terça-feira, 26 de maio de 2015

FÍSICA DA HISTÓRIA: INCONSCIENTE POLÍTICO A CÉU ABERTO

Comunidade da Física Freudiana 

JOSÉ PAULO BANDEIRA DA SILVEIRA 
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Comunidade da física freudiana significa um campo de pensamento pacífico para o funcionamento do discurso do físico. O campo freudiano foi o ponto de partida para a fabricação da física freudiana da história. Esta é um contracampo de pensamento na linha de força do pensamento eclético de Cícero, ST* Agostinho, Marx, Weber Freud e Habermas. Trata-se de um contracampo científico transdisciplinar. O discurso do físico trabalha com o contraconceito de episteme política e ele se constitui a partir de uma contraepisteme que sustenta o discurso do físico articulado ao inconsciente político mestiço. A física é um artefato contratotalitário.

PASSADO/PRESENTE
Na eleição presidencial de 1989, no caso de Lula e do PT, tratava-se da emergência da luta de classes na política brasileira com a esquerda operária protagonizando o processo político. O PT era um partido formado por sindicalistas de esquerda, intelectuais marxistas, esquerda marxista e Igreja progressista que, com a eleição municipal em São Paulo, em 1988, sofreu uma virada histórica para uma estratégia que tinha como referência ideológica e teórica o marxista italiano António Gramsci. Neste momento, a hegemonia se tornou a principal categoria política a iluminar as cabeças dos dirigentes petistas. A conquista e manutenção do poder de Estado para a realização de uma revolução popular à brasileira ainda se encontrava no horizonte do pensamento político do Partido dos Trabalhadores. No caso de Collor, a oposição à Sarney visava à construção do Príncipe Eletrônico seja como marketing eleitoral, seja como a possível estrutura de dominação política de seu futuro governo. Biograficamente, Collor emergiria como o semblante do animal político despótico modelado por uma vontade-ato (Frajman: 225). Tal animal despótico apareceu como uma máquina de guerra freudiana especial de um inconsciente político “livre, afirmativo, vagabundo. Um inconsciente louco, alucinado, destemido, imoral, desconhecedor de limites, de leis, de fronteiras de Estados”? (Idem:197).     

OBJETO FREUDIANO/CULTURA INDUSTRIAL ELETRÔNICA
O deslizamento do significante objeto da filosofia para o campo freudiano aparece hoje como parte de um esquecimento da cultura em si “ocidental”. Em Freud, as pulsões parciais tomam por objetos algumas partes do corpo ou matérias desligadas do corpo: o seio, as fezes (matéria fecal) ou o fetiche. Melanie Klein pensou o campo da realidade psíquica infantil povoado por angústia, terror, ódio e idealização no qual o objeto aparece fragmentado como objeto de ódio e de medo. Este estado de loucura infantil não seria um monopólio dos psicóticos, mas um estado de todo ser humano. Lacan introduziu o conceito de objeto a para designar um objeto desejado pelo sujeito e que se furta a ele a ponto de não ser representável, ou de se tornar um “resto” não simbolizável; conceito de mais-de-gozar associado ao real. Ele aparece como de forma fragmentada através de quatro objetos parciais desligados do corpo: seio (objeto de sucção), as fezes (matéria fecal), e a voz e o olhar, objetos do próprio desejo. No entanto prisioneiro da concepção castradora da psicanálise em extensão que é a vontade de pensar o mundo externo a partir do homo clausus, o campo freudiano não teve potência e vontade de potência para trabalhar com o conceito de objeto na cultura política eletrônica: lugar do discurso do Outro. Trata-se do objeto a como estruturador de tal cultura: rádio (voz) e televisão (olhar) como objetos do desejo. Com Klein, a relação de objeto designa as modalidades fantasísticas da relação do sujeito como o mundo externo, tal como se apresentam nas escolhas de objeto que esse sujeito efetua. A relação de objeto põe e repõe a mãe como centro tático do pensamento psicanalítico substituindo o pai freudiano. Klein mostro o caminho das pedras da física freudiana, mas não andou nele!
Na escola anglófona da relação de objeto representada, hoje, por Winnicott, a relação de objeto estendeu-se para a modalidade da inserção do eu na cultura e os distúrbios narcísicos ligados à radicalização do individualismo no mundo ocidental sob o dominus do discurso do mestre capitalista. A sociedade de consumo se tornaria a tempestade perfeita para a aplicação de tal aporte teórico. Trata-se de uma sociedade hipernarcísica onde o narcisismo era mais narcísico do que o próprio narcisismo. Na física freudiana da história, a relação de objeto estrutura o mundo externo na superposição do inconsciente freudiano com o inconsciente político. A cultura industrial eletrônica é um exemplo disso. Para entendermos isso, é preciso esquecer a ideia de que um objeto pressupõe um sujeito, e por consequência é apenas uma representação. E articular a noção de objeto à noção de força ligados a construção dos fenômenos no tempo e no espaço. E no caso da sociedade humana, tal força não tem importância sem a vontade na minha leitura de Schopenhauer: “todo o acto real de nossa vontade, é, ao mesmo tempo, e infalivelmente, um movimento de nosso corpo; nós não podemos querer realmente um acto, sem constatar no mesmo instante, que ele aparece como movimento corporal”: criança sugando o sei; a relação arcana com o grotesco produzido pelo cheiro da merda; a função escópica do hipergozo narcísico; a voz-sugestão de quem balança o berço. O objeto a de Klein-Winnicott não é uma força em um campo de forças que estrutura a cultura política eletrônica? Na relação com a cultura eletrônica visual, o sujeito não está olhando narcisicamente para si?  Não é este seu hipergozo narcísico: um gozo que é mais gozo(zo)  que e o próprio gozo?
Eu tenho tanto pra lhe falar/Mas com palavras não sei dizer/Como é grande o meu amor por você/E não há nada pra comparar/Para poder lhe explicar/Como é grande o meu amor por você/Nem mesmo o céu nem as estrelas/Nem mesmo o mar e o infinito/Nada é maior que o meu amor/Nem mais bonito

EPISTEME ROMÂNTICA: FANTASMA DO PASSADO?
A episteme romântica alemã vai além da estetização da política? Todos os românticos alemães retomaram as ideias de Schiller, exagerando-as; alargarão a vida estética a todos os momentos e todos os indivíduos. O ponto de partida da estética romântica é a superação do sujeito/objeto e da oposição entre razão e sentidos, tal como exposto na filosofia de Kant. No romantismo, o sujeito torna-se o centro da cultura política através da estética como artefato que faz laço social. Na cultura política romântica, a estética aparece como um suplemento da política e da nova moral, como estética da liberdade, do livre jogo na política das energias míticas (narcisismo e pulsão de morte) e do jogo in nuce no mundo-da-vida. No estado estético, o indivíduo não é determinado nem materialmente (pela força da energia mítica condensada em sensibilidade), nem intelectualmente (pelo despotismo da lei, da forma, da razão). No romantismo, a beleza se concilia com o ideal político. O homem estético é a articulação do belo à razão prática, a razão ligada à ação; há exclusões de determinações exteriores, e o belo, mimesis da razão prática, torna-se autônomo. A estética romântica é o inteiramente indeterminado, é a postura alerta de alguém que está pronto para tudo e é também uma crítica utópica de todo ser real. Burgueses liberais e judeus, teimei-a. Então, trata-se de um episteme anarquista? Ao contrário, a episteme romântica sustenta a estética como mediação entre uma sociedade civil bárbara, entregue ao reino dos desejos e apetites privatistas, e o ideal de um estado político bem ordenado: “se o homem pretende algum dia resolver o problema da política, na prática, ele terá que abordá-lo através do problema da estética, pois si através da beleza o homem atingirá a Liberdade”, diz Schiller. A episteme romântica faz da estética um artefato mediador entre a civilização para o povo alemão e a barbárie para os judeus? Isso só depois da máquina de guerra nazista psicótica e terrorista ter desintegrado todos os partidos políticos e instituições que resistiam à cultura política romântica totalitária. Isso é o passado Europeu?
Na década de 1930, Plínio Salgado e Gustavo Barroso (antissemita da ABL que divulgou no Brasil o livro Protocolo dos sábios do Sião) foram os chefes do Integralismo no Brasil. A discussão sobre este fenômeno se encerrou no imbróglio se se tratava de fascismo ou de totalitarismo ideológico. O totalitarismo alemão é um fenômeno articulado ao romantismo alemão. O integralismo de um Plínio Salgado não é articulado a uma concepção totalitária de um romantismo brasileiro histórico da episteme do Engenho. O modernismo nacionalista de Plínio não é uma expressão desse romantismo? Plínio não é um defensor do inconsciente político mestiço do sertão; ele não é um continuador, por meios românticos-modernista, de Euclides da Cunha e de Canudos. Só se pode defender isso pelo credo quia absurdum. A defesa da mestiçagem em Plínio é apenas um meio ideológico para a constituição da cultura totalitária romântica no Brasil através do partido integralista, o primeiro partido nacional de massa, dispondo de em 1935 de 1.123 grupos organizados em 538 municípios e obrigando cerca de 400000 adeptos. Tal partido agiu como uma máquina de guerra psicótica de massas na aliança com Getúlio Vargas no golpe de Estado de 1937, que Vargas desfechou sobre si próprio. Isso é apenas o nosso passado?

