sexta-feira, 30 de novembro de 2018

SUBLEVAÇÃO DA HISTÓRIA ECONÔMICA CAPITALISTA. Parte 1


José Paulo.





A desconstrução do significante realidade teve como alvo a ideia de objetividade em Marx. A realidade em Marx diz:” o concreto é o concreto porque é a síntese de muitas determinações, isto é, unidade do diverso”. (Marx. 1974a: 122). ). Determinação implica o conceito de causalidade, desmoralizado pelo avanço da física quântica?

A realidade na física quântica se define como a realidade que não existe até que possa ser medida; a realidade só existe se um observador está olhando para ela, medindo-a. O experimento do Gato de Schr6odinger é um caminho para se entender o que é a realidade. O axioma fundamental da teoria quântica é: nenhum fenômeno elementar é um fenômeno até ter sido observado em um processo de observação. (Gribbin: 146).    

A economia é um fenômeno elementar para a existência humana; ela é um artefato (Lacan) como recurso evolutivo do homem que se estabiliza como história econômica do capitalismo moderno; o problema da realidade objetiva em Marx remete para a economia política moderna; a estrutura e funcionamento do capitalismo moderno tem o mesmo valor científico da realidade da física quântica.;  a realidade para Marx é aquela da física clássica. (Marx. Capital).  

Marx fala de uma realidade que pode ser objetivamente (a economia medida matematicamente) medida e fala de algo que não pode ser medido - a luta:
“na consideração de tais transformações é necessário distinguir sempre entre a transformação material das condições econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa verificação da ciência natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito e o conduzem até o fim”. (Marx. 1974ª: 136).

A luta se passa no terreno ideológico. Não há como medir a luta. Ela não é um fenômeno elementar como a economia da produção; mas é prudente não perder de vista o conteúdo econômico da luta. A luta das massas faz a história? (Althusser). Qual a relação da luta das massas com a história econômica? Falamos da história da transformação material das condições econômicas de produção.

Baudrillard usa o método da desconstrução heideggeriano para nulificar Marx. No entanto, ele não desconstrói a gramática de Marx. Ele nunca suspeitou que há uma gramática da crítica da economia política. Aliás, ele parte da deslegitimação da produção econômica como gramático da realidade. Por quê? Em Heidegger o acontecimento fundamental qual é? Qual é o acontecimento fundamental em Baudrillard?

O acontecimento fundamental em Heidegger é o fim da metafísica ocidental. Trata-se do afundar da Europa. (Faye: 126) Em Baudrillard o acontecimento fundamental  é o afundar da América?
Primeiro Baudrillard diz que a realidade não é mais regulada pelo paradigma da produção; a sedução entra no lugar da produção. De onde vem a sedução?  Eis o segredo da desconstrução/construção baudrillardiarna.  

O CAPITAL FICTÍCIO NO COMANDO ADA ECONOMIA, CULTURA E POLÍTICA E MASSA MEDIA É A FONTE DE ENERGIA NARCÍSICA DA SEDUÇÃO.

Weber diz que fenômenos na cultura e ideologia vem antes do modo de produção especificamente capitalista e se integram a este como elementos gramaticais do gramático capitalista moderno. (Weber. V. 2).

Em Baudrillard, a soberania da sedução na realidade é simplesmente a sedução do capital fictício que domina o Ocidente, e se traduz como o afundar da hegemonia do Ocidente em relação ao Oriente. Trata-se de uma profecia do futuro (Weber).

Sobre o paradigma  da produção:
“É a história atual do feminino, no interior de uma cultura que produz tudo, que faz tudo falar, tudo gozar, tudo discorrer”, (Baudrillard: 26).

A mulher no centro da cultura encontra-se associada a produção. A desconstrução da produção segue sem tocar no problema da gramática da produção material da economia:
“Do discurso do trabalho ao discurso do sexo, do discurso da força produtiva ao discurso da pulsão corre o mesmo ultimato de pro-dução, no sentido literal do termo. A acepção original, com efeito, é não a fabricação mas a de tornar visível, de fazer aparecer e comparecer. O sexo é produzido como se produz um documento ou como se diz de um ator que ele se produz m cena”. (Baudrillard. 1991: 43).

