domingo, 25 de fevereiro de 2024

O JUDEU

 

O JUDEU

 

A fala de Lula sobre Hitler e a Palestina está sendo manipulada pela direita como luta ideológica cesarista. Coisas do presidencialismo-cesarista. No entanto, a comunidade judaica mundial e, sobretudo, brasileira passou a se interessar pela relação entre esquerda e o judaísmo no Brasil.

O “Jornal” militante da esquerda ICL falou do racismo de Israel judia com o palestino; acusou o judeu de racializar o conflito Israel /Gaza. O hitlerismo foi a racialização política entre o povo alemão e o judeu, especialmente. O Youtube lulista é o responsável por transformar a fala de lula em luta ideológica tendo como objeto de desintegração o Judeu.

Por outro lado, a fala de lula não atingiu o coração da gramática da cultura política brasileira? nas caravelas de Pedro Alvares Cabral havia judeus como cristãos-novos e o judeu foi um agente colonizador importante na formação do povo brasileiro e da família nacional; no próprio PT, há judeus ilustres e o judeu Tarso Genro salvou o PT na crise que quase desintegrou Lula e o PT. O lulismo foi salvo da desgraça eterna por um intelectual brilhante e moderado judeu da esquerda sulista.       

O PT é um partido que parece ter desenvolvido alguns gens que existiam em estado latente - e com a velhice se tornaram dominante. Não se quer um PT contra a cultura política brasileira que é judaica; o fato Lula/Hitler é uma excrecência política, um ponto fora da curva.

Lula não tem controle sobre o Youtube lulista. Este quer fazer da fala de Lula, qualquer fala, um fenômeno divino. Lula está sempre certo! O PT e seu Youtube precisam mudar e se conciliar com a gramática judia da cultura política brasileira; é terrível a opção para o judeu da esquerda ter que escolher entre ser judeu ou ser da esquerda.    

O PT e o lulismo pedem uma revolução política em sua gramática da cultura política nacional. É só uma questão de vontade política, moral e intelectual.         

 

IMPEACHMENT

 

Como a esposa-cristã de Wlad, o Empalador, a frase de lula se jogou no fosso do Castelo; se lançou no abismo e parece quere levar Lula junto. Pois, é uma frase dia-bólica, de uma realidade gramatical heteróclita.

Lula tem uma chance para reverter o espetáculo da luta racial contra o judeu, que ele fez desabrochar, entre, nós, como cem flores do mal. Ele pode começar a revolução intelectual e moral que concilie a esquerda com a gramática judaica da cultura política brasileira.

A frase é um efeito do cesarismo lulista heteróclito; agora é a hora de pôr um fim na forma de governo cesarista/presidencialista heteróclita. Lula pode ser o intelectual hegemônico ou agente público celestial da mudança da forma obscena de governo cesarista. Nos EUA, a forma de governo pornográfica cesarista de Joe Biden bebe o sangue das crianças palestinas como mel. 

O heteróclito é a realidade da política como criação de monstros políticos, como Donald Trump e Joe Biden, como Bolsonaro e Milei, como Bukele etc.; d. Pedro I criou o campo político nacional como realidade heteróclita. Os militares fizeram da república uma realidade heteróclita assassinando o povo encantado de Canudos e do Contestado. Um ponto de não-retorno para o exército, que deixou de ser um exército nacional.

 A luta cesarista esquerda/direita é o agente de produção e reprodução da realidade heteróclita no regime democrático de 1988, como ilusão. Esquerda e direita são ilusões ideológica. Antes de Freud Marx falou da ideologia como ilusão; ele incluiu a prática política como forma ideológica de produção de ilusão.

Se o cesarismo de Lula o impede de liderar a mudança da forma de regime cesarista [e mandá-la para o inferno das boas intenções], ele pode renunciar. O vice-presidente pode assumir com compromisso verdadeiro de mudar a forma de regime.

Lula parece querer repetir o colapso cesarista do governo João Goulart, colapso produzido pelo próprio ultracesarismo heteróclito de João. Foi o ultracesarismo de Lula que fez da casa civil um poder nas mãos de um condottiere cesarista baiano.                          

Ainda há tempo.

 

POLÍTICA E DIREITO

Entre Nós, a prática política não aparece como objeto de um saber, de uma ciência política que começa com Platão. Há o homem político, a gramática e o agir político. Há um reducionismo de fazer da prática política um ser determinado pelo capital e interesses econômicos do homem ´político. A relação do homem na prática política com a gramática do capital cria a atmosfera da política como algo sujo, podre, para o marxista naive. No entanto, a relação da prática é, diretamente, com a mais-valia pública ou dinheiro público.

A prática política é habitada por intelectuais, o homem político é um intelectual que participa de inteligência coletiva política. tal inteligência organiza o poder administrativo que aparece depois que o Estado nacional foi desintegrado pela globalização liberal ocidental. Há o intelectual oligárquico, democrático e o cesarista que domina a política.

No Brasil, a consciência da administração [como o poder dominante da estrutura de poderes] ainda não se desenvolveu. O homem político se volta para a sua vida política pessoal e faz do parlamento um meio de obter dinheiro público, dinheiro sob controle do poder executivo. Rigorosamente, ele não tem responsabilidades com a administração geral, coletiva, para o bem comum da mais-valia pública.     

