quarta-feira, 16 de novembro de 2022

REVOLUÇÃO BARROCA NA AMÉRICA LATINA

José Paulo 







CLASSE MEDIA NEOBARROCA

NO TWITTER, o GENERAL Villas Boas fala da multidão nacional que ontem, 15 de novembro, dia da Proclamação da República, pede para o exército um golpe de Estado e a implantação de uma ditadura militar. o general diz que é um movimento constitucional pacífico protegido pela liberdade de expressão.
Diz a lenda que Villas Boas foi o artífice da candidatura de Jair Bolsonaro à presidência da república. Ele convenceu os militares de que o antigo soldado - afastado do exército por indisciplina, um mal soldado em um dito do general presidente Geisel - era uma boa solução para derrotar a esquerda. Como pagamento, Bolsonaro militarizou o aparelho civil de Estado com cerca de 8 mil oficiais.
Com a vitória de Lula em 30 de outubro, a desmilitarização do aparelho civil é um dos objetivos do governo Lula. Assim, a lógica de interesse econômico explica em parte a multidão-15.
Na nota do Twitter, o general diz que a grande mídia não fez a cobertura da manifestação. A grande mídia se põe contra o golpe de Estado e a destruição da Constituição de 1988.
Afinal, o que é a multidão-15?
Eis uma interrogação que não interessa ao jornalismo e, atualmente, nem à universidade pública.
Estaríamos diante de uma multidão neobarroca-cibernética?
A classe média neobarroca foi classe-apoio do governo de Bolsonaro. Ela derrubou Dilma Roussef, ela é identificada por ser uma multidão branca, em sua maioria na rua do Rio. Ela fez uma promessa de desafiar o governo Lula, permanentemente.
O exército não é mais o exército do capital de 1964. O exército da ditadura do grande capital. Daí, ele não apostar em jogos de poder que destruam a Constituição-1988. Ele hoje é movido pela lógica de interesse econômico da carreira dos altos oficiais. O militar quer viver bem e, agradavelmente, ter um bom soldo, uma excelente aposentadoria etc. generais já querem uma entrevista com Lula para tratar de assuntos da aposentadoria. O generalato não se preocupa com os interesses da instituição. Não há projetos de futuro para a instituição.
O exército se tornou um exército de classe média. Mas não é só isso!
O exército é a metonímia das forças armadas. Hoje, ele é um exército neobarroco cibernético, ou seja, um exército em uma tela neobarroca cibernética. Ele não tem como princípio a defesa da soberania nacional; ele não considera, por exemplo, que a Amazônia ocupada pelo capitalismo criminoso, (aliança do narcotráfico latino-americano com os Banco do EUA etc.) é um problema de soberania popular, um problema do exército.
O exército neobarroco de classe média se representa na política pela multidão neobarroca de rua. Homens e mulheres usaram os muros de um quartel para rezar o <pai nosso> - pedindo intervenção militar na política. há, inclusive, mulheres de general dirigindo a multidão-15.
Trata-se de mais um problema prático complexo para o governo Lula resolver.

DA CLASSE GOVERNANTE VIRTUAL
Pessoas inteligente se indagam como sociedades brutalmente desiguais no capitalismo com democracia não se autoaniquilam. Porque tais sociedades são governadas por uma plurivocidade de tela gramatical.
Há o governo virtual da tela gramatical do Estado neobarroco cibernético. Os proprietários da tela cibernética são os jornalistas, youtubers etc. A tela 1984 foi uma invenção dos EUA. Com ela passa a existir a classe governante virtual. O jornalista e o youtuber são o governo dos governados ou usuários simples da tela.
Como o homem comum não acredita na tela 1984, o poder da tela consiste no homem comum não acreditar que ela existe. A relação entre governante (youtuber, jornalista etc.) e governado ou usuário da tela já se traduz na geração tela, que alguns psicólogos estudam no comportamento infantil.
Vigiar, observar, ouvir o usuário através da tela é algo que todo youtuber e jornalista sabe fazer. Ou é levado a fazer. A gramática da tela 1984 consiste na ideia de que não existe fora da tela vida inteligente. Todos os inteligentes têm que fazer parte da tela voluntariamente ou involuntariamente.
Infelizmente, a tela 1964 é tida pelos universitários como parte da ficção literária. Infelizmente, a ficção 1984 se tornou a realidade palpável da relação entre governante e governado. Neta relação, a manipulação é mais manipulação que apropria manipulação no sentido que o real é mais real que o próprio real: Hiper-realidade.
A física e a engenharia cibernética constroem o mundo como plurivocidade de tela cibernética neobarroca. Daí surge uma classe governante, virtual, neobarroca, cibernética que faz da vida cotidiana uma transparência obscena, pois sem mais segredos íntimos, pois, pois.
O que fazer?
Parar de usar a tela?

ESTADO CIBRNÉTICO NEOBARROCO
No livro “Simulacros e simulação”, Jean Baudrillard fala de uma televisão que assiste e ouve o receptor. Parecia uma profecia do futuro tecnológica. Tal televisão foi inventada nos EUA. Ela é o início do Estado de vigilância neobarroco-cibernético.
A televisão, o computador, o celular são telas do Estado de vigilância. Se seu telefone celular faz uma chamada para alguém da sua intimidade, sem que você tenha feito a chamada, pode não ser um erro da máquina e sim um ato do Estado cibernético. Se você faz sexo com a televisão ligada ao vivo na sala ou no quarto, você pode estar sendo observado ou ouvido. Baudrillard designa esse fenômeno como <transparência obscena>. Por via das dúvidas, Baudrillard não assistia televisão!
O jornalista hoje é o proprietário da percepção construída pelo Estado cibernético. Ele, inclusive, ascende na carreira por usar obscenamente a vigilância sobre pessoas, em geral da elite. Ele é o agente da transparência obscena.
Vivemos em um mundo dominada pela tela gramatical neobarroca-cibernética. O youtuber é um conhecedor e agente do Estado de vigilância neobarroco. Há hoje uma divisão entre aqueles que trabalham em uma tela cibernética e aqueles que são seus usuários. Trata-se da dominação cibernética neobarroca entre governantes (youtuber representando o jornalista em geral) e governados: simples usuário.
O mundo de hoje fez da tela cibernética a sociedade polícia política secreta que torna obsoleto a polícia secreta política governamental.
A elite que se cuide!

