sexta-feira, 26 de maio de 2017

KANT – POLÍTICA, IMPOLÍTICA, LOUCURA

José Paulo
REVOLUÇÕES: POLÍTICA E IMPOLÍTICA

Para os leitores que ainda não se atinaram com a coisa as publicações nesses blog não são publicações de textos acadêmicos ou universitários. São somente gramaticalização científicas em narrativa lógica do inconsciente do discurso do político do maître na história da cultura da política universal. 

                                                                        I

Marx e Tocqueville expõe duas concepções de revolução moderna antagônicas?

A revolução em Marx em longa duração é a revolução econômica capitalista que se transforma em revolução ideológica gramatical como força prática as revoluções políticas. É o caso da Revolução Francesa.

Em Tocqueville, a Revolução Francesa como efeito da longa duração é uma longa duração da sociologia historial da política nacional democrática. Trata-se da necessidade da revolução democrática contra as velhas instituições podres e inúteis para a manutenção da Ordem Sociológica no Ancien Régime. 

O Velho regime é a transformação da política em impolítica, sendo este fenômeno a causa da necessidade da revolução democrática. Necessidade de substituir as antigas instituições carcomidas e inúteis para manter a Ordem na sociedade francesa. Foi uma catástrofe inevitável pois os ricos (aristocracia e burguesia), pois, eles não tinham como chegar a acordos e a um pacto para a mudança natural da soberania na cultura da política da sociedade aristocrática para a sociedade democrática. 
Toc nos permite pensar a revolução francesa como revolução permanente nacional moderna no campo das relações entre países, nações e impérios na Europa. A revolução com Napoleão torna-se uma força prática burocrática (Kraft der Praxis, die bürokratischen) que Marx registra no 18 Brumário:
“Torna-se imediatamente óbvio que um pais como a França, onde o Poder Executivo controla um exército de funcionário que conta mais de meio milhão de indivíduos e, portanto, mantém uma imensa massa de interesses e de existências na mais absoluta dependência; onde o Estado enfeixa, controla regula superintende e mantém sob sua tutela a sociedade civil, desde suas mais amplas manifestações de vida até suas vibrações mais insignificantes, desde suas formas gerais de comportamento até a vida privada dos indivíduos”. (Marx. 1974: 363).       

Tanto Marx como Toc. nos fazem ver a Revolução francesa não como revolução homo clausus local, ou nacional, mas como uma revolução articulada ao campo de poder kantiano europeu. A França da revolução democrática nacional moderna quer fundar um campo de poder mundial kantiano para a emancipação da humanidade, pois tratava-se de fundar a política moderna para tomar o lugar da impolítica tirânica do antigo regime aristocrático:
“desde o início de nossa história, tem determinado a própria existência da política, a causa da liberdade contra a tirania”. (Arendt: 9).

Hannah faz uma teoria geral da contrafação entre IMPOLÍTICA (ou polis da tirania ou da polis oligarquia) e a política tout court como política girando no eixo da liberdade. O ponto forte da Revolução bolchevique era a ideologia gramatical de luta em diversas formas de stásis (e depois guerra ou pólemos) contra o Ancien Régime tzarista, luta pela liberdade em vários graus.
Tal fato aparece claramente na brochura O Estado e a revolução que é uma promessa de Lenin de uma era de liberdade na Rússia jamais vista no planeta inclusive na América, pátria de uma revolução na qual a liberdade é a fonte de uma ideologia gramatical até hoje povoando os sonhos americanos, pois, nem Donald Trump pode fazer desaparecer tal ideologia gramatical revolucionária da liberdade.  
A Revolução francesa é a produção de uma NARRATIVA nacional democrática da modernidade como forma de articulação da hegemonia do campo de poder mundial na passagem de um campo hobbesiano para um campo kantiano liberal. O essencial da revolução francesa não é o fato como cem si inexplicável, mas a narrativa produzida posteriormente sobre o fato transformando-o em artefato narrativo da liberdade, portanto, da política. A política kantiana exige um campo de poder procedural público:
“Já como sábio, ao contrário, que por meio de suas obras fala para o verdadeiro público, isto é, o mundo, o sacerdote, no uso público de sua razão, goza de ilimitada liberdade de fazer de sua própria razão e de falar em seu próprio nome. Pois o fato de os tutores do povo (nas coisas espirituais) deverem ser eles próprios menores constitui um absurdo que dá em resultado a perpetuação de absurdos”. (Kant: 108).

Estes absurdos são parte da máquina de guerra psicótica delirante da cultura sacerdotal do tutor espiritual do povo! Em Kant, o espaço público procedural do uso público livre da razão é a gramaticalização do inconsciente do discurso do político do sacerdote.  Daí aos ataques à teologia e à metafísica como máquinas de produção de ideologias psicóticas delirantes é um pequeno salto:
“Mas, enquanto sábio, tem completa liberdade, e até mesmo o dever, de dar conhecimento ao público de todas as suas ideias, cuidadosamente examinadas e bem-intencionadas, sobre o que há de errôneo naquele credo, e expor suas propostas no sentido de melhor instituição da essência da religião e da Igreja” (Kant: 106), ou seja, do poder impolítico dominante como ideologia gramatical de toda uma época.

                                                                             II
A narrativa depois da revolução é um contraponto entre o uso público da razão e o uso privado da razão:
“O sacerdote proclama: não raciocineis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis aqui por toda parte a limitação da liberdade” fazendo pendant com a impolítica. “Que limitação, porém, impede o esclarecimento [˂Aufklãrung>]? Qual não o impede, e até mesmo o favorece? Respondo: o uso público de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode realizar o esclarecimento [˂Aufklãrung>] entre os homens. O uso privado da razão pode, porém, muitas vezes ser muito estritamente limitado, sem, contudo, por isso impedir notavelmente o progresso do esclarecimento [˂Aufklãrung>]. Entendo, contudo, sob o nome de uso público de sua própria razão aquele que qualquer homem, enquanto SÁBIO, faz dela diante do grande público do mundo letrado”. (Kant: 104).

