domingo, 30 de julho de 2017

Necessidade lógica da gramátrica lacaniana


Die Bedeutung des Phallus

O Brasil é uma periferia lacaniana do tribalismo da sociedade pós-capitalista 



 O Brasil é a junção das periferias RSI (Real/Simbólico/Imaginário) como tribalismo para todos; não para não-todo

Periferia na cultura política não está à margem em relação a um centro; país desenvolvido versus país da periferia, por exemplo

O eurocentrismo (americanocentrismo) inventou o preconceito ideológico econômico centro/periferia? Ou foi a CEPAL?

Donald Trump não foi eleito pela periferia lacaniana - tribalismo americano?

O sistema universitário internacional (com Harvard e Oxford no topo) criou uma 
oligarquia acadêmica que imibilizou o saber

A indústria universitária americana fez estagnar o processo de conhecimento das ciências humanas mundialmente

A indústria universitária americana é o centro tático da oligarquia simbólica mundial da sociedade pós-capitalista

A bipolaridade sexual humana faz laço social, ou melhor, articula todas as formas coletivas: família, tribo, comunidade, sociedade

A bipolaridade sexual é uma articulação particular da cidade gramatical. Esta é mais próxima da caráter plurívoco do real sexual

A mulher = não-todo significa que as mulheres não são capazes de produzir forma política: família, tribo, comunidade, sociedade?

Toda forma política (incluindo Estado e capital) é significação do falo? SIM!

A única forma política que escapa ao Die Bedeutung des Phallus é a cidade gramatical da politeia moderna tardia

Die Bedeutung des Phallus não se choca permanentemente (luta, faz guerra) com a cidade gramatical?


quinta-feira, 27 de julho de 2017

ESQUERDA - NARRATIVA SEM DESFECHO DEMOCRÁTICO

José Paulo


A tentação de criar uma literatura santa (purificada de outras ideologias além da ideologia do autor) nos remete para a era medieval do século XI. São Pedro Damião é o epígono de uma conjuntura historial que batalhou para criar uma teologia pura não contaminada pela filosofia e a gramática. A teologia do século XI estabelece uma biblioteca a ser lida pelos monges em seus mosteiros contendo: “Antigo e o Novo Testamento, um Martirilógio, Homílias e Comentários alegóricos sobre a Escriture de Gregório Magno, Ambrósio, Jerônimo, Próspero de Aquitânia, Beda, Remígio de Auxerre, Amalário, Haimão de Auxerre e Paschase Robert. Esses livros bastam com efeito, ao monge, não só para salvar sua alma, como para salvar a dos outros”. (Gilson: 236).

De um modo similar, o marxista da USP parisiense Ruy Fausto quer banir Zizek e Alain Badiou da cultura de esquerda do século XXI. Ele acusa ambos supracitados de serem neototalitários. Ruy quer uma esquerda teologicamente purificada dos ideólogos e grupos políticos totalitários. Tal atitude de Fausto pode ser compreendida em seus livros de filosofia dialética Marx. Lógica e política.

Para Ruy a dialética é um artefato lógico. Ela banhe a gramática e jamais se desloca de um espaço narrativo para outro se transmutando em transdialética (Bakhtin: 29). A transdialética é uma gramática-eloquência em narrativa lógica nietzschiana:
“ ˂Comment une chose pourrait-elle procéder  de son contraire, par exemple la vérité de l’erreur? Ou la volonté du vrai de la volonté de tromper? Ou le désintéressement de l’égoïsme? Ou la pure et radieuse contemplation du sage de la convoitise?Une telle genèse est impossible; qui fait ce rêve est um insensé, ou pis encore; les choses de plus haute valeur ne peuvent qu’avoir une outre origine, um fondement propre. Elles ne sauraient dériver de ce monde éphémère, trompeur, illusoire et vil, de ce tourbillon de vanités e d’appétits. C’est bien plutôt au sein de l’être, dans l’impérissable, dans le secret de Dieu, dans ˂la chose em soi> que doit résider leur fondament, et ‘nulle part ailleurs>. Ce genre de jugement constitue le préjugé typique auquel on reconnaît les métaphysiciens de tout les temps. Cette manière de poser les valeurs se dessine à l’arrière-plan de toutes les déductions de leur logique”. (Nietzsche: 22).

A dialética de Ruy Fausto é uma narrativa lógica da tradição metafísica de todos os tempos até Nietzsche. Provas? O livro Dialética do Esclarecimento é um diálogo e combate aos intelectuais esotéricos da indústria pesada alemã sobre o totalitarismo na história universal. (Adorno: 55).  O magnífico e extremamente sofisticado La raison narrative é o diálogo/combate de Jean-Pierre Faye com o nacional-socialismo de Heidegger sobre narração, filosofia, estética e história como escolha política (Faye: 11-14, 18-20).

Assim como não sou capaz de ignorar o livro de Vladimir Safatle. A paixão do negativo. Lacan e a dialética, Ruy não pode ignorar o livro de Zizek sobre dialética, Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético. Safatle e Zizek pertencem à esquerda lacaniana assim como Alain Badiou com o seu claro e escuro livro A República de Platão. Recontada por Badiou. Dizer que Zizek e Badiou são neototalitários, sem uma leitura esclarecedora, é jogar na lata de lixo da dialética universal uma bibliografia excelente para a construção do espaço público procedural literário da esquerda mundial.

Esquece Ruy que há um Lacan de mai 1968 - um Lacan do marxismo ocidental parisiense? Fausto parece esquecer o quanto a esquerda mundial deve à esquerda lacaniana na resistência ao discurso do maître capitalista, fonte inculta e fática do totalitarismo ocidental.

                                                                                                    II

Ruy quer pensar a política. Alain Badiou publicou o livro ¿Se puede pensar la politica? (1985) Antes de penetrarmos na gramaticalização de Badiou fazendo pendant com Ruy Fausto, comento o capítulo 2 (A direita no ataque) do livro de Ruy Caminhos da esquerda.

MATERIALISMO E IDEALISMO NA INTEPRETAÇÃO DA POLÍTICA E DA CULTURA POLÍTICA

Começar a ver a dialética esquerda versus direita pelos ideólogos da direita brasileira é de uma pobreza franciscana e uma rendição à baixa cultura de massa interpretativa da cultura política presente nos jornais e revistas de papel, rádio e televisão. No entanto, se Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo representam a baixa cultura filosófica da ideologia política da direita, Denis Rosenfield é ligado a alta cultura filosófica hegeliana da política de Porto Alegre. Não se pode desligar um filósofo de suas ligações com a cultura da política de sua cidade gramatical. Já Luiz Felipe Pondé se exercita no campo da ideologia gramatical filosofia pop em uma posição antimarxista. Seu antimarxismo se deve ao fato de ele ser professor em uma cidade gramatical marxista uspiana: São Paulo.

A análise lógica dialética dos ideólogos é saborosa (e tem seu lugar na cultura da cidade gramatical), mas ela é realizada de uma posição filosófica IDEALISTA. Explico! Ela se desmaterializa frente ao materialismo da política de do livro Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado, de Althusser. Não se trata de pensar a política pelas ideologias pessoais e arbitrárias, inorgânicas (como faz Ruy Fausto faz), e sim pelas ideologias orgânicas dos aparatos ideológicos.

Ruy não aprendeu nada de importante com o althusserianismo? Que tipo de leitura ele faz de Althusser? No Réponse a John Lewis, de Althusser, as massas são o centro da história. Então o essencial é a ligação espiritual das ideologias dominantes com as massas. Esta ligação depende de aparatos materiais culturais políticos que seduzem as massas com ideologias e outras semióticas. Esta é a posição materialista dialética na abordagem da vida das massas na política e na cultura da política. As ideologias gramaticais da política são a própria divisão da população em duas partes do povo. Uma delas é o povo dos dominantes na política representativa da soberania popular. Para isto o povo em tela tem que ser parte do sujeito gramatical aspecto da contradição principal. Esclareço tal enunciado adiante.  

Os aparatos não interpelam o sujeito gramatical consciência de classe das massas, mas o sujeito gramatical (aspecto principal da contradição principal) do inconsciente do discurso do político do maître que conduz a vida política das massas. Aqui, trata-se de uma leitura gramatical em narrativa lógica da relação entre o conjunto dos aparatos da cultura política e a vida biográfica das massas no sujeito gramatical.

Por exemplo, o movimento de massas no Rio em 2013 (claramente voltado para o aprofundamento da democracia representativa) foi autodissolvido pela intervenção da TV Globo no juízo moral das massas. Ao designá-las como VÂNDALOS, a televisão carioca criou um fosso entre as massas gramaticalizáveis na rua (rumo a democratização da democracia 1988) e a vida da outra parte do povo da cidade gramatical. Assim, a televisão foi um fator essencial para desfazer o progresso da narrativa revolucionária democrática das massas na rua do Rio. O aspecto principal da contradição principal é a divisão do povo em dois: povo das massas democráticas e povo da ditadura eletrônica do bolivarianismo, pois, tratava-se de uma conjuntura gramatical da forma de governo, de latência ditatorial, do bolivariano.

O caminho da Venezuela do presidente Maduro rumo a uma ditadura do bolivariano da sociedade pós-capitalista não é o caminho de Dilma Rousseff, da televisão carioca, do governador Sérgio Cabral em um choque transdialético gramatical com as massas democráticas cariocas da rua 2013?     

Refazendo o enunciado. Se a narrativa das massas cariocas era democrática, aí tal narrativa se antagonizava com a narrativa da ditadura do bolivariano da sociedade pós-capitalista. A ditadura do bolivariano era o caminho (quase visível a olho nu) da aliança diabólica do Governo Dilma Rousseff como o governador Sérgio Cabral o prefeito do Rio e a televisão carioca.

Se Ruy Fausto não associa o PT com o bolivariano, o que tal fato filosófico significa?

Significa que Ruy não usa a filosofia para fazer a sociologia gramatical da política, ele que tem ligações uspianas com o departamento de sociologia da USP. Este departamento exerceu (exerce) uma grande influência na cultura intelectual brasileira e na cultura de massas.

A defesa da ditadura do bolivariano pós-capitalista era um fenômeno visível no cotidiano da guerra de movimento da televisão para seduzir as massas simbólicas e as massas manuais. Porém, infelizmente, o filósofo não é o sociólogo gramatical que acompanha a programação da televisão todo santo dia para ter condições de fazer uma leitura materialista transdialética gramatical do agir ditatorial descritivo (fático) da sociedade pós-capitalista da televisão carioca (e da TV paulista).  