A falta de clareza na estrutura e funcionamento dos 4 poderes [administrativo, executivo, legislativo, judiciário] se deve ao fato que eles são percebidos como parte de uma cultura subjetiva e, sobretudo, pessoal. Tal concepção política da vida nacional é o motivo da crise catastrófica do cesarismo-presidencialista. Para sair da crise, é necessário que a gramática da política, o homem político e a prática política se tornem parte de uma cultura objetiva como, por exemplo, a medicina.

Há condições subjetivas da política que podem se transformar em cultura política objetiva? o que ainda não se revelou é que se a política depende do direito positivo da Constituição-1988, por outro lado, ela, a política, por caminhos ainda obscuros, e insondáveis, busca o justo natural.      

 

 

“COMO VIVER”?

Tal questão foi posta na cultura política grega: “como viver”?

O modo de produção escravista permitia ao grego livre se pôr e repor tal interrogação; vencido a determinação do reino da necessidade, o sujeito [indivíduo ou polis] pode querer viver segundo o justo ou o injusto. Intelectuais cesaristas defendiam que justo é o direito do mais forte sobre o mais fraco; intelectuais oligárquicos defendiam que o direito de uns poucos nobres e/ou ricos era o direito natural como fonte da gramática da lei escrita ou, sobretudo, da Constituição. O intelectual democrático defendia o direito de todos os cidadãos e, por tabela, da multidão soberana da politeia, o resto é a injustiça.

Há analogia possível com o Brasil de 2024?

A classe média corresponde ao cidadão grego, pois, liberta do reino da necessidade; então, ela pode se pôr a questão “como viver”. Ter uma vida justa baseada no controle da lógica das coisas, das pulsões luxuriosas, enfim, isso sob controle da razão da natureza humana, isto é, no direito natural.

Ou ter uma vida injusta?

Há uma classe média que faz a racialização política da sociedade classes sociais; hoje, a racialização substitui o objeto da luta racial; trocou o negro ou branco ou mestiço pobres pelo JUDEU. Uma classe média do Youtube faz do tempo presente eterno midiático da guerra de Israel com os palestinos a régua e o compasso para a racialização política como paradigma ou modelo histórico de luta racial entre povos infelizes.

Há classes médias que pretendem viver pelo justo? Em um país de origem escravocrata, país que fez do justo o direito do mais forte sobre o fraco, do rico sobre o pobre, do latifúndio sobre o camponês, as classes médias têm uma cultura política que se atualiza pelo direito do mais forte. Assim, o campo político do indivíduo [corpo /alma] e o campo político da sociedade ou espírito da polis, ambos desenvolvem a gramática da penitenciária como campo de extermínio de JUDEU, fenômeno atualizado no campo político/estético; o campo de extermínio vai além ou aquém da estética; ele é o grau zero do campo político/estético.

Hoje, as classes baixas não aparecem como ersatz de uma plurivocidade de JUDEU?      

 

CULTURA DO HOMEM

 

A cultura   política do homem começa com o direito físico do mais forte sobre o mais fraco: fêmea e criança. Freud fez a mitologia do cesarismo natural na qual os filhos se transformam em irmãos assassinando o pai da horda primitiva. O PT é constituído por filhos e não por irmãos.  

A cultura do homem evolui para a forma do patriarcado com o direito do mais forte construindo a subjetividade da fêmea [de feminino], objetivando-a, ou seja, transformando-a em mulher procriadora e pacífica, assujeitada, inclusive, à violência do homem. Tal coisa está longe de nossa história?  

No Brasil colonial, predomina o direito do mais forte na família senhorial do latifúndio. O patriarca colonial possui o poder soberano de fazer viver ou morrer a sua mulher e filhas. O latifúndio não se submetia ao poder penal do Estado luso colonial. Matava-se à vontade!

A cultura ´política do homem produz e reproduz a estrutura dos poderes {no cotidiano da cidade], no “Estado” [o Estado é uma ilusão como no Brasil colonial] e na sociedade civil das classes médias; criada na ditadura militar, dissolvida no regime de 1988, e recriada por FHC e Lula, a polícia secreta é o instrumento político da conspiração e espionagem da vida na cidade e no campo, na sociedade civil e no aparelho de “Estado”: é um poder da cultura política masculina como grau zero da estética. Hoje, ela se encontra sobre controle de Rui Costa e Lula.  

As classes médias Rio/SP são modeladas pela cultura política do homem de origem colonial; a mulher da classe média é fabricada pelo masculino; A cultura política do feminino existe como mitologia política e realidade virtual na qual a princesa Isabel ocupa um lugar de origem, uma rainha da cultura política feminina-nacional-popular desintegrada pelo homem branco das casernas e intelectuais civis oligárquicos.

Lula é o intelectual cesarista maior da naturalização da extrema direita; ele pratica a abjeta conciliação pós-modernista com Tarcísios, Zemas e quejandos, enfim, com os bolsonaristas. Ele, Lula, é um homem velho, chegando aos oitenta anos, ele pode perder o vigor, pode ficar doente etc. Assim, o cesarismo-presidencialista pode cair nas mãos de um homem da extrema direita.

Lula é, hoje, o maior representante da cultura política do homem que se serve de mulheres – em seu governo e partido - que são parte, dócil, assujeitada, dessa cultura política masculina.        

