domingo, 18 de setembro de 2016

MEMÓRIAS BRUTAS OU BRUTAIS?

I

Estou fazendo anotações para um livro de memórias. Não se trata de uma autobiografia.
As lembranças que tenho da minha vida universitária ainda pareciam uma espécie de coisa-em-si kantiana (incognoscível). Até a invenção da ciência hobbesiana gramatical da política.
Ao contrário de hoje, onde faço um trabalho de crítica aberta à atores hobbesianos públicas do mundo do poder em geral, na minha vida na universidade, mantinha esta veia crítica adormecida quanto ao trabalho dos professores, gestores e da burocracia em geral.
Um episódio revelador da minha vida universitária se passou no governo FHC.
Um aluno (muito inteligente, disciplinado, mais velhos que a média dos alunos, de uma família da baixada fluminense de classe média bem estruturada, protestante) entrou na minha sala de aula (a aula não havia começado) e fez um relato de filme de ficção de terror no qual eu era a personagem principal.
Os professores queriam que os alunos começassem um movimento para a minha demissão. Hoje, estou aposentado.
O fato: no belo pátio do IFCS, uma multidão de professores (dos departamentos de ciências sociais, história e filosofia) se dirigia a uma multidão de alunos me atacando moralmente. Como eu era um professor competente e “caxias”, eles não tinham como me atacar nesse ponto de força. Esta multidão de professores era movida por um poder moral caipira-urbano da sociedade de significantes neurótica carioca. Havia professores judeu, negro, mulher, gay, que depois se tornariam atores hobbesianos importantes no movimento multiculturalista brasileiro. Alguns deles se destacariam no multiculturalismo bolivariano.    
Eu tinha acabado de conquistar meu doutorado em São Paulo, pois, não pude me candidatar ao IUPERJ. Este conceituado instituto de pós-graduação em ciência política do Rio tinha uma forte ligação com os professores do IFCS , possuídos por uma poderosa e imensa aversão sexual a mim. Eis a essência da minha vida universitária.
O professor Charles me dizia que eu só podia ser budista para suportar a tamanha aversão sexual permanentemente transformada em ataques verdadeiramente violentos (violência simbólica sem limite) cotidianos a mim.
Após, publicar meu primeiro livro, a professora Beatriz me disse que eu ia acabar ganhando o Prêmio Nobel. Não era uma blague, ela falou seriamente. Ela é estrangeira.
Uma interrogação que me interroga hoje é a seguinte: porque você suportou durante décadas uma miserável vida universitária?
A pequena-burguesia professoral da universidade pública possuía uma visão-de-mundo brutal da vida universitária. Esta pequena-burguesia era apenas um efeito do TRANS-SUJEITO MILITUM PERVERSUS que articulou a vida brasileira na era do Estado gramatical militar e continuou vivo na era Sarney e além. Tal pequena-burguesia era uma classe simbólica condensada em máquina de guerra psicopática militum.
Se não existisse a estabilidade do funcionalismo público, minha vida universitária teria durado no máximo 6 meses.
Não poderia ter sido uma bênção para mim?
Atenção! Sempre fui um "enjeitado" (Nietzsche) na universidade pública.
A vida biográfica do sujeito é um efeito do trans-sujeito que faz o laço social institucional no mundo-da-vida. As instituições civis, civilis, da classe média do Rio e de São Paulo (o professor da USP Octávio Ianni disse para mim: 'se correr o bicho pega, se ficar o bicho come'/ 'carcará pega pra matar e come' = máquina de guerra psicopática militum naturalis) da era Sarney eram um efeito ainda do trans-sujeito militum. Uma parte dessa classe média era funcionária das corporações estatais da era do capital gramatical de Estado militar. Ela era a gramatica socialis da Petrobrás, Eletrobras, enfim, de um sistema industrial estatal com mais de 400 empresas.  Ela se considerava a elite aristocrática acima do restante da classe média plebeia.
A universidade pública era vista por tal aristocracia média como uma plebe de professores, por causa dos baixos salários e condições de trabalho insalubres. Tal classe média carioca aristocrática possuía uma visão-brutal-militarizada de mundo condensada nas famílias, clubes, casas de veraneio e turismo nos EUA, colégios e universidades. ela 
Foi nessa atmosfera brutal da classe média carioca que Fernando Collor de Mello foi educado. E ele levou para a presidência do Regime 1988, no final da era autocrática civil, tal visão-brutal-militarizada-de-mundo. Como Collor sabia na pele o que era tal visão-de-mundo, um dos seus primeiros atos de seu governo foi dissolver o SNI (Serviço Nacional de Informações).
Como FHC reconstruiu o SNI em 1999, fiquei com a indelével impressão em minha alma que a classe média paulista também era um efeito do trans-sujeito militum. Um gozo militum possuía a pequena-burguesia paulista tanto como a carioca.
A classe média bolivariana da era Lula (José Genuíno a frente) aperfeiçoou o SNI. Tratava-se da classe média espalhada por todo o país. A visão-de-mundo-militarizada era uma visão-de-mundo nacional de classe média.
Não devemos esquecer que quem governou o país na era militar foi a classe média armada institucionalmente: funcionários públicos armados.
A pergunta que não quer calar em mim é - a classe média de hoje continua sendo um efeito do trans-sujeito militum da era do brutal Estado militar?
O jornalismo industrial é feito por jornalistas da classe media carioca e paulista. Isso explicaria sua brutal visão-de-mundo militarizada do Brasil e do mundo, principalmente, na televisão? O jornalismo de classe média eletrônico é apenas um efeito tardio do trans-sujeito militum perverso?