REVOLUÇÕES BARROCAS NA AMÉRICA LATINA
Com a Bolívia de Evo Morales, inaugura-se a era das revoluções barrocas dentro da ordem democrática na América Latina. A direita neobarroca, ariana, cibernética, com a ajuda dos EUA, das multinacionais, da oligarquia política etc., procurou interromper o ciclo das revoluções barrocas, entre nós.
O golpe de Estado neobarroco fracassou, pois o partido de Evo retornou ao poder boliviano. No Chile, Boric derrotou o candidato da extrema-direita neobarroca Antonio Kast, que obteve 44,14%dos votos. A divisão do Chile entre uma esquerda barroca e o campo da direita neobarroca é o sintoma da época de hoje. A esquerda fez uma Constituição que foi rejeitada em um plebiscito. A Constituição continha a transformação do Estado nacional chileno em um Estado regido por uma plurivocidade de nação. Ao contrário, no centro do palco político chileno, encontra-se a transformação do Estado fascista de Pinochet. Assim, o governo Boric teve que retomar a revolução barroca dentro da ordem gramatical chilena.
No México, pouco se sabe no Brasil sobre a revolução barroca de Obrador. Um México barroco é algo natural na política mexicana. No século XX, ocorreram revoluções barrocas no México. O México é a capital do barroco da América Latina.
Na Colômbia, Gustavo Petrus iniciou a revolução barroca. Ele quer uma reforma agrária e que os ricos paguem impostos decentes. Petrus derrotou um populista neobarroco do campo da direita. Uma multidão neobarroca já se levantou contra Petrus, ele que assumiu o governo há dois meses.
O que caracteriza a evolução barroca?
Ela fala a linguagem do sofrimento de uma gramática barroca. Lula chorou compulsivamente em uma apresentação à imprensa em São Paulo. Jornalistas o acusaram de impostura. Lula verteu suas lágrimas copiosas em nome dos pobres que passam fome, em milhões. A linguagem do sofrimento de uma gramática barroca se expressou na política pelo choro de Lula. O campo da direita neobarroca, cibernética secular se manifesta contra o inconsciente barroco lulista.
A tela gramatical barroca na política está sendo fabricada por governos de esquerda que já não são mais a esquerda clássica, a esquerda renascentista. No Brasil, uma Frente Ampla que derrotou Bolsonaro aparece como uma síntese de múltiplas determinações e contradições. Lula é o artífice da revolução barroca e um político que navega na revolução barroca latino-americana.
A esquerda brasileira pode se reinventar como esquerda barroca?

TEOLOGIA NEGRA E JORNALISMO

 

A teologia negra é a noção da política como guerra - levada por meios não militares. Parece que a nossa política na família parte da teologia negra. Além da família, o jornalismo (que assisto no meu celular) parte da teologia negra em um espaço de simulação da atividade jornalística como guerra baseada no uso da informação como arma militar.    

Uma boa parte da política de simulação só existe graças ao jornalismo cibernético. Tal jornalismo é uma continuação do ciberespaço como simulacro de simulação da política como guerra.

É a teologia negra digital.

Não existe mistério para o apoio do jornalismo a Jair Bolsonaro. Ambos são partidários da noção de política como guerra cibernética. Muito jornalista será demitido com o fim de Bolsonaro na política. Já está acontecendo expurgos em certos emissoras.

 Na época neobarroca. a profissão de jornalista embota a inteligência do jornalista. Tal fato vai além do conhecido dito de que “a opinião do jornalista é a opinião do patrão”. O jornalismo político se transformou em uma estrutura de novela na qual herói e vilão recebem o merecido, todo santo dia.

A novela da TV Globo é o paradigma do jornalismo político. A NOVELA trabalha com a noção de política da teologia negra.

Uma atmosfera teológica negra é fabricada pelo jornalismo cotidianamente. É uma atmosfera com raridade de oxigênio democrático. A teologia política negra é um pensar e julgar a realidade a partir de uma ótica autoritária.  

Se Lula foi bombardeado durante meses pelo jornalismo político como um homem abjeto, eis a ação da mais abjeta teologia negra jornalística.

Será possível o jornalismo adotar um outro modelo, um modelo democrático de comunicação com as massas de receptores?

 

CAPITALISMO SUICIDARIO

 

Com o capitalismo financeiro da globalização neoliberal, o capital fictício assume o comando da economia, política, ideologia. Há o desenvolvimento do Estado suicidário do complexo industrial-militar mundial. O capitalismo industrial se torna uma sociedade burguesa de segunda categoria.

Marx desenhou o fim do capitalismo pela lógica do capital. Trata-se do modelo capitalista e não da realidade capitalista. O fim do capitalismo é um fenômeno virtual que pode se tornar atual.

O fim do capitalismo ocidental passou do virtual para o atual com a implosão da globalização neoliberal. Claro que a Guerra da Rússia foi um fator de tal implosão. No entanto, o esgotamento do modelo da globalização ocidental se deve ao colapso do capitalismo financeiro como hegemonia do capital fictício sobre o planeta.

O fim da globalização ocidental faz pendant com a ascensão do mercantilismo do capital asiático. Neste, o capital industrial comanda a economia, política e campo das ideologias. 

Como o Ocidente reage à ascensão da geopolítica capitalista mercantilista chinesa?

O capitalismo neobarroco é a resposta do Ocidente à Asia.