MICHEL DE CERTEAU/FREUD
Freud viu o “Futuro de uma ilusão” e o “Mal-estar da civilização” (cultura) como textos supérfluos, obra do lazer, (não se pode fumar e jogar baralho o dia inteiro), passatempo consagrado a assuntos elevados que lhe fazem descobrir verdade mais banais, segundo Certeau. O homem comum é o centro tático destes livros na história comum. Na mais impressionante história mitológica moderna, o homem ordinário é o locutor. Ele é no discurso o ponto de junção entre o sábio e o comum: não se nada sério, sou como todo mundo. Freud jogou fora a posição do mestre da psicanálise (baseada na episteme política da psicologia do indivíduo) para pensar a Europa a partir da Primeira Guerra Mundial. Ele não se deixa mais drogar pelo ópio dos intelectuais que fabricava explicações tranquilizadoras sobre o banho de sangue que tragou milhões de vidas jovens na Europa civilizada. Por que os homens obedecem ao Estado-nacional e se deixam matar e matam seu semelhante (europeus assassinando europeus) no campo de batalha? Mar de sangue, uma Amazônia de corpos despedaçados, multidão de vidas biográficas reduzidas à pó, eis o destino do homem ordinário na Europa na civilização moderna do século XX. Certeau diz que com Freud: “o enfoque da cultura começa quando o homem ordinário se torna o narrador, quando define o lugar (comum) do discurso e o espaço (anônimo) de seu desenvolvimento”. Trata-se obviamente da cultura política da guerra onde o homem comum é o herói e vive segundo a poética da guerra através de uma multiplicidade de “táticas” articuladas sobre os “detalhes” do cotidiano da guerra. A poética da guerra do homem comum produz o ingênuo sublime pessoal (e de massas) como sentimental e humano? O homem ordinário na guerra tem a ingenuidade da criança envolvida pelas forças que condensam a energia mítica pulsão de morte. A guerra de massas moderna é habitada pela poética romântica do homem ordinário que é a arte de fazer o mito da pulsão de morte ocupar o lugar do discurso do Outro. Como Schiller diz, o que importa na poesia não é a forma, mas a maneira de sentir. A poesia romântica do homem comum é ingênua e emana do inconsciente político da guerra de massas. Nela, o sujeito não está separado do objeto. Trata-se da eclipse do sujeito (eu do enunciado) e do transbordamento do eu do inconsciente político da guerra (eu da enunciação poética). Esse poeta é cindido, quebrado; é a guerra, a dissatisfação. A poesia romântica da guerra não aceita que o infinito seja irrepresentável, mesmo sendo o meio de expressão da poesia (palavras) finita; o esforço do poeta (homem ordinário) para dar a impressão do infinito é a própria essência da poesia romântica. No infinito, o homem comum não habita a linguagem do campo de batalha como máquina de guerra freudiana psicótica? A Guerra europeia estabilizou no pensamento freudiana que havia lago além da episteme sexualis da psicologia individual. A máquina de guerra não está fora da explicação da lógica do sexo? A poética romântica da realização da satisfação da pulsão de morte (mito do uso da violência física sem limite) é o artefato que permite a leitura do homem ordinário para além da psicologia individual e, também, concordaria Certeau, dos dispositivos de vigilância foucaultianos. O Homem ordinário não é o herói da episteme da física freudiana?     

JUIZ SERGIO MORO: REPÚBLICA FÁTICA E CARISMA  
Um juiz está próximo de se transformar em significante carismático da política brasileira. Uma parcela da comunidade jurídica se define por um agir carismático no desvendamento jurídico-policial da corrupção envolvendo, principalmente, a Petrobrás. Tal corrupção revela o tipo de ligação de frações do capital do bloco-no-poder, a burocracia do aparelho econômico de Estado e o sistema partidário. As empreiteiras, mas não apenas elas, são artífices de um privatismo do Estado e da política cuja causa é a vontade-ato dos partidos de expropriarem a riqueza pública do país. Não se trata apenas do partido de patronagem de cargo weberiano. No século XXI brasileiro, os partidos no poder inventaram o partido como máquina de guerra política e como partido hiperprivatista ainda sem nome: o privatismo mais privatista que o próprio privatismo. O sentido da prática vem depois da identificação do conteúdo do fenômeno e o nome do significante é algo que cai na dependência da relação do saber político da cultura intelectual com o saber da cultura política das massas.
Mas por que a cultura intelectual brasileira (jornalismo, escritores, poetas, músicos, universitários) não dizem nada sobre o agir carismática da comunidade jurídica, enquanto nas ruas, restaurantes e museus as massas parecem estar próximas da adoração incondicional de Moro. Moro não é, certamente, o juiz Dredd. Sua ação também resiste a ser explicada somente por algum tipo de racionalidade; claro que há racionalidade no agir da comunidade jurídica envolvida no combate à classe política, à casta burocrática corrupta e à classe econômica dominante. A racionalidade da burocracia-carismática é definida por ser uma comunidade política republicana cujo agir deseja a invenção no Brasil do significante República das revoluções americana e francesa. Como no Brasil, tal república é uma ficção (um simulacro de simulação), a comunidade jurídica de fato está combatendo em nome de qual significante republicano? A República brasileira tem origem em um golpe de Estado militar contra a monarquia De Pedro II e Isabel desfechado por dois generais: Deodoro e Floriano Peixoto. Na República civil, o Estado republicano foi a máquina de guerra psicótica e terrorista que desintegrou Canudos e Contestado, através de um banho de sangue do povo que incluiu corpos despedaçados e ossos triturados. Depois Getúlio foi a máquina de guerra biográfica psicótica (e ele era um sujeito neurótico na vida privada) que articulou a cultura política republicana totalitária. A Ditadura Militar foi a continuação desse totalitarismo em uma versão militar. A República Democrática de 1988 não alterou a lógica da cultura totalitária (como já demonstrei inclusive aqui no PCPT) ao se articular como democracia despótica sob o dominus -na política e na cultura política- dos partidos máquinas de guerra. Lenin diz que a prática é o critério da verdade política. Então, a práxis carismática da comunidade jurídica brasileira (condensada na biografia agora carismática do juiz Sérgio Moro) é uma potência capaz de mostrar o caminho das pedras para começar a sair da crise brasileira. O BNS (buraco negro simbólico) que está tragando a crise brasileira, inclusive, está liberando seres míticos (o carisma é parte da dimensão simbólica) na política brasileira?

UNIVERSIDADES/BLOCO POLÍTICO INTELECTUAL FORMAL
“Assim como Paula, centenas de estudantes vem sofrendo os reflexos da restrição orçamentária para a pasta de Educação imposta no início do ano pelo Governo Federal. Nos primeiros dois meses de 2015, o Ministério da Educação (MEC) reduziu em um terço o repasse da verba das universidades federais. Somente a partir de março, os repasses passaram a ser der de 1/12 do orçamento previsto para as instituições, o que dificultou o pagamento de serviços e contas das instituições. No entanto, novos cortes no orçamento estão sendo discutidos nesta semana. A presidente Dilma Rousseff, que se reuniu nesta segunda-feira com ministros e líderes do Governo no Congresso para tratar do tema, tem até sexta-feira para definir os valores do corte de gastos por área. No domingo, em uma reunião preparatória, Dilma teria sido informada pela equipe econômica que o congelamento de gastos não deve ficar abaixo de 70 bilhões de reais para atingir a meta fiscal”.
O governo petista diz que isso não é neoliberalismo, é apenas um ajuste fiscal para o país voltar a crescer. Isso não é um cachimbo neoliberal. Depois volta tudo ao normal, inclusive para as universidades estatais. Professores não acreditam mais no discurso petista e preparam uma greve geral (nacional) que envolverá alunos, pais de alunos e a burocracia da universidade. O Buraco Negro Simbólico que está tragando a crise brasileira vai liberar qual particula-universidade? Agora, a classe média de todas as capitais importantes do país são oposição ao governo petista. O governo joga a classe média no inferno da necessidade econômica. A nova classe média está rumando em direção ao buraco de onde saiu: a pobreza envergonhada. Majoritariamente petista, a classe média intelectual estatizada está provando o veneno neoliberal petista: ajuste fiscal. Trata-se da lógica isso não é um cachimbo? Não é preciso um grande discernimento para ver que a universidade estatal do capitalismo de engenho é finito! Ela é uma reserva cultural do país que está em vias de virar poeira. Trata-se da desintegração de um significante positivo da República brasileira instaurado no século XX: antes a frase ia além do conteúdo; agora o conteúdo vai além da frase. E José Serra e FHC não acreditam na desintegração do significante República caso ele seja, finalmente, tragado pelo BNS! FHC está pensando no enfrentamento com Lula em 2018! Cinismo, autoengano, ou trata-se do sujeito político imbecil definido como tal pelo psicanalista francês estruturalista Jacques Lacan?  
A greve geral é um instrumento de luta política que pode vir a constituir um bloco político intelectual capaz de dirigir o povo no sentido de uma revolução política? A comunidade jurídica é o setor intelectual mais organizado (institucionalmente e intelectualmente) e consistente do país. Sua fração mais avançada (da cultura do liberalismo político) pode ter um papel decisivo nesse bloco político formal que a greve geral pode estabelecer. A crise da universidade e a crise no aparelho jurídico estatal são parte da evolução da CRISE DO ESTADO. O antagonismo crescente entre o governo petista e os intelectuais acaba com o blábláblá da hegemonia petista. Até quando a indústria cultural de massas vai proteger a ordem petista-peemedebista? Ela também é parte do significante intelectual como massa intelectual. Parece que Serra, FHC e Lula estão sendo ABDUZIDOS pelo LADO NEGRO DA FORÇA!     

EPISTEME DA FÍSICA FREUDIANA
A episteme freudiana não é uma visão de mundo filosofante. Ela pode ser observada na teorização da prática discursiva freudiana que responde pelo neologismo “metapsicologia”. A episteme diz respeito ao saber freudiano como suas regras e axiomas da lógica da cadeia dos significantes. O axioma grau zero desta lógica freudiana dos significantes na história é o assassinato do pai primevo ou animal despótico. Toda série de significantes da história natural tem que ter o grau zero. O ano zero após o nascimento de Cristo mostra que a cultura política cristã não se via como uma história artificial. A República francesa começa com o ano I assumindo seu caráter de história artificial. Ao contrário da República americana, ela não oculta ser um significante-mestre como semblante (=fallus). Ela associa o fallus republicano com a lógica do simulacro de simulação. Com efeito, não existe castração do fallus republicano.  Na República francesa, a cultura política republicana não dissimula o simulacro de castração do animal despótico. O homem republicano jamais se define como zoon politicon, ou seja, animal político distinto do animal despótico. O totalitarismo republicano brasileiro é um desvio do tipo ideal de república moderna?
O animal despótico é um significante mítico em muitos sentidos. Ele surge ex nihilo, pois ele não tem mãe. No entanto, ele é incestuoso, pois ele é essa potência sexual que devora todas as mulheres do mundo. Assim, ele é o fallus absoluto e absolutista. Neste sentido, ele é a condensação do fantasma arcano da história universal: a junção do sujeito político com o Urstaat na cultura política totalitária. Isso é o significante axiomático mais universal de tal história. No inconsciente freudiano, trata-se do desejo da criança-divina de realizar a satisfação da pulsão de morte desviada pelo narcisismo de junção com a Mãe (das Ding, Coisa). Superposto ao inconsciente freudiano, o inconsciente político ariano é o teatro da realização do desejo do sujeito político de satisfazer a pulsão mítica (energia pulsão de morte + energia narcísica) de junção com o Urstaat. O animal despótico é a condensação desta junção mítica como lógica do fantasma do futuro. Por isso, a cultura política greco-romana (que articula o significante Ocidente) começa com a substituição do assassinato do pai primevo pela castração do déspota real (Édipo). Tal é a leitura do Sófocles pela física freudiana da história ocidental associada à história mundial do teatro. Para acabar com apeste tebana, fez-se necessário castrar o tirano (déspota real). Só isso devolve a possibilidade de gozo ao povo. Trata-se, é claro, do gozo político do povo na cultura política da polis: politeia; res pública. A modernidade política não é a repetição lúdica e diferente da cultura política sofoclesana? Na série dos axiomas que inaugura o Ocidente, o pai castrado (déspota real = animal despótico) é o significante da episteme da física freudiana sob tratamento avançado no campo lacaniano da física. A castração do pai foi o ato inaugural como possiblidade de existência da politeia, da res pública  e da modernidade na medida em que ela se livra do Estado absolutista e o substitui pelo Estado moderno. Este é um significante axiomático weberiano de uma aquisição da física freudiana para um uso além da sociologia transdisciplinar. Com o eclipse da física weberiana no século XXI, qual série de axiomas naturais está emergindo na história universal? 

