terça-feira, 30 de outubro de 2018

CONDOTTIERO BOLSONARO: GUERRA E POLÍTICA


José PAULO

   

Capitão Bolsonaro é um intelectual?

Tal interrogação em tela é a chave para entender a anatomia do macaco pela anatomia do homem?

Jair Messias Bolsonaro é um intelectual no sentido de Gramsci: todo homem é filósofo!

Uma definição de cultura é aquela do homem cultivado ou pela cultura subjetiva, ou pela cultura objetiva. Nossa cultura é masculina, não apenas em seus conteúdos contingentes, mas em sua forma de cultura objetiva. (Simmel. V. 1: 155). Se Lula não foi cultivado por uma cultura formal, Jair Messias é um efeito de uma cultura formal militar. A escola militar cultural prepara oficiais para direção e comando da burocracia militar. No Brasil, os militares se envolveram na política com o putsch que destruiu a monarquia brasileira. Depois se envolveram na política como chefes de governo representativo e presidentes de ditadura.

A escola militar de oficiais se transformou em uma cultura política militar que guiou o golpe de Estado militar 1964 e a instalação do Estado militar 1964. Na cultura política militar, a ESG (Escola Superior de Guerra) se constituiu como uma escola intelectual militar. Bolsonaro não chegou na ESG e não foi educado inteiramente na cultura política militar. No entanto, foi das Agulhas Negras, escola universitária para a formação de jovens oficiais intelectuais.

Gramsci mostra que o Exército tem uma estrutura intelectual-burocrática similar ao do partido político.

ESTRATIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES INTELECTUAIS
EXÉRCITO                                                                                        PARTIDO POLÍTICO

Estado-maior                                                                                  
Oficiais superiores realizam planos                                            Dirigentes
Oficiais subalternos garantem a execução                                 Quadros intermediários
Soldados                                                                                             Militantes de base
(Buci-Glucksmann: 49).

Jair Messias foi da escola dos quadros intermediários. Mas ele teve que estudar teorias da guerra e história da guerra (estratégia e tática, alvo e ataque, força e razão, publicidade e propaganda, opinião pública e opinião militar) para se graduar como tenente. Isto é o suficiente para denominá-lo como um intelectual, ou no sentido de Gramsci, ou no sentido comum acadêmico.

Na política, o presidente Messias pensou a política como continuação da guerra por outros meios, meios políticos. Na vida parlamentar medíocre não teve a oportunidade para aplicar o conceito global de política como guerra, de Napoleão Bonaparte. (Clausewitz: 15). Só pode manejar a filosofia da política napoleônica na eleição presidencial 2018.




Descobrir no ciberespaço a política como cibercultura da guerra, este foi o primeiro passo do capitão Bolsonaro.  Descobrir e fabricar uma ciberideologia antilulista radical, eis o segundo passo tático do presidente da República. São fatos que alavancaram Bolsonaro para um lugar no segundo turno da eleição 2018 e, finalmente, para a vitória.   

Se apresentar como enfant terrible da política parlamentar (ele que foi um enfant terrible militar), eis o passo a frente que o levou a atacar sistematicamente a democracia 1988 e sua Constituição. Tornar o STF um alvo tático de ataques feitos por uma artilharia pesada (com ajuda de seu filho artilheiro-deputado Eduardo), eis um modo de tentar pôr canga nos juízes do STF. Ameaçar alterar a composição do STF, eis uma tática que irritou o STF e trouxe esta instituição para um confronto aberto com a candidatura de Jair. Mas estas táticas foram um meio da política como guerra de ganhar aliados, obter milhões de votos.  

Ao ser declarado eleito pela contagem dos votos, o capitão Jair fez meia-volta, volver. Ele leu um discurso no qual se apresenta como constitucionalista e defensor eterno da democracia 1988, como seu herói, o Duque de Caxias foi defensor perpétuo da monarquia de d. Pedro II. A ligação pessoal de Jair com a casas real brasileira não é um acaso da política republicana. Talvez, o quase presidente Jair (ele ainda não assumiu o cargo) não seja um republicano em uma República sem republicanos.                      

                                                                                                       II

O capitão Bolsonaro é um estrategista da política brasileira assim como Napoleão III foi o estrategista da política europeia que destruiu a democracia francesa 1848. A diferença entre eles é que Napoleão III não tinha passado por uma a escola militar de oficiais. Ao fazer a Guerra contra a Prússia foi derrotado humilhantemente por Bismarck. Eduardo Bolsonaro declarou guerra a Venezuela. Seu Pai, um entusiasta da “paz” interna, vai criar uma comoção generalizada na América Latina com a perturbação da paz externa?

Enquanto a cabeça de Bolsonaro puder rolar no cadafalso do STF, a tática é apresentar o capitão Bolsonaro como Jairzinho paz e amor, em uma paródia soturna ao Lulinha paz e amor.   Ao tomar posse na presidência da República, então, o verdadeiro Jair Bolsonaro aparecerá como carne e osso, ou então com sua farda de gala de general 4 estrelas do Exército brasileiro., pois, ele será o comandante-mor das Forças Armadas nacionais: general dos generais!    

A estratégia de criar o bloco-de-poder NOVA DIREITA foi um golpe de mestre do capitão. Falar que os mass media são parte do seu Exército ideológico, eis a ratificação da interpretação que a psicanálise em gramática marxista vinha fazendo já há algum tempo. A Globo News é o centro tático nervoso ideológico do exército messiânico. Não obstante, a Nova Direita é um fenômeno político do programa mínimo do capitão.

O programa mínimo se declara ultraliberal ao gosto do Mercado Financeiro e do grande capital neocolonial mundial. A contradição principal da era do programa mínimo é aquela entre o bloco-de-poder ultraliberal, neocolonial e o Estado getulista 1988. O capitão dará um passo de cada vez?

Primeiro seu ministro da economia anuncia a Reforma da Previdência e o corte de privilégios do funcionalismo público. A Reforma da Previdência extinguirá os privilégios das castas burocráticas, menos os privilégios da casta burocrática militar? A inconsistência não será um problema, pois, os mass media defenderão a Reforma da Previdência do chicago boy conhecido, na gíria jornalística, como Posto Ypiranga. Quando o capitão comanda, os mass media fazem ordem unida.  

Teremos uma Reforma  da Previdência autocrática!

O que se anuncia no governo Bolsonaro é o uso da política externa como suplemento da política interna. O capitão é um admirador da política do americanismo atual, da política do equilíbrio de poder de Donald Trump.

O livro “A Guerra” da Biblioteca do Exército, de Quince Wright , se debruça com vagar no conceito política do equilíbrio do poder. O livro consta da bibliografia universitária dos cadetes das Agulhas Negras.

Há uma passagem do livro que cai como luva na interpretação da política de Trump:
“Um equilíbrio de poder estável, estimulando o comércio internacional, as comunicações e a difusão da cultura desenvolve condições favoráveis ao constitucionalismo, à democracia, às convenções e às organizações internacionais, que tendem a unificar a civilização e a estabelecer preferência do bem-estar sobre o poder, enfraquecendo desta forma a disposição dos governos em dar atenção à força”. (Wright: 107).  

Quince parece falar da política do equilíbrio do poder da civilização do globalismo ultraliberal, que Trump está desintegrando com sua política nacionalista do isolamento americano imperial:
“Quando falham os esforços para federalizar os Estados de uma civilização, as tendências imperialistas ou a anarquia se seguem aos períodos de equilíbrio de poder”. (Wright: 107).