De propósito, Baudrillard omite a história econômica capitalista em sua desconstrução da produção. Assim, ele pode dizer algo sobre a produção associada à sedução:
“Produzir é materializar à força o que é de uma outra ordem, da ordem do segredo e da sedução. A sedução é sempre em todo o lugar o que se opõe à sedução. A sedução retira alguma coisa da ordem do visível; a produção erige tudo em evidência, trata-se de um objeto, de um algarismo ou de um conceito”. (Baudrillard. 1991: 43).

A gramática da produção é aquela do modo de produção industrial capitalista no comando da economia, política e cultura, isto é, no comando da história como agir narrativo, como linguagem econômica entrelaçada com ações econômicas. (Faye: 121). O imperialismo é uma alteração radical na história econômica, como nos diz Lenin no O Imperialismo, etapa superior do capitalismo”. No imperialismo, a gramática da produção industrial se desfaz com a fusão do privado com o público no capitalismo monopolista de Estado (Lenin). Na sociedade de classes, a oligarquia financeira passa a deter a hegemonia no capitalismo monopolista de Estado e depois no capitalismo monopolista internacional. Assim, o capital industrial se perde como força de direito como força gramatical de articulação da realidade objetiva.

A hegemonia do capital fictício não afunda o Ocidente? A hegemonia do Ocidente sobre o Oriente (Ásia) se desfaz, paulatinamente. A China aposta em um modo de produção industrial com autonomia relativa em relação à dominação do capital fictício ocidental. Nesta nova conjuntura da história econômica da produção capitalista, o pensamento pós-moderno de Baudrillard afunda junto com a Europa:
“Que tudo seja produzido, que tudo se leia, que tudo advenha ao real, ao visível e ao algarismo da eficácia, que tudo seja transcrito em relações de força. Em sistemas de conceitos ou em energia computável, que tudo seja dito, acumulado, arrolado, recenseado; assim é o sexo no pornô, mas esse é geralmente o empreendimento de toda a nossa cultura, cuja obscenidade é a condição; cultura do mostrador, da demonstração, da monstruosidade produtiva”. (Baudrillard. 1991: 44).
Baudrillard nos apresenta a soberania da narrativa sexual do americanismo como ersatz da metafísica ocidental. Predomina o princípio gramatical da pornografia generalizada no domínio da cultura e dos mass media. Trata-se da soberania do obsceno como estratégia fatal para o Ocidente do transpolítico. (Baudrillard. 1983:29).  A sociedade de comunicação com os mass media no comando da cultura e no mundo-da-via, eis a estratégia do domínio transpolítico do Banco no globalismo neoliberal. Vive-se a era do texto entretenimento comunicacional.  

A gramática do texto comunicacional está associada à história do Ocidente da modernidade tardia; o fenômeno R.S.I individualismo é uma poderosa farmácia de sonhos, utopias, estilo de vida, realização da satisfação dos desejos, estado de sublimação como vontade de viver livremente, razão prática freudiana e uma unidade especial entre teoria/prática da secularização.

Wolton diz assim:
“dans cette perspective, l’originalité du modèle occidental, à travers ses racines judéo-chrétiennes puis l’émergence des valeurs modernes de l’individu libre, est d’avoir mis nettement en avant l’idéal d’émancipation individuelle et collectivew. Communiquer implique d’une part l’adhésion aux valeurs fondamentales de la liberté et de l’égalité des individus, d’autre part la recherche d’une ordre politique démocratique. Ces deux signifcations ont pour conséquence de valoriser le concept de communication dans sa dimension la plus normative, celle qui renvoie à l’idéal d’échanges, de compréhension et des partages mutuels”. (Wolton: 15).

Pense leitor a estratégia da comunicação moderna (conjunto de técnicas da comunicação à distancia) servindo docilmente á dominação e hegemonia do Banco. A estratégia da comunicação é um ponto de inflexão na história econômica capitalista moderna.

A estratégia não é ocultar o domínio do Banco; não se trata de uma estratégia ideológica. Entreter, criar jogos de distração, seduzir pelo jogo, ir além do sexual. (Baudrillard.  1991: 15). Jogos de sedução tendo como alvo a morte da produção econômica como princípio da realidade:
“a lei da sedução é primeiro a de uma troca ritual ininterrupta, de um lance maior onde os jogos nunca são feitos, de quem seduz e de quem é seduzido e, em virtude disso, a linha divisória que definiria a vitória de um e a derrota de outro é ilegível – me não há outro limite para esse desafio ao outro de ser ainda mais seduzido ou de amar mais do que eu amo senão a morte”. (Baudrillard. 1991: 29).
  