 

 

 

 

     

 

 

 

 

 

   

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Fim do Estado, poder administrativo

 

José Paulo 

 

Montesquieu:

“Il y a, dans chaque Etat, trois sortes de pouvoirs: la puissance législative, la puissance exécutrice des choses qui dependente du droit des gens, e le puissance exécutrice de celles qui dépendent du droit civi”. (Montesquieu: v. 1: 294).

A tradução brasileira:

“Há, em cada Estado, três espécies de poderes: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes, e o executivo das que dependem do direito civil”. (Montesquieu: 156).

A tradução substitui <potência> por <poder>; o tradutor não conhece a sociologia política virtual de Aristóteles; nesta, há a distinção entre potência (virtual) e ato (atual); o poder é potência em ato, na atualização.

Conhecemos a estrutura gramatical do Estado como: legislativo, judiciário, executivo ou governo.  

Há a transformação da estrutura do Estado nos EUA e Inglaterra:

‘Os métodos de interpretação em voga levaram nos Estados Unidos como na Inglaterra, ao desenvolvimento, no seio de um novo direito administrativo, de uma grande variedade de repartições públicas, comissões, tribunais administrativos. Não se quis somente, através deles aliviar os tribunais estabelecidos; pretendeu-se também assegurar oo funcionamento, no seu próprio sentido, de novas leis, especialmente nos domínios econômico e social, excluindo os métodos comumente utilizados nos tribunais”. (David: 402).

O administrative power faz a distinção entre pais desenvolvido e país subdesenvolvido no campo político estético. O administrative power  sobredetermina as relações sociais capitalistas;  no campo político, a “política”, ou melhor, o poder administrativo  determina, sobredetermina, a sociedade de classes sociais, como realidade virtual, assim como a estética também o faz:

“O administrative power é um recurso evolutivo na história do capitalismo mundial. Sua existência faz a distinção entre país desenvolvido e país subdesenvolvido”.

“Assim como nos países subdesenvolvidos na América Latina, o administrative power não existe como liame social entre governante e governado. Ele não substitui a burocracia como laço social (discurso universitário) entre sociedade e Estado”. (Bandeira da Silveira. 2022a: cap. 11).

Há a nova gramática do administrative power:

“A gramática da política não é aquela da continuação da guerra por outros meios ou um substancialismo metafísico. A “política” é a realização da teoria e prática do poder administrativo”. (Bandeira da Silveira. 2022a: cap11, parte 1).

A distinção entre Oriente e Ocidente aparece no campo político mundial com uma nova espécie de administrative power:

“Especialmente, no mercantilismo chinês, o administrative power faz pendant com o general intellect, com o scientific power (Marx. 1972: 302). Trata-se, em última análise, da subsunção científica do capital ao scientific power”. (Bandeira da Silveira. 2022a: cap 11, parte 2).

A nova gramática do Estado que já não é um Estado:

“O poder regulamentar não era atributo, em teoria, nos Estados Unidos, do poder Executivo. A doutrina moderna considera que se desenvolveu na sociedade um quarto poder – administrative power – distinto dos três poderes tradicionais. Como o poder Executivo, este poder foi confiado ao Presidente dos Estados Unidos. Mas, diferentemente do Pode Executivo, é exercido em colaboração e sob controle de um certo número de grandes comissões instituídas pelo Congresso. A primeira destas grandes comissões foi a Interstate Commerce Comission, instituída em 1887 para controlar as estradas de ferro e regular, de modo geral, os transportes interestaduais. As grandes comissões administrativas multiplicaram-se a partir de então; merecem ser especialmente citadas, entre elas, a Federal Trade Commission, a Securitis and Exchange Commission, a National Labor Relations Board etc. Estes organismos federais permanentes estão habilitados a estabelecer regulamentos e resolver os litígios. O direito americano não pode ser compreendido, em múltiplos domínios, sem se estudar a obra destas comissões, as quais podem ser consideradas como desenvolvendo os princípios de uma nova equity. O novo corpo de direito (administrative law) é de caráter meio administrativo, meio jurisdicional, como a antiga equity; mas é elaborado e administrado por organismo que funcionam sob o controle dos tribunais de justiça tradicional”. (David: 402-403).     

                                                                      2

Lenin é o gramático da revolução socialista no Ocidente. Ele põe e repõe o problema da extinção do Estado assim:

“É nesse sentido que o Estado começa a extinguir-se. Em vez de instituições especiais de uma minoria privilegiada [funcionalismo privilegiado, comando do exército permanente], a própria maioria pode realizar diretamente isto, e, quanto mais a própria realização das funções do poder de Estado se tornar de todo o povo, menos necessário se torna esse poder”. (Lenine: 454).

O socialdemocrata Hans Kelsen fez a crítica do leninismo do Estado que já não é um Estado (Lenine:453) como tal. Hans Kelsen fala do antagonismo do governo do funcionário público com a democracia pública de todo o povo:

‘Toda burocracia é, seguramente, autocrática por sua essência mais íntima e, portanto, o adversário mais perigoso da democracia. porém isto vale não só para a burocracia da democracia capitalista, como também para a do Estado proletário dos obreiros”. (Kelsen: 306).

O governo do funcionário público sempre remete para o fenômeno do general intellect gramatical como governo. O admnistrative power é governo do funcionário público? As comissões administrativas podem ser observadas como a soberania do discurso do administrador? Esse discurso faz pendant com o discurso do universitário, do general intellect gramatical do tudo-saber (Lacan: 34), como uma forma de discurso burocrático que já não é propriamente a burocracia.