GUERRA MOLECULAR URBANA

“Uma mulher foi esfaqueada em assalto em São Conrado, na Zona Sul do Rio, na tarde desta quarta-feira (20). Lorena Tristão, de 31 anos, formada em relações internacionais, foi atingida nas duas pernas e não corre risco de morrer. Crime ocorre no dia em que um ciclista morreu após facadas na Lagoa. Lorena Tristão atravessava pela passagem subterrânea, em frente ao Golf Clube, quando foi abordada por um criminoso. Ela só estava com um celular e cartão de crédito, mas o assaltante não levou nada. As pessoas que estavam no ponto de ônibus acionaram a polícia”.
O crime do médico da UFRJ na Lagoa Rodrigo de Freitas (Rio) desencadeou um noticiário sobre assaltos no Rio de Janeiro e nas principais capitais do país. Como sempre o jornalismo aborda o fenômeno da violência urbana como algo indeterminado. Por isso Deleuze escreveu que o jornalismo era produção de besteira diária. A progressão geométrica da violência urbana pode ser explicada? Ela é um fenômeno articulado por determinações significantes? No Brasil, há uma lógica da cadeia de significantes aterrissando no espaço público desarticulando-o como lugar da paz? A lógica da guerra molecular (o lumpesinato criminal como significante que leva a guerra para a superfície pública da cidade) não significa a cidade fora de controle? Shakespeare é o pensador do “The time is out of joint. Trata-se do tempo desarticulado, desconjuntado, desloucado, desregrado e louco. O tempo do espaço público enlouqueceu e a história disso vem do Brasil colonial. Este foi criado por máquinas de guerra do engenho de cana-de-açúcar e estas articularam o Brasil (e foram articuladas) por um estado de guerra freudiana permanente. A episteme do Engenho tem a máquina de guerra e o estado de guerra freudianos como axiomas da história do Brasil. Se a história econômica é a história da economia do Engenho que na república se transformaria em história do capitalismo de Engenho (história de máquinas de guerra econômicas); se a República brasileira é a história como um modo de evitar o Estado moderno, sendo ela a história da repetição do Urstaat em diversa formas nas diferentes conjunturas; se o Urstaat é a afirmação estatal da máquina de guerra policial-militar que nos últimos trinta anos participou do banho de sangue que assassinou 1000000 de brasileiros; se o Urstaat é da linha de força das máquinas de guerra que fundaram e reproduziram o significante Brasil. Isso todo não compõem uma rede de significantes históricos que possibilitam a existência da guerra molecular? A crise brasileira é a crise global da episteme do Engenho. Isso é configurado a partir da episteme global planetária RSI (Real/Simbólico/Imaginário). Esta episteme existe na conjuntura atual como um BNS (Buraco Negro Simbólico) estacionado sobre a Terra brasilis. O BNS traga a matéria e o espirito das culturas políticas e os fenômenos concretos associados a elas como a episteme nacional (e/ou continental). No Brasil, o BNS está tragando a episteme do Engenho e liberando partículas históricas como repetição diferente e lúdica de uma nova configuração RSI. A guerra molecular é apenas uma partícula dessa nova configuração que aniquila o espaço público como lugar da paz. É claro que no Brasil a classe média urbana é a principal classe a ser atingida por fenômenos (como a guerra molecular) dessa ordem e magnitude. A indústria cultural não sabe que sabe disso como um artefato simbólico do inconsciente político nacional? ela não age transformando a guerra molecular em fato midiático para obter audiência? Afinal, estamos em um mato sem cachorro?  

CULTURA-WEB/CULTURA UNIVERSITÁRIA
A prática jornalística da cultura-web do PCPT (grupo Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) tem causado um início de discussão sobre a autonomia do PCPT em relação à cultura universitária brasileira. A cultura-web não tem como estabelecer uma autonomia absoluta (até o momento) em relação ao discurso da universidade mundial que funciona no Brasil em um grau de precariedade lamentável. Tal discurso (que faz laço social em países desenvolvidos culturalmente e que articula a universidade como instituição) só existe e funciona de um modo pleno em países sob o dominus da episteme política capitalista moderna. O Brasil - sob o dominus da episteme do capitalismo do Engenho - faz de suas universidades um lugar articulado pela lógica totalitária-oligárquica. As equipes de pesquisa universitárias constituem-se (com raras exceções no campo das ciências naturais e humanas) como grupos oligárquicos. Tais grupos se sustentam pela forma disciplinar sagrada dos vários campos científicos. Agindo contra o potencial da força de trabalho intelectual brasileira, a universidade oligárquica é limitada em sua produção de conhecimento (cultura universitária) pela dominus da episteme do Engenho. 
A cultura-web é um espaço-tempo onde a episteme do capitalismo do Engenho pode ser apresentada em carne, osso e sangue. O PCPT não é um espaço pacífico, pois ele é a vontade intelectual de desintegrar a episteme do capitalismo de Engenho e seus artefatos. Assim, o PCPT é uma contramáquina de guerra de pensamento que deseja uma revolução política dentro da ordem do capitalismo mundial. O PCPT não é comunista, socialista, bolivariano ou anarquista. Ele desfaz a ideia de que a política é um monopólio do simulacro de dialética esquerda versus direita. No entanto, ele é o herdeiro das tradições intelectuais da esquerda brasileira em extensão. Mas, ele é o herdeiro da parca tradição antitotalitária da esquerda intelectual brasileira. O PCPT é a vontade de uma contracultura política  de inscrever na cultura-web (através de práticas como o jornalismo-web, e outras) uma posição contratotalitária de massas como um caminho para a solução da CRISE BARSILEIRA. Esta postagem é apenas o início da discussão sobre a cultura-web e o agir modesto do PCPT nela!                                                                                                                                 
 CULTURA: FREUD E WITTGENSTEIN
“As coisas estão mesmo à frente dos nossos olhos, nenhum véu as cobre” (W.)
O conceito de cultura em Freud inclui o homem comum, como mostrei em um outro texto: O homem comum é o centro tático destes livros (Futuro de uma ilusão e Mal-estar na civilização) na história comum. “Na mais impressionante história mitológica moderna, o homem ordinário é o locutor. Ele é no discurso o ponto de junção entre o sábio e o comum: não sei nada sério, sou como todo mundo”. Wittgenstein já pensa a cultura em relação a uma época sem cultura: “Uma cultura é como uma grande organização que atribui a cada um dos seus membros um lugar em que ele pode trabalhar no espírito do conjunto; e é perfeitamente justo que o seu poder seja medido pela contribuição que consegue dar ao todo” O espírito é o x do enunciado. Uma cultura pose se desintegrar e se tornar um monte de cinzas, mas sobre as cinzas pairarão espíritos. Eu desejo acreditar que o espírito está no caminho do pensamento que, por assim dizer, voa sobre o mundo e o deixa tal como é – observando-o de cima, em voo. Em relação ao conceito de cultura, a diferença essencial entre Freud e Wittgenstein é que no primeiro não tem o espírito da cultura, ou seja, só existe cultura sem espírito. E no segundo, não há identidade entre espírito e pensamento. No entanto, se o espírito for a episteme política, não há cultura política freudiana sem episteme freudiana. A física freudiana da história parte do axioma que existe espírito no pensamento de Freud; existem espíritos que pairarão sobre as cinzas da cultura política freudiana da guerra.
Wittgenstein diz: “Numa época sem cultura, por outro lado, as forças tornam-se fragmentárias e o poder do indivíduo consome-se na tentativa de vencer forças opostas e resistências ao atrito; tal poder não é visível na distância que percorre, mas talvez unicamente no calor por ele produzido ao vencer o atrito. Mas a energia continua a ser a energia, e embora o espetáculo que a nossa época nos proporciona não seja o da formação de uma grande obra cultural, com os melhores homens a contribuir para o mesmo fim grandioso, mas o espetáculo mais impressivo de uma multidão cujos melhores membros trabalham com vista à realização de objetivos puramente pessoais". A cultura política da guerra freudiana é contemplada pelo conceito de cultura de Wittgenstein? Ou o estado de guerra freudiano é o conceito de uma época sem cultura? Ele está ou não está associado a um fim grandioso? Ou ele está associado ao prosaico dos objetivos puramente pessoais. Wittgenstein diz: “Lutamos com a linguagem. Estamos envolvidos numa luta com a linguagem” A guerra estrutura a relação do sujeito com a linguagem. Assim, a cultura não é a continuação da guerra com a linguagem através de artefatos (técnicos ou não) que podem articular as máquinas de guerra de pensamento como Freud e Wittgenstein. A web é um artefato cultural técnico da cultura da guerra freudiana ou da época sem cultura wittgensteiniana? Se a biografia individual está apenas avançando em relação à sua época, esta virá um dia a alcançá-lo! 
ANTROPOLOGIA/FÍSICA FREUDIANA
A antropologia estabeleceu que a cultura é um reino de mil faces conceituais sob o império do relativismo cultural. No entanto, algum consenso a antropologia mantém como progressão e afinamento científico do conceito de cultura. Esta não está sujeito nem ao determinismo biológico, nem ao determinismo geográfico. Os estudantes de antropologia aprendem logo que a diferença de valor (superior/inferior) entre a sociedade ocidental e a sociedade primitiva é uma ideologia etnocêntrica. A antropologia é, talvez, a arma de pensamento que desfez o poder explicativo e ideológico do conceito de valor. A física tem como objetivo tático reparar este erro relativista que faz da antropologia uma aliada da cultura totalitária associada, sempre, ao inconsciente político ariano. O Valor superior da aristocracia (elite ariana) é um significante essencial para pensar a história universal. Isso não significa que ela domina porque é superior; mas que ela é superior porque domina. Portanto, não precisamos reconstruir o conceito de valor de Nietzsche? Um passo importante da antropologia foi desfazer a distinção entre lógico (civilizado) e ilógico (primitivo ou bárbaro). No entanto, ela não foi capaz de pensar o credo quia absurdum (que articula as religiões como a cristã e a mulçumana) como um meio-termo entre o lógico e o ilógico. A física tem a pretensão de trabalhar nesse terreno minado pela lógica de Aristóteles. Mas a antropologia pensou o relativismo cultural como determinante lógico da episteme política. Um axioma da episteme da psicologia freudiana é o tabu do incesto como significante universal. Os índios Tupi tem uma lógica cultural que legitima o casamento entre meio-irmãos por parte de mãe. A lógica da episteme política egípcia da civilização arcaica liberava o Faraó para casar com irmã. Esses fatos podem provocar repugnância e horror nos povos ocidentais? Na Ética a Nicômaco, Aristóteles condena o incesto como parte da bestialidade. A física sustenta que a cultura política articulada a partir dos axiomas da episteme política define concretamente a circunscrição do incesto. O incesto parental (pois existem formas de incesto não-parentais) não é um fenômeno universal e generalizado. Entre os habitantes das ilhas Trobriand nenhuma palavra corresponde ao nome do pai. O homem que vive com a mulher é chamado pelo filho pelo significante “companheiro da mãe”. Lacan diz que o Nome-do-Pai não é o nome do pai. Tal significante lacaniano é essencial para pensar a comunidade dos homens livres da santa loucura psicótica. A solução dos habitantes de Trobriand não é um mostra de que eles sabiam tudo sobre esse problema lacaniano? Finalmente, um conceito de cultura antropológico (de David Schneider) útil à física freudiana: “Cultura é um sistema de símbolos e significados. Compreende categorias ou unidades e regras sobre relações e o modo de comportamento. O status epistemológico das unidades ou “coisas” não depende da sua observabilidade: mesmo fantasmas e pessoas mortas podem ser categorias culturais”. Na física pode-se traduzir símbolo por significante e considerar que a lógica do signo antropológico (que gera o significado) pode ser traduzido para lógica do significante que torna possível a articulação de significações e, quem sabe, de intersignificações. A física freudiana só progredi a partir do diálogo e do confronto com o campo disciplinar e transdisciplinar. Aqueles parecem ser essenciais para a formulação do contraconceito de cultura política!    

