de Resolução dos Poderes de Guerra, de caráter conjunto, para autorizar o uso da força militar (AUMF, na sigla em inglês) é a primeira desde que em 2002 o presidente George W. Bush buscou o apoio do Congresso para a invasão do Iraque. Um ano antes, outra resolução marcou o início da chamada guerra contra o terrorismo. O combate de Bush filho a Al Qaeda é um ponto de inflexão no domínio progressivo da cultura política totalitária americana sobre a democracia mais festejada da política mundial. Obama quer repetir Bush fazendo a guerra contra o Estado Islâmico. A repetição da guerra no Oriente e na Ásia deve ser vista como um fenômeno que é parte de uma dialética entre o nacional e o mundial? A dialética não significa que há descontinuidade entre a superfície nacional e a superfície mundial. Trata-se de um só espaço. A guerra entre Estados acaba articulando internamente a cultura política no mundo da vida dos países. A fase áurea do desenvolvimento da cultura totalitária americana teve como pulsão principal o governo Nixon. Kissinger organizou, orientou e ajudou a executar os golpes de Estado civil-militar na América Latina. O general Wernon Walters  foi o cavaleiro mecanizado – representante dos USA -nas conspirações fatais  contra os governos democráticos latinos americanos. Nixon/Kissinger/Walters foram constituídos como máquina de guerra terrorista pela cultura totalitária americana agindo nas relações internacionais. Por outro lado, a ação de tal máquina funcionou no sentido de desenvolver o totalitarismo nos USA. Obama tem feito uma aplicação do Ato Patriótico da Imprensa em um grau desmedido até para o padrão Bush filho. A comunidade jurídica americana tem dado demonstração de estar sendo articulada, cada vez mais, pela cultura totalitária em seu comportamento cotidiano. Ela está assumindo a forma de uma máquina de guerra jurídica heideggeriana que faz a guerra contra negros e pobres. O aparelho policial aparece como uma máquina de guerra freudiana que faz uso do terror, principalmente, contra os negros e mestiços. A democracia americana pode reagir se a cultura liberal (e a cultura libertária) no mundo da vida agenciar sujeitos liberais e libertários da sociedade civil em um movimento que se desenvolva em vários espaços: instituições público-privadas; internet; multidões nas ruas das principais cidades do país; imprensa liberal independente. No entanto, o primeiro passo é a simbolização da população sobre a existência do totalitarismo nos USA. Para a população, o totalitarismo é um inimigo invisível sobre o qual a ideologia americana dominante joga seu véu de uma materialidade diáfana. Uma batalha decisiva na política mundial está por ser realizada nos USA! 
IMAGINÁRIO LUSOLATINO/ARGENTINA
O Imaginário Político de uma parte da América Latina funciona através de ficções políticas que são vividas como fatos por uma parcela elite política, universitária e jornalística. A primeira ficção é a definição da política como a dialética ESQUERDA versus DIREITA. No Brasil, agora, a esquerda que não está no PODER oscila na defesa do governo petista ou na denúncia de que o PT não é mais da esquerda. Está claro que se elabora no imaginário político lusolatino uma ideia substancialista das categorias esquerda/direita. A esquerda é uma substância divina. Tais categorias se consolidaram como parte de uma linguagem política natural a partir da história da Europa dividida entre partidos socialistas e partidos da democracia cristã e outros. A divisão da política entre comunistas e fascistas sempre esteve além deste imaginário político europeu. Encurtando, com o neoliberalismo, esquerda e direita tornaram-se executores, quando no governo, de uma política ancilar à lógica da oligarquia financeira mundial. Agora no Brasil, temos o xifópago neoliberal: PT(esquerda)/ PSDB (direita). Para existir, o xifópago neoliberal tem que implodir economicamente a população desintegrar o imaginário político lusolatino. Como factualmente se chegará a isso, eis a resposta que vale dez tostões! O imaginário também está implodindo através de uma política que faz do assassinato político do adversário a solução do conflito. O assassinato do promotor Alberto Nisman está revelando uma face do peronismo ocultada pela ficção política que imaginariamente define a política como um confronto eterno entre esquerda e direita, sendo a esquerda algo sublime. Esta ficção retira seu poder do GOZO imaginário de uma “esquerda” que finalmente alcançou o poder quando a noiva já havia sido prostituída. Cristina Kirchner mandou assassinar Nisman? Ela se deixou possuir pelo fantasma nazista do peronismo de Perón e Evita? Evita teve como amante e guarda costa um importante membro da SS. Cristina Kirchner é parte de uma máquina freudiana terrorista complexa, grupal e antissemita que usa o ato terrorista como se fosse um recurso legítimo da política argentina. Afinal, o governo de   Cristina Kirchner é a junção do nazismo peronista (Perón/Evita) com a cultura totalitária terrorista da ditadura militar argentina? Até quando, o Cone Sul vai viver neste encarceramento mitológico lusolatino da política como divisão entre esquerda e direita?
VENEZUELA/Brasil
 “O Governo pode dizer o que quiser para esconder o fracasso do seu modelo econômico, mas estes são os dados: é o país com a inflação mais alta do mundo, há escassez severa, as pessoas fazem fila para comprar produtos e faltam bens essenciais, há queda de investimento. Isso não é exagero algum. Agora, quando passam daí a dizer que o país não tem solução, que as pessoas vão passar fome na rua, que o Governo está caído, que em qualquer momento haverá uma explosão social… isso são hipóteses, acredito que se exagera”. Diretor do Datanálisis, o venezuelano Luis Vicente León é um opositor civilizado e otimista de Maduro. Ele lembra o personagem de Voltaire, Cândido o otimista. No entanto, a simbolização que ele faz da crise venezuelana aponta para uma conciliação com o bolivarianismo: “Há governos socialistas modernos cujas economias funcionam, onde as pessoas não têm que fazer fila para comer, onde o trabalho mais importante do país não é ser vendedor ambulante dos produtos que o Estado dá de presente com controle de preços, e que você faz quatro horas de fila para comprar. Isso não acontece na Nicarágua. Nem no Equador de Rafael Correa, ou na Bolívia com Evo Morales. Então, qual é a diferença? Que a Venezuela aplica um modelo de controle extremo, quando a maioria dos neomarxistas mostra que é impossível dirigir um país afugentando o investimento privado, controlando e intervindo na economia do Estado.” A crise do chavismo (e da Venezuela) é o resultado da construção de um modelo stalinista, totalitário. O modelo neomarxista (Equador, Bolívia, Nicarágua) não é stalinista, ou seja, totalitário. A chave é o papel do setor privado na economia que deve partilhar a hegemonia no bloco no poder com o capitalismo de Estado. Mas trata-se da transição entre modelos: “Além disso, se afinal se dessem esses fatos radicais que desestabilizassem o Governo e o tornassem ingovernável, quem se beneficiaria? Não pode se beneficiar uma oposição que não tem nem estrutura, nem organização nem liderança para amarrar essas massas. Passaríamos de um Maduro eleito pelo povo para um bicho que seria escolhido pelos militares para sustentar o poder”: uma ditadura civil-militar!