Bolsonaro pode ser seduzido pela nova política de equilíbrio de poder do americanismo a Trump? Se o capitão fizer a leitura da política do equilíbrio de poder do americanismo aplicada a política brasileira fazendo pendant com a política na América Latina, Então:
“No emprego dinâmico da expressão equilíbrio de poder existem já aspectos de uma situação em que a lei, a organização e a opinião pública podem vir a se tornar mais importante do que o poder militar”. (Wright: 100).

A ideia militar de uma guerra com a Venezuela pode ser a causa da formação de um bloco-no-poder do capitalismo neocolonial. Em um Brasil assolado pela stásis em suas múltiplas formas, a política como guerra é uma questão cadente. Buscar o equilíbrio de poder interior à Nação, eis um problema que aflige a ESG e os generais. Se envolver na guerra lumpesinal criminal dos de baixo, exige uma política militar que tenha o apoio da opinião pública e da ordem legal. Os mass media passam a ter um lugar tático decisivo na luta do bloco-no-poder contra o crime e os criminosos. Se o bloco-no=poder neocolonial quer governar durante 20 anos, ele tem que pacificar as grandes cidades, lugar no qual se articulam as organizações criminosas dos de baixo. 

A política como guerra militar pode não se encontrar ao alcance do governo Bolsonaro?  

O que é a guerra?  

Philonenko diz:
“La guerre n’est pas lutte. Le propre de la guerre est d’être une action violente s’inscrivant dans une histoire. Le terme qui doit retent dans cette définition est le mot histoire. La guerre ne se sépare pas de l’histoire et toutes les actions violentes ne sont pas pour autant des action de guerre: c’est seulement quand une action violente s’inscrit dans l’histoire, lorsqu’elle s’écrit en s’inscrivant, qu’elle atteint la dimension de la guerre. Toutes les actions qui ne débouchent pas sur l’histoire doivent être rangées sous le concept de lutte. Cést ainsi qu’il n’y a pas, stricto sensu, de guerre animale; il existe seulement des luttes animales et l’ont pourrait reprocher à la philosophie hégélienne d’avoir mis sur le même plan la lutte du maître et de l’esclave et la guerre propriement dite”. (Philonenko: 184).   

A violência inscrita na história política brasileira em um sentido amplo subssume a luta à guerra. A luta política é aquela de um embate entre adversários. A guerra faz da política o espaço do conflito entre inimigos. O capitão diz que vai varrer da face da terra os vermelhos, os comunistas. Não e trata de “retórica”, se isto tiver ao alcance de sua mão, em algum momento.

A destruição da pequena burguesia pública será a inscrição da violência na história do messianismo e do condottiere Bolsonaro. A história se apresenta pela dialética entre o bloco-no-poder capitalista neocolonial versus o Estado getulista 1988.

Na terceira-década do século XXI, a história se define pela dialética amigo e inimigo:
 “A distinção especificamente política a que podem reportar-se as ações e os motivo é a discriminação entre amigo e inimigo. Ela fornece uma determinação conceitual no sentido de um critério, não como definição exaustiva ou especificação de conteúdos. Na medida em que ela não é derivável de outros critérios, corresponde, para o político, aos critérios relativamente independentes das demais contraposições: bom e mau, no moral; belo e feio, no estético etc.”. (Schmitt: 51-52).

A história da república messiânica será aquela  da política como guerra, ou seja, desprovida de moralidade política.  
         
                                                                              III

A gramática da guerra move a ideologia do superministro da economia, que será o gramático-condottiere-econômico do bloco-no-poder do capitalismo neocolonial.  O bloco-no-poder é aquele que tem como classe social gramatical hegemônica o grande capital neocolonial do terceiro-mundo. A forma política do bloco em tela é aquela da ditadura econômica do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

O desenvolvimento da contradição bloco-no-poder versus Estado getulista 1988 se atualizará em uma guerra econômica (uso da violência econômica sem limite do Estado messiânico como ersatz de violência militar na história) do bloco-no-poder neocolonial contra o trabalho assalariado e contra a sociedade salarial pública. A guerra econômica militarizada do capital neocolonial se traduzirá em uma economia de guerra para o trabalho em geral e a sociedade salarial em particular.

A violência da história na política e na sociedade da era messiânica não significa um choque traumático para a democracia 1988?

BUCI-GLUCKSMANN, Christine. Gramsci et l’État. Paris;  Fayard, 1975
CLAUSEWITZ, Carl Von. Da guerra. SP: Martins Fontes, 1979
PHILONENKO, Alexis. Essais sur la  philosophie de la guerre. Paris: J. Vrin, 1988
SCHMITT, Carl. O conceito do político. Petrópolis: VOZES. 1992
SIMMEL, Georg. Philosophie de la modernité. V. 1. Paris: Payot, 1989
WRIGHT, Quince.  A guerra. RJ: BIBLEX, 1988              

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

MESSIANISMO NEOCOLONIAL E PEQUENA-BURGUESIA




José Paulo





As interpretações da profunda transformação do Brasil estão eivadas de subjetivismo ou pseudo-objetivismo. A radical transmutação do país tem como sintoma as eleições 2018. O eleitor criou um partido do pó (o PSL de Jair Messias Bolsonaro), elegeu vários governadores do PSL e elege Messias para a presidência da República, no último domingo de outubro.   



Fernando Henrique Cardoso diz que a fala do chefe do PSL na Câmara de deputados nacional (filho de Messias) tem “cheiro de fascismo”. O PSL e Bolsonaro fazem um discurso político associado à extrema-direita. Os desejos políticos dessa tropa política são claramente signos do neofascismo no Brasil.



O subjetivismo da ciência política ao jornalismo não chega a atribuir o surgimento do messianismo neofascista à aversão sexual olfativa que a maioria da população desenvolveu a Lula e ao lulismo. Há um elemento subjetivo das massas eleitorais associado ao antilulismo . Mas agora é preciso explicar o fenômeno político em tela como junção de subjetividade e objetividade.    



A provinciana cultura política brasileira não gramaticalizou o dito do Le Figaro: no último domingo de outubro o Brasil elege o “pequeno Hitler tropical”. No entanto, o que a elite democrática europeia ocidental não sabe que sabe é que as eleições 2018 brasileiras dão um passo à frente  na política, pondo em questão a teoria e a prática da gramática da soberania, e propondo um novo gramático soberano.



O deputado nacional Eduardo Bolsonaro é o chefe real do PSL - partido do pai Jair Messias Bolsonaro. Em um vídeo circulando nas redes sociais, Eduardo diz que para fechar o STF basta um cabo e um soldado. O dito de Eduardo põe e repõe a questão  da soberania da democracia 1988. Eduardo diz que o Pai é o soberano que pode fechar o STF com uma ordem militar cumprida por um cabo e um soldado. Alias, a reação do STF, do Congresso e do presidente Temer diz tudo sobre o desejo de alterar o fenômeno da soberania no Brasil.



Temer não é um democrata: então se calou e legitimou a fala  de Eduardo. Os presidentes da Câmara nacional de deputados e do senado fizeram ouvido moucos. O presidente do STF foi indigno para o cargo que ocupa ao dizer que não comentaria para não pôr mais lenha na fogueira neofascista. No momento, o STF ameaça dizer algo, mas não diz que vai agir contra o deputado. Os mass media não consideram o fato tão grave quanto o último assassinato de um morador do Rio. Cientistas políticos não sabem como tratar o problema. O Pai diz que a fala do filho foi descontextualizada.



