domingo, 7 de outubro de 2018

DO MESSIANISMO FASCISTA


José Paulo



 DO CHISTE POLÍTICO

O marxismo brasileiro tem como adversário de suas lutas ideológicas – no campo da esquerda - o lulismo, o petismo e o bolivariano.  São mais de 10 livros e mais de 200 ensaios no blogger jose Paulo bandeira dedicados a construção de uma teoria ou mais exatamente de uma gramatologia da política que faça pendant com uma  força prática historial . O objetivo era evitar que o Brasil caia no abismo do capitalismo neocolonial do terceiro mundo e de seu corolário superestrutural: o messianismo fascista (de Messias Bolsonaro).  



Qualquer criança de 10 anos sabe que a Internacional Comunista da URSS teve uma responsabilidade imensa na ascensão do fascismo (do nazismo) na Europa. A Internacional foi possuída por uma interpretação economicista do fascismo que se baseava na equação fascismo = democracia liberal ou parlamentar. Para a Internacional, o fascismo era a continuidade lógica da democracia burguesa. Por isso, a Internacional não dirigiu uma Frente Internacional contra o Fascismo na Europa, especialmente, na Alemanha. A reviravolta com as teses de Dimitrov na Internacional em 1934 aconteceu em um momento no qual a burguesia europeia já tinha ou abraçado o fascismo ou sido subjugado por ele.



 O erro político (Gramsci) da Internacional levou a Europa à II Guerra Mundial. 20 milhões de cidadãos da URSS morreram na guerra contra Hitler. Sabemos que Stalin derrotou Hitler no território da URSS iniciando a derrocada do nazismo no mundo.



A não-formação de uma Frente internacional contra o fascismo no Brasil é o erro político fatal para a democracia parlamentar.

Le Figaro diz que Bolsonaro é o pequeno Hitler tropical. A elite europeia vê claramente o messianismo como um fenômeno fascista. No Brasil, há uma luta fatal entre as forças que definem o messianismo como fascista e aquelas que definem o messianismo apenas como um programa econômico reformista a brasileira. Estas forças controlam a cultura no Brasil.



O messianismo fascista encontra-se acolhido por arco de alianças, por um leque de forças composto por: forças econômicas (mercado, burguesias a granel); forças políticas (b. de  bala ou complexo industrial militar] b. de boi [economia de commodities] e b. de bíblia [evangélicos  fascistas], governo do MDB de Temer e Moreira Franco );  forças culturais (os mass media, uma  fração da universidade FGV, empresas capitalistas de pesquisa de opinião  de voto político, jornalismo fascista etc.); forças sociais (sob a direção  da burguesia  colonial do terceiro mundo temos a classe média das capitais como São Paulo  e Rio, massas dos de cima  e dos de baixo [mulheres, negros], burocracia estatal como categoria social); forças do poder policial como a Okhrana (polícia  secreta).





O quadro desenhado acima não aponta para uma vitória esmagadora de Bolsonaro no primeiro turno ou no segundo turno?



Pesquisa do DataFolha messiânico diz que 13% da população quer uma ditadura fascista enquanto 69% da população querem viver em uma democracia parlamentar. Uma fração significativa dos 69% seguem os13% e elegem Bolsonaro.



O discurso político de Bolsonaro é claro. Ele diz que o messianismo toma o poder nacional por via eleitoral para instalar um governo fascista. Bolsonaro no poder nacional é o início de uma ofensiva fascista para substituir a democracia 1988 por uma ditadura fascista.  O caminho do messianismo é a construção do primeiro Estado fascista (República fascista) no século XXI, nas Américas.  





69% é o sujeito político virtualmente democrático que se atualiza na ditadura fascista?



REALIDADE POLÍTICA E LÓGICA DOS QUANTA

A realidade política não é nem gramática corpuscular nem ondulatório? Esta é a razão dos físicos quânticos nada escreverem sobre a realidade política? Por outro lado, a realidade política se afasta do cotidiano de homens, mulheres e crianças. O homem comum é incapaz de pensar a realidade política.

A realidade política é uma dimensão intencional consciente da vida humana? Depois de Freud, a realidade política adquiriu a dimensão do inconsciente. Podemos pensar a realidade política coimo uma dialética consciência intencional e inconsciente freudiano?

Vejamos um caso empírico!

Na eleição presidencial brasileiro 2018, 69% da população dizem conscientemente que querem a democracia. Porém, ela vota na ditadura.

O discurso político consciente do messianismo (de Messias Bolsonaro) diz que vai se eleger presidente tendo como objetivo destruir a democracia, trocá-la pela ditadura civil-militar. Por que o eleitor democrata não acredita em Messias?

O eleitor democrata de Messias construiu um Bolsonaro no eu imaginário político. O imaginário é o lugar da crença e da ilusão ou autoilusão. O eleitor lê o messianismo como um fenômeno positivo (reflexo de seus desejos) que vai pôr um fim na situação catastrófica na qual o país está metido. O intrigante é que para o eleitor, Bolsonaro é o equivalente do gato de Schrödinger.