II

Vou sugerir uma hipótese sociológica para Brasílio transformar em livro.
A era da democracia populista é uma luta entre a sociedade oligárquica e a sociedade de classe média em torno do objeto poder político nacional. JK (Juscelino) e JQ (Jânio) são o sinal de que a classe média urbana assaltariam o poder nacional.
Isso aconteceu com a revolução militar da classe média armada e civil do Rio, Belo Horizonte e São Paulo. Mas o líder dela foi o general da classe média do Ceará Castelo Branco. Depois vei o general Costa e Silva, a abjeta junta militar, Médice, Geisel e Figueiredo. Todos pertencentes à classe média urbana militar.
Fim da era militar. Veio Sarney da classe média do Maranhão, que enriqueceu com a política. Mas sua visão-de-mundo sempre foi a da classe média brasileira. Ele era possuído por um "complexo de inferioridade" - jamais vencido - por não pertencer à classe média de São Paulo.
Depois veio Collor educado pela classe média do Rio. De uma família da oligarquia brasileira, Collor era possuído pela fome do ouro da classe média do sudeste, cujo desejo obsessivo é pertencer à sociedade dos ricos associados de São Paulo.
Depois, veio o político da classe média mineira Itamar Franco que pôs no comando da economia um professor da classe média paulista - o príncipe da sociologia consagrado nos EUA FHC - de uma família de ilustres e revolucionários generais.
Veio Lula. O ciclo da política dominado pela classe média teria acabado?
Lula veio do sertão de pernambucano. Mas em São Paulo, jovem ainda se integrou à classe média industrial (aristocracia da classe operária). Além disso, ele governava com o PT dominado pelos quadros da classe média como tal urbana paulista e carioca em aliança com a classe média industrial.
Veio Dilma. Não era da classe política, era um quadro da burocracia de classe média governamental do Rio Grande do sul.
Com o governo Temer, o ciclo do domínio da política pela classe média se encerrou? Isso está em aberto para Brasílio investigar e responder urgentemente!
Não está claro que foi a classe média urbana das grandes cidades que pôs o Brasil na atual situação de sinuca de bico?
Como e por que a burguesia brasileira (paulista) se deixou docilmente dominar pela classe média? Hoje, a classe média jornalística é a porta-voz do empresariado paulista.
Isso não é um signo auspicioso!

