José Paulo
DO CHISTE POLÍTICO
O marxismo brasileiro tem como
adversário de suas lutas ideológicas – no campo da esquerda - o lulismo, o
petismo e o bolivariano. São mais de 10
livros e mais de 200 ensaios no blogger jose Paulo bandeira dedicados a
construção de uma teoria ou mais exatamente de uma gramatologia da política que
faça pendant com uma força prática
historial . O objetivo era evitar que o Brasil caia no abismo do capitalismo
neocolonial do terceiro mundo e de seu corolário superestrutural: o messianismo
fascista (de Messias Bolsonaro).
Qualquer criança de 10 anos sabe
que a Internacional Comunista da URSS teve uma responsabilidade imensa na
ascensão do fascismo (do nazismo) na Europa. A Internacional foi possuída por
uma interpretação economicista do fascismo que se baseava na equação fascismo =
democracia liberal ou parlamentar. Para a Internacional, o fascismo era a
continuidade lógica da democracia burguesa. Por isso, a Internacional não
dirigiu uma Frente Internacional contra o Fascismo na Europa, especialmente, na
Alemanha. A reviravolta com as teses de Dimitrov na Internacional em 1934
aconteceu em um momento no qual a burguesia europeia já tinha ou abraçado o
fascismo ou sido subjugado por ele.
O erro político (Gramsci) da Internacional
levou a Europa à II Guerra Mundial. 20 milhões de cidadãos da URSS morreram na
guerra contra Hitler. Sabemos que Stalin derrotou Hitler no território da URSS
iniciando a derrocada do nazismo no mundo.
A não-formação de uma Frente
internacional contra o fascismo no Brasil é o erro político fatal para a
democracia parlamentar.
Le Figaro diz que Bolsonaro é o
pequeno Hitler tropical. A elite europeia vê claramente o messianismo como um
fenômeno fascista. No Brasil, há uma luta fatal entre as forças que definem o
messianismo como fascista e aquelas que definem o messianismo apenas como um
programa econômico reformista a brasileira. Estas forças controlam a cultura no
Brasil.
O messianismo fascista encontra-se
acolhido por arco de alianças, por um leque de forças composto por: forças
econômicas (mercado, burguesias a granel); forças políticas (b. de bala ou complexo industrial militar] b. de
boi [economia de commodities] e b. de bíblia [evangélicos fascistas], governo do MDB de Temer e Moreira
Franco ); forças culturais (os mass media, uma fração da universidade FGV, empresas
capitalistas de pesquisa de opinião de
voto político, jornalismo fascista etc.); forças sociais (sob a direção da burguesia
colonial do terceiro mundo temos a classe média das capitais como São
Paulo e Rio, massas dos de cima e dos de baixo [mulheres, negros], burocracia
estatal como categoria social); forças do poder policial como a Okhrana
(polícia secreta).
O quadro desenhado acima não
aponta para uma vitória esmagadora de Bolsonaro no primeiro turno ou no segundo
turno?
Pesquisa do DataFolha messiânico
diz que 13% da população quer uma ditadura fascista enquanto 69% da população
querem viver em uma democracia parlamentar. Uma fração significativa dos 69%
seguem os13% e elegem Bolsonaro.
O discurso político de Bolsonaro
é claro. Ele diz que o messianismo toma o poder nacional por via eleitoral para
instalar um governo fascista. Bolsonaro no poder nacional é o início de uma
ofensiva fascista para substituir a democracia 1988 por uma ditadura fascista. O caminho do messianismo é a construção do
primeiro Estado fascista (República fascista) no século XXI, nas Américas.
69% é o sujeito político
virtualmente democrático que se atualiza na ditadura fascista?
REALIDADE POLÍTICA E LÓGICA DOS
QUANTA
A realidade política não é nem
gramática corpuscular nem ondulatório? Esta é a razão dos físicos quânticos
nada escreverem sobre a realidade política? Por outro lado, a realidade
política se afasta do cotidiano de homens, mulheres e crianças. O homem comum é
incapaz de pensar a realidade política.
A realidade política é uma
dimensão intencional consciente da vida humana? Depois de Freud, a realidade
política adquiriu a dimensão do inconsciente. Podemos pensar a realidade
política coimo uma dialética consciência intencional e inconsciente freudiano?
Vejamos um caso empírico!
Na eleição presidencial
brasileiro 2018, 69% da população dizem conscientemente que querem a
democracia. Porém, ela vota na ditadura.
O discurso político consciente do
messianismo (de Messias Bolsonaro) diz que vai se eleger presidente tendo como
objetivo destruir a democracia, trocá-la pela ditadura civil-militar. Por que o
eleitor democrata não acredita em Messias?
O eleitor democrata de Messias
construiu um Bolsonaro no eu imaginário político. O imaginário é o lugar da
crença e da ilusão ou autoilusão. O eleitor lê o messianismo como um fenômeno
positivo (reflexo de seus desejos) que vai pôr um fim na situação catastrófica
na qual o país está metido. O intrigante é que para o eleitor, Bolsonaro é o
equivalente do gato de Schrödinger.