INCONSCIENTE POLÍTICO A CÉU ABERTO


"Para a polícia, matar os suspeitos é fácil, e a prática é tida como solução mais eficaz", disse Graham Denyer Willis, palestrante da Universidade de Cambridge que estuda a polícia brasileira. Com as mortes costumeiramente aceitas como subproduto inevitável da diminuição da falta de segurança em certas cidades, o resultado "é uma forma inequívoca de limpeza social", disse ele. Às vezes, as autoridades exaltam a prática. "Darei a ele uma medalha por cada meliante que mandar para o inferno", disse André Puccinelli, governador do Mato Grosso do Sul, ao elogiar um policial de licença que matou dois homens armados quando estes tentavam roubar uma loja.
São Paulo - O pastor evangélico Silas Malafaia rebateu as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atacou o PT e provocou o ex-presidente para que ele fale a verdade para os brasileiros. "Quando o homem mente descaradamente ele se parece com o diabo. Lula, que tal você falar toda a verdade e deixar de enganar o povo brasileiro?", afirmou, em vídeo postado no YouTube.
Há uma lógica do Diabo? No Fausto (Goethe), o diabo diz: “faço o bem, mas também faço o mal”. Se Deus só faz o bem e é um ser puro e claro, então a humanidade não foi feita à imagem de Deus. Ela é o a escultura do Diabo. A humanidade faz o bem e faz o mal? 1000000 assassinadas nos últimos trinta anos é algo humano? O conceito mais preciso de humano é o conceito freudiano. O humano é constituído por um aparelho psíquico (eu/supereu/id) e o inconsciente freudiano impera sobre os indivíduos no mundo-da-vida. Freud desestabilizou a ideia iluminista de que o homem europeu era um ser de razão. Ou foi a Primeira Guerra Mundial que fez isso? No entanto, o uso da violência sem limite do homem-razão não pode ser explicado pelo inconsciente freudiano. A realização da satisfação da pulsão de morte pelo europeu civilizado transborda o inconsciente freudiano. Seria o fim do pensamento freudiano? Como o inconsciente freudiano é o inconsciente da psicologia do indivíduo, e esta tem como sujeito-objeto o homo clausus, o banho de sangue ciclópico da Primeira Guerra pôs um fim no homo clausus e na psicologia do indivíduo. Então, Freud criou o espelho freudiano da Nova Europa: bárbara. Mas a ideologia dominante repetia para o planeta: “isso é apenas a guerra entre nações”. E desde o pensamento militar chinês de 500 a.c. todos sabem que a guerra não é feita por homens, e sim pelas máquinas de guerra. Deleuze e Guattari fizeram uma exposição clara desse assunto livro “Mil Platôs”. No entanto, eles ao criarem o conceito de máquina de guerra não o definiram pelo uso da violência física (ou simbólica) sem limite. Só é possível confeccionar tal definição usando o conceito de pulsão de morte de Freud. Então, entramos no reino dos contraconceitos da física freudiana. Trata-se da máquina de guerra freudiana que é o uso sem limite da violência física. Freud está vivo! Mas tem mais. A física freudiana é a linguagem-espelho do inconsciente político a céu aberto. Graham Denyer Willis é um locutor de tal linguagem. Já André Puccinelli (governador do Mato Grosso do Sul) fala como uma máquina de guerra freudiana política, pois sua fala é o “discurso” estatal (Urstaat) que gera violência sem limite sobre a população. Os 1000000 de assassinatos são a prova de que o país vive em sua sociedade civil, ou melhor, no mundo-da-vida sob o dominus da guerra molecular. Isso tudo é o inconsciente político a céu aberto! Mas Isso não é o inconsciente a céu aberto da psicose!  