A antítese razão versus loucura em Kant é da cultura da política médica das grandes figuras da loucura do século XVIII (Foucault: 251), sendo a demência a com mais efeito de realidade na sociedade médica a qual Freud associa o Dr. Schreber:
“Sob nomes diversos, mas que abrangem quase todos o mesmo domínio – dementia, amentia, fatuitas, stupiditas, morosis -, a demência é reconhecida pela maioria dos médicos dos séculos XVII e XVIII. Reconhecida e facilmente isolada entre as outras espécies mórbidas, mas não definida em seu conteúdo positivo concreto. Ao longo desses dois séculos ela persiste no elemento do negativo, sempre impedida de adquirir uma figura característica. Num certo sentido, a demência é, dentre todas as doenças do espírito, a que permanece mais próxima da loucura. Mas da loucura em geral, da loucura experimentada em tudo o que pode ter de negativo: desordem, decomposição do pensamento, erro, ilusão, não-razão e não-verdade”. (Foucault: 252).

Se a política da serpente e pomba é expressão da racionalidade da ordem do discurso da lei da sociedade política, a sociedade da demência é a impolítica como desordem enquanto falta de incivilidade, decomposição das ideias políticas práticas e do pensamento político abstrato, erro o mais grosseiro, ilusão delirantemente psicótica, no máximo a racionalidade estreita do interesse econômico homo clausus e, finalmente, a ausência total da verdade e/ou do verdadeiro na cultura da impolítica. Acompanhando a incultura da política do simulacro de simulação falta completa de valores próprio da política da serpente astuciosa, pois, não limitada pela moral da justiça da pomba (Sócrates).           
                                        
                                             KANT: POLÍTICA E IMPOLÍTICA

Aliás, pode até parecer pernóstico, pedante e elitista a ideia em tela kantiana. No entanto, ela faz pendant com a construção da narrativa da revolução após a revolução que assim se transforma em uma ideologia força prática gramatical invadindo e sendo absorvida pelo real da realidade ou mundo.

O papel do intelectual, ou seja, da classe governante (classe simbólica + classe política) é muito claro na revolução liberal kantiana. Ela deve se articular como moral e política:
 “A política diz: ‘sede astutos como as serpentes’. A moral acrescenta (como condição limitante): ‘e sem maldade, como as pombas’. Quando estas duas coisas não podem coexistir em um mesmo mandamento, há realmente um conflito entre a política e a moral; mas se ambas devem ser inteiramente unidas, o conceito contrário é absurdo e a questão de saber como resolver aquele conflito não se apresenta mais como problema”. (Kant: 130):    

A articulação da política serpente como tal é a impolítica; e a articulação do limite da política serpente pela moral pomba, aí, encontra-se a política liberal. A política como tal kantiana é o avesso da impolítica serpente kantiana 

Como fazer a revolução perdurara pela narrativa republicana liberal (se pp 114):
“Um Estado pode também já governar-se em forma de república, embora ainda possua de acordo com a constituição vigente, uma autoridade soberana despótica, até que o povo progressivamente se torne capaz de sofrer a influência da pura ideia da autoridade da lei (do mesmo modo como se a lei possuísse uma força física) e, por conseguinte, se encontre apto a dar a si mesmo uma legislação própria (fundada originalmente no direito”. Se também pela violência de uma revolução produzida por uma má constituição fosse conquistada, de maneira ilegítima, uma constituição mais de acordo com a lei, não deveria, também, entretanto ser considerado permitido reconduzir o povo novamente à constituição anterior, embora durante a primeira qualquer indivíduo que tenha tomado parte dela, violenta ou astuciosamente, deva ser submetido com razão aos castigos dos rebeldes”. (Kant: 136).  

 A lei como força prática ideológica gramatical liberal faz pendant com o espaço procedural público:
“A liberdade de pensar opõe-se em primeiro lugar a coação civil. Sem dúvida ouve-se dizer: a liberdade de falar ou de escrever pode nos ser tirada por um poder superior, mas não a liberdade de pensar. Mas quanto e com que correção poderíamos nós pensar, se por assim dizer não pensássemos em conjunto com os outros, a quem comunicamos nossos pensamentos, enquanto eles comunicam a nós os deles! Portanto, podemos com razão dizer que este poder exterior que retira dos homens a liberdade de comunicar publicamente seus pensamentos rouba-lhes também a liberdade de pensar, o único tesouro que ainda nos resta apesar de todas as cargas civis, e graças ao qual unicamente pode ainda ser produzido um remédio contra todos os males da situação”. (Kant: 93-94).           

No entanto, a narrativa da liberdade (da política moderna liberal) é objeto de todo tipo de obstrução:
 “Mesmo quando os conceitos da razão só querem fundar uma obrigação legal apenas e de acordo com os princípios da liberdade, pela qual unicamente é possível uma constituição do Estado válida de direito”. (Kant: 138).

Tal fenômeno em tela é a saída da minoridade de uma espécie de servidão voluntária ao discurso do político do maître contra o qual o Esclarecimento luta sem descanso:
“Esclarecimento [˂Aufklãrung>] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [˂Aufklãrung>]. 

                                                                 III

 Como o esclarecimento e o espaço procedural de comunicação pública entre os homens, o homem que sai de sua minoridade na era moderna saí como classe simbólica que surge contra a vigilância e a repressão: “ à luz da história subsequente do trabalho da polícia ideológica”. (Darnton. 1986: 193). Onde houver classe simbólica em maioridade haverá polícia ideológica para desarticular o trabalho daquela pela república liberal como tal moderna.

A classe simbólica em maioridade é a possibilidade do discurso do político do liberal que desossa o delírio psicótico e seus absurdos sobrea política e na articulação da política da serpente:
“Já como sábio, ao contrário, que por meio de obras fala para o verdadeiro público, isto é, o mundo, o sacerdote, no uso público de sua razão, goza de ilimitada liberdade de fazer uso de sua própria razão e de falar em seu próprio nome. Pois o fato de os tutores do povo (nas coisas espirituais) deverem ser eles próprios menores constitui um absurdo que dá em resultado a perpetuação dos absurdos”. (Kant: 108).