O capitalismo neobarroco se constitui em uma sociedade capitalista suicidária. Temos então o capital suicidário no comando da economia, da política, do Estado, do campo das ideologias etc. O capital suicidário ignora a lógica do fim do capitalismo. [No Brasil, a aliança do capital fictício com a agroindústria instala a sociedade burguesa suicidária]. No campo das ideologias do capital neobarroco, a lógica do fim do capitalismo é tratada como tagarelice da esquerda marxista.

Há, entre nós, uma poderosa burguesia suicidária que não acredita na necessidade do governo do capital ser um governar para todos. Como a esquerda clássica procura governar, também, para os pobres, o capital suicidário quer exclui-la da política, na democracia representativa.

Bolsonaro personificou o governo do capital suicidário. E foi derrotado por Lula.

Entramos na época da sociedade neobarroca. Uma direita neobarroca conservadora já se estabeleceu como um campo político. Os extremistas  suicidários desse campo explodem em violência e confronto com o Estado-1988.   

“Precisamos estar atentos e fortes”...

 


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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

"BARROCO TROPICAL", de AGUALUSA

 

José Paulo 

 

 

 

O, “Barroco tropical” é um romance sobre a contemporaneidade de nosso mundo, no qual Ocidente e Oriente fazem parte de uma guerra de posição do neobarroco contra o barroco: última casamata de resistência do domínio absolutista do neobarroco, entre nós.    

Na contemporaneidade de Agualusa, a tela gramatical neobarroca da indústria de comunicação espalha seu domínio sobre o mundo como anverso da tela gramatical barroca. Trata-se de uma antítese agônica entre cultura e comunicação de massa capitalista.

O livro começa expondo a luta do neobarroco contra o barroco em Luanda na narrativa do romance:

“(Dou-me conta, enquanto releio o que escrevi, que parece o guião de um filme publicitário. Este é o momento que devia surgir o frasco de perfume. Teria de ter um nome apropriado, algo como La tempête. Mas não. A partir deste instante o filme muda”. (Agualusa: 10).

O narrador fala de uma tela gramatical neobarroca  e do barroco como o perfume nessa tela.

Em seguida se põe e repõe o problema fundamental para se saber a verdadeira realidade da tela em tela:

“(O povo, o Eles, é como em Angola nós, os ricos, ou os quase ricos, designam os que nada têm. Os que nada têm são a esmagadora maioria dos habitantes deste país)”. (Agualusa: 11).      

Angola é uma sintetização do mundo capitalista sob domínio do neoliberalismo. O cosmopolitismo do neobarroco aparece como uma expressão estética da indústria de comunicação.

O povo é o que nada tem como multidão. Qual é natureza da multidão mundial?

Trata-se de uma multidão que sofre, pois, nada tem, por viver no reino da necessidade absoluta. Assim, temos a multidão barroca que se apresenta com o inconsciente mundial. O inconsciente é a linguagem do sofrimento de um discurso, de um discurso barroco. (Bandeira da Silveira; 2022).

A multidão neobarroca é aquela dos festivais de música popular ao redor do planeta. O Rio de Janeiro se tornou a capital da multidão neobarroca com o Rock-em-Rio e a apresentação dos Rolin Stones para uma multidão de 2 milhões de pessoas na praia de Copacabana.  

Massas no romance já é a multidão barroca que julga esteticamente o indivíduo:

“Ela estudara em Lisboa, em Londres ou Nova Iorque. Eventualmente em Lisboa, Londres e Nova Iorque. A forma como estava vestida sugeria um gosto em conflito com os atuais padrões ecológicos. Talvez sentisse prazer em afrontar, ou tivesse tanto dinheiro que se achasse acima do julgamento das massas”. (Agualusa: 12).   

A multidão barroca aparece (na narrativa do narrador) como um juiz que julga o gosto da mulher rica e bela neobarroca em uma nave espacial ao redor do planeta:

“Ao meu lado não havia ninguém, Núbia deu-se conta disso e veio ter comigo. Despiu o casaco de peles e guardou-o na bagageira. Por baixo vestia uma simples blusa branca, muito elegante, que deixava adivinhar uns seios largos e firmes”. (Agualusa: 13).

   Núbia é uma alegoria barroca da mulher, na tela gramatical neobarroca, com sua blusa elegante transparente que revela os barrocos seios largos e firmes.

A guerra de posição do neobarroco na alma perfumada da Núbia, pelo barroco, conquista uma posição dominante:

“As revistas tinham nomes Cacau, Tropical, Mulher Africana, Caras e Cores. Núbia estava em todas as capas. Na primeira aparecia vestida de noiva, a descer uma longa escadaria em caracol. Na segunda posava em biquíni, deitada de costas numa toalha de praia, tendo ao fundo, entre um friso de rochas, um mar cor de esmeralda. Na terceira vestia apenas uns curtos calções de ganga, e ria, uma bela gargalhada juvenil, enquanto procurava esconder o peito com ambas as mãos”. (Agualusa: 14).

O leitor pode procurar a tensão ente a fotografia publicitaria neobarroca e os vestígios do barroco nos detalhes da cena.

Núbia vem de uma família pobre. Ela não dominava a gramática da língua portuguesa falada em Angola:

“_ A minha família era muito pobre. Eu nem sabia falar o português. Foi esta que me ensinou a falar.”

Apontou para a Presidente, numa das fotos. Soltou uma pequena gargalhada.”. (Agualusa:15).

A gramática norma culta aparece como uma arma da distinção entre a elite e o povo. A Presidente é a alegoria barroca que coopta a mulher pela gramática culta.   

  O sagrado do barroco aparece iluminado na tela neobarroca:

“_ Deus fala comigo. Um dia mostrou-me um dos teus livros. No dia seguinte fui a uma livraria e comprei-o.”

