José Paulo
Há o Marx universitário e um outro pós-universitário; Hegel
foi universitário até o fim de sua vida terrena.
A Tese doutoral de Marx fala de um iluminismo grego, da
modernidade grega:
“Epicuro é, portanto, o maior pensador do iluminismo grego”.
(Marx. 1982: 53). Epicuro se junta aos iluministas e ergue a tela gramatical
moderna no campo político/estético da antiguidade.
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LUZ DO FENOMENO
O CAMPO POLÍTICO tem seu espaço iluminado e de escuridão; o
que ilumina o iluminado? A luz do fenômeno ilumina o espaço claro e distinto; a
sensorialidade do agente político é a reflexão do mundo fenomênico no campo
onde acontece a percepção sensível do mundo visível fenomênico; o tempo
político é tempo materializado no agente; o visível é o concretamente empírico;
o invisível é invisível na escuridão profunda onde não há a luz do fenômeno,
essa luz não se derrama no agente; o agente é práxis política, seja o agente do
visível, ou invisível. A profundidade escura só se deixa ver pela tela
gramatical do afenomênico; como erguer tal tela na escuridão, nessa há o
agente-átomo só perceptível pela razão gramatical e não perceptível pelas
faculdades sensíveis.
Na mitologia da antiguidade, o céu é apoiado por Atlas;
Epicuro diz que a mitologia é estupidez e superstição do homem. O campo
político se apoia no agente fenomênico; o campo cesarista-presidencialista nas
Américas parece ter uma mitologia análoga ao dos corpos celestes, estes como
deuses e, também, sagrado, que é imortal, indestrutível, tempo eterno, alheio a
todo e qualquer mortal infortúnio; assim, o agente fenomênico não vê ou sente o
cesarismo como débil, fraco, destrutível, com o câmbio refletido em si.
O campo político presidencialista/cesarista é o céu como
deuses que se transmutam em Deus, e, portanto, em uno; a adoração ao cesarismo
republicano/presidencialista se realiza na soberania popular como culto
religioso, e não como um fenômeno de uma cultura política secular.
EUA, Brasil, Argentina etc. estão em uma camisa de onze
varas.
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O campo político atomístico é aquele das contradições e
antagonismo vivos, em carne e osso; ele é a dominância doo heterogêneo e do
heteróclito; ele é o outro da inteligência do simbólico, pois, dotado de uma
inteligência do diabólico:
“Alors que lintelligence décompose le sens, le mythe le
compose. C’est pourquoi il ne saurait être compris d’aprés une supposée valeur
explicative: le nythe n’est une Science des primitifs mais un moyen de
compréhension immédiate du reel. L’opposé du sym-bolique, c’est, proprement, le
dia-bolique”. (Godin:732).
A inteligência do diabólico é análoga a um princípio abstrato
que usa dispositivos de cancelamento do inimigo, que é o saber do senso comum
da tela gramatical dos fenômenos. O México é o mais visível caso desse
fenômeno:
“Se a autoconsciência singular abstrata se postula como
princípio absoluto, qualquer ciência verdadeira e real permanecerá cancelada,
certamente, enquanto a singularidade não impera na natureza nesma das coisas”.
(Marx. 1982. :53).
O absoluto do poder no campo político estético tem gosto de
sangue, de banho de sangue, e, portanto, ele não pode existir como princípio
angelical, e sim como afecção no campo diabólico; buscá-lo como princípio
abstrato é algo que o agente atomístico faz no cesarismo/presidencialista;
assim, o campo político do individuo heteróclito tem no fantasma do diabólico sua
força de lei, o fundamento místico da autoridade:
“L’origine de l’autorité, la fondation ou le fondement, la
position de la loi ne pouvant par définition s’appuyer finalement que sur
elles-mêmes, elles sont elles-mêmes une violence sans fondament (...). La même
limite <mystique> ressurgira à l’origine supposée desdites conditions,
rêgles ou conventions – et de leur interprétation dominante”> (Derrida. 1994:34).
A autoridade do cesarismo se vale da violência mystica dos
agentes-atomísticos do campo diabólico; o campo angelical é aquele da
conciliação pós decisão da soberania popular por uma compulsão `a repetição de
comportamento do representante que respeita a ataraxia do campo político do
indivíduo; a estratégia é evitar a stáseis, principalmente a insurreição contra
a forma de governo como caráter pólemos. (Schmitt: 55,56).
