quinta-feira, 20 de agosto de 2015

REVOLUÇÃO DO CAPITAL E DIALÉTICA


CIÊNCIA POLÍTICA HETERODOXA
A linguagem comum não consegue ler a realidade política. A ciência política heterodoxa pode ajudar a superar esta incapacidade de interpretação do homem comum. 1) vivemos em uma sociedade de classes sem a centralidade na política da luta de classes entre burgueses e operários. 2) A luta entre as frações do capital e as frações oligárquicas exigem algum tipo de unidade política. 3) Poulantzas chamou de bloco no poder a unidade das classes e frações dominantes sob a égide hegemônica de uma delas. Os burgueses evitam resolver seus conflitos pela guerra, pois isso já é o nazismo ou Pablo Escobar e seu cartel de Medelín.
O conceito bloco no poder significa uma prática política legal. Pablo Escobar alterou tal conceito, pois o narcopoder tinha – na Colômbia da década de 1980 - uma base econômica mais forte que o resto das frações econômicas “burguesas”. Assim, uma fração ilegal (criminosa) passou a disputar (recorrendo ao terrorismo) o lugar hegemônico do bloco-no-poder colombiano. Parece que este fenômeno passou a existir na era Lula que a diferencia qualitativamente da era FHC. Uma fração da burguesia brasileira {empreiteiros + burocracia da Petrobrás + partidos do Estado pombalino (PT e PMDB etc.)} ocupou o lugar hegemônico - vazio por causa da crise de hegemonia do bloco-no-poder – transformando o bloco-no-poder em uma prática política legal e ilegal, assentada no direito e no crime. As forças que compõem a Lava Jato (Polícia Federal, juiz Sérgio Moro e o Ministério Público), o TCU e o TSE representam a luta da parte legal do bloco-no-poder contra a fração criminosa que detém a hegemonia provisória de tal bloco. Trata-se de uma luta agônica interna à classe dominante brasileira. O desenvolvimento de tal luta não significa a CRISE DO ESTADO BRASILEIRO? A prova de que a luta de classes entre burgueses e operários não está no centro da política nacional aparece no fato de que a crise do Estado está sob controle. Ela não deslizará nem para a ditadura militar nem para a revolução operária. A democracia pombalina (democracia despótica) brasileira não é a democracia populista que foi encerrada por um golpe de Estado civil-militar. Ela parece ser um modelo de democracia universal para o Ocidente. Ela foi a solução encontrada para superar a cultura política populista na América Latina e no resto do planeta!           

ECONOMIA POLÍTICA HETERODOXA
O estamento econômico intelectual (universitário e burguês) detém o monopólio da interpretação da realidade econômica nacional. Ele diz que a realidade brasileira é capitalista com distorções intervencionistas na era Lula-Dilma pós-2008. Diz que na era FHC a realidade inclinou-se para uma economia liberal neutralizando o velho lema leninista da história brasileira, a saber: “a política no comando da economia”. Com efeito, a linguagem do estamento econômico é a linguagem da ideologia oca de significados verdadeiramente econômicos. Rigorosamente, o capitalismo não existe, assim como o Estado não existe. São fumos machadianos! Existe o capitalismo inglês que no século XIX e parte do século XX dominou a economia capitalista mundial. Existe o capitalismo americano que substitui o inglês como hegemonia econômica mundial. Existe o capitalismo corporativo mundial que subsumiu os capitalismos americano, inglês, francês etc. Existe o capitalismo brasileiro que começa com a fazenda de café no final do século XIX, depois se industrializa e na década de 1960 se desenvolve como capitalismo dependente e associado. No entanto, não é preciso definir as formas concretas do capitalismo a partir da episteme política? A episteme capitalista articulou o capitalismo inglês e americano, capitalismo em si. Qual episteme política articulou o capitalismo brasileiro? A episteme do Engenho de cana-de-açúcar articulou o capitalismo brasileiro do café e as outras formas capitalistas. Trata-se da episteme oligárquica da economia autárquica. Então, o capitalismo do Engenho é o nosso modelo histórico-estrutural de economia. A internacionalização da economia a partir da década de 1960 gerou um capitalismo dependente e associado do Engenho. No Brasil, a multinacional se transformou em empresa do Engenho: autarquia nacional. Quando Collor atacou o capitalismo do Engenho, tal fato foi decisivo para a sua queda. Não foram as massas que depuseram Collor. Foram os representantes políticos do capitalismo dependente e associado do Engenho que usaram o movimento de massas “Fora Collor” para desfechar um golpe de Estado pombalino. O golpe foi exequível por estar o vice-presidente na conspiração da elite no poder oligárquica. Itamar Franco foi o Príncipe infame do golpe pombalino. Ele é o nosso Ricardo III mineiro! A imagem de Itamar da ideologia dominante é ou a do sujeito imbecil, ou a do homem comum!

ÓDIO NA POLÍTICA
‘Eu a considero uma pessoa honrada (Dilma Rousssef), e não tenho nenhuma consideração por ódio na política, também não pelo ódio dentro do meu partido, ódio que se volta agora contra o PT’, diz FHC.
O dicionário Houaiss define ódio como “aversão intensa geralmente motivada por medo, raiva ou injúria sofrida”. O antônimo seria amor. Na psicanálise, como relação de amor parental, a transferência em si é o deslocamento (transporte) de energia do inconsciente freudiano para um outro lugar, de substituição de um lugar para outro. Por exemplo, substituição da família pelo consultório, pela relação professor/aluno, médico/paciente/ líder carismático/massa partidária etc. O problema é que isto transborda o inconsciente freudiano. A exportação da energia em direção à sociedade significa que o inconsciente político se superpôs ao inconsciente freudiano!   A transferência negativa seria vetor da hostilidade e da agressividade. Os físicos gregos pré-aristotélicos diziam que o mundo se articulava a partir de duas energias: amor e ódio. São as duas energias elementares da constituição da política em si e da cultura política. O “amor ao mestre” liga as massas ao grande homem (Freud) e articula religião, sociedade, povos e nações. Trata-se de um recurso evolutivo da história da espécie humana. A própria organização da cultura política intelectual pressupõe o amor de uma nação por seu intelectual hegemônico. No Brasil, a cultura política intelectual é inextensiva, se faz pela lógica do insignificante (que instala o subdesenvolvimento cultural), pois é molecular. A cultura política intelectual desenvolvida é articulada como cultura em extensão, como cultura produzida como lógica significante. A cultura política intelectual desigual estabelece a política mundial como relação entre centro e periferia. Ela é um fator fundamental para definir a reprodução ampliada do capital. O capitalismo continua se reproduzindo no espaço mundial como centro e periferia!
No Brasil, só existe (sempre foi assim) a cultura política intelectual molecular. Por isso, quando FHC assumiu a presidência da República cunhou a fórmula: “esqueçam o que eu escrevi”. Com esta fórmula lapidar, ele revelou a existência da cultura política intelectual brasileira como molecular. No Ocidente, a política em si existe como um território da hegemonia. Ela é articulada em uma junção com a cultura intelectual hegemônica. Isto é a civilização moderna. Esta se define por uma grande acumulação e distribuição na política em si da energia amorosa. A modernidade banhe o ódio da política. No Brasil, desde o século XIX, o ódio é o vetor de energia que articulava a lógica do sentido da política partidária. Trata-se da política oligárquica brasileira arcaica. A sociologia da USP viveu (ainda vive) a ilusão de um Brasil moderno em ruptura com o Brasil tradicional oligárquico. Os paulistas se orgulhavam de sua modernidade! O PSDB seria o partido moderno paulista em ruptura com a vida partidária oligárquica. Mas segundo FHC, o PSDB se transformou em um partido oligárquico, pois movido pelo ódio. A crise das cidades paulistas (principalmente da cidade de São Paulo) é a causa dessa transformação do moderno para o arcaico oligárquico no PSDB? FHC tem sido o nosso Oráculo de Delfos com suas fórmulas enigmáticas. Mas eu não sou Tirésias que interpretava os enigmas do Oráculo formulando outros enigmas. A transferência negativa está dominando o país em todas as áreas. Ela é o sinal de que algo transbordoueles  do inconsciente freudiano para o inconsciente político nietzschiano: o ódio. Acredito que se o país não transformar a cultura política intelectual molecular em uma cultura política em extensão nacional, ele dificilmente sairá do labirinto barroco da crise brasileira na qual se encontra! E não estou falando do amor pregado pela cultura política eletrônica das novelas da Globo!     


DIREITO E LITERATURA/TV JUSTIÇA
“Que relação existe entre o Direito e a Literatura? A resposta para esta e outras perguntas está no programa Direito & Literatura, produzido pelo Instituto de Hermenêutica Jurídica (IHJ) em parceria com a Fundação Cultural Piratini (TVE/RS), sob a coordenação do prof. André Karam Trindade. O programa é apresentado por Lenio Streck, professor do PPGDireito da Unisinos e procurador de Justiça no RS e tem o objetivo de difundir, no Brasil, o estudo das interfaces existentes entre o Direito e a Literatura”
O programa Direito e Literatura de hoje (domingo,02/08/2015, 8:30) dirigido pelo filósofo e homem na comunidade do direito gaúcha Lenio Streck com a participação da historiadora e especialista em estética grega Kathrin Rosenfield versa sobre mito e direito. Para eles, o mito é uma narrativa na qual não há uma identidade absoluta entre palavra e coisa, entre linguagem e referente (realidade). O mito é interpretação da realidade baseada na crença supracitada. O mito é uma narrativa que articula a realidade na medida em que ele é a realidade! Lenio Streck menciona na história da cultura política intelectual ocidental a passagem do mito ao logos (razão grega) e à razão moderna do sujeito cartesiano: “penso logo existo”. Trata-se da passagem da história mitológica para a história factual. Mas ele e Kathrin sublinham o mito como dominus na política em si e na cultura política moderna mundial contemporânea. Assim, eles concebem a história do século XXI como uma dialética entre mito (estrutura emocional da intersubjetividade associada ao inconsciente político nietzschiano) e o racionalismo razão modernista. Kathrin Rosenfield pensa que a solução para a crise da cultura política intelectual mundial é procurar o equilíbrio dialético entre mito e razão; não se trata de tentar destruir o que é um fato da história ancorada no seer. Lenio Streck sublinha que o direito moderno é um direito mitológico. Portanto, a modernidade não deve ser definida por um corte epistêmico com a cultura política intelectual mitológica que articula a física freudiana da história. O programa Direito e Literatura sabe o que a comunidade psicanalítica não sabe que sabe. Ele conhece a física freudiana da história. Para finalizar, kathrin estabeleceu a relação entre mito e fascismo alemão na cultura política intelectual da Alemanha na primeira metade do século XX Tal artefato seduziu uma parte significativa da comunidade jurídica alemão. Quem duvidar desta postagem do PCPT pode conferir vendo o programa da TV Justiça, provavelmente o mais importante programa da cultura política eletrônica brasileira da atualidade.

MODO DE PRODUÇÃO INTELECTUAL MOLECULAR
A história da cultura política intelectual mundial tem duas linhas de forças que se sobressaem na atualidade. A principal é o modo de produção e circulação intelectual (MPCI) em extensão nacional (USA) ou regional (Europa) de ideias. O secundário é o MPCI molecular (inextensivo) realmente existente na América Latina. Aquele funciona pela lógica do significante hegemonia e o outro pela lógica da cultura política do insignificante oligarquia arcaica. A lógica do insignificante articula a política em si como espaço privatista faccional e a lógica da articulação hegemônica significa uma junção da cultura intelectual com a cultura política como cultura política intelectual mundial pública. Passemos a análise de um caso brasileiro.
Trata-se do evento molecular na cultura brasileira Simon Schwartzman. Seu livro “Bases do autoritarismo brasileiro” (1982) deveria ter causado um choque simbólico de grande proporção, se a cultura política intelectual brasileira existisse como um MPCI em extensão nacional. O livro é uma interpretação do Brasil que inscreve na nossa cultura uma terceira via entre a interpretação marxista (modelo estrutural da história) e a weberiana (modelo patrimonialista da história). Tal terceira via seria a nova sociologia liberal -conservadora claramente um artefato eclético na linha interpretativa de um Oliveira Vianna. Simon pensa na possibilidade de uma outra articulação entre Estado e sociedade na qual o Estado existisse articulado pela lógica dos interesses das classes e dos grupos de interesse e, ao mesmo tempo, capaz de desenvolver uma política social de interesse comum a longo prazo. Tratar-se-ia de uma versão brasileira de Estado moderno na linha da modernidade política que mesclaria as modernidades norte-americana e europeia social-democrática. Esse Estado deixaria “definitivamente para trás o ranço patrimonial, ineficiente, burocratizado, e autoritário, em benefício de uma estrutura mais moderna, eficiente, aberta a informações e inovações, e consciente de suas responsabilidades de condução da sociedade brasileira”. Portanto a tarefa da elite moderna da década de 1980 era retirar o país da história oliveiraviannista dominada pela separação entre Brasil legal (estrutura constitucional formal extemporânea) e Brasil real da política articulada pela cultura política oligárquica privatista. A conjuntura de 1980 deveria buscar um equilíbrio moderno liberal-conservado distinto do equilíbrio político da República Velha que combinava, em certo sentido, o pior dos mundos, o do liberalismo novecentista e do patrimonialismo burocrático ineficiente e autoritário. O PCPT retomará proximamente a discussão do Estado brasileiro confrontando Simon com o marxista revolucionário da USP, Octávio Ianni. Simón considerava Ianni o principal interlocutor da sua nova sociologia política carioca no campo do marxista da sociologia política paulista.  Como é um fato conhecido a sociologia de Simon se expandiu molecularmente entre a rede de amigos sociólogos do IUPERJ (Universidade Cândido Mendes). Ela jamais alcançou as universidades federais cariocas de ciências sociais. Mas ela gerou um choque simbólico com a ciência política de W.G. dos Santos descambando para uma crise molecular institucional que só se encerrou com a saída de Simón do IUPERJ. Este é o foi o acontecimento molécula mais espetacular da cultura política intelectual carioca nas últimas décadas. A vitória de W.G. dos Santos apenas significou a garantia do monopólio da esquerda liberal na instituição supracitada que acabou em nada com o desmantelamento do IUPERJ no século XXI. O trabalho do PCPT é fazer a reconstituição desse passado cultural para iniciar uma discussão sobre a relação dialética entre Estado e sociedade no campo da física da história! Passemos da crítica das armas para a arma da crítica das ideologias sociológicas no campo da física da história!