                                                                            RUY E ALTHUSSER

A crítica a Badiou e Zizek (podendo incluir aí Safatle) é a crítica esquerda lacaniana. A esquerda lacaniana nasce na ligação de Lacan com Althusser e mai 1968 (Lacan. S. 16: 30, 41). Althusser preparou o terreno fecundo na cultura política europeia para a esquerda lacaniana com textos como Freud e Lacan (1964-1965), Marx e Freud (1976) e Idéologie et appareils idéologiques d’Etat (1970). A exploração da ideia de sujeito neste último texto é claramente uma fonte do debate sobre o sujeito no campo freudiano e, depois, na abertura do campo lacaniano. A integração do inconsciente freudiano à leitura materialista dialética da política é um movimento da pena de Althusser.    

O que Ruy diz sobre Althusser? Ruy diz que Althusser não é dialético:
“A tese de um antropologismo althusseriano é suficientemente paradoxal para que se imponha uma justificação. Se falamos de um ‘deslizamento’ do althusserianismo no antropologismo (‘deslizamento’ cuja necessidade deveria ser buscada no caráter não dialético do pensamento althusseriano), é preciso explicar em detalhe o seu mecanismo”. (Fausto. 1983: 66).  

Ruy parece obcecado pelo antropologismo althusseriano que o torna incapaz de acompanhar a luta teórica de Althusser no campo das ideologias gramaticais da filosofia. Essa luta teórica tem como centro tático o Sujeito da filosofia como motor da história no caso de um certo Marx: a classe sujeito burguesia como centro-motor da história. No caso de ideologias burguesas modernas o homem (humanismo) ou o indivíduo (liberalismo) como motor da política.

Thèse de J. Lewis: ˂c’est l’homme qui fait l’histoire.>   
Thèse du M.L.: ˂ce sont les masses qui font l’histoire, la lutte de classes est le moteur de l’histoire>. (Althusser. 1973: 42).

Antes de prosseguirmos, Badiou nos alerta sobre o “enunciado canónico de Rousseau a Mao, el de que las masas hacen la historia”. (Badiou. 1990: 9).

Para o sistema político burguês, o essencial é a relação dos aparelhos ideológicos de Estado com as massas. A ideologia interpela os indivíduos em sujeitos: a ideologia sempre/já interpelou os indivíduos como sujeitos, ou melhor, os indivíduos sempre foram sempre/já interpelados pela ideologia como sujeitos, que nos conduz necessariamente a última formulação: os indivíduos são sempre/já sujeitos. Os indivíduos são, portanto, abstratos em relação aos sujeitos que existem desde sempre. Esta formulação pode parecer um paradoxo”. (Althusser. 1976: 115).

Esta ideia de sujeito faz pendant com a ideia de Lacan do sujeito como efeito do discurso (Lacan. S. 16: 47). Para existir sujeito no mundo o fato ideológico sujeito precisa ser dito por um discurso que interpela os indivíduos como sujeito (Lacan. S. 16: 65). Articular o indivíduo ao significante ideologia (um certo número de significações) o torna um fato: sujeito e gozo. O sujeito gramatical mais-valia (Mehwert) faz pendant com o sujeito gramatical mais-de-gozar (Mehrlust) a partir do indivíduo cultural trabalhador, ou mais precisamente, força de trabalho do processo de produção de mais-valia e mais-de-gozar onde ele constitui um certo número de significações perdidas (Lacan. S. 16: 13).

No Mehrlust, o sujeito se define como práticas de recuperação não do gozo e sim da perda de gozo, das significações perdidas (Lacan. S. 16: 113), ou seja, de mais-de-gozar, de mais-valia. O sujeito perde o trabalho excedente para o capital. Para recuperá-lo, o sujeito tem que ser as massas nas lutas de massas contra a apropriação de seu mais-de-gozar pelo capitalista como personificação do capital (burguês industrial moderno). Aí se encontra a ideia materialista lacaniana do trabalho da revolução.  

Esta discussão do sujeito é o centro tático do marxismo lacaniano-althusseriano ocidental. O julgamento de Ruy sobre Althusser é formalista e idealista, pois ignora a ideia materialista de sujeito. E vai além. Ignora a relação de Althusser com Freud na construção de uma dialética materialista da cultura política historial a partir do significante freudiano SOBREDETERMINAÇÃO (Althusser. 1967: 169-193). Em sã consciência o julgamento de Althusser como antidialético e antropologista é uma quimera universitária.
        
    
PENSAR A POLÍTICA. BADIOU.

Como vê Ruy, Althusser crer que é possível pensar a política pelo conceito de prática política:
“a prática política – que nos partidos marxistas não é mais espontânea mas organizada com base na teoria científica do materialismo histórico e que transforma a sua matéria-prima
: as relações sociais, em um produto determinado (novas relações sociais). (Ruy. 1983: 76). No Pour Marx (década de 1960), não são as massas o centro-motor da política historial, e sim o partido marxista. Antes já vimos que no livro Réponse a John Lewis (década de 1970) as massas fazem a política historial, a transformação das velhas relações sociais em novas relações sociais, de um mundo velho em um mundo novo. 

Nas décadas de 1970 e 1980, Alain Badiou se interroga se a política é um impossível de ser pensado!

Ele associa a morte do marxismo à crise do político em sua integridade (Badiou. 1990: 15). Na França da política revolucionária e da plenitude da política representativa, há a retirada do político: “Lo político no há sido nunca más que la ficción donde la política el agujero del acontecimiento”. (Idem: 9).

O político é uma narrativa linear da novela, ficção de uma medida, a ideia de que o lugar do social é mensurável no pensamento segundo a norma filosófica do bom Estado, ou da boa Revolução, ‘fatos’ idênticos. Este objeto, às vezes Estado, ás vezes Revolução, ficticiamente evocado na fundação ordenada do filosofema político, é duvidoso que possa um dia pretender ser um conceito da experiência política. (Idem: 9).

A ficção do político é uma ficção funesta, se ela significa a evaporação verdadeira da política. No centro tático, tal ficção é a reunião, do laço, da relação, articulando soberania e comunidade. A política é representada pela ideologia gramatical do conceito do laço comunitário e de sua representação em uma autoridade; se enfatiza a soberania e sua potência representativa ou orgânica para garantir a lei da totalidade.

A soberania popular e a representação política são laços que ligam organicamente (faticamente) representantes e representados. A crise integral do político significa a crise da ideologia gramatical moderna em tela. A política como tomar e conservar o poder adquire uma autonomia absoluta em relação ao político em crise global. A resposta a tal crise foi a cultura do pós-modernismo. Nesta cultura, o político torna-se um simulacro de simulação, ou seja, o político mais real que o próprio político. A política se reduz ao assalto ao poder pela ficção da representação política fazendo pendant com a soberania popular ficcional, também.  Os governantes não representam autenticamente, organicamente, os governados, eles, além disso, adquirem uma autonomia absoluta em relação à vontade de potência soberania popular.

A eleição representativa torna-se uma ficção onde os governados (povo) simulam eleger seus governantes para representar seus interesses. Porém, os governantes não estão soltos no ar, pois, eles são a personificação e a condensação dos interesses e das ideologias gramaticais (o avesso da ideologia inorgânica) do burguês ficcional. Este burguês é uma figura ficcional narrativamente elaborada pelos governantes grau zero da representação popular. Afinal é a população de eleitores (povo) que elege os governantes, e não a ínfima minoria de eleitores burgueses. Mas o burguês público tem sua parcela de povo que o acompanha no espaço ficcional da política fazendo pendant com o espaço do político.  

Badiou conhecia a literatura francesa do pós-modernismo e a ideia do político fazendo pendant com a tela eletrônica de simulacro de simulação. (Baudrillard: 1981: 119):
“- simulacres de simulation, fondés sur l’information, le modèle, le jeu cybernétique – opération-nalité totale, hyperréalité, visée de contrôle total”. (Baudrillard. 1981: 177).

O espaço público procedural parisiense acompanha a produção do contemporâneo antes deste eclodir na década de 1990 na forma total da globalização neoliberal da economia mundial e do globalismo ideológico gramatical do político (Ianni: 223-275; 275-305).

Na Era do globalismo, a formação do sujeito gramatical é a seta que aponta para a narrativa ficcional desterritorialização/reterritorilização da nação, para a ficção da cidade global, do regionalismo, das raças e povos, do trabalho e do capital desmaterializados em sua consistência social. Trata-se da era das ideologias gramaticais ocas como neoliberalismo e neossocialismo. É a era da ilusão do fim e da greve dos acontecimentos: “HÁ VÁRIAS HIPÓTESES PLAUSÍVEIS quanto a este desvanecimento da história. A expressão de Canetti ˂todo o género humano teria repentinamente abandonado a realidade> evoca irresistivelmente a velocidade de libertação necessária a um corpo para escapar à força gravítica de um astro ou de um planeta”. (Baudrillard. 1992: 7-8).

A realidade é a sociedade de classes e das lutas de classes (Marx adeus). Escapar à força da gravidade significa a passagem para a sociedade do sujeito gramatical líquido pós-capitalista.

Badiou tinha clareza que a questão do sujeito gramatical era o centro tático capaz de iluminar a passagem da sociedade de classes moderna à sociedade pós-capitalista? Ele sabia que o significante esquerda tornara-se uma ficção aquosa, um líquido facilmente ingerido pela sociedade pós-capitalista? Agora, a esquerda perdera a grandeza de ser aquela coisa sólida indigesta para a sociedade moderna do capitalismo?

Na dialética materialista de Badiou, o sujeito da dialética é o incluído onde um dos termos é um suporte a longo prazo para o outro em uma narrativa de inclusão, narrativa que suporta em relação ao outro uma relação de inclusão. Assim, o sujeito gramatical é o aspecto principal da contradição na dialética maoísta. (Badiou. 1982: 32).

Tal dialética maoísta vira fumos machadianos de assis na transição da sociedade de classes capitalista para a sociedade pós-capitalista. Na década de 1970, o sujeito na França é a divisão política do povo em burguesia imperialista e proletariado. Estes dois fenômenos políticos organizam cada um o povo de seu lado. Uma política ˂sem povo> sem base de massas simbolizáveis gramaticalmente, isto não existe na década de 1970. Portanto, a contradição principal (sujeito gramatical) na França, contradição entre o proletariado e a sociedade imperialista, entre a política proletária e a política burguesa – contradição, é necessário dizer, ainda bem embrionária – tem por conteúdo efetivo o movimento histórico da divisão do povo. (Badiou. 1982: 32).