BAKUNIN/FÍSICA FREUDIANA
Na Introdução ao livro “Deus e o Estado” de Bakunin, Maurício Tragtenberg destaca as complexas relações entre o poder despótico divino (igreja/Estado=Urstaat) e a escravidão na filosofia política e em Bakunin. A leitura da Introdução trouxe de volta em minha memória as aulas magistrais desse professor Tragtenberg com quem apendi em sala de aula o abc do anarquismo Duas ideias de Bakunin saltam aos olhos. A primeira antecipa no século XIX (a teoria das elites do século XX) a ideia de que a política representativa cairia sob o dominus de uma aristocracia ou OLIGARQUIA POLÍTICA: “Mas o que é verdade para as academias científicas, o é igualmente para todas as assembleias constituintes e legislativas, mesmo quando emanadas do sufrágio universal. Este último pode renovar sua composição, é verdade, o que não impede que se forme, em alguns anos, um corpo de políticos, privilegiados de fato, não de direito, que, dedicando-se exclusivamente à direção dos assuntos públicos de um país, acabem por formar um tipo de aristocracia ou de OLIGARQUIA POLÍTICA. Vejam os Estados Unidos e a Suíça” (Editora Cortêz: 33). O modelo oligarquia política híbrida (OPH) é uma invenção europeia e dos USA na segunda metade do século XX. A OPH é um significante da física freudiana que levanta o problema da comunidade de homens livres em Bakunin: “Toda educação racional nada mais é, no fundo, do que a imolação progressiva da autoridade em proveito da liberdade, onde tal educação tem como objetivo final formar homens livres, cheios de respeito e de amor pela liberdade alheia” (Idem: 44). A OPH não é a negação da existência da comunidade de homens livres nos USA e na Europa ocidental. Na história universal é possível encontrar comunidades neuróticas, psicóticas e perversas, inclusive na Bíblia (lembrem de Sodoma e Gomorra) articuladas e articuladoras do império das máquinas de guerra psicóticas. Como metabolização de um axioma da episteme da psicologia freudiana do indivíduo, a vulgata freudiana estabeleceu que de perto (ou de longe) ninguém é normal. Para a vulgata nunca existiu uma comunidade normal; só comunidades patológicas. Bakunin faz a contravulgata freudiana ao dizer que pode existir uma comunidade de homens livres da neurose, da psicose e da perversão, enfim, do reinado das máquinas psicóticas. O livro de José Peirats (Los anarquistas em la crisis política española) expõe a história de uma comunidade normal de homens livres que seria destruída pela máquina de guerra psicótica franquista (Ediciones Júcar: 307-309). No entanto, o leitor pode ler e conferir se o Paideia de Jaeger não é a exposição de uma educação para a constituição de uma comunidade de homens livres, de uma comunidade normal como interseção das três esferas do RSI (Real/Imaginário/ Simbólico). Tal interseção RSI é a realização fáctica da metáfora paterna (Nome-do-Pai) onde a Mãe (das Ding, Coisa, cidade-estado) deseja o seu filho: o povo da polis como homem livre. Na polis, o poder não é uma ligação do sagrado com o Urstaat; ele é o poder comunicativo da cidade (Hanna Arendt), poder que sustenta a possibilidade de uma comunidade normal em contraponto agônico à comunidade patológica das máquinas psicóticas. Neste caso, trata-se do império das máquinas de guerra psicóticas gerado a partir da cultura política totalitária das comunidades: neurótica, psicótica, perversa. Ao lado de Marx, Bakunin não pavimentou a estrada que levaria até a física da história freudiana? 
A RESSURREIÇÃO DE CRISTO/ARTE DO IMPOSSÍVEL
A física da história trabalha com a tradução das fábulas cristãs em axiomas da cultura política cristã. Cristo não-ressuscitado significa “está morto e de composto”, como qualquer mortal. Isso é a política como arte do possível. A certeza do Cristo ressuscitado é a fé naquilo que de que necessita o meu coração, a minha alma (almor), e não minha razão abstrata, como ensina Wittgenstein O almor é constituída de paixões, carne e sangue e ele crê na ressureição, pois tal crença significa redenção pela política. A comunidade cristã sabia que só o almor pode acreditar na Ressureição. O almor redentor acredita até na Ressureição. Aquilo que combate a dúvida no milagre é a redenção. A adesão à Ressurreição é a adesão a crença na redenção. Então, a cultura política cristã fez da política a arte do impossível. O cristianismo se transformou no poder da Roma Imperial. Isso não é a arte do impossível? Assim, a política significa – deves primeiro ser redimido e apoiar-te na tua redenção (agarrar a tua redenção). Em seguida verás que estás a agarrar a esta fé. No entanto, tal coisa só pode acontecer se o teu peso já não assentar na Terra, mas se te suspenderes do céu. Então tudo será diferente e não será de assustar que possas fazer coisas que até então não podias realizar. Um homem suspenso assemelha-se a um homem em pé, mas o efeito recíproco das forças (condensação de energia mítica) nele presente é, contudo, bastante diferente, de modo que pode agir de uma maneira inteiramente diferente da de um homem que está em pé.
Antes de ser modelada pela revolução secular moderna, a cultura política cristã não acreditava na gravidade da Terra como axial na história. Isso é claramente um problema da física da história política. A modernidade estabeleceu a Terra = (discurso do capitalista/episteme capitalista) como gravidade da política. E o céu foi para os quintos do inferno! A concepção economicista da cultura política moderna (de marxistas e economistas, excetuando entre nós Celso Furtado) fez da política a arte do possível sob o dominus da sociedade capitalista. Lenin e Mao Tse Tung se deixaram orientar pela estrela de David e fizeram da política a arte do impossível. Eles começaram a revolução socialista contra o axioma do determinismo econômico de que a arte do possível restringia a revolução socialista a países capitalistas desenvolvidos. Lenin e Mao podem ser tomados como líderes carismáticos leigos que continuam a cultura política cristã por meios marxistas. Com eles, o marxismo abandonou o seu semblante moderno prosaico. Diante da crise brasileira, devemos seguir qual modelo de política? A carismática de Lenin e Mao ou a moderna prosaica do marxismo alemão de August Bebel?
Comunidade (comuna) de Paris de homens livres e normais
Em 1881, Engels escreveu sua “Introdução” ao texto de Marx “A Guerra civil em França”. Nesta introdução ele diz que os membros da Comuna estavam divididos em uma maioria integrada por blanquistas (que iam predominando também no Comitê Central da Guarda Nacional) que pensavam a política pela mais rígida e ditatorial centralização de todos os poderes nas mãos de um governo revolucionário. No entanto, em todos os documentos dirigidos aos franceses das províncias, a Comuna os convida a criar uma Federação livre (com Paris) reunindo todas as Comunas da França. Marx mostrou no texto supracitado que a Comuna era um Estado que já não era um Estado. Ele quis dizer que a Comuna se organizava de um modo antagônico à máquina de guerra estatal psicótica bonapartista ou republicana. Tal máquina estatal deixava de ser o Senhor da sociedade, pois a Comuna era o poder da sociedade como servidor da comunidade dos homens livres e normais. Na Comuna, o poder estatal (que já não era um poder estatal) ficou completamente submetido ao poder da comunidade. Então por que no final de sua Introdução Engels diz que a Comuna era a ditadura do proletariado? Isso ia ao encontro da episteme marxista totalitária cujo axioma-mestre sustentava que a revolução do século XIX (revolução social) só podia ser uma revolução proletária. Que esta revolução era articulada pela dialética burguesia versus classe operária. E mais! Que a sociedade socialista fazia do proletariado o Senhor despótico para reprimir a burguesia. Não se tratava, portanto, de uma comunidade de homens livres e normais. Engels diz que Marx provou que a Comuna forçosamente havia conduzido, em última instância, ao comunismo. Lenin partiu da interpretação dos textos (deste texto inclusive) de Engels para escrever “O Estado e a Revolução”. Trata-se de um livro infame que assegura que a sociedade soviética será uma comunidade de homens livres e normais, ao mesmo tempo cria os axiomas da construção da episteme totalitária socialista tendo como significante-mestre o Urstaat-partido bolchevique. O leninismo preparou o terreno para a construção de uma comunidade de psicóticos com um semblante de uma comunidade de homens livres e normais. Tal comunidade foi um viveiro para a criação e reprodução de máquinas de guerra psicóticas que se tornaram dominus da URSS na era stalinista. Manuel Castells em seu livro “Redes de indignação e esperança” (sobre os movimentos dos indignados) fala de uma historiografia que prova que a Comuna não foi o lar de uma revolução proletária, pois não existia grande indústria (e, portanto, massa operária industrial) na Paris de 1871. As estruturas do inconsciente freudiano (perverso, psicótico, neurótico) só existem como determinismo na episteme política da psicologia freudiana do indivíduo através do artefato abstrato conhecido como homo clausus. Tal episteme assegura que todos são anormais!  Com efeito, o indivíduo concreto é uma biografia privado-pública (habitado por uma das estruturas ou por um entrelaçamento delas) em uma história no mundo-da-vida (pode ser também ao mesmo tempo na política em si), que significa, em geral, estar integrado à uma comunidade, ou de psicóticos, ou de neuróticos, ou de perversos. É aí que mora o diabo, pois estas comunidades existem e funcionam como viveiros de máquinas de guerra psicóticas. Em uma comunidade de homens livres e normais, psicóticos, perversos e neuróticos podem ser livres e normais. Ao contrário do discurso do analista, o discurso do físico existe para tornar isso possível! Ele só não pode prometer a felicidade como o fez o utilitarismo do século XIX!

A EPISTEME EUROPEIA NIETZSCHIANA
A Primeira Guerra Mundial não é apenas um acontecimento explicável por causas econômicas e políticas (no sentido moderno). Ela não é a efusão da cultura política europeia niilista? A relação do pensamento de Nietzsche com tal guerra não explica o apoderamento da vontade de poder deste pensamento pelo totalitarismo alemão? Tal guerra também não pode ser explicada apenas pela cultura da guerra freudiana. Às máquinas de guerra freudianas de tal guerra tem que ser acrescentada a máquina de guerra nietzschiana fascista na política europeia da década de 1930. Ela é o SUJEITO da segunda Guerra mundial! Na leitura de Nietzsche por Heidegger só falta o significante episteme política. Contudo, não é possível pescar (através da física da história) nela o contraconceito deste significante? A episteme nietzschiana é o fim da metafísica como acabamento em meio a inessência incondicionada (a metafísica de Nietzsche). Não se trata da superação da metafísica como história da essência da verdade principal até a inverdade da inessência. Tal episteme sustenta o niilismo europeu como desvalorização dos valores supremos: unidade, meta, verdade. Ela não é a lógica do desmoronamento da civilização europeia sendo esta sustentada pela episteme moderna? Não seria a história uma batalha de epistemes políticas? A cultura política niilista é a desvalorização como transvaloração de todos os valores até agora, e da transvaloração como reinstauração da vontade de poder como valor fundamental: significante axiomático mestre. A cultura política niilista europeia significa o puro caos da vontade de poder e a economia maquinal do mundo – domínio sobre a Terra e seu sentido. Qual é o sentido? Que a modernidade política é substituída pelo eterno retorno da vontade de poder da máquina de guerra nietzschiana psicótica de reinar sobre a Terra. O niilismo como aniquilação da verdade põe e repõe um fim na cultura política metafísica como um ersatz para o fim da modernidade política, se entendermos a metafísica = platonismo = religião = religião cristã: isto é platonismo para o povo. Esse recurso evolutivo da história é aniquilado pela ligação do niilismo com o totalitarismo. A partir daí a cultura política cristã só faz movimentos brownianos no espaço político representativo. Assim, a primeira Guerra Mundial adquire um novo sentido articulado à política europeia que vai desaguar no totalitarismo alemão e na Segunda Guerra Mundial. Há uma associação intrínseca entre niilismo europeu e totalitarismo que articula a Primeira Guerra e tal guerra ao fascismo alemão que está na origem da Segunda Guerra.     
Na cultura política niilista, a lógica do eterno retorno do mesmo se torna, pela primeira vez, propriamente a constância do devir e de sua ausência de finalidade. Tal cultura é a vontade de saber-poder de aniquilar a dialética de Hegel e a dialética materialista de Marx. Fim da utopia!  No essencial, ela é vontade de poder (junto ao super-homem = animal despótico nietzschiano) de um apoderamento do poder incondicionado. A autonomia do poder nazista em relação as frações burguesas no bloco no poder alemão não é quase absoluta? A política fascista alemã joga na lato do lixo histórica a episteme capitalista (Marx) que tem como axioma o trabalho livre assalariado e estabelece empiricamente o axioma do trabalho escravo no modo de produção capitalista no século XX. Os rebentos do capitalismo corporativo mundial (inclusive dos USA) assimilaram sem objeção tal axioma. O campo de concentração foi uma máquina de guerra psicótica freudiana: “máquina de matar judeus”. Mas ele foi também um viveiro de trabalho escravo capitalista. Trata-se da máquina de guerra nietzschiana como escultor que faz estátuas (capitalismo totalitário alemão mundial) a partir do mármore: modo de produção capitalista.    A transvaloração deve ser interpretada como uma nova instauração de valores que denega a existência dos valores – na consciência europeia - como um artefato do discurso do senhor que divide o mundo entre senhores puros (aristocracia) e escravos impuros (povo). Isso se mantém pelo simulacro de civilização europeia ilustrada. No entanto, no inconsciente político europeu, o axioma mítico do totalitarismo alemão foi a invenção do povo puro alemão (povo=aristocracia) que iria ser o dominus dos povos impuros da Terra (povo = escravo). A derrota alemã na guerra desintegrou tal episteme alemã? A episteme nietzschiana denega (através da cultura niilista) a história como luta entre epistemes políticas e como dialética materialista entre o inconsciente político ariano (que só é biológico na vulgata nazista) e o inconsciente político mestiço. Na episteme nietzschiana, a ideologia é a conformação que se ajusta caracteristicamente à obviedade de uma metafísica não “demonstrada” dela mesma. Isso não é o contraconceito da metafísica das ideias do totalitarismo alemão?                                                                                                        
                                                     

sábado, 9 de maio de 2015

ENCORE SUSTENTÁVEL

Comunidade da Física Freudiana

JOSÉ PAULO BANDEIRA DA SILVEIRA
https://www.facebook.com/groups/1584226025164258/



Comunidade da física freudiana significa um campo de pensamento pacífico para o funcionamento do discurso do físico. O campo freudiano foi o ponto de partida para a fabricação da física freudiana da história. Esta é um contracampo de pensamento na linha de força do pensamento eclético de Cícero, ST* Agostinho, Marx, Weber e Freud, Habermas. Trata-se de um contracampo científico transdisciplinar. O discurso do físico trabalha com o contraconceito de episteme política e ele se constitui a partir de uma contraepisteme que sustenta o discurso do físico articulado ao inconsciente político mestiço. A física é um artefato contratotalitário.