PSICOLOGIA POLÍTICA DA CRISE BRASILEIRA

Fui visitado por um amigo de longa data especializado em psicologia política brasileira (esta começa com Oliveira Vianna) com doutorado em neurociência nos USA. Ele é um interprete da história brasileira desde os bancos estudantis na UFRJ. Ele me a chamou a atenção para um contraste na cultura brasileira política da atualidade. Enquanto o estamento musical (”rural” e urbano) vende milhões de discos (enriquece) e emociona as massas disponíveis para a música cantando o amor em espetáculos oníricos barrocos que lembram Calderón de la Barca (“a vida é um sonho”), a classe política viva do ódio e para o ódio. Isso é o gozo da política no Brasil de 2015: “odeie”. A política se tornou em algum momento da República Pombalina de Itamar Franco o viver a política como paixão oligárquica arcaica: estado de guerra oligárquico! Esta é a melhor definição para o “homem cordial brasileiro” de Sérgio Buarque de Holanda. Tal homem brasileiro atual é um ser tomada pela ambivalência freudiana. Ele tem duas faces: a música brasileira (amor) e a política contemporânea: ÓDIO. Então, indaguei como foi produzida esta intersubjetividade da atualidade? Quando? Por quê? Ele me disse que estas questões fazem parte de uma investigação em andamento. A psicologia da crise procura capturar o momento que a crise atinge a intersubjetividade individual. O indivíduo não é o homo clausus. Althusser criou um conceito de crise leninista baseado na Revolução Russa. O elo mais débil da cadeia dos Estados imperialistas entra em um processo de fissão. A crise funde a ordem vigente por causa da acumulação da maior soma de contradições históricas então possível. Porque a Rússia era ao mesmo tempo, a nação mais atrasada e a mais avançada, contradição gigantesca que as suas classe dominante e dirigente, dividida entre si, não podiam eludir e muito menos resolver. O conceito formal articula o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo mundial na Rússia com o deslocamento e condensação das contradições para um ponto de fusão cuja última fronteira é a psicologia dos indivíduos. Aqui, os indivíduos quebram e mergulham no gozo que a cultura política dominante determina, no caso, brasileiro: façam a guerra interindividual no mundo da vida. Este é o ambiente cultural ideal para a existência do domínio das máquinas de guerra freudianas na política e no mundo-da-vida. Há no horizonte uma linha de força que parece pavimentar a estrada para a construção de uma Ordem sócio-política (o México parece fazer uma luta agônica com ela) na América pós-colonial. Trata-se da ORDEM DO MUNDO DAS MÁQUINAS DE GUERRA DO ENGENHO DA CANA-DE-AÇUCAR. O Brasil foi fundado por máquinas de guerra freudianas (Engenho de cana-de-açúcar, Entradas e Bandeiras). A crise catastrófica da episteme do capitalismo do Engenho parece anunciar um corte político epistêmico com a democracia realmente existente: democracia pombalina (democracia despótica). Vejamos outra linha de força! Em seu recente livro “A favor de Althusser”(Editora  Gramma), Luiz Eduardo Motta escreve: “A dialética defendida por Althusser no marxismo contém a negação por meio de rupturas, o que o aproxima das posições do maoísmo no campo teórico político” (pg 29). E nos ilumina: “O comunismo é uma fairmação construída a partir de uma negação radical e total do capitalismo. Não há conciliação possível entre esses dois modos de produção por conterem práticas completamente antagônicas e opostas umas ás outras” (pg 31). Althusser diz: “Por outras palavras a Rússia se encontrava em atraso com uma revolução burguesa às vésperas de uma revolução proletária, prenha, portanto, de duas revoluções, incapaz, mesmo adiando uma, de conter a outra. Lênin via correto ao discernir, em meio a essa situação excepcional e “sem saída” (para as classes dirigentes), as condições objetivas de uma revolução na Rússia, e ao forjar, nesse partido comunista que era uma cadeia sem elo débil, as condições subjetivas (intersubjetivas), o meio de assalto decisivo contra esse elo débil da cadeia do imperialismo”. O Brasil não fez sua revolução capitalista (burguesa) e a Globo News faz programas sobre a porcaria que é o capitalismo nos USA e na Europa, regiões que passaram pela revolução capitalista moderna. A consciência histórica burguesa significa um mínimo de racionalidade na cultura política e no comportamento individual e coletivo da classe dirigente. Introduzi o marxismo althusseriano revolucionário a partir da discussão que este canal de televisão está propondo como saída para crise brasileira, tal como entendida por Roberto Pontual e Elisabeth Carvalho. Como na Rússia de Lênin, a crise é a fusão da ausência de revolução burguesa e uma revolução proletária que já tem experiência no poder com a longa era Lula. Vocês esqueceram que Dilma Rousseff foi forjada no aço do marxismo revolucionário da luta armada contra a ditadura militar?       

DA SOCIOLOGIA ECLÉTICA À FÍSICA DA HISTÓRIA
Os jornalistas cobram das pessoas que fazem análise política uma formação universitária: ou de ciência política, ou de sociologia (política). Meu doutorado foi na área de sociologia com um ex-professor da sociologia da USP. Não existem estudos sobre o que é mais desenvolvido no país no campo das ciências sociais: sociologia, ciência política ou antropologia. Mas a sociologia da USP continua em voga na atualidade.  Raymond Aron diz que Montesquieu criou a sociologia política. Como é sabido, a palavra foi criada por Augusto Comte. A sociologia se desenvolveu com Marx que faz da sociedade de classes moderna capitalista industrial seu objeto. Se Marx é o grande pensador eclético do século XIX. Montesquieu é o maior eclético do século XVIII. Há uma disputa envolvendo o pensamento deste pensador eclético francês. Althusser escreveu: “Declarar Montesquieu o fundador da ciência política é uma verdade adquirida. Disse-o Auguste Comte, repetiu Durkheim e nunca ninguém contestou seriamente tal afirmação”. Então, a sociologia e a ciência política moderna nasceram alinhadas com o pensamento da cultura política intelectual eclética mundial. Isso é algo que gera um desgosto profundo no excepcional jurista brasileiro Celso de Mello. Como um intelectual avant la lettre moderno da comunidade jurídica brasileira (a modernidade política falta na nossa cultura política intelectual), ele crê que Montesquieu pensa com conceito imiscíveis: água e azeite. E diz que os fantásticos (em termos de cultura política intelectual) ministros STF são ecléticos. Ele é o último moderno disciplinar do STF?  
Já estabeleci em outra postagem que nosso pensador universal francês é um físico da história. Portanto, embora politicamente reacionário, a física de Montesquieu é um agir de pensamento que deixou de ser prisioneiro do século XVIII. Léon Brunschvicg considera o pensamento do fundador da sociologia política como essencialmente contraditório. Trata-se de um pensamento do universo infinito, que não totaliza, que não pode ser capturado pela cultura política intelectual totalitária. É um pensamento que já adianta conceitos dialéticos (contraconceitos) como o de espírito geral de uma nação que na física da história ressurge como cultura política nacional. O espírito geral é a maneira de ser, de agir, de pensar e de sentir de uma sociedade tal como o fizeram a geoistória. Ele governa homens, mulheres e crianças. Ele é o resultado do clima, da religião, das leis, das máximas do governo, dos exemplos das coisas passadas, dos costumes (moeurs), dos hábitos (maniéres). Outro contraconceito é o de máquina: “Essas máquinas, cujo objetivo é poupar esforço, nem sempre são úteis”. As máquinas que reduzem o tempo e trabalho necessário à produção de objetos manufaturados são sempre úteis - como conceito econômico (capitalista). A máquina moderna é um axioma indestrutível da episteme capitalista. O conceito capitalista de máquina é parte da concepção da história como progresso econômico que contaminou com a interpretação totalitária da história (economicismo) a dialética materialista de Marx e Engels.
Um outro conceito é o de estado de guerra como contraponto ao conceito de estado de guerra de Hobbes. Para Montesquieu, a guerra não tem como causa a natureza humana. O Freud da física também não concebe a guerra como associada à natureza humana. Só os psicanalistas continuam acreditando que a guerra tem a ver com uma agressividade derivada de pulsões, que, em última instância, tem a ver com o corpo. Para este pensador francês hegemônico, a guerra não tem origem no estado de natureza. Há um equívoco em associar a fórmula latina de Plautus (Homo homini lupus) com o conceito de homem. O lobo de face humana não é um homem; é uma máquina de guerra inútil para a humanidade, ele é a figura despótica que escraviza o homem. Montesquieu condena de modo radical escravidão e despotismo por serem contrários às características do homem enquanto homem. A guerra é um fenômeno social, é um laço social = sociedade. O físico Freud também caminha nesta estrada por onde passam Deus, homens, mulheres, crianças e mercadorias. Para Freud, a guerra é um contrasignificante da história mitológica que seduz a todos (quase todos), pois ela articula a realidade poética em contraposição à realidade prosaica do cotidiano do mundo-da-vida principalmente no capitalismo moderno desenvolvido. No século XXI, Montesquieu faz a junção entre sociologia e ciência política no campo da física da história. A universidade brasileira acha isso uma bagatela e os jornalistas dizem amém! É a miséria da cultura intelectual brasileira!      
A ERA LULA E A COMUNIDADE DE INFORMAÇÃO (“SNI”)
Com 16 anos em plena época de chumbo da ditadura militar, eu estudava no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Neste vivi a experiência de um poder despótico militar. A revolta contra tal poder foi uma fonte de conturbação que me assolou durante toda a juventude. Um dia desenhei na parede de uma sala (era uma bela parede sedutora) uma figura de um homem fumando ao lado de uma arvore desenhado por outro aluno. Nesse dia, saí mais cedo clandestinamente! Ao descobrirem, o general comandante do CM ordenou que todos os alunos fossem interrogados na saída. Como os alunos ficaram sabendo que eu era o autor do desenho, passaram a me odiar pelo sofrimento extra que o general impôs a eles. Tudo bem! Um dos alunos pressionado disse que ia me delatar. Então, me entreguei à justiça militar do Colégio. O capitão comandante da Infantaria era do SNI, e eu era da Infantaria. Ele se apressou a interpretar o desenho assim: “o homem fumando é um militar que está poluindo a natureza” (ele queria dizer, em sua boçalidade: natureza = política nacional). Ele propôs ao general comandante a minha expulsão imediata (que significava a perda de todos os meus direitos civis, inclusive o direito de estudar durante três anos, segundo ele mesmo me relatou). Ele queria que eu fosse enquadrado como terrorista. Este é o Colégio Militar da ditadura militar, um colégio muito deferente do Colégio Militar atual como pude comprovar em uma visita recente ao belo campus da Tijuca.
Na universidade, militava em uma organização marxista clandestina pacífica (política). O “SNI” (Comunidade de informação estatal formal e informal, legal e ilegal, em suma, criminosa a serviço do Urstaat militar) capturou o comitê regional da minha organização e durante dois meses interrogou e torturou meus companheiros. Escapei porque fui avisado para me evadir do Rio por uma companheira de outra organização! Por isso aplaudi o presidente Fernando Collor de Mello quando ele extinguiu o SNI. Collor desbaratou as redes de espionagem, assassinato e tortura que controlavam, no mundo invisível, a política brasileira. Por que José Genuíno resolveu recria a Comunidade de Informação? Ele não articulou apenas a ABIN (serviço formal de inteligência do Estado brasileiro). Genuíno e o governo Lula foram o motor da articulação formal e informal, legal e ilegal desta máquina de guerra criminosa de informação. O governo agiu conforme o espírito da cultura política brasileira? Montesquieu diz que um regime só se mantém na medida em que o sentimento que lhe é necessário existe no povo. O espírito geral de uma nação é o que mais contribui para manter esse sentimento, ou princípio, indispensável à continuidade do regime. A era lula interpretou corretamente a cultura política brasileira nacional? Trata-se de uma cultura totalitária que é o ambiente ideal para o cultivo e proliferação das máquinas de guerra terroristas, como o “SNI”. Enfim, a notícia no jornal diz que a comunidade de informação brasileira está ligada à CIA e ao FBI. Será possível que está em conceituação uma Comunidade de Informação capitalista mundial? Tal fato (e artefato) não torna mais crível a substituição da democracia pombalina (democracia despótica) – no conceito sociológico de Florestan Fernandes: “democracia forte” – por uma ordem mundial governada por máquinas de guerra tipicamente freudianas? Tal discussão já se encontra, pipocando, na web brasileira!   