Na passagem para a sociedade pós-capitalista a dialética do sujeito maoísta sólido de Badiou desmancha no ar? O livro ¿Se puede pensar la politica? é uma resposta brilhante, conclusiva, ao livro Théorie du sujet?

No ¿Se puede pensar la politica?, Badiou insiste em uma restauração da dialética marxista. Para ele, a dialética materialista da luta de classes ainda não havia sido autodissolvida pelo sujeito gramatical do marxismo ocidental alemão. Neste marxismo ocidental, o totalitarismo se assume como sujeito gramatical no lugar do aspecto principal da contradição principal (Marcuse: 13, 17, 18). O sujeito totalitarismo abole a fronteira capitalismo versus comunismo realmente existente, entre Ocidente e Oriente. A sintetização maoísta totalitária do planeta desfaz a ideia da dialética maoísta (Zizek. 2008: 219). Ela prepara o terreno da transdialética gramatical-eloquência materialista da política mundial como passagem para a sociedade pós-capitalista.

 No livro original de 1985 ¿Se puede pensar la politica? o totalitarismo inexiste?  E no A República de Platão, de 2012? No Menos que nada, Zizek examina o totalitarismo como fenômeno filosófico fazendo pendant com o fenômeno sociológico que vai da dialética do Esclarecimento ao: “ ‘mundo administrado’ de hoje – de Platão à Otan, como se costuma dizer”. (Zizek. 2013: 431). Zizek jamais se convenceu que o sujeito gramatical da sociedade pós-capitalista é a sociedade totalitária como sintetização do comunismo com o capitalismo, do Ocidente com o Oriente?  

Badiou faz uma leitura totalitária de Platão, inequivocamente:
“Podemos também sustentar essa comparação, de que é a parte heteronômica do Sujeito que a elas se reportam e não àquela que o governo na direção da universalidade da Verdade. Assim, é com toda a justiça que proibimos a esse gênero de poetas o acesso a nossa comunidade regida pelas prescrições comunistas. Pois eles acionam a parte puramente empírica do Sujeito, alimentando-a com configurações imaginárias, restituindo-lhe forças e enfraquecendo na mesma medida a parte racional, a única propensa à dialética das verdades”. (Badiou. 2014: 356).

O problema de Ruy é acreditar em uma divisão do mundo em mundo do povo totalitário (filosofia neototalitária de Zizek e Badiou) e mundo do povo democrático da América e da Europa ocidental. O platô de Ruy Fausto é um posto de observação intelectual da ideologia gramatical oca da sociedade pós-capitalista que divide o mundo entre nós (democráticos representativos) e os outros totalitários como a Coréia do Norte comunista e o islã fundamentalista (totalitarismo terrorista) e. Maduro 2017, é claro.  

Desse platô Ruy constrói literariamente uma ESQUERDA FICCIONAL DEMOCRÁTICA. Quanto ao Brasil, aqui inexiste esquerda com ideologia gramatical democrática ocidental. A esquerda brasileira fora do PT continua movida pela crença de uma ditadura do proletariado.

ADORNO E HORKHEIMER. Dialética do Esclarecimento.  RJ: Jorge Zahar Editor, 1985 
ALTHUSSER, Louis. Análise crítica da teoria marxista. RJ: Zahar Editores, 1967
------------------------  Réponse a John Lewis. Paris: Maspero, 1973
------------------------  Positions. (1964-1975) Idéologie et appareils idéologiques d’Etat. Freud et Lacan. Paris: Editions Sociales, 1976
ALTHUSSER. Louis. Freud e Lacan. Marx e Freud. RJ: Graal, 1984 
BADIOU, Alain. Théorie du sujet. Paris: Seul, 1982
-------------------  ¿Se puede pensar la politica?. Buenos Aires: Nueva Vision, 1990
------------------- A República de Platão. Recontada por Alain Badiou. RJ: Zahar, 2014
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. SP: Martins Fontes, 1992
BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée, 1981
--------------------------   A ilusão do fim. A greve dos acontecimentos. Lisboa: Terramar, 1992
FAUSTO, Ruy. Lógica e política. Tomo I. SP: Brasiliense, 1983
------------------ Caminhos da Esquerda. SP: Companhia das Letras, 2017
FAYE, Jean Pierre. La raison narrative. Paris: Balland, 1990
GILSON, Etienne. La philosophie au Moyen Age. Paris: Payot, 1986
IANNI, Octavio. A era do globalismo. RJ: Civilização Brasileira, 1996
LACAN, Jacques. O Seminário. De um Outro ao outro. Livro 16. RJ: Zahar, 2008
MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial. O homem unidimensional. RJ: Zahar Editores, 1973
NIETZSCHE. Par-delá bien et mal. Prélude d’une philosophie de l’avenir. Paris: Gallimard, 1971
SAFATLE, Vladimir. A paixão do negativo. Lacan e a dialética. SP: Editora UNESP, 2006
ZIZEK, Alavoj. Mao. Sobre a prática e a contradição. RJ: Zahar, 2008
-------------------  Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético. SP: Boitempo, 2013           
                                                    


sexta-feira, 21 de julho de 2017

DO ESTADO-GERENTE DA TERCEIRIZAÇÃO

José Paulo

                                     DO SEGUNDO MUNDO GERENTE

                                                
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (8) o projeto de lei 4330/2004, que regulamenta contratos de terceirização no mercado de trabalho. Agora, o projeto será encaminhado diretamente para votação no Senado.

O projeto tramita há 10 anos na Câmara e vem sendo discutido desde 2011 por deputados e representantes das centrais sindicais e dos sindicatos patronais. Ele prevê a contratação de serviços terceirizados para qualquer atividade, desde que a contratada esteja focada em uma atividade específica.

As normas atingem empresas privadas, empresas públicas, sociedades de economia mista, produtores rurais e profissionais liberais. O texto somente não se aplica à administração pública direta, autarquias e fundações.

Nos últimos tempos, temos notado e vivenciado diversas discussões a respeito da terceirização e sobre o que representa a aprovação da Lei 13.429/2017.
Lei no 6.019, de 3 de janeiro de 1974
Art. 3° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 31 de março de 2017; 196° da Independência e 129° da República.
MICHEL TEMER
Antonio Correia de Almeida
Eliseu Padilha
Este texto não substitui o publicado no DOU de 31.3.2017 - Edição extra.
                                                                          
                                                                      II

O Estado integral é a junção de sociedade civil com sociedade política, instituições privadas com instituições públicas, hegemonia e dominação.

A lei de terceirização é uma lei preparada no governo Geisel. Porém, ela se transformou em uma lei da CLASSE POLÍTICA que a aprimorou durante anos (projeto de lei 4330/2004). Ela entrou em vigor no fictício governo Temer em 31 de março de 2017. Do ponto de vista do debate sobre o Estado o essencial é: As normas atingem empresas privadas, empresas públicas, sociedades de economia mista, produtores rurais e profissionais liberais. O texto somente não se aplica à administração pública direta, autarquias e fundações.

Ementa e explicação da ementa
Ementa:
Dispõe sobre os contratos de terceirização e as relações de trabalho deles decorrentes.
Explicação da Ementa:
Regulamenta os contratos de terceirização e as relações de trabalho deles decorrentes.
Situação Atual Em tramitação
Relator atual:
Ricardo Ferraço
Último local:
13/07/2017 - Comissão de Assuntos Econômicos (Secretaria de Apoio à Comissão de Assuntos Econômicos)

Último estado:

13/07/2017 - MATÉRIA COM A RELATORIA

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer deve sancionar o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados na semana passada e que permite a terceirização em todas as atividades das empresas privadas e no setor público, sem as salvaguardas para os trabalhadores. A ideia do governo era aguardar a aprovação de uma outra proposta — a toque de caixa — pelo Senado e que traz essas garantias para que os dois projetos fossem sancionados de forma conjunta, numa espécie de mix das normas. Mas, no encontro do presidente com empresários e banqueiros na última quinta-feira, Temer teria sido convencido de que essa estratégia traria insegurança jurídica porque há pontos divergentes entre os dois textos.

O governo Temer é o governo dos empresários e dos banqueiros. A CLASSE POLÍTICA é uma organização bonapartista do neoamericanismo com fortes ligações com a ideologia gramatical do globalismo financeiro rentista da década de 1990 em junção com a ideologia gramatical do Estado-gerente. Trata-se de um Estado que acaba com a fronteira entre o público e o privado. É o Estado comitê central da sociedade pós-capitalista do capital fictício, sistema financeiro rentista do globalismo neoliberal.  

Tal ideologia gramatical está concentrada no livro de Peter Drucker Sociedade pós-capitalista. A terceirização é uma tática do Estado-gerente para a desmontagem da bürokratie do Estado-nação. Da página 63 à página 65, P. Drucker explica a tática da terceirização: “A nação-Estado não irá desaparecer. Ela poderá permanecer como órgão político mais poderoso ainda por muito tempo, mas não mais será indispensável. Ela irá dividir cada vez mais seu poder com outros órgãos, outras instituições, outras entidades criadoras de política”. (Drucker: XIX).

O Estado-nação divide a política com o Estado-gerente da terceirização da organização bonapartista do neoamericanismo. O Estado-gerente pões a organização bonapartista do neoamericanismo para os países fracos no lugar do Estado-nação bürokratische. A história política do século XXI é aquela da relação estranha, entrelaçamento aversivo, choque e antagonismo entre o Estado-gerente e o Estado-nação bürokratische.

Depois da aprovação no Senado da Reforma Trabalhista, o relator Ricardo Ferraço se tornou a personificação antinação do Estado-gerente. Não é uma mera coincidência ele ser o relator na Comissão de Assuntos Econômicos (Secretaria de Apoio à Comissão de Assuntos Econômicos) da Ementa que regulamenta os contratos de emprego. O projeto de lei da terceirização aprovada pela Câmara muda a forma como se trata a contratação de trabalhadores por empresas terceirizadas. O projeto de lei flexibiliza a terceirização - quando uma empresa contrata trabalhadores por intermédio de uma terceira companhia - e regulamenta a prestação de serviços temporários.

O essencial é que a Classe Política tem em Ricardo Ferraço um relator com mãos de ferro e um orador (fraco) mas totalmente identificado com a destruição do Estado-nação brasileiro. A terceirização é a ideologia gramatical do globalismo do sistema financeira mundial que faz da história política uma história sem Estado-nação na era da sociedade pós-capitalista.