Sem saber sabendo, Eduardo pôs em questão a democracia 1988 contida, virtualmente, na Constituição 1988. No Brasil, o juízes do STF se autodefinem como guardiões da Constituição; eles não falam de si como guardiões da democracia 1988. O presidente Toffoli vem de uma formação ideológica totalitária de esquerda (lulismo); ele parece desconhecer o que seja moralidade política democrática.



Vamos ao que interessa!



Na concepção do messianismo quem é o soberano da República?



O messianismo é uma forma embrionária de pensamento político, na teoria, e se desenvolvendo na prática (a partir da realidade do fatos em si e de artefatos discursivos) como efeito da soberania popular na política brasileira: eleição de Jair, construção do PSL neofascista, instituição da família Bolsonaro como centro do poder político brasileiro, ou mais exatamente, como potência soberana:

“République est un droit gouvernement de plusieurs ménages et de ce qui leur est commun, avec puissance souveraine”. (Chevallier: 271).



Tendo a família Bolsonaro no centro do poder brasileiro, trata-se do :“Gouvernement de plusiuers ménages (mesnages) , ou familles”. (Chevallier: 271). A ideologia dos costumes conservadores familial foi uma catapulta da eleição de Bolsonaro e da eleição de seus filhos. O Rio elegeu um filho para representa-lo como senador e de quebra elege um juiz-agregado da família Bolsonaro, um  messiânico de quatro costados para governador.



O messianismo introduz no Brasil o fenômeno da substituição da elite política. Generais, coronéis, majores e juízes compõem a nova elite do poder. A elite do poder messiânica altera, pelo simples fato de sua existência, a ideia de uma sociedade de direito liberal clássica, em sua, essência:

“On notera également que la loi est le commandement du souverain usant de as puissance et ne droit pas être confundue avec le Droit, qui emporte l’équité et rien qu’elle, non le commandemant”. (Chevallier: 272).



A lei é o comando do soberano - do gramático da política que detém o poder nacional -  que não se confunde com o estado de direito (com a gramática do direito). A sede da soberania é aquilo que determina a forma do Estado, ou melhor, a gramática da soberania distingue as formas de Estado:

“c’est monarchie lorsqu’un seul possède la souveraineté, et le reste du peuple n’y a ‘que voir’; c’est aristocratie lorsque la moindre partie du peuple a la souveraineté en corps et donne loi au reste; c’est démocratie lorsque tout le peuple ou la plupart ˂d’icelui en corps˃ a la puissance souveraine”. (Chevallier: 273).



A citação acima serve para mostrar que a alteração profunda da política significa a mudança da gramática da soberania. Na idade moderna, a gramática democrática define o poder como sendo fundado pela  soberania popular. O fascismo mudou a gramática abolindo a soberania popular como fonte legítima da conservação do poder. Ditaduras militares como a brasileira não aboliram a soberania popular, como a ditadura militar argentina. Ditaduras recorrem a mecanismos populares (plebiscito) para se conservarem como forma de Estado, como a ditadura de Pinochet.  



O que fará o neofascismo tropical? Ele começa pondo em questão a democracia 1988. Ele diz que os partidos não participarão do poder no aparelho de Estado. Trata-se de um paroxismo lógico, pois, o sistema político presidencialista não governa sem os partidos que governam o Congresso e o aparelho de Estado. Os partidos que governam o aparelho de Estado o fazem para os interesses das classes e frações de classe da sociedade de classes gramatical. O equilíbrio da sociedade gramatical de classes se expressa no governo dos partidos conforme o Artigo 17 da Constituição 1988.



O laço gramatical de interesses entre partidos e classes depende do governo do Estado material pelos partidos. Logo, o messianismo é portador de uma ideologia política que põe em curto-circuito a relação entre o governo federal e o Congresso nacional. Isto tudo é dito pela ciência política. Então, o que não é dito?



Um governo que tem como núcleo dirigente generais e quejandos extraídos da alta burocracia militar. A alta burocracia militar tem um pertencimento de classe burguês ou pequeno-burguês?  



A pequena-burguesia tradicional (pequena produção e pequena propriedade) e moderna (sociedade salarial) formam a direção ideológica da soberania popular. Ao conquistar tais classe, Bolsonaro se tornou imbatível. Naturalmente, a pequena-burguesia se torna a classe reinante detentora do governo do aparelho de Estado sem ser a classe hegemônica no bloco-no-poder. A pequena-burguesia não faz parte do bloco-no-poder (ela estabelece uma aliança com o bloco-no-poder. (Poulantzas. 1975: 75). A pequena-burguesia fornece o alto pessoal burocrático-militar, enquanto a grande burguesia detém a hegemonia. O governo Bolsonaro  começa com a pequena-burguesia ocupando o lugar de classe ˂governante˃  e ˂classe dirigente˃. (VEJA: 40-45).

                                                                          II



É preciso evitar o  erro  crasso do neofascismo como ditadura da pequena-burguesia, assim como fascismo não foi a ditadura da pequena-burguesia.  (Poulantzas. 1978: 260).  A pequena-burguesia é classe-apoio do Estado neofascista por crença ideológica e não por interesse econômico. Sendo afetada, negativamente, em seus interesses econômicos, ela apoia o bloco-no-poder capitalista neocolonial do terceiro-mundo até o fim, por desejo ideológico.



A pequena-burguesia tem uma fração ligada ao Estado-cientista. (Châtelet: 235). Trata-se de uma classe simbólica pública que se tornada classe reinante poderia conduzir o país para uma via  de desenvolvimento capitalista neocolonial com um novo modelo industrial. Claro que seria necessário aplicar força  gramatical sobre a classe simbólica para que ela tomasse o lugar de classe dirigente do Estado cientista.



O neofascismo significa a destruição da classe simbólica como via de desenvolvimento do capitalismo neocolonial fazendo pendant com o capitalismo neocolonial emergente asiático: China e Índia. O Brasil de Bolsonaro é a via para o capitalismo neocolonial subemergente.  



                                                                           III

A soberania popular precisa ser nomeada com um nome conjuntural. A ideologia da pequena-burguesia reinante se caracteriza pelo desejo social: de um Estado forte; Estado-arbitro acima das classes sociais  gramaticais, uma espécie de cesarismo social;  estadolatria (núcleo dirigente do aparelho de Estado formado por generais); ideologia corporativa pelo alto; Estado neutro com autonomia absoluta em relação ao  bloco-no-poder;  burocratismo, ou seja, um estado de identificação das massas pequeno-burguesas com as “cúpulas”, hierarquização e estabelecimento de uma autoridade burocrática soberana.



A ideologia em tela é aquela da soberania popular como soberania do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Como são dadas condições de possibilidade ao fenômeno supracitado em uma era e ciberespaço e cibercultura no comando da economia, política e cultura tout court?  



O desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo neocolonial associa o cibercapitalismo neocolonial com uma crise do capitalismo industrial dependente e associado. A pequena-burguesia é afetada nas suas aspirações de uma vida confortável e de felicidade com empregos criativos e férias na Europa e nos EUA. O Sudeste é a região mais afetada e que se passa inteira para o lado messiânico.