A ERA LULA EM SI
A cultura política intelectual molecular brasileira é o motor da pessoalização mais da cultura intelectual do que da política em si. Tudo no Brasil é pessoal, privado ou íntimo, dandismo no meio intelectual. Não existe a lógica pública que faz funcionar o modo de produção intelectual hegemônico como direção intelectual e moral das massas. Assim, Deleuze diria que a cultura intelectual no Brasil é produção de besteira, pois descamba para a doxa, para a interpretação que explora a realidade como indeterminação. Portanto, a realidade jamais chega, na nossa cultura intelectual, a ser a síntese de múltiplas indeterminações (Marx). Ela é a síntese de múltiplas indeterminações! Para ser aquela é preciso desvendar a episteme que articula a política em si e a cultura política na política em si e no mundo-da-vida. A cultura política intelectual hegemônica é a política para si! A cultura política intelectual molecular é a política em si!
No modo de produção intelectual revolucionário (Lênin), a cultura intelectual revolucionária precisa do pensamento político contra a ordem e do agente que faça a ligação dele com as massas: o partido leninista na Rússia ou o Príncipe Moderno no Ocidente (Gramsci). A era lula possuía o pensamento político revolucionário materializado discursivamente na sociologia marxista de Florestan Fernandes e Octávio Ianni. Florestan foi deputado constituinte pelo PT e um elo de ligação com o MST e outros movimentos de massas. Ele e Ianni chegaram próximos de serem os intelectuais orgânicos das massas revolucionárias. Deste ângulo, o PT não se forjou como um partido revolucionário do tropicalismo modernista brasileiro? Ele não apareceu como um elo da revolução proletária tropicalista antecipada na cultura musical pelo tropicalismo de Gil, Caetano, Tom Zé, etc.? A era lula não é a revolução proletária interrompida do Partido dos Trabalhadores? O que interrompeu tal revolução? Primeiro o inextensivo modo de produção intelectual molecular. Florestan Fernandes não alcançou a posição de intelectual hegemônico na cultura brasileira. Acolhido pelas massas, seu pensamento não foi desenvolvido como cultura política intelectual para si. Ele ficou prisioneiro do gueto da sociologia da USP. Segundo, o PT chegou ao poder nacional através de Lula e José Dirceu. No lugar da hegemonia tropicalista petista, Lula e Dirceu fizeram um outro laço social na política em si, isto é, a articulação populista da política. A cultura política intelectual populista dirceu-lulista articulava a política nacional a partir de interesses econômicos improdutivos. Trata-se do interesse econômico do capital fictício mundial (oligarquia financeira mundial) e do interesse econômico das massas dos descamisados e pés-descalços (Bolsa-Família). Em tal cultura política, o PT era o elo mais débil da revolução populista que é um ersatz de revolução proletária. Nesta revolução, o proletariado é substituído pelo povo deserdado pelo capitalismo do Engenho, pelos “homens livres da ordem escravocrata”. A cultura política populista articula-se graças a inscrição na política em si do discurso do mestre colonial. Se Getúlio Vargas é o populismo republicano, Lula é o populismo colonial. Trata-se da reinvenção (repetição) do colonial como diferente, lúdico e sedutor. Seduzido por essa parede sedutora, fiz a defesa do populismo lulista no meu livro de 2002 “Capitalismo Corporativo Mundial”. Em um aspecto, eu estava certo, o populismo do século XXI é uma articulação da cultura política da sedução. Há muito que falar sobre isso ainda! Em 2015, a figura sedutora de Lula está à beira do colapso político total. O sedutor PT parece ter chegado ao fim da linha dessa estrada de ferro que liga Minas a lugar nenhum. Mas a elite política só consegue ver na sua frente a revolução populista ou então a revolução proletária tropicalista interrompida. A luta de classes não ocupa mais o centro da política mundial. Isso é um fato! Mas no Brasil ela parece ser determinante na CRISE BRASILEIRA. O hipermarxismo ler a realidade brasileira corretamente! A luta de classes bloqueia que o pais viva, pela primeira vez, o que Florestan designou como polarização utópica revolucionária do liberalismo político. As massas de agosto de 2015 não são simplesmente de direita, mas são burguesas em um sentido contrarrevolucionário. Elas agem articuladas pela lógica da cultura política conservadora do capitalismo do Engenho. Tais massas são a contrarrevolução da episteme do Engenho!  A TV Globo é a sua vanguarda na cultura intelectual eletrônica!  As massas de agosto agem para jogar na lata de lixo da história brasileira a revolução populista fracassada e a revolução proletária tropicalista interrompida!  Esta é a verdade da era lula! Aí Gil e Caetano cantam para o povo Israelense!
FÍSICA DA IDEOLOGIA
O conceito epistêmico original de ideologia (Marx) diz que a ideologia é uma linguagem que oculta a realidade. A crítica das ideologias foi o método criado por Marx que articulou o campo da crítica da economia política. A crítica (ciência) articulava uma outra linguagem distinta da ideologia como espelho não distorcido da história. Na história política intelectual, o significante ideologia se tornou um campo tático de lutas interpretativas que derivou em uma multiplicidade de significados do termo. Tal fenômeno acabou saturando e estilhaçando o significante. O pós-modernismo fundamentalista só fez jogar a pá de cal que sepultou o conceito na cultura intelectual mundial. A partir daí assim como não existe ideologia, não existe também realidade! Na história do marxismo, Gramsci estabeleceu que não existia a diferença entre ideologia e ciência. Tudo é ideologia. Talvez sob a influência de Lênin que concebeu a ideologia como uma arma na luta de classes. A luta de classe seria também um confronto entre a ideologia dominante e a ideologia dos dominados: marxismo revolucionário. No Prefácio à crítica da economia política, Marx escreveu que os homens levam as suas lutas até o fim no terreno das ideologias: formas de consciência; filosofia do SUJEITO. A algaravia em torno do significante resultou no relativismo jornalístico de que se uma universidade tem três mil professores, então existem três mil ideologias sobre cada tema que o jornalismo estabelece como pauta para os professores abordarem. Assim, o mundo da linguagem é um labirinto confuso do qual ninguém sai. Para a classe dominante isso é o jardim do Éden, pois não existe ideologia dominante que serve ao poder mundial capitalista, e, portanto, não existe classe dominante: apenas empresários éticos ou corruptos voltados para produzir riqueza para sua nação e o mundo. A besteira é o reino da linguagem como síntese de múltiplas indeterminações. O mundo é um conjunto de besteiras! Não é preciso pensar o mundo como realidade. Não existe classe dominante, elite no poder, oligarquia, patrimonialismo ou corrupção. A corrupção é uma invenção técnica da linguagem jurídica. O direito articula o mundo, julga as pessoas e as põe nas prisões ou as liberta. Se não existe ideologia, o direito articula-se como lógica fáctica, lógica dos fatos. Mas o direito não tem como impedir que o aparelho do direito ponha inocentes na cadeia ou os libertem. Tal funcionamento prático do direito mostra que o direito teórico não é infalível. As altas cortes de justiça existem para que os ministros-juízes estabeleçam o direito como diálogo e confronto na interpretação das leis e dos casos concretos. Assim, o direito torna-se o campo de conflito interpretativo entre ideologias jurídico-políticas quase universais condensadas nas pessoas dos juízes. Os juízes buscam a objetividade (e objetivar) tais ideologias). E se tais ideologias jurídicas existirem como um conjunto ideológico, uma linguagem que oculta a realidade? O direito não crê que a realidade não existe, pois ela é da lógica dos fatos. Uma coisa fundamental para a comunidade jurídica é ultrapassagem da antinomia direito/fato. A legitimidade da comunidade jurídica depende da adequação entre direito (linguagem jurídica) e fato (realidade). Hoje, o direito é a fonte mais poderosa da existência de uma ideologia dominante. Mas ele existe e funciona a partir de uma autonomia relativa em relação à visão de mundo da classe dominante: visão de mundo do capitalismo do Engenho Ele é a fonte racional e ilustrada de tal ideologia que significa autonomia relativa. No entanto, se o direito é uma linguagem que oculta a realidade – como já explanou o ministro Luís Roberto Barroso do STF –, isto significa que ele é um artefato simbólico do sistema de poder nacional. Tal sistema não existe solto no ar! Ele serve à dominação de classe, se a sociedade é uma sociedade de classes. Ah! Esqueci que não existe sociedade de classes no Brasil na interpretação dos procuradores federias do empreendimento Lava Jato. A física da história reconstrói o significante ideologia como contraconceito do hipermarxismo: um marxismo que é mais marxista que o próprio marxismo; um marxismo contratotalitário! Assim retornamos ao conceito ideologia de Marx no qual uma linguagem política dominante (linguagem da classe dirigente/dominante) oculta a realidade. Claro que o confronto e o diálogo para definir a realidade passa a ser o campo tático onde se desenvolvem as interpretações do significante ideologia. Designo este campo como cultura política intelectual. NO Brasil, este campo está subsumido à cultura política eletrônica! Esta é a fonte irracional e amargamente bárbara da ideologia do capitalismo do Engenho: ideologia fáctica dominante brasileira.

18 BRUMÁRIO DE DILMA ROUSSEFF?
Ao longo de quase 40 anos como professor ministrei cursos sobre o livro “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. No último curso, explorei a articulação entre estética e política através dos significantes grotesco político, tragédia histórica e epopeia histórica. Não existe nada que possa ser comparado a este livro de Marx no materialismo histórico, na sociologia política e na ciência política nem mesmo as análises de conjuntura de Lenin, Rosa Luxemburgo, Trotsky e Weber. A realidade do 18 Brumário é a sociedade de classes, o capitalismo francês e a Republica liberal-democrática. Lendo Marx com Lacan cheguei à conclusão que a realidade nacional é uma superposição de camadas de redes de significantes naturais (lógica dos fatos) com significantes culturais (lógica dos artefatos). A crise política catastrófica é o deslocamento das lógicas fácticas e artefácticas para um ponto de fusão. Um ponto no tempo-espaço onde natureza e cultura não se distinguem mais. Trata-se da realidade do real de Heidegger!  
A periodização do 18 Brumário diz sobre o Segundo período item 1. De 4 de maio a 25 de junho de 1848. Luta de todas as classes contra o proletariado. Derrota do proletariado nas jornadas de junho. No item 2. De 25 de junho a 10 de dezembro de 1848. Ditadura dos republicanos burgueses puros. Elaboração do projeto da Constituição. Proclamação do estado de sítio. A ditadura burguesa é posta à margem a 10 de dezembro com a eleição de Bonaparte para presidente. Terceiro período. Período da república constitucional e da Assembleia Legislativa nacional. Item 1. De 28 de maio a 13 de junho de 1849. Luta da pequena burguesia contra a burguesia e contra Bonaparte. Derrota da democracia pequeno-burguesa. Podemos ver aí as várias camadas de significantes: a) proletariado, burguesia, pequena-burguesia; b) republica constitucional, ditadura burguesa, governo de Bonaparte, bonapartismo afluído. Ao longo do texto vão aparecendo as outras redes em camadas de significantes naturais e culturais. Em agosto de 2015, formou-se um consenso contra (conceito do general Golbery do Couto e Silva) o governo Dilma/Lula/PT. O senador José Serra revelou este fenômeno para a televisão. Estamos no 25 de junho de 1848: luta de todas as classes contra o proletariado. Mas o presidente da Firjan Eduardo Eugênio Gouveia Vieira disse na televisão que esta luta era um salto para o abismo que ninguém no Brasil gostará de viver. Uma voz política da burguesia do capitalismo de commodities, Blairo Maggi disse - na Voz do Brasil - que a lógica do quanto pior melhor era um disparate, pois quanto pior, pior para o país. Parece que demos um salto para o item c do terceiro período. c) De 11 de abril de 1851 a 9 de outubro de 1851. Tentativas de revisão, fusão, prorrogação. O partido da ordem se decompõe em suas partes integrantes. TORNA-SE DEFINITIVA A RUPTURA DO PARLAMENTO BURGUÊS E DA IMPRENSA BURGUESA COM A MASSA DA BURGUESIA.
Blairo e Gouveia Vieira falam pela massa da burguesia, eles são a personificação do capital no capitalismo brasileiro. Estamos diante de uma ruptura entre a classe (econômica) dominante e a classe dirigente na política e na cultura política eletrônica, de papel e do rádio.  A pequena-burguesia e a classe média que estão sendo disponibilizados para tomar de assalto (insufladas pela televisão) as ruas em 16 de agosto não são similares a pequena-burguesia liberal-democrática francesa. Elas são o efeito da revolução conservadora que quer desintegrar, inclusive no imaginário nacional, a revolução proletária tropicalista interrompida e a revolução populista/patrimonialista fracassada por causa da crise econômica estrutural. Tal confronto grandioso foi percebido pelos nossos grandes burgueses como um acontecimento que pode jogar o pais no caos político e por tabela também no caos econômico. Quem viveu a década de 1980 sabe muito bem o que é a economia funcionar pela lógica do caos. Estes heróis burgueses estão olhando também para a Venezuela! É surpreendente que a consciência burguesia diga: basta de ódio político! Que ela emerja como a última casamata da consciência histórica nacional em uma conjuntura na qual o cérebro da juventude não metaboliza mais o significante Nação. A grande burguesia urbano-rural parece gritar para todos que existe esperança para o Brasil. O princípio esperança é o motor utópica de seu agir. Ele pode se transformar em uma praxis histórica? A classe economicamente dominante resolveu coser um ponto de basta no estado de loucura narcísica (em junção com o instinto de morte) que se apossou da classe dirigente. Para um físico da história a grandiosidade da crise brasileira mostra que existem forças sociais que podem condensar energias míticas acumuladas (e em circulação) capazes de serem desviadas para evitar a tragédia política (contraconceito da física) brasileira do século XXI.   

CULTURA POLÍTICA DA PHRONESIS/NAÇÃO
Os contraconceitos não são conceitos fixados no firmamento como as estrelas; o que são, são em conceituação em uma situação concreta na qual nos encontramos. Assim, para determina-los é preciso restituí-lo ao uso e a aplicação que faz deles a consciência ética. Na Phronesis aristotélica, o saber ético engloba de uma forma original nosso conhecimento dos fins e dos meios e se opõe precisamente deste ponto de vista à política como saber técnico maquiavélico para tomar e conservar o poder nacional na modernidade e na era pós-modernista. O saber técnico da política vê o outro como inimigo a ser destituído ou aniquilado. Isto depende da linha de força histórica que sustenta O INIMIGO no presente e no futuro. O saber ético pressupõe a compreensão do outro como Outro, do outro imaginário inscrito no Grande Outro, no campo simbólico. Um partido ou um líder deve compreender o partido ou o líder competidor não apenas como um partido ou um líder particular, mas como um partido ou um líder inscrito no Grande Outro (Nação). Isto supõe um compromisso por uma causa justa, compromisso que descobre quem se põe no lugar do outro inscrito no campo simbólico. Isto se observa no fenômeno do conselho moral. Só se recebe e só se dá um bom conselho unicamente entre amigos. Trata-se de uma relação entre um e outro, uns e outros, que não pode ser a relação de duas coisas que não tem nada a ver uma com a outra: imaginário como perda de energia narcísica (mito) para o outro. Trata-se do outro como vampiro da energia do um. No simbólico, a relação de um com outro (do outro com um) é regida pela lógica da afinidade. Esta lógica distingue o partido/Igreja do partido/seita. O primeiro se orienta pelo justo relativo a situação ética concreta na qual se encontra. O segundo pela dialética das paixões facciosas. O partido/Igreja se articula em uma cultura política da phronesis. Nesta a imagem que forma o homem de si mesmo, isto é, daquilo que quer e deve ser, está constituída por ideias diretrizes como o direito (e o evitar a injustiça), a coragem e a solidariedade. A seita é parte de uma cultura política articulada por uma interpretação de que a injustiça (fazer o bem para os amigos e prejudicar os outros) estrutura o mundo. Com efeito, pertence a essência do fenômeno ético que o agente saiba não só decidir-se à ação, como também deva ele mesmo saber e compreender como deve atuar, carga da qual ele não poderá nunca se liberar. Assim, a reflexão ética contribui para a clarificação e concreção da consciência histórica nacional. A estrutura existencial do “pro-jeto arrojado nacional” - fundamento da compreensão como operação significante do estar-aí nacional - é a estrutura que se encontra na base da compreensão tal como se efetua no bloco histórico epitêmico hegemônico. Os lugares concretos que representam uma moral ou uma tradição, mas geralmente as condições históricas concretas, inclusive as possibilidades futuras que elas implicam, definem do que se trata no interior da compreensão própria da cultura política intelectual nacional. A compreensão de uma tradição histórica trará consigo, ela também e necessariamente, a pegada da estrutura existencial do estar-aí no mundo-da-vida nacional. Trata-se do reconhecimento da realidade concreta dos homens, mulheres e crianças. Trata-se de um desenvolvimento e uma continuação daquilo que reconhecemos como sendo o lugar concreto entre todos nós! No entanto, a consciência histórica moderna deve tomar a tradição como o estranho, não como factum brutum, ente subsistente que articula nosso seer. A “verstehen” (“compreender”) significa não apenas compreender o significado de algo, mas um ato de conhecer, um “conhecer-se em algo”, um saber como reencontrar-se nisso. Compreender é um processo de simbolização do texto como acontecimento histórico ou como o espírito objetivo de Hegel cujo reino engloba toda forma de vida humana em suas linguagens, em valores morais, em suas formas jurídicas, em sua forma estatal. O conceito materialista de espírito objetivo teria que englobar a simbolização da forma econômica. O bloco epistêmico moderno (hegemônico) contém a possibilidade do processo de simbolização para resolver a crise nacional, se for o caso com a revolução dentro da ordem epistêmica capitalista mundial. O bloco epistêmico oligárquico (molecular) não contém a negação de si como um recurso evolutivo para romper com o capitalismo oligárquico do Engenho. A nação brasileira jamais deixou de ser a nação do engenho de cana-de-açúcar. A modernidade política são apenas os fumos de Machado de Assis: puro fantasma abstrato. Um cronista da época colonial tardia disse: cada engenho é uma república. Os partidos do Engenho estão fadados a serem seitas e os líderes senhores do Engenho, ou no máximo barões do Império na República oligárquico/pombalina de Itamar Franco. Tal tradição pesa como chumbo (sentido sólido) no cérebro dos líderes políticos, inclusive daqueles que se consideram modernos como FHC e José Serra!    