Na era em tela, o mundo será dividido entre os países com grandes Estados-nação (EUA, China, Alemanha, Japão e alguns outros) que tem a gramática do domínio do Estado-gerente submetida à lógica da NAÇÃO. O segundo mundo será aquele onde o Estado-gerente domina territórios nacionais desterritorializados pela gramática econômica em narrativa lógica abstrata do capital fictício (e rentista) como um fenômeno da sociedade pós-capitalista.

O capital fictício pós-capitalista tem seu Estado integral como junção do Estado-gerente com o kriminostat e a sociedade pós-capitalista das ilegalidades naturais econômicas. Esta nova formação econômica faz pendant com o regime político das ilegalidades dos de cima ligadas as ilegalidades dos de baixo.

As ilegalidades são um fenômeno que cria uma nova soberania? Trata-se da soberania de polícia (sociedade política de polícia). Nos encontramos diante de um fenômeno complexo que soma, historialmente, à soberania divina e à soberania popular (do povo-nação, especialmente) a soberania de polícia.

A soberania de polícia é um campo altamente complexo de uma plurivocida de estratégia e tática usadas por atores da política, da economia e da cultura de massa do Estado-gerente bonapartista do neoamericanismo para os fracos. Organizações culturais de massa da sociedade pós-capitalista são organizações bonapartista do neoamericanismo que fazem uma guerra de movimento orientadas pela ideologia do globalismo financeiro neoliberal da década de 1990.

Tal ideologia trata os países do segundo mundo gerencial como geografia da fome de juros da dívida pública. Tal gramática geoeconômica vê o segundo mundo como um depósito de homens como animal mortale voltados para a produção de juros da dívida pública administrada pelo Estado-gerente. Os indivíduos do segundo mundo não possuem cidadania econômica e por isso não tem direito ao Estado-nação previdência. Para os países da sociedade pós-capitalista do segundo mundo, o indivíduo é um ser para a mortalidade demográfica da política do Estado-gerente.

A soberania da sociedade de polícia é uma força política complexa onde habitam atores que lutam contra o Estado-nação (televisão) e contra as ilegalidades dominantes na política (poder jurídico). A televisão faz uma guerra de movimento com a tática de mostrar o fim do Estado-nação como se fosse um acontecimento no qual o próprio Estado-nação é o único responsável.

O jornalismo brasileiro e sua classe política são efeitos diretos do globalismo financeiro neoliberal e efeitos oblíquos dos Estados da sociedade pós-capitalista rentista: Estado-gerente e kriminostat. Enfim, da sociedade pós-capitalistas das ilegalidades econômicas dos ricos.

Em uma era na qual grandes Estados-nação correm para criar uma gramática em narração transdialética e retórica de reerguimento do Estado-nação, o Brasil mergulha no mar do Estado-nação, do kriminostat e da economia natural lumpesinal (ilegalidades econômicas dos de cima) que vai se apossando da cidade gramatical. A gasolina adulterada vendida nos postos de gasolina no Rio é o sinal do progresso da economia natural lumpesinal dos de cima que alcança um consumidor gramatical consumido pelas ilegalidades.

O roubo de cargas nas estradas que chegam ao Rio é outro sintoma do quanto a cidade gramatical pode chegar ao ponto de desabastecimento se a situação da pirataria urbana ampliada não parar de se inscrever na vida das rodovias. Tal economia natural lumpesinal é um fenômeno que faz pendant com a progressão do domínio territorial do kriminostat. Ocorre assim uma reterritorialização do território do trans-sujeito do segundo mundo desterritorilizado como nação e cidade gramatical.

A luta do poder judiciário pelo domínio da soberania de polícia se concentra na política do aqui e agora. Trata-se de uma luta da cultura política descritiva incapaz de atingir a verdadeira política que domina o segundo mundo no planeta. Veremos então um mundo divido entre os Estados-nação virtuais (que controlarem o Estado-gerente, o kriminostat e a economia das ilegalidades dos de cima) e o países do segundo mundo sob domínio descritivo do aqui e agora dos fenômenos supracitados.

O barulho de um concerto (conserto) no elevador me faz terminar este texto nesse ponto. Mas voltaremos a tais problemas em outros textos futuros!   

DRUCKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. SP: Pioneira, 1993                    


    




terça-feira, 18 de julho de 2017

DO FÁTICO À CULTURA POLÍTICA GRAMATICAL

José Paulo

Como sair de uma crise política sem fim? Usando a teoria do virtual parisiense?

O político, o jornalista e o cientista político contemporâneo interpretam o sentido da política como mundo das coisas. Nessa interpretação, as pessoas são reduzidas à coisa como representação de interesse, paixões, sentimentos de si, do outro e do Outro (as massas eleitorais). Trata-se de uma visão da política fática como mundo privado da coisa. Fazendo uma torção cultural no joelho gramatical de sentido do termo “cultura” em direção ao empírico, pode-se falar de uma cultura política fática como cultura descritiva do mundo privado das coisas da política: cultura política descritiva!

Ao contrário da cultura fática, que se define por articular o real da realidade dos fatos, a cultura política gramatical caminha para o espaço habitado no virtual, articulado e transformado permanentemente, simultaneamente, pela gramática, transdialética e retórica. Ela unifica a ideia do homem grego retórico como aquele que esclarece os fenômenos políticos ao dizê-los na Ágora? (Cassin: 223). Para as ciências gramaticais da política, algo é esclarecido ao ser dito na forma da escrita do inconsciente gramatical do discurso do político em contraposição à lalangue: La langage est ce qu’on essaye de savoir concernant la fonction de lalangue”. (Lacan. S. 20: 126).

O inconsciente gramatical tem no sujeito gramatical o tentar saber de si concernente ao espaço articulado por gramática, transdialética e retórica do discurso do político em uma cultura política concretamente gramatical.          

Para os sujeitos gramaticais em tela, o fato (=coisa) é algo de onde se pode extrair na narrativa descritiva o sentido dele. O fato é, em si, sem significação, como deve ser a coisa. Então, em cada cabeça uma sentença, um sentido para o fato. Esta operação é a atividade de imaginarização descritiva da coisa como verdade. Mil cabeças, mil verdades sobre o fato-coisa. No Brasil, o espaço do imaginário (e da imaginarização da realidade dos fatos pelas massas ingramaticalizáveis) comanda o agir da interpretação em geral do mundo das coisas políticas. Não há EXPLICAÇÃO do mundo dos fatos na interpretação da imaginarização.  

A própria cultura eletrônica-virtual possui um discurso de interpretação do mundo da coisa política que contamina e anula a ciência política virtual e o possível saber virtual da política pelo político. Então, não se trata de cultura política porque cultura é um artefato gramatical, artefato da gramaticalização virtual do mundo da coisa política: cultura política gramatical (CPG). A cultura política fática seria o avesso do direito (CPG).

A interpretação gramatical é invenção de sentido em uma cultura virtual da política. Trata-se da cultura política escrita, da escrita como gramática da fala que desvincula o sentido da coisa, do aqui e agora, do corpo vivo do político e de sua visão particular da política, da relação e situação particulares, seja ela individual, familial, de clã ou tribo. A ideia do partido político é que ele é um artefato da cultura política gramatical. Só é partido político se for o partido da gramaticalização virtual da política do mundo do fato político. Ao contrário, a fala do político é um artefato da cultura política da fala, ou seja, cultura política fática.

O fonema é o não-significante gramatical da língua. Na gramática da sociedade, há fonemas: sentimento, paixão, átomos de relacionamentos de gestos, partes da alma, sujeitos, pessoas, como assiná-la Pierre Levy. São tijolos de base para os comportamentos, os relacionamentos e os vínculos sociais. Esses fonemas sociais fazem pendant com elementos invariáveis gramaticais (virtuais) da língua da política [escrita], encarnada no discurso do político gramatical) como: Salvação, cólera, ofensa, promessa ou homenagem, percebidos em uma variedade grande de circunstâncias. Assim, a sociedade se estabelece como cidade gramatical e deve se tornar cada vez mais complexa para dar conta da progressão demográfica geométrica no planeta e, enfim, dos fenômenos complexos: partido político, instituição, sociedade civil, Estado moderno, cultura política gramatical etc.      
                                                                             
                                                                                II

A cultura política gramatical é o mundo do hipertexto tendo o sujeito gramatical envolvido pelo campo dos afetos. As instituições e as tecnologias intelectuais fazem pendant como o sujeito gramatical mergulhado no campo de afetos como fonte axiológica do agir como efeito do inconsciente gramatical-retórico-transdialético do discurso do político em um contexto específico.
Tecnologias como escrita, alfabeto, impressão, mídia audiovisual e digitalis definem diferentes épocas axiológicas e diferentes modos de sentir, refletir, pensar, produzir ideias; e modos de consumir tais fenômenos supracitados. Tais modos de consumo são a reflexão, simbolização, sublimação, subjetivação e metabolização por um trans-sujeito (ou transpsíquico) como família, clã, tribo, comunidade, polis e sociedade, ciberespaço.

A crise política é a crise do hipertexto no domínio do político (e da política) como campo dos afetos das massas simbólicas ou gramaticalizáveis axiologicamente (campo dos valores metabolizáveis no território do trans-sujeito gramatical (atualização da cultura virtual) ou desterritorializados ou territorializáveis). Os valores são ligados e religados como afetos associados à energia narcísica e à economia gramatical do sujeito da política e do espaço político.

O agir do sujeito gramatical é exemplar para as massas gramaticalizáveis axiologicamente em junção como os afetos do campo dos afetos de uma conjuntura de uma época de uma cultura política gramatical historial. Um valor afetivo pode ser negativo ou positivo. A corrupção é um afeto negativo, na modernidade avançada, pois, ela possui uma configuração axiológica baseada no afeto ou emoção agir reto, ser sentimentalmente, emocionalmente honesto na economia capitalista e na política nacional. A classe política do neoamericanismo é um sujeito gramatical (uma máquina de guerra do bonapartismo do americanismo) que espalha a axiologia da corrupção como valor universal. Trata-se de um retorno a era do patrimonialismo da aurora do mundo moderno?             

No início da era moderna, os grandes Estados monárquicos patrimonialista não conheciam sentimentalmente a fronteira da riqueza de um país como privada e pública. Esta fronteira é a base afetiva de uma cultura política gramatical que faz da esfera pública o lugar da honestidade do funcionário da burocracia estatal. Tal axiologia será adotada depois pelo capitalismo na medida em que empresa e aparelho estatal se definem como burocracia moderna. A burocracia moderna é uma instituição e um artefato da cultura política gramatical da junção do público e privado como espaços de uma axiologia da reta conduta do agir burocrático.