A desconstrução da produção pela sedução como realidade do mundo nos arremessa, de quatro, para o simulacro de simulação: o real mais real que o próprio real da produção. O simulacro de simulação é a cibernética no comando da economia, cultura, política, mass media:
“- simulacros de simulação, baseados na informação, no modelo, no jogo cibernético, - operacionalidade total, hiper-realidade, objetivo de controle total”. (Baudrillard.1981:177).

A conjuntura da hiper-realidade é aquela do domínio do globalismo neoliberal na história da economia mundial. Trata-se da estratégia ocidental que significa o afundar do domínio econômico do Ocidente sobre a Ásia - uma certo Oriente; afundar do domínio econômico  do cyberBanco e, portanto, da cyberoligarquia financeira ocidental.

Mais uma vez, a história econômica da produção capitalista aponta um outro caminho.  Nela, a linguagem cyber se entrelaça com ações na produção em uma história econômica na qual Donald Trump se torna o herói incompreendido do Ocidente. Trump luta contra a hegemonia Oriental na história econômica mundial Ocidente versus Oriente. Então, é considerado um louco Shakespeariano de um filme de Kurosawa. Trump dissolve no ar a estratégia globalização econômica a qual o PCC usou para a instalação de um modo de produção industrial capitalista com uma gramática distinta do capitalismo moderno industrial.

As aventuras da realidade retornam à física quântica, pois, pois. A perda da soberania da produção econômica na configuração R.S.I (Real/Simbólico/Imaginário) da história econômica capitalista, eis algo que faz afundar a Europa. Ao contrário, a América reage contra o seu afundamento e põe Trump no comando da história econômica do americanismo. Os resultados do trumpismo parecem articular uma realidade econômica catastrófica? Trump instala uma guerra comercial com a China que pode levar à pólemos? Apressadamente, os mass media da periferia do americanismo se deixam seduzir pelo discurso da guerra (Glucksmann; 1974), discurso sedutor fácil da pólemos. Estes massa media funcionam pela estratégia de fazer sofrer a audiência em uma relação sadomasoquista.                   





terça-feira, 27 de novembro de 2018

IDEOLOGIA: FREUD, LACAN, MARX



José Paulo


A psicanálise em gramática marxista mergulha no objeto ideologia em uma profundidade que precisa de cilindro de respiração.  Trata-se de estabelecer laço gramatical entre a ideologia  e o “supereu cultural” em Freud. (Freud. V. XXI: 166). Qualquer pessoa interessada no domínio ideológico desconfia que existem vários caminhos para a exploração dessa mina de cobre na Europa.

O supereu cultural é o supereu de uma época de civilização. A ideologia está associada à uma época civilizacional como a ideologia cristã (ideologia tradicional) e a ideologia moderna. A ideologia cristã serve ao mandamento “amar ao próximo, seu inimigo” (Freud. V. XXI: 167); o supereu funciona a partir de mandamentos que ele envia às massas gramaticais.; massas gramaticalizadas como cristã ou moderna.

Amar seu inimigo significa a renúncia à realização do instinto de morte; significa a renúncia ao “narcisismo das pequenas diferenças” por onde a agressividade realizada (violência simbólica contra o outro) define povos (classes sociais, formações políticas, formações ideológicas) em relação a outros povos etc. (Freud. V. XXI: 136).

O amar ao inimigo como a ti mesmo de São Paulo funda a ideologia cristã. Freud diz que a ideologia cristã funciona pelo mecanismo credo quia absurdum (creio porque é absurdo) :
“Acho que agora posso ouvir uma voz solene me repreendendo: ‘É precisamente porque teu próximo não é digno de amor, mas, pelo contrário, é teu inimigo, que deves amá-lo como a ti mesmo’. Compreendo então que se trata de um caso semelhante ao do Credo quia absurdum”. (Freud. V. XXI: 132).
Freud diz:
“O supereu de uma época de civilização tem origem semelhante ao supereu de um indivíduo. Ele se baseia na impressão deixada atrás de si pelas personalidades dos grandes líderes – homens de esmagadora força de espírito ou homens em quem um dos impulsos humanos encontrou a sua expressão mais forte e mais pura e, portanto, quase sempre, mais unilateral”. (Freud. V. XXI: 166).