A diferença em relação ao Brasil é a seguinte. Na Venezuela, o presidente Maduro procura pontes para evitar a lógica do pior. É verdade que a hecatombe venezuelana está mais visível no mundo da vida para a população venezuelana do que a crise brasileira para os brasileiros? O Sudeste brasileiro está vivendo a possibilidade de ficar sem água e sem energia elétrica, irreversivelmente, nos próximos meses ou nas próximas semanas. A cidade de São Paulo já vive a crise hídrica no cotidiano. O parque industrial de São Paulo está em um processo econômico de desintegração acelerado. A cidade é um verdadeiro inferno na Terra com seus engarrafamentos ciclópicos. São Paulo é o rabicho da civilização moderna ocidental entre nós. O estado e São Paulo é o centro geopolítico estratégico do capitalismo e da República. Em São Paulo, a lógica do pior já se transformou em lógica da desintegração: “tudo que é sólido desintegra no ar”. Maduro está começando a s, imbolizar a crise de seu país. Entre nós, Dilma Rousseff continua agarrada ao gozo do poder ou a elaboração de uma solução imaginária para a crise brasileira. Estou falando, obviamente, da solução neoliberal ligada a esta nova entidade da política brasileira: xifópago neoliberal (PT/PSDB).  A elite brasileira construiu uma passagem estreita entre duas formas de alienação: a) a submissão a leis que fazem da invenção o grau zero da política; b) a consciência alienada que vive a política como jogo arbitrário de acontecimentos aleatórios, ininteligíveis.
USA/CHRISTOPHER LASCH
Há uma reflexão sobre o totalitarismo americano que a ciência política universitária americana ignorou, se definindo com a parte substancial da cultura meritocrática: “Não é de surpreender, portanto, que a meritocracia gere também uma preocupação obsessiva com a autoestima”. Tal cultura é, essencialmente, narcísica e gera (e é gerada e alimentada por) máquinas de guerra universitárias narcísicas. Como ela ditou os axiomas para a ciência política universitária brasileira, acredito que o tema posso interessar a nossa juventude (e da América Latina) do   campo das ciências humanas. A ciência política americana estabeleceu, na Guerra Fria, que a União Soviética era totalitária e os USA democrático. Tal contradição congelou a simbolização do significante totalitário nos EUA. Ele não pôde ser integrado ao inconsciente político americano, a não ser na superfície do Imaginário deles que dominou a política mundial. Ele foi assim semiforacluido de toda a vida americana. A ideologia sobre o totalitarismo é a ideologia que cobre com um véu (ou uma burca) a cultura política totalitária americana. Ela é um artefato simbólico totalitário. No entanto, inconscientemente, ou seja, sem saber que sabe, a elite universitária americana formulou (e ainda formula) um semidizer sobre o totalitarismo americano. Ela sempre semidisse: “Nos Estados Unidos, a ‘América média’ – termo com implicações ao mesmo tempo sociais e geográficas – simboliza tudo que atrapalha o progresso: ‘valores familiares’ (patriarcais), patriotismo irracional, fundamentalismo religioso, racismo, homofobia, opiniões retrógradas sobre as mulheres. Os americanos médios, como os formadores de opinião culta os veem, são irremediavelmente deselegantes, grosseiros, provincianos (...) vagamente ameaçadores porque a maneira de se defenderem da antiga ordem é tão irracional que se expressa, em toda a sua intensidade, no fanatismo religioso, na sexualidade reprimida que ocasionalmente explode em violência contra as mulheres ou gays, e num patriotismo que apoia as guerras imperialistas e uma ética nacional de masculinidade (branca) agressiva”. Como o leitor pode ler, Larsch descreveu, na década de 1990, o conteúdo da cultura política totalitária americana no mundo da vida habitado pelo homem médio, e a família média americana: a maioria da população. Esse enunciado sobre o homem médio era uma arma do pathos da distância da meritocracia contra o povo americano. Em um sentido positivo, a esquerda americana transformou tal pathos em multiculturalismo. Este foi a ideologia que sustentou, sem o saber, os movimentos de minoria (negros, mulheres, gays etc.) contra o criptototalitarismo. Se eles tivessem se tornado um movimento cultural contratotalitário, a simbolização da realidade política totalitária não estaria neste ponto morto da vida americana. Tais movimentos deveriam ter sido a simbolização do totalitarismo para fazer progredir geometricamente a cultura política liberal e a contracultura política libertária. Agora, Inês é morta! O primeiro presidente negro oriundo da cultura liberal, transformou-se em uma fatal máquina de guerra totalitária. Como os USA é o centro tático da política mundial, o tema talvez interesse àqueles que ainda não ensarilharam as armas da crítica sobre a política mundial!    