HIPERMARXISMO E PODER
Marx conceituou o significante poder como poder de classe e poder de Estado. A distinção nas formas do significante abre o campo da física da história para uma analítica marxista pós/pós-modernista do poder. O poder de classe é (primeiro) o poder econômico da classe dominante na sociedade civil marxo-hegeliana. Trata-se, é claro, do poder do capital. Mas o poder de classe não precisa ser econômico. É o caso do poder da classe operária que é um “contrapoder”, como o define Ralph Miliband no seu livro “Marxismo e Política” (Ed. Zahar: 56). A classe operária só é uma classe para si se adquirir a capacidade de organizar-se politicamente (Idem: 27). Toda luta de classe é uma luta política! O poder do Estado é o poder da classe dirigente. (Todo poder econômico, social etc. é também um poder político). Gramsci criou a ciência marxista da política em um confronto/diálogo com a “teoria das elites” de Pareto, Mosca e Michels. A divisão entre a classe dominante (Marx) e classe dirigente (teoria das elites) foi um passo atrás e dois à frente para a integração do marxismo ao campo da física como hipermarxismo: um marxismo que é mais marxista que o próprio marxismo.
A distinção de Weber entre poder e dominação é parte da episteme intelectual que funcionou como um buraco negro sociológico que tragou a conceituação marxista do poder no campo da cultura política intelectual mundial universitária. Décadas depois, a episteme política/filosófica pós-modernista (Baudrillard, Jameson, Foucault, Deleuze, Derrida, Lyotard) desintegraria de vez o significante poder marxista. Isto foi altamente funcional para as classes dominante que viu como em um raio em um céu azul a sua caraterização como uma entidade desprovida de poder político. O pós-modernismo é a ideologia mundial capitalista da era do CCM (capitalismo corporativo mundial). Como ele se tornou uma segunda natureza da cultura política intelectual, passou a agir como um poder invisível. Então, é prudente fazer a distinção entre o poder de Estado e o poder simbólico. O primeiro é o poder da classe política sobre o aparelho de Estado ampliado que incluiu as instituições da sociedade civil. O segundo é o poder de interpretar a realidade. No Brasil, o monopólio da interpretação da realidade para as massas populares e para a maioria da classe média encontra-se nas mãos e no cérebro da cultura política eletrônica. Note-se a divisão na classe dirigente entre classe política que detém o poder de Estado e classe simbólica que detém o poder de interpretar a realidade. O aparelho (ou a instituição) não detém o poder. O poder existe e funciona em uma cultura política concreta. Os agentes do poder existem em um quadro global relações de forças no espaço-tempo das culturas políticas. Ele é a condensação de relações de forças nos aparelhos (instituições) e máquinas de guerra na política em si e na política do mundo-da-vida. Restaurar a microfísica do poder de Foucault no campo da física da história não é uma tarefa essencial para a analítica do pequeno poder? Mas também se faz urgente a analítica hipermarxista do grande poder. O contraconceito de bloco histórico epistêmico é parte da região marxista da física da história. Ele é a geoistória do grande poder político: social, econômico, de Estado e simbólico. Tal estrutura de pensamento do contrasignificante poder diz que o poder é estrutura realizada, atualizada (e como repetição)  em uma praxis hitórica. Ele é parte de um devir da forma/poder como metamorfose histórica. O camaleão muda sua cor como autodefesa contra o ambiente. O camaleão é um significante natural inscrito no quadro global natural/artificial das relações de forças. O poder político muda de forma para se adaptar ao quadro global das relações de forças no conjunto sociedade/Estado que define uma conjuntura histórica.  A propósito, a física precisa ir além do significante lacaniano, pois este é limitado por ser um significante estruturalista separado da praxis histórica. O estruturalismo de Lacan foi a autodefesa do campo freudiano para impedir que a psicanálise fosse tragada pela episteme pós-modernista. No entanto, os freudianos precisam investigar se o estruturalismo lacaniano também não foi absorvido pelo buraco negro pós-modernista que acabou liberando, no Seminário 20, Lacan da escravidão estruturalista!      

O GOLPE E ESTADO DE MICHEL TEMER

Antônio Carlos Magalhães (ACM) imortalizou Michel Temer no anedotário político nacional ao dizer que ele tem “pose de mordomo de filme de terror”. O golpe de estado pombalino do mordomo de Dilma Rousseff está em todos os jornais inclusive no New York Times. Estariam no golpe a Fiesp e a Firjan representando o capital quase produtivo, o Brasdesco representando o capital fictício local , Blairo Maggi como voz do capitalismo de commodities. O Grupo Globo teria rompido seu laço social com o PSDB abandonado também por seu principal filósofo, o uspiano José Arthur Giannotti: “O PSDB nunca foi um partido. Sempre foi muito mais uma reunião de caciques que têm as suas posições. A ideologia não é o forte do PSDB. O que o partido está fazendo, na Câmara, é uma oposição fraca ao Governo, sem levar em conta que são seus próprios princípios que estão em jogo”. O que tornou o PSDB um partido oco, sem princípios? A noção de ideologia de Giannotti ignora o conceito de ideologia de Marx: linguagem da classe dominante/dirigente que oculta a realidade. É um fato estranho, pois Giannotti é um especialista em Marx. Assim como o PSDB é oco de princípios, Giannotti nega seu passado marxista. Qual a atual situação política?
O poder do capital (poder econômico) teria se articulado com o PMDB para dar um golpe na República Democrática Pombalina de 1988? A burguesia brasileira com o apoio da oligarquia financeira mundial faz da política brasileira o palco da luta de classes que não ocupa mais o centro da política mundial. Trata-se e uma revolução conservadora da ordem. Qual ordem? Da ordem do capitalismo do Engenho de cana-de-açúcar. O PMDB é o partido grande máquina de guerra cortesã de tal ORDEM! Ele vai usar a violência simbólica sem limite contra o governo eleito de Dilma Rousseff no qual ele ocupa o posto da vice-presidência e vários ministérios. O mordomo conspira e assassina o seu senhor (senhora), ele é sempre o culpado: “No dia seguinte, empresários, por meio das federações das indústrias de São Paulo e do Rio (Fiesp e Firjan), decidiram se manifestar, usando como gancho o alerta do vice-presidente Michel Temer, que pouco antes da fatídica votação havia pedido que alguém assumisse o compromisso de unir o país para evitar o agravamento da crise. ‘O momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil’, dizia a nota assinada pelas duas federações, afirmando que o Brasil não pode se permitir mais irresponsabilidades fiscais. ‘É hora de colocar de lado ambições pessoais ou partidárias e mirar o interesse maior do Brasil’, continuava a nota, cobrando dos representantes políticos eleitos a defesa de pleitos legítimos”. As várias frações urbano/rural do capital teriam se unificado no bloco-no-poder para desfechar um golpe de Estado com o mordomo da presidenta? O poder econômico parece apontar uma solução para a crise política? O poder simbólico está dividido neste exato momento. A revista Veja apoia o golpe de Estado frio do PSDB com o TSE (uma decisão política baseada em um simulacro de técnica jurídica) que destituiria Dilma e seu mordomo. O Grupo Globo lavou as mãos como Pilatos. Gato tem medo de água fria! Os golpistas dizem que o golpe vai ser constitucional, que impeachment e o TSE tornam a derrubada de Dilma um fato da ordem jurídica. A ordem jurídica brasileira é um simulacro de simulação de ordem jurídica liberal-democrática. Mas senhores, trata-se da luta de classes feita por meios de simulacros  jurídicos! Uma revolução conservadora quer fazer desmoronar de vez a revolução proletária tropicalista interrompida e a revolução populista patrimonialista. Nesta revolução conservadora da ordem oligárquico-pombalina do engenho, o capital é o lobo de face humana, é uma máquina de guerra freudiana econômica contra a classe operária e o povo dos escamisados e pés-descalços. A hora das máquinas de guerra chegou na política brasileira? Agora, a política funcionar pelo princípio da realidade freudiana. Esta é um poder despótico (totalitário) que subsume o princípio do prazer na política. Trata-se da realidade prosaica (vulgar) da luta da classe dominante contra a classe operária e o povo pobre que aniquila a possibilidade da política como realidade poética. Ao contrário do que disse o presidente do Bradesco, não há grandeza em tal acontecimento. O golpe de Estado do PMDB vai decompor a classe política em suas partes integrantes. Franca ruptura do Parlamento consigo próprio? São grandes as possibilidades do impeachment naufragar? Os burgueses parecem não saber nada sobre a crise brasileira? Eles não sabem que estão dando um empurrão para ela se tornar uma crise catastrófica do Estado brasileiro? A luta de classes pode instalar a guerra civil em uma realidade brasileira tomada pelo estado de guerra permanente no mundo-da-vida: guerra molecular! Se os burgueses não sabem, eu digo que o PMDB é uma máquina de guerra oligárquica ligada a uma cultura política totalitária colonial que cultiva o estado de guerra oligárquico permanente. Os burgueses são boçais, ignorantes e estúpidos? Jamais pensam na Nação? Este é o retrato que Florestan pintou sobe a burguesia local no seu monumental “Revolução burguesa no Brasil”!        

O GOLPE DE ESTADO DO CAPITAL MUNDIAL
A crise conjuntural é deslocamento e condensação das contradições estruturais e conjunturais. Há uma nítida aceleração da história na crise brasileira de 2015. O segredo da periodização da crise política está contido no “O 18 Brumário e Luís Bonaparte”. Os estágios da crise (do foguete espacial que para acelerar e progredir - para além da estratosfera - tem que ejetar partes suas) são observados pela entrada no proscênio do palco da política das forças sociais, econômicas, culturais e políticas. O estágio inicial da crise brasileira é dado pela luta política entre os partidos que fazem suas lutas no aparelho de Estado, principalmente nos confrontos internos ao Legislativo e no confronto do Legislativo com o governo. A entrada do poder judiciário neste conflito pode periodizar a crise em um determinado sentido e rumo político. No caso da crise política atual, observem a política do juiz Sérgio Moro/Procuradoria Federal/ Polícia Federal/ TCU/TSE. As massas são outra força da periodização da política. A entrada delas na crise significa que a autonomia absoluta da política em relação à sociedade civil transformou-se em autonomia relativa. O impeachment de Dilma Rousseff pode sofrer uma inflexão com as massas da revolução conservadora paulista do dia 16 de agosto de 2015. Tais massas periodizarão a crise, jogarão a crise para um estágio superior. Na crise do governo Collor, um FHC dialético disse: “se as massas não forem para a rua, não haverá impeachment”! 
Portanto, quais são as forças que agenciam as massas de agosto? Estas forças são o grande poder político em suas diferentes formas. As forças são as classes envolvidas na luta de classes aberta que retornou ao país. Quais classes? Obviamente a burguesia e o proletariado. Mas também grupos sociais indeterminados com ausência de adscrição de classe: as massas populares, por exemplo. Mas é preciso aquilatar o peso de classes sempre em “transição” entre a burguesia e o proletariado: pequena-burguesia tradicional e classe média ou nova pequena-burguesia na atual conjuntura. Mas as classes são dominantes, dominadas e classe dirigente. A classe dominante ou burguesia se define pelo poder do capital. Este poder é um poder econômico mundial que na crise política funciona como um poder político fatal. A classe dirigente se subdivide em classe política e classe simbólica (os intelectuais em si de Gramsci). A classe política é aquela que detém o poder do Estado, o poder sobre o aparelho de Estado ampliado. No que interessa aqui, a classe simbólica se define pelo usufruto do poder simbólico, o poder de interpretar a realidade para as massas. Poder decisivo na crise política! É preciso não confundir o poder da classe com o domínio sobre o aparelho (ou instituição). O aparelho não gera poder, este é articulado na relação das classes com o campo da cultura política intelectual. Há autonomia relativa entre os poderes políticos (poder econômico, poder de Estado e poder simbólico) que define o agir deles nas situações normais. No entanto na crise política catastrófica, o poder do capital (poder econômico) pode funcionar como um determinismo político sobre os outros poderes. Quando isto acontece, o poder do capital já produziu a entrada da conjuntura no estágio final da crise conjuntural, mas não da crise política estrutural. O poder do capital tornou-se protagonista da crise na semana que começa no dia 7 para o dia 8 de agosto. O poder simbólico hoje se resume à corporação capitalista quase mundial com a roupagem jurídica Grupo Globo. Os donos desta corporação capitalista simbólica são a família Marinha, do antigo patriarca Roberto Marinho, já falecido, envolvido em vários golpes de Estado como o golpe de 1964 e o golpe pombalino itamar franco sobre  o governo Collor de Mello. Em editorial, o Grupo Globo definiu sua posição como de distanciamento jornalístico da crise ás vésperas das massas de agosto tomarem a rua, principalmente de São Paulo e do Rio de Janeiro, estados governados pelo PSDB e PMDB, os dois partidos golpistas principais. Quando o poder do capital (Oligarquia financeira mundial/capital produtivo privado/capital bancário brasileiro, capital de commodities/capital comercial) se decidiu pelo golpe pombalino como bloco-no-poder contra o governo Dilma Rousseff, o poder simbólico capitalista se viu metido em “uma camisa de onze varas” (A expressão "meter-se em camisa de onze varas", hoje pouco usada para significar que alguém está em dificuldades, teve origem em antiga medida inglesa, a vara, equivalente a um metro e dez centímetros. Era o comprimento, determinado por lei, para a camisola que condenados à morte deviam vestir ao subir no patíbulo). O poder do capital (da grande burguesia) sobre o poder simbólico capitalista (Grupo Globo) é palpável. Trata-se de um poder que é mediado pela publicidade. O Grupo Globo vive do capital da publicidade e dos empréstimos do capital bancário. Às vezes recorre ao capital estatal privado! O capital funciona em redes de subsunção formal e real do trabalho ao capital. Trata-se da relação capitalista como relação coercitiva não-violenta, coerção do capital sobre o trabalho para produção da mais-valia. Tal coerção capitalista pode ser exportada para o espaço político nas relações entre o poder econômico do capital e o poder simbólico? A subsunção do capital simbólico ao capital em si (econômico) é similar à subsunção formal do trabalho ao capital, só que estabelecida entre formas do capital! O capital em si pode afetar a produção de lucro do capital simbólico sem se imiscuir no processo de produção do excedente deste. Trata-se de uma relação de exterioridade formal entre o capital econômico e o capital simbólico.
A entrada na cena política do capital em si como protagonista do golpe (luta de classe do capital contra o trabalho em estado de inércia política) imprime um ritmo fatal para o governo) na crise política. Claro que o rumo da crise pode sofrer mudanças dependendo do agir do capital. A solução da crise política não é uma linha reta traçada entre dos pontos do equilátero político! Mas o capital como fato político vai definir o rumo da conjuntura governamental. Então, o capital simbólico vai manter sua autonomia relativa em relação ao capital em si, ou vai perdê-la na semana de agosto da revolução conservadora das massas do sudeste do país? Não é preciso muito esforça para perceber que o mesmo quadro global de relações de forças (que quebrou em pedaços contraditórios Fernando Henrique Cardoso) encontra-se agora condensando no Grupo Globo. Esta corporação capitalista simbólica tornou-se o centro tático da luta entre o bloco-no-poder e o governo Dilma Rousseff. Os marxistas tradicionais são incapazes de compreender este tipo de análise de conjuntura, pois ela é realizada pelo contraconceito de conjuntura do hipermarxismo: do campo da física da história. Mas no Brasil, qualquer atividade intelectual é considerada apenas como palavras lançadas aos dromedários, sendo assim Cristo pregando no deserto de homens e ideias. O Grupo Globo vai agir agora heroicamente para dissolver a lógica pombalina do golpe de Estado? Ele vai se pôr como parte da política normal contra o estado de surto narcísico que envolveu até o poder do capital em si?        