Weber considerou que a separação do campo dos afetos do agir burocrático moderna define um sujeito gramatical reto em sua conduta. Para Weber, o campo de afetos é o reino da corrupção do sentimento, da lógica racional e do agir político. Se a burocracia é o sujeito como um cálculo, ou sujeito próximo da equação matemática, ele deixa de ser um sujeito gramatical ao tornar-se um sujeito puramente lógico. Esta é uma fração do pensamento weberiano contradita pela ideia de um sujeito gramatical em narrativa lógica (racional ou/e irracional) ao longo da história universal weberiana (Weber: 1703).

A profecia racional do futuro do século XXI como um mundo Egípcio antigo gramaticalizado como moderno (Weber: 1704) já contém a ideia do sujeito gramatical mergulhado na lógica do campo dos afetos ultrarracionalizados, concebendo aí a corrupção como um valor afetivo negativo da produção do nosso contemporâneo. Todavia, o apagamento da fronteira público/privado (Weber: 1073-1074) joga no lixo da história universal a axiologia da modernidade do século XIX: capitalismo industrial e Estado capitalista nacional cum política representativa moderna do burguês industrial burocrático. 

Como manter a escala de valores da modernidade ligadas ao campo de afetos das massas simbólicas sem a fronteira público/privado?

A junção do público como privado fez da modernidade axiológica a aparência da semblância da produção do contemporâneo que é uma linha de força gramatical que usa a modernidade dos valores da vida reta como retórica do sujeito gramatical do inconsciente do discurso do político da sociedade pós-capitalista. A retórica da sociedade pós-capitalista é uma máquina de luta espiritual, cultural, simbólica contra o domínio integral do século XXI pela sociedade lumpesinal das ilegalidades dos de cima e dos de baixo - sociedade pós-capitalista do Kriminostat.  

CASSIN, Barbara. Ensaios sofísticos. SP: Siciliano, 1990
LACAN, Jacques. Le Seminaire. Livre XX. Encore. Paris: Seuil, 1975
LÉVY, Pierre. O que é o virtual? SP: Editora 34, 1996
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México: Fondo de Cultura Económica, 1984
          



     

sexta-feira, 14 de julho de 2017

DA CRISE POLÍTICA MAJESTAS EM LATIM

José Paulo   


DA CRISE POLÍTICA DA SOBERANIA POPULAR
A crise brasileira vai adquirindo a forma de uma crise especificamente política? A crise econômica parece afetar a política colocando-a em crise? A economia dá provas de uma vontade de potência no sentido de se descolar da crise política? OS ricos burgueses querem abandonar a ideologia gramatical economicista da economia no comando da política? Querem deixar a política para os governantes governarem a política?

Ainda é cedo para saber as respostas a estas interrogações. A ideologia gramatical dos ricos burgueses está sob o comando dos rentistas (oligarquia financeira transnacional) e eles usam a cultura de massas da televisão e da imprensa para fazer política atrelada à economia do capital fictício transnacional. Este quer saber se o país pode continuar a pagar os juros da dívida nacional para a oligarquia financeira burocrática mundial. Por causa deste contexto de redes gramaticais lógicas da economia em junção com a sociedade e política não podemos falar de uma CRISE NACIONAL. A crise é transnacional.

No entanto, o território continua habitado e possuído por uma forma de Estado fazendo pendant com uma forma de governo. Tal fato cultural é imprescritível, inamovível nessa entrada do século XXI. Orientado por um método apropriado precisamos saber se a nossa crise é de Estado, ou de governo ou de Estado em junção com governo.

A nossa forma de Estado está dita no Preâmbulo da Constituição 1988: Estado Democrático. Trata-se, portanto, de um Estado popular na classificação de J. Bodin e muitos outros cientistas gramaticais da política.

A forma do Estado se define pela sede ocupada pela majestas ou soberania popular representativa. O poder majestas é aquele que dar e anula as leis para todos. Como a Câmara dos deputados representa tal soberania popular, ela é a sede poder soberano representativo. Assim, o Estado é definido como Estado popular representativo. A gramática da sede da soberania popular representativa caracteriza o significante gramatical Estado.

No atual período político, o país atravessa uma reforma da sociedade do trabalho fazendo junção com a reforma da sociedade da previdência social. Tal reforma é um dar leis e um anular leis: poder majestas. A reforma passa necessariamente pela Câmara dos deputados em um momento no qual o senado abdica de seu poder revisor de dá leis e anular leis. Como é claro para os senadores, o senado não é a casa, por excelência, de representação da soberania popular, não é a sede do poder soberano representativo.

No entanto, a causa da reforma está na iniciativa do executivo, da presidência da “República”. Aqui entramos no problema da forma de governo do Estado popular representativo. A forma de governo é o exercício governamental da forma de Estado. A junção governo e Estado define a formação brasileira política Estado popular soberano presidencialista.

O que é o soberano no Brasil?

O governo do Estado popular representativo se define pela espécie de classe política soberana na sede da soberania. Qual espécie de classe política nos governa? O Estado popular (democrático) pode ter um governo aristocráticos se a riqueza pública for distribuída para a nobreza pelo Príncipe (monarca ou presidente senhorial). Este é o Brasil do século XIX.

No Brasil do século XXI pós-1988, a riqueza pública é distribuída para os ricos políticos em conluio com os ricos privados? Quem são os políticos brasileiros em 2017?
É nossa uma elite no poder congressual (classe política bonapartista neoamericana) de ricos oligarcas. Então, o Estado é popular oligárquico. Porém, a forma de governar é presidencialismo de coalizão. O que significa tal significante político?

Trata-se de um exercício de governar o Estado pelo conluio do privatismo (apropriação normal ou ilegal da riqueza pública) da forma de governo presidencialista com a forma de Estado popular oligárquica. A formação política transnacional é um Estado popular oligárquico presidencialista senhorial.

A crise transnacional brasileira remete para a crise do Estado popular representativo oligárquico senhorial presidencialista. Trata-se da crise que alcança a cultura política popular-oligárquica como majestas. Se a crise econômica significa 14 milhões de desempregados, então, ela é uma crise econômica que afeta a soberania popular ao transformar um conjunto de cidadãos em sem pátria econômica nas cidades gramaticais industriais e do setor de serviço.

A crise econômica caminha na direção de tornar apátrida uma parcela do trabalhador do conhecimento (classe simbólica pública), se a leitura economicista do modo de produção flexível neoliberal do diabo oligárquico financeiro mundial orientar seus exércitos transnacionais e nacionais na tarefa de destruir o Estado-gerente do trabalho do conhecimento público. Se o diabo rentista mundial exigir o desmantelamento do Estado social da terceira idade e da saúde pública (como exemplo de sua política diabólica neoliberal cruel mundial para o terceiro mundo no centro e na periferia) aí o país entrará em uma situação que nos remeterá para o século XVI.

No século XVI, os intelectuais debatiam se em situações como a nossa os súditos têm o direito de sublevar-se ou de matar o tirano (classe política). Ou se somente é lícita a resistência passiva eleitoral. No século XVI, os absolutistas dizem:
“Impossível não obedecer em matéria que vá contra a lei de Deus (e a natureza humana da política passiva), fugir, esconder-se, aparar os golpes resignadamente, preferir a própria morte a atentar contra a vida ou a honra do monarca, por mais cruel e pior tirano que ele seja”.

Leitor, esta é a leitura que a classe política brasileira faz da política em geral e da política em uma era de crise desbragadamente, demasiadamente, cruel com os seus súditos da soberania popular representativa.                               
  

         

segunda-feira, 10 de julho de 2017

DA SOCIEDADE PÓS-CAPITALISTA ipsis verbis

José Paulo

                         

1.       A ERA DA TRANSIÇÃO PARA FORA DA SOCIEDADE INDUSTRIAL TOUT COURT
2.       DO BONAPATISMO NEO-AMERICANO HOJE

Na década de 1990, a sociologia começou a debater a investigação da transição da sociedade industrial para uma outra espécie de sociedade. A sociologia americana profissional da administração falava em sociedade pós-capitalista e a sociologia francesa em sociedade programada.

A sociedade programada é aquela na qual a indústria cultural assumia o comando da cultura e os bens culturais tomavam o lugar dos bens materiais. A ideia sai do marxismo cultural alemão da Escola de Frankfurt. Refere-se a uma escola de teoria social interdisciplinar neomarxista, particularmente associada com o Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt.  

Na sociedade programada, a sociedade de classes não é mais a sociedade das lutas de classes. A sociologia da cultura fala de uma sociedade social na qual as classes não são o centro tático como o foram na sociedade industrial moderna. A ideia de movimento (movimentos cultural e social) ocupam o centro das lutas de novos atores ligados à sua representação na indústria cultural, como pensou Touraine em 1992.

A ideia de representação industrial moderna dos atores se enfraquece sem desaparecer; a ideia da representação cultural toma o lugar da representação política própria da sociedade industrial depois que o mundo do dinheiro e do trabalho deixaram de se ver como o estranho, um em relação ao outro.

Em Marx, este mundo deixa seu estranhamento com o significante relação social de produção onde o capital e o trabalho constituem-se como partes da sociedade industrial moderna.

A sociedade moderna se caracteriza pela oposição e complementaridade entre racionalidade e subjetivação, entre razão instrumental e sujeito livre e criador. Marx criou uma filosofia da história com o burguês como o Sujeito da historicidade da modernidade. Tal filosofia foi desmontada com a desconstrução das filosofias da consciência de classe como sujeito da história.

A passagem do sujeito burguês de Marx para o capitalista como personificação do capital (efeito do significante capital) retira do burguês industrial o lugar de sujeito da sociedade civil e mais ainda de sujeito da história. Se não é um sujeito burguês, o que é o capitalista?

O capitalista é o paradigma do burguês; espelho e encarnação do capital industrial; representante do capital industrial, cânone e espécime do burguês em geral. Ele é a forma completa, acabada da história do burguês em geral. Ele é a persona do capital, o capital em pessoa.

Para a sociologia da modernidade, o burguês era um tipo humano, um ser humano, um sujeito. Já o capitalista não é um tipo humano, um ser humano, um sujeito livre e criativo, sujeito que criou o capitalismo industrial, passando para segundo plano, depois do burguês industrial ou, mais exatamente, o capitalista. No século XIX há a passagem da sociedade burguesa para a sociedade capitalista, onde a racionalização, a razão instrumental se personifica no burguês industrial, ou seja, no capitalista da modernidade.
                                                                                     II

O Estado burguês (Marx) corresponde à sociedade burguesa e o Estado capitalista à sociedade capitalista bonapartista na sua origem fenomenológica (Poulantzas. 1975: 9, 83-88). A autonomia relativa em relação à economia capitalista (e sua sociedade capitalista) é a característica bonapartista de qualquer Estado Capitalista. Em Marx, o Estado burguês se caracteriza pela falta de autonomia relativa em relação à sociedade burguesa e à economia capitalista: o Estado é o comitê central da burguesia.