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O DUPLO ESTADO NO BRASIL


Reportagem do El Pais levou o Centro de Comunicação Social do Exército a informar neste sábado que apura as circunstâncias em que um capitão do exército se infiltrou em uma parcela de manifestantes presos no último domingo durante manifestações contra o governo Michel Temer e a favor de eleições diretas para presidente na Avenida Paulista.
Reportagem do site do jornal espanhol El País identificou o capitão do Exército Willian Pina Botelho como a máquina psicopática que se passou por militante antigoverno, com nome falso, e convenceu um grupo de manifestantes a se deslocarem para um local distante da manifestação, onde foram presos em ação da Polícia Militar (PM) antes da realização do protesto. Vejam quantos agentes dos estados (e instituições estatais) estão envolvidos no evento. Foi uma ação planejada taticamente (racionalmente) pelo comando militar associado ao Exército com a PM paulista do governo do PSDB. Não sejamos ingênuos e palermas.Basta de patetice e imbecilidade!
A ação do capitão Botelho significa a ex-sistência do duplo Estado no Brasil. Temos um Estado gramatical jurídico e um Estado heteróclito (sem gramatica jurídica). Este último Estado sem gramática está ligado a uma memória historial política da era do regime militar. Seu centro tático original foi o SNI, criação do general Golbery do Couto e Silva, da fração político-militar Geisel. Ele foi parte do planejamento da derrubada - por via de uma revolução militar-udenista - do governo democrático populista revolucionário clássico de João Goulart. O duplo Estado foi o efeito visível de tal revolução militar que se autodesenvolveu na conjuntura do choque militar da esquerda com a ditadura militar.
Havia um Estado militar jurídico e um Estado militar terrorista. Trata-se do Estado como uma máquina de guerra paramilitar terrorista para aniquilar a esquerda guerrilheira rural e terrorista urbana. Trata-se de um aparelho burocrático, pois, seus agentes são assalariados do Estado e agem por uma hierarquia de comando militar que planeja as ações dos agentes de campo. A classe governante viu, finalmente, a necessidade sensível de aperfeiçoá-lo como uma reação ao terrorismo urbano no sequestro do embaixador americano. Gabeira pode contar essa história detalhadamente.
Hoje, o Estado legal dispersa, esgota todo a sua energia no combate à corrupção política da sociedade dos ricos associados heteróclita da era lula. Ele prefere ignorar que tal sociedade é a causa da ex-sistência do Estado heteróclito, hoje. Os agentes da cúpula do Estado legal, até agora, se beneficiaram da semblância de que o sistema de segurança que Fernando Collor dissolveu e FHC reconstruiu é parte da tela gramatical jurídica estatal.
A cúpula do Estado estava confortavelmente, até agora, se beneficiando da semblância gerada pela cultura do simulacro de simulação de que o Estado legal é apenas um simulacro de Estado quanto se trata de enfrentar a verdadeira realidade dos fatos. Um poder policial/jurídico de faz de conta quando se trata de enfrentar a contradição principal da política brasileira: a contradição entre o Estado legal e o Estado ilegal.
O Estado heteróclito é uma pratica política ditatorial e sua ex-sistência significa a condição de possibilidade de instauração de uma ditadura heteróclita no século XXI brasileiro.
FHC fez uma lei do Estado de segurança, em sua essência, heteróclito para vigiar e combater a multidão bolivariana petista. Na era Lula, tal Estado se autodesenvolveu e foi aperfeiçoado para ser usado no prolongamento da era bolivariana petista. Trata-se da história natural da política, da política natural. Esta é um efeito da dominação da sociedade dos ricos associados heteróclita. Assim, criou-se o pacto tácito de que tal Estado poderia ser usado na luta interna (guerra política) da classe governante e, principalmente, na guerra política contra a multidão como ator hobbesiano de rua.
A multidão 2013 levou a classe governante a certeza de que o Estado heteróclito devia ser aperfeiçoado. Assim, Dilma Roussef teceu a lei “antiterrorista”. E fez cair a máscara do PT herói da democracia 1988.
Toda a campanha do jornalismo industrial sobre terrorismo islâmico no Brasil tem como finalidade tática demonstrar a necessidade historial, no momento, do Estado de Segurança Heteróclito. Necessidade de legitimar para a multidão e a classe governante liberal (classe política e classe simbólica) a ex-sistência de uma máquina de guerra psicopática de espionagem e terrorismo nas grandes cidades e no campo.
O estado de guerra lumpesinal é a evidência mais palpável de que o país precisa de um sistema de segurança nacional nas grandes cidades, médias e pequenas e no mundo rural. O homo lumpesinalis (trans-sujeito lumpesinalis caipira urbano)  é uma força que faz pendant com o Estado heteróclito. Por isso, este não se envolve no combate às máquinas de guerra lumpesinais.
O governo, o Congresso e o STF precisam chegar a um consenso que consiste na necessidade de dissolver o sistema de segurança SNI criado por FHC, por lei, em 1999. Trata-se e um Estado heteróclito constitucional. O desejo/ethos punitivo do juiz democrático, do policial legal, do jornalista honesto deve se associar à classe governante (governo e Congresso) para desmanchar o vasto aparelho assalariado do Estado heteróclito da sociedade dos ricos associados heteróclita. Infelizmente, não se pode esperar nada do jornalismo industrial brasileiro!
No lugar da criminosa, obscena e repugnante Okhrana brasileira, a classe governante deve erguer um sistema de segurança nacional civis, civilis. Tal sistema não deve ser usado na luta interna da classe dominante nem na luta desta contra a multidão dos netos. Sua finalidade deve consistir em garantir a ordem pública como dispositivo constitucional de segurança da cidadania. Ele deve ser um dispositivo de saber/poder do Estado de direito.
O Estado heteróclito não tem gramática, mas, o jornalismo do engenho-de-cana-açúcar quer transformá-lo em uma personagem dramática da tela gramatical informacionalis da sociedade do espetáculo. Dispensa uma energia enorme para transformá-lo em uma narrativa gramatical legítima da história atual do país, inclusive esteticamente. É a estética do juízo sujo da sociedade dos ricos associados heteróclita do Sudeste do país.
Trata-se do jornalismo como vanguarda militar industrial da sociedade dos ricos associados heteróclita. O jornalismo industrial está entrelaçado com a sociedade dos ricos associados, heteroclitamente, por interesses organicamente econômicos poderosos. A publicidade na televisão, jornais indústrias de papel e revista industriais paulistas constituem apenas a ponta do iceberg dessas redes de interesses econômicos heteróclitas.
Esqueçam tudo que aprenderam sobre o domínio da sociedade oligárquica no Brasil. Este domínio é finito, e foi substituído, na era Lula, pela dominação mais poderosa, sútil, plasticamente estético/eletrônica e eficiente faticamente da sociedade dos ricos associados heteróclita do Sudeste.
Estou escrevendo sobre a realidade dos fatos, não se trata de um texto acadêmico para os leitores universitários tomarem como mais uma contribuição para o desmoralizado discurso universitário que tem medo da própria sombra.
Não trabalho em qualquer universidade brasileira pública ou privada. Acabou a hora da recreação acadêmica!

