sexta-feira, 2 de setembro de 2016

DILMA E O ESTADO

02/09/2016

Na juventude Dilma foi terrorista urbana da esquerda na guerra política contra o Estado militar. Sua subjetividade pública começou a constituir-se em uma prática política natural autoritária. No Estado civil, Dilma fez uma carreira como funcionária administrativa “política” (funcionária weberiana). Sine ira et studio (“sem ódio e favor”): é assim que o funcionário deve exercer seu cargo, isto é, não deve fazer exatamente aquilo que os políticos , tanto o líder quanto seu séquito, têm de fazer sempre e necessariamente: lutar, pois a parcialidade a luta e a paixão – ira et studium – constituem a natureza do trans-sujeito político.

A subjetividade pública do funcionário weberiano se define pela honra dele na capacidade de - quando a autoridade superior insiste numa ordem que lhe pareça errônea - executá-la, apesar de suas objeções, sob a responsabilidade do mandante: minuciosamente, como se corresponde-se à sua própria convicção. Sem esta disciplina ética, no sentido mais elevado da palavra, e sem esta abnegação, o trans-sujeito bolivariano entraria em curto-circuito. Como efeito do trans-sujeito weberiano, a história autoritária da subjetividade pública de Dilma encantou o presidente Lula. Dilma foi ministro de Estado e, depois, chefe da casa-civil.

Lula fez de Dilma presidente da República. Ele não contava que Dilma se articulasse como sujeito esquizo (funcionário weberiano e político). Um outro lado da subjetividade pública de Dilma aflorou: a de líder político. Ao contrário do funcionário weberiano, a honra do líder político (do estadista dirigente) consiste na exclusiva responsabilidade própria de tudo o que faz, responsabilidade que não pode nem deve recusar ou passar para outra pessoa. O funcionário weberiano é um mau político, o político um mau funcionário.

Gilberto Freyre define o sujeito esquizo como um equilíbrio de antagonismo. No caso de Dilma, um equilíbrio de antagonismo entre a subjetividade administrativa (do funcionário weberiano) e a subjetividade política da presidente. A Dilma honesta é a semblância de si da subjetividade administrativa. A Dilma que destruiu a Petrobrás é um efeito da subjetividade política que é, por sua vez, um efeito do trans-sujeito oligárquico brasileiro. Este se articula pelo privatismo, ou seja, por um desejo sexual ilimitado de apropriação da riqueza pública.

No poder nacional, o PT foi atraído subjetivamente pelo atractor trans-sujeito oligárquico. Após o 31 de agosto de 2016, dia do impeachment de Dilma, surge a questão se o PT é parcela da oligarquia brasileira ou não! O próprio Diabo – RSIcpe [Real/Simbólico/Imaginário/cultura política econômica) mundial -  quer saber!     

Dilma foi julgada no impeachment (pelo Senado) como um sujeito esquizo? Sim!

A separação entre a cassação e a inabilitação (dois julgamentos, duas sentenças) mostrou que o Senado sabia que se tratava da subjetividade esquiza.  O juiz do STF presidente do impeachment, interpretou o direito que regula o impeachment como possibilitando dois julgamentos. Como presidente do impeachment, ele decidiu por um dos lados da interpretação do direito. Ele decidiu acatar a interpretação do PT da separação em duas sentenças.

O sujeito esquizo é um fenômeno da razão gramatical dialética!

Condensado no Senado, o Estado gramatical dialético se constituiu como uma vontade de poder (e desejo sexual)  na sua revelação, quase sagrada, com um gesto de misericórdia. 

O PT argumentou pifiamente em temos jurídicos e foi suplantado pelo situacionismo. Quando já estava convencido de que a situação (contrária a separação) estava com a razão lógica (foram suas palavras para Cássio Cunha Lima), os juízes secretários do presidente introduziram o problema da moral política do Estado do livro Leviatã,  da física hobbesiana.  

Repousa no Leviatã uma máquina de guerra de pensamento estelar. No momento da decisão do presidente Enrique Ricardo Lewandowski , ela apareceu como uma nave da máquina de guerra vindo das estrelas dirigida pela razão gramatical dialética. Assim, o Estado transgramatical suprassumiu em um instante o Estado-lógico, o Estado da lógica do significante da sociedade de significantes do direito.

Dilma Rousseff foi cassada, mas não foi inabilitada. Na cultura política econômica, tal evento significava conciliação da situação com a oposição petista. Uma fração situacionista se formou como efeito dessa situação real. Para ela a inabilitação era  o real impossível de ser suportado (definição clássica do real lacaniano). Então, ela se articulou pela moral política da justiça oligárquica (ajudar o amigo, prejudicar os outros). A questão candente era esta: O PT era parcela da oligarquia brasileira ou não. O Diabo desceu sobre o  Senado para assistir o desfecho da história!