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FOUCAULT/BAUDRILLARD

Um texto de Foucault de 1981 (Lacan, le “libérateur” de la psychanalyse) fala da psicanálise não como um processo de normalização de comportamentos e sim como uma teoria do sujeito. O sujeito como uma coisa complexa, frágil, do qual é tão difícil falar e sem o qual nós não podemos falar. O progresso da teoria do sujeito lacaniana ocorre em relação ao sujeito radicalmente livre da filosofia e do sujeito determinada por condições sociais. Em 1981. Já existia a episteme política e claro a teoria dos 5 discursos. E o centro estratégico deste Lacan tardio é iluminar ao máximo e cada vez mais a lógica do significante. A teoria do significante não subsume a teoria do sujeito? Nela, encontra-se a física lacaniana!  Lacan não conseguiu ser o “libérateur” do freudismo?

O livro Da Sedução de Baudrillard é um texto pós-moderno que simboliza uma ruptura com a episteme política freudiana. Esta é articulada a partir da axiomática sexual e de uma mitologia sexual. Nesta episteme, a sexualidade é essa estrutura forte, discriminante, centrada no falo (phallus), a castração, o nome do pai, o recalque: mitologia conceitual freudiana O recalque apresenta-se na narrativa da miséria sexual das mulheres, excluindo-se qualquer outro modo de poder e de soberania. Sexo, poder e soberania articulados remetem para o contraconceito de cultura política. A episteme phalocrática é um artefato simbólico da cultura política totalitária freudiana. Baudrillard não poderia ser mais claro sobre isso, ou sobre o isso! Baudrillard pensou a pós-modernidade como o grau zero da estrutura sexualis, onde já não existe masculino ou feminino. O freudismo seria sustentado pelo axioma de que não existe outra estrutura além da sexualidade, o que o torna constitucionalmente incapaz de falar e outra coisa. A anatomia é o destino, dizia Freud. A episteme política pós-modernista se constituiria “no avesso de qualquer pretensa profundidade do real, de qualquer psicologia, de qualquer anatomia, de qualquer verdade, de qualquer poder”. Por isso, os psicanalistas odeiam Baudrillard. Este escritor e físico da pós-modernidade diz que não há distinção entre o real e os modelos, não há outro real além do secretado pelos modelos de simulação, como não há feminilidade que não a das aparências. Também a simulação é insolúvel. A lógica da simulação é uma lógica que integra o campo da física da história na medida em que ela não desintegra o contraconceito de episteme política global RSI (Real/Simbólico/Imaginário. Quanto o feminino como a única possibilidade de ultrapassar a simulação pela sedução, isso é matéria para outras postagens! E a física freudiana da história está além da axiomática sexual. O campo da física da história é o único “libérateur” do campo freudiano!  

AMOR/ÓDIO
O amor é um significante-mercadoria exultante da cultura industrial de massas na forma de música. Tal mercadoria está em um ponto de saturação para o consumidor-espectador-ouvinte? No Ocidente, o amor cortês (música, poesia, conduta) foi o eixo da articulação da sociedade cortesão. Ele foi o significante a partir do qual a pequena máquina de guerra cortesã (uso da violência simbólica com limite) substituiu a grande máquina de guerra feudal: uso da violência física sem limite sobre o corpo da mulher. Na história da civilização universal, o amor ao discurso do mestre (como sujeito suposto saber) não sustentou impérios? Como entender o carismático weberiano sem o amor? Ele é a crença no suposto saber do Senhor antes da episteme política existir como filosofia na antiguidade greco-romana. Ele está além da episteme da sexualidade freudiana; ele não é prisioneiro da relação homem-mulher. Esta prisão é a prisão da mercadoria-amor que, ao contrário do amor cortês, não faz laço social? A mercadoria-amor é a ideologia do amor para tranquilizar a população sobre o estado de barbárie de países como Brasil e USA. A ideologia do amor faz funcionar o discurso do mestre nas culturas políticas barbaras como simulacro de simulação. Ela faz do amor um artefato da lógica do simulacro de simulação no espaço da cultura industrial. Se o ódio é a des-suposição do saber do discurso do Mestre e a realização da violência simbólica sem limite (e assim é um significante basal do contraconceito máquina de guerra); e se o amor não remete para o discurso do mestre efetivo na sociedade contemporânea, por que tanto ódio manifesto? Assim como a ideologia, o ódio é um significante da lógica do simulacro de simulação? A ideologia é um significante do inconsciente político como lógica do simulacro, assim como o fantasma seja do passado, seja do futuro. O ódio como des-suposição do saber, no espaço do simulacro, é o ópio do povo. A cultura industrial de massas é a pedagogia do ódio para as massas. Tal pedagogia desassocia o ódio das massas da des-suposição do discurso do mestre como fenômeno político. Você (espectador-ouvinte) pode “criticar” tudo, destituir o saber do Mestre, odiá-lo impunimente, se você permanecer na crença de que o Sol gira ao redor da Terra, ou seja, da lógica da mercadoria da cultura industrial de massas. Esta é a vanguarda cultural do dominus do discurso do capitalista sobre a política mundial. Você pode odiar qualquer simulacro de discurso do mestre, mas não o discurso do mestre REAL: o discurso do capitalista! 


UNIVERSIDADE PÚBLICA/EPISTEME DO ENGENHO
A USP foi a única experiência de construção de uma universidade estatal como universidade pública no Brasil da democracia populista. O grupo das ciências humanas constituiu-se na vanguarda da classe média paulista modernista embebida em um sistema de valores do modernismo que significava - na superfície política do mundo da vida - a predominância da lógica pública sobre a lógica privada do inconsciente político brasileiro. Este acontecimento histórico significava a construção de uma episteme política modernista como alternativa à episteme do Engenho de cana-de-açúcar. Na cultura política, JK era o significante desta revolução brasileira. O PCPT trabalha com a lógica do fantasma do futuro: lógica do significante. O modernismo era a lógica do significante do nosso futuro que a ditadura militar decepou e salgou como o Urstaat colonial português fez com Tiradentes. A comunidade intelectual brasileira ainda não viu o óbvio e ululante. O golpe civil-militar de 1964 foi um golpe de Estado que a classe média desfechou contra si própria para implantar o capitalismo dependente e associado, o capitalismo de Engenho cum multinacionais. A ditadura militar mudou o futuro, pois a classe média poderia ter sido a arma de uma revolução capitalista moderna, ou seja, de uma troca da episteme do engenho pela episteme capitalista (Marx). Talvez o leitor pudesse ler (ou reler) o livro de Caio Prado Jr (“Revolução Brasileira”) por esse olhar da física da história brasileira. E pudesse aceitar que o PCPT antecipa os fatos (artefatos). Ele não propõe soluções para o poder de plantão. O PCPT não é uma enfermaria de um sucateado hospital público.
A ditadura militar transformou a universidade estatal em uma universidade privada mantida com capital público. Ao estilo do seu capitalismo cartorial, a ditadura fez da universidade estatal uma reserva de mercado para a classe média. O objetivo política era a cooptação em massa da classe média modernista. Participei das lutas do movimento dos professores (sob a direção de Horácio Macedo, Luís Pinguelli Rosa, Alexandre Magalhães, Liana Cardoso e outros tantos importantes militantes do ensino público) durante mais de uma década. Mas a UFRJ não conseguiu construir um modelo de universidade pública, pois o destino do país durante e após a ditadura foi a lógica do desmoronamento do acontecimento histórico capitalismo moderno e episteme política moderna. O capitalismo do engenho fez da universidade estatal uma universidade do Engenho. Hoje, a crise brasileira está dilapidando o capital público nas mãos do Estado brasileiro. O capital público é aquela parte da mais-valia desviada da reprodução do capital para a reprodução da sociedade. Não existe mágica possível que invente capital público. Não existe mágica que evite uma política governamental que desfaça o monopólio privado da universidade pela classe média. Agora, que a vanguarda da classe média - localizada em São Paulo e no Rio – se virou - como fenômeno político (multidão) - contra o poder petista-peemedebista, a lógica do futuro (do significante universidade estatal) parece dizer que a classe média vai pagar a universidade com o dinheiro próprio bolso, como eu fiz durante oito anos nos meus curso de pós-graduação na PUC/SP. Como conheço a PUC, a minha modesta sugestão para o movimento universitário é: a discussão pública do modelo da PUC/SP (ou da PUC/Rio) como modelo público-privado de universidade estatal pós-diluviano. O Resto é fofoca e intriga das nanomáquinas de guerra cortesãs que dominam a política do mundo-da-vida da classe média da antiga corte imperial!  