_ Li mas não compreendi nada. Li-o poque Deus me disse, ‘Filha prepara-te. Tu és Núbia, a puta, e és Maria, pura. Bendito o furor do teu ventre’. Ele disse-me isto porque vou engravidar, vou dar a mundo um novo salvador...” (Agualusa: 15).

A profecia barroca do salvador define Núbia como a personificação dela como multidão barroca. O destino de Núbia é um ato da dramaturgia barroca na tela gramatical neobarroca plástica

É uma platitude, senso comum, que o barroco agência o sonho e o dormir sonhando acordado e o campo dos afetos como uma importante característica dessa gramática:

“Um sono branco, desembaraçado de sonhos, sem cores nem sons nem emoções. Acordo e é como se ainda estivesse a dormir. Levanto-me e está na hora e partir para o aeroporto”. (Agualusa: 29).

O aeroporto é o começo da viagem no neobarroco do narrador.  

O neobarroco é um sonho que não já um sonho barroco. Também, o neobarroco é um faz de conta que apela para o sentir, para o afeto barroco:

“Não tenho tempo para sentir.

Não tenho tempo para sentir, compreende? Não posso parar. Não posso ter tempo para sentir, morrerei de tanto sentir”. (Agualusa: 29).

O neobarroco é o agenciamento do sentir como mais real que o próprio sentir.

As novas gerações poderão descobrir o “Barroco tropical” como o romance que inaugura o novo romance, um romance que já não é a crise da forma gramatical romanesca.

Trata-se de um romance maravilhoso por sua atualidade e gramática do português moderno.  

 

AGUALUSA, José Eduardo. Barroco tropical. SP: Companhia das Letras, 2009    

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical, ensaios. EUA: amazon, 2022

 

 

       

      

sexta-feira, 8 de julho de 2022

ELEIÇÃO 2022 – VERTIGEM

 

JOSÉ PAULO 

 

 


 

A eleição de 2022 é um momento privilegiado para se falar do discurso político brasileiro?

Uma velha crença da ciência social brasileira é aquela da singularidade do discurso político nacional. Aqui mostro que se trata de uma ilusão ingênua.

A eleição de 2022 vem marcada pelo uso do dinheiro público para a compra de voto na Câmara e Senado pelo governo de um Jair Bolsonaro. O <Orçamento Secreto> das emendas do relator transforma o dinheiro público em vil metal da corrupção do poder parlamentar.

Há uma contradição sendo desenvolvida entre a política e a moralidade pública, ou melhor, moralidade republicana. Tal fato caracteriza o discurso político brasileiro atual. A compre de voto se tornou o leitmotiv do funcionamento do poder parlamentar, o motor da política brasileira.

O bolsonarismo explica o nosso discurso político?

Se a resposta é sim, então, a visão de mundo do bolsonarismo se tornou a visão de mundo da política parlamentar. No entanto, o bolsonarismo faz pendant com um outro fenômeno da política, a saber: o Centrão.

O Centrão designa uma reunião de partidos políticos formais que domina o Congresso. Ele é dito como a política fisiológica da relação entre governo e parlamento do <é dando, que se recebe>.

O fisiologismo brasileiro combina apropriação do dinheiro público com a ambição de carreiras política biográficas - duradouras. Aliás, o partido político é um rótulo que existe em função das biografias políticas.

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O discurso político é o laço social entre governante e governado; na era moderna, é o vínculo social entre representante e representado, entre poder político e eleitor/cidadão, ou homem e mulher livres de coações externas em relação a sua consciência histórica..

Assim, a soberania popular aparece como o fundamento da fabricação de um poder nacional a partir da livre escolha do eleitor: um homem, um voto. A compra de voto é, portanto, um modo de corrupção da democracia republicana, enfim, um modo de destruir o fundamento do poder democrático-republicano. Trata-se da crise profunda da república democrática.

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Há conjunturas históricas europeias nas quais o discurso político ocidental se desenvolveu clara e distintamente.

O discurso político oligárquico foi teorizado pela teoria das elites e pela gramática weberiana. Neste discurso, o poder nacional encontra-se nas mãos de uma oligarquia política. Trata-se da democracia liberal estrito sensu. Uma elite política domina a cena política através de partidos burgueses.

Com a entrada do proletariado na cena política, há um aprofundamento da democracia e o nascimento do disso político socialdemocrata. É a era do poder socialdemocrata com seu Estado do bem-estar.

No interregno, um outro poder político se constitui em discurso político. É a época dos partidos políticos paramilitares, da luta entre a esquerda e o fascismo, que na Alemanha desembocaria na construção do poder nazista que é a causa imediata da 2° Guerra Mundial.

No Brasil 1988, há a tentativa de construção, limitada, do paradigma socialdemocrata - com FHC e Lula. Claro, que é um poder socialdemocrata da periferia latino-americana do Ocidente.

O poder socialdemocrata mantém as aparências de semblância republicanas da política nacional. A moralidade republicana ainda é um semblante importante na vida biográfica dos políticos profissionais.

O discurso político oligárquico domina a cena brasileira com Michel Temer e Bolsonaro. Então, se desenvolve a contradição entre moralidade republicana e a política oligárquica como privatização do poder brasileiro.

Com o governo Bolsonaro, a compra de votos com dinheiro público torna-se o móbile da vida parlamentar. Como as pesquisas de opinião de voto dizem que Bolsonaro perde no 1° Turno para Lula, Bolsonaro e o Centrão encaminham o golpe de Estado branco (parlamentar) para mudar o equilíbrio de força eleitoral em julho de 2022. A eleição é no dia 2 de outubro.

O golpe de Estado torna a eleição como reino as ilegalidades, pois, o golpe de Estado é um golpe contra a Constituição e as leis eleitorais.  Enquanto Bolsonaro fala em golpe de Estado clássico, caso não vença, o Centrão dá o golpe de Estado realmente existente na política brasileira, em julho.  

A política do conluio criminoso entre o governo nacional e o parlamento é, de fato, o colapso da república democrática-1988.