NORMAL (ETHOS) E PATOLÓGICO (PATHOS) NA POLÍTICA.
Paul Krugman diz que os candidatos republicanos estão loucos. Eles não ouvem mais o estamento intelectual americano que assegura o funcionamento da cultura política intelectual hegemônica nos USA. Um capital público (estatal e privado) de bilhões de dólares é gasto para manter o bloco histórico epistêmico hegemônico funcionando na América do Norte. No Brasil, a história é outra. O estamento intelectual é uma peça do bloco histórico epistêmico oligárquico do Engenho. A cultura intelectual brasileira é movida pela lógica molécula inextensiva, avesso da articulação hegemônica da política. Hoje, a cultura política intelectual eletrônica ocupa o lugar de um simulacro de hegemonia. Isto não é um xingamento ao pós-modernismo assim como Marx não fez a Ideologia Alemã para simplesmente xingar os filósofos desconstruídos como artefato ideológico. Vamos ao busílis da questão. A esquerda brasileira é conduzida por ideologias, entre elas o marxismo tradicional que é apenas uma ideologia teimosa (que não quer admitir a própria morte) que quer sair da sepultura como no filme americano Zumbilândia, pois este filme é a condensação metafórica de todos os filmes sobre zumbis americanos.
A ideologia marxista zumbi se caracteriza por não saber que sabe que estava fazendo uma revolução populista patrimonialista. Dilma Rousseff na comemoração de uma data do programa Mais Médicos soltou no ar a seguinte frase: “eu queria fazer uma revolução”. Ninguém no bloco histórico capitalista do país prestou atenção nesta fórmula que explica a política brasileira da ERA Lula/Dilma. Ela explica que a crise brasileira conjuntural é fruto desta revolução populista patrimonialista; CORRUPÇÃO. Dillma disse em algum momento: “vamos fazer o ajuste fiscal, e depois tudo volta ao normal”. A política normal é a revolução populista patrimonialista. Mas os marxista tradicionais-zumbis não sabem nada sobre isso. Se soubessem teriam que metabolizar que esta revolução se faz dentro da ordem do capitalismo do engenho em uma versão ligada aos interesses improdutivos do pais: capital fictício e povo dos pés-descalços e descamisados! É louvável que o governo tenha transformado uma parcela do capital estatal em capital público a ser gasto com o povo mais humilde. Mas ele também encheu as burras dos bancos de capital nacional: de RIQUEZA PÚBLICA. Lula é amigo pessoal de uma família de banqueiros que sustenta a única revista (de grande circulação) marxista tradicional no país: ideologia marxista pura! A revista entrou em crise com a crise catastrófica da revolução populista. Ela não sabia que era uma revolução populista patrimonialista. Acreditem!
A revolução populista patrimonialista é a estrutura nacional que articulou uma cultura política lumpesinal burguesa que se apoderou do lugar hegemônico do bloco-no-poder em crise para levar adiante o saque ilimitado da Petrobrás. A lúmpen-burguesia é a causa societal e econômica da crise brasileira conjuntural. Entretanto na política em si, temos outra causa. Trata-se do fenômeno autodesignado pelos petistas de “HEGEMONIA PETISTA”. Esta significa que o PT existe para viver a política na democracia atual através do monopólio do poder nacional até que a democracia entre em colapso. Depois do colapso, o PT quer continuar no poder nacional com o seu projeto de “hegemonia petista”? Tal política não é a política de Marx, Engels, Lenin ou Mao Tse Tung. A concepção da política destes era a revolução proletária levada até o fim, que significava a destruição do próprio conceito de poder político!
A episteme política que articula o PT é a episteme vulgar conhecida pelo nome de maquiavelismo. Neste a política é assalto ao poder e conservação do poder custe o que custar, inclusive o fim do significante REPUBLICA DEMOCRÁTICA!  Trata-se da política cujo o único fim é o gozo eterno do poder político. Na linha do realismo político, Weber definiu a “política” assim: “Que pratica política, reclama poder: poder como meio ao serviço de outros fins – ideais ou egoísta -, ou poder ‘pelo próprio poder’, para deleitar-se com a sensação de prestígio que proporciona” (Economia e Sociedade. v. 2: 526. UNB). A política normal é um equilíbrio entre o egoísmo e a busca de fins ideais. Trata-se da política nacional, é claro! Na sociedade brasileira, o egoísmo é parte da intersubjetividade nacional como herança do individualismo da cultura política oligárquica colonial. Quando o partido esquece a Nação, trata-se da política patológica. Uma população de cerca de 200.000 milhões de habitantes vive em um país em processo articulado pela lógica do desmoronamento geoistórico do significante Brasil. A revolução populista patrimonialista é a causa suficiente de tal crise. A revolução populista de esquerda acabou, fracassou! O bloco histórico epistêmico capitalista mundial considera o Brasil uma economia tática para a sua reprodução capitalista ampliada no futuro próximo. O PT vai começar a revolução proletária do século XXI no Brasil? Com que roupa crítico-pratica? Nas “Teses sobre Feuerbach” que o marxismo brasileiro ignora calculadamente, Marx diz que a revolução é o contrasignificante que sobredetermina a cadeia de significantes do marxismo como ciência que se autoconstrói pela crítica das ideologias filosóficas, sendo a filosofia a arma sublime de qualquer ideologia dominante que tenha autoestima. A ideologia se define por ser uma interpretação da realidade do real que foraclui a revolução real dentro da ordem e a revolução contra a ordem: revolução em si. Por isso a ideologia é a fonte da vida da cultura política conservadora. O marxismo tradicional brasileiro existente foraclui de sua linguagem morta o significante revolução seja dentro da ordem, seja contra a ordem. A revolução populista patrimonialista é um simulacro de simulação de revolução! Notem que a revista Piauí em toda a sua existência jamais usou o significante revolução brasileira. Ela é parte do dandismo marxista tradicional ligado à episteme do capitalismo do engenho de cana-de-açúcar. O banco e o engenho eram um xifópago econômico. Se ainda não está claro, clarifiquemos! O PCPT é a arma crítica-revolucionária que mostra que a esquerda marxista brasileira é uma esquerda ideológica e que, - ao contrário do hipermarxismo que é uma contraciência – , encontra-se articulada por um marxismo-leninista morto e sepultado pela história do século XXI!     

DO PRÍNCIPE ELETRÔNICO AO PRÍNCIPE SIMBÓLICO
Na cultura política intelectual, a política como atividade do Príncipe começa no Renascimento com Maquiavel. Gramsci desfechou um golpe de Estado literário na cultura intelectual (Machado de Assis) mundial ao mostrar a inflexão histórica com a substituição do Príncipe renascentista pelo Príncipe moderno. Octávio Ianni publicou um texto em 1998 que trata de uma nova inflexão da política com a tomada do proscênio da política pelo Príncipe Eletrônico (“O Príncipe Eletrônico”. Primeira Versão. IFCH/UNICAMP). Sigo o texto livremente. “Para Maquiavel, o Príncipe é uma pessoa, uma figura política, o líder carismático ou condottiero, capaz de articular inteligentemente as suas qualidades de atuação e liderança (virtù) e as condições sócio-políticas (fortuna) nas quais deve atuar” (pg. 6). No essencial, o Príncipe é uma biografia individual se equilibrando entre a virtù e a fortuna. Trata-se do Príncipe Real! Em Maquiavel não existe ainda o conceito hegemonia em um sentido moderno. Na cultura política intelectual, Hegel elaborou tal conceito no início do século XIX como  direção morla e intelectual de um país. Gramsci é a junção e condensação de várias linhas de forças da cultura política intelectual, incluindo o realismo de Maquiavel e a dialética hegeliana. Seu ecletismo marxista não fica devendo nada ao ecletismo da filosofia de St°. Agostinho. Gramsci concebeu o conceito Príncipe moderno: “Para Gramsci, o moderno príncipe já não é uma pessoa, figura política, líder ou condottiero, visto como personificação, síntese e galvanização da Política, mas uma organização?” (pg. 7). Não se trata da passagem do indivíduo para o grupal, mas da passagem do indivíduo para a instituição pública! Com Gramsci, a função de interpretação da realidade para as massas deixa de estar condensada em uma biografia individual. Ela torna-se um monopólio do partido (instituição pública) como intelectual orgânico de uma classe universal, o proletariado. O partido comunista é o aspecto teórico da revolução social e o proletariado o aspecto prático. Trata-se portanto, rigorosamente, da praxis histórica. Gramsci concebe o Príncipe a partir do mito sorelliano, isto é, “uma ideologia política que se apresenta não como fria utopia ou como raciocínio doutrinário, mas como uma criação da fantasia concreta que opera sobre um povo disperso e pulverizado para suscitar e organizar uma vontade coletiva” (Gramsci. Quaderni del Carcere. V. III: 1556). Então, o Príncipe moderno não é uma mera articulação racional (conceito vulgar-moderno de ideologia política), mas um partido político que estabelece ligações da razão moderna com a história mitológica (contraciência marxista da política) de uma nação através de sua autocriação como fantasia concreta. Ele é o Príncipe Ideológico gramsciano.   Trata-se do trabalho político de organização de um povo disperso e pulverizado em multidão articulada como consciência histórica em uma determinada conjuntura histórica revolucionária. Além da virtù e da Fortuna, o Príncipe Ideológico articula hegemonia como direção intelectual e moral de um pais dotado de soberania nacional.   
Octávio Ianni pensa a passagem da modernidade política para o pós-modernismo político através do Príncipe Eletrônico. Este é o “Intelectual orgânico dos grupos, classes ou blocos de poder dominantes, em escala nacional ou mundial. Um intelectual orgânico coletivo, já que sintetiza a atividade, o descortino e as formulações de várias categorias de intelectuais: jornalistas e sociólogos, locutores e atores escritores e animadores, âncoras e debatedores, técnicos e engenheiros, psicólogos e publicitários; todos mobilizando tecnologias eletrônicas, informáticas e cibernéticas como técnicas sociais de alcance local, nacional e mundial. Essa é, em larga medida, a fábrica da hegemonia e da soberania, que teriam sido prerrogativas do Príncipe de Maquiavel e do Moderno Príncipe de Gramsci. Agora é o Príncipe eletrônico que detém a faculdade de trabalhar a virtù e a fortuna, a hegemonia e a soberania; ou o problema e a solução, a crise e a salvação, o exorcismo e a sublimação. Assim se instaura o imenso ágora eletrônico”(Ianni: 30). Como intelectual coletivo orgânico, o Príncipe eletrônico, com efeito, é exatamente a classe simbólica operando em um processo catártico com a multidão. Ele é um fenômeno da estética como fantasia eletrônica (Ianni: 27, 29). Mas o que é o Príncipe eletrônico como figura política nova no campo da teoria e da prática da política? Octávio diz que ele é uma criação da indústria cultural (pg. 25). Ou seja, ele é articulado pela e na cultura política intelectual eletrônica. O Príncipe de Maquiavel tem a biografia de um indivíduo mitológico como significante-suporte. O Príncipe gramsciano tem o partido comunista como suporte-significante. E o Príncipe pós-moderno de Ianni da era do globalismo?  Octávio intuitivamente vê a televisão (pg. 11) como o significante suporte da interpretação da realidade como hegemonia e soberania.
No essencial, a definição de Príncipe moderno se estabelece como poder simbólico de interpretar a realidade para as massas visando a revolução social. Em um sentido mais genérico, o Príncipe é o poder simbólico de interpretar a realidade para as massas em uma cultura política intelectual. No Brasil, ao olharmos para a história da cultura política intelectual tendo como significante-metre o Príncipe, o PCB é a experiência histórica de construção do Príncipe moderno pela esquerda. A presença do PCB na cultura brasileira é um fato que aponta neste sentido. No final do século XX e parte do século XXI, o PT continuou a construção da esquerda como Príncipe moderno como avesso da hegemonia comunista, ou seja, como hegemonia da revolução populista patrimonialista: Príncipe patrimonial populista! Tal fato é útil para a periodização da cultura política intelectual no Brasil? A hegemonia da esquerda é uma linha de força histórica que existe (existiu) como um contraponto à cultura política intelectual molecular e oligárquica da classe dominante/dirigente brasileira. Com o fim da hegemonia da esquerda mergulhamos no buraco negro hegemônico? Talvez a emergência do Príncipe Simbólico como significante-ersatz do príncipe eletrônico aponte par um outro caminho. A televisão é o suporte-significante do Príncipe simbólico. Ele é a articulação da classe simbólica (classe que detém o monopólio da interpretação da realidade) como Príncipe (partido político simbólico) na cultura política intelectual eletrônica. Assim no Brasil, o lugar vazio da hegemonia de esquerda é preenchido pela televisão como cultura política intelectual eletrônica. Hoje, uma corporação capitalista simbólica parece ocupar este lugar: o Grupo Globo!        