Crise/Brasil
Se houver algum grau de verdade na notícia do Estadão, há um grupo de áulicos aconselhando a presidenta. Trata-se de pequenas máquinas de guerra freudianas cortesãs (petistas) A eleição para o comando da Câmara foi um dos episódios da temporada de divisões do G6, que, além de Mercadante, abriga Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Jaques Wagner (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Mercadante é visto pelo G6 como o cardeal Mazarino de Dilma Roussef. Ele é o crème de la crème da política cortesã stalinista. Haveria uma emulação – disputa cortesã – no grupo que o jornalismo toma como um problema de relações pessoas: ambição. De facto, o gozo do poder seria mais preciso para explicar a luta no G6. A luta entre pessoas (Mercadante versus Jacques Wagner) é também uma luta entre os ramos do aparelho de Estado: entre a Casa civil e o ministério das Forças Armadas. Trata-se de um conflito entre o poder civil e o poder militar para estabelecer o dominus (master) sobre o Estado brasileiro. Quem irá se transformar no master da política nacional?  As pequenas máquinas cortesãs movimentam-se nos jogos da corte para impor a melhor solução para a crise. Se houver lógica em tal disputa, Wagner deve aparecer como defensor de uma estratégia de contenção das ruas pelo Urstaat. Quando governador da Bahia, ele construiu uma espécie de Urstaat baiano. A Polícia Militar foi transformada em uma máquina de guerra jagunça de uma cultura política totalitária local. Wagner tratou o povo de Salvador como se fosse o povo do arraial de Canudos. Se ele vencer na disputa, um novo Euclides das Cunha deve surgir para analisar e narrar a solução do ministro do Exército para a crise brasileira. Segundo uma abordagem recente da crise final do Império, uma crise hídrica foi a causa imediata e material da desintegração do Império de Pedro II e da princesa Isabel...   
Carnaval/Crise
Uma parte da população está perplexa com a demonstração de alegria, despreocupação etc. da classe média do Rio e de São Paulo. É esta classe que está proporcionando a alegria dos jornalistas da televisão, principalmente da Globo News, a tv por assinatura do Sistema Globo. A festa é vivida por massas que parecem ignorar a possibilidade da articulação do carnaval à superfície política do mundo da vida. O carnaval de 2015 não é o carnaval de Bakhtin  (a festa usada para subverter os axiomas do poder) e nem o carnaval de Maffesoli (a festa como expressão do vitalismo do povo brasileiro). Nesta semana de temperaturas sertanejas de fevereiro, o carnaval é um significante filiado ao mundo colonial brasileiro, à cultura política luso-brasileira. A propósito, os ataques de antropólogos petistas à Gilberto Freyre no canal Brasil são uma espécie de delírio associado ainda ao fantasma da Semana de arte Moderna paulista. A pauliceia desvairada agradece!
O narcisismo é a categoria elementar para a leitura do carnaval de 2015. Ele é o significante-mestre da cultura luso-brasileira. Esta é uma cultura política narcísica. A lógica da sociedade do espetáculo adora uma explosão de narcisismo como esta que tomou conta das ruas do Rio e de São Paulo. Ela é um aparelho que alimenta o narcisismo das massas. Tal explosão indica que as massas estão se excluindo da dialética multidão versus despotismo (Urstaat). O narcisismo do homem e das mulheres coloniais significa uma subjetividade capturada pela lógica da cultura totalitária/oligárquica colonial. O poder colonial foi um amálgama de lógicas oligárquica e totalitária. O narcisismo é fenômeno da admiração do sujeito por sua imagem, por si. Nesta festa, o sujeito é a massa que pula, dança, canta, beija etc., ou seja, participa da orgia carnavalesca. A massa goza por ser admirada entre seus pares na rua e na tela eletrônica da sociedade do espetáculo. Para o totalitarismo, a estética de massa deve ser artefato de legitimação do poder. O carnaval de 2015 se enquadra na estética de massa totalitária. O governo está interpretando o carnaval corretamente: a massa de classe média foracluiu a crise brasileira. Enquanto dez mil vão à rua protestar, milhões festejam como no filme Nosferatu de Werner Herzog. Diante da peste negra, enquanto os cadáveres apodrecem o povo ainda vivo baila na rua!     
VEJA e a esquerda brasileira
É preocupante os rumores de que a revista Veja está com problemas financeiros insolúveis. O Acervo digital dela é uma fonte de grande valor para a investigação da política brasileira desde a década de 1980. É verdade que em algum ponto da linha do tempo Veja adotou uma linha editorial claramente neoliberal. Então, as informações que podem ser usadas na pesquisa da política tornaram-se raras. Por outro lado com a era petista no governo federal, ela se transformou no quase único artefato ideológico de oposição ao PT, mutatis mutandis, ao bolivarianismo. Na era Lula-Dilma, a famigerada e inexorável hegemonia do PT se consolidou por cooptação em massa dos intelectuais enredados no financiamento público de jornais e revistas. O BNDES teve um papel econômico decisivo na materialização de tal hegemonia. Uma massa intelectual tornou-se orgânica através de sua ligação econômica com o Estado. Mas também por sua crença ideológica no socialismo do PT. Doce e inefável crença! A ideologia é um fenômeno material, pois não é possível dissociar a produção de pensamento do corpo. Mas Althusser mostrou a materialidade da ideologia por sua inscrição ritual no mundo da vida, por sua inscrição prática: “ajoelha e reza!” Até no Facebook funciona tal hegemonia através dos grupos espalhados por todas as áreas de conhecimento. Uma investigação sobre tal formação intelectual petista pode iluminar um período da história política brasileira. O PT é uma Igreja que possui vários satélites (partidos=seitas) na assim chamada “ultraesquerda”. As seitas elaboram no Imaginário de esquerda um simulacro de oposição ao PT. Elas pretendem capturar a juventude pelo trabalho do imaginário que jamais articula a parte (lógica da facção/seita) ao todo. A facção volta-se para si em um movimento browniano narcísico. Ela se filia assim à cultura política colonial, por excelência narcísica. Nada mais narcísico do que homens e mulheres do engenho. A criança da classe senhorial tinha uma educação voltada para a sua constituição em um adulto narcísico. Gilberto Freyre analisou e narrou sobre o narcisismo colonial no seu maravilhoso “Casa Grande e Senzala”. Como está ficando claro a filiação da esquerda à cultura narcísica senhorial, a massa intelectual de esquerda apontou todos os seus canhões para destruição simbólica (que é também uma desintegração material) de Gilberto Freyre. O narcisismo constitui a lógica de qualquer máquina de guerra freudiana. A primeira lei da máquina surgiu assim. O narcisismo é um significante universal da história universal da espécie humana como um dos elementos constitutivos da máquina de guerra. Esta para existir depende da assimilação de doses maciças, em um determinado tempo, de energia narcísica. Ou dizendo de outro modo, quando o sujeito (individual ou coletivos, ou institucional) recebe doses maciças contínuas, em um determinado tempo, de energia narcísica torna-se uma máquina de guerra freudiana. Esta lei explica o existência da mídia eletrônica visual como produtora de máquinas narcísicas, pois ela funciona, diariamente, aplicando doses maciças de energia narcísica na população. O engenho ex-sistia pela lógica da autarquia. O engenho era autossuficiente na economia, na política e na cultura. Isso é a lógica concreta narcísica do inconsciente político brasileiro. O engenho foi a primeira máquina narcísica colonial de produção de máquinas de guerra freudianas. As ciências sociais satélites da hegemonia petista procuram evitar que Gilberto seja lido pela juventude. Como campo simbólico, a era petista é a nossa idade das trevas!