Uma classe simbólica gramatical minoritária, conscientemente, por covardia ou preguiça, como tutora das massas gramaticais é a causa mais certa da difusão do delírio psicótico como fantasia de articulação do cotidiano da política da serpente. 

No Brasil, a impolítica do modo de produção da cultura da política do coronel do sertão de Guimarães Rosa crê que o alvo da polícia ideológica deva ser o sacerdote digitalis.

A diferença entre a política e a impolítica está no vínculo da política com a moral e a ideia de direito como fonte territorial da subjetividade do território gramatical da liberdade:
“A verdadeira política, portanto, não pode dar um passo sem antecipadamente ter prestado homenagem à moral (da pomba socrática), e embora a política em si mesma seja uma arte difícil, a união dela com a moral não constitui uma arte, pois a última corta o nó górdio que a política não consegue desatar, quando ambas entram em conflito uma com a outra. O direito do homem deve ser considerado sagrado, por maiores que sejam os sacrifícios que custem ao poder dominante”. (Kant: 152).   

A moral da pomba na política da serpente é a ideia de moral fazendo pendant com a ideia de justiça (justo) em Sócrates no livro A República- não prejudicar. Trata-se do anverso da ideia e justiça de Homero, de Somonide e do sofista. (Platon: 866-867)
- Donc faire du bien aux amis, du mal aux ennemis, c’est là que Simonide entend par justiçe? – A mon avis”> (Platon: 864). Esta é a justiça fazendo pendant com a política da serpente do modo de produção da cultura da política oligárquico do coronel urbano-rural brasileiro! 

Em Sócrates: “En verité, pourtant, les bons sont de homens justes et incapables de commettre une injustice? – Cést la verité”. Platon: 867). De fato, se trata de não prejudicar o amigo nem o inimigo, de não prejudicar, simplesmente. Esta fórmula se encontra na Edição do A Republica, em português, de um modo claro:
“Logo, não é obra própria do justo o causar dano a um amigo ou a qualquer outro, e sim do seu contrário, o injusto”. (Platão: 23). Justo é a política que é a gramática em narração lógica: não prejudicar ninguém. 
  
                                                                                 IV

A narrativa liberal-democrática tem necessidade do filósofo e do homem das belas letras como classe simbólica em estado de maioridade, ou seja, como força prática ideológica gramatica como culto desejado pelo intelectual da maioridade:
“Aqui outra vez, celebrou o homem de letras como o guerreiro solitário, na luta pela civilização, e prosseguiu emitindo uma declaração de independência para a gens de lettres como grupo social” (Darnton. 1986: 268). Trata-se da luta da classe simbólica do esclarecimento na cultura da política por uma ideia de justiça associada a maioridade, e, portanto, a abolição da ideia da produção sob o mandato de um tutor, o discurso do político do senhor do absolutismo. Daí a necessidade de o estado absolutista criar a polícia ideológica como contrapeso a luta do intelectual pela maioridade cultural e simbólica.     

Napoleão temia os ideólogos (grupo como o qual ele tivera contato), porque não sabe que sabe da força prática das ideias revolucionárias modernas nacionais democráticas no jogo do campo de poder hobbesiano europeu e americano.

A narrativa da articulação da hegemonia europeia francesa tinha necessidade de destruir o baluarte continental do Ancien regime aristocrático na Europa. Assim, as guerras napoleônicas eram inevitáveis e uma necessidade em longa duração sociológica da história da cultura da política da liberdade e da democracia na versão francesa napoleônica.

Marx pensou a guerra napoleônicas contra a Rússia como a revolução do modo de produção do burguês francês levado à economia rural tradicional russa. Revolução do urbano contra o rural. Tocqueville pensa a revolução das guerras napoleônicas como a expansão em escala ampliada da revolução política francesa. A derrota francesa na guerra com o czarismo definiu o curso da revolução europeia que acabou em 1917 dando um salto do Ancien Régime para o socialismo bolchevique. A Rússia nunca soube, de fato, o que é uma revolução moderna democrática nacional.

A vitória da Rússia impediu a criação de um campo de poder mundial kantiano no início do século XIX na Europa, ou seja, um território de relações entre nações fundado na política ao invés de se fundar na impolítica.  
                                                                                         
Na revolução para fazer a passagem da impolítica para a política, a relação entre o intelectual e a nação é essencial. A criação da sociedade do escritor na França do século XVIII (Darnton) transportou a política para os hábitos da literatura e a literatura passou a fazer pendant com a política. Daí a cultura deixa de ser remetida à hábitos, costumes e crenças e se torna a cultura da política econômica feita por uma literatura, com alto grau de abstração, do filósofo e do homem de letras, e do economista:
Tocqueville diz:
“Os filósofos não deram apenas suas ideias ao povo que a fez (a Revolução): deram-lhe seu temperamento e eu humor. Sob sua longa disciplina, à falta de quaisquer outros líderes, no meio da ignorância profunda em que vivia no cotidiano, toda a nação, ao lê-los, terminava por contrair seus instintos, sua inclinação espiritual, o gosto e até os cacoetes próprios aos que escrevem. De sorte que, quando ela começou a atuar, transportou para a política todos os hábitos da literatura”. (Aron: 246).

Na Rússia czarista, a revolução que destruiria o czarismo seria aquela da classe simbólica sob comando dos intelectuais marxistas.

A classe simbólica significa a produção de uma literatura abstrata sobre primeiro sobre a França, depois sobre a Europa e na Rússia onde se destaca o fenômeno da literatura abstrata marxista e a escola de Lenine da articulação da interpretação abstrata com o método análise concreta de situações concretas. Na Rússia, a literatura marxista foi o aspecto principal da unidade teoria e prática. A literatura marxista se transformou em uma ideologia gramatical como força prática bürokratische da sociedade e do Estado com a revolução stalinista. Tal força prática bürokratische invade o real deixando um rastro de rios de sangue camponês, sangue da classe simbólica do terror do Estado bürokratische, fenômeno que o mundo só veio a tomar conhecimento décadas depois do acontecimento. 