Como o Cristo-homem é um mito cristão, a narrativa do Evangelho é o fato real da ideologia cristã; artefato ideológico. Na narrativa, Jesus Cristo é apresentado como o grande homem, ou melhor, como líder carismático místico, homem deificado.

A narrativa do Evangelho é aquela de um fato que realmente aconteceu; não se trata da ideia verdadeira como aquela que nos mostra a coisa como ela é em si. (Faye: 85). Ela é a narrativa ideológica do ora penso o eu sou, e não ora eu penso o eu duvido. (Faye: 93). Trocando em miúdos, na narrativa ideológica, o “pensar” não duvida da existência do sujeito gramaticalizado como eu sou amigo dos amigos e “penso” o inimigo nas pequenas diferenças narcísicas estabelecidas pelo supereu cultural de uma época civilizatória.

Falando mais exatamente, se se duvida que há um inimigo, então se pensa; se eu me engano, eu sou um sujeito ideológico.  Pensar implica duvidar se há um inimigo. O eu sou do texto ideológico é o autoengano existencial da certeza de que há um inimigo. Todo o pensamento moderno representativo diz que não há inimigo, e sim concorrente, competidor ou adversário. Por isso, Lacan vai buscar a ideologia moderna no supereu cultural que produz a massa social (como um fenômeno da pólemos na sociedade por outros meios) como corpo despedaçado molecularmente. No domínio ideológico, o eu (sujeito) não duvida do supereu!

São Paulo não duvida que romanos e judeus são inimigos. (Bíblia: 2136).         

Lacan pensou a ideologia moderna de um modo brilhante, maravilhoso e terrível, pois a pensou através da relação dos indivíduos com a pólemos. (Lacan. 1988: 125; Derrida.1994:110-111):
“Nenhuma forma de supereu, portanto, é passível de ser inferida do indivíduo para uma dada sociedade. E o único supereu coletivo que se pode conceber exigiria uma desagregação molecular integral da sociedade. É verdade que o entusiasmo em que vimos toda uma juventude sacrificar-se por ideais de nada faz-nos entrever sua realização possível no horizonte de fenômenos sociais de massa que assim suporiam uma escala universal”. (Lacan. 1988:138-139).

O relato político não é uma ideologia com a transformação: relatório narrativo em dúvida. (Faye: 92). O eleitor pode duvidar da narrativa ideológica, dos espectros ideológicos que pilotam o supereu cultural.

A gramática da ideologia cristã se define pela renúncia à realização geral do instinto de morte?
O supereu cristão é a fonte da ideologia cristã:
“Quando, outrora, o Apóstolo Paulo postulou o amor universal entre os homens como fundamento de sua comunidade cristã, uma extrema intolerância por parte da cristandade para com os que permaneceram fora dela tornou-se uma consequência inevitável (...) Tampouco constitui uma possibilidade inexequível que o sonho de um domínio mundial germânico exigisse o antissemitismo como seu complemento”. (Freud. V. XXI: 136-137).

A gramática da ideologia faz do inimigo de sua imaginação seu “suplemento”, algo como o suplemento da fala. (Derrida. 1973: 177).  

Na “Epístola aos Romanos”, Paulo diz:
Amor para com todos os homens, mesmo para com os inimigos. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.  (Bíblia: 2140; 2141). A propósito, o amor pelos fracos faz pendant com o amor pelo poder político romano:
“Todo homem se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus (...) É também por isso que pagais impostos, pois os que governam são servidores de Deus, que se desincumbem com zelo do seu ofício”. (Bíblia: 2141).  

A estratégia de Paulo é fabricar uma narrativa para neutralizar a intolerância cristã em relação ao o poder político secular, ou seja, ao Estado romano, evitando assim o choque do Império com a cristandade:
“Para os romanos, que não fundaram no amor sua visa comunal como Estado, a intolerância religiosa era algo estranho, embora, entre eles, a religião fosse do interesse do Estado e este se achasse impregnada dela”. (Freud. V. XXI: 137). 

