José Paulo
Como sair de uma crise política
sem fim? Usando a teoria do virtual parisiense?
O político, o jornalista e o
cientista político contemporâneo interpretam o sentido da política como mundo
das coisas. Nessa interpretação, as pessoas são reduzidas à coisa como
representação de interesse, paixões, sentimentos de si, do outro e do Outro (as
massas eleitorais). Trata-se de uma visão da política fática como mundo privado
da coisa. Fazendo uma torção cultural no joelho gramatical de sentido do termo
“cultura” em direção ao empírico, pode-se falar de uma cultura política fática
como cultura descritiva do mundo privado das coisas da política: cultura
política descritiva!
Ao contrário da cultura fática,
que se define por articular o real da realidade dos fatos, a cultura política
gramatical caminha para o espaço habitado no virtual, articulado e transformado
permanentemente, simultaneamente, pela gramática, transdialética e retórica.
Ela unifica a ideia do homem grego retórico como aquele que esclarece os
fenômenos políticos ao dizê-los na Ágora? (Cassin: 223). Para as ciências
gramaticais da política, algo é esclarecido ao ser dito na forma da escrita do
inconsciente gramatical do discurso do político em contraposição à lalangue: La
langage est ce qu’on essaye de savoir concernant la fonction de lalangue”. (Lacan.
S. 20: 126).
O inconsciente gramatical tem no sujeito
gramatical o tentar saber de si concernente ao espaço articulado por gramática,
transdialética e retórica do discurso do político em uma cultura política
concretamente gramatical.
Para os sujeitos gramaticais em
tela, o fato (=coisa) é algo de onde se pode extrair na narrativa descritiva o
sentido dele. O fato é, em si, sem significação, como deve ser a coisa. Então,
em cada cabeça uma sentença, um sentido para o fato. Esta operação é a
atividade de imaginarização descritiva da coisa como verdade. Mil cabeças, mil
verdades sobre o fato-coisa. No Brasil, o espaço do imaginário (e da
imaginarização da realidade dos fatos pelas massas ingramaticalizáveis) comanda
o agir da interpretação em geral do mundo das coisas políticas. Não há EXPLICAÇÃO do mundo dos fatos na interpretação da imaginarização.
A própria cultura
eletrônica-virtual possui um discurso de interpretação do mundo da coisa
política que contamina e anula a ciência política virtual e o possível saber
virtual da política pelo político. Então, não se trata de cultura política porque
cultura é um artefato gramatical, artefato da gramaticalização virtual do mundo
da coisa política: cultura política gramatical (CPG). A cultura política fática
seria o avesso do direito (CPG).
A interpretação gramatical é
invenção de sentido em uma cultura virtual da política. Trata-se da cultura
política escrita, da escrita como gramática da fala que desvincula o sentido da
coisa, do aqui e agora, do corpo vivo do político e de sua visão particular da
política, da relação e situação particulares, seja ela individual, familial, de
clã ou tribo. A ideia do partido político é que ele é um artefato da cultura
política gramatical. Só é partido político se for o partido da gramaticalização
virtual da política do mundo do fato político. Ao contrário, a fala do político
é um artefato da cultura política da fala, ou seja, cultura política fática.
O fonema é o não-significante
gramatical da língua. Na gramática da sociedade, há fonemas: sentimento,
paixão, átomos de relacionamentos de gestos, partes da alma, sujeitos, pessoas,
como assiná-la Pierre Levy. São tijolos de base para os comportamentos, os
relacionamentos e os vínculos sociais. Esses fonemas sociais fazem pendant com
elementos invariáveis gramaticais (virtuais) da língua da política [escrita], encarnada
no discurso do político gramatical) como: Salvação, cólera, ofensa, promessa ou
homenagem, percebidos em uma variedade grande de circunstâncias. Assim, a
sociedade se estabelece como cidade gramatical e deve se tornar cada vez mais
complexa para dar conta da progressão demográfica geométrica no planeta e,
enfim, dos fenômenos complexos: partido político, instituição, sociedade civil,
Estado moderno, cultura política gramatical etc.
II
A cultura política gramatical é o
mundo do hipertexto tendo o sujeito gramatical envolvido pelo campo dos afetos.
As instituições e as tecnologias intelectuais fazem pendant como o sujeito
gramatical mergulhado no campo de afetos como fonte axiológica do agir como efeito
do inconsciente gramatical-retórico-transdialético do discurso do político em
um contexto específico.