A crise do Sudeste se traduz como crise do bloco-no-poder sob a hegemonia da grande indústria paulista e carioca. O neofascismo é fruto de uma  crise combinada da pequena-burguesia fazendo pendant com a crise do bloco-no-poder. A crise de hegemonia industrial afeta o funcionamento do Estado capitalista 1988. Ela provoca uma desorientação ideológica e política na economia de commodities de São Paulo ao Centro-oeste. O bloco-no-poder crê que a solução é a destruição do Estado getulista 1988.



A destruição do Estado getulista é visto como um ponto tático necessário para transformar o Estado brasileiro em um Estado fiscal e de segurança pública, Estado de polícia. A grande burguesia quer ao mesmo tempo, um Estado ultraliberal e intervencionista. Este xifópago capitalista usaria a mais-valia - que faz o aparelho social do estado funcionar – em investimento no mundo privado reerguendo a velha economia capitalista. De quebra, a privatização das empresas estatais fechariam a equação capitalista em retrocesso.  



O governo Bolsonaro parte da garantia de que a Reforma Trabalhista permanecerá intacta. Ás vezes, promete fazer uma Reforma da Previdência (ponto da política messiânica que estabelece uma aliança com os mass media em geral) sem tocar nos privilégios de militares, policiais e juízes. Trata-se de uma Reforma da Previdência oligárquica, pois, faz dos grupos em tela oligarquias burocráticas incrustadas no aparelho de Estado.



Tal política bolsonarista significa a construção de um Estado capitalista neocolonial do terceiro-mundo. O capitão Jair não admirava o Estado venezuelano do coronel Hugo Chaves sem motivo. O totalitarismo chavista constrói o Estado das oligarquias militar e judicial. Aliás, o Estado chavista se sustenta hoje graças as suas relações econômica e política com a China, principalmente. O Estado messiânico procura sua base de sustentação internacional nos EUA de Donald Trump. A ligação da Okhrana  brasileira com a Okhrana americana (CIA, FBA, complexo industrial militar etc.) parece ser o caminho mais curto para o Brasil se tornar o capitalismo neocolonial  do terceiro-mundo da periferia do poderoso capitalismo neocolonial americano.           



O messianismo é um ser político que segue o movimento inercial do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Esse capitalismo se sustenta, repito, na autoilusão burguesa de um retorno do capitalismo industrial dependente e associado. O messianismo não se caracteriza por possuir uma ideologia econômica capitalista do século XXI. Sua ideologia econômica é aquela velha ideologia do capitalismo dependente e associado do século XX.



A política econômica do messianismo quer ser conforme a ideologia do Mercado Financeiro e da esperança do grande capital de que a mágica destruição do Estado getulista 1988 faça retornar  o velho modelo industrial paulista. Para convencer o Mercado e o grande capital de que o seu governo desmontará o Estado getulista e o embrião de Estado-cientista, Bolsonaro entregará um  superministério da economia para um homem do Mercado Financeiro, um chicago boy que trabalhou na ditadura ultraliberal de Pinochet.



Como fundamento da sociedade de classes gramatical, a soberania pequeno-burguesa capitalista neocolonial  é o fenômeno ideológico que sustenta o messianismo como fenômeno político.



Sobre a questão do Estado neofascista tropical, isso abordaremos em um outro ensaio. 



CHÂTELET & DUHAMEL & Pisier-Kouchner. Histoire des idées politiques. Paris; PUF, 1982

CHEVALLIER, Jean-Jacques. Histoire de la pensée politique. Paris: Payot & Rivages, 1993

POULANTZAS, Nicos. Pouvoir politique et classes sociales. V. 2. Paris: Maspero, 1975

POULANTZAS, Nicos. Fascismo e ditadura. SP: Martins Fontes, 1978



OUTROS

Revista VEJA. 24 de outubro de 2018.

              







          

 





                

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

NOTA SOBRE FASCISMO E NEOFASCISMO


José Paulo 



O fascismo e o nazismo surgem na  Itália e na Alemanha. Qual é a realidade política destes países?



A política é feita por partidos políticos burgueses, pequenos burgueses e operários. Os partidos procuram se adaptar ao modelo político do partido socialdemocrata alemão da época de Marx e Engels. Trata-se de um partido de massas.



A década de 1920 é aquela do apogeu da política organizada e sob comando dos partidos políticos. A revolução social faz o contraponto à política burguesa. Vemos uma dialética simplificada pela luta de classes que leva a Internacional Comunista da URSS e os partidos comunistas a falarem de socialfascismo. A simplificação resulta na identificação da política fascista com a política democrática representativa; a “esquerda” crê que a política fascista é um suplemento da política democrática - um ersatz da política democrática burguesa da socialdemocracia, por exemplo.



Na atualidade, a luta de classes encontra-se expulsa para o mundo invisível da tela gramatical da política. No Brasil, há a luta de classe da grande burguesia contra a sociedade salarial cujo maior signo é a Reforma Trabalhista do programa “Uma ponte para o futuro”, de Moreira Franco e Michel Temer. O neofascismo é a ofensiva do grande capital sobre a retirada dos direitos trabalhistas  da sociedade salarial sem resistência das massas salariais.



A sociedade salarial vota no neofascismo guiada pelo olfato; o neofascismo se apresenta como projeto de moralidade política para restaurar a moralidade política destruída pela era Lula; ele diz que criará uma moralidade política prazerosa para as massas sofridas da era Lula; a falta de moralidade política democrática gera um cheiro nauseabundo na atmosfera da tela gramatical da política, provocando o sofrimento da maioria da soberania popular; o neofascismo soube pelo  WhatsApp amplificar o cheiro nauseabundo da falta de moralidade política impregnada no corpo político de Lula; a vitória de Bolsonaro se deve a falta de moralidade política democrática na atmosfera da tela gramatical do regime 1988.    



Na década de 1920, a crise de representação partidária é um fenômeno no qual os partidos deixam de representar os representados; os partidos se separam das classes sociais que representam em situação normal. Na atualidade, os partidos vivem em um estado autotélico no qual pouco se importam com a soberania popular; ele continuam representando os interesses do capitalismo neocolonial em uma conjuntura de crise mundial do capitalismo do globalismo neoliberal; os partidos da gramática do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo se abrem para ideologias radicais como a ciberideologia messiânica (de Messias Bolsonaro) do terceiro-mundo.



A tomada do poder por Bolsonaro se realiza pelo uso maciço da ciberideologia neofascista no WhatsApp. Este é o grau zero das gramáticas da sociedade de comunicação, como percebeu Bruno Cavas. A cibersgrammaticatura é a solução neofascista para ganhar eleição e fabricar uma ideologia neofascista. Um Estado neofascista brasileiro surgirá do funcionamento ideológico, em estado permanente de sgrammaticatura (falta de gramática), do WhatsApp?         



                                                                                  II



O fascismo é um efeito da luta de classes (revolução operária, ameaça de revolução social com governo operário) e da sociedade de classes capitalista europeia. O bloco-no-poder fascista tem como classe hegemônica o grande capital. Tal bloco se constitui como ofensiva do grande capital na exploração da classe operária através da luta de classe daquela classe contra a classe operária e seus partidos políticos.  



                                                                          

O nazismo triunfou em uma crise capitalista mundial que nos EUA conduziu a política do New Deal de Roosevelt:

“En Alemania, el nacionalsocialismo triunfó por ‘via democrática’, apoyado por las clases medias que luchaban contra su proletarización forzada por la crises y que se dejaban fácilmente arrastrar por la demagogia revanchista del partido nazi. Por outra parte, la contrarrevolución alemana colmaba los interesses de la alta burguesia y de la aristocracia militarista. La posibilidad de crear un império en la misma Europa hacía soñar al capital alemán con un inmenso mercado a dominar y a someter. El campesinado y la clase media urbana se convirtieron en los principales soportes populares del  nazismo. La crisis lanzó a esas clases sociales a los brazos de Hitler”. (Fioravanti: 113-114).  