A forma acabada da evolução do fim do Estado é o Estado cientista que já não é um Estado como tal:

“No mercantilismo do capital asiático, o general intelect conquista a posição hegemônica na prática política econômica dominante; na prática política do dominante, Ele faz pendant com a articulação da hegemonia do PCC; o Estado-cientista natural materializa a articulação da hegemonia no mercantilismo do capital chinês; com a covid-19, o Estado-cientista do capital aparece em cores vibrantes na posição de gramaticalização da hegemonia na sociedade chinesa”. (Bandeira da Silveira. 2022b: cap9, parte 2).             

O Estado-cientista é aquele “Estado” do poder administrativo do general intellect.

                                                           3

O cesarismo americano-presidencialista faz aliança com o general intellect gramatical, do poder administrativo; o campo político cesarista se caracteriza por uma tela moderno/administrativa; Donald Trump é a insurreição contra a modernidade do general intellect; Ele quer desintegrar o campo político cesarista-general intellect; o que vai pôr no lugar? O cesarismo de um homem só do César sem governo do general intellect? Parece o futuro de uma ilusão

O general intellect do poder administrativo governa a administração e a sociedade civil; ele exaure o SUJEITO soberania popular: a relação representante/representado se baseia no amor ao cesarismo republicano:

“A virtude na república, é uma coisa muito simples: é o amor pela república; é um afeto, e não uma plurivocidade de conhecimento; tanto o último dos homens quanto o primeiro podem possuir tal sentimento”. (Montesquieu: 167).

Nos EUA, há esse amor ao cesarismo que se traduz como amor pelo presidente da República; no Brasil, elege-se um presidente segundo o afeto que ele é capaz de mobilizar no campo político estético; Bolsonaro interpelou as afecções do eleitor como grau zero da estética; em 2022, Lula derrotou Bolsonaro interpelando afecções do simulacro de simulação da cultura política barroca do passado; Assim, ele alcançou o eleitor do Nordeste e da classe média barroca de outras regiões como Minas Gerais e Rio. No governo Lula, se inclinou para a pós-modernidade de um cesarismo do presente eterno e, assim, esqueceu a <revolução barroca dentro da ordem>, uma promessa da campanha eleitoral. A experiência analítica do discurso barroco no eleitor se transforma em mitologia virtual política; na revolução barroco Lula poderia ocupar o lugar do oráculo, mas se negou a isso:

“Se a experiência analítica acha-se implicada, por receber seus títulos de nobreza do mito edipiano, é justamente por preservar a contundência da enunciação do oráculo e, eu diria ainda, porque a interpretação permanece sempre nesse mesmo nível. Ela só é verdadeira por suas consequências, tal como o oráculo. A interpretação não é submetida à prova de uma verdade que decida por sim ou não, mas desencadeia a verdade como tal. Só é verdadeira na medida em que é verdadeiramente seguida”. (Lacan. S. 18: 13).

Como oráculo barroco, Lula seria seguido sobre o futuro; enquanto seguiria a Constituição:

“A Constituição de 1988 pode ser lida como uma tela narrativa barroca ou Constituição analítico-dialética barroca. A revolução barroca dentro da ordem ´é o aprofundamento e desenvolvimento da democracia do claro/escuro da Constituição de 1988”. (Bandeira da Silveira. 2023: cap. 3, parte 3).

Hoje, a revolução barroca dentro da ordem tem que transformar em uma revolução barroca contra a ordem, para salvar a democracia de 1988; a mudança da forma de governo presidencialista/cesarista heteróclita só poderá advir de um espaço angelical do campo político; Lula e o PT não são anjos...  

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical, ensaios. EUA: amazon, 2022a

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Gramática do general intelect. EUA: amazon, 2022b

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Revolução barroca dentro da ordem. EUA: amazon, 2023

DAVID, René. Os grandes sistemas do direito internacional. SP: Martins Fontes, 1996

KELSEN, Hans. Socialismo y Estado. Madrid: Siglo 21, 1982

LACAN, Jacques. Le Seminaire. Livre 17. L’envers de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1991

LACAN, Jacques. O Seminário. De um discurso que não fosse semblante. Livro 18. RJ: Zahar, 2009

LENINE. Oeuvres. Tomo 25. L’Etat et la Revolution. Paris: Éditions Sociales, 1977

MONTESQUIEU. De l’esprit des lois. V. 1. Paris: Flammarion, 1979

MONTESQUIEU. Do espírito das leis. SAP: Abril Cultural, 1973

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

]

 

 

 

 

 

 

   

             

 

 

    

     

 

 

 

 

 

domingo, 18 de fevereiro de 2024

anjo, diabo, Epicuro

 José Paulo 

 

 

Há o Marx universitário e um outro pós-universitário; Hegel foi universitário até o fim de sua vida terrena.

A Tese doutoral de Marx fala de um iluminismo grego, da modernidade grega:

“Epicuro é, portanto, o maior pensador do iluminismo grego”. (Marx. 1982: 53). Epicuro se junta aos iluministas e ergue a tela gramatical moderna no campo político/estético da antiguidade.