    PARÚSIA/SPALTUNG HISTÓRICA
A revolução populista pós-modernista precisa ser acompanhada também como revolução molecular em São Paulo. O populismo bárbaro do PSDB está produzindo rupturas simbólicas dos intelectuais orgânicos do partido com o PSDB paulista. Seria o caso do cientista político da USP José Alvares Moisés e do economista Samuel Pessoa da FGV/SP. Formadores da opinião pública da classe simbólica, Moisés e Pessoa parecem ter clareza da evolução da crise brasileira. Pessoa começa a pensar em um futuro ajuste econômico que vai abalar o ser social do país. Agora é a hora e economistas, sociólogos (Bolívar Lamounier) e cientistas políticos (cujo cérebro foi liberado das ideologias brasileiras partidárias) simbolizarem sobre uma cisão (SPALTUNG) na Republica Democrática existente de 1988. Eles podem atrair FHC, Francisco Weffort e Wanderley Guilherme dos Santos (em franca ruptura com o PT) para este processo de simbolização. A hora dos juízes do STF se erguerem em prol de um projeto democrático nacional-popular bate á porta da comunidade jurídica brasileira. O presidente do Senado Renan Calheiros condensa a PARÚSIA (às avessas) que é o mais brilhante e iluminado símbolo da SPALTUNG histórica da política mundial; "Vi também outro Anjo que subia do Oriente com o selo do Deus vivo. Esse gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer o mal à terra e ao mar. 'Não danifiqueis a terra, o mar, e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus". Como é o avesso da Parúsia, Renan e o PT lulista começaram marcando a fronte dos que não são servos do Deus às avessas: as tribos do Xingu!

DELFIM NETTO: URSTAAT CAPITALISTA
Mário Sérgio Conti entrevistou Delfim Netto na Globo News. Um espaço jornalístico ideológico deu passo um importante para se tornar um espaço público procedural? Trata-se do espaço intelectual onde a ideologia não exerce seu poder coercitivo não-violento. Os intelectuais exercem seu direito de interpretação livremente sem coerção ideológica ou do poder político. Vamos ao que interessa!
Delfim propõe, inconscientemente, a abertura de uma Assembleia Nacional Constituinte. O quadro global de relações de força que definiu a constituição de 1988 é finito. Delfim é o maio intelectual orgânico do capital no Brasil. Ele é o maior pensador da direita brasileira. Assim, não é surpreendente que ele defenda o projeto abjeto de Renan Calheiros/Joaquim Levy. A Constituição de 1988 pode ser vista como uma Constituição que estabeleceu uma longa conjuntura política na qual os direitos sociais (do proletariado, em geral, e de grupos socais com um sindicalismo forte e bem organizado) se empoderaram do Estado brasileiro. A era Lula ampliou o quadro dos direitos sociais com a política benevolente para os pés-descalços e descamisados (Bolsa-Família, por exemplo). A Constituição de 1988 precisa ser entendida pela sua base real. Trata-se da República pombalina de Itamar Franco. Esta fez do direito social a base de um simulacro de simulação de um Estado liberal-democrático. No Brasil, a universidade falava de um Estado social-democrático: pura ilusão ideológica de esquerda.
A crise econômica brasileira transformou tal ideologia em poeira cósmica. Delfim diz – com uma certa dose razão – que a Constituição de 1988 é a articulação do Brasil pela injustiça. Trata-se de uma estruturação do mundo onde os amigos do poder nacional são beneficiados em seus interesses egoísticos (uma minoria organizada) e a maioria torna-se o Outro a ser tratado sem benevolência oligárquica. Isto é a velha estruturação do país pela significante injustiça oligárquica-totalitária colonial. Mas Delfim quer que o mundo brasileiro seja estruturado pela injustiça capitalista do engenho em uma nova forma. Tal fenômeno significa a destruição das tribos do Xingu e da floresta Amazônica pelo capitalismo de commodities da oligarquia rural capitalista amazônica empoderada pelo capitalismo monopolista internacional. Delfim sempre foi um quínico (cínico in re ipsa). A proposta dele de uma nova Assembleia nacional Constituinte aponta para uma ruptura radical (Spaltung histórica) com a República pombalina de Itamar Franco. Delfim sempre achou Itamar um aborto político! A nova política que está sendo costurada pelo PT/PMDB/Dilma/Lula/Renan quer estabelecer um quadro de relações de forças como já dado. No entanto, um outro quadro de forças (o da Constituição de 1988) começa a indicar que os agentes do liberalismo pombalino querem transformar tal simulacro de simulação liberalismo em um liberalismo político real. A comunidade jurídica determinar que o governo mude seu conceito de prisão-campo de concentração é o primeiro sintoma de tal fenômeno. A direita oligárquica capitalista (em aliança com o PT) caminha para a ruptura com a democracia atual. O quadro global de forças atual não permite a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Ele é equivalente ao equilíbrio de forças do fenômeno político empate dos povos da floresta: “À frente, Marina Silva, liderando um empate na fazenda Bordon, em Xapuri no Acre”. Portanto, a conclusão lógica é a seguinte. Delfim está tendo uma recaída totalitária militarista e propondo uma SPALTUNG para instalar uma forma de Urstaat civil capitalista a brasileira cujo contorno pode ser visto no detalhe da Câmara ter aprovado uma lei terrorista (bancada da bala com a ajuda do PT) para as massas urbanas contra a ordem. As massas urbanas que são massas disponíveis do poder político do Urstaat ficam protegidas da lei terrorista. Isto é a forma do direito oligárquico-totalitário brasileiro: “tudo para os amigos do poder, a lei para os inimigos! Delfim Netto que foi o principal formulador do Urstaat militar, agora está se transformando (sendo empossado) como o grande interprete do novo Urstaat civil capitalista que nasce das entranhas do populismo capitalista pós-moderno. Ele é agora o intelectual orgânico de um projeto (lógica do fantasma do futuro) em conceituação: Urstaat capitalista totalitário brasileiro do século XXI! Condensado na biografia atual da família Marinho, o Príncipe Simbólico é uma realidade complexa. Ele é um contrasignificante de uma região da física da história: a região hipermarxista. Trata-se de uma realidade materialista e dialética como unidade de múltiplas (contradições) determinações econômica, política, cultura e técnica pós-moderna. Tal príncipe existe na cultural política intelectual eletrônica e na web. As contradições da classe simbólica mundial é a sua realidade do real!  

 FAUSTO/GOETHE/JPB
“Brasília - Após se reunir por mais de três horas com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou uma nova versão da agenda anticrise que havia apresentado na segunda-feira”.
A “Agenda Brasil” é o nome do plano de Renan Calheiros que firma o pacto entre Dilma Rousseff e Renan. O PCPT já mostrou que Eduardo Cunha é o lobo com face humana, ou seja, uma máquina de guerra oligárquica do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma máquina mundana com face evangélica. E quem (o quê) é Renan Calheiros? Antes da cultura eletrônica ser seduzida pelo Pacto Renan/Dilma/Lula, ela disse que Renan controla o TCU. Como o PCPT já tinha dito, nem o TCU ou o TSE são órgãos cuja decisão é determinada pela técnica jurídica. Esta serve para legitimar - no jogo destes micropoderes jurídicos-políticos com o Congresso e a cultura eletrônica - uma decisão que é, em primeira instância, política. Congresso e cultura eletrônica fazem de conta que se trata de uma decisão técnica. Tal interpretação da cultura eletrônica para as massas é fundamental para o golpe de Estado pombalino . Mas quem é Renan?
Renan não é uma simples máquina de guerra mundana. Só sua história biográfica pode revelar como um ser humano foi transformado - pela junção de culturas políticas totalitárias - em uma máquina de guerra bíblica (MGB). Trata-se da MGB do Fausto de Goethe: Mefistófeles. Para se entender tal fenômeno histórico é preciso recorrer à leitura da episteme romântica alemã. Goethe faz uma síntese de tal episteme no seu Fausto. A Dedicatória tem a conceituação da episteme que a tradução portuguesa de Alberto Maximiliano conserva em sua prosa-poética.
A episteme romântica filosofa sobre a articulações do presente pelo passado: “E o passado renasce, vivo, terrificante”. A posição metafórica dos adjetivos teria que ser conferida na língua alemã. Mas o fundamental é que o passado renasce e articula o presente como um fenômeno sedutor. Parece que o Príncipe simbólico capitalista se deixou fascinar pela lógica sedutora do fantasma do passado. O passado é “sombras vaporosas”, sonho, brumas, lendas. Ou seja, ele é: “A saudade me assalta em tudo que é passado”. Ainda não está claro o que é o passado? O passado é um fantasma, a lógica do fantasma do passado que liga o presente às lendas, ao mito. Ele desce do espaço mitológico (a história mitológica é a história da cultura política da sedução) para a terra quando; “Meus cantos de agora já não são amados por aqueles que outrora os ouviam, fascinados; perderam-se os sons tão bons e tão queridos. Já bem longe se vão seus ecos antigos. Os cânticos do presente se tornaram uma ideologia petista oca de significações! Meus cânticos de hoje é o que quer toda a gente” Estes cânticos de hoje são os cânticos da lógica do fantasma do passado que renasce, vivo, terrificante. Cânticos que não são humanos, cânticos que afastam o sujeito (intersubjetividade) da realidade atual dele. O passado sempre é vivido pelo sujeito com um mundo idílico – utopia regressiva – perdido naquele mundo brando e espiritual, tão amado. Mas quando ele se torna presente, ele é terrificante, ele é a realidade grotesca do terror. A agenda Brasil é exatamente isto para as tribos do Xingu: realidade terrorista. Um poder terrorista grotesco que vai reduzi-los a pó.
Renan é Mefistófeles, pois ele condensa biograficamente tal poder terrorista grotesco na presidência do Congresso nacional!
“Mefistófeles – Sou parcela do Além, Força que cria o mal e também faz o bem!”.
Sendo Mefistófeles, Renan é uma máquina de guerra bíblica! A Agenda Brasil vai gerar o mal (a violência sagrada do Urstaat sobre a população, especialmente sobre os índios) e vai fazer o bem para o capitalismo de commodities metamorfoseado pelo capitalismo monopolista internacional de Estado. Dilma para ficar no poder nacional (e o PT/lulista também) vendeu a alma ao diabo! Esta é a terceira metamorfose da alma petista no poder político nacional. O passado grotesco terrificante é a Spaltung histórica do presente, a quebra do mundo! Virgem Maria, nos acuda!

O OUTONO DO PATRIARCA
BRASÍLIA- Em café da manhã neste sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a atuação da presidente Dilma Rousseff, durante a semana, para conter a crise. Lula e Dilma se reuniram no Palácio da Alvorada, na véspera das manifestações contra o governo, para definir a estratégia de enfrentamento das turbulências no cenário político e econômico.
Na avaliação do ex-presidente, o movimento pela desestabilização do governo começa a arrefecer porque Dilma saiu do gabinete no Palácio do Planalto, defendeu sua gestão e conseguiu mobilizar o Senado, movimentos sociais e até empresários contra o impeachment.
Além disso, o Planalto ganhou tempo no Tribunal de Contas da União (TCU), que analisa o balanço do governo de 2014, e obteve vitórias, ainda que não definitivas, no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).”

O PCPT já mostrou que a biografia de Luís Inácio Lula da Silva é o epicentro da crise política. Há uma diferença elementar entre Lula e FHC. Fernando Henrique Cardoso deu o passo normal para fazer política nos bastidores. Ele se tornou o intelectual hegemônico que tem orientado a política do PSDB até este partido ser possuído pelo populismo pós-moderno de uma nova geração de políticos paulistas e se fragmentado na cúpula pela disputa do poder partidário entre Aécio Cunha, Geraldo Alkmin e José Serra. As contradições do PSDB não são uma coisa celestial do espaço/tempo político! Mudando a direção do olhar, chegamos ao PMDB. Tal partido está dilacerado por uma divisão entre Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Michel Temer. Tal divisão se materializa como contradição palpável no aparelho de Estado entre a Câmara dos Deputados e o Senado. Eduardo Cunha é o presidente da Câmara e Renan do Senado. Há uma disputa entre eles pelo controle do partido e pela sobrevivência política e pessoal. A Operação Lava-Jato apanhou estes dois peixes graúdos (significantes políticos) na rede e eles se debatem para escapar da rede do poder judiciário. Para isso usam o poder da Câmara e do Senado. Enquanto Cunha ataca a presidente para que ela interfira na investigação da Procuradoria Geral da República, Renan se alia com o governo com o obsceno pacote Agenda Brasil. Em suma, o PMDB é um partido estraçalhado por contradições políticas e biográficas pessoais, pois se Renan é o Príncipe das trevas, Cunha é o nosso Ricardo III: Príncipe Infame.
A crise brasileira é a causa da crise do PSDB e do PMDB. E o PT? A crise não fragmentou em pedaços contraditórios o Partido dos Trabalhadores. A estrutura do aparato partidário continua monolítica. Como mostra a fala de Lula supracitada, ele canta o samba de Paulo Vanzoline: “Reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. O PPT não se fragmentou por ser um artefato de duas culturas políticas totalitárias: o populismo lulo-getulista e o populismo stalinista. Trata-se de um partido cuja estrutura totalitária impede que as contradições da crise brasileira dividam o aparato em mil pedaços. As chamadas frações (tendências) petistas são um faz de conta de democracia partidária. Tarso Genro é o maior sintoma deste simulacro de simulação de democracia petista. Ele prega a refundação do partido para ouvidos petistas moucos. O PT está agora envolvido Com Renan, a Bancada da Bala e Delfim Netto na produção de um Spaltung (quebra do mundo brasileiro) que articulara Ex nihilo nihil fit  o Urstaat capitalista pós-moderno como solução para a crise global da América Latina. Lula surge como o master carismático deste Urstaat. Mas ele não sabe nada sobre isso. O guarda vermelho da Revolução Cultural chinesa Jair Sá, me disse na década de 1980 que Lula não conseguiu passar da 15°página do livro “História da Riqueza do Homem”, de Leo Huberman. Trata-se de um livro feito para adolescentes de 13 anos! Esta é a idade intelectual de Lula. O Príncipe do sertão é fruto de uma cultura política oral pós-moderna que apendeu a manipular a cultura intelectual eletrônica (CPE). Ele usa a interpretação da CPE da realidade para as massas para estender seu domínio carismático sobre estas massas. A CPE sempre adorou o jogo de cabra cega com Lula! Ele é um sertanejo ladino que engana a CPE desde a “Carta aos Brasileiros”, que foi o trampolim para o Príncipe sertanejo tomar o poder nacional até os últimos dias de sua vida. Somos companheiros no câncer, e provavelmente será esta praga biológica do século XXI que encerrará sua vida política vitoriosa. Isso pode acontecer daqui a 20 anos. Assim, é melhor adotar nas escolas brasileiras o livro do amigo de Fidel Castro e Lula, “O Outono do Patriarca”. Só espero que os leitores não recebam esta postagem como um texto pós-modernista de literatura fantástica latino-americana!