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

DILMA E O ESTADO

02/09/2016

Na juventude Dilma foi terrorista urbana da esquerda na guerra política contra o Estado militar. Sua subjetividade pública começou a constituir-se em uma prática política natural autoritária. No Estado civil, Dilma fez uma carreira como funcionária administrativa “política” (funcionária weberiana). Sine ira et studio (“sem ódio e favor”): é assim que o funcionário deve exercer seu cargo, isto é, não deve fazer exatamente aquilo que os políticos , tanto o líder quanto seu séquito, têm de fazer sempre e necessariamente: lutar, pois a parcialidade a luta e a paixão – ira et studium – constituem a natureza do trans-sujeito político.

A subjetividade pública do funcionário weberiano se define pela honra dele na capacidade de - quando a autoridade superior insiste numa ordem que lhe pareça errônea - executá-la, apesar de suas objeções, sob a responsabilidade do mandante: minuciosamente, como se corresponde-se à sua própria convicção. Sem esta disciplina ética, no sentido mais elevado da palavra, e sem esta abnegação, o trans-sujeito bolivariano entraria em curto-circuito. Como efeito do trans-sujeito weberiano, a história autoritária da subjetividade pública de Dilma encantou o presidente Lula. Dilma foi ministro de Estado e, depois, chefe da casa-civil.

Lula fez de Dilma presidente da República. Ele não contava que Dilma se articulasse como sujeito esquizo (funcionário weberiano e político). Um outro lado da subjetividade pública de Dilma aflorou: a de líder político. Ao contrário do funcionário weberiano, a honra do líder político (do estadista dirigente) consiste na exclusiva responsabilidade própria de tudo o que faz, responsabilidade que não pode nem deve recusar ou passar para outra pessoa. O funcionário weberiano é um mau político, o político um mau funcionário.