                                                                 2      

LUZ DO FENOMENO

O CAMPO POLÍTICO tem seu espaço iluminado e de escuridão; o que ilumina o iluminado? A luz do fenômeno ilumina o espaço claro e distinto; a sensorialidade do agente político é a reflexão do mundo fenomênico no campo onde acontece a percepção sensível do mundo visível fenomênico; o tempo político é tempo materializado no agente; o visível é o concretamente empírico; o invisível é invisível na escuridão profunda onde não há a luz do fenômeno, essa luz não se derrama no agente; o agente é práxis política, seja o agente do visível, ou invisível. A profundidade escura só se deixa ver pela tela gramatical do afenomênico; como erguer tal tela na escuridão, nessa há o agente-átomo só perceptível pela razão gramatical e não perceptível pelas faculdades sensíveis.

Na mitologia da antiguidade, o céu é apoiado por Atlas; Epicuro diz que a mitologia é estupidez e superstição do homem. O campo político se apoia no agente fenomênico; o campo cesarista-presidencialista nas Américas parece ter uma mitologia análoga ao dos corpos celestes, estes como deuses e, também, sagrado, que é imortal, indestrutível, tempo eterno, alheio a todo e qualquer mortal infortúnio; assim, o agente fenomênico não vê ou sente o cesarismo como débil, fraco, destrutível, com o câmbio refletido em si.

O campo político presidencialista/cesarista é o céu como deuses que se transmutam em Deus, e, portanto, em uno; a adoração ao cesarismo republicano/presidencialista se realiza na soberania popular como culto religioso, e não como um fenômeno de uma cultura política secular.

EUA, Brasil, Argentina etc. estão em uma camisa de onze varas.

                                                                  3

O campo político atomístico é aquele das contradições e antagonismo vivos, em carne e osso; ele é a dominância doo heterogêneo e do heteróclito; ele é o outro da inteligência do simbólico, pois, dotado de uma inteligência do diabólico:

“Alors que lintelligence décompose le sens, le mythe le compose. C’est pourquoi il ne saurait être compris d’aprés une supposée valeur explicative: le nythe n’est une Science des primitifs mais un moyen de compréhension immédiate du reel. L’opposé du sym-bolique, c’est, proprement, le dia-bolique”. (Godin:732).

A inteligência do diabólico é análoga a um princípio abstrato que usa dispositivos de cancelamento do inimigo, que é o saber do senso comum da tela gramatical dos fenômenos. O México é o mais visível caso desse fenômeno:

“Se a autoconsciência singular abstrata se postula como princípio absoluto, qualquer ciência verdadeira e real permanecerá cancelada, certamente, enquanto a singularidade não impera na natureza nesma das coisas”. (Marx. 1982. :53).

O absoluto do poder no campo político estético tem gosto de sangue, de banho de sangue, e, portanto, ele não pode existir como princípio angelical, e sim como afecção no campo diabólico; buscá-lo como princípio abstrato é algo que o agente atomístico faz no cesarismo/presidencialista; assim, o campo político do individuo heteróclito tem no fantasma do diabólico sua força de lei, o fundamento místico da autoridade:

“L’origine de l’autorité, la fondation ou le fondement, la position de la loi ne pouvant par définition s’appuyer finalement que sur elles-mêmes, elles sont elles-mêmes une violence sans fondament (...). La même limite <mystique> ressurgira à l’origine supposée desdites conditions, rêgles ou conventions – et de leur interprétation dominante”> (Derrida. 1994:34).

A autoridade do cesarismo se vale da violência mystica dos agentes-atomísticos do campo diabólico; o campo angelical é aquele da conciliação pós decisão da soberania popular por uma compulsão `a repetição de comportamento do representante que respeita a ataraxia do campo político do indivíduo; a estratégia é evitar a stáseis, principalmente a insurreição contra a forma de governo como caráter pólemos. (Schmitt: 55,56).

O espaço do heterogêneo e do heteróclito da contemporaneidade é o contrário do espaço angelical da homogeneidade modernista; vivemos em um espaço no qual o agente atomístico tem um comportamento diverso e irregular, o contrário do comportamento perfeito do fenômeno, que derrama a luz na tela gramatical do campo político/estético. Porém, o agente-fenomênico como antítese à qualquer geral no concreto [fim da política como materialização da razão lógica na vida] só se realiza como dissolução na tela gramatical dos fenômenos contraditórios, ou seja, só existe no espaço homogêneo; já o agente-atomístico é uma simples hipótese, uma ficção real, pura e abstrata, na profundidade escura como grau zero do fenômeno:

“(...) a matéria, ao imprimir-se nela a singularidade, a forma, como ocorre nos corpos celestes, deixa de ser singularidade abstrata. Se converte em singularidade concreta, em generalidade”. (Marx. 1982: 52).

O atomístico é um campo político como grau zero da estética; o cesarismo/presidencialismo é um campo do brutalismo análogo ao biopoder; é o contrário da modernidade como ataraxia tomando o lugar do geral, do singular concreto; no cesarismo, o campo político do indivíduo é a subsunção real do geral ao individual; assim, o campo tem como centro de gravidade indivíduos com fome de poder e ouro  público; o cesarismo é o campo no qual o capital fictício reina absolutamente; se a modernidade é um campo governado por anjos, no cesarismo, os diabos governam como governam o inferno; a legislação penal cesarista é o antípoda da legislação penal da modernidade. Hitler introduziu a legislação penal da racialização dos povos como, primeiro, campo de concentração, e depois como campo de extermínio. Nas Américas, Bukele realiza a legislação penal para o heteróclito.