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O poder político nacional não é um artefato social solto no ar. Ele se constrói e existe em função de sua relação com a economia, ou seja, com o capitalismo.

O discurso político oligárquico faz pendant com o domínio absoluto do poder do Banco (em aliança com o agronegócio) na política. O ministro Paulo Guedes personifica o poder do Banco na vida nacional e local. O neoliberalismo político subdesenvolvido e perverso é a narrativa nuclear que cria o laço social ente governo e capital.

A crise do neoliberalismo político da globalização faz do Brasil o elo mais fraco do capitalismo mundial. Com a política neoliberal, o país se isola na gramática da geopolítica capitalista do mercantilismo do capital.

Assim, o Brasil caminha para o abismo econômico com a reeleição de Jair Bolsonaro, que insiste em manter Paulo Guedes no comando da economia. Jair disse para Paulo: <cairemos juntos ou reinaremos junto, eternamente.

A PEC da compra de votos da classe média do Sudeste e do eleitor pobre do Nordeste, é a tática da oligarquia política para se conservar no poder brasileiro, mesmo <que a casa caia>.

A PEC <medinho de Lula> (na formulação espirituosa de um jornalista antibolsonarista) revela o desenvolvimento da contradição entre moralidade republicana e política privada, política de apropriação privada do poder brasileiro, por indivíduos e clãs.  

A eleição de 2022, conta com a intervenção do exército bolsonarista no processo eleitoral, tentando alterar o equilíbrio de força para favorecer Bolsonaro. A desmoralização das Forças Armadas gerou o discurso do fim da necessidade de F.A. no Brasil.  

A corrupção ou corrosão das altas instituições de Estado é parte da estratégia do bolsonarismo para conservar o poder brasileiro. Tal niilismo político de destruição da república democrática tem como suporte 1/3 do eleitorado. São dezenas de milhões de eleitores. Portanto, a crise orgânica brasileira torna o país o elo mais fraco do capitalismo mundial, do mercantilismo do capital.

A derrota de Bolsonaro e do bolsonarismo em outubro de 2022 seria o ponto-departida para o país iniciar o debate sobre sua integração à nova ordem capitalista mundial. Eis, o segredo de polichinelo da política brasileira de hoje.  

A construção de um novo discurso político pelo novo poder brasileiro não aparece no horizonte da nossa política-2022?  

  

 

        

       

   

        

 

                                         

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

DICIONARIO DE GRAMÁTICA DA REALIDADE

 

José Paulo

 

CULTURA DE MASSA

Com a publicação de “Apocalípticos e integrados”, a fronteira, no campo do Outro ou simbólico, abriu suas comportas para a invasão da cultura de elite pela cultura de massa.

Se tinha como certo que a fronteira era resguardada pelo modo de consumo das duas culturas. A de elite pelo modo reflexivo e a de massa pelo modo irreflexivo do entretenimento.

Um argumento usado para desqualificar a cultura de elite consistia no fato que ela era um instrumento de dominação da elite sobre as massas. A articulação pela hegemonia não é parte da argumentação dessa situação simbólica.

Hoje, já é possível aquilatar o combate a aristocratização da vida proporcionada pela falta da gramática da cultura de elite na política. O declínio dessa corresponde a ascensão da cultura de massa entre os políticos, via jornalismo eletrônico.

A cultura de massa é a política da irreflexão das massas quanto aos seus interesses representados como interesses não de uma classe dirigente (bem comum), e sim como interesses privados, particularistas, dos grupos POLÍTICOS que DETÉM o monopólio do poder de Estado e do parelho de Estado. Tal fenômeno tem um nome – OLIGARQUIA POLÍTICA representativa.

A ascensão da oligarquia política faz pendant com o poder da oligarquia na esfera da cultura de massa. Outrossim, o jornalismo fica irreconhecível como defesa da democracia representativa. A cultura de massa é a ideologia da oligarquia política: esquerda e direita.

O ciberespaço não alterou a situação em tela. Aquilo que concorre para a formação da opinião pública, por exemplo, o YouTube, segue os modelos discursivos da cultura de massa. O YouTube é a continuação ideológica da tela eletrônica por meios cibernéticos.

No YouTube, filosofia, historiografia e economia adotam os padrões da cultura de massas para sua irradiação junto ao cibernauta. Quem não faz isso é levado a abandonar o YouTube – como é o caso do excelente programa de economia universitário “Conexão Xangai”.

A constituição da OPINIÃO PÚBLICA hoje encontra-se sob monopólio da cultura de massa.

{A cultura de massa é a presença do indivíduo na massa como irreflexão de seus interesses no campo do Outro}.

 

CULTURA

A CULTURA é serviço de bens públicos e mercadorias. O apogeu ideológico do bem cultural ocorre com a <indústria cultural> ou a cultura no regime capitalista americano.

Na universidade com a antropologia, há uma inflação de conceitos seculares. Qualquer professor com experiencia de campo produzia seu próprio conceito de cultura – nos EUA e Brasil. No frigir dos ovos, a cultura deixa de ser serviço de bens e torna-se as práticas e mitologia, discurso  dos povos primitivos ou tribais.

Rigorosamente, a cultura é produção, circulação e consumo de signos culturais: teatro, dança e música indígena, romance, poesia, artes plásticas etc. O signo cultural aparece como um signo-icônico ancorado na realidade concreta das pessoas ou faz parte de uma linguagem para consumo do povo ou da elite.

Nos países subdesenvolvidos, uma elite mambembe dissolve a distinção entre cultura de elite e cultura de massa, pois, ela consome esta última do mesmo modo que ela consome a primeira.

A língua falada é a expressão maior de uma cultura nacional-popular. Sem cuidar dela, os grupos sociais perdem seu referente, abolem a língua como força de realidade concreta das pessoas, na política.