Para construir o fascismo alemão, Hitler se integrou a um  minúsculo partido que teve seu nome alterado em 1° de abril de 1920, para Partido Nacional-Socialista dos trabalhadores Alemães. A relação com a classe operária explica o aspecto obreirista da ideologia fascista (“anticapitalista”), que entra em  declínio com o avanço do aspecto propriamente “pequeno-burguês”, sob a forma da ideologia corporativista. A história do fascismo inclui a transformação do partido nazi em um partido de massas. A política fascista é a criação de uma lado do polígono mistilíneo da tela gramatical da política alemã em choque com o lado comunista do polígono.



A política alemã não se movia pelo imaginário político retilíneo esquerda versus direita. Tal imaginário já é uma simplificação topológica da política constituída no espaço simbólico da tela gramatical da política do polígono mistilíneo.  



No Brasil, o jornalismo do Estado vídeocrático  (Debray: 139) fala da política explorando o imaginário político esquerda versus direita. Assim, o aparecimento do messianismo neofascista (de Messias Bolsonaro) significou um tremendo embaraço para os jornalistas e cientista políticos do tele-Estado. Bolsonaro se encontrava na  extrema-direita e o jornalismo achou melhor ocultar tal fato. Uma  facção jornalista messiânica se formou facilmente para fazer a campanha de Bolsonaro no tele-Estado.



O uso que o lulismo faz da palavra fascismo é mistificador, pois, significa o inimigo do petismo. Como o jornalismo é antilulista, parece natural que ele  tente banir a palavra da cultura política nacional. No entanto, a psicanálise em gramática marxista fez do neofascismo um significante que surge como ciberEstado.



A facilidade da gramaticalização do significante em tela na cultura mundial mostra que a psicanálise supracitada encontra-se no caminho certo. A vitória iminente de Bolsonaro exigirá que o neofascismo tropicalista seja metabolizado pelo espaço público procedural. Dificilmente, a família Bolsonaro terá sua vontade de desenvolver a ideologia neofascista mal recebida  entre as massas sujeito grau zero democrático.



Já há demonstrações no aparelho repressivo de Estado de simpatias à ideologia neofascista.  No apagar das luzes, Temer assinou o Decreto 9.527/2018, publicado no Diário Oficial da União, criando a chamada Força-Tarefa de inteligência. Rigorosamente, trata-se da centralização da Okhrana (das polícias secretas nacional e local) com pretexto estratégico de combater o crime organizado dos de baixo nas grandes cidades.  



Temer e Moreira Franco resolveram ajudar Bolsonaro na montagem de um Estado que já não é mais o Estado constitucional democrático 1988. O Estado da polícia secreta (Okhrana neofascista) servirá ao governo Bolsonaro. Seu chefe será um general com ideologia neofascista declarada. É o primeiro-passo para a criação do Estado neofascista tropicalista.



Comandante das forças de ocupação no Haiti na era Lula, o general Heleno mostrou que não se preocupava com direitos individuais, direitos humanos e legalidade da ação policial-militar nas favelas do Haiti. Temer diz que a criação de sua Okhrana é para combater as organizações lumpencriminosas. Fazendo pendant com o general Heleno na chefia do Ministério da Defesa, o Estado bolsonarista não entrará em conflito aberto com os Artigo 5° do Estado democrático virtual contido na Constituição 1988?



O Decreto 9.527/2018 da Força Tarefa de inteligência é o primeiro passo para a retomada de uma legislação antiterrorismo de 2016, do governo Dilma Rousseff,  que pretende: a) criminalizar como terrorista as lutas na rua contra o Estado neofascista; b) criminalizar também as manifestações de críticas da política do novo Estado na cibercultura.



O regime de liberdade de expressão policiada do Facebook será substituído pela repressão ao “marxismo cultural”, como já afirmaram deputados do PSL de Jair Bolsonaro. O combate ao marxismo cultural não poupará jornalistas e até comediantes da televisão. O marxismo cultural é a senha negra para processar nos tribunais neofascistas como terroristas os cibernautas que mantém  blogs literários e científicos de linhagem crítica ilustrada. O PSL quer aprovar leis que incluam a prisão perpétua para os crimes de terrorismo.  



A legislação antiterrorista do bloco de poder na Câmara sob a hegemonia neofascista do PSL vê com naturalidade a ideia de construir campo de concentração para esquerdistas. A política de destruição do Estado getulista 1988 será a causa de um movimento  reativo de massas que terá como centro as lutas estudantis contra a desarticulação do sistema universitário estatal. Tido  como luta econômica do reformismo burguês contra o passado getulista e contra o Estado lulista multiculturalista, o neofascismo aponta para a inevitabilidade da exclusão da sociedade universitária científica da vida brasileira. O ataque devastador à classe média simbólica pública é uma crônica da morte anunciada. 



Há uma razão para ao destruição da classe média simbólica. Ela pode atuar como classe distinta ou fração autônoma  (Poulantzas: 72) de um Estado-cientista (Châtelet: 610) que comandaria a evolução do país para um capitalismo tendo no comando um novo modelo industrial. Assim, o Brasil deixaria de ser um país subemergente para se tornar um país emergente no bloco do capitalismo asiático com a China e a Índia.  Portanto, trata-se de um conflito agônico entre duas vias capitalista, levando a melhor, na situação atual, o capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.   

A luta econômica reformista (ultraliberal neocolonial do terceiro-mundo) dos mass media é a ressignificação do capitalismo brasileiro na via do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Este não precisa de uma geoeconomia da grande sociedade industrial  em um país continental com mais de 200 milhões de habitantes. O Estado neofascista se caracteriza por tratar as massas desempregadas como massas disponíveis para o crime organizado dos de baixo. Esta linha de política econômica espera uma solução mágica para a retomada do modelo industrial baseado no velho sistema do capitalismo dependente e associado.       

                                                                                 III

Como pensar a diferença entre fascismo e neofascismo, sem debulhar suas similitudes, jogando-as na lata de lixo ?



O fascismo surge na transição do capitalismo liberal para o  capitalismo monopolista de Estado nacional nos elos mais fracos políticos da cadeia democrática ocidental O neofascismo surge na transição do capitalismo neoliberal do globalismo para o capitalismo neocolonial; emerge no elo mais fraco da cadeia capitalista neocolonial, isto é, na formação gramatical do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo; ele é o peixe que solta para  fora do oceano no elo mais fraco da cadeia da democracia ocidental como civilização da modernidade.



O neofascismo significa uma ofensiva do grande capital (e do Mercado Financeiro) na política brasileira. Uma ofensiva iniciada no governo Dilma Rousseff com  sua guinada para o neoliberalismo. A queda de Rousseff e a tomada do poder nacional pelo “traidor” Temer, (pois, vice de Rousseff) se fez sob a direção do político e sociólogo carioca, da família de Getúlio Vargas, Moreira Franco.