                                                                    4

O Estado não é mais um Estado burguês, ou seja, aparelho de estado e poder de Estado (Balibar: 92) que se contrapõe à luta de classe e insurreição dos de baixo. O Estado não é aparelho repressivo e aparelhos ideológicos de Estado. Ele deixa de ser, sobretudo, um Estado moderno weberiano. É o grau zero de Estado institucional, pois, se torna um ente poder administrativo do campo político heteróclito, diabólico:

“A ‘política’ aqui não é definida de um modo substantivo, nem se refere inevitavelmente ao uso da força. O aspecto ‘político’ das organizações diz respeito à sua capacidade de organizar os recursos de autoridade ou o que eu chamarei de poder administrativo”.

“Todas as organizações têm perfil políticos, mas apenas o Estado envolve a consolidação de um poder militar em associação ao controle dos meios de violência dentro de uma extensão territorial. Um Estado pode ser definido como uma organização política cujo domínio é territorialmente organizado e capaz de acionar os meios de violência para sustentar esse domínio. Tal definição é próxima de Weber, mas não sublinha uma reivindicação ao monopólio dos meios de violência ou o fator legitimidade”. (Giddens: 45).

É o “Estado” nacional como ilusão moderna no campo político do cesarismo-presidencialista brutalista.

O cesarismo se adapta bem a tela gramatical epicurista;

“Tão estendida como o estoicismo, ou talvez mais ainda, estava a filosofia epicúrea  que vem a representar a antítese ou contrapartida da filosofia estoica, pois, enquanto que o estoicismo postula o ser como pensado -ou seja o conceito geral – como o verdadeiro, desenvolvendo esse princípio, Epicuro, o fundador dessa outra escola, ao contrário, não postula o ser como ser em geral, senão como algo sentido; isto é, o essencial para ele é a consciência sob a forma do individual”. (Hegel: 375).

O individual passa a comandar o campo político na tela epicurista, com uma mesclagem de <homem cordial>, afecções do pathos, febre do ouro, ou amor auri.      

O funcionamento do campo político heteróclito tem pensamento, mas não segundo o princípio da realidade, mas pelo princípio do prazer:

Epicuro eleva também ao plano do pensamento o princípio de que o prazer constitui um fim [...]”. (Hegel: 375).

O princípio do prazer diabólico faz dos aparelhos ideológicos e do aparelho repressivo algo diabólico, ou seja, um outro fenômeno ainda sem nome, sem terminologia: uma totalidade heteróclita.

 

 

BALIBAR, Étienne. Cinq études du materialisme historique. Paris: Maspero, 1974

DERRIDA, Jacques. Force de loi. Paris: Galilée, 1994

GODIN, Christian. La totalité. Vol 1. Paris: Champ Vallon, 1998

GIDDENS, Anthony. O Estado-nação e a violência. SP: EDUSP, 2001

HEGEL. Lecciones sobre la historia de la filosofia. V. 2. México: Fondo de Cultura Económica, 1955

MARX E Engels, Obras fundamentales. Vol 1. Marx, escritos da juventude. México: Fondo de Cultura Económica, 1982   

 SCHMITT, Carl. O conceito do político. Petrópolis: Vozes, 1992                                  

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Dominação, poder, arte, mitologia

 

José Paulo 

 

 

UM PODER não violento começa na discussão sobre a dominação na sociologia:

“Segundo a definição já dada, chamamos <dominação> a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas. Não significa, portanto, toda espécie de possibilidade de exercer <poder> ou <influência> sobre outras pessoas. Em cada caso individual, a dominação (<autoridade>) assim definida pode basear-se nos mais diversos motivos de submissão: desde o hábito inconsciente até considerações puramente racionais, referentes a fins. Certo mínimo de vontade de obedecer, ou seja, de interesse (externo ou interno) na obediência, faz parte de toda relação autêntica de dominação”. (Weber. 1984: 170).

O poder:

“significa toda probabilidade de impor a própria vontade em uma relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade”. (Weber.1994: 33).

O poder não necessita de obediência; ele vai contra a resistência, portanto, ele implica o uso da violência para a realização da própria vontade.

Hannah Arendt diz:

“Visto que a autoridade sempre exige obediência, ela é comumente confundida com alguma forma de poder ou violência. Todavia a autoridade exclui a utilização de meios externos de coerção; onde a força é usada, autoridade em si mesmo fracassou. A autoridade, por outro lado, é incompatível com a persuasão, a qual pressupõe igualdade e opera mediante um processo de argumentação. Onde se utilizam argumentos, autoridade é colocada em suspenso. Contra a ordem igualitária da persuasão ergue-se a ordem autoritária, que sempre é hierárquica. Se autoridade deve ser definida de alguma forma, deve sê-lo, então, tanto em contraposição à coerção pela força como à persuasão através de argumentos”. (Arendt:129).

Habermas fala do poder em relação ao campo político do indivíduo e à manipulação das convicções do indivíduo e multidão. Quem manipula é um agente no campo político da sociedade/Estado; Habermas fala  do poder em Arendt:

“Porque, segundo a sua hipótese, o poder só pode surgir nas estruturas da comunicação não-coercitiva; não pode ser ‘gerado de cima’”. (Habermas: 114).