A ciência abstrata e a classe simbólica foram determinantes na produção da ideologia gramatical stalinista abstrata força prática   bürokratische de abstração da realidade que significa a destruição da sociedade civil tradicional russa e a construção de um Staatliche bürokratische post-kapitalistischen, do qual Hitler nutria sentimentos de ódio e amor: de aversão sexual, inveja e desejo sexual intenso. 

A IMPOLÍTICA da modernidade adquire sua forma completa como o Urstaat comunista populista de Stalin fazendo pendant com o Estado hitleriano.

O nazismo perdeu a II Guerra, então, por que inúmeros autores escrevem no pós- 1947 dizendo que o totalitarismo se apossou da América democrática liberal?

Tal sociedade totalitária americana não explica a soberania do Staatliche bürokratische post-kapitalistischen no século XXI como criminostat periferia lacaniano R.S.I?

                                                                          SEGUNDA PARTE
                                                           LOUCURA E REVOLUÇÃO – NORMAL E PATOLÓGICO
                                                            
                                                                       MESMER E SCHREBER 

Enquanto Schreber tem seu nome ligado à história da loucura via a leitura que Freud fez do Memórias de um doente dos nervos, Mesmer é visto como parcela da cultura da política popularesca ligada ao choque com o Ancien Régime:
“Os mesmeristas radicais expressavam a sensação dos seus contemporâneos de que o Ancien Régime havia decaído para além da possibilidade de uma recuperação natural. Era necessária uma grande intervenção cirúrgica, e não se poderia confiar nos médicos da corte para executá-la. Os mesmeristas assumiram a tarefa, armados por sua própria medicina e conseguiram infligir alguns profundos sofrimentos; mas, depois da morte da antiga ordem, viram que a sua união se devia a um desejo comum de transformação, e não objetivos claramente definidos, e viraram-se uns contra os outros”. (Darnton. 1988: 142).
    
O mesmerismo fez pendant com a cultura da política popularesca científica do maravilhoso (absurdos para Kant) que ajudou a elite revolucionária com as ideias dele delirante psicóticas a pôr um fim no poder europeu da aristocracia na França:

O mesmerismo também atraiu alguns privilegiados, homens como Lafayte, Duport e d’Eprémesnil, que flertavam com ideias que socavavam sua elevada posição social. Esses homens defendiam o mesmerismo como uma medicina do povo simples, uma ciência que restauraria os saudáveis primitivos de Rousseau e Court de Gébelin. A saúde geraria virtude, a virtude descrita por Rousseau e Montesquieu, e a virtude geraria harmonia no corpo político e nos indivíduos. O mesmerismo regeneraria a França destruindo os ‘obstáculos’ à ‘harmonia universal’; remediaria os efeitos perniciosos das artes (outra ideia adaptada de Rousseau) restabelecendo uma sociedade ‘natural’ onde as leis físico-morais da natureza afogariam os privilégios aristocráticos e o governo despótico num mar de fluído mesmérico. Os primeiros a ir, evidentemente, seriam os médicos. O programa da revolução mesmerista a seguir tornava-se vago, mas sua posição central mantinha-se clara: a eliminação dos médicos poria em movimento as leis naturais para erradicar todos os abusos sociais, pois o despotismo dos médicos e seus aliados acadêmicos representava a última tentativa de preservação da velha ordem contra as forças da verdadeira ciência da natureza e da sociedade”. (Idem: 141-142).

A ideia central de Mesmer é uma ideia delirante a altura das ideias delirantes de Schreber. Mesmer diz:
“Em fevereiro de 1778, Franz Anton Mesmer chegou a Paris e anunciou sua descoberta sobre um fluido ultrafino que penetrava e cercava todos os corpos. Mesmer não vira realmente esse seu fluido; chegou à conclusão de que ele devia existir como o meio para a ação da gravidade, visto que os planetas não poderiam se atrair num vácuo. Além de imergir todo o universo nesse ‘agente da natureza’ primordial, Mesmer trouxe-o para à Terra, a fim de abastecer os parisienses com calor, luz, eletricidade e magnetismo, e exaltou particularmente sua aplicação na medicina. Ele sustentava que a doença resultava de um ‘obstáculo’ ao fluxo do fluído através do corpo, o qual se assemelhava a um imã. As pessoas poderiam controlar e fortalecer a ação do fluído ‘mesmerizando’ ou massageando os ‘polos’ do corpo, e com isso superar o obstáculo, induzir uma ‘crise’ muitas vezes sob a forma de convulsões, e restaurar a saúde ou a ‘harmonia’ do homem com a natureza”. (Idem: 13-14).       

Freud fala de Schreber como um louco que conseguiu convencer a sociedade alemã de que ele Schreber não era louco:
“Nas numerosas solicitações aos tribunais, através das quais o Dr. Schreber esforçou-se por recobrar a liberdade, não repudiou de modo algum seus delírios ou fez qualquer segredo da intenção de publicar as Denkwürdigkeiten. Pelo contrário, estendeu-se sobre a importância de suas ideias para o pensamento religioso e sua invulnerabilidade aos ataques da ciência moderna; mas, ao mesmo tempo, dava ênfase à ‘absoluta inocuidade (430) de todas as noções que, como se dava conta, seus delírios obrigavam-no a realizar. Na verdade, tais eram sua perspicácia e a força convincente de sua lógica, que finalmente, e apesar de ser ele paranoico reconhecido, seus esforços coroaram-se de sucesso. Em julho de 1902, os direitos civis do Dr. Schreber forma restabelecidos e, no ano seguinte, suas Denkwürdigkeiten eines Nervenkranken apareceram, embora censuradas e com muitas partes omitidas”. (Freud. v. XII: 31).

 O que Freud não foi capaz de entender foi o êxito da autogramaticalização em narrativa lógica do inconsciente do discurso do político do Dr. Schreber. Porém o tribunal a metabolizou e cedeu a liberdade a Schreber por esse triunfo da razão gramatical sobre a loucura desse herói tão mal visto (e tratado como o homem-lobo em um jardim da Babilônia de Nabucodonosor) pelo campo freudiano, até os dias atuais.