O Estado-educador é um produtor de cultura, pois, ele produz o nacional-popular e, também, a língua nacional. Ele integra o nacional-popular à democracia representativa dos partidos políticos formais e informais.

A educação secular é o maior valor da modernidade. O Estado laico vive em função da educação das massas das classes subalternas. Quem vive no Brasil, vive na própria pele esse problema.

Aqui, a nova direita vê a educação popular como água jogada no moinho da esquerda. Assim, a nossa esquerda torna-se o partido da civilização brasileira e nova direita o partido da barbárie, de caso pensado.

A eleição 2022 pode alterar tal estado de coisas?

 

POLÍTICA – 10/04/2022

A origem da política ocidental encontra-se na democracia direta da pólis da Antiguidade grega? Admitamos que sim.

Entre os modernos, a democracia moderna adquire formas e ideologias como a <Comuna de Paris> e o anarquismo.

O mundo moderno é aquele da representação. A política representativa é um modelo hegemônico nas democracias presidenciais e parlamentaristas.

A política moderna escolheu a existência de uma classe dirigente com direção moral e intelectual da elite e do povo.

A produção de afetos e ideias é uma tarefa da classe dirigente. Daí, aparece o bem comum como uma categoria tangível.

Com a ascensão da extrema-direita ao poder (fascismo), na política representativa torna-se secundário o bem comum; a política passa a servir à ideias, interesses particulares e afetos, como o ódio ao socialismo imaginado, por mentes monstruosas. A destruição da esquerda torna-se o objetivo do fascismo; a tirania fascista seu horizonte.

A política representativa tem um artefato desconhecido dos antigos: o partido político.  Este é a máquina de produção de ideias, afetos e interesses de um serviço de bens que deve alcançar o homem comum, o eleitor da soberania popular.

Na eleição, a soberania popular elege seus representantes para o Estado e guarda a expectativa de que o governo (executivo e parlamento) apareça como um governo para todos.

Os críticos consideram que se trata de uma autoilusão das massas. Porém, há situações nas quais uma classe dirigente faz um governo para todos.

Com ocaso da classe dirigente e a ascensão da oligarquia política, o governo governa para interesses particulares, para grupos particulares. A ideia e o afeto nação se perde como fumaça.

No século XXI, a política torna-se um NEGÓCIO, da oligarquia política, principalmente, nos países subdesenvolvidos.

Os grandes governos da oligarquia política chegam a usar o capitalismo financeiro internacional para fazer a guerra econômica abstrata contra a Rússia.

Desaparece, aliás, aquela aparência moderna da autonomia entre Estado e economia. Fenômeno catastrófico para o capitalismo mundial.

 

GUERRA ABSTRATA

Por um cálculo geopolítico puro, Putin iniciou a guerra na Ucrânia - para impedir que ela fizesse parte da OTAN.

A geopolítica russa é uma combinação de fatos e artefatos reais e virtuais. O virtual tem sua própria materialidade. As armas da OTAN (materialidade) em território ucraniano não aparecem como, apenas, uma ameaça virtual à Rússia; aqui, o virtual, na consciência russa, é tão real quanti o próprio real, independente do virtual se tornar um acontecimento.

A Rússia tem um poder nuclear capaz de destruir o planeta. Tal fato faz dela um país que não pode ser destruído militarmente. Ela não existe como alvo final dos EUA ou da OTAN. A 3°guerra mundial faz parte da retórica dos governantes como simulacro de simulação.

A geopolítica atual sintetiza o pré-moderno com o moderno e o pós-moderno. Assim, ela se torna um fenômeno incomum para a consciência histórica. Se encontrando além da consciência, a geopolítica de Putin espanta o mundo.

A geopolítica de Putin destrói cidades, pessoas, gera refugiados aos milhões, e ameaça de uma terceira guerra mundial. Então, é necessário falar da reação dos EUA.

A América entra na guerra da Ucrânia com a GUERRA ABSTRATA. O GOVERNO AMERICANO USA O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL (baseado no dólar) como uma arma de destruição do capitalismo russo.

Portanto, além do front ucraniano temos o front russo. O primeiro é um front territorial, militarizado, de conquista ou conservação do território nacional e globalizado pela multinacional e capital fictício. O segundo é um front desterritorializado, abstrato, das relações sociais-econômicas movido por instituições como Banco, multinacional, governos e Estados nacionais.

A destruição do território ucraniano faz pendant com a destruição, no espaço econômico abstrato, do capitalismo russo pelo sistema financeiro internacional. Trata-se da guerra abstrata da geopolítica americana seguida pela União Europeia.

A geopolítica americana se ressente em ser a invenção do neoliberalismo, hoje, uma moléstia para o capitalismo desenvolvido diante do mercantilismo capitalista asiático.

O aniquilamento do capitalismo russo na guerra abstrata encontra seu limite na proteção que o mercantilismo lhe oferece. A Rússia é parte da globalização asiática e, portanto, tem laços sólidos com a China.

A guerra abstrata americana é uma desglobalização no espaço das multinacionais americanas. A desglobalização implica uma certa desterritorialização do capitalismo da multinacional, um salto no vazio econômico.

A desterritorialização da globalização é um recurso da geopolítica americana que quebra a gramática do capitalismo mundial sob hegemonia ocidental.

Mais completa do que a geopolítica russa, a geopolítica americana combina guerra real (fornecimento de armas para Zelinsky, e serviço de inteligência etc. ), guerra virtual e guerra abstrata.

 

ESCOLA REALISTA DO ESTADO

Publiquei um ensaio sobre a <escola realista do Estado moderno>, em Maquiavel, Marx e Giddens. Marx forja o conceito de Estado como <poder de Estado> e <aparelho de Estado>. Parar ele, o Estado não é um fenômeno moral ou jurídico, essencialmente. O Estado não necessita de legitimidade ou legalidade para agir com violência, por exemplo.