A narrativa ideológica cristã é o modelo de narrativa religiosa em uma época na qual o Estado secular domina a política. Frente ao processo  de secularização, o Estado  cristão fundado na comunidade do amor é uma impossibilidade lógica gramatical do século XXI.       
                                                                       
Julgar na narrativa ideológica é uma rua de mão única. Só Deus julga; Deus é a própria narrativa em ação na parúsia:
“Assim, cada um de nós prestará contas a Deus de si próprio.
Deixemos, portanto, de nos julgar uns aos outros”. (Bíblia: 2142).

                                                                            II
   
A gramática da ideologia clássica tem como mecanismo gramatical um sujeito (fora do espaço ideológico) como o inimigo a ser punido.

A gramática da ideologia da modernidade exige a desintegração da pessoa na massa. Trata-se de um novo momento na história universal. Na pólemos, a pessoa vive o estado de liberdade freudiano absoluto de realização do instinto de morte: desejo de matar. (Freud. V. XXI: 116). A ideologia da civilização significa a renuncia ao estado de liberdade freudiano. (Feud. V. XXI: 116).
A propósito, a vida civilizada europeia associa ideologia e sublimação:
“a sublimação do instinto constitui um aspecto particularmente evidente do desenvolvimento cultural; é ela que torna possível às atividades psíquicas superiores, científicas, artísticas ou ideológicas, o desempenho de um papel importante na vida civilizada”. (Freud. V. XXI; 118).  

                                                                         A IDEOLOGIA ALEMÃ

Althusser fez uma teoria da ideologia. A ideologia é ligada ao Estado; ela aparece como um artefato dos parelhos ideológicos de Estado. O Estado é dominação (aparelho repressivo de Estado) e articulação da hegemonia (aparelhos ideológicos de Estado):
“Ao que sabemos, nenhuma classe pode, de forma duradoura, deter o poder de Estado, sem exercer ao mesmo tempo sua hegemonia sobre e nos Aparelhos ideológicos de Estado”. (Althusser. 1983: 71).
Aparelho ideológico é: Igrejas, escola, família, aparelho jurídico, sistema político e partidos políticos, sindicato, imprensa e mass media (rádio, televisão), aparelho cultural (Letras, Belas Artes, esportes).
Segundo Althusser, a ideologia em Marx é um sistema de ideias, de representações que domina o espírito de um homem ou de um grupo social. Ele não fala como Lacan da ideologia moderna que produz as massas despedaçadas molecularmente.

No Marx do livro “A ideologia alemã”, a ideologia não tem história. A ideologia é concebida como pura ilusão, puro sonho ou seja, nada. Toda a sua realidade está fora dela. A ideologia é uma construção imaginária cujo estatuto é o mesmo estatuto teórico do sonho anterior a Freud. O estatuto em tela é o da filosofia e da ideologia (uma vez que a filosofia é a ideologia por excelência):
“A ideologia é então para Marx um bricolagem imaginário, puro sonho, vazio e vão, constituído pelos ‘resíduos diurnos’ da única realidade plena e positiva, a da história concreta dos indivíduos concretos, materiais, produzindo materialmente sua existência”. (Althusser. 1983:83).

Althusser diz que as ideologias têm história; a ideologia em geral como estrutural não tem história. A estrutura da ideologia em geral se define como uma “representação” da relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência. A ideologia representa a relação imaginária dos indivíduos com as suas condições reais de existência.
Não são as suas condições reais de existência, seu mundo real que os “homens” “se representam” na ideologia, e sim a sua representação da relação imaginária com as condições reais de existência.

A ideologia de Althusser usa a terminologia lacaniana da configuração R.S.I. (Real/Simbólico/Imaginário). A inscrição do sujeito na ideologia se faz por via lacaniana. Na configuração ideológica temos o Imaginário no comando do R.S.I.

A ideologia não é aquela de um sujeito dotado de consciência e crendo nas ideias que sua consciência lhe inspira, aceitando-as livremente, que deve agir segundo suas ideias, imprimindo nos atos de sua prática material as suas próprias ideias enquanto sujeito livre. Se ele não o faz, algo vai mal. (Althusser. 1983: 90). Esta é a concepção da ideologia da vulgata do texto ideológico que circula na cultura brasileira através do jornalismo e da velha ciência política do texto universitário.