Moreira Franco é o ideólogo do ultraliberalismo neocolonial do terceiro-mundo com seu projeto “A Ponte para o Futuro”. Tal projeto realizado, em parte, no governo Temer é o cimento de um bloco-no-poder capitalista neocolonial do  terceiro-mundo. Vindo da ideologia corporativa da fração militar da burguesia de Estado, Bolsonaro se apresentou como um ultraliberal a Moreira. Assim foi estabelecido laços políticos entre o neofascismo e o moreirismo através da ideologia ultraliberal neocolonial, hoje, representada,  sem contradições, pelo vice de Messias, o general Mourão, amigo de caserna do general Heleno.



Ao contrário do fascismo, o neofascismo é, por enquanto, um xifópago intervencionista (plasmado pela ideologia corporativa pelo alto) e ultraliberal. A contradição terá que ser resolvida caso Bolsonaro queira desenvolver uma ideologia neofascista que não seja híbrida. Os generais aposentados do messianismo no poder não terão que abrir mão da ideologia  corporativista, pois, a Reforma da Previdência do governo Bolsonaro fará dos militares uma casta com direitos especiais em relação aos servidores públicos e ao restante da população assalariada. Resta saber se o juiz, o policial federal e quejandos também serão transformados em uma casta do aparelho repressivo  de Estado. Trata-se da ideologia corporativa neofascista tropical. Quanto ao intervencionismo, Bolsonaro poderá privatizar a maioria das empresas estatais inúteis para a evolução do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.



Parece que o governo Temer resolveu fazer a transição para o governo Bolsonaro apostando na construção do Estado neofascista tropical. Assim, Moreira Franco poderá fazer parte do governo Bolsonaro e Temer se livrar do encarceramento que o  espera no fim de seus governo.




CHÂTELET & PISIER-KOUCHNER. Les conceptions politiques du XX° Siècles. Paris: PUF, 1981 
FIORAVANTI, Eduardo. El capital monopolista internacional., Barcelona: Ediciones Penínsaula, 1976
POULANTZAS, Nicos. Pouvoir politique et classes sociales. v. II. Paris: Maspero, 1971
                       


sábado, 13 de outubro de 2018

ÉTICA, POLÍTICA, IDEOLOGIA DE RUA


José Paulo



No Brasil, as eleições 2018 foram uma  resposta da população a destruição da moralidade no espaço político? No escuro, o eleitorado renovou o Congresso nacional com parcelas significativas, na Câmara de deputados e no Senado, de novos políticos. Aliás, uma parcela do eleitorado permaneceu fiel à velha oligarquia política que até, então, dominava o Congresso.



Ainda é cedo para saber se o novo Congresso será um palco de fabricação de uma nova gramática da nossa política.



A  nova gramatica  da política pode ser um aprofundamento da democracia?



A gramática da democracia se define pela dialética entre oposição e situação. Assim, a oposição articula-se como centro moral-político. A era petista se caracterizou pela dissolução da oposição como centro-moral da política. A formação do governo de coalizão no Congresso para formar maioria eventual governamental se fez através da cooptação fisiológica e da corrupção público-privada. Trata-se de uma história viva na memória da população.



O gramático petista sem gramática moral fundou uma época de grande confusão, desordem no terreno das ideologias, bloqueando o agir das formas de consciência do povo (classes sociais dos de baixo e médias) e das elites em relação dialética com o inconsciente oligárquico da política brasileira.



A era petista (do bolivariano) é aquela da crise global do capitalismo dependente e associado. Tal crise encontra-se em processo na destruição do velho modelo industrial FHC e na desarticulação de São Paulo como centro político do país.



Na eleição 2018, há o deslocamento do centro político para o Rio que cria os fundamentos ,geopoliticamente, de uma nova gramática da política na terceira década do século XXI?



                                                                                        

O Rio é o lugar: a) da Petrobrás ou regime econômico fóssil do desenvolvimento nacional; b) do Exército como instituição estratégica no problema da segurança pública e capitalista; c) da hegemonia dos mass media seculares sobre as massas da civilização tropicalista; d) casa do  saber ideologia dominante multiculturalista (mulher, negro, LGBT, favela etc.); do marxismo brasileiro gramatical.  

Messias Bolsonaro e seu partido (PSL) têm a preferência do Mercado Financeiro e da sociedade do rico ariano carioca e paulista, da classe média e dos de baixo em revolta contra a política da era do bolivariano. Haddad acena para a velha grande indústria paulista do capitalismo dependente e associado. O messianismo ciberfascista ou neofascismo tropicalista tem ligação tática com a facção cultural dos mass media carioca e paulista, secular e evangélico fundamentalista. Haddad conta, somente, com a boa vontade do liberalismo da  revista VEJA. 



A ligação do messianismo ciberfascista com os mass media do Rio anda claudicante, pois, a ideologia formal multiculturalista destes (mulher, negro, LFBTI) encontra-se em um permanente estado de contradições com a ideologia de rua neofascista do messianismo de massa. Crimes são cometidos contra negros, mulheres e LGBTs pelos bandos fascistas de rua.  



Retomando o fio da meada, messianismo e petismo não enfrentam a crise econômica e cultural estrutural do capitalismo no Brasil. Esta se caracteriza pela dissolução do modelo industrial paulista e pela perda na  cultura letrada da hegemonia das universidades paulistas: USP E UNICAMP. O aliança tácita da facção cultural dos mass media  com o ciberfascismo messiânico altera o espaço geral  da cultura brasileira?



Facções da universidade privada flertam com a formação deste bloco de poder virtual e atual da direita brasileira; cientistas políticos empolgam-se com a virada da esquerda para a direita no poder brasileiro via eleições; o governo Temer foi o começo de uma era com a direita  no poder de Estado com perspectiva de se perpetuar; uma parte da nação assiste aturdida a ascensão da extrema-direita na política nacional e local, no espaço público e privado; a esquerda caminha para o  enfraquecimento, para o desmilinguir-se,  permanente caso continue sob o domínio do Partido dos Trabalhadores.  



O PT é um partido da velha sociedade salarial industrial. Seus intelectuais são  reféns da velha cultura industrial paulista. O pensamento político do PT é a decadência da dominação da velha sociedade fóssil brasileira. Na era lula, o PT  fez aliança com o capital financeiro mundial (e Bancos locais) tendo  como elo de ligação o pagamento de uma  dívida financeira externa que não parou de crescer. Com Lula, o lucro do capital fictício chegou ao apogeu de um capitalismo ora em acuado pela realidade capitalista dos fatos. .



Com o desaparecimento da dominação econômica da velha sociedade industrial, toda a sua superestrutura ideológica e política se inclina, lentamente, para o colapso irrevogável. No vácuo da dominação econômica e da articulação da hegemonia que fazem pendant com o velho modelo da sociedade industrial do automóvel, emerge o capitalismo neocolonial do terceiro mundo.



O neofascismo tropicalista  e o bloco de poder da direita oligárquica neófita se apresentam como fenômenos (subjetivo e objetivo) superestruturais do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. O que os define é não ter como actrator, como fantasia lacaniana do futuro, um novo modelo industrial tendo  como carro-chefe o Estado-cientista capaz de articular o sistema universitário estatal  e instituições de pesquisa à cibercultura. O novo Brasil industrial só se fará com mil Embrapas.      



                                                                                     II



O marxismo de Marx e Engels reduziu o Estado a um instrumento (aparelho de Estado) fazendo pendant com o poder do Estado exercido por classes sociais. (Balibar: 94). O Estado é a realidade conceituada como um fenômeno objetivo no campo político das classes sociais. A lógica dos interesses econômico de classe atua como um determinismo economicista.