REVOLUÇÃO/TELEVISÃO/WEB
A discussão pública sobre comunicação e informação entrou em declínio, ao menos no Brasil. Comunicação e informação são vividos como lógica fática. Na década de 1990, os estudiosos desses fenômenos supracitados diziam - não todos, é claro – que a televisão generalista operava pela lógica da oferta limitada pela lei da audiência; ela buscava o grande público que seria o equivalente da maioria na política; participava na construção da identidade nacional e como espelho da sociedade gerava coesão social. A televisão por demanda operava na segmentação do mercado e esquecia seja a função de construção da identidade nacional, seja o grande público; “Uma sociedade, uma nação, um povo, não são apenas a adição de milhares de indivíduos. Trata-se também, e talvez principalmente, de uma coletividade simbólica, que se constrói todo dia”. O conceito de grande pública parece ser essencial nesse debate. Dominique Wolton concebeu-o da seguinte maneira: “O grande público remete para uma teoria da cultura, a uma análise das relações entre política e cultura no âmbito da democracia de massa, e não se reduz ao número de consumidores”. Assim, o grande público é um artefato simbólico da cultura política da sociedade democrática de massa. A televisão generalista é o território da comunicação onde uma cultura política se articula a partir do grande público. A televisão paga estabelece a segmentação do espectador e não tem como lógica a construção do grande público e o que ele implica: a identidade nacional. Na cultura televisiva paga, o significante nacional torna-se deletério, derrisório. A cultura da televisão, em geral, é uma cultura industrial hierárquica, vertical e totalitária. Por mais irredutíveis que elas sejam, lógicas do emissor, da mensagem e do receptor têm um funcionamento totalitário nessa cultura. Há uma visão romântica de um receptor mergulhado em uma recepção anarquista da mensagem e de um emissor dividido (esquizo). Com efeito, esse emissor esquizo encontra sua unidade cultural como emissor da ordem vigente, que exclui de sua linguagem os significantes contra a ordem. Ele por exemplo foraclui (exclui como um fato da lógica da episteme política da ordem) o significante revolução política no Brasil, nos USA ou na União Europeia. O senador José Serra é entrevistado na televisão porque ele jamais vai se referir a necessidade de uma revolução política dentro da ordem para abrir um caminho para a saída da crise brasileira. Ele que diz ser a política a arte de mexer com os limites do possível denega de pés e mãos juntas o conceito de revolução dentro da ordem de seu colega Florestan Fernandes. Simples inconsistência? Na concepção de Erasmo trata-se de loucura simples!  A televisão brasileira jamais entrevistou Fernandes. No Brasil, a televisão tem um papel decisivo no campo simbólico. Ela funciona como um pastiche de discurso do Outro totalitário que acredita cumprir as funções de informar, distrair, educar pela lógica da sociedade do espetáculo.
A web é o desejo imemorável de existir como sociedade em rede. É um espaço-tempo digital de uma cultura que oscila entre dois polos: o tribalismo digital e o individualismo anárquico sustentado por um desejo de emancipação individual. Mas também nela, o significante revolução brasileira dentro da ordem – a revolução possível na atual conjuntura mundial – inexiste no cardápio dos grupos do Facebook, por exemplo. O PCPT é o único grupo que põe e repõe este significante em tela digital. Considerando que vivemos em uma democracia despótica, o desejo dos intelectuais (todos que participam do Facebook são intelectuais no sen tido de Gramsci) de mantê-la a qualquer custo, inclusive à beira do abismo da crise brasileira, é algo realmente grotesco!    
FUTURO/Roberto d’Ávilla
Roberto d’Ávilla crê que o futuro é imponderável, portanto, que ninguém pode falar do futuro do Brasil. A crença deste entrevistador do Sistema Globo é baseada em uma suposta racionalidade. Não vou poder mostrar para ele que a própria racionalidade só funciona no cérebro e na política porque se crê que ela é racional. Se ele leu Weber deveria saber que a dominação racional se sustenta a partir da crença de que a racionalidade é racional (Weber). Também não vou dizer nada para ele sobre a hiper-racionalidade na qual a racionalidade é mais racional que a própria racionalidade. Lacan diz que o ódio é a des-suposição do sujeito suposto saber do discurso do mestre ou de qualquer discurso numa posição homólogo ao discurso do mestre. Como o discurso do físico é homólogo ao discurso do mestre e sustenta que se pode dizer sobre o futuro não só do Brasil, d’Ávila, consciente ou inconscientemente, quer des-supor o discurso do físico. Des-supor o saber do mestre (contramestre)  é a definição de ódio.
Como ele nunca leu Marx, ele ignora a lógica do fantasma do futuro. Este é constituído pelas pessoas que ainda não nasceram e, também, na concepção da física da história, pelos significantes no futuro que atuam no mundo invisível do presente. Na postagem Universidade Estatal/Episteme do Engenho, mostrei a lógica do significante (fantasma do futuro) universidade estatal atuando no presente. Em outros textos mostrei a lógica do fantasma do futuro CRISE BRASILEIRA atuando no presente do ano passado quando isso não era visível para d’Ávilla:

Vejam o link de um noticia de hoje (07/05/2015) sobre São Paulo:
O discurso do físico trabalha com contraverdade. Infelizmente não vou poder mostrar para o nosso entrevistador a lógica desse significante. Mas ele significa que o PCPT não está dizendo nem a verdade ou a semiverdade do futuro. Se d’Ávilla olhar no Houaiss, crença, fé religiosa e mito são equivalentes. Mas ele crê que é um moderno em um país bárbaro. E os modernos creem que a razão moderna se livrou do mito. A crença de d’Ávilla de que é moderno não é o mito que sustenta seu indelével, indefectível programa de entrevista para os modernos espectadores? Mas sem sombra de dúvida ele é uma pessoa de boa educação, a educação do “homem” cordial, do bárbaro cordial.       

SÃO PAULO/CAOS URBANO
 “O Comando Militar do Sudeste, que abrange todos os Comandos e Forças com sede em São Paulo, organizou terça-feira, dia 28, uma palestra sobre planejamento e estratégia com “o problema de abastecimento de água para consumo no Estado de São Paulo” como único assunto. É a primeira vez que a crise hídrica entra na agenda acadêmica dos militares. O evento, destinado a professores e alunos universitários, e simpatizantes de organizações militares evidenciou a “preocupação com a possibilidade do caos social diante um cenário de desabastecimento na região. Perguntado então sobre o que aconteceria se as chuvas continuassem abaixo da média e as obras previstas não ficassem prontas, o diretor da Sabesp respondeu: ‘Vai ser o terror. Não vai ter alimentação [produção de hortifrútil], não vai ter energia elétrica. Será um cenário de fim de mundo. São milhares de pessoas e o caos social pode se deflagrar. Não será só um problema de desabastecimento de água. Vai ser bem mais sério do que isso...’.
No meu texto (http://politicajosepaulobandeira.blogspot.com.br/2014/10/crise-politica-lacaniana-sao-paulo.html) abordei a crise hídrica articulada à crise brasileira como um fenômeno da foraclusão da cultura política nacional. Para ganhar a eleição Geraldo Alckmin mentiu sobre a magnitude da crise hídrica. Ele se aproveitou da foraclusão! HABERMAS considera as formas “estratégicas” de comunicação (tais como mentir, despistar, enganar, manipular etc.) como derivadas; implicam a suspensão de certas pretensões de validez (especialmente da veracidade), são parasitárias da fala orientada ao entendimento genuíno. As formas estratégicas de comunicação estão associadas a essa capacidade de disposição sobre meios que permitam influenciar a vontade de outrem que Max Weber chama de poder. H Arendt reserva para tal caso o conceito de violência. A condução da guerra é o modelo clássico da ação estratégica. Para Arendt o poder político não pode ter como axioma a violência, a guerra! A comunicação estratégica é a continuação da guerra na fala quando esta é política. Ela é violência simbólica sem limite, violência que faz o outro desmoronar como sujeito da sociedade civil. Para ganhar a eleição, Alckmin mentiu, despistou, enganou e manipulou o eleitor. Por que a população de São Paulo acreditou nele? Apelidado de picolé de chuchu, o carisma de Alckmin parece inexistente. Com efeito, ele é o governador carismático que dobrou o PCC (Primeiro Comando da Capital)? Este é uma máquina de guerra criminosa lumpesinal com pretensões de alterar o quadro de relações de forças em São Paulo para submeter a população civil e o Estado a seu poder despótico. Isso gerou o carisma de Alckimin? Não! O governador possui a política como ação estratégica para tomar o poder e permanecer no poder. A ação estratégica é a ação que define o partido (ou biografia política de um agente) como máquina de guerra freudiana em si ou como grande máquina de guerra cortesã. Ambas se definem pelo uso sem limite da violência ou física ou simbólica (comunicação estratégica). Agora o diretor da Sabesp anuncia o caos urbano como consequência da crise hídrica. E o Exército reúne professores universitários para discutir e pensar cenários catastróficos. Agora, Inês é morta! A crise hídrica acabada significa que a cidade será desfeita como laço social (sociedade); a cidade deixará de existir. A máquina de guerra oligárquica do PSDB age para que seu governador governe mesmo com o caos urbano. Ele está pronto para fazer a guerra à população dominada pela lógica do caos urbano. A crise hídrica acabada instala a lógica freudiana da política: analisar, educar e governar são os impossíveis freudianos. Como José Serra, a máquina de guerra biográfica geraldoalckimin  nunca leu Freud. Aliás, a máquina de guerra oligárquica PSDB nunca leu Freud. A lógica da máquina de guerra é viver a política como guerra, como violência. O PSDB não é um partido político, pois este não governa no caos. A crise brasileira em São Paulo vai confirmar que a física da história não é um brinquedo da cultura digital. Ela é a física da história sob dominus das máquinas de guerra. Além disso, José Serra precisa tomar ciência de que existe um apagão simbólico na cultural mundial que atingiu inclusive Harvard e a Sorbonne.    