O ponto culminante delirante de nosso herói é assim relatado:
“Para uma descrição mais pormenorizadas de seus delírios, tal como apareceram em sua forma final, podemos recorrer ao Relatório do Dr. Weber. O ponto culminante do sistema delirante do paciente é a sua crença de ter a missão de redimir o mundo e restituir à humanidade o estado perdido de beatitude. Foi convencido a essa tarefa, assim assevera, por inspiração direta de Deus, tal como aprendemos que foram os Profetas; pois, os nervos , em condições de grande excitação, assim como os seus estiveram por longo tempo, têm exatamente a propriedade de exercer atração sobre Deus – embora isso signifique tocar em assuntos que a fala humana mal é capaz de expressar, se é que o pode, visto jazerem inteiramente fora do raio de ação da experiência humana e, na verdade, terem sido revelados somente a ele”. (Idem: 32).

Freud se refere a esses tipos de ideias como ideias de um pensamento específico. Trata-se da teologia psicológica. Tal teologia psicológica põe no centro do debate o lugar da mulher na periferia RSI (Real/Simbólico/Imaginário):
“A parte mais essencial de sua missão redentora é ela ter de ser precedida por sua transformação em mulher. Não se deve supor que ele deseje ser transformado em mulher; trata-se antes de um ‘dever’ baseado na Ordem das Coisas, ao qual não há possibilidade de fugir, por mais que, pessoalmente, preferisse permanecer em sua própria honorável e masculina posição na vida. Mas nem ele nem o resto da humanidade podem reconquistar a vida do além, a não ser mediante a transformação em mulher (processo que pode ocupar muitos anos ou décadas), por meio de milagres divinos”. (Idem: 32).

Se este escrito de Schreber fosse contemporâneo da discussão de Lacan sobre o homem como totalidade fálica e a mulher como não-todo constituindo uma razão antitética da inexistência de relação sexual; se o escrito fosse da era do movimento da mulher que começa na década de 1960; então a mulher como parcela do além é o não-todo como parte da periferia simbólico. Nesse sentido, o dito de Schreber sobre a transformação da humanidade em mulher (como parte da redenção da humanidade) não evoca Goethe (pp 59):

Mefistófeles
                                 Sou parcela do Além,
   Força que cria o mal e também faz o bem! (Goethe: 59)

Assim, como Mesmer o foi na França da Revolução francesa, Schreber seria integrado à cultura da política mundial da revolução da mulher (parcela do Além) no século XXI, como aquele que não para de e inscrever na nova ordem simbólica mundial.

Hoje, homens desejarem se transformarem em mulher não é mais classificado, e tratado, como caso policial de psicose paranoide delirante.

Para não deixar só Freud falando por Schreber, vejam o texto delirante seguinte do próprio Schreber:
“Além da língua humana habitual há ainda uma espécie de língua dos nervos, da qual, via de regra, o homem não é consciente. Em minha opinião, a melhor maneira de ter uma ideia disso é recordar os procedimentos pelos quais o homem tenta gravar na memória certas palavras numa determinada sequência, como, por exemplo, quando um estudante, decora uma poesia que precisa recitar na escola ou um padre decora o sermão que tem de dizer na igreja. As palavras em questão são então repetidas em silêncio (como em uma oração silenciosa que do púlpito se exorta os fiéis a fazer), isto é, o homem incita seus nervos a induzir as frequências vibratórias correspondentes ao uso das palavras em questão, ao passo que os instrumentos próprios da linguagem (lábios, língua, dentes etc.) não são postos em movimento ou o são apenas casualmente”. (Schreber: 61).      

Na metafísica, encontramos muitos textos que se assemelham com o supracitado. Do campo da filosofia, Monica David-Ménard diz:
“Quando ele [Kant] retoma em 1781 o tema da redefinição da filosofia como ciência do limite da razão humana, a questão da relação com Swedenborg não é mais mencionada; o debate este último é substituído pelo debate com a metafísica. Mas todos os termos que caracterizavam o ocultismo – loucura, delírio, alucinação – servem agora para qualificar a metafísica”. (David-Ménard: 22-23).

E em seguida ela se interroga:
“a Crítica da razão pura distingue duas formas do impossível: o contraditório puramente lógico e o que ‘sem ser impossível no sentido da contradição não pode ser contado entre os possíveis’. Deste, há duas formas: o númeno leibniziano e as forças fundamentais que Swedenborg forjava ao admitir a existência dos espíritos, a transmissão de pensamento e a predição do futuro. O fato de o nome de Swedenborg não se pronunciado ao lado do de Leibniz não impede que aí a estrutura do problema do impossível se refira explicitamente ao pensamento visionário, e à perigosa vizinhança do númeno com os espíritos dos mortos”. (Idem: 27).

 Do contraditório como terapêutica de libertação,                  
Fernando Pessoa considera a “coerência, a convicção e a certeza são além disso, demonstrações evidentes – quantas vezes escusadas – da falta de educação”. Pois: “Se há um fato estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentado sobre a mesma opinião sempre coerente consigo próprio”. (Pessoa: 581).

A ideologia gramatical na esfera da política produz essa espécie de sujeito gramatical falta de educação do fernandismo mesmo com o mundo dele desabando a sua volta ou em ruínas. Trata-se claramente de uma forma de loucura artificial da qual o sujeito só se livra quando é quebrado com a spaltung da ideologia gramatical do fernandismo falta de educação.

Na cultura da política mundial: “Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm, sobretudo quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variarão, como é de entender, consoante esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz de sua sensibilidade e de sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é republicano de manhã, e monárquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, é católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos do anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo uma invenção de louco quando, ante uma solidão de mar, ele não souber mais do que a da ‘Odisséia’. (Pessoa: 581).

Além de ser um modo de escapar do determinismo lacaniano o sujeito é efeito do significante-metre, o sincretismo gramatical do sujeito parece o caminho mais óbvio para enfrentar o estado do louco permanente da ideologia gramatical que como uma peste domina a humanidade durante centenas ou até milênios de anos estabelecendo o discurso delirante do político do louco:
“Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gostam d’essa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida”. (Idem: 581-82).