A escola idealista tem como ponto alto no direito, Hans Kelsen. Para Kelsen, o Estado é uma obra constitucional ou legal. Weber vê o Estado moderno come monopólio e exercício da violência real. Só é Estado, o Estado legítimo ou legal.

Foucault e Deleuze falam da estatização do campo de poderes. Trata-se do realismo do Estado como uma categoria de poder. No idealismo, o campo de poder é constitucionalizado. A Constituição funciona como uma gramática da realidade, como gramaticalização do campo de poder? Assim, escapamos do idealismo jurídico?

Há fenômenos do poder que não são constitucionalizadas e que, outrossim, são expressão da gramática da realidade.

Para a escola idealista, só existe agir estatal dentro dos marcos constitucionais. A gramaticalização do Estado permite falar de agir estatal fora das linhas da Constituição. A luta de classes não cabe no idealismo jurídico, pois a violência estatal usada contra o proletariado, em geral, é ilegal.

Para além do conceito de Marx, Gramsci segue Hegel com seu Estado-ético. Trata-se do Estado como direção moral e intelectual do povo-nação. O Estado não é um fenômeno moral, mas ele faz da moral um artefato de educação das massas. A escola pública para as massas nasce daí.

Em Marx, o Estado é, essencialmente, dominação {em alguns textos, ele fala de hegemonia]. O método da dominação (ditadura, sociedade política, oligarquia política etc.), na democracia representativa, faz pendant com a hegemonia (democracia, sociedade civil, classe dirigente etc.).

Há situações nas quais o Estado governa pelo método ditatorial em democracias, ou melhor, simulacros de simulação de democracia. Aqui, o Estado inexiste como hegemonia, como classe dirigente enfim, como direção moral e intelectual, como gramática da realidade. O Estado inexiste com fenômeno de cultura política.

É o caso do Brasil de Bolsonaro e sua oligarquia miliciana de Rio das Pedras. Bolsonaro diz que se perder a eleição 2022, recorrerá ao método ditatorial para conservar o poder. Com o método ditatorial, ele já provocou um curto-circuito, principalmente, no Estado de polícia. A destruição da separação dos poderes serve ao método ditatorial e a um hiperpresidencialismo.

Bolsonaro é a prova de que o Estado pode se ditatorial funcionando em uma democracia formal constitucional.

 

GEOPOLÍTICA CAPITALISTA

30/03/2022

POLANTZAS cunhou o termo geopolítica capitalista na conjuntura na qual a multinacional aparecia como um ”Estado” por dentro do Estado nacional, no mercantilismo monopolista de Estado.

A geopolítica capitalista aparece como avesso da guerra no desenvolvimento do capitalismo mundial. Com a crise catastrófica do mercantilismo monopolista, a governança americana inventou o neoliberalismo financeirizado.

Com a globalização americana, a geopolítica capitalista fez da multinacional da comunicação sua vanguarda junto à povos periféricos e subdesenvolvidos. A financeirização é a outra dimensão da globalização econômica ocidental.

A globalização tem no general intelect sua força social produtiva (e práxis social) na produção de máquinas cibernéticas, no século XXI.

A China tem um general intelect em milhões de pessoas. O trabalho científico é o motor do desenvolvimento Chinês e de sua geopolítica capitalista da rota da seda.

A geopolítica capitalista asiática põe e repõe D-M-D’ (capitalismo produtivo) no lugar de D-D’ (capitalismo financeirizado) na direção econômica e da hegemonia da história econômica. A gramática produção de mercadoria 0substitui a lógica do capital fictício.

Os EUA procuram combinar geopolítica pura e geopolítica capitalista: guerra e economia. A China trilha o caminho pacífico do mercantilismo com general intelect. Porém, ela não abandona os membros da rota da seda, como a Rússia.

A globalização neoliberal encontra-se destroçada. Já a globalização asiática do mercantilismo capitalista se mantém de pé.

Os EUA acabaram refém da geopolítica pura, neoliberal.  Hoje, tal0 criatura assombra o criador.

 

IDEOLOGIA

A HISTÓRIA das ideologias começa com a definição “lógica das ideias” mas no livro “A ideologia alemã”, Marx e Engels falam de um discurso que oculta a realidade. Este livro só foi publicado em 1934,

Mais adiante, Marx fala da ideologia como um campo de lutas que reflete e refrata a crise histórica da contradição entre forças produtivas e relações sociais de produção.

Lenin pensa a ideologia como instrumento discursivo das classes sociais em luta. Em um sentido mais amplo, a ideologia pode ser o partido do idealismo em luta contra o partido do materialismo.

Na linguística, a ideologia é uma linguagem sem referente, ela não tem como referente as classes sociais ou a economia.

Na semiótica, a ideologia possui referente e é composta por símbolos e signos icônicos, signos que possuem efeito de realidade, como o direito.

O mundo digital aparece como cada cibernauta destilando sua própria ideologia pessoal: Torre de Babel.

Gramsci diz que todo homem possui sua própria filosofia e gramática. A filosofia é ideologia, gramática não.

A gramática é o campo no qual a ideologia cessa de funcionar como paradigma da interpretação da realidade econômica.

A crítica da gramática do capital mostra que o capital não faz pendant com o liberalismo. O liberalismo não é a ideologia do capital.

Então, a ciência do capital faz pendant com a gramática e não com a ideologia.

POLÍTICA REPRESENTATIVA

A política representativa é um artefato moderno. Para os pós-modernos, o fim da representação inaugurou a pós-modernidade.

O que é a representação?

O voto livre do eleitor define a soberania popular como pleno exercício da liberdade política sem interferência dos poderes público e privado.

A soberania popular está vinculada ao bem comum, na gramática da realidade?

O voto do eleitor entrega o Estado para os políticos. A teoria política pressupõe que o político vai representar o interesse do eleitor e seu corolário, o bem comum. Hans Kelsen desfez essa ilusão.