DINAMARCA/ISLÃ (17/02/2015)
“Há anos a polícia já desativou planos para atacar o jornal Jyllands-Posten", afirma. Precisamente esse jornal dava o passo que a primeira-ministra não tinha querido dar ao falar de uma "guerra de religiões". "Na Europa há uma guerra cultural e de valores, mas também uma guerra religiosa. Precisamos reconhecer isso se quisermos defender nosso modelo de sociedade", dizia o editorial do jornal que ficou famoso ao publicar, uma década atrás, caricaturas de Maomé que geraram uma onda de violência”. (El País)

Esta elaboração da direita dinamarquesa tem uma versão na ciência política americana. Trata-se do livro “Choque de Civilizações” de Samuel Huntington.  “Em linhas gerais, a tese de Samuel Huntington consiste no fato de que as explicações para os conflitos presenciados no mundo atual não são essencialmente ideológicas ou econômicas, mas sim de origem e de ordem cultural. O autor toma o cuidado de afirmar que as nações-Estado continuam os agentes mais poderosos nos acontecimentos globais, mas frisa que os conflitos internacionais envolverão cada vez mais diferentes civilizações. As linhas de cisão entre as civilizações serão, argumenta, cada vez mais as linhas de batalha do futuro, inclusive dentro de países tensionados por questões étnico-religiosas”. O erro elementar do choque cultural é não fazer distinção entre cultura e cultura política. As duas articula o mundo da vida. No entanto, há uma clara autonomia relativa entre elas. O livro de Samuel é deveras complexo para ser traduzido em uma discussão neste microtexto. Mas quanto à direita dinamarquesa podemos ver que ela ou opera no seu discurso político com a identidade absoluta entre cultura e cultura política, ou, então, há uma lacuna no discurso político: a ausência do significante cultura política. Nos dois casos, o efeito é o mesmo! A direita segrega uma ideologia na qual a religião islâmica aparece como um artefato simbólico totalitário. Há mais coisas entre o céu e a terra que a vã (e abjeta) ideologia da direita possa imaginar. Como o Islã, qualquer religião monoteísta tem a sua vulgata religiosa (materializada no dia-a-dia da população através, principalmente da liturgia) prenhe de elementos que podem ser (e são) metabolizados por uma cultura política totalitária. Tal cultura é articulada por um processo de simbolização que concebe a política como guerra.  A cultura totalitária islâmica existe e o modelo dela não é o nazismo, apesar do Estado islâmico ser um artefato da interseção da cultura totalitária islâmica com, inconscientemente, o totalitarismo alemão. No Brasil, os estudos sobre o Islã da cientista política e historiadora Beatriz Bissio iluminam tal qui pro quo. Leiam especialmente seu livro “O mundo falava árabe”. O livro de Samuel deve ser relido a partir do livro de Beatriz. A religião islâmica não pode ser vista como uma religião que tem uma concepção da política in nuce como guerra. É certamente uma religião articulada pelo discurso do mestre (Maomé), mas tal discurso parece derivar em totalitarismo e em outra forma de cultura política não-totalitária. O Brasil colonial foi banhado por tal cultura islâmica não-totalitária. Trabalhar na política com a autonomia relativa entre o Islã e o totalitarismo islâmico é o mínimo que se pode fazer para evitar que a direita seja o dominus absolutista da política mundial. A direita dinamarquesa é apenas um sinthoma do pensamento político da direita mundial. A cultura política libera dinamarquesa deve ser tomada como um modelo para a política mundial: “Horas antes, a primeira-ministra, Helle Thorning-Schmidt, tinha enfatizado a necessidade de distinguir os violentos dos muçulmanos. ‘Não estamos diante de um conflito entre o Ocidente e o islã’, disse a líder social-democrata em um pronunciamento à imprensa internacional’. O pano cai!            

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Anotações (crise da Venezuela)


BRASIL - Os cientistas políticos costumam conceituar os partidos em uma discussão quase improdutiva. Weber concebeu o partido como artefato lógico. Agora, trata-se de investigá-los como associação política, aparelho ou máquina de guerra como condensação estrutural de cultura política ou da lógica do simulacro. Um partido que condensa cultura política liberal será verdadeiramente um partido liberal. Mas se ele é condensação da lógica do simulacro liberal, ele será parte do espaço político modelado pela lógica do fantasma que é a matriz simbólica de todas as lógicas do simulacro. No Brasil, os partidos liberais sempre foram partidos-simulacros. É o caso do PSDB. Sempre faltou a cultura política liberal para produzir partidos artefatualmente liberais. Mas a cultura totalitária no Brasil já produziu vários partidos como máquina de guerra. É preciso investigá-los em sua própria história de um ponto de vista biográfico. 