A política do íntegro e do coerente é aquela da oligarquia colonial brasileira da atualidade (e de toda forma de oligarquia que se ampare na escola sofista de Platão) sempre da mesma opinião: Donc faire du bien aux amis, du mal aux ennemis,  c’est là que Simonide entend par justice? – A mon avis” (Platon: 864).

Porém quando a política do íntegro e coerente entra em crise ela faz o mal ao amigo e bem ao inimigo! E então toda a possibilidade da normalidade dos que se atem a mesma opinião do mesmo vai para o cafundó do judas que perdeu as botas tentando fugir da cruz, ou da forka!   

ARON, Raymond. Les étapes de la pensée sociologique. Paris: Gallimard, 1967
ARENDT, Hannah. Da revolução. SP/Brasília: Ática/UNB, 1988
DARNTON, Robert. O lado oculto da revolução. Mesmer e o final do Iluminismo na França. SP: Companhia das letras, 1988
 DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. RL: Graal, 1986
DAVID-MÉNARD, Monique. A loucura na razão pura. Kant, leitor de Swedenborg. SP: Editora 34, 1996
FOUCAULT, Michel. História da loucura. SP: Perspectiva, 1978
FREUD. Obras Completas. v. XII. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (Dementia paranoide). [1911]. RJ: Imago, 1969
GOETHE, J. W. Fausto & Werther. SP: Nova Cultural, 2002
KANT, Immanuel. Textos Seletos. Petrópolis: VOZES, 1885
MARX, Karl. Os Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974
PESSOA, Fernando. Obras em Prosa. Volume único. RJ: Nova Aguillar, 1986
PLATÃO. Diálogos. v. III. A República. Edições de Ouro. RJ: Editora Tecnoprint, Sem Data
PLATON. Oeuvres Complétes. v. I. Paris: Gallimard, 1950
SCHREBER, Daniel Paul. Memórias de um doente de nervos. SP: Paz e Terra, 2010

         

                                                                             


                    
                                               
  
   
   

   
  
  

     

terça-feira, 23 de maio de 2017

NOTA SOBRE O TIRANO DONALD TRUMP

José Paulo
                                                    SOBRE A TIRANIA DA AMÉRICA 

Na sociologia de Weber é bem desenvolvido a ideia da ciência pela separação entre fato e valor, descrição e ideologia. A descrição dos fatos isola o julgamento de valor da situação ou objeto de conhecimento. Esta é uma ideia forte para evitar que a loucura se aposse do discurso, da intertextualidade, da ciência moderna.

Na antiguidade, julgar na descrição e pela descrição eram considerados procedimentos necessários para a gramaticalização lógica do campo de poder; na Grécia, o saber faz pendant com a política enquanto na era moderna o conhecimento científico adquire um absoluta autonomia e relação ao território da política tirânica.

Julgar o regime tirânico implicava em julgar o tirano, como faz Platão, ao descrever o governo julgando a alma da biografia do tirano. Na era moderna, o sujeito biográfico é quase reduzido a pó como na fórmula de Lacan: o sujeito é efeito do significante. O significante-mestre é aquele do discurso do maître (tirano) que, realmente, reduz o sujeito individual ou coletivo a quase nada.

Se o sujeito gramatical em narração lógica é o efeito da disciplina moral do autogoverno fundada em costumes, hábitos e crenças que modela a estrutura do Estado e a biografia dos cidadãos, então o sujeito é o efeito da gramática em narração lógica da sociedade do autogoverno que não se confunde com a tirania da maioria, com a bajulação da soberania do povo eleitor (DEMOCRACIA REPRESENTATIVA DESPÓTICA); o sujeito gramatical autogoverno é o anverso do sujeito gramatical sgrammaticatura tirano do regime tirânico como tal ou do regime tirânico democrático.  

Como julgar a tirania da democracia em diferentes situações políticas e países?

A eleição de Donald Trump se fez no clima político de que se estava elegendo o homem tirânico, o tirano do discurso do maître lacaniano. Trump seria o efeito do Sgmt (Significante mestre gramatical tirânico) e, portanto, o sujeito gramatical grau impolítico zero da liberdade liberal. Ele seria o sujeito tirânico impolítico da sociedade democrática americana despótica. O comportamento pessoal de Donald no agir político peca pelo excesso de impolítica. Tocqueville já havia previsto esse tipo de situação para a América em um futuro remoto!      

No entanto, não foram ao valores, costumes, hábitos e crenças de um autogoverno da América que pôs Donald Trump em seu lugar de presidente liberal de uma República Federativa democrática-liberal. Foram os próprios atores hobbesianos (e as instituições) do campo de poder mundial liberal e democrático, em especial, os atores americanos kantianos, que estão desossando o Trump fascista alemão, o nosso cânone de grã-tirano-mor criado no século XX e sobre o qual Donald tentou uma reinvenção.  

Não é a imprensa democrata que está pondo Donald nos trilhos de uma política interna e internacional civili liberal. Como Churchill, Tocqueville tinha pouco apreço (um certo desprezo) pela liberdade de imprensa, pois, o jornalismo industrialis (conforme afirma Raymond Aron) tende a cometer abusos, sendo difícil que não se corrompa e degenere em licenciosidade, quando serve a seu senhor (Master): o discurso do político do capitalista ou algo equivalente a este fenômeno em sociedades oligárquicas da era da modernidade moderna na América Latina, por exemplo.

O julgamento descritivo do tirano da antiguidade encontra-se bem detalhado no A República (Platão) e em outros textos da antiguidade. O tirano da antiguidade é um sujeito gramatical intertextual das várias escolas da filosofia, da metafísica e da teologia de Aristóteles. Sua alma é negra assim como é negra a “polis” que ele governa como o UM absoluto da paixão intemperante e desejos delirantes nefastos de um poder arbitrário no uso de violência simbólica e real sem limite sobre o indivíduo e a coletividade. A tirania da antiguidade é o grau zero do sujeito gramatical biografia individual ou coletiva. Então é o grau zero gramatical da polis como cidade-Estado das massas lumpesinais ou do homem livre e normal

No De la Tyrannie, Leo Strauss diz que há uma diferença cabalmente essencial entre a tirania tal como gramaticalizada pelos clássicos da Antiguidade e aquela de nosso tempo. A tirania da atualidade de Leo Strauss, ao contrário da antiga, dispõe de “tecnologia” (técnica industrial) e ideologia gramatical industrialis. Ela é a tirania do inconsciente de um discurso do político do capitalista topologicamente matematizável lacanianamente: LALANGUE.          