Gilberto Freyre define o sujeito esquizo como um equilíbrio de antagonismo. No caso de Dilma, um equilíbrio de antagonismo entre a subjetividade administrativa (do funcionário weberiano) e a subjetividade política da presidente. A Dilma honesta é a semblância de si da subjetividade administrativa. A Dilma que destruiu a Petrobrás é um efeito da subjetividade política que é, por sua vez, um efeito do trans-sujeito oligárquico brasileiro. Este se articula pelo privatismo, ou seja, por um desejo sexual ilimitado de apropriação da riqueza pública.

No poder nacional, o PT foi atraído subjetivamente pelo atractor trans-sujeito oligárquico. Após o 31 de agosto de 2016, dia do impeachment de Dilma, surge a questão se o PT é parcela da oligarquia brasileira ou não! O próprio Diabo – RSIcpe [Real/Simbólico/Imaginário/cultura política econômica) mundial -  quer saber!     

Dilma foi julgada no impeachment (pelo Senado) como um sujeito esquizo? Sim!

A separação entre a cassação e a inabilitação (dois julgamentos, duas sentenças) mostrou que o Senado sabia que se tratava da subjetividade esquiza.  O juiz do STF presidente do impeachment, interpretou o direito que regula o impeachment como possibilitando dois julgamentos. Como presidente do impeachment, ele decidiu por um dos lados da interpretação do direito. Ele decidiu acatar a interpretação do PT da separação em duas sentenças.

O sujeito esquizo é um fenômeno da razão gramatical dialética!

Condensado no Senado, o Estado gramatical dialético se constituiu como uma vontade de poder (e desejo sexual)  na sua revelação, quase sagrada, com um gesto de misericórdia. 

O PT argumentou pifiamente em temos jurídicos e foi suplantado pelo situacionismo. Quando já estava convencido de que a situação (contrária a separação) estava com a razão lógica (foram suas palavras para Cássio Cunha Lima), os juízes secretários do presidente introduziram o problema da moral política do Estado do livro Leviatã,  da física hobbesiana.  

Repousa no Leviatã uma máquina de guerra de pensamento estelar. No momento da decisão do presidente Enrique Ricardo Lewandowski , ela apareceu como uma nave da máquina de guerra vindo das estrelas dirigida pela razão gramatical dialética. Assim, o Estado transgramatical suprassumiu em um instante o Estado-lógico, o Estado da lógica do significante da sociedade de significantes do direito.

Dilma Rousseff foi cassada, mas não foi inabilitada. Na cultura política econômica, tal evento significava conciliação da situação com a oposição petista. Uma fração situacionista se formou como efeito dessa situação real. Para ela a inabilitação era  o real impossível de ser suportado (definição clássica do real lacaniano). Então, ela se articulou pela moral política da justiça oligárquica (ajudar o amigo, prejudicar os outros). A questão candente era esta: O PT era parcela da oligarquia brasileira ou não. O Diabo desceu sobre o  Senado para assistir o desfecho da história!

Presidente do Senado (PMDB), Renan Calheiros disse sim. Do DEM (partido com raízes no Estado militar), o caipira-urbano (chefe político do capitalismo de commodities) Ronaldo Caído mostrou toda a sua aversão sexual (sem pudor) à decisão de metabolizar o PT como parte da oligarquia brasileira. Ele disse que a decisão do Senado deveria varrer do mapa político o “populismo bolivariano”.

Caiado sentia a necessidade da destruição pessoal de Dilma como uma condição irrevogável para pôr um fim ao trans-sujeito bolivariano na América Latina. Ao contrário de Renan, Caiado vive intencionalmente a política como política natural (avesso da política racional). Trata-se da política não como luta política, mas como guerra política. E a guerra se define pela transdialética amigo/inimigo. E não há outra solução na guerra política absoluta que não seja a destruição total do inimigo.