GRÉCIA. A Grécia é um ponto de inflexão da história política universal. O pensamento grego e a cultura política da polis foram metabolizados como cultura política pelos romanos na Antiguidade. O Ocidente tem origem nesse ponto de inflexão da política universal. A última eleição pôs o Syriza (ultra esquerda) e o Aurora Dourada (nazismo) no proscênio da política grega do século XXI, em uma conjuntura neoliberal da União Europeia. A política grega tornou-se um arte factus (artefato feito com arte política) pela interseção da política mundial do século XX com a política universal do século XXI. O desenvolvimento da cultura totalitária europeia (derivada do discurso totalitário capitalista neoliberal) vai implodir a Grécia que é o berço mais primevo do Ocidente? Isso não significaria a instalação de um processo de desintegração do Ocidente? Resta acompanhar a lógica artefatual da política ocidental nesta aurora do século XXI. A fala milenarista do fim do mundo do Fórum Econômico Mundial em Davos e dos cientistas da Nasa e de outras instituições científicas ocidentais não é um sinthoma de um processo que significa o fim da história do Ocidente na política universal?  
“Advogado de Cerveró desiste de incluir Dilma como sua testemunha
Defesa diz que presidente não participou de decisão na Petrobras sob investigação”
Nestor Cerveró é uma máquina de guerra biográfica identificada na cultura política romana como auri sacra fames. A locução latina Quid non mortalia pectora cogis, | Auri sacra fames é um verso de  Virgilio (Eneida, 3. 84-85), tomado por Séneca como Quod non mortalia pectora coges, auri sacra fames que significa "o que levas aos peitos mortais, maldito desejo de ouro". Na leitura da história do Brasil como um pedaço da política universal, Nestor Cerveró é uma máquina de guerra corporativa pública produzida pela cultura política totalitária brasileira republicana. Ele parece ser um neurótico absolutamente normal possuído pela fome do ouro (acumulação de dinheiro). Mas quem criou o totalitarismo republicano brasileiro? Getúlio Vargas foi a máquina de guerra populista banhada em sangue que ex-sistiu como demiurgo da cultura totalitária republicana na década de 1930. Ainda não foi escrita a biografia de Getúlio Vargas como parte da história política universal.
Brasil/Grécia
O novo governo da Grécia dirigido pela ultraesquerda marxista (Syriza comandado por Alexis Tsipras) parece querer construir uma vontade política capaz de estabelecer uma luta política pacífica contra a megamáquina de guerra União Europeia neoliberal. O Syrisa se comporta como um partido que não é uma máquina de guerra. No Brasil, o governo petista vai se transformando em uma megamáquina de guerra neoliberal. Depois de quase destruir Marina Silva e se mostrar como máquina de guerra stalinista, o PT agora aplica o neoliberalismo que é um artefato lógico-empírico de guerra contra a população. O governo petista vai implodir economicamente a população em busca de uma utopia industrial que está em pleno processo de desintegração no Estado de São Paulo?              
Integralismo
O texto Os protocolos dos sábios do Sião é uma obra antissemita fabricada pela Okrana, o serviço secreto do tzarismo que se tornou o modelo da KGB e da CIA. Ele pontua a existência de uma conspiração judaica mundial contra o Ocidente. Trata-se de um artefato da cultura política totalitária russa cultuado pelos nazistas. No Brasil, o grande Gustavo Barroso da Academia Brasileira de Letras – que chefiou com Plínio Salgado o Integralismo, a Ação integralista Brasileira - traduziu e divulgou este infame e abjeto artefato ideológico que foi integrado ao inconsciente político brasileiro pela cultura totalitária brasileira de massas: o integralismo. A AIB chegou a ter 800000 filiados e forneceu uma massa disponível na política na construção do Estado Novo getulista. Por que Plínio, Gustavo Barroso e Getúlio estabeleceram o primeiro vínculo entre o Estado autoritário e as massas no Brasil na década de 1930?   
Abc da crise brasileira.
A arauto do governo, Dilma Rousseff diz: “não existe crise brasileira”. O grupo que “pensa” a política é composto por Mercadante, o José Dirceu da Dilma, por João Santana, o Duda Mendonça da Dilma e pelo Ministro da Defesa e quejandos, ou seja, os jagunços stalinistas. Eles acreditam que o discurso da Dilma pode ditar a lógica dos fatos midiáticos. Este discurso diz que o problema da Petrobrás é os funcionários malvados, desviantes, marginais; o problema da relação das empreiteiras com o governo petista é os funcionários corruptos de tais empresas. É preciso defender a Petrobrás contra a conspiração norte-americana que quer privatizá-la; defender as empreiteiras, pois elas são instituições econômicas nacionais. Sem sombra de dúvida a presidenta Dilma é uma excelente atriz barroca (como personagem masculina do teatro de Calderón de la Barca) capaz de sustentar as mais deslavadas besteiras políticas como se fossem a verdade dos fatos. A relação do governo com a população pode ser definida como cego guiando cego no deserto. Marina Silva já disse – mas ninguém registrou – que o Sudeste vai virar um DESERTO/SERTÃO. No sertão, não domina a grande máquina de guerra jagunça?