Na periferia latino-americana do capitalismo, alguns países chegaram a montar um Estado burguês (Saes: 181-193), e uma certa bibliografia sociológica aplicou inadvertidamente o significante Estado capitalista à realidade política brasileira. (Pereira: 113; Martins: 34-40, 81-82). No Brasil, o Estado burguês cedeu seu lugar soberano ao Estado-gerente como significante Estado de uma sociedade pós-capitalista com suas organizações bonapartistas neoamericana.        

Com o capitalista como efeito do significante capital, temos a sociedade industrial moderna. Contra o capitalista (sistema racional capitalista) se ergue o sujeito operário e suas lutas que, com efeito, são mais do que a simples luta econômica de classes. Há, por exemplo, a luta pelos direitos econômicos e sociais que acabou na sintetização capital e trabalho do Estado providência da socialdemocracia europeia imitada superficialmente, por exemplo, em partes das Américas.

O Estado socialdemocrata é uma situação histórica particular do historicismo da sociedade moderna industrial. A transição da sociedade industrial para outra espécie de sociedade põe e repõe o problema de a sociedade moderna ser mantida ou decomposta em pedaços. Se a subjetivação (liberdade e criação) quase desaparece e o sujeito torna-se o efeito do significante sociedade pós-industrial, a sociedade moderna perde uma das suas pernas, pois ela é um fenômeno dualista que se torna monista.            
A bibliografia clássica sobre o burguês (mercador e dono da manufatura inglesa até a década de 1850) e os acionistas (proprietário jurídico-econômico do capital) que não exerce o poder de direção no processo de trabalho é o começo de uma distinção, mais radical, na descrição do burguês. Para início de conversa, o capitalista é o burguês da grande indústria, ou seja, ele é a personificação do grande capital industrial do século XIX. Se ele é o efeito da razão instrumental industrial, então ele está mais para máquina do que para o homem.  Schumpeter fala de uma cultura capitalista cujo agente burguês é algo equivalente a uma máquina. (Shumpeter: 264, 260). A cultura capitalista da burocracia é aquela da máquina burocrática. (Idem: 262, 265).

A sociologia que põe e repõe o empresário no lugar do burguês clássico, do empresário como pessoa no lugar do burguês como pessoa não enfrentou e resolveu o problema teórico-prático historial. Lenin resolveu tal problema ao substituir o burguês pela oligarquia burguesa: oligarquia financeira (Fioravante: 428). Poulantzas poderia ter pensado a forma do regime político da classe burguesa a partir da divisão social do trabalho e sua crítica da teoria dos indivíduos-agentes capitalistas (managers) seguindo Lenin. Mas não o fez. (Poulantzas. 1974 : 179, 180, 184-185).

Retomando Lenin, o burguês clássico (mercador, dono da manufatura até o capitão de indústria) é um soberano monárquico ou tirânico. A família burguesa no comando da economia é uma forma de regime econômico político especial como extensão da monarquia burguesa. Há então, a passagem para o capitalista como personificação oligárquica do capital. É provável a existência historial da aristocracia econômica burguesa até a democracia econômica das massas burguesas. A burocracia weberiana é uma forma de máquina capitalista constituindo um regime político especial na empresa capitalista. O empresário capitalista é um efeito do regime político burocrático weberiano.

De Robert Michels, O livro Os partidos políticos é pioneiro no estudo da instituição como forma de cultura política. O contraponto entre o governo exercido diretamente pelas massas (democracia direta das assembleias populares) e a democracia organizacional do sindicato ao partido se dilui, pois, mesmo a democracia das massas possui um estado-maior oligárquico (Michels: 9) sofístico. O uso das formas políticas (oligarquia, monarquia, bonapartismo, democracia autoritária [Michels: 210]) para falar do funcionamento econômico da instituição política é um achado de Michels.

Ao dizer oligarquia financeira, Lenin usa o pensamento político da antiguidade para pensar a classe econômica do burguês rentista. Esta interseção de política com economia é o significante cultura política da economia mundial do século XX.            
                                                                              III

O capitalismo corporativo mundial criou o regime político da sociedade civil corporativa moderna. Neste regime, a cultura da corporação moderna toma o lugar da burocracia e da oligarquia. A corporação moderna faz pendant com a elite econômica no poder de Wright Mills. Trata-se de uma elite no poder bonapartista do americanismo, pois, ela se realiza através de uma classe simbólica de declassés (Michels: 206, 207). Esta serve à elite no poder esquecendo seu pertencimento de classe original. A elite no poder digitalis é bonapartista nesse exato sentido do americanismo. Ela é uma classe simbólica digitalis que esqueceu sua origem de classe nas garagens de Seattle. O Vale do Silício é uma máquina bonapartista da sociedade pós-capitalista de fazer a elite digitalis esquecer sua origem de classe, pois, ela não assume a forma burguesa ou empresarial (managers) reconhecidas na cultura capitalista. Trata-se, portanto, de uma elite digitalis bonapartista do fim do americanismo.

Tal elite bonapartista da sociedade pós-capitalista reside seu poder em uma gramática cultural que é um conjunto de ideias, estruturas de pensamentos e ideologias que é a marca de um tempo lógico lacaniano gramatical que exprime valores criativos e defensivos (Russ: 155) contra o ancien régime eletrônico virtual associado ao ancien régime de comunicação da era de Gutenberg.         

A elite no poder bonapartista do americanismo é o novo sujeito burguês, pois, ele é criativo; ele abriu a porta para o surgimento para a nova elite no poder digitalis bonapartista da sociedade pós-capitalista. A elite no poder bonapartista de Charles Wright Mills significa a sociedade capitalista do americanismo na era de uma imensa criatividade cultural (Furtado: 112) que desaguou na era do globalismo. O leitor já deve ter percebido que trato com uma plurivocidade de fenômeno capitalista que se alinham, e se desalinham, em uma multiplicidade, bem variada, de tempos gramaticais culturais lógicos e alógicos.   
                                                                                   
A sociedade pós-capitalista da circulação intensa e organizada das elites é uma ideia que nos remete para Pareto (Russ: 151-155). Trata-se da ideia de uma transição da sociedade de classes capitalista de Marx para uma sociedade capitalista de elites. A sociedade pós-capitalista de organizações de elites digitais não é o fenômeno que define o século XXI?       

Estamos atravessando a era do americanismo cuja a inessência da maquinação (acabamento incondicionado do ser como vontade de poder do americanismo): “exige uma humanidade que não desertifique toda a tradição, mas propague para além da desertificação, isto é, para o interior de sua inessência, justamente uma tradição desertificada da metafísica (e, isto é, da história ocidental) essencialmente sem raízes”. (Heidegger. 2000: 156-57).

Do século XXI, a sociedade pós-capitalista se recupera com sua inessência desertificada de metafísica na cultura política - como é o caso do bonapartismo neoamericano? 
                                                                                        IV                                                  

Celso Furtado fala de uma cultura da criatividade em geral, no final da década de 1970. Esta só pode existir na sociedade da circulação das elites do pós-II Guerra. A indústria cultural é um efeito da cultura no comando da economia e da política. Recentemente, outros sociólogos levam esta ideia adiante. Trata-se de pensar a sociedade moderna tendo no comando a cultura não apenas como indústria cultural. Por exemplo, na política a representação política clássica divide a política com a representação cultural da política bonapartista. É claro que a ideia de representação cultural da política usa os meios de comunicação industriais. Mas tal fato não pode excluir a relação cultural dos representantes com os representados em geral, na cultura digitalis bonapartista pós-americanista. A indústria cultural pode ter sido uma máquina auxiliar de construção de uma percepção cultural da política pelas massas (se for massas simbólicas bonapartistas) no lugar da percepção simplesmente política ou ideológica.

A transição da sociedade industrial se faz para uma sociedade cultural industrial, não somente industrial, pois industrial bonapartista de declassés burgueses. A cultura do consumo de bens simbólicos inclui o consumo de ideais e estruturas de pensamento no lugar da cultura industrial de bens materiais. Tal fenômeno traz consigo a subjetivação de declassés. No século XXI, a cultura do consumo de tais bens culturais se faz através da internet, do bonapartismo cultural do pós-americanismo do Facebook e outras ferramentas digitalis.  Toda uma geração da infância até a idade adulta cresceu no ambiente da cultura de consumo (e produção) de bens simbólicos na internet bonapartista. Trata-se de uma cultura de consumo da sociedade moderna bonapartista de produção pós-capitalista de ideias e pensamentos. Neste ponto encontramos Peter Drucker.
                                                           PETER DRUCKER    

No início da década de 1990, a sociologia da administração americana vê que o planeta entrava em uma era de transição para uma sociedade pós-capitalista. Tratava-se de uma sociologia por ordem de previsibilidade (Drucker: XXII).

Ela começa ´prevendo o fim da soberania do Estado-nação como entidade criadora de política: “A nação-estado não irá desaparecer. Ela poderá permanecer como órgão político mais poderoso ainda por muito tempo, mas não será indispensável” (idem: XIX). Em meados da segunda década do século XX, a nação-Estado continua indispensável para o espetáculo da tela eletrônica da sociedade dos significantes jornalística mundial. A nação-Estado ocupa o proscênio da tela gramatical eletrônica pois, ela soletra seu agir pelo quase monopólio da violência real no país e entre os países.

O que é a Coréia do Norte? Uma nação-Estado comunista em uma era na qual a ideia de comunismo se autodissolveu com a queda do Muro de Berlim, o desaparecimento da URSS e a sintetização maoísta da China entre capitalismo e comunismo. O dragão chinês não é magia política, ele não é capaz de desfazer a sintetização em um retorno ao maoísmo comunista da Revolução Cultural. Esta fantasia marxista e/ou capitalista não é uma fantasia lacaniana do futuro.

Se já vivemos em parte de uma sociedade mundial pós-capitalista, de Peter Drucker, a Coréia do Norte é uma forma de governo pós-capitalista (Drucker: XIX). A Coréia do Norte não é o passado comunista risível, cômico grotesco, no presente; ela é o presente da sociedade mundial pós-capitalista. Ela é uma forma de governo pós-capitalista monárquico-bonapartista. Teocrático?                 
A Coréia do Norte é o Príncipe bonapartista pós-capitalista como um Maracatu Atômico perante uma China continental ambígua, em sua expansão totalitária, uma Coréia do Sul liberal oriental com medo e um Japão como velha nação-Estado capitalista fronteira geopolítica Ocidente/Oriente, querendo retornar ao seu agressivo militarismo asiático totalitário.