Falando de uma maneira mais genérica, a nossa tirania pressupõe a existência da ciência sem alma (sem julgamento descritivo do agir do tirano). Pressupõe a posse de uma interpretação (ou leitura) particular da ciência ou de uma certa sociologia da ciência weberiana, onde o tirano não é julgado pelo valor descritivo de seu agir. A classe simbólica é um esteio científico do tirano moderno!  

A tirania moderna weberiana não está sujeita à gramaticalização do inconsciente do discurso do político do tirano. Os americanos jamais saberão por que o legitimado capitalista Donald Trump quer ser o TIRANO DA AMÉRICA no século XXI, principalmente, depois de um reinado longo de um presidente mestiço- negro democrata.   

O sujeito gramatical sgrammaticatura tirano do século XXI da América é o efeito de qual Sgm? Ela é o efeito (Strauss) do povo ser subtraído da percepção sensível e, portanto, coibido, na prática cotidiana de julgar descritivamente o agir do tirano na política representativa e na política real.

O povo americano, fica assim deslegitimado pela sociologia da ciência moderna de julgar o agir tirânico do governo que bloqueia a gramaticalização dos valores (desejos delirantes violentos psicóticos) do inconsciente do discurso do político do tirano.

A sociologia do julgamento do fato pelo fato explica todas as tiranias da história do século XX (Os Estados fundados sobre o conservadorismo e o autoritarismo das massas, a necessidade para a classe dominante de ditaduras como efeito das lutas de classes, ou seja, como defesa do poder e domínio de classe; encontra explicação científica para o totalitarismo, o autoritarismo... a supressão da liberdade como significante gramatical inessencial para a vida política e a vida política do mundo-da-vida. Enfim, a espécie de sociologia ou ciência weberiana do americanismo é o Sgmt que instala o sujeito tirânico Donald Trump.

A genealogia acadêmica do tirano de Leo Strauss pode, talvez, começar em Maquiavel, pois este AUTOR jogou na lata de lixo da história da cultura da política desde os clássicos da antiguidade a diferença entre Rei e Tirano, no caso da democracia presidencial, a distinção entre presidente liberal e presidente-tirano democrático que bajula a tirania religiosa da maioria que o elegeu.

Assim, chegamos a uma situação de total inversão na cultura da política da América fazendo pendant com seus costumes, hábitos, crença, leis liberais e religião. Neste continente político do americano, ao contrário da França, por exemplo, o espírito religioso sempre fez pendant como o espírito da liberdade. Na atual realidade do americano, o espírito religioso faz pendant com o avesso da liberdade, ou seja, com o espírito da tirania sem alma, sem almour pela liberdade.     

       

             

segunda-feira, 22 de maio de 2017

TOCQUEVILLE - DA ATUALIDADE ATUAL


                                               José Paulo                                              

                                                                                                                
                                                 UM ESTUDO SOBRE TOCQUEVILLE
                                              ANOTAÇÕES SOBRE O LEMBRANÇAS DE 1848 (TOCQUEVILLE)
                                                                                                        I
Pessoalmente minha vida biográfica girou durante décadas em torno do paradigma gramatical da atualidade como revolução em longa duração, isto é, pela relação entre história e atualidade.
A atualidade aparece como uma repetição de fatos antigos como fatos novos. Esta é certamente a vida da França pela ligação gramatical historial do século da Revolução Francesa (e posso incluir a Revolução Americana aí) com o século XIX das revoluções francesas chegando ao século XX com as revoluções da Alemanha, da Hungria e a da Rússia, em 1917. Na linguagem das ciências sociais de outrora se diria que o imaginário político revolucionário se apossou de minha imaginação biográfica tanto da racional quanto da imaginação do inconsciente.

A fundação recente das ciências físicas gramaticais da política (psicanálise gramatical, sociologia gramatical, ciência da política gramatical, historiografia gramatical...) me resgatou, me pescou do mar do imaginário da história atual da atualidade como revolução do passado no presente.

Quando soube do livro Revolução escrito por Emanuel Macron hoje o jovem presidente eleito da República Francesa, estava em mãos com o fato de que o paradigma em tela nesse meu texto não é um fenômeno perdido e antiquado latino-americano.      

Eu me debatia com a ideologia do pós-modernismo que usava Epicuro para mostrar que todo fenômeno historial só podia ser percebido na percepção sensível da cultura psicológica como imagem-revolução da coisa revolução. E de que a imagem-revolução era idêntica à imagem-coisa revolução.

Quando se falava em revolução estava-se falando da coisa revolução como tal. Essa crença perceptiva da cultura da psicologia da imagem epicurista dominou o marxismo brasileiro, europeu e americano até o acontecimento Baudrillard começar a falar da história como simulacro de simulação, e Lacan dividir o mundo ente fato kantiano (coisa em si) e artefato lacaniano historial na tradução de Lacan para a psicanálise gramatical fazendo pendant com a sociologia da política gramatical. Foi aí, então, que o imaginário supracitado se autodissolveu.   