Poder e autoridade romana é a relação que Arendt estabelece em um contraponto à sociologia do poder e dominação de Weber. A dominação não é a vontade de se submeter à alguém, não depende da vontade de ser assujeitado; o poder não é uma relação de força na qual um agente do poder encontra resistência ou contrapoder.

Foucault se tornou o teórico do biopoder na universidade francesa:

“Aquém, portanto, do grande poder absoluto, dramático, sombrio que era o pode da soberania, e que consistia em poder fazer morrer, eis que aparece agora, com essa tecnologia do biopoder, com essas tecnologias do poder sobre a <população> enquanto tal, sobre o homem enquanto ser vivo, um poder contínuo, científico, que é o poder de <fazer viver>. A soberania fazia morrer e deixava viver. E eis que agora aparece um poder que eu chamaria de regulamentação e que consiste, ao contrário, em fazer viver e em deixar morrer”. (Foucault: 220).

 Foucault fala da relação do poder com o ser vivo no campo político sociedade/Estado. Para o brasileiro, a relação entre biopoder e racismo é algo da realidade sensível. Há toda uma legislação penal que castiga o racismo:

“E aí, creio eu, que intervém o racismo. Não quero de modo algum dizer que o racismo foi inventado nessa época. Ele existia há muito tempo (...). o que inseriu o racismo nos mecanismos do Esatdo foi mesmo a emergência desse biopoder”.

“Com efeito, o que é o racismo? É, primeiro, o meio de introduzir afinal, nesse domínio da vida de que o poder se incumbiu, um corte: o corte entre o que deve viver e o que deve morrer”. (Foucault: 227).

O biopoder faz a racialização da sociedade de classes no Brasil. Há classes que devem viver e classes que devem morrer; o aparelho policial age de acordo com lógica do biopoder da racialização para as classes populares negras. Isso é bem conhecido e reconhecido, entre nós. No entanto, esse fenômeno não é o poder de Arendt, pois, é violência real. Então, há o poder arendtiano no Brasil?

                                                                     2

Freud fala de um poder estético funcionado pelo princípio de prazer no campo político do indivíduo [e da multidão]:

“A consideração desses casos e situações, que têm a produção de prazer como seu resultado final, deve se empreendida por algum sistema de estética [...]. (Freud. vol. XVIII: 29).

Freud fala da relação do princípio do prazer como experiência agradável (ética) e com a experiência desagradável ou páthos. A dominação da criança sobre uma experiência da brincadeira ou jogo infantil acaba se referindo ao outro:

“Quando a criança passa da passividade da experiência para a atividade do jogo, transfere a experiência desagradável para um dos seus companheiros de brincadeira e, dessa maneira, vinga-se num substituto”.  (Freud. v. XVIII: 29).

Ter poder sobre o outro é colocá-lo na experiência do pathos, do desagradável. O agradável e desagradável é um objeto de Aristóteles:

“A vida de atividade conforme à excelência é agradável em sim, pois o prazer é uma afecção da alma, e o agradável para cada pessoa é aquilo que se costuma dizer que ela ama [...]”. (Aristóteles: 26).

Amar o agradável como princípio de prazer como afecção do campo político do indivíduo [ou da multidão}, eis algo que se refere a dominação no campo político/estético.

A ética é a estética/política do moderno da antiguidade. O páthos é a estética/política do páthos, ou seja, o princípio do grotesco que pode fazer do desagradável do heteróclito [em relação ao moderno]  uma fonte de energia de prazer:

O páthos é o contrário do gramático, ele é o grau zero da gramática:

“Um homem somente será um gramático, então, quando disser algo pertinente à gramática e à maneira dos gramáticos, ou seja, graças aos conhecimentos gramaticais que ele mesmo possuir”. (Aristóteles: 39).

A gramática da estética/política é, ou da ordem do princípio do prazer ou grau zero da estética moderna, ou seja, estado de páthos ou experiência do desagradável relacionada ao princípio de prazer estético do heteróclito, ou seja, o que está do lado de fora da gramática do renascimento grego da antiguidade

“Algumas coisas são agradáveis por natureza, e destas umas são irrestritamente agradáveis, enquanto outras o são em relação a determinadas classes de animais ou de pessoas; por outro lado, outras não são naturalmente agradáveis, mas algumas destas se tornam agradáveis por causa de aberrações, outras por causa de hábitos e outras ainda por causa de taras”.

O páthos pode funcionar pelo princípio do prazer da experiência agradável. Continua:

“Sendo assim, é possível descobrir em relação a cada uma das espécies da segunda classificação afecções de caráter análogas ás identificadas a respeito do primeiro caso; refiro-me às afecções bestiais, como no caso da fêmea que, segundo dizem, abria o ventre das fêmeas grávidas e devorava os fetos; ou das coisas com que, de acordo com certas narrativas, algumas das tribos selvagens do litoral do mar Negro costumavam deleitar-se – com alimentos crus ou carne humana, ou com a troca de crianças entre as tribos para serem seviciadas em suas festas – ou como na história que se conta de Fálaris. (Aristóteles: 137).

Aristóteles fala do princípio doo prazer de uma estética/política grotesca selvagem que se opõe ao renascimento da antiguidade grega.