 Ninguém vê partículas subatômicas, mas elas existem a partir do dizer dos físicos. Estes sabem que a lógica do mundo invisível determina a lógica do mundo visível. A comunidade jurídica e o jornalismo de papel ou eletrônico lidam com os fenômenos políticos tais como eles se apresentam no mundo visível. A comunidade jurídica concentra-se no julgamento dos funcionários corruptos das empreiteiras ou da Petrobrás, e esquecem os capitalistas oligárquicos que estão devastando a Floresta Amazônica. As mídias da sociedade do espetáculo precisam apresentar os culpados individualmente. O governo petista e a oligarquia capitalista amazônica manipulam tal lógica como uma arma política. Passemos, então, da arma da crítica para a crítica das armas! No mundo invisível, o problema da Petrobrás (ou da Floresta Amazônica) é a captura delas pela lógica do privatismo, ou seja, pela lógica da apropriação privada por determinados agentes (sujeitos públicos ou privados) da RIQUEZA PÚBLICA, isto é, da riqueza do Estado ou da riqueza da NATUREZA (Floresta Amazônica). O privatismo é um significante mestre da cultura política oligárquica (Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, José Paulo Bandeira). Os ricos (oligarcas) se apropriam privadamente de toda a riqueza da polis (Aristóteles). As redes público/privadas privatistas que se apropriam da riqueza pública (Petrobrás, Floresta Amazônica) são constituídas por funcionários de carreira, políticos, partidos, capitalistas oligárquicos, e as cúpulas do governo. Este mundo oligárquico invisível da política é modelado pela estrutura perversa. A Cultura política oligárquica é articula-se pela estrutura perversa. A lógica desta articula a ação estratégica dos sujeitos oligárquicos baseada na mentira, na manipulação, na coerção do debate político, na corrupção da vida política. O sujeito político perverso segue o princípio mais notável de Maquiavel, a saber: a separação absoluta entre a ética e a política. Para ele, a política está cravada no campo do imoral. Mas o perverso é um camaleão. Ele se confunde com o neurótico que, na maioria dos casos, tem uma visão de mundo articulada pela ética. A maioria da população da terra é formada por comunidades dos neuróticos. Então o perverso oligárquico sempre tem um duplo eu: eu público e eu privatista. O eu público faz o discurso de que ele não é privatista, mas um senador res publicano que condensa na política a comunidade neurótica. Esta figura da cultura política romana da Antiguidade colocava a riqueza pública acima de tudo. A ética res publicana fazia a separação absoluta entre o público e o privado, na defesa da riqueza da República. O perverso oligárquico vende para as mídias a ideia de que ele não participa das redes privatistas oligárquicas. Esta mensagem oligárquica é a ideologia que as mídias acabam comprando em nome da bandeira nacional: ORDEM/PROGRESSO. 
 Abc da crise da Venezuela
“A tradição pesa como chumbo no cérebro dos vivos” (Marx)
 Oscar Arias Sánchez foi presidente da Costa Rica de 1986 a 1990 e de 2006 a 2010 e Prêmio Nobel da Paz 1987. Arias enviou esta carta ao foro “Poder Cidadão e a Democracia de hoje”, realizado em 26 de janeiro em Caracas e ao qual não pôde comparecer, mesmo tendo sido convidado, junto com os ex-mandatários Sebastián Piñera, do Chile, Felipe Calderón, do México, e Andrés Pastrana, da Colômbia.
Oscar Arias acredita que a Venezuela é uma ditadura bolivariana. A solução para a crise política abissal é a transição para uma democracia representativa. A Venezuela não é uma ditadura, mas uma democracia despótica/representativa bolivariana . Para sustenta-la, Hugo Chaves construiu um Estado bolivariano com cores e retórica marxista. No entanto, sua filiação ideológica-prática é com o totalitarismo castrista. Fidel Castro é a matriz simbólica do bolivarianismo chavista. O que é isso? O Estado chavista é uma máquina de guerra freudiana/bolivariana/castrista, uma máquina de guerra criada pela cultura política totalitária venezuelana. Portanto, Sr. Oscar Arias, a Venezuela não está vivendo a crise de uma ditadura. Neste país, a cultura totalitária bolivarianista engendrou uma democracia despótica/representativa apoiada em quase metade da população. Em uma viagem à Cuba em 1992 como turista, fiquei impressionado com os laços simbólicos e afetivos do povo venezuelano com a pátria do socialismo caribenho!
A cultura totalitária bolivariana no mundo da vida constitui vastas redes políticas articuladas ao Estado bolivariano. No mundo da vida, ela instalou grandes máquinas de guerra militarizadas (milícias populares e plebe romana/bolivariana, por exemplo) que constituem as trincheiras e casamatas do chavismo na guerra de posição contra a oposição e a população contrabolivariana. Gramsci escreveu: matar e encarcerar os capitães de um exército significa instituir o grau zero da política em qualquer situação. O chavismo está aplicando Gramsci? Gramsci foi o formulador da política como hegemonia construída pelo Príncipe moderno, ou seja, o Partido Marxista Ilustrado. Mesmo que sua matriz simbólica seja Maquiavel, este Príncipe moderno tem uma extração hegeliana para quem a política não deveria ser o reino dos partidos-máquinas de guerra. O Príncipe Gramsci/hegeliano é um partido que já não é uma máquina de guerra, já não é um partido napoleônico. Napoleão concebeu no mundo moderno a política como a guerra por outros meios. Hegel concebeu a modernidade política como lugar da soberania do Estado da hegemonia, Estado capaz de articular cultura, ética e política para conduzir as nações pacificamente rumo ao fim da história. Quando Hegel disse que a história foi um vale de lágrimas até a modernidade política, ele provavelmente estava pensando em uma história política universal dominada pelas máquinas de guerra. Hegel desejou ardentemente o fim da história política universal! Trata-se da história sob o tacão do da dialética senhor versus escravo, da dialética do discurso do senhor. A contraciência lacaniana da política reconstrói a dialética hegeliana como uma dialética verdadeiramente universal: a dialética das grandes máquinas de guerra. E ao contrário de Hegel não se deixa iludir sobre o fim da história. Não mistura desejo e história!
 A crise da Venezuela é uma crise política ligada à história política universal. A população contrabolivariana enfrenta um ser universal como o Estado chavista que é uma megamáquina de guerra bolivariana/ castrista. O bolivarianismo despertou o Urstaat latino-americano. A Venezuela não tem tradição de cultura política liberal no mundo da vida. Na América Latina, o liberalismo é um artefato instituído pela lógica do simulacro de simulação. Em toda a América Latina, o simulacro de liberalismo sustenta e é sustentado pela comunidade jurídica. As Constituições latino-americanas são simulacros de Constituições liberais. O bolivarianismo transformou a comunidade jurídica em um artefato lógico-empírico totalitário. E transformou a Constituição da Venezuela em um artefato constituído pela cultura totalitária bolivariana. O Prêmio Nobel da Paz Oscar Arias clama pela volta do simulacro de liberalismo?