O gato vivo está em uma caixa
fechada em cujo interior tem um frasco de gás venenoso, tudo disposto de
maneira a que se a desintegração radiativa se desse o frascos seria quebrado e
o gato morreria. No mundo cotidiano, a morte do gato tem 50% de probabilidade
de ocorrer, e, sem olhar par o interior da caixa, podemos dizer com segurança
que o gato está vivo ou morto. Na realidade política, nenhuma das duas
possibilidades de concretização (gato vivo e gato morto) tem realidade a não
ser que seja observada. Assim a desintegração nem aconteceu nem não aconteceu e
o gato não morreu nem sobreviveu até que tenhamos olhado para o interior da
caixa, ou seja, para o interior da urna eletrônica após a eleição, por exemplo.
A eleição 2018 presidencial
encontra-se sob o comando do cibersupereu cultural freudiano. Este supereu tem
enviado uma ordem gozosa (comando) para os 69% dos eleitores democratas do
inconsciente freudiano: elejam a ditadura. Mesmo não sabendo que sabem que
Bolsonaro representa a ditadura, virtualmente, os 69% acompanham o voto dos 13%
que querem, conscientemente, a ditadura.
Para o eleitor Bolsonaro é o gato
de Schrödinger. Ele só saberá se Bolsonaro é a ditadura ou a democracia ao
observar o fenômeno na realidade: a caixa aberta. Então na caixa fechada,
Bolsonaro pode ser o gato-ditadura ou o gato-democracia.
Crise ideológica
A crise ideológica generalizada é
um fenômeno associado a uma conjuntura fascista em aceleração inercial. No
Brasil, a última ideologia dominante foi o multiculturalismo (mulher, negro,
LGBT) petista metabolizado pelo Grupo Globo. O messianismo fascista se
estabelece em uma dialética com o multiculturalismo. Porém, o messianismo ainda
não se organizou como ersatz do multiculturalismo; o ciberfascismo ainda não se
articula como uma forma de consciência ou
uma ideologia política dominante; ele é, no momento, expressão do estado de animus das massas que se
expressam pela ira ao multiculturalismo, transformada em riso grotesco na
eleição; uma expressão que se apresenta
como violência gozosa desorganizada, mas que os “profissionais da violência”
(General Mourão) vão organizar em brigadas fascistas paramilitares civis articuladas
ao aparelho de Estado policial e militar.
A crise ideológica é, também, um
fenômeno econômico. Ela é o efeito da progressão geométrica e da evolução
do capitalismo neocolonial no terceiro-mundo, entre nós. O capitalismo neocolonial supracitado
significa um estado de violência real e simbólica contra o inimigo (minorias,
esquerdas, progressistas, liberais ilustrados).
Na conjuntura fascista, a crise
ideológica faz pendant com o delírio freudiano (3 delirando o mesmo delírio faz
laço social) e um estado de loucura social permanente. Há todo um sistema de
clínicas psiquiátricas (que funcionam como manicômio, também) pronto para
receber os loucos da era messiânica; a economia capitalista manicomial dos
planos de saúde dará um salto lucrativo, tratando as patologias da era
messiânica.
Um outro aspecto da crise ideológica
é a atividade psicótica dos mass media.
Lacan define o psicótico como máquina de fala; o jornalista televisivo é uma
máquina de fala O jornalista é uma máquina de guerra informacionalis fungível, pois, é o ersatz do jornalismo
democrático de papel.
Na crise ideológica, o líder
fascista tona-se o ersatz de um fenômeno carismático weberiano, mesmo
desprovido de virtú política ou qualidades políticas como aquelas de estadista
ou governante competente.
Por quê?
Porque ele aparece na tela
gramatical da política como um símbolo que condensa paixões, emoções, estado de
animus (riso, por exemplo) das massas sujeito grau zero democráticas realmente
existentes.
O que é um símbolo? Há várias
teorias do símbolo. No caso do fascismo brasileiro, símbolo faz pendant com a
retórica?
A retórica possui como alvo a
eloquência; a eloquência se define como uma fala eficaz, que permite influir
sobre as massas garmaticalizáveis na política; a retórica não concebe a
linguagem como forma (não se preocupa com o enunciado tout court) e sim com a ação; a forma linguística se converte no
ingrediente de um ato global de comunicação (sendo a persuasão sua espécie mais
característica). A retórica não se pergunta a respeito da estrutura da fala, e
sim acerca de suas funções: persuadir (ou instruir, comover, adular, agradar,
sugestionar); os meios linguísticos se tomam em consideração na medida em que
podem servir para lograr esse fim. (Todorov: 73-74).
O símbolo Bolsonaro é a retórica
lida no desejo inconsciente de origem infantil (da população política) que se
encontra reprimido pelo bolivariano. O
símbolo se apresenta na forma de um chiste político. O gozo inconsciente do
eleitor transformar a política em brincadeira, em riso grotesco, uma descarga
de energia narcísica que jamais será metabolizado, gramaticalizado pela razão política brasileira.
O fascismo brasileiro se inicia
como chiste político!
TODOROV, Tzvetan. Teorías del
símbolo. Caracas: Monte Avila Editores, 1991
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