                                                                        3

Freud arte do significado estético como produção da intenção e vontade de expressão do artista nos pormenores da escultura do “O Moises de Michelangelo:

Mas prossigamos na suposição de que esses pormenores possuem significação. Há uma solução que removerá nossas dificuldades e permitirá o vislumbre de um novo significado”. (Freud. v. 23:267).

Resolvo partir do fantasma como objeto ideal ou virtual, como pressuposto saber; e da fantasia como objeto real ou agir no campo político estético, ambos no campo político do indivíduo ou da multidão, ou da polis, ou do Estado lacaniano gestor da mais-valia pública que construí polis obra de arte e mitologia política:

“O surgimento e primeiro desenvolvimento da poesia lírica na Grécia são simultâneos ao florescimento do da liberdade e surgimento do republicanismo. Primeiramente a poesia se vinculou às leis e serviu para transmiti-las. Logo, como arte lírica, se entusiasmou pela fama, liberdade e bela socialidade. Tornou-se a alma da vida pública, a que dava esplendor às festas (...)   O elemento rítmico dos Estados gregos, a clareza de consciência dos gregos, totalmente voltada para si mesmos, para sua existência e seu agir, inflamou as paixões mais nobres que eram dignas da musa lírica. Na mesma época que a lírica, a música animava as festas e a vida pública. Em Homero ainda há, inclusive sacrifícios e cultos divinos sem música. Da identidade da epopeia homérica também faz parte o princípio heroico, o princípio da monarquia e da dominação”. (Schelling: 273).

É possível estabelecer analogias entre a cultura política estética grega e a nossa cultura?              

                                                          4

No campo/político estético da antiguidade, o poder se dedica a produção da mitologia como obra-de-arte, e ele é parte do Estado lacaniano/estético que produz polis obra-de-arte; o campo estético/político é movido pelo princípio do prazer do gosto.

O campo político/estético possuía fenômenos como o cesarismo e a insurreição:

“Os primeiros ritmos líricos, como se observou, foram aqueles em que se cantaram as leis dos Estados livres: isso ainda ocorre em Sólon. As canções guerreiras de Tirteu eram ‘aguilhoadas ‘por uma paixão’ inteiramente objetiva. Alceu foi o cabeça dos conjurados contra os tiranos. Combatendo-os não só com a espada, mas também com seus cantos”. (Schelling:274).

O campo político/estético antigo é diferente do moderno. Este corte histórico estético é assim:

“Assim como o máximo florescimento da arte lírica dos gregos coincide com o surgimento da república, o florescimento máximo da vida pública, assim também os primórdios da lírica moderna coincidem com a época de agitações públicas no século XIV, e com a dissolução geral da liga republicana e dos Estados italianos. Quando a vida pública desapareceu, em maior ou menor medida, ela teve de se voltar para dentro. Os tempos venturosos que a Itália viveu graças a alguns príncipes magnânimos, principalmente os Médices, vieram só mais tarde e favoreceram bastante a epopeia romântica, que se aperfeiçoou em Ariosto, Dante e Petrarca; os primeiros criadores da poesia lírica, surgiram nos períodos da insurreição, da dissolução social, e seus cantos, quando se referem àqueles objetos externos, exprimem, em alto e bom som a infelicidade daquela época”. (Schelling: 275).

Há relação entre insurreição estética e a realidade heteróclita?

A mitologia da antiguidade não exclui o heteróclito do campo político/estético, ele se localiza na escuridão da profundida:

“Como germe comum dos deuses e dos homens, o Caos absoluto é noite, trevas. Ainda informes são também as primeiras figuras que dele a fantasia faz nascer. Um mundo de figuras informes e monstruosas precisa submergir para que possa surgir o reino ameno dos deuses venturosos e duradouros. Também nesse aspecto as criações poéticas gregas permanecem fiéis à lei de toda fantasia. Os primeiros descendentes dos encontros amorosos de Urano e Gaia ainda são monstros, gigantes, de cem braços, Ciclopes imponentes e os selvagens Titãs, descendentes diante dos quais o próprio progenitor se horroriza aos quais no Tártaro de novo se oculta. O Caos tem de devorar novamente a própria pole. Urano, que esconde os próprios filhos, tem de ser suplantado: começa o domínio de Cronos. Mas também Cronos devora os próprios filhos”. (Schelling:57).

A mitologia fala, por alegorias e outras figuras de gramática, de um mundo no qual domina os monstros; ela fala de uma realidade heteróclita do campo político/estético cesarista, o mais primitivo possível - que os antigos designavam como tirania.             

O cesarismo mitológico encontra-se no começo do mundo político e pode anunciar o fim da política.

 

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. SP: Perspectiva, 1988

ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: EDUNB, 1992

FOUCAULT, Michel. Il faut défendre la société. Paris: Gallimard/Seul, 1997

FREUD, Sigmund. Obras Completas. Volume 13. O Moises de Michelangelo (1914). RJ: Imago, 1974

FREUD, Sigmund. Obras Completas. Além do princípio do prazer. RJ: Imago, 1976  

HABERMAS. Sociologia. SP: Ática, 1980

SCHELLING, F. W. J. . Filosofia da arte. SP: EDUSP, 2001    

WEBER, Max. Economia y sociedad. México: Fondo de Cultura Económica, 1984

WEBER, Max. Economia e sociedade. V. 1. Brasília; UNB, 1994