A crise política venezuelana pode evoluir de uma guerra de posição para uma guerra de movimento? A dialética universal não pode desintegrar o aparelho militar de Estado em vários subaparelhos e bando-máquinas de guerra militares fazendo guerra uns contra os outros? Antes que se chegue neste estágio da dialética universal, Maduro não poderia usar o resto de bom senso que lhe resta e convocar eleições gerais. Antes, ele tem que abrir as portas dos cárceres chavistas e deixar livre Leopoldo Lopes e seus amigos. Isso significa necessariamente a instalação de um processo de simbolização envolvendo elite política e povo venezuelano como um só homem. É aconselhável que após a eleição generalizada para os cargos políticos, a Venezuela convoque uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer uma Constituição contra bolivariana, dando início a produção de uma cultura política liberal no mundo da vida. Para sair do labirinto totalitário, a América Latina precisa romper com o espaço político modelado determinado pela lógica do simulacro de simulação.
Interrogação: qual é o problema mais cadente da Venezuela?
Resposta: não é chavismo ter despertado o Urstaat latino-americano?
Simón Bolívar foi um rico e poderoso oligarca venezuelano escravocrata, homem exemplar da elite branca que deveu sua posição à Coroa espanhola. Era um descendente de uma das famílias mais antigas de Caracas, ligada à aristocracia criolla do cacau. Como membro da elite oligárquica branca frequentou a corte de Madrid e nela encontrou a bela cortesã caraqueña Maria Tereza del Toro. Esta foi sua esposa, vivendo no latifúndio de Bolívar em Caracas até morrer de febre amarela.
Bolívar era católico e fiel à Coroa espanhola, mas teve uma educação intelectual banhada por ideias e ideais da dialética da liberdade da Ilustração contra o despotismo europeu. Ele foi uma máquina de guerra possuída pela lógica do paradoxo. Seu mestre Simón Rodrigues lhe ensinou Rousseau. Outro mestre com uma visão mais consistente e ampla do pensamento político europeu completou a educação intelectual criolla de Bolívar. No final do século XVIII e início do século XIX, a oligarquia latino-americana se ilustrava com as ideias liberais e até com as ideias de Rousseau. Nem o Brasil colonial português escapou da Ilustração. No corte do Rio de Janeiro, em 1922, uma Assembleia Constituinte tentou fazer a primeira Constituição liberal brasileira. Pedro I fechou a Assembleia com o exército português fiel ao Príncipe, expulsando os constituintes do prédio onde estava sendo feita a Constituição, e outorgou, em 1923, a primeira constituição do Brasil independente. Tratava-se de uma Constituição baseada nas ideias do francês Benjamin Constant com sua ideologia do poder moderador liberal/absolutista. A Constituição liberal/absolutista de Pedro I foi um ato do Príncipe absolutista luso-brasileiro, um ato de uma cultura política absolutista (totalitária) luso-brasileira que instalou no Brasil o espaço político modelado pela lógica do simulacro liberal. Certamente o Brasil do século XIX não foi um Império liberal, mas um simulacro de Império liberal. Os intelectuais do século XIX falavam de um país vivendo em um simulacro de democracia liberal. No entanto, a República foi a forma de regime que prevaleceu na maioria dos países da América Latina.
Não existe uma historiografia que tenha estudado a desintegração do Império espanhol na América Latina com parte da história política universal. Nesta, haveria a leitura da transformação do oligarca Bolívar na mais notável, brilhante, exuberante e imperiosa grande máquina de guerra freudiana revolucionária/biográfica da história política universal das Américas no século XIX. A liberdade política certamente foi um significante que moveu tal máquina de guerra revolucionária em sua luta contra o despotismo espanhol. A América espanhola vivia sob o domínio do discurso do mestre espanhol que segregava uma cultura política totalitária monárquica/católica de longa duração na história política universal europeia. Tal cultura totalitária tem sido estudada como dominação e repressão sobre os povos. Ainda surgirá uma historiografia que a estudará como produtora das máquinas de guerra freudianas que dominaram o continente latino-americano até a libertação do continente latino-americano do jugo espanhol. O modelo mais arcaico de tais máquinas espanholas é indubitavelmente Fernand Cortes.
A interrogação materialista a fazer é: Bolívar foi uma máquina de guerra revolucionária produzida por qual cultura política?
A ruptura com o general revolucionário Francisco de Miranda resultou na prisão do general e na prisão do próprio Bolívar pela Coroa espanhola. Bolívar foi enviado para a selva de Cartagena para viver no meio de ladrões, assassinos, negros e mestiços, ou seja, a mais baixa ralé da Venezuela. Despossuído da rica vida oligárquica ou revolucionária na selva de Cartagena, transformou a ralé da selva em uma plebe revolucionária. Na selva, ele virou a primeira máquina de guerra populista das Américas, muito antes do populism norte-americano. A partir da selva, Bolívar se metamorfoseou em uma máquina populista mitológica. O domínio intuitivo da ars rhetorica, da eloquência artística, fez dele uma máquina de guerra poética de um Romantismo amalgamado com a Ilustração. A máquina de guerra populista revolucionária se estabeleceu nas guerras da independência como máquina terrorista em contraposição ao terrorismo da máquina despótica espanhola. O sangue do inimigo despótico espanhol foi derramado abundantemente através de fuzilamentos de prisioneiros.  
Como grande máquina de guerra freudiana, Bolívar pertence aos anais das máquinas de guerra da história política universal. No século XIX, a mais festejada – pela historiografia europeia, mas não só - máquina guerreira foi Napoleão Bonaparte. No entanto, o bonapartismo foi imortalizado pelo efeito de dizer de Marx no O 18 Brumário e Luís Bonaparte. O sobrinho-grotesco de Napoleão acabou, para a posteridade, como um fenômeno notável como máquina de guerra política que criou a cultura bonapartista moderna. Além de ser o criador do populismo revolucionário, Bolívar foi a máquina de guerra política que criou uma linha de força que tomou como modelo a evolução autoritária e militar da França, principalmente, na era napoleônica.  Não podemos esquecer o caráter sincrético da máquina bolivariana que bebeu sofregamente na cultura norte-americana dos Federalistas. Bolívar se notabilizou por instaurar no continente um ecletismo ideológico/político que deu origem seja a cultura populista, seja acultura totalitária republicana latino-americana. Ele instalou tal cultura totalitária sendo governador da grande Colômbia (composta por Bolívia, Equador, Venezuela e Panamá), como presidente da Venezuela em 1819, como governador do Peru entre 1824 e 1827 e ditador da Bolívia em 1825. Nesta perspectiva, há uma homologia empírica entre Bolívar e Pedro I como criadores da cultura totalitária na América Latina. Um criou o totalitarismo republicano e o outro criou o totalitarismo imperial no século XIX.