Presidente do Senado (PMDB), Renan Calheiros disse sim. Do DEM (partido com raízes no Estado militar), o caipira-urbano (chefe político do capitalismo de commodities) Ronaldo Caído mostrou toda a sua aversão sexual (sem pudor) à decisão de metabolizar o PT como parte da oligarquia brasileira. Ele disse que a decisão do Senado deveria varrer do mapa político o “populismo bolivariano”.

Caiado sentia a necessidade da destruição pessoal de Dilma como uma condição irrevogável para pôr um fim ao trans-sujeito bolivariano na América Latina. Ao contrário de Renan, Caiado vive intencionalmente a política como política natural (avesso da política racional). Trata-se da política não como luta política, mas como guerra política. E a guerra se define pela transdialética amigo/inimigo. E não há outra solução na guerra política absoluta que não seja a destruição total do inimigo.

Ninguém que conheça, por alto, a biografia subjetiva pública de Ronaldo Caiado pode achar que se trata de semblância de si do ator. Ao contrário, Caiado tem a sinceridade e a busca da verdade política como elementos indissociáveis de sua biografia subjetiva pública. Quanto ao resto da liderança da fração situacionista (Aécio Neves, Cássio Cunha Lima, Aloysio Nunes) só a investigação historial deste acontecimento seminal da política brasileira poderá chegar à realidade dos fatos. É inútil esperar que o americanismo já desaparecido da vida intelectual dos EUA venha a fazer a interpretação do impeachment.  

A propósito, só a universidade de escol (pública e privada) poderá dar início a transformação de tal evento em memória cultural política econômica. Este é o momento do Estado se levar a sério e construir um sistema universitário de primeira linha, e, portanto, não de destruir a universidade pública!

O PT pediu misericórdia para Dilma e o trans-sujeito que é a linha de luz (e de força) do impeachment a concedeu. Como Dilma é um ser da política natural (uma máquina de guerra política), ela metabolizou o ato de misericórdia do Senado como fraqueza do governo Temer. Isso deu um novo elã, gerou uma nova energia patológica narcísica que se constituiu como motor da guerra política. Dilma protocolou no STF um pedido de anulação de sua cassação e a fração liderada por Caiado um pedido anulação da recusa à inabilitação.         

O ato de misericórdia do Senado jogou para as calendas gregas a moral política oligárquica. É claro que há uma pequena fração ligada ao deputado Eduardo Cunha que viu aí a oportunidade de lançar o Congresso em uma confusão, em um estado de perturbação oportunista institucional, tecendo a arma sofística do direito como jurisprudência tupiniquim.

A fração liderada por Eduardo Cunha vive intencionalmente a política como algo associada à biografia subjetiva de Eduardo Cunha. Um outro problema é a dívida do governo permanente Michel Temer com Eduardo. Como presidente da Câmara de deputados, Eduardo aceitou o pedido de impeachment de Janaína Paschoal e do Duque (o teórico do direito constitucional Miguel Reali Jr.).

Ao contrário do que imagina e deseja sexualmente o juiz Gilmar Mendes, a política não é o jardim,-de-infância do direito modelado pela lógica do significante da sociedade dos significantes neurótica absolutista.

A Constituição 1988 não é uma Constituição lógica, ela não foi tecida pela razão lógica do direito, que é a semblância de si da comunidade jurídica brasileira. Quem pediu que uma nave estelar da física hobbesiana invadisse o território trans-sujeito do direito foram os próprios juízes do STF. A física é uma máquina de pensamento de realização da satisfação de desejo sexual do trans-sujeito nobilitante. Ela crê que isso é a FELICIDADE subjetiva aristocrática.    

A Constituição de 1988 é uma língua técnica transliteraria constitucional. Ela é uma invenção da poésies política da Assembleia Nacional Constituinte como suprassunção, ou da razão lógica oligárquica (2+2= 5 para os amigos na poesia de Caetano Veloso sobre a cultura política econômica brasileira), ou da razão do direito pilotado pela lógica do significante do discurso do direito.

A OAB é o senhor (magister ludi) da letra da Constituição reprovando o Senado ou o Senado botou em prática a letra da Constituição desestabilizando a comunidade jurídica como trans-sujeito jardim-de-infância do direito constitucional?

Gilmar Mendes não metabolizou que estamos finalmente deixando para trás o jardim-de-infância do direito constitucional (direito que tem como trans-sujeito a língua da Constituição 1988), onde ele é um dos mais brilhantes professores. A Constituição brasileira é a invenção de uma máquina de guerra de pensamento poíetico/gramatical – a Assembleia Nacional Constituinte de Mário Covas. Como ela não foi estudada como razão gramatical dialética, não sei quem são ou outros atores/poetas que a inventaram.

Há um antagonismo entre a razão gramatical dialética da constituição 1988 e a razão lógica jurídica soberana na comunidade do direito.

O ato de misericórdia do Leviatã funcionou como uma cornucópia de vozes competentes e autorizadas que desejam dizer qual deve ser o Estado brasileiro do século XXI. Ele será o Estado-lógico absolutista da comunidade do direito ou o Estado transgramatical dialético da física hobbesiana historial?        
                       
                                                

              

Nenhum comentário:

Postar um comentário