O conceito supracitado não foi o guia da prática política do PT? A política não foi vivida intencionalmente como relação do uso do poder de Estado  pelo partido político na lógica do domínio das classes sociais? Não há algo faltando na prática política petista? A falta em questão não levou a política petista para o caminho da corrupção da política nacional em uma escala que ultrapassou a corrupção tradicional da política oligárquica?

O leitor já deve ter percebido que faltou ao PT no poder de Estado uma relação entre ética e política:

“El Estado es la realidad de la idea ética, el espíritu ético encuanto voluntad patente, ostensible  a sí misma, sustancial, que se piensa y sabe y cumple aquello que sabe y en la medida en que lo sabe. En la costumbre tiene su existência inmediata, y en  la autoconciencia del indivíduo, en su saber y actividad, tiene su existencia mediada, así como esta autoconciencia –por el caráter – tiene     en él cual esencia suya, finalidad  y productos de su actividad, su libertad sustancial. (Hegel. 1993: 678).



Afinal como pensar a ética na sua relação com a prática política? E como pensar a ética em relação ao partido político?



A cultura pode ser concebida como domínio do relativo que dá existência ao pensamento, como consciência do indivíduo na forma do  universal, pessoa universal: homem:

“Deste modo, o homem vale porque é homem, não porque seja judeu, católico, protestante, alemão ou italiano. Tal consciencialização do valor do pensamento universal tem uma importância infinita, e só se torna um erro quando cristaliza na forma do cosmopolitismo para se opor `vida concreta do Estado”. (Hegel. 1990:195).



A política se faz com ideias e homens. As ideias precisam encontrar a sua força prática: “Hablando en términos generales, las ideas no pueden ejecutar nada. Para la ejecución de las ideas hacen falta hombres que dispongan de cierta fuerza práctica”. (Lenin.1974:29). Assim, as ideias precisam encontrar a sua força prática no domínio relativo da cultura que dá existência ao pensamento político de uma conjuntura gramatical. As ideias são aquelas de uma gramática que necessita fazer junção  com seu gramático como força prática. A gramática é uma lógica normativa que pode fazer junção com um condottiere maquiavélico  ou com um gramático democrático.



A prática política democrática pode ser constituída de homens que disponham de certa força prática que dispensa a ética democrática? Uma democracia sobrevive sem partido político como uma força prática de homens e mulheres? A democracia representativa  pode funcionar sem ética democrática? O que significa uma democracia sem democratas tout court?    



A ética democrática tem como fundamentos a igualdade e a liberdade. Ela  tem que ser o avesso da ética oligárquica: “ajudar o amigo, prejudicar os outros”. A igualdade e a liberdade articulam uma ética que significa “não prejudicar”?  



A democracia representativa é habitada por uma variedade de partidos que vai, virtualmente, do partido oligárquico ao partido democrático. No  Brasil, partidos totalitários ocupam o proscênio da cena política. E os partidos democráticos existem de modo latente. A rigor, temos uma democracia sem democratas.



A democracia 1988 criou um Estado getulista 1988. Estado feito  pela leitura da ideologia getulista na Assembleia Constituinte Nacional. Duas facções se chocaram com a criação do Estado getulista 1988. O Centrão e o presidente da República, por acidente de percurso, José Sarney. O Centrão aparece como uma panóplia de facções da direita oligárquica. José Sarney representava as forças política e ideológica da velha indústria capitalista dependente e do capital financeiro. 



A democracia 1988 criou também um centro ético da política. A prova é a derrubada do presidente Collor de Mello em 1993, por corrupção. Nesta conjuntura, o PT se apresentava como o Partido da ética republicana. Ele se apresentava também como o partido do Estado getulista 1988.



A crise econômica da era Sarney foi vencida pelo governo FHC sem precisar desestabilizar o Estado getulista 1988. Nesta época de PSDB no poder nacional, tal partido tinha a aparência de semblância de um partido democrático e o PT na oposição aparecia como o centro ético republicano da política nacional.



A era Lula não desestabilizou a dialética situação versus oposição? Os governos petistas fizeram da corrupção da coisa pública (corrupção da res pública) moeda de troca para obter maioria oligárquica no Congresso. A governabilidade petista destruiu o centro ético republicano; também desarticulou a democracia como alternância de partidos no governo nacional; o PSDB se tornou a sombra de um partido democrático de oposição, pois foi tragado pelo processo de oligarquização da representação política democrática.



                                                                                    III

O marxista espanhol Adolfo Sánchez Vázquez viveu exilado no México na era fascista da Espanha. Filósofo debruçado sobre o campo da ética, escreveu o livro “Ética”.



Ele trabalha com a diferença capital entre moral e ética.  A moral é um campo da prática, do comportamento prático-moral. A reflexão da prática moral se constitui como o domínio da ética. (Vázquez: 7).



A ética não cria a moral, mesmo a moral supondo determinados princípios normas ou regras de comportamento. A ética não estabelece a moral em uma determinada comunidade. A moral é uma gramática criada por forças da história.

Diz Sánchez: “A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”. Trata-se, portanto, da relação entre teoria e prática!



A teoria pode ser concebida como o gramático da moral como gramática? Sigo este caminho. Aqui falo sobre o gramático, sobretudo!



Nosso filósofo distingue entre a ética moderna e a ética contemporânea.



A ética moderna domina do século XVI ao século XIX. Trata-se  da ética antropocêntrica (em contraste com a ética teocêntrica e teológica da Idade Média), que atinge seu apogeu com Kant.   A ética moderna serve à junção da ciência moderna com o capitalismo industrial. Ela, também, é a ética da sociedade burguesa da modernidade e das revoluções burguesas. Ela faz pendant com a substituição da religião como forma espiritual dominante pelas ideologias seculares:

“O homem adquire um valor pessoal, não só como ser espiritual, mas também como ser corpóreo, sensível, e não só como ser dotado de razão, mas também de  vontade. Sua natureza não somente se revela na contemplação, mas também na ação”. (Vázquez: 247).



O problema da moralidade exige que se proponha a questão do fundamento da bonade dos atos, ou seja, em que consiste o bom.



 “Já conhecemos a resposta de Kant: o único bom em si mesmo, sem restrição, é uma boa vontade. A bondade de uma ação não e deve procurar em si mesma, mas  na vontade com que se fez. Mesmo quando é que uma vontade é boa, ou como uma boa vontade age ou quer? É boa a vontade que age por puro respeito ao dever, em razões outras a não ser o cumprimento do dever ou a sujeição à lei moral”. (Vázquez: 249-250).



Sujeição a qual lei moral? Sujeição à gramatica da democracia. Não há gramática da democracia sem campo moral democrático. Podemos aceitar que esta gramática se encontra em Kant e Hegel.



A ética contemporânea parece ter começado com Marx. Na ética de Marx, o sujeito soberano kantiano, ativo e livre é substituído por um sujeito cuja liberdade é restringida pela tradição;

“Os homens fazem sua própria história, mas não a  fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. (Marx: 335).



Encurtando o caminho. A ética da boa vontade política cede seu lugar à gramática dialética da luta de classes e da revolução social. Historialmente, a dialética levou a uma gramática totalitária que desestabilizou a gramática da boa vontade política na democracia realmente existente.

A luta contra o capitalismo criou a fórmula: democracia representativa = autocracia capitalista. O fascismo se legitima (negativamente em termos éticos) pela equação supracitada.