O gato vivo está em uma caixa fechada em cujo interior tem um frasco de gás venenoso, tudo disposto de maneira a que se a desintegração radiativa se desse o frascos seria quebrado e o gato morreria. No mundo cotidiano, a morte do gato tem 50% de probabilidade de ocorrer, e, sem olhar par o interior da caixa, podemos dizer com segurança que o gato está vivo ou morto. Na realidade política, nenhuma das duas possibilidades de concretização (gato vivo e gato morto) tem realidade a não ser que seja observada. Assim a desintegração nem aconteceu nem não aconteceu e o gato não morreu nem sobreviveu até que tenhamos olhado para o interior da caixa, ou seja, para o interior da urna eletrônica após a eleição, por exemplo.

A eleição 2018 presidencial encontra-se sob o comando do cibersupereu cultural freudiano. Este supereu tem enviado uma ordem gozosa (comando) para os 69% dos eleitores democratas do inconsciente freudiano: elejam a ditadura. Mesmo não sabendo que sabem que Bolsonaro representa a ditadura, virtualmente, os 69% acompanham o voto dos 13% que querem, conscientemente, a ditadura.

Para o eleitor Bolsonaro é o gato de Schrödinger. Ele só saberá se Bolsonaro é a ditadura ou a democracia ao observar o fenômeno na realidade: a caixa aberta. Então na caixa fechada, Bolsonaro pode ser o gato-ditadura ou o gato-democracia.



Crise ideológica      



A crise ideológica generalizada é um fenômeno associado a uma conjuntura fascista em aceleração inercial. No Brasil, a última ideologia dominante foi o multiculturalismo (mulher, negro, LGBT) petista metabolizado pelo Grupo Globo. O messianismo fascista se estabelece em uma dialética com o multiculturalismo. Porém, o messianismo ainda não se organizou como ersatz do multiculturalismo; o ciberfascismo ainda não se articula como uma forma de consciência ou  uma ideologia política dominante; ele é, no momento, expressão  do estado de animus das massas que se expressam pela ira ao multiculturalismo, transformada em riso grotesco na eleição; uma  expressão que se apresenta como violência gozosa desorganizada, mas que os “profissionais da violência” (General Mourão) vão organizar em brigadas fascistas paramilitares civis articuladas ao aparelho de Estado policial e militar.



A crise ideológica é, também, um fenômeno econômico. Ela é o efeito da progressão geométrica  e da evolução  do capitalismo neocolonial no terceiro-mundo, entre nós.  O capitalismo neocolonial supracitado significa um estado de violência real e simbólica contra o inimigo (minorias, esquerdas, progressistas, liberais ilustrados).

Na conjuntura fascista, a crise ideológica faz pendant com o delírio freudiano (3 delirando o mesmo delírio faz laço social) e um estado de loucura social permanente. Há todo um sistema de clínicas psiquiátricas (que funcionam como manicômio, também) pronto para receber os loucos da era messiânica; a economia capitalista manicomial dos planos de saúde dará um salto lucrativo, tratando as patologias da era messiânica.   



Um outro aspecto da crise ideológica é a atividade psicótica dos mass media. Lacan define o psicótico como máquina de fala; o jornalista televisivo é uma máquina de fala O jornalista é uma máquina de guerra informacionalis fungível, pois, é o ersatz do jornalismo democrático de papel.    



Na crise ideológica, o líder fascista tona-se o ersatz de um fenômeno carismático weberiano, mesmo desprovido de virtú política ou qualidades políticas como aquelas de estadista ou governante competente.



Por quê?



Porque ele aparece na tela gramatical da política como um símbolo que condensa paixões, emoções, estado de animus (riso, por exemplo) das massas sujeito grau zero democráticas realmente existentes.



O que é um símbolo? Há várias teorias do símbolo. No caso do fascismo brasileiro, símbolo faz pendant com a retórica?

A retórica possui como alvo a eloquência; a eloquência se define como uma fala eficaz, que permite influir sobre as massas garmaticalizáveis na política; a retórica não concebe a linguagem como forma (não se preocupa com o enunciado tout court) e sim com a ação; a forma linguística se converte no ingrediente de um ato global de comunicação (sendo a persuasão sua espécie mais característica). A retórica não se pergunta a respeito da estrutura da fala, e sim acerca de suas funções: persuadir (ou instruir, comover, adular, agradar, sugestionar); os meios linguísticos se tomam em consideração na medida em que podem servir para lograr esse fim. (Todorov: 73-74).



O símbolo Bolsonaro é a retórica lida no desejo inconsciente de origem infantil (da população política) que se encontra reprimido pelo bolivariano.  O símbolo se apresenta na forma de um chiste político. O gozo inconsciente do eleitor transformar a política em brincadeira, em riso grotesco, uma descarga de energia narcísica que jamais será metabolizado, gramaticalizado pela  razão política brasileira.



O fascismo brasileiro se inicia como chiste político!



TODOROV, Tzvetan. Teorías del símbolo. Caracas: Monte Avila Editores, 1991  

     

        

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