PRÍNCIPE PHILOSOPHÍA
"O que é isto – a filosofia”/Heidegger.
Para um grupo de professores de filosofia do Rio Grande do Sul só se deve discutir Heidegger em alemão. Me rebelando contra tal coerção de violência linguística, ouso ler Heidegger como um filósofo onde encontra o contraconceito de história da cultura política intelectual em um contraponto à história intelectual em si. Livros (textos) podem ser apenas livros. E podem seer forças armadas: exército, marinha e aeronáutica. Eles podem ser máquinas de guerra de pensamento! Os livros que são forças armadas constituem a história da cultura política intelectual. Trata-se da junção da cultura intelectual com a cultura política articuladora da política em si. Tal junção tem um nome original historial, isto é, um futuro historial, um caminho: “Ele conduz da existência própria ao mundo grego até nós, quando não para além de nós mesmos”. Este caminho é o caminho do Príncipe philosophía que nasce na cultura política intelectual grega. “Mas a essência originariamente grega da filosofia é dirigida e dominada na época de sua vigência na Modernidade Europeia, por representações do cristianismo. A hegemonia destas representações é mediada pela Idade Média. Entretanto, não se pode dizer que a filosofia se tornou cristã”. O Príncipe philosophía articula-se como hegemonia simbólica (representação =significante) na modernidade através da cultura política cristã. “A frase: a filosofia é grega em sua essência, não diz outra coisa que: o Ocidente e a Europa, e somente eles são, na marcha mais íntima de sua história originariamente ‘filosóficos’. Isto é atestado pelo surto e domínio das ciências. Pelo fato de elas brotarem da marcha mais íntima da história ocidental-europeia, o que vale dizer do processo da filosofia, são elas capazes de marcar hoje, com seu cunho específico, a história da humanidade pelo orbe terrestre”. O Príncipe philosophía é a hegemonia da Europa sobre a história mundial. Isto responde e a questão: o que é o Príncipe?
“Consideremos por um momento o que significa o fato de caracterizarmos uma era da história humana de ‘era atômica’. A energia atômica descoberta e liberada pelas ciências é representada como aquele poder que deve determinar a marcha da história. Entretanto, a ciência nunca existiria se a filosofia não a tivesse precedido e antecipado”. A cultura política intelectual europeia articulava o poder atômico que definia o caminho da história no século XX. O caminho traçado pelos gregos como Príncipe philosophía (hegemonia simbólica que articula a cultura política atômica e, por meios tortos, a política em si) é o caminho da correspondência ao ser do ente? O corresponder ao ser do ente é a filosofia. O espanto sobre o ente e sobre o fato de ele ser e de que seja é pathos, a arkhé da filosofia. Páthos não é paixão, turbilhão afetivo. “Páthos remonta a páskhein, sofrer, aguentar, suportar, tolerar, deixar-se levar por, deixar-se con-vocar. Páthos é dis-posição (dis-position) uma tonalidade de humor que nos harmoniza e nos com-voca por um apelo”. Assim, o espanto é a dis-posição na qual e para a qual o ser do ente se abre. “O espanto é a dis-posição em meio à qual estava garantida para os filósofos gregos a correspondência ao ser do ente!”. O pensamento como co-respondência está a serviço da linguagem. Assim, “devemos entrar em diálogo com a experiência grega da linguagem como lógos. Por quê? Porque nós, sem uma suficiente reflexão sobre a linguagem, jamais saberemos verdadeiramente o que é a filosofia como a co-repondência acima assinalada (ao ser do ente), o que ela é como uma privilegiada maneira de dizer”.
Buscar no filosofar o fim da filosofia é um caminho ao ser do ente? Outro caminho é o historial, o caminho da história da cultura política intelectual. Quando a filosofia deixou de ex-istir como Príncipe philosophía, a filosofia como episteme quebrou.  Ela deixou de ser competente, hábil enquanto competência theoretiké, que é capaz de theorein, isto é, olhar para algo e envolver e fixar com o olhar aquilo que perscruta: o ser do ente. A filosofia é epistéme theoretiké. “A filosofia é uma espécie de competência capaz de perscrutar o ente, a saber, sob o ponto de visa do que ele é, enquanto é ente”. Tal episteme torna-se episteme política no significante Príncipe philosophía que só existe como significante da cultura política ocidental e europeia. No entanto, Lacan com Gramsci estabeleceram na física da história o contraconceito bloco histórico epistêmico mundial. Parece que há coisas entre o céu e a terra que escapam à filosofia. A história do século XX é a desintegração da hegemonia política europeia na política mundial e da hegemonia simbólica do Príncipe philosophía na cultura política intelectual mundial. Falando em português claro, a episteme filosófica já organizou e articulou blocos históricos. Gramsci mostrou a existência de um deles na história da Itália. A crise do século XXI não é essencialmente a crise do bloco histórico epistêmico ocidental?  

AS MASSAS DE 16 de AGOSTO/2015
A análise hipermarxista no PCPT mostrou que as massas periodizam a política. As massas do 16 de Agosto fizeram a ligação entre Lula e a crise política. Elas creem que a derrubada do governo Dilma Rousseff é o caminho mais curto para dar um fim no domínio petista sobre a política brasileira. Elas querem o fim imediato da Era lula.
As massas de agosto já produziram efeitos palpáveis sobre a política. Ontem, O Grupo Globo (Príncipe simbólico capitalista) fez uma programação vergonhosa (estrategicamente antijornalística) para defender o status quo. Ficou claro a participação dele no bloco político formal realmente existente capitaneado por Renan Calheiros, Lula, Dilma e Rodrigo Janot, o Procurador Geral. A Procuradoria Geral da República pode implodir Eduardo Cunha se ele continuar seu agir em direção ao impeachment? O Bloco político quer a submissão integral de Cunha ao governo. Em 17 de agosto, o Príncipe simbólico capitalista mudou de posição e passou a retratar o movimento de massas de ontem com um realismo jornalístico destacando a participação do PSDB na manifestação. Junto com as massas, o Grupo Globo pode reverter a fragmentação do PSDB e do PMDB? As massas podem consolidar o poder de Eduardo Cunha no PMDB, pois ele tem 70% do partido sob seu comando. As massas podem isolar Renan Calheiros provocando o deslocamento de Michel Temer para a conspiração do impeachment. A hora do mordomo de Dilma se tornar o patrão e assaltar a presidência se aproxima. As massas de agosto significam a reversão do quadro global de forças partidárias. Elas são a causa (isto é uma linha de força histórica que pode se materializar ou não) da constituição de um bloco político em conceituação formal que será o suporte de UM GOVERNO de SALVAÇÃO NACIONAL, capitaneado pelo PMDB/PSDB. Como o PMDB não tem estofo no estamento intelectual econômico, o PSDB assumiria a direção do aparelho econômico de Estado. Claro que todos os partidos que contam para fazer a maioria no Congresso seriam cooptados para este GOVERNO DE SALVAÇÃO NACIONAL. Isto é apenas uma conclusão lógica natural.
Lula, o PT e Renan iram para a oposição esperando 2018? Renan é Mefistófeles que deixa de governar o inferno de onde extrai seu poder? Ou ele vai negociar o domínio absoluto da Floresta Amazônica e a destruição do Xingu pelo capitalismo de Commodities + capitalismo monopolista internacional de Estado – com o novo bloco político formal - para jogar o PT no inferno da oposição? Hoje, ele é o chefe de fato do bloco político oligarquia rural capitalista. Renan é o Príncipe das trevas que vai fazer uma aliança com o nosso Ricardo III, o Príncipe infame Eduardo Cunha para manter uma parte da fatia do poder no PMDB.
O PT irá para a oposição desossado, sem articulação política baseada em hegemonia. Ele agora aparece como uma máquina de guerra totalitária que levou o pais para o fundo do poço. Mas ele ainda tem Lula em 2018, pois Janot jogou seu manto protetor sobre Lula. O Príncipe do sertão não desiste e nem recua. Ele foi educado pela escola do sindicalismo do ABC e pela cultura populista totalitário-oligárquica do SERTÃO DE PERNABUCO: cabra macho! O bloco político formal que vai assumir o poder nacional não terá compaixão com Luís Inácio Lula da Silva, pois as massas de agosto querem a cabeça dele em uma bandeja de prata, ou melhor, o querem no cárcere. Assim Lula poderá reescreve o “Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos. É claro que ele usará um Ghostwriter: um  fantasma  escritor!