                                                                               V
A sociologia administrativa de Harvard viu na associação entre ciência e técnica (tecnologia) um modo de se impor no debate sobre o fim da sociedade capitalista (industrial) na década de 1990. O AntiMarx, Peter Drucker ignora que Marx transformou em um quadro conceitual (e em um Organon de significantes) a relação entre ciência e técnica que transformou a história do Ocidente com a passagem da economia capitalista para a sociedade capitalista, como observa muito bem o próprio P. Drucker.

O livro de P. Drucker usa ideias já exploradas no magnífico Historia social de la ciência, de John D. Bernal. A primeira versão deste livro é de 1954 e a versão final de 1964. Em certo sentido, a ideia de pensar a história moderna como história da sociedade tecnológica moderna está mais bem exposta e organizada, em seus detalhes factuais, em Bernal. Mas não se trata de um livro de sociologia. Trata-se de uma historiografia da ciência e da técnica com o apogeu na revolução industrial que articula a sociedade capitalista moderna. (Bernal: 418-425
                                                                                  
P. Drucker usa a ideia de técnica associada ao domínio do modo de produção feudal europeu pelo cavaleiro. Trata-se de uma ideia que a sociologia ainda não havia explorado, como é possível verificar nos dois volumes do livro O processo civilizador, de Norbert Elias. Diz Peter que por várias centenas de anos, o cavaleiro foi uma máquina de lutar sendo parte de uma máquina de guerra: “o cavaleiro, seu escudeiro, seus três cavalos, e seus doze a quinze cavalariços. Em outras palavras, o estribo criou o feudalismo”. (Drucker: 6).

O estribo tornou possível lutar montando um cavalo. Este fenômeno sociológico da Idade Média criou a sua classe dominante e a cultura da (literatura, música, poesia, Dama) política do cavaleiro e seu cavalo. A imagem do cavaleiro saindo do pântano puxando a si e seu cavalo pela crina do cavalo significa a organização do feudalismo a partir da cultura política técnica da cavalaria.

A ideia de que existem economia capitalistas, porém, só uma sociedade capitalista também ajuda a pensar a saída da sociedade capitalista industrial para a sociedade pós-capitalista. Mas me parece mais exato se falar de economias burguesas e não de economias capitalista, pois sigo Marx na solução deste aspecto. Antes de abordar tal problema ancoremos nosso barco na sociedade capitalista de Marx.
                                                                                      VI

A economia capitalista é a passagem da mais-valia absoluta da economia burguesa para a mais-valia relativa. A economia burguesa corresponde a sociedade burguesa liberal na qual a luta de classes não se encontra no centro do palco da história, ou seja, a sociedade civil burguesa. A economia capitalista corresponde à sociedade capitalista da sociedade de classes com as lutas de classes como protagonista historial. De Hegel, o livro Fundamentos da filosofia do direito é o Evangelho da sociedade burguesa.
A crítica de Marx a tal livro corresponde a transição para a sociedade de classes cum lutas de classes, ou melhor, para a sociedade capitalista.

A subsunção formal do trabalho ao capital é uma modalidade de produção de mais-valia absoluta que se realiza pelo prolongamento do tempo de trabalho no processo de produção de mais-valia. Tal fator tempo define a produtividade do trabalho. Se for só esta modalidade existente temos a economia burguesa capitalista e não o modo de produção especificamente capitalista e sua sociedade capitalista tout court. (Marx. 1978: 51-53)

A economia especificamente capitalista é a da subsunção real do trabalho ao capital da sociedade especificamente capitalista. Na economia capitalista, a ciência e a tecnologia definem o tempo de trabalho (redução do tempo de trabalho individual para produzir mercadorias através da produtividade articulada pela ciência fazendo pendant com a tecnologia) como redução da jornada de trabalho individual que muda o caráter despótica da sociedade burguesa na grande indústria como violência da jornada de trabalho prolongado como fator da produtividade. (Marx. 1978: 55-56).

A mudança na economia capitalista burguesa para economia especificamente capitalista altera a gramática da sociedade de classes. A gramática deixa de ser anarquista do ponto de vista do trabalho e se torna marxista com seus grandes partidos de massas socialistas e seus poderosos sindicatos. As lutas de classes transitam para uma espécie de sociedade da organização com partidos de massas e sindicatos oligárquicos:
“Não se concebe democracia sem organização. A demonstração desta tese pode ser feita em poucas palavras.

Uma classe que ergue diante da sociedade a bandeira de reivindicações concretas e aspira a realizar um conjunto de ideologias ou de ‘ideias’ derivadas das funções econômicas que ela exerce, tem necessidade de uma organização”. (Michels: 7).

A sociologia da organização começa em Michels e, historialmente, na última parte do século XIX.      
A sociedade de classes se torna uma sociedade das organizações. A ideia e a prática da revolução do trabalho esquecem seu caráter espontâneo e explosivo. Tal acontecimento está de acordo com a definição de Peter Drucker sobre a gramática da lógica das coisas da sociedade de organizações:
“toda organização de hoje precisa embutir em sua própria estrutura a gerência (gramática) da mudança.
Ela precisa embutir o abandono organizado de tudo aquilo que faz”. (Drucker: 36).

No final do século XIX europeu ocidental, após a derrota da Comuna de Paris, em 1871, ocorre a passagem da sociedade civil burguesa hegeliano para a sociedade de organizações política do trabalho cum lutas de classes dominantemente econômicas.              

                                                                                   O que é o Estado-gerente?

A bibliografia sobre o significante gerência em sua relação com a cultura política desagua na gramática do Estado gerente. Seria um estado cuja existência significa a abolição da fronteira entre liberalismo e socialismo. O Estado gerente se diferencia do Estado liberal burguês, sendo este o Estado da sociedade burguesa liberal hegeliana. Se diferencia do estado capitalista, sendo este o Estado da sociedade capitalista das classes e das lutas de classes.

O Estado-gerente é o Estado da classe política da teoria das elites, da sociedade de significantes da circulação das elites. São características da gramática da cultura política gerencial o insuficiente funcionamento do mecanismo da representatividade e a falta de eficiência (Châtelet: 125) em resolver conflitos culturais, econômicos e sociais. A representação política é substituída, em parte, pela representação cultural. Eis o ponto chave da ineficiência da solução de conflitos políticos que ameaçam a democracia.

O Estado-gerente é provido de uma gramática da cultura política que é a interseção na forma política de democracia, oligarquia e monarquia (no caso do presidencialismo quase monocrático):
“Poder de um só, poder de poucos, poder da multidão: “a classificação triparti, exposta pela primeira vez em Heródoto, revela-se hoje inadequada. Em um grande número de Estados contemporâneos, a legitimidade proclamada é da espécie democrática, ao passo que a aparência política confere o poder a uma espécie de monarca temporário (às vezes, eleito) e o funcionamento político real é do tipo oligárquico”. (Châtelet: 113).

A gramática da cultura da política econômica em narrativa gerencial pluralista e partidária cai na sua aparência de semblância da política real na crise da democracia:
“Mais ligado ao pluralismo, o sistema partidário é constantemente acusado de falsear o jogo democrático, agravando a ‘passividade das massas’ e manipulando as verdadeiras opções políticas. É suficiente pensar na crítica exemplar de Michels ou de Ostrogorski: da militância à profissionalização da política, a atividade partidária cria uma elite rapidamente inamovível, desencorajando qualquer participação popular, de modo que ‘a estrutura oligárquica esmaga o princípio democrático fundamental’. Inércia das massas e especialização dos chefes reforçam-se mutuamente”. (Châtelet: 126).

Em determinadas circunstâncias de crise da democracia, a cultura política da sociedade da organização de especialista da política entra em choque com a gramática da polis, ou seja, cidade gramatical. Se a polis for sinônimo de comunidade gramatical em choque com o estilo organização da sociedade pós-capitalista (como o hospital, empresa tele eletrônico-virtual, a universidade americana privada mundial como Harvard, Stanford, Princeton) é possível fazer uma aproximação da sociologia da organização de Harvard da década de 1990:
“Para realizar sua tarefa com sucesso, cada um deles deve ser organizado e gerenciado da mesma maneira. Assim, em sua cultura, a organização sempre transcende a comunidade. Se a cultura da organização se choca com os valores da comunidade (da sociedade do trabalho, por exemplo), a cultura da organização irá prevalecer – caso contrário ela não fará sua contribuição social”. (Drucker: 38).

A gramática da cultura política da economia da sociedade pós-capitalista dos empregados encontra-se em estado de permanente antagonismo com a cidade gramatical dos assalariados.                           
                                                                                          O CAPITAL

No O capital, Marx cria um paradigma sociológico gramatical que subdivide o espaço capitalista em economia, sociedade e política. O ponto de partida é a economia na divisão do trabalho manufatura capitalista, que não se confunde com a grande indústria. A economia manufatureira faz pendant com a sociedade capitalista de mercadorias. Para a finalidade comparativa com a sociedade de empregados de P. Drucker, a questão do saber do operário se diferencia da situação do conhecimento do empregado na organização pós-capitalista.

Na manufatura, surge o esboço da episteme do capital (Lacan. S. 17: 21) que consiste na transformação do saber operário em saber do capital na manufatura que na grande indústria vislumbra como episteme do discurso do senhor do capitalista:
“As forças intelectuais da produção só se desenvolvem num sentido, por ficarem inibidas em relação a tudo que não se enquadre em sua unilateralidade. O que perdem os trabalhadores parciais, concentra-se no capital que se confronta com eles. A divisão manufatureira do trabalho opõe-lhes as forças intelectuais do processo material de produção como propriedade de outrem e como poder que os domina. Esse processo de dissociação começa com a cooperação simples em que o capitalista representa diante do trabalhador isolado a unidade e a vontade do trabalhador coletivo. Esse processo desenvolve-se na manufatura, que mutila o trabalhador, reduzindo-o a uma fração de si mesmo, e completa-se na indústria moderna, que faz da ciência uma força produtiva independente de trabalho, recrutando-a para servir ao capital”. (Marx. 1996: 413-14).

