quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O DUPLO ESTADO NO BRASIL


Reportagem do El Pais levou o Centro de Comunicação Social do Exército a informar neste sábado que apura as circunstâncias em que um capitão do exército se infiltrou em uma parcela de manifestantes presos no último domingo durante manifestações contra o governo Michel Temer e a favor de eleições diretas para presidente na Avenida Paulista.
Reportagem do site do jornal espanhol El País identificou o capitão do Exército Willian Pina Botelho como a máquina psicopática que se passou por militante antigoverno, com nome falso, e convenceu um grupo de manifestantes a se deslocarem para um local distante da manifestação, onde foram presos em ação da Polícia Militar (PM) antes da realização do protesto. Vejam quantos agentes dos estados (e instituições estatais) estão envolvidos no evento. Foi uma ação planejada taticamente (racionalmente) pelo comando militar associado ao Exército com a PM paulista do governo do PSDB. Não sejamos ingênuos e palermas.Basta de patetice e imbecilidade!
A ação do capitão Botelho significa a ex-sistência do duplo Estado no Brasil. Temos um Estado gramatical jurídico e um Estado heteróclito (sem gramatica jurídica). Este último Estado sem gramática está ligado a uma memória historial política da era do regime militar. Seu centro tático original foi o SNI, criação do general Golbery do Couto e Silva, da fração político-militar Geisel. Ele foi parte do planejamento da derrubada - por via de uma revolução militar-udenista - do governo democrático populista revolucionário clássico de João Goulart. O duplo Estado foi o efeito visível de tal revolução militar que se autodesenvolveu na conjuntura do choque militar da esquerda com a ditadura militar.
Havia um Estado militar jurídico e um Estado militar terrorista. Trata-se do Estado como uma máquina de guerra paramilitar terrorista para aniquilar a esquerda guerrilheira rural e terrorista urbana. Trata-se de um aparelho burocrático, pois, seus agentes são assalariados do Estado e agem por uma hierarquia de comando militar que planeja as ações dos agentes de campo. A classe governante viu, finalmente, a necessidade sensível de aperfeiçoá-lo como uma reação ao terrorismo urbano no sequestro do embaixador americano. Gabeira pode contar essa história detalhadamente.
Hoje, o Estado legal dispersa, esgota todo a sua energia no combate à corrupção política da sociedade dos ricos associados heteróclita da era lula. Ele prefere ignorar que tal sociedade é a causa da ex-sistência do Estado heteróclito, hoje. Os agentes da cúpula do Estado legal, até agora, se beneficiaram da semblância de que o sistema de segurança que Fernando Collor dissolveu e FHC reconstruiu é parte da tela gramatical jurídica estatal.
A cúpula do Estado estava confortavelmente, até agora, se beneficiando da semblância gerada pela cultura do simulacro de simulação de que o Estado legal é apenas um simulacro de Estado quanto se trata de enfrentar a verdadeira realidade dos fatos. Um poder policial/jurídico de faz de conta quando se trata de enfrentar a contradição principal da política brasileira: a contradição entre o Estado legal e o Estado ilegal.
O Estado heteróclito é uma pratica política ditatorial e sua ex-sistência significa a condição de possibilidade de instauração de uma ditadura heteróclita no século XXI brasileiro.
FHC fez uma lei do Estado de segurança, em sua essência, heteróclito para vigiar e combater a multidão bolivariana petista. Na era Lula, tal Estado se autodesenvolveu e foi aperfeiçoado para ser usado no prolongamento da era bolivariana petista. Trata-se da história natural da política, da política natural. Esta é um efeito da dominação da sociedade dos ricos associados heteróclita. Assim, criou-se o pacto tácito de que tal Estado poderia ser usado na luta interna (guerra política) da classe governante e, principalmente, na guerra política contra a multidão como ator hobbesiano de rua.
A multidão 2013 levou a classe governante a certeza de que o Estado heteróclito devia ser aperfeiçoado. Assim, Dilma Roussef teceu a lei “antiterrorista”. E fez cair a máscara do PT herói da democracia 1988.
Toda a campanha do jornalismo industrial sobre terrorismo islâmico no Brasil tem como finalidade tática demonstrar a necessidade historial, no momento, do Estado de Segurança Heteróclito. Necessidade de legitimar para a multidão e a classe governante liberal (classe política e classe simbólica) a ex-sistência de uma máquina de guerra psicopática de espionagem e terrorismo nas grandes cidades e no campo.
O estado de guerra lumpesinal é a evidência mais palpável de que o país precisa de um sistema de segurança nacional nas grandes cidades, médias e pequenas e no mundo rural. O homo lumpesinalis (trans-sujeito lumpesinalis caipira urbano)  é uma força que faz pendant com o Estado heteróclito. Por isso, este não se envolve no combate às máquinas de guerra lumpesinais.
O governo, o Congresso e o STF precisam chegar a um consenso que consiste na necessidade de dissolver o sistema de segurança SNI criado por FHC, por lei, em 1999. Trata-se e um Estado heteróclito constitucional. O desejo/ethos punitivo do juiz democrático, do policial legal, do jornalista honesto deve se associar à classe governante (governo e Congresso) para desmanchar o vasto aparelho assalariado do Estado heteróclito da sociedade dos ricos associados heteróclita. Infelizmente, não se pode esperar nada do jornalismo industrial brasileiro!
No lugar da criminosa, obscena e repugnante Okhrana brasileira, a classe governante deve erguer um sistema de segurança nacional civis, civilis. Tal sistema não deve ser usado na luta interna da classe dominante nem na luta desta contra a multidão dos netos. Sua finalidade deve consistir em garantir a ordem pública como dispositivo constitucional de segurança da cidadania. Ele deve ser um dispositivo de saber/poder do Estado de direito.
O Estado heteróclito não tem gramática, mas, o jornalismo do engenho-de-cana-açúcar quer transformá-lo em uma personagem dramática da tela gramatical informacionalis da sociedade do espetáculo. Dispensa uma energia enorme para transformá-lo em uma narrativa gramatical legítima da história atual do país, inclusive esteticamente. É a estética do juízo sujo da sociedade dos ricos associados heteróclita do Sudeste do país.
Trata-se do jornalismo como vanguarda militar industrial da sociedade dos ricos associados heteróclita. O jornalismo industrial está entrelaçado com a sociedade dos ricos associados, heteroclitamente, por interesses organicamente econômicos poderosos. A publicidade na televisão, jornais indústrias de papel e revista industriais paulistas constituem apenas a ponta do iceberg dessas redes de interesses econômicos heteróclitas.
Esqueçam tudo que aprenderam sobre o domínio da sociedade oligárquica no Brasil. Este domínio é finito, e foi substituído, na era Lula, pela dominação mais poderosa, sútil, plasticamente estético/eletrônica e eficiente faticamente da sociedade dos ricos associados heteróclita do Sudeste.
Estou escrevendo sobre a realidade dos fatos, não se trata de um texto acadêmico para os leitores universitários tomarem como mais uma contribuição para o desmoralizado discurso universitário que tem medo da própria sombra.
Não trabalho em qualquer universidade brasileira pública ou privada. Acabou a hora da recreação acadêmica!

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