 PRÍNCIPE SIMBÓLICO ELETRÔNICO E DA WEB
O Príncipe simbólico é o partido político na cultura política eletrônica ou na web. O Grupo Globo é uma espécie de unidade entre teoria e prática eletrônicos capitalista. Uma corporação da indústria cultural existe como um partido político no plano da cultura política intelectual eletrônica. Trata-se de um partido pela sua estrutura e lógica de funcionamento que se protege naturalmente pelo grau de complexidade da relação dele com a política em si e com o público no mundo-da-vida. Elegemos o PCPT como um partido simbólico da web para termos régua e compasso para investigar o partido simbólico eletrônico. Primeiro, o PSC (partido simbólico capitalista) interpreta a realidade para as massas. Althusser diz que tal partido produz uma “explicação” de massa da história. Trata-se de um erro crasso. Tal partido explica a realidade a-histórica. Na cultura política intelectual eletrônica, entre a história real e as massas tem sempre um écran, uma separação: uma ideologia de classe da realidade a-histórica, uma filosofia de classe como interpretação da realidade a-histórica a qual as massas humanas creem “espontaneamente”. Se a filosofia é a luta de classes na teoria, então ela depende em última instância da política, ela é, como filosofia, efeitos políticos na prática política (da elite) e das massas. Se ela é luta de classes na teoria, ela define o tipo de união teoria/prática. Tal concepção da filosofia pode ser traduzida como a filosofia sendo um tipo ideal do funcionamento da cultura política intelectual, pois a filosofia é o Príncipe philosophía: partido político simbólico. Assim, o Grupo Globo é a superposição de uma corporação capitalista e de um partido político simbólico eletrônico: tipo de unidade teoria/prática. Na estrutura partidária, há uma distribuição de funções (divisão do trabalho simbólico) similares a de um partido político. O papel do "explicador" (interprete) não é o mesmo papel do repórter ou do apresentador dos telejornais. Ele é parte da direção do partido ao lado dos editores, diretores e dos proprietários. Mas ao mesmo tempo, ele é o militante que põe em prática a linha político-simbólica do partido. Sua função intelectual condensa a função do teórico com o do propagandista e do agitador! O Príncipe simbólico capitalista possui uma estratificação das funções intelectuais e funciona através de uma hierarquia flexível similar à da empresa capitalista pós-moderna. No topo encontram-se os criadores da linha político-ideológica (dirigentes), no estrato intermediário os funcionários (quadros intermediários) do aparelho cultural e no estrato inferior os militantes de base. A relação com o público deve ser compreendida pela teoria da comunicação. As massas-público abstratas metabolizam as mensagens e as reinterpretam. Não são receptores passivos. As multidões políticas (massas concretas) na rua fazem a sua própria leitura da realidade a partir dos materiais que a cultura política jornalística (eletrônica, papel, rádio) despejam sobre elas. A leitura das multidões concretas pode alterar a linha política do Príncipe eletrônico (PSC).
O PCPT está se constituindo como um partido simbólico da web. Enquanto o Grupo Globo é um partido simbólico capitalista (PSC), uma instituição privada, o PCPT é uma instituição pública. O PSC secreta a ideologia dominante como cultura política intelectual eletrônica. Ele interpreta a realidade para as massas como “explicação” de massa. Ele produz um saber sem história a serviço da dominação do capitalismo do engenho. Mas ele está sujeito a luta de classes das classes e frações dominantes e da pequena-burguesia tradicional ou nova. Portanto, ele não é monolítico ou uma fortaleza inexpugnável. E é vulnerável à luta das multidões concretas.
Mas ele é o resultado de um processo sem sujeito? Althusser concebeu a história como um processo sem sujeito, um processo no qual as massas fazem a história cujo motor é a luta de classes. A foraclusão do sujeito na história (e na realidade) é um tema polêmico na cultura política intelectual marxista e além. Lacan pensa que o sujeito é fundamental para a leitura da história: “Por exemplo, os produtos a cuja qualidade, na perspectiva marxista da mais-valia, os produtores, mais do que ao patrão, poderiam pedir contas da exploração que sofrem. Quando se reconhecer o tipo de mais-de-gozar que leva a dizer “isto é alguém”, estaremos no caminho de um material dialético talvez mais ativo do que a carne do Partido, empregada como baby-sitter da história (Lacan. Outros Escritos. Jorge Zahar Editor: 413). A classe dirigente simbólica oferece sua interpretação para as massas na medida em que estas estão separadas da história por uma ilusão do conhecer a história. Quem faz a interpretação? O intelectual orgânico coletivo do Grupo Globo. Isto é alguém! Não se trata de um objeto, mas de um sujeito que pensa, senti, se apaixona (odeia quem desmascara sua natureza de Príncipe simbólico capitalista) por sua interpretação da realidade para as massas. Mas o PSC não interpreta a história para as massas. Sua explicação de massa foraclui o passado, a tradição rearticulada no presente. Ao contrário, o PCPT interpreta a realidade histórica. Como instituição pública, o PCPT defende (não os interesses econômicos, políticos e culturais da classe dominante) interesses ecológicos como o Xingu, as tribos do Xingu e a Floresta Amazônica. Defende também na atual conjuntura uma revolução democrática-nacional. A NAÇÃO brasileira só existe como republica oligárquica do engenho de cana-de-açúcar na sua versão atual de capitalismo do engenho pombalino: nação do engenho! A ideologia do PSC é a defesa disso! Trata-se, portanto, de dar início a uma revolução cujo projeto é a construção da NAÇÃO como realidade real, não como uma realidade nacional articulada como simulacro de simulação. A linguagem do PSC é a-histórica, e o PCPT serve a uma linguagem histórica. Tal linguagem é a linguagem da física da história que se desenvolve como língua portuguesa apoderando-se do mundo brasileiro, usando-o para se desenvolver.    
HABERMAS E A CRISE BRASILEIRA
A cultura intelectual se caracteriza por produzir ideologia inorgânica. A cultura política intelectual por produzir um pensamento que articula ideologia orgânica. Ao contrário da primeira, a ideologia orgânica organiza e articula a realidade social. Isto é fundamental para nós, pois a crise brasileira é a superposição da crise da realidade econômica com a crise da realidade política. A fórmula epistêmica de Lênin (“a política no comado da economia”) é uma fórmula para se compreender a história em si. Trata-se da história conjuntural na qual a política sobredetermina a economia. Trata-se da episteme histórica contraeconomicista. Isto significa que não é possível solucionar a crise da realidade econômica sem solucionar primeiro a crise da realidade política.
Habermas é o maior pensador eclético (transdisciplinar) da segunda metade do século XX. Na fase atual da construção da hegemonia simbólica no Brasil, a filosofia bebe na hermenêutica heideggeriana e, portanto, Habermas pode fazer parte do novo bloco histórico epistêmico que desponta na cultura política intelectual mundial latente como lógica do fantasma do futuro. Trata-se de uma convergência de linhas de forças históricas que podem ou não se condensar em uma cultura política intelectual brasileira. Na sociologia política da física da história, a classe dominante e a classe dirigente (política ou simbólica) constituem o terreno geoistórico da construção de tal bloco histórico epistêmico.
Habermas defende que a razão moderna é superior às visões de mundo mitopoéica e religiosa-metafísica. O pensamento moderno é superior ao pensamento mítico. Por quê? Na história da espécie humana – como evolução social – as sociedades modernas precisam do pensamento moderno para solucionar seus problemas, principalmente os problemas críticos, ou seja, solucionar as crises da realidade, ou melhor, a realidade em crise. Habermas admite que tais soluções são históricas, isto é, elas ocorrem na história contingente. Lênin elaborou a teoria/prática da história contingente, história em si. Trata-se do contraconceito de conjuntura. A crise pode ser estrutural ou contingente, mas a solução dela é conjuntural. Isto define a periodização da conjuntura e a distinção entre conjuntura econômica e conjuntura política. A conjuntura pode ser curta ou longa. Uma conjuntura política longa pode significar a desintegração do significante: república, monarquia, nação, país, ordem sócio-política. Tal discussão só se resolve com a investigação da história em si.
Habermas acredita que a ação comunicativa é a melhor forma do agir para resolver a crise política. A ação comunicativa na política ocorre quando os agentes políticos procuram expressamente (no espaço público procedimental através do discurso argumentativo, onde o melhor argumento torna-se hegemônico) chegar a um acordo voluntário (Verständigung) de modo a poder cooperar. FHC propôs a renúncia habermasiana de Dilma Rousseff abrindo espaço para um Governo de Salvação Nacional? FHC é um herdeiro e fundador da sociologia humanista uspiana. Ele é humano, demasiadamente humano? Se os partidos brasileiros (PT/PMDB/PSDB) fossem partidos políticos, partidos que funcionassem pela lógica do HOMEM, ele poderia esperar que seu apelo racional moderno à classe dirigente (política e simbólica) se materializasse. Como ele não consegue metabolizar e simbolizar a linguagem da realidade do real (linguagem da física da história), FHC não sabe que sabe que está lidando com partidos-máquinas de guerra freudianas. Estas são agenciadas pela lógica da ação estratégica. Trata-se de uma agir no qual os agentes podem forçar outros a contribuir para a sua meta emitindo ordens, ameaças, mentiras, chantagem, capturando reféns, e outras proposições manipulativas que servem para manietar o outro, o Outro.
Habermas apela para a consciência histórica articulada pela razão moderna como o modo de agir mais eficaz (competente) para resolver a crise da realidade política. Em Platão, a ideia de que o agir é algo que implica uma articulação da razão e do inconsciente político faz o conceito de agir comunicativo aparecer como algo ingênuo e puro idealismo da ideologia alemã. A materialidade do inconsciente político remete para as relações de poder em uma polis mundial, e o poder é a linguagem da classe política, e na era do Príncipe simbólico capitalista também da classe simbólica. Não se trata meramente da razão instrumental articulando a realidade política, que transforma a política de uma relação entre indivíduos (pessoas) em uma relação objetificante, isto é, uma relação entre coisas (objekt). As redes de coisas na política encontram um fundamento (como lógica do sentido) na cultura política do dinheiro. Elas funcionam no mínimo por uma lógica utilitarista prosaica ou, então, vulgar na baixa cultura política intelectual materialista. A cultura política intelectual eletrônica metaboliza a baixa cultura materialista e a usa para retratar cotidianamente os políticos como indivíduos mesquinhos, egoístas, interesseiros, tristes, feios e vulgares enquanto cria a imagem do estamento intelectual eletrônico (jornalistas, artistas, compositores e músicos) como desinteressado, alegre, altruísta, belo, flâneur no miserável mundo-da-vida- narcísico carioca - e nobre. No entanto, o tipo ideal da cultura jornalística brasileira continua sendo Assis Chateaubriand , o famigerado Chatô! Este foi o mais vulgar jornalista (chantôngista) proprietário dos Diários Associados que dominou a cultura política jornalística pré-Grupo Globo. O Príncipe Simbólico capitalista detém o monopólio da energia narcísica do modo de produção, distribuição e circulação da riqueza narcísica mítica nacional. Até agora!
Sobredeterminante na solução da crise da realidade política, o Príncipe simbólico capitalista é um vasto, intrincado, confuso, contraditório, inconsistente e complexo conjunto de redes de poder (econômica/política/cultura/) articulado ao inconsciente político mundial capitalista. Se os senadores e deputados nacionais tem nas mãos a solução da crise da realidade política, o agir deles é uma condensação de racionalidade moderna com lógicas do inconsciente político mundial capitalista. Claro que FHC parece trabalhar com conceitos lunares, não com contraconceitos terrenos. Mas inegavelmente, ele deseja uma solução racional para a crise da realidade brasileira em um deserto do real habitado por máquinas de guerra partidárias em si e simbólicas; as pretensões à sinceridade e autenticidade pertencem ao mundo pessoal dos sentimentos e desejos. Se Dilma Rousseff confessar que errou, não fornecerá o motivo palpável para o impeachment. Por que FHC se tornou a voz razoável da política brasileira? Por que ele é inconscientemente leninista? A ideologia (pensamento) de Habermas é orgânica ou inorgânica?     

    REVOLUÇÃO DO CAPITAL E DIALÉTICA.
Depois da Revolução Francesa, os burgueses passaram a ter medo da própria sombra. Aí a sombra burguesa da revolução se materializou como revolução proletária ou quase proletária. Mas o capitalismo só se manteve por revolucionar a natureza burguesa conservadora das forças produtivas e da sociedade burguesa. Com isto, a revolução do capital fez com que a luta de classes deixasse de ser o centro da política mundial no final do século XX. A fusão entre o capital e a ciência moderna criou outros tipos sociais de burgueses, pois o capitalista é a personificação do capital. Mas a coisa não parou nisso! A revolução capitalista no modo de produção especificamente capitalista não é um simples fato econômico. Ela é uma resposta a dialética materialista da luta de classes. Os efeitos da luta de classe na teoria/prática podem ser estudados (Mao) no pensamento de Marx (e Engels). “O Capital” é um livro que articula a teoria/prática capitalista como episteme política capitalista. O PCPT ainda abordará profunda e intensamente tal tema.
Um axioma (a episteme política é constituída por axiomas teórico-práticos) fundamental da episteme capitalista moderna (Marx) é aquele que enuncia que o capitalismo havia unificado o planeta homogeneizando-o. Tal axioma estruturalista é a base simbólica do totalitarismo de Marx. O estruturalismo de Marx foi uma operação tática economicista que fez do capital uma entidade (ser do ente) sem história em si (uma história historial) - uma entidade econômica reduzida a uma história estruturalista que começa com o capital mercantil na civilização arcaica. Trata-se do capital como significante estruturalista que é o avesso do capital como significante historial! O capital é dominação (máquina de guerra econômica), hegemonia (Príncipe capitalista em si) e soberania econômica, política e cultural mundial.
No século XIX, a história do capital tem uma poderosa e intensa inscrição nas sociedades nacionais. Quando Marx fez da Inglaterra o objeto ideal para o estudo do capital, ele recorreu a ideia hegeliana da forma histórica mais desenvolvida. Isto significa que todos os capitalismos nacionais deveriam buscar se construir segundo este modelo abstrato do ponto de vista historial. Tal conceito de desenvolvimento histórico é estruturalista/totalitário. Como o capital é uma relação social entre homens, mulheres e crianças que são determinados teórico-praticamente pela lógica da luta de classes, o contraconceito de mais-valia significa produção de riqueza (excedente econômico e espiritual) apropriada pelo capital na luta de classes. O seer social do capital moderno é dialético e materialista. Assim, o capital faz sua revolução contra a própria burguesia, pois ele só pode existir e continuar existindo revolucionando o modo de produção material e espiritual especificamente capitalista. Quantas revoluções espirituais o capital fez desde o século XIX? Antes disso, no século XVIII, o capital não se beneficiou da Revolução da ilustração e da Revolução do Romantismo Alemão? Se Lukács considera Nietzsche como um assalto à razão moderna, ele deixou passar (ele é genial) que Nietzsche é a revolução do capital que liberou este mesmo capital de sua forma espiritual e física liberal do século XIX. Nietzsche é a revolução cultural do capital que coadunou o espírito objetivo do capital com o capital em si para o desenvolvimento deste no século XX. As duas Grandes Guerras Mundiais estão associadas a esta revolução do capital.
É claro e evidente que o capital se revolucionou ao arrepio da própria burguesia europeia mais desenvolvida. Por quê? Porque a história é materialização e condensação da filosofia dialética (Platão) desde os gregos. Mas na modernidade do modo de produção especificamente capitalista, a história se materializa e se condensa como filosofia materialista e dialética.
No “A Ideologia Alemã”, Marx escreve sobre o fim da filosofia em sua forma metafísica e contemplativa transformada em ideologia à serviço da dominação da classe dominante, ou melhor, do capital. O contraconceito essencial não é classe dominante, e sim o capital. O capital é uma máquina de guerra econômico-espiritual=filosófica-política (esta ideia está em estado prático em Celso Furtado) que ergue, destrói, reconstrói a sociedade burguesa e o Estado.
Marx tinha uma certa razão em dizer que o Estado era o comitê da burguesia? Se substituirmos burguesia por capital, a fórmula torna-se uma fórmula matemática. Para o capital, o Estado pode ser moderno-weberiano, pode ser o Estado hitlerista, pode ser o Urstaat pós-moderno: repetição lúdica, diferente e sedutora da forma original do Estado despótico-sagrado da civilização arcaica. Heidegger fez a releitura revolucionária de Nietzsche não para o fascismo alemão. Ele a fez para a revolução teórico-prática do capital na medida em que este fosse bloqueado em sua existência e desenvolvimento (como seer social) pelas formas do próprio capital do século XX. No século XXI, tal bloqueio significa a maior crise do capitalismo mundial, pois trata-se, finalmente, do esgotamento e saturação da episteme capitalista moderna (Marx). O capital para existir e continuar sua reprodução econômica ampliada mundial depende da existência do bloco histórico epistêmico capitalista mundial. Trata-se do tipo universal de teoria/prática do capital moderno em crise. Hoje, não é possível pensar qualquer crise nacional ou regional sem pensar a crise mundial de tal bloco histórico epistêmico moderno.
O discurso da universidade brasileira considera que a física da história é uma quimera ou um sonho de uma noite do verão carioca ou amazônica! Um brasileiro usando a língua portuguesa não é capaz de pensar o mundo como a alta intelectualidade europeia o faz. Tudo bem! Por isso, o nosso estamento intelectual universitário ignorou o esforço ciclópico que Celso Furtado fez para pensar, na década de 1970, a economia política vinculada às culturas políticas de diferentes épocas e civilizações. Ele facilmente teria chegado à conclusão que a história do Brasil moderno é a história burguesa sem o capital em si, se tivesse se tornado o intelectual hegemônico brasileiro Trata-se, com efeito, da história do simulacro de simulação do capital. A economia política brasileira (e latino-americana) é um simulacro de simulação da economia política do capital!
No Brasil, a universidade é a principal força bloqueadora da transformação da cultura intelectual (cultura livresca) em cultura política intelectual: cultura como fenômeno político! Esta última é uma ideia clara em Lacan. Se hoje estamos mergulhados em uma crise econômica brasileira abissal, isso não se deve apenas ao processo econômico capitalista mundial do século XX: imperialismo. Se deve ao fato que o capital em si no Brasil não é o significante/sujeito-espiritual central (ou periférico) na nossa história. Por isso, o PCPT está a serviço da linguagem (física da história) que é o espelho da revolução ecológica do capital mundial nos países que não fazem parte do centro capitalista. O capital mundial ilustrado não quer destruir a Floresta Amazônica! Qual máquina de guerra econômica (simulacro de simulação do capital) quer destruir a Floresta?
A Revolução Cultural chinesa é a experiência utópica-prática que vislumbrou a articulação de uma episteme ecológica para além do capital e do Urstaat. Ela antecipou a ERA na qual a filosofia dialética e materialista do capital (e do Urstaat pós-moderno) será substituída pela dialética materialista da física da história na história mundial.
Hic Rhodus, hic salta
Aqui está Rodes, salta aqui!