Em Althusser, a ideologia existe em atos inscritos em práticas. Pascal diz: “Ajoelhai-vos, orai e acreditareis”. A ideologia não tem a ver com ideias, e sim com práticas, rituais, aparelho ideológico:
“a ideologia existente em um aparelho ideológico material, que prescreve práticas materiais reguladas por um ritual material, práticas estas que existem nos atos materiais de um sujeito, que age conscientemente segundo a crença”. (Althusser. 1983: 92).

A ideologia tem uma função especial: ela constitui indivíduos concretos em sujeitos. A ideologia é o texto das evidências como evidências que o sujeito não pode deixar de reconhecer: “é evidente”, é exatamente isso! É a verdade! A dúvida é excluída do texto ideológico, como já apontamos. Trata-se do mecanismo do reconhecimento ideológico e do desconhecimento como mecanismo inverso.
Em Althusser, o texto ideológico existe (Evangelho, Testamento), como no caso da ideologia cristã, em suas práticas, rituais, cerimonias, sacramentos. A ideologia cristã diz que existe um Sujeito (Deus) diferente dos sujeitos concretos; os sujeitos existem como sujeitos submetidos ao Sujeito. Trata-se de uma ideologia que é o avesso do pensamento que diz que o sujeito é livre e caminha com as próprias pernas. Na ideologia cristã, o indivíduo é interpelado como sujeito (livre) para livremente submeter-se às ordens do Sujeito, para aceitar, portanto, (livremente) sua submissão, para que ele realize por sim mesmo os gestos e atos de sua submissão. Por isso é que caminham por si mesmos.

Cabe aos aparelhos ideológicos inculcar a ideologia dominante; isto significa que há resistência. (Althusser. 1983: 112). Lenin diz que a política é o domínio das lutas ideológicas do partido em filosofia materialista com o partido em filosofia idealista. (Lenin: 267, 268). 

Qual é o lugar da política na história das ideologias modernas?

A ideologia política moderna é um artefato vital para a constituição da unidade da classe dominante, e, portanto, da sociedade civil cum sociedade política. Os partidos políticos legais servem à ideologia dominante no fenômeno aparelho ideológico de Estado político. Este realiza a ideologia política da classe dominante em seu regime constitucional (as leis fundamentais durante a monarquia do Antigo regime, o Parlamento, o regime representativo parlamentar da burguesia em seus períodos liberais).

O aparelho político de Estado (inclui chefe de Estado, o governo que ele dirige diretamente) não se confunde com a administração (que executa a política do governo). No entanto, o aparelho político de Estado (chefe do estado, governo, administração) é uma parte do aparelho de dominação de Estado.

O que se deve entender por aparelho ideológico de Estado político? O sistema político da representação parlamentar, por exemplo. O AIE da política define-se como um modo de representação (eleitoral) da vontade popular ou soberania popular por meios dos deputados eleitos:
“Mas o que permite, em última instância, falar do sistema político como de um aparelho ideológico de Estado  é a ficção, que corresponde a uma certa realidade , de que as peças desse sistema, assim como seu princípio de funcionamento, apoiam-se na ideologia da liberdade e da igualdade do indivíduo eleitor, na livre escolha dos representantes do povo pelos indivíduos que compõem esse povo, em função da ideia  que cada qual faz da política que deve seguir o Estado. Foi sobre a base dessa ficção (ficção porque a política do estado está determinada, em última instancia, pelos interesses da classe dominante na luta de classes) que se criaram os partidos políticos, aos quais cabe expressar e representar as grandes opções divergentes (ou convergentes) da política nacional. Cada indivíduo pode, então, livremente expressar sua opinião, votando no partido político de sua escolha) se é que este não tenha sido condenado à ilegalidade)”. (Althusser.1983: 116).  

No parágrafo acima o que Althusser designa como ideologia é ersatz de ideologia tout court.   

O partido político pode representar os interesses das classes. Aqui, ele possui uma realidade material que o põe e repõe na política como algo que é não é simplesmente um aparelho ideológico político de Estado. Contudo, o regime representativo liberal tende a fazer da política uma atividade autotélica com autonomia absoluta institucional dos representantes  em relação à sociedade de classes. 