O governo de um Bolsonaro é o apogeu da substituição de uma classe dirigente por uma oligarquia política, que controla o parlamento.

A oligarquia é constituída por partidos formais e informais (Centrâo) que são ligados aos interesses evangélicos, do agronegócio e do pessoal da segurança pública e privada. Esses partidos agem no sentido da dissolução da modernidade política.

A aliança do Centrão com o neoliberalismo foi festejada como a estratégia que manteria o poder político fora das mãos da esquerda.

Hoje, o neoliberalismo luta pela legalização do capitalismo criminoso. A transformação do Estado nacional em um Estado privatizado desacelerou.

A eleição de 2022 aparece como um plebiscito que decidirá se a oligarquia continuará tocando seu projeto ou não.

 

FANTASIA

Fantasia é um vocábulo associado à imaginação individual ou de grupo. Marx o transformou em um fenômeno histórico. A frase <um fantasma (fantasia) ronda a Europa: o comunismo> fala da fantasia social do futuro.

A fantasia social remete para a luta de classe do proletariado e a sociedade de classes industrial, luta da classe operária contra o capital.

No campo freudiano, Lacan desliza a fantasia do domínio da imaginação para o princípio de realidade freudiano. O deslocamento vai além da estrutura psíquica e conjura a relação liberdade/necessidade. Trata-se da realidade concreta, realidade objetiva.

Na gramática da realidade, a fantasia é o princípio de realidade, ela é algo que aparece para o sujeito como exterior, como realidade objetiva.

A guerra na Ucrânia é a fantasia, como realidade objetiva, da conjuntura mundial do presente. Zelensky diz que já é a 3° guerra mundial entre Putin e EUA/OTAN.

A guerra aparece como fantasia – imaginação delirante nos mass medea -, a realidade objetiva é embrulhada em um pacote real e ficcional.

A ficção aparece na estrutura da novela com seus heróis (Biden, Zelinsky) e vilões (Putin).   De fato, não há heróis e vilões, e sim líderes que não querem a paz.

Biden diz que vai atacar a China, aliada da Rússia. Assim, ele revela que a guerra mundial tem como causa o confronto da geopolítica capitalista asiática – do mercantilismo capitalista – com o decadente neoliberalismo.

Na gramática da guerra, esta não é a expressão da pulsão de morte dos povos. Ela é uma fantasia do presente contra a qual os povos não se insurgem.

A guerra é uma fantasia do poder mundial (Estado suicidário) que não encontra resistência de um sujeito mundial, que quer a paz,

 

OLIGARQUIA OCIDENTAL

O que pode confundir a percepção do leitor é o Ocidente como uma prática política unificada na luta contra PUTIN.

Na superfície das aparências de semblância, parece que há uma classe dirigente cujo líder é Joe Biden.

A luta contra a Rússia acontece através como dos mass medea. Um regime de imagens e discurso eletrônico fala da destruição das cidades ucranianas, mortes de civis, inclusive crianças, milhões de refugiados. O exercito rússo aparece como vilão de uma novela na qual JOE aparece como herói ocidental e Zelensky como uma paródia de herói Marvel.

A realidade da guerra dos mass medea é real e ficcional. Ela não é produzida por uma classe dirigente que tem em sua gramática um mundo pacífico. Ao contrário, o que caracteriza a gramática da oligarquia é ela ser parte do Estado suicidário.

Na China, há uma classe dirigente que constrói um caminho pacífico através da geopolítica capitalista asiática, o avesso da geopolítica pura do Estado nacional.

A oligarquia ocidental é um artefato do neoliberalismo assim como a classe dirigente o é do mercantilismo capitalista.

A oligarquia faz pendant com o capitalismo D-D’ ou capitalismo financeirizado. Na realidade deste desaparece a profundidade do capitalismo  D-M-D’. A mais-valia, a luta de classes, a sociedade de classes, a classe dirigente industrial são foracluídos da realidade.

A oligarquia neoliberal não é portadora de uma geopolítica capitalista pacífica. Ela se move por uma geopolítica pura, que inclui a guerra mundial em sua gramática.

Isto explica o discurso de Joe evocando a     3° guerra mundial. Discurso naturalizado pelos mass medea.

 

SOCIEDADE INDUSTRIAL -antiga e moderna

Na etapa atual do capitalismo, há a distinção entre a sociedade industrial antiga do século XIX e a sociedade industrial moderna cibernética.

As multinacionais americanas cibernéticas criaram uma sociedade pós-industrial - como diz Peter Drucker?

No Brasil e América do Sul, a sociedade industrial antiga encontra-se em decomposição e o pós-industrial representa a vida urbana?

Rigorosamente, o pós-industrial é a nova forma da sociedade industrial moderna. Aliás, entre nós, o pós-industrial abrange a burguesia e a classe média e outras classes que não fazem parte do povo. O mundo digital permanece excluído da vida da maioria da população.

Ao lado das desigualdades antigas, temos agora a desigualdade digital como característica dos países subdesenvolvidos colonizados pelas multinacionais do capitalismo de plataforma.

Nestes países, o moderno se apresenta como digital na publicidade da tela da televisão até o celular. Sempre fomos modernos. Não somos subdesenvolvidos.

No entanto, a realidade digital do subdesenvolvimento não é a realidade da sociedade industrial cibernética. Por quê?

A sociedade industrial moderna tem no general intelect o artefato que a define como história econômica e direção moral e intelectual da nação.

Já falei de Bolsonaro como Príncipe noir tupiniquim. O Principe noir se define por ser o avesso do general intelect, que ele identifica com o campo da esquerda. Aliás, o Príncipe noir procura destruir o general intelect e seu projeto de construção de uma sociedade industrial moderna.

O moderno como aparências de semblância da ideologia publicitária representa um atraso na tomada de consciência dos povos subdesenvolvidos. A prática política do dominante se mantém com essa realidade artificial e fictícia da ideologia publicitária.