CRISE DO ESTADO/MARXISMO ENVERGONHADO
 “A violenta repressão a um protesto dos professores e servidores do Paraná há uma semana, quando mais de 200 pessoas foram feridas em Curitiba, provocou a mudança do comando da secretaria estadual de Educação e abriu uma crise entre a cúpula da Polícia Militar e a secretaria de Segurança do Estado do governo Beto Richa. No início da tarde desta quarta-feira, o secretário da Educação, Fernando Xavier Ferreira, renunciou ao cargo. No mesmo dia, o comandante-geral da PM, Cesar Kogut, e outros quinze coronéis assinaram uma carta repudiando as declarações do secretário de Segurança, Fernando Francischini, que há dois dias deu uma declaração se eximindo da responsabilidade pela ação. Ele foi mantido no cargo pelo governador Beto Richa (PSDB), apesar da pressão popular pela sua saída e das especulações em torno de sua possível demissão”.
José Serra não sabe, mas existe uma nova geração de marxistas brasileiros muito competente e inclusive atuando na cultura-web. Mas Serra é muito preguiçoso e da antiga intelectual para apreciar o desenvolvimento da cultura digital brasileira. No entanto, trata-se ainda de um marxismo envergonhado. Este tem como causa o dominus do marxismo petista no poder no século XXI. Qualquer criança de dez anos sabe que o marxismo petista é parte da cultura política totalitária nacional. Esta postagem é dedicada ao marxismo althusseriano brasileiro na versão nicopoulantzasana.
A crise no Paraná é um a crise brasileira em escala estadual. Portanto, não podemos falar que é uma crise no microuniverso da política brasileira. No entanto, ela já provocou uma crise no aparelho de Estado estadual tendo como causa o choque da multidão como o aparelho policial. Isso o leitor pode acompanhar nos links acima. Como esta crise estadual se transforma em uma crise nacional como bem observou Cristiana Lôbo? Ela disse que é porque o PSDB é o principal partido nacional de oposição ao governo petista. E parou por aí. A crise se define pela dialética massas de classe média versus partidos (PSDB/PT) que são máquina de guerra (oligárquica ou totalitária) neoliberal. E o fato e FHC ser glorificado como “homem do ano de 2014” nos USA não muda uma vírgula deste fato político. O PSDB é uma máquina de guerra política articulada à lógica econômica do capitalismo oligárquico-totalitário brasileiro neoliberal. Agora, o PT também não está associado à esta lógica econômica?  Na última eleição para presidente, Aécio Neves (Never como o tio-avô) fez da política (do marketing político) uma ação estratégica que se constituiu em um poder de comunicação capaz de ocultar isso dos eleitores. O PSDB é um partido-máquina que articula a política a partir do lixo econômico neoliberal brasileiro. Economista e economicista desenvolvimentista, José Serra acha que isso é uma coisa muito natural e se cala sobre esse lixo histórico da política mundial. Vamos ao busílis da questão. A crise brasileira está se desenvolvendo para o perigoso epicentro de uma CRISE DE ESTADO. E isso pela dialética classe média versus partidos-máquina de guerra que detém o poder de Estado. A classe operária parece não aceitar que a classe média está na vanguarda das lutas contra o poder despótico brasileiro. E vira as costas para ela! A crise pode se transformar em uma crise entre as frações do bloco no poder e seus partidos na medida em que partidos-máquina operam com uma lógica capaz de sustentar uma autonomia absoluta deles em relação ao bloco no poder. Isso é uma patologia política inigualável, sem paralelo, na política mundial no que diz respeito a existência da democracia representativa normal. O problema é que no Brasil predomina uma democracia representativa despótica. O conceito de democracia despótica é de Aristóteles, se o Serra estiver interessado em debater como o PCPT! A lógica que sustenta a autonomia absoluta dos partidos-máquina em relação ao bloco no poder é a estrutura totalitária (da autonomia absoluta entre política e sociedade) que também define a relação Estado-sociedade no Brasil. Tal estrutura permite que os governadores do PSDB Beto Richa e Geral do Alckimin permaneçam no poder estadual. Last but not least, tal estrutura sustenta também Dilma Rousseff na presidência da República. O governo no Brasil não é feito por partidos políticos ou biografias de sujeitos políticos. Ele é realizado por máquinas de guerra políticas partidárias e por máquinas de guerra políticas biográficas. O resto dessa história deve ser contada pela nova geração de marxistas brasileiros. Avanti popolo!  A crise que desencadeou o golpe civil-militar de 1964 foi a crise do Estado brasileiro

MÁQUINA DE GUERRA BIOLÓGICA/ Aedes aegypti
 “Brasil pode ter surto de chikungunya, diz Chioro.  Ministro afirma que doença, também transmitida pelo Aedes aegypti, poderá se espalhar pelo País nos próximos 3 a 4 anos”.
Para uma parte da comunidade intelectual leiga, o  Aedes aegypti é um ser da natureza que não tem como finalidade fazer o mal à espécie humana. A lógica da natureza não se baseia em uma lógica da finalidade. Isso seria o fato natural. Assim, não faria sentido o pensamento de Marx sobre a relação dialética e materialista entre a história da natureza e a história da espécie humana. A espécie humana tem sido - como história universal - uma hipermáquina de guerra freudiana contra a natureza. Ela significa um uso de violência sem limite contra a natureza intensificada pela era da soberania da episteme política capitalista e, portanto, do  discurso do capitalista como dominus da história universal a partir do século XIX. Pasteur foi a máquina de guerra pensamento (científica moderna) que passou a tratar a relação da natureza (micróbio) com o corpo humano como guerra. Assim, a humanidade faz guerra contra a natureza e esta faz sua guerra contra a natureza humana. A guerra humana contra a natureza só se torna fáctica com o desenvolvimento da técnica, em geral, e, principalmente com o desenvolvimento da tecnologia moderna. Trata-se de uma guerra levada a cabo por uma máquina de guerra técnica, artificial: espécie humana A guerra da natureza contra o humano é uma guerra natural. Este era o maior sonho de Clausewitz: fazer os europeus entenderem que a guerra não era uma lógica natural da espécie humana. A vulgata do darwinismo não é uma ideologia que formula que a história da espécie humana é articulada pelo significante guerra natural?
 O Aedes aegypti não faz uma guerra natural à espécie humana? Ele não é, portanto, uma nanomáquina de guerra biológica na junção da história da natureza com a história da espécie humana. Ele é a máquina de guerra que não para mais de se inscrever na história da espécie humana. Como máquina de guerra biológica, ele é integrado ao inconsciente político Terra que torna possível a junção da história da natureza com a história da espécie humana. O que a epistem política científica moderna pode fazer quanto a isso? O Estado moderno –articulado pelo discurso científico – não aparece na guerra da natureza contra a espécie humana como uma panaceia universal? E a política como um modo de se articular no mundo-da-vida usando o discurso científico com a panaceia universal no combate à natureza? A política conta com o significante esquecimento como estruturador do mundo-da-vida. As baixas que a guerra da natureza faz à espécie humana são naturalizadas pela ideologia dominante como um fato natural digno de ser esquecido! A ideologia (Marx) ainda é o significante basal para se ler sobre o modo como a política representativa organiza cotidianamente a junção da história da natureza com a história da espécie humana no século XXI!

JULIA KRISTEVA/DO ALMOR
Julia é o signo da leveza de um pensamento psicanalítico. Para ela a psicanálise tira seu valor epistemológico e sua eficácia prática da afirmação de sua autonomia no campo da cultura (cultura em si, cultura intelectual e cultura política). Mas tal autonomia não é absoluta; ela é, por conseguinte, relativa. Infelizmente o freudismo rechaça tal lógica! A função do analista é ouvir todas as demandas para deslocá-las, esclarecê-las, dissolvê-las. Ela diz: “Uma demanda, ainda que intelectual, traduz um sofrimento. Sob o tema da nossa discussão, encontrando-se talvez o sofrimento do discurso religioso. Não existe discurso religioso - a não ser como discurso do mestre religioso que determina a forma do liame social: cultura política religiosa. A ideia de sofrimento psicanalítico é uma cópia do sofrimento da cultura política cristã. Continuando. O objeto da psicanálise é a palavra trocada – e os acidentes dessa troca – entre dois sujeitos em situação de transferência (amor) e contratransferência (ódio). Houve uma época lacaniana da cultura francesa, que os franceses acreditaram que o discurso do analista articulava a nova visão de mundo na história ocidental. O analisando estava na seguinte posição neste discurso do analista: “Eu sofro de um traumatismo arcaico, frequentemente sexual, profundamente uma ferida narcísica, que revivo deslocando para a pessoa do analista”. Hic e nuc, o agente todo poderoso (pai ou mãe) do meu ser ou mal-ser é ele. Esta dramaturgia de um mundo invisível para os mortais comuns opera o sentido profundo da palavra do “paciente”, do “cliente romano”, e coloca o analista no lugar do sujeito suposto saber da cultura. Isso atribui ao psicanalista o poder carismático similar ao do mago, do profeta, do médico da antiguidade e do guerreiro-príncipe eleito. Esta confiança depositada nele implica sobretudo o amor que tenho por ele e que presumo nele por mim. Isso é a ideia do indivíduo carismático da sociologia weberiana e do carisma como artefato simbólico. Mas os psicanalistas nunca leram Weber, e isso inclui a maravilhosa Julia kristeva. E se os psicanalistas parassem de ver e viver o campo freudiano como um campo disciplinar absolutamente autônomo em relação aos outros campos de pensamento?  O que aconteceria com a psicanálise e a “profissão” de psicanalista? Desapareceria?
A experiência analítica é a reconstituição da confiança do cliente romano na sua capacidade de amar pela transferência, ou seja, pelo almor =(alma+amor) que terá pelo analista. Assim, o discurso do analista é o discurso almoroso moderno, um discurso transferencial como nova “história de almor”. Tal discurso almoroso tomaria o lugar do almor cortês (fenômeno basal na construção do mundo moderno) inclusive sendo um discurso dirigido para lidar com a significância (“semiótica”) do infans:  um pré-sujeito. Julia acredita que essa criança vive em um estado de psicose catastrófica como pré-sujeito. Esse é o erro mais banal do campo freudiano, a saber: estabelecer uma identidade absoluta ente psicose e loucura. Isso é um cavalo de batalha da episteme freudiana. Com efeito, psicose e loucura mantém uma autonomia relativa no conceito contratotalitário do discurso do físico. Como sujeito suposto saber, o discurso do físico jamais sustentara que um infans é possuído por qualquer psicose. Ele é cuidadoso a respeito do estrago que o discurso pode provocar na criança e na família desta.  Ele sustenta que essa criança vive em um estado de loucura permanente que o discurso do mestre capturará na relação criança versus das Ding (Mãe, Coisa, Urstaat) da microculturapolítica tribalista totalitária: família patriarcal e seus simulacros. Mas o discurso do físico trabalha na junção do inconsciente freudiano com o inconsciente nietzschiano ou inconsciente político. O discurso do físico não é um jogo no campo freudiano, ele é a transformação do freudismo arcaico em física freudiana! Ele já seria o campo lacaniano in nuce!