A máquina de guerreira populista movida pela pulsão de morte (=mito) aparece claramente e distintamente na travessia do exército bolivariano nos Andes. Neste episódio épico, inclusive para o padrão mais alto da história universal, Bolívar mostrou que a morte o fascinava e o fazia seguir adiante. A morte de seus soldados foi simbolizada como algo necessário para El Libertador. Este acontecimento épico foi a prova de que a pulsão de morte (=mito) determinava o destino dos bolivarianos biograficamente existindo como máquina de guerra no exército de libertação do jugo despótico espanhol. Como máquina de guerra, os bolivarianos parecem fazer parte de uma totalidade cultural latino-americana fundada na lógica do sentido, ainda a ser iluminado.
Os Andes são formados por uma superfície montanhosa principalmente composta de pedras pontiagudas semelhantes na cor ao granito escocês quebrado, porém mais duras, e em alguns pontos assume a quase aparência e a qualidade de pederneiras brancas. Assim, era possível seguir os rastros do exército bolivariano pelas manchas de sangue que se fixavam no caminho. Nesta travessia, os homens – incapacitados para a travessia - imploravam desesperadamente a seus companheiros que os matassem para não agonizarem até morrerem de fome ou sede. Na travessia, Bolívar não demonstrou o menor desânimo. A vontade de aço desta máquina de guerra freudiana era uma condensação da pulsão de morte (=mito) que a tornava um ser para além do humano, um ser mitológico. No século XX, Che Guevara foi movido pela mesma vontade de aço revolucionária capaz de dominar potentes crises de asma no meio do combate guerrilheiro. Nas batalhas, Bolívar provou abundantemente do sangue do inimigo despótico realizando a satisfação da pulsão de morte como desejo/vontade de matar o inimigo. Tal desejo é um fenômeno universal da história universal. No século XX, máquinas de guerra militares surgiram como generais de gabinete comandando os exércitos em guerras que mataram milhões de soldados. A elite militar tornou-se máquina de guerra burocrática. Eles jamais provaram o sangue do inimigo. Isso é parte do desencantamento com a poesia da guerra quando ela torna-se guerra que tem como motor a lógica do interesse capitalista moderno.                            
Nas guerras da Independência, outra máquina de guerra fez sombra à Bolívar: San Martín. Embora não tivesse recebido educação militar, Bolívar era dotado de um saber sobre a guerra desenvolvido como capitão de guerrilhas na selva de Cartagena: improvisação, descortino nas emergências, tirocínio militar e brilhantismo na execução dos planos militares. Não chegou a desenvolver a técnica das operações conhecidas em terra e no mar, como San Martín. Este era filho de um funcionário espanhol e de uma criolla de Buenos Aires, pertencente a uma família de funcionários régios. Ele tinha em mente uma América do Sul composta de nações independentes e governadas por príncipes europeus. Já Bolívar esperava que se estabelecessem governos republicanos para depois formarem uma união federativa sob o governo de um chefe: ele próprio. Trata-se de um mito fundador da cultura totalitária bolivariana. Martín era uma máquina de guerra militar e Bolívar uma máquina militar e política. Infelizmente da famosa entrevista de Guaiaquil entre El Libertador e San Martín o que foi preservado precariamente nas anotações incompletas e sem detalhes do secretário de Bolívar não esclarece  porque Martín se submeteu à Bolívar e retirou-se dos campos de batalha. Mas Bolívar era uma máquina de guerra imperiosa.
As guerras latino-americanas da independência funcionaram como uma cornucópia de maquinas de guerra militares, ao contrário do Brasil. Elas ligaram a política latino-americana à história política universal enquanto o Brasil seguia a tortuosa linha de força que o distanciava de tal história. A historiografia (Sérgio Buarque de Holanda) a ciência política não-universitária (Oliveira Vianna), a sociologia de Pernambuco (Gilberto Freyre), o marxismo (Caio Prado Jr., Jacob Gorender) e o weberianismo (Raymundo Faoro)  construíram esta ideia de um Brasil singular. Em relação ao Brasil, a principal tarefa da contraciência lacaniana  da política é demonstrar que eles estão equivocados. Isso certamente significa um choque traumático para a ideologia intelectual brasileira dominante e o imaginário midiático de papel e eletrônico.  
 O chavismo é o amalgama do populismo revolucionário com a cultura totalitária republicana. Trata-se do xifópago bolivariano. Coronel do Exército, Chaves subjetivou em sua existência a cultura política totalitária militar venezuelana. Aí, ele foi se transformando em uma máquina de guerra militarizada. Esta tem como axioma o fantasma do Urstaat. A lógica de tal fantasma determinou a transformação do Estado em uma magamáquina de guerra freudiana povoada pelo exército tradicional, o exército bolivariano, as milícias populares e bandos chavistas avulsos. A militarização do mundo da vida foi o desdobramento lógico do domínio da cultura totalitária chavista sobre a sociedade. Nesta militarização da vida, o totalitarismo cubano stalinista teve um papel, inclusive técnico, essencial.  A Venezuela pagou sustendo economicamente Cuba. Chaves foi substituído, precocemente, por Maduro no comando do país. O presidente Maduro parece estar cegamente determinado a conduzir a Venezuela para o abismo. Ele parece convicto de estar diante de uma situação que torna impossível qualquer retrocesso Assim, as próprias condições gritam:
Hic Rhodus, hic salta!

Aqui está Rodes, salta aqui!