Ninguém que conheça, por alto, a biografia subjetiva pública de Ronaldo Caiado pode achar que se trata de semblância de si do ator. Ao contrário, Caiado tem a sinceridade e a busca da verdade política como elementos indissociáveis de sua biografia subjetiva pública. Quanto ao resto da liderança da fração situacionista (Aécio Neves, Cássio Cunha Lima, Aloysio Nunes) só a investigação historial deste acontecimento seminal da política brasileira poderá chegar à realidade dos fatos. É inútil esperar que o americanismo já desaparecido da vida intelectual dos EUA venha a fazer a interpretação do impeachment.  

A propósito, só a universidade de escol (pública e privada) poderá dar início a transformação de tal evento em memória cultural política econômica. Este é o momento do Estado se levar a sério e construir um sistema universitário de primeira linha, e, portanto, não de destruir a universidade pública!

O PT pediu misericórdia para Dilma e o trans-sujeito que é a linha de luz (e de força) do impeachment a concedeu. Como Dilma é um ser da política natural (uma máquina de guerra política), ela metabolizou o ato de misericórdia do Senado como fraqueza do governo Temer. Isso deu um novo elã, gerou uma nova energia patológica narcísica que se constituiu como motor da guerra política. Dilma protocolou no STF um pedido de anulação de sua cassação e a fração liderada por Caiado um pedido anulação da recusa à inabilitação.         

O ato de misericórdia do Senado jogou para as calendas gregas a moral política oligárquica. É claro que há uma pequena fração ligada ao deputado Eduardo Cunha que viu aí a oportunidade de lançar o Congresso em uma confusão, em um estado de perturbação oportunista institucional, tecendo a arma sofística do direito como jurisprudência tupiniquim.

A fração liderada por Eduardo Cunha vive intencionalmente a política como algo associada à biografia subjetiva de Eduardo Cunha. Um outro problema é a dívida do governo permanente Michel Temer com Eduardo. Como presidente da Câmara de deputados, Eduardo aceitou o pedido de impeachment de Janaína Paschoal e do Duque (o teórico do direito constitucional Miguel Reali Jr.).

Ao contrário do que imagina e deseja sexualmente o juiz Gilmar Mendes, a política não é o jardim,-de-infância do direito modelado pela lógica do significante da sociedade dos significantes neurótica absolutista.

A Constituição 1988 não é uma Constituição lógica, ela não foi tecida pela razão lógica do direito, que é a semblância de si da comunidade jurídica brasileira. Quem pediu que uma nave estelar da física hobbesiana invadisse o território trans-sujeito do direito foram os próprios juízes do STF. A física é uma máquina de pensamento de realização da satisfação de desejo sexual do trans-sujeito nobilitante. Ela crê que isso é a FELICIDADE subjetiva aristocrática.    

A Constituição de 1988 é uma língua técnica transliteraria constitucional. Ela é uma invenção da poésies política da Assembleia Nacional Constituinte como suprassunção, ou da razão lógica oligárquica (2+2= 5 para os amigos na poesia de Caetano Veloso sobre a cultura política econômica brasileira), ou da razão do direito pilotado pela lógica do significante do discurso do direito.

A OAB é o senhor (magister ludi) da letra da Constituição reprovando o Senado ou o Senado botou em prática a letra da Constituição desestabilizando a comunidade jurídica como trans-sujeito jardim-de-infância do direito constitucional?

Gilmar Mendes não metabolizou que estamos finalmente deixando para trás o jardim-de-infância do direito constitucional (direito que tem como trans-sujeito a língua da Constituição 1988), onde ele é um dos mais brilhantes professores. A Constituição brasileira é a invenção de uma máquina de guerra de pensamento poíetico/gramatical – a Assembleia Nacional Constituinte de Mário Covas. Como ela não foi estudada como razão gramatical dialética, não sei quem são ou outros atores/poetas que a inventaram.

Há um antagonismo entre a razão gramatical dialética da constituição 1988 e a razão lógica jurídica soberana na comunidade do direito.

O ato de misericórdia do Leviatã funcionou como uma cornucópia de vozes competentes e autorizadas que desejam dizer qual deve ser o Estado brasileiro do século XXI. Ele será o Estado-lógico absolutista da comunidade do direito ou o Estado transgramatical dialético da física hobbesiana historial?