Com a crise irrevogável do comunismo, a democracia representativa aparece como ética do capitalismo democrático. O Estado do bem-estar social e a ideologia socialdemocrata são parte da era do capitalismo da sociedade de mercado democrática.



A crise atual do capitalismo mundial gerou uma gramática econômica ainda inconsciente para a elites simbólicas. Elas não sabem que sabem que o capitalismo mundial encontrou uma via para sua continuidade. Trata-se do capitalismo neocolonial mundial.



O capitalismo mundial neocolonial tem vários modelos. O modelo capitalismo neocolonial do terceiro-mundo exige formas políticas autocráticas e ideologias totalitárias. Esta via capitalista dispensa o centro-moral da política? De fato, ele cria uma aparência de semblância de um regime político ancorado em uma certa moralidade política para conquistar as massas.  



O fascismo se apresenta como se constituindo a partir de um centro de moralidade da política. O Estado militar 1968 neofascista antecipou a existência da autocracia totalitária como moralidade política. A continuação por outros meios do Estado supracitado parece ocorrer com o messianismo neofascista. Seu opositor é o bolivariano que dispensa moralidade como  gramática de seu exercício do poder nacional. A Venezuela de Maduro é a totalidade completa do bolivariano.



                                                                                    IV

 O neofascismo messiânico é uma força totalitária agindo contra a democracia 1988. As forças ligadas a ele (Mercado financeiro e grande elite econômica, facção cultural dos mass media e quejandos) querem usá-lo para desestabilizar o Estado getulista 1988. O velho capitalismo brasileiro pretende destruir o Estado getulista (contido na Constituição 1988) mesmo que seja necessário para tal evento a dissolução da democracia representativa brasileira.



Na conjuntura totalitária, a defesa da democracia exige a formação de um centro ético-político democrático de oposição. A ética da boa vontade na política deve ser assumida por partidos democráticos de oposição na educação das massas grau zero totalitárias. A rede de partidos democráticos deve se constituir como direção moral e intelectual da vida política nacional.



Há muito chão ainda a percorrer para o neofascismo tropicalista pôr um fim na democracia 1988!    


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DA FALSA CONSCIÊNCIA NEOFASCISTA

Há 12 conceitos de ideologia em Marx. O primeiro é a ideologia como falsa consciência. A falsa consciência é a ideologia funcionando em um estado de ocultação da realidade dos fatos.
O cientista da FGV-Rio Carlos Pereira e o professor de relações internacionais argentino Violla da UNB duvidam da existência do bolsonarismo. Claro que eles querem dizer que o bolsonarismo não existe como um fenômeno politico orgânico na política brasileira. Eles vão contra os fatos, pois, o bolsonarismo está na iminência de se constituir como o maior partido, em sentido amplo, da Câmara dos deputados nacional. Portanto, Pereira e Violla são dois intelectuais no trabalho de tecer a falsa consciência neofascista tropical. Por quê?
Prreira e Violla se valem do espontaneismo ideológico neofascista (ideologia de rua neofascista) para dizer que o fascismo não se enco0ntra na realidade dos fatos político e muito menos ideológica.
A falsa consciência neofascista tropical é um fenômeno das massas grau zero gramaticalizadas como bolsonaristas. As massas messiânicas (de Messias Bolsonaro) não se consideram fascistas. O Brasil é um país culturalmente provinciano, ou seja, voltado para o seu próprio umbigo. O Brasil crê que não faz parte das linhas historiais de força mundiais. Assim o Brasil pode construir uma falsa consciência que oculte a sua transformação em um país neofacista tropical na América Latina – como parte da ascensão do neofascismo mundial.
O nosso problema é que na cultura ilustrada dos EUA e Da Europa ocidental o Brasil vai perdendo a imagem simbólica do país do carnaval, bossa nova, garotas de Ipanema e Pelé. Ele troca tal símbolo pela imagem de um país neofascista tropicalista. No aeroportos dos países democráticos desenvolvidos (para onde os brasileiros gostam de viajar), o brasileiro será tratado como um estranho neofascista. A falsa ideologia neofascista de Carlos Pereira e Violla não significa nada para a polícia democrática dos países desenvolvidos dos aeroportos.
Como provincianos convictos, os brasileiros não creem no que escrevi acima. Vão ter que provar a maçã para ver que ela está podre.
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NEOFASCISMO E RACIONALIDADE



Um fato consumado na política brasileira é a sua  aparência de semblância  de irracionalidade. No entanto, tal semblância não engana a soberania popular.



A eleição presidencial 2018 segue linhas de força  ideológicas bem racionais para o eleitor. Este vota majoritariamente contra duas ideologias: ideologia bolivariana  e ideologia multiculturalista  da mulher,  negro e LGBT. Jair Messias Bolsonaro se tornou o símbolo do antagonismo às ideologias supracitadas. 



A campanha  de Messias (ou o do messianismo) tem  suas contradições no terreno ideológico  econômico. . Uma ideologia nacionalista (da burguesia de Estado) entra em  choque com a ideologia  ultraliberal  do Mercado  Financeiro e do grande capital. Este conflito diz respeito às contradições do  bloco-no-poder:  bloco das frações e  classes gramaticais dominantes.



A crise ideológica generalizada poderá  ser resolvida pacificamente?



A fabricação  de uma ideologia do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo significa a ofensiva da grande burguesia fazendo pendant com o Mercado Financeiro na  luta pela hegemonia no bloco-no-poder. O governo-partido neofascista pode  ser o instrumento da ofensiva em questão. Ela se desenvolve como parlamentarização do neofascismo em confronto com a ideologia bolivariana. A contradição PSL versus PT na Câmara de deputados nacional  será o lugar para o desenvolvimento do neofascismo tropicalista.



A gramática do neofascismo encontra-se em formação. Tal  gramática requer um processo  de fascização do aparelho  de Estado, principalmente do poder judiciário e do Estado policial criado a partir da LavaJato, e também do Exército. Se isto não for suficiente para a criação  da gramática, o desenvolvimento  da contradição ideológica neofascismo versus bolivariano pode chegar a guerra do Brasil com a Venezuela. A guerra do neofascismo contra a Venezuela não pode render ao Estado-partido neofascista , tropicalista, o elo político que faltava para uma aliança formal com os EUA, de Donald Trump? 



A criação do Estado-partido neofascista é a fantasia  lacaniana  do futuro da terceira década do século XXI. Claro que estou  falando  de uma linha  de força  gramatical que para se tornar hegemônica precisa que o neofascismo se torne a política hegemônica e a ideologia dominante da grande burguesia e de  sua hegemonia no bloco-no-poder. Esta exige que o  capitalismo neocolonial do terceiro-mundo acabe no comando da economia brasileira, da política nacional;  e se transforme em ideologia  dominante neofascista.  



Como o leitor pode entrever, há uma  caminho racional para o  domínio do neofascismo tropicalista. Porém, ele não será pacífico!   

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BALIBAR, Étienne. Cinq études du matéralisme historique. Paris: Maspero, 1974

HEGEL. Princípios da filosofia do direito. Lisboa: Guimarães Editores, 1990

HEGEL. Fundamentos de la filosofia del derecho. Madri: Libertarias/Prodhufi, 1993

LENIN. Cuadernos filosóficos. Madrid: Ayuso, 1974

MARX. Os Pensadores. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. SP: Abril Cultural, 1974

VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. RJ: Civilização Brasileira, 1982