Tecnologias como escrita,
alfabeto, impressão, mídia audiovisual e digitalis definem diferentes épocas
axiológicas e diferentes modos de sentir, refletir, pensar, produzir ideias; e
modos de consumir tais fenômenos supracitados. Tais modos de consumo são a
reflexão, simbolização, sublimação, subjetivação e metabolização por um
trans-sujeito (ou transpsíquico) como família, clã, tribo, comunidade, polis e
sociedade, ciberespaço.
A crise política é a crise do
hipertexto no domínio do político (e da política) como campo dos afetos das
massas simbólicas ou gramaticalizáveis axiologicamente (campo dos valores metabolizáveis
no território do trans-sujeito gramatical (atualização da cultura virtual) ou
desterritorializados ou territorializáveis). Os valores são ligados e religados
como afetos associados à energia narcísica e à economia gramatical do sujeito da
política e do espaço político.
O agir do sujeito gramatical é
exemplar para as massas gramaticalizáveis axiologicamente em junção como os afetos
do campo dos afetos de uma conjuntura de uma época de uma cultura política
gramatical historial. Um valor afetivo pode ser negativo ou positivo. A
corrupção é um afeto negativo, na modernidade avançada, pois, ela possui uma
configuração axiológica baseada no afeto ou emoção agir reto, ser
sentimentalmente, emocionalmente honesto na economia capitalista e na política
nacional. A classe política do neoamericanismo é um sujeito gramatical (uma máquina de guerra do bonapartismo do americanismo) que
espalha a axiologia da corrupção como valor universal. Trata-se de um retorno a
era do patrimonialismo da aurora do mundo moderno?
No início da era moderna, os
grandes Estados monárquicos patrimonialista não conheciam sentimentalmente a
fronteira da riqueza de um país como privada e pública. Esta fronteira é a base
afetiva de uma cultura política gramatical que faz da esfera pública o lugar da
honestidade do funcionário da burocracia estatal. Tal axiologia será adotada
depois pelo capitalismo na medida em que empresa e aparelho estatal se definem
como burocracia moderna. A burocracia moderna é uma instituição e um artefato
da cultura política gramatical da junção do público e privado como espaços de
uma axiologia da reta conduta do agir burocrático.
Weber considerou que a separação
do campo dos afetos do agir burocrático moderna define um sujeito gramatical
reto em sua conduta. Para Weber, o campo de afetos é o reino da corrupção do
sentimento, da lógica racional e do agir político. Se a burocracia é o sujeito
como um cálculo, ou sujeito próximo da equação matemática, ele deixa de ser um
sujeito gramatical ao tornar-se um sujeito puramente lógico. Esta é uma fração
do pensamento weberiano contradita pela ideia de um sujeito gramatical em
narrativa lógica (racional ou/e irracional) ao longo da história universal weberiana
(Weber: 1703).
A profecia racional do futuro do
século XXI como um mundo Egípcio antigo gramaticalizado como moderno (Weber: 1704)
já contém a ideia do sujeito gramatical mergulhado na lógica do campo dos
afetos ultrarracionalizados, concebendo aí a corrupção como um valor afetivo negativo
da produção do nosso contemporâneo. Todavia, o apagamento da fronteira
público/privado (Weber: 1073-1074) joga no lixo da história universal a
axiologia da modernidade do século XIX: capitalismo industrial e Estado
capitalista nacional cum política representativa moderna do burguês industrial
burocrático.
Como manter a escala de valores da modernidade ligadas ao campo de
afetos das massas simbólicas sem a fronteira público/privado?
A junção do público como privado
fez da modernidade axiológica a aparência da semblância da produção do
contemporâneo que é uma linha de força gramatical que usa a modernidade dos
valores da vida reta como retórica do sujeito gramatical do inconsciente do discurso
do político da sociedade pós-capitalista. A retórica da sociedade
pós-capitalista é uma máquina de luta espiritual, cultural, simbólica contra o
domínio integral do século XXI pela sociedade lumpesinal das ilegalidades dos
de cima e dos de baixo - sociedade pós-capitalista do Kriminostat.
CASSIN, Barbara. Ensaios
sofísticos. SP: Siciliano, 1990
LACAN, Jacques. Le Seminaire.
Livre XX. Encore. Paris: Seuil, 1975
LÉVY, Pierre. O que é o virtual?
SP: Editora 34, 1996
WEBER, Max. Economía y Sociedad.
México: Fondo de Cultura Económica, 1984
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