Na teoria da ideologia de Althusser, falta a gramática da ideologia presente em Freud, Lacan e Marx. Na gramática da ideologia alemã, a linguagem ideológica tem como centro de seu funcionamento o espectro, fantasma, fantasia, imaginação dos indivíduos e das massas. O fantasma pode ser aquele do texto utópico do “Manifesto do Partido Comunista” (espectro do futuro ou tempo futuro dos que ainda não nasceram) ou espectros do passado no “A ideologia Alemã” (Derrida. 1993:227-234).  e no “O 18 do Brumário de Luís Bonaparte”: “o passado pesa como um pesadelo no cérebro dos vivos”.  

São  espectros  ideológicos: o ser supremo, o ser ou  a essência, a vaidade do mundo, os seres bons e maus, o ser e seu reino, os seres, o homem-Deus, o homem, o espírito do povo (Volksgeist), o Todo  ou totalidade real, o “Espírito Santo”, a verdade, o direito, a lei, a boa causa. (Marx. 1974: 178-180).

A gramática da ideologia remete para pensamentos “corporificados” -os fantasmas-, objetivados, que dominam o mundo, quando a história tem sido a história da teologia, portanto, uma história de fantasmas. Em Marx, a teologia é o falar de espectros ideológicos:
“Todos los ‘fantasmas’ a que hemos pasado revista eran representaciones. Estas representaciones, prescindiendo  de su fundamento real (del que prescinde también, por los démas, Stirner), concebidas como representaciones dentro de la conciencia, como pensamientos en la cabeza del hoimbre, arrancadas de su objetividad para retrotraerlas al sujeto, elevadas de la susrtancia a la autoconciencia, no son otra cosa que manias o ideas fijas”. (Marx. 1974: 181).     
Relendo Marx com Freud e Lacan, o espectro ideológico pilota como mandamento a narrativa do supereu cultural no campo da psicanálise em gramática marxista.  

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Nota sobre os Aparelhos ideológicos de Estado. RJ: Graal, 1983
BÍBLIA. A Bíblia de Jerusalém. SP: Edições paulinas, Sem data
DERRIDA, Jacques. Gramatologia. SP: Perspectiva, 1973
DERRIDA, Jacques. Spectres de Marx. Paris; Galilée, 1993
DERRIDA, Jacques. Politiques de l’amitié. Paris: Galilée, 1994
FAYE, Jean-Pierre. A razão narrativa. SP: Editora 34, 1990
FREUD. Obras Completas. V. XXI. RJ: Imago,1974
LACAN, Jacques. Escritos. RJ: Jorge Zahar Editor, 1998
Lenin. Materialismo y empiriocriticismo. Barcelona: Grijalbo, 1975
MARX & ENGELS. La ideologia alemana. Barcelona: Grijalbo, 1974
     
  
   


     



   




quinta-feira, 8 de novembro de 2018

GÊNESE VIRTUAL DO PODER NACIONAL


José Paulo


A conjuntura atual começa com o impeachment de Dilma Rousseff.  A teoria política do impeachment foi fabricada na página PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo). A força prática do impeachment foi o Congresso Nacional.

O PCPT é aquela força estética kantiana desinteressada na política. (Kant:49-50). O PSDB é a força prática guiada pelo interesse de tomar o poder. Os juristas que preparam o impeachment serviram: uma causa pessoal (Janaína Pascoal); uma causa política (Miguel Reali); um ideal (Hélio Bicudo).

O PCPT agiu desinteressadamente na construção do significante poder nacional. Explico! Ao assumir o segundo governo, a sra. Dilma plantou no comando da economia uma personalidade da irracional oligarquia financeira internacional. Representado o capital fictício (Marx: 463), o ministro da economia deu uma guinada de 180° graus na política econômica nacional. Ele começou a instalar um programa ultraliberal de destruição do Estado getulista 1988.

O ministro governava em uma luta aberta contra o Estado nacional e a Constituição1988. Ao desenvolver a contradição oligarquia financeira internacional versus Estado nacional 1988, o ministro se tornou um alvo do PCPT. Então, o PCPT iniciou a ciberpolítica de derrubada do governo Dilma Rousseff tecendo a teoria política do impeachment.