O espaço do heterogêneo e do heteróclito da contemporaneidade
é o contrário do espaço angelical da homogeneidade modernista; vivemos em um
espaço no qual o agente atomístico tem um comportamento diverso e irregular, o
contrário do comportamento perfeito do fenômeno, que derrama a luz na tela
gramatical do campo político/estético. Porém, o agente-fenomênico como antítese
à qualquer geral no concreto [fim da política como materialização da razão
lógica na vida] só se realiza como dissolução na tela gramatical dos fenômenos
contraditórios, ou seja, só existe no espaço homogêneo; já o agente-atomístico
é uma simples hipótese, uma ficção real, pura e abstrata, na profundidade
escura como grau zero do fenômeno:
“(...) a matéria, ao imprimir-se nela a singularidade, a
forma, como ocorre nos corpos celestes, deixa de ser singularidade abstrata. Se
converte em singularidade concreta, em generalidade”. (Marx. 1982: 52).
O atomístico é um campo político como grau zero da estética;
o cesarismo/presidencialismo é um campo do brutalismo análogo ao biopoder; é o
contrário da modernidade como ataraxia tomando o lugar do geral, do singular
concreto; no cesarismo, o campo político do indivíduo é a subsunção real do
geral ao individual; assim, o campo tem como centro de gravidade indivíduos com
fome de poder e ouro público; o
cesarismo é o campo no qual o capital fictício reina absolutamente; se a
modernidade é um campo governado por anjos, no cesarismo, os diabos governam
como governam o inferno; a legislação penal cesarista é o antípoda da
legislação penal da modernidade. Hitler introduziu a legislação penal da
racialização dos povos como, primeiro, campo de concentração, e depois como
campo de extermínio. Nas Américas, Bukele realiza a legislação penal para o
heteróclito.
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O Estado não é mais um Estado burguês, ou seja, aparelho de
estado e poder de Estado (Balibar: 92) que se contrapõe à luta de classe e insurreição
dos de baixo. O Estado não é aparelho repressivo e aparelhos ideológicos de Estado.
Ele deixa de ser, sobretudo, um Estado moderno weberiano. É o grau zero de
Estado institucional, pois, se torna um ente poder administrativo do campo
político heteróclito, diabólico:
“A ‘política’ aqui não é definida de um modo substantivo, nem
se refere inevitavelmente ao uso da força. O aspecto ‘político’ das
organizações diz respeito à sua capacidade de organizar os recursos de
autoridade ou o que eu chamarei de poder administrativo”.
“Todas as organizações têm perfil políticos, mas apenas o
Estado envolve a consolidação de um poder militar em associação ao controle dos
meios de violência dentro de uma extensão territorial. Um Estado pode ser
definido como uma organização política cujo domínio é territorialmente
organizado e capaz de acionar os meios de violência para sustentar esse
domínio. Tal definição é próxima de Weber, mas não sublinha uma reivindicação
ao monopólio dos meios de violência ou o fator legitimidade”. (Giddens: 45).
É o “Estado” nacional como ilusão moderna no campo político
do cesarismo-presidencialista brutalista.
O cesarismo se adapta bem a tela gramatical epicurista;
“Tão estendida como o estoicismo, ou talvez mais ainda,
estava a filosofia epicúrea que vem a
representar a antítese ou contrapartida da filosofia estoica, pois, enquanto
que o estoicismo postula o ser como pensado -ou seja o conceito geral – como o
verdadeiro, desenvolvendo esse princípio, Epicuro, o fundador dessa outra escola,
ao contrário, não postula o ser como ser em geral, senão como algo sentido;
isto é, o essencial para ele é a consciência sob a forma do individual”.
(Hegel: 375).
O individual passa a comandar o campo político na tela epicurista,
com uma mesclagem de <homem cordial>, afecções do pathos, febre do ouro,
ou amor auri.
O funcionamento do campo político heteróclito tem pensamento,
mas não segundo o princípio da realidade, mas pelo princípio do prazer:
Epicuro eleva também ao plano do pensamento o princípio de
que o prazer constitui um fim [...]”. (Hegel: 375).
O princípio do prazer diabólico faz dos aparelhos ideológicos
e do aparelho repressivo algo diabólico, ou seja, um outro fenômeno ainda sem
nome, sem terminologia: uma totalidade heteróclita.
BALIBAR, Étienne. Cinq études du materialisme historique.
Paris: Maspero, 1974
DERRIDA, Jacques. Force de loi. Paris: Galilée, 1994
GODIN, Christian. La totalité. Vol 1. Paris: Champ Vallon,
1998
GIDDENS, Anthony. O Estado-nação e a violência. SP: EDUSP,
2001
HEGEL. Lecciones sobre la historia de la filosofia. V. 2.
México: Fondo de Cultura Económica, 1955
MARX E Engels, Obras fundamentales. Vol 1. Marx, escritos da
juventude. México: Fondo de Cultura Económica, 1982
SCHMITT, Carl. O conceito
do político. Petrópolis: Vozes, 1992
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