JOSÉ PAULO
A eleição de 2022 é um momento privilegiado para se falar do
discurso político brasileiro?
Uma velha crença da ciência social brasileira é aquela da
singularidade do discurso político nacional. Aqui mostro que se trata de uma
ilusão ingênua.
A eleição de 2022 vem marcada pelo uso do dinheiro público
para a compra de voto na Câmara e Senado pelo governo de um Jair Bolsonaro. O <Orçamento
Secreto> das emendas do relator transforma o dinheiro público em vil metal
da corrupção do poder parlamentar.
Há uma contradição sendo desenvolvida entre a política e a
moralidade pública, ou melhor, moralidade republicana. Tal fato caracteriza o
discurso político brasileiro atual. A compre de voto se tornou o leitmotiv
do funcionamento do poder parlamentar, o motor da política brasileira.
O bolsonarismo explica o nosso discurso político?
Se a resposta é sim, então, a visão de mundo do bolsonarismo
se tornou a visão de mundo da política parlamentar. No entanto, o bolsonarismo
faz pendant com um outro fenômeno da política, a saber: o Centrão.
O Centrão designa uma reunião de partidos políticos formais
que domina o Congresso. Ele é dito como a política fisiológica da relação entre
governo e parlamento do <é dando, que se recebe>.
O fisiologismo brasileiro combina apropriação do dinheiro
público com a ambição de carreiras política biográficas - duradouras. Aliás, o
partido político é um rótulo que existe em função das biografias políticas.
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O discurso político é o laço social entre governante e
governado; na era moderna, é o vínculo social entre representante e
representado, entre poder político e eleitor/cidadão, ou homem e mulher livres
de coações externas em relação a sua consciência histórica..
Assim, a soberania popular aparece como o fundamento da
fabricação de um poder nacional a partir da livre escolha do eleitor: um homem,
um voto. A compra de voto é, portanto, um modo de corrupção da democracia
republicana, enfim, um modo de destruir o fundamento do poder
democrático-republicano. Trata-se da crise profunda da república democrática.
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Há conjunturas históricas europeias nas quais o discurso
político ocidental se desenvolveu clara e distintamente.
O discurso político oligárquico foi teorizado pela teoria das
elites e pela gramática weberiana. Neste discurso, o poder nacional encontra-se
nas mãos de uma oligarquia política. Trata-se da democracia liberal estrito
sensu. Uma elite política domina a cena política através de partidos burgueses.
Com a entrada do proletariado na cena política, há um
aprofundamento da democracia e o nascimento do disso político socialdemocrata.
É a era do poder socialdemocrata com seu Estado do bem-estar.
No interregno, um outro poder político se constitui em
discurso político. É a época dos partidos políticos paramilitares, da luta
entre a esquerda e o fascismo, que na Alemanha desembocaria na construção do
poder nazista que é a causa imediata da 2° Guerra Mundial.
No Brasil 1988, há a tentativa de construção, limitada, do
paradigma socialdemocrata - com FHC e Lula. Claro, que é um poder
socialdemocrata da periferia latino-americana do Ocidente.
O poder socialdemocrata mantém as aparências de semblância republicanas
da política nacional. A moralidade republicana ainda é um semblante importante
na vida biográfica dos políticos profissionais.
O discurso político oligárquico domina a cena brasileira com
Michel Temer e Bolsonaro. Então, se desenvolve a contradição entre moralidade
republicana e a política oligárquica como privatização do poder brasileiro.
Com o governo Bolsonaro, a compra de votos com dinheiro
público torna-se o móbile da vida parlamentar. Como as pesquisas de opinião de
voto dizem que Bolsonaro perde no 1° Turno para Lula, Bolsonaro e o Centrão encaminham
o golpe de Estado branco (parlamentar) para mudar o equilíbrio de força
eleitoral em julho de 2022. A eleição é no dia 2 de outubro.
O golpe de Estado torna a eleição como reino as ilegalidades,
pois, o golpe de Estado é um golpe contra a Constituição e as leis eleitorais. Enquanto Bolsonaro fala em golpe de Estado clássico,
caso não vença, o Centrão dá o golpe de Estado realmente existente na política
brasileira, em julho.
A política do conluio criminoso entre o governo nacional e o
parlamento é, de fato, o colapso da república democrática-1988.
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O poder político nacional não é um artefato social solto no
ar. Ele se constrói e existe em função de sua relação com a economia, ou seja,
com o capitalismo.
O discurso político oligárquico faz pendant com o domínio absoluto
do poder do Banco (em aliança com o agronegócio) na política. O ministro Paulo Guedes
personifica o poder do Banco na vida nacional e local. O neoliberalismo
político subdesenvolvido e perverso é a narrativa nuclear que cria o laço
social ente governo e capital.
A crise do neoliberalismo político da globalização faz do Brasil
o elo mais fraco do capitalismo mundial. Com a política neoliberal, o país se isola
na gramática da geopolítica capitalista do mercantilismo do capital.
Assim, o Brasil caminha para o abismo econômico com a reeleição
de Jair Bolsonaro, que insiste em manter Paulo Guedes no comando da economia. Jair
disse para Paulo: <cairemos juntos ou reinaremos junto, eternamente.
A PEC da compra de votos da classe média do Sudeste e do
eleitor pobre do Nordeste, é a tática da oligarquia política para se conservar
no poder brasileiro, mesmo <que a casa caia>.
A PEC <medinho de Lula> (na formulação espirituosa de
um jornalista antibolsonarista) revela o desenvolvimento da contradição entre
moralidade republicana e política privada, política de apropriação privada do
poder brasileiro, por indivíduos e clãs.
A eleição de 2022, conta com a intervenção do exército bolsonarista
no processo eleitoral, tentando alterar o equilíbrio de força para favorecer Bolsonaro.
A desmoralização das Forças Armadas gerou o discurso do fim da necessidade de F.A.
no Brasil.
A corrupção ou corrosão das altas instituições de Estado é
parte da estratégia do bolsonarismo para conservar o poder brasileiro. Tal
niilismo político de destruição da república democrática tem como suporte 1/3
do eleitorado. São dezenas de milhões de eleitores. Portanto, a crise orgânica brasileira
torna o país o elo mais fraco do capitalismo mundial, do mercantilismo do
capital.
A derrota de Bolsonaro e do bolsonarismo em outubro de 2022
seria o ponto-departida para o país iniciar o debate sobre sua integração à
nova ordem capitalista mundial. Eis, o segredo de polichinelo da política
brasileira de hoje.
A construção de um novo discurso político pelo novo poder
brasileiro não aparece no horizonte da nossa política-2022?
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