Como não se tratava de uma política negativa, o PCPT começo a atualizar a gramática do poder nacional (contida na ideologia nacional da Constituição 1988) - ou o poder nacional como gramático virtual na conjuntura Rousseff.

Michel Temer assumiu a presidência da República depois de uma fase de debates no Congresso. O PCPT gramaticalizava a necessidade de convocar eleição para presidente da República. A defesa irrealista de convocar eleições gerais nacionais por uma facção do parlamento inviabilizou a proposta do PCPT. Tal delírio político abriu a porta para o poder cair no colo de Temer como uma graça divina.

O governo Temer começa com a política “Uma ponte para o futuro” escrita por Moreira Franco e um desconhecido assessor da presidência. Trata-se de uma política governamental voltada para a desnacionalização do poder brasileiro inscrito na Constituição 1988. A desnacionalização do poder foi a ponte para o futuro da economia como capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

A formação de um poder econômico desnacionalizado estabelece: a) o trabalho assalariado em um regime de quase-escravidão (Reforma Trabalhista); b) a destruição do campo de saberes nacional encarnado pela universidade estatal; c) a ideologia do ruralismo como destruição da floresta Amazônica e dos povos indígenas, e como inimiga fatal do trabalhador rural e do pequeno produtor.  

A política de Temer-Moreira Inviabiliza a construção do Estado-cientista como força prática cultural  e científica para a fabricação da gramática do novo modelo industrial que não  se confunde com “economia criativa”. O novo modelo industrial será o habitat da formação de uma nova classe operária sujeito grau zero lulista (bolivariano).

O governo Temer será lembrado como um fenômeno político de desnacionalização da vida brasileira. As privatizações indiscriminadas do sistema de empresas estatais, a entrega da exploração dos poços de petróleo ao capital estrangeiro (em uma era de condenação geral  do regime econômico fóssil) aparece como verdadeiros atos de traição ao poder brasileiro. Observe-se que a ideologia ultraliberal eletrônica da desnacionalização do poder econômico brasileiro é uma obra dos editores-jornalistas da Globo News. A Globo News é o o paradigma dos fenômenos heteróclitos brasileiros, pois, fornece uma mistura bizarra de ideologias: ultraliberalismo e neogetulismo, multiculturalismo e autocratismo cultural, familialismo bissexto e libertarismo freudiano, messianismo ultramontano, e capitalismo neocolonial do  terceiro-mundo. A cooptação en masse e molecular dos intelectuais e artistas de esquerda fazem da emissora uma força estética prática regulada por interesses econômicos ocultos  do grande público.       

Nas eleições 2018, o candidato camuflado em verde-oliva do Exército se aliou com o baixo clero do poder oligárquico financeiro internacional na tomada do poder econômico de Estado. O baixo clero é formado por economistas tupiniquins com doutorado para estrangeiros da Universidade de Chicago. Trata-se de uma força prática intelectual de ocupação da subjetividade cultural do território nacional pelo capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

O leitor pode estar pensando que a facção militar no governo de Bolsonaro é uma força intelectual e política voltada para a construção do poder nacional. A quimera do poder bolsonarista é uma composição compósita e heteróclita de militarismo, ruralismo, cristianismo, ultraliberalismo, lavajatismo (O governo Bolsonaro cooptou o juiz Sérgio Moro, para ser o ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro-gramático da força prática Lavajato) . Com esta mistura bizarra, Bolsonaro e seus filhos (seguidores do filósofo bissexto carioca de estrema-direita Olavo de Carvalho) tomaram o poder de Estado. O Estado getulista 1988 se apresenta como o alvo tático dos ataques da tropa circense messiânica (de Jair Messias Bolsonaro).

O PCPT se volta para a oposição estética desinteressada ao bicho-de-sete cabeças bolsonarista. Sem ligação com uma força prática específica, o PCPT navega no ciberoceano de ideias e utopia capitalista. É óbvio que o PCPT faz a gramática da oposição democrática nacional.  Ele volta suas baterias para a construção virtual do poder nacional em confronto com a via capitalista neocolonial do terceiro-mundo: abismo que assombra a todos, justos e injustos!    

KANT. Crítica da faculdade do juízo. RJ: Forense Universitária, 1993
MARX. O capital. Crítica da economia política. Livro 3. V. 5. SP: Difel, 1985