O discurso do senhor capitalista faz pendant com o discurso do tirano pelo lugar que a ciência moderna ocupa nele (Strauss: 38). Mais adiante Marx fala de um discurso do autocrata do capitalista. Na manufatura, o discurso do capitalista produz o trabalhador idiota e a imbecilidade das massas do trabalhador parcial:
“Para evitar a degeneração completa do povo em geral, oriundo da divisão do trabalho, recomenda A. Smith o ensino popular pelo Estado, embora em doses prudentemente homeopáticas. Coerente, combate contra essa ideia seu tradutor e comentador francês, G. Garnier, que, no primeiro império francês, encontrou as condições naturais para se transformar em senador. Segundo ele, a instrução popular contraria as leis da divisão do trabalho e adotá-la ‘seria prescrever todo o nosso sistema social”. (Marx. 1996: 415).

Claro que a ideia do senador G. Garnier é baseada em uma leitura economicista do discurso do capitalista na qual ele reduz a sociedade e a política à economia manufatureira ipsis verbis.

A sociedade capitalista se configura como sociedade de mercadorias (Marx. 1996: 408) e pela divisão entre trabalho manual e intelectual na fábrica:
“A separação entre as forças intelectuais do processo de produção e o trabalho manual e a transformação delas em poderes de domínio do capital sobre o trabalho se tornam uma realidade consumada, conforme já vimos, na grande indústria manufatureira. A habilidade especializada e restrita do trabalhador individual, despojado, que lida com a máquina, desaparece com uma quantidade infinitesimal diante da ciência, das imensas forças naturais e da massa de trabalho social, incorporado ao sistema de máquinas e formando com ele o poder do patrão. No cérebro deste estão indissoluvelmente unidos a máquina e o monopólio patronal sobre ela e, por isso, o patrão, nas divergências com os trabalhadores, a estes se dirige depreciativamente”. (Marx. 1996: 484). 

Na fábrica moderna, a subordinação técnica do trabalho ao capital exige a máquina burocrática militarizada como parte da divisão do trabalho maquínico da grande indústria moderna:
“A subordinação técnica do trabalho ao capital ao ritmo uniforme do instrumental e a composição peculiar do organismo do trabalho, formado por indivíduos de ambos os sexos e das mais diversas idades, criam uma disciplina de caserna, que vai ao extremo no regime integral da fábrica. Por isso, desenvolve-se plenamente o trabalho de supervisão anteriormente mencionado, dividindo-se os trabalhadores em trabalhadores manuais e supervisores de trabalho, em soldados rasos e em suboficiais do exército da indústria”. (Marx. 1996: 485). 

A forma política da economia capitalista moderna de caserna vive em um antagonismo crescente com a forma política ipsis verbis:
“Através do código da fábrica, o capital formula, legislando particular e arbitrariamente, sua autocracia sobre os trabalhadores, pondo de lado a divisão dos poderes tão proclamada pela burguesia, e o mais proclamado ainda regime representativo. O código é apenas a deformação capitalista da regulamentação social do processo de trabalho, que se torna necessária com a cooperação em grande escala e com a aplicação de instrumental comum do trabalho, notadamente a maquinaria. O látego do feitor de escravo se transforma no regulamento penal do supervisor. Todas as penalidades se reduzem naturalmente a multas e a desconto salariais, e a sagacidade legislativa desses Licurgos de fábrica torna a transgressão de suas leis sempre que possível mais rendosa que a observância delas”. (Marx. 1996: 485).       

Uma sociedade capitalista esquizo aparece nessa divisão política entre fábrica moderna militarizada e cidade gramatical liberal, ou seja, a polis moderna representativa. No O Capital, Marx deixa para trás a sociedade hegeliana dividida pelo antagonismo entre sociedade civil e sociedade política. Ele faz tal proeza ao apresentar a formação econômico-social como divisão entre sociedade da economia fabril moderna autocrática, sociedade liberal utilitária de mercadorias e sociedade política liberal a partir da existência das esferas sociedade e política com autonomia relativa em relação à esfera econômica. 

Na sociedade do empregado (simples [ex-operário] e complexo [ex-capitalista]) outras são as relações entre economia, sociedade e política. Este, ao menos, é o desejo de sr. P. Drucker.   

ROTEIRO FINAL DA SOCIEDADE PÓS-CAPITALISTA
O Capital: Marx e Bourdieu, P. Drucker.

Anote-se a diferença abissal da sociedade capitalista da classe capitalista e da classe proletária e a sociedade dos empregados com um outro quadro de classes sociais (Drucker: 39, 65-66). Vejam como a distinção entre trabalho manual e intelectual se diferencia da sociedade pós-capitalista pela inclusão dos trabalhadores do conhecimento; o empregado torna-se trabalhador do conhecimento que detém o capital cultural (Bourdieu. 1996: 35-36) até na manufatura pós-capitalista. 

Sobre Máquina produtiva e improdutiva (Drucker: 40); máquina e produtividade, a máquina não é mais capital constante, fixo; A organização internacional do trabalho da sociedade pós-capitalista mundial não é mais dividido entre capital constante e capital variável, capital e trabalho. É dividida entre empregados (trabalhador do conhecimento ou classe simbólica) e empregados como classe “pós-capitalista mundial” no lugar do capitalista. Agora se trata de uma divisão internacional do empregado no lugar da divisão internacional do trabalho.

O trabalhador do conhecimento é o trabalhador simbólico que detém o capital simbólico, capital cultural? Ele detém o Poder simbólico (Bourdieu. 1989: 7-16). Ele tem que ser parte de uma organização simbólica ou cultural? A política se transformou em uma organização simbólica ou cultural? Ou em uma organização cultural ou simbólica bonapartista neoamericana tout court?

EMPREGADOS E ASSALARIADOS. Empregado sans phrases ou trabalhador do conhecimento é ter acesso a uma organização que não se define pelo assalariamento (Drucker: 39).

No lugar do capitalista sans phrases, O empregado capitalista não é uma personificação do capital, ele é o empregado-gerente do pós-capitalismo dos fundos de pensão etc. (Drucker: 42). Ele é empregado capitalista de uma organização pós-capitalista e se comporta conforme a cultura da aparência da semblância do agir capitalista.  A criação do lucro continua sendo o significante-mestre de sua vida econômica?

P. Drucker diz que na economia capitalista sem capitalistas (relação da grande corporação capitalista mundial fazendo pendant com os Fundos de Pensão, principalmente públicos): “não existe um ‘lucro’. Existem apenas custos: custos do passado (que o contador registra) e custos de um futuro incerto. E no retorno financeiro mínimo das operações do passado adequado aos custos do futuro é o custo do capital. A propósito, por este critério de medição, apenas umas poucas empresas americanas conseguiram cobrir seus custos nos últimos trinta anos”. (Drucker: 53).

O capitalismo da corporação mundial dos gerentes fazendo pendant com o capitalismo sem capitalistas dos Fundos de Pensão fazem o significante capitalista ser constrito à esfera econômica da manufatura industrial que tende a se redefinir como organização econômica pós-capitalista? (Drucker: 47).           

O capital serve ao agir do empregado capitalista; o empregado capitalista não é a personificação do capital; ele é o gerente criativo do capital sans phrases e do capital simbólico ou cultural; o capital em geral serve ao gerente, ao empregado capitalista (Drucker: 42). Entramos em uma sociedade de conhecimento na qual o proletário é foracluído como significante elementar gramatical da cultura da política da economia mundial. O proletário passa a povoar o espaço fático da cultura mundial em tela.
De vez em quando, ele é a explosão fática econômica da luta na fábrica e na rua de alguma cidade gramatical, que caiu no esquecimento.          
          
       

                                                                  DO BONAPARTISMO NEO-AMERICANO HOJE
Três livros se estabelecem por sobredeterminação freudiana do passado como os evangelhos do século XXI. O De Paul Virilio, Vitesse e politique forneceu o significante gramatical técnico do século XXI: KRIMINOSTAT (Virilio. 1977: 55). No entanto, a gramática da sociedade do kriminostat encontra-se no Vigiar e Punir, de Michel Foucault (1975). Trata-se do fenômeno das ilegalidades dos dominantes (Foucault: 267, 269) nas quais a prisão faz pendant com a sociedade de polícia e a dominância do discurso do político do policial na cultura de massas penetrando na cultura em geral nos EUA, na Europa e nos grandes países da América Latina. (Bandeira da Silveira: 139, 137).

Em meu livro Revolução Política (2001) remeto o leitor para o fenômeno do bonapartismo neoamericano que hoje sei que é a junção das ilegalidades dos dominantes e dos dominados na sociedade de polícia e seu Estado pós-capitalista (Idem: 124, 130-140). Trata-se do Criminostat como laço social do lumpenrrepublicanismo da sociedade de polícia, da sociedade do discurso do policial como articulação da hegemonia da cidade gramatical lumpenrrepublicana. (Idem: 126).

Meu livro Revolução política diz que havia dois caminhos para o século XXI latino-americano: O bonapartismo neoamericano (sob controle da democracia da América) e sem recursos suficientes e necessários para controlá-lo:  institucionais e de cultura política público/privado na América-Latina. Estamos em 2001, e o Revolução Política acaba assim:
“No Brasil, há uma saída para modificar a instalação desta anatomia política (gramática em narração cultural política da sociedade foucaultiana gramatical ou ilegalidades dominantes e dos dominados = kriminostat). Este é o único país das Américas que a esquerda existe efetivamente como alternativa ao dispositivo de poder policial. Todavia, só quando a esquerda reconhecer a centralidade das ilegalidades dominantes como causa da conjuntura política, ela tornar-se-á o discurso do Outro que articulará, como revolução política, os inúmeros pontos, em desenvolvimento, de resistência. A esquerda brasileira é uma vontade de revolução política? (Bandeira da Silveira: 140).

Hoje sabemos o caminho bolivariano que a esquerda tomou fazendo corpo mole frente à (e até participando) da sociedade gramatical foucaultiana das ilegalidades generalizadas na sociedade dos significantes de polícia. Agora, Inês é morta?

O efeito do caminho bonapartista neoamericano sobre o Brasil é a CRISE DA NOSSA DEMOCRACIA 1988. Hoje, o país necessita de um governo de salvação da cidade gramatical democrática espalhada em todo o continente nacional. Este é o ponto de partida para o imbróglio político no qual o país está mergulhado.   

Sobre a natureza do kriminostat, o Mille Plateaux o define como anarco-capitalista: “L’Etat totalitaire n’est pas un maximum d’Etat, mais bien plutôt, suivant la formule de Virilio, l’Etat minimum de l’anarcho-capitalisme”. (Deleuze: 578). Tal Estado minimum criminostat é o Estado da sociedade de polícia do bonapartismo neoamericano. São fenômenos de composição genealógica da paisagem da sociedade pós-capitalista.

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