                                                                                             II
Começo com Tocqueville para alcançar a diferença entre o século XIX e o século XXI. Depois, pretendo em outro texto, passar para a discussão teórica e empírica da revolução em Hannah. Aí, para deixar claro que hoje a atualidade é diferente da atualidade do século XVIII. Hoje, não existe mais a história em longa duração, da revolução que se repete com algo novo. No Brasil já juntei material escrito e publicado para mostrar que a revolução da independência de d. Pedro I deixou de ser o significante-mestre fantasmal (fundamentação delirante psicótico) que continua se encarnando em corpos vivos (atores, práticas e circunstâncias) que realiza a atual atualidade. Isto é uma firmação da ciência gramatical precisa!
                                           TOQUECVILLE – LEMBRANÇAS de 1848 

Para um latino-americano, os livros de Marx e Tocqueville (Toc.) representam a jovem sociologia do século XIX que iria assombrar a cultura ocidental. Para Raymond Aron, Marx e Tocqueville estão entre os fundadores e o grupo de escol, pilares, da sociologia europeia clássica ao lado de Montesquieu, Comte, Durkheim, Pareto e Weber. Os franceses consideram Toc. um autor menor e não fazendo parte das escolas de sociologia francesa de Conte e Durkheim.  
                                            MARX

Aron diz que Marx considera as sociedades modernas como industriais e científicas (sociedade capitalista) em um contraponto às sociedades tradicionais (militar e/ou teológica). (Aron: 147-148). A sociedade capitalista se expressa na política através da ideologia gramatical e joga no exílio a theologia naturalis. A ideologia gramatical significa a vontade de potência da secularização que invade, é absorvida e, assim, subtrai do real do seer da sociedade moderna-capitalista a theologia naturalis como força espiritual dominante da sociedade do Ancien Régime na França. A Igreja católica deixa de ser a principal instituição cultural no espaço da cultura europeia. Veros adiante que

Aron não conhecia a obra de Marx para instituir tamanha generalização sobre Marx e a teologia.

Na sociologia positivista de Comte, o conflito entre patrões e empregados era um fato marginal, facilmente, resolvido, na sociedade industrial moderna. Com Marx, o patrão será, então, o burguês, e o empregado, o operário, ambos movidos (às vezes agenciados) pela imaginação incandescente das paixões sociais e ideológicas e os interesses econômicos de articulação das lutas gramaticais ou brutas (às vezes brutais) da sociedade de classes da modernidade. 

Com os textos da sociologia gramatical da política fazendo pendant com os textos da economia gramatical da política (Aron: 148), Marx cria a sociologia da sociedade da modernidade industrialis do século XXI: a sociedade do burguês capitalista e a sociedade do capitalista tout court. A esta Lacan reservou o artefato discurso do capitalista (Lacan: Outros Escritos: 516; S. 16: 37). A sociologia gramatical fala de um discurso do político do burguês e outro do capitalista. A diferença entre estes dois últimos discursos é um trabalho em andamento da sociologia gramatical fazendo pendant com a psicanálise gramatical.

A diferença em tela permite pensar a sociedade do burguês sem capitalismo na periferia R→S (Real, Simbólico) lacaniana          
         
                                                                          TOCQUEVILLE
Para Comte, a ideologia gramatical da sociedade industrial é soberana na cultura da política do século XIX. Para Marx, a dialética da sociedade capitalista é soberana na cultura da política mundial. O antagonismo capitalismo versus trabalho invade a política representativa que é a política da cultura da política moderna da modernidade do século XIX. A invasão requer um Estado burguês como comitê do burguês (na dialética da sociedade do burguês capitalista) na luta contra o trabalho, usando de violência sem limite legal ou físico nas situações revolucionárias. Ou requer um Estado capitalista com autonomia relativa (Marx: 402) em relação à própria economia capitalista; autonomia relativa, pois, leva em consideração um equilíbrio de força com o trabalho no qual o trabalho não é o grau zero de poder no campo de poder capitalista.

O Estado burguês não se define por uma autonomia relativa em relação à economia capitalista; ele é o efeito simples do capitalismo sobre ele próprio, Estado burguês – comitê do capital. Ele se define por uma autonomia absoluta em relação ao poder do trabalho, sendo, este o grau zero de força no campo de poder do modo de produção da cultura da política do capital, ou seja, capitalista. O Estado burguês costuma usar de violência simbólica ou real ilimitada na luta de classes gramatical ou empiricamente bruta, especialmente.

A preocupação de Tocqueville é com a sociedade democrática. Trata-se de uma memória que pesa na balança dos futuros textos ao estudar a democracia na América. O livro Democracia na América, apresenta um Tocqueville que põe e repõe a democracia moderna como um campo de poder e modelo para o futuro da cultura da política mundial ocidental. A democracia na América não tem um Ancien Régime como a França, e tem uma revolução bem distinta da Revolução Francesa.

Lembranças de 1848 fala de uma multiplicidade de fraturas revolucionárias constituídas por uma unidade: a Revolução francesa da classe média ou do burguês que representa revolucionariamente a Europa liberal:
“Parecia-me que que 1830 tinha fechado esse primeiro período de revoluções – ou melhor, da nossa revolução, porque há apenas uma, aquela que se mantém inalterada através de fortunas e paixões diversas e, segundo toda probabilidade, nós não veremos terminar. Tudo o que restava do Antigo Regime foi destruído para sempre”. (Tocqueville: 42).

O que é  revolução em Tocqueville?

São as lutas política, ideológica, teológica (pois a Igreja tem uma participação intensa nestas lutas) do Ancien Régime (com suas lembranças de representar antigos regimes políticos monocráticos por linhagem de sangue de remotas nobrezas; sua ambição desvairada de conservar o poder reinol; suas tradições hierárquicas baseadas em valores de superioridade de casta e na economia tradicional rural servil camponesa; sua esperança de não ser suplantada por uma gente prosaica e vulgar de classe média urbana.

A classe média é a revolução burguesa movida primeiro pelo capital mercantil e depois pelo moderno capital industrial moderno. Além disso, a burguesia tem como aliada uma classe simbólica (o intelectual) que se desenvolve com as benesses da sociedade capitalista, especialmente como os favores dos mecenas do mercado capitalista de arte e livros e com os leitores que a sociedade capitalista vai fazendo surgir como o público do trans-sujeito cultural com laço gramatical com a sociedade dos letrados.  

A Revolução é a luta da classe média contra o Ancien Régime, do novo en masse contra o velho, ou seja, contra as velhas castas minoritárias de uma sociedade moderna industrialis de pequenas massas de intelectuais ávidas de sucesso econômico e influência real no poder político, e também as grandes massas de trabalhadores manuais movidas pelo desejo sexual imorredouro e intenso de revolução social.

Como os homens representantes da aristocracia, ou melhor, um efeito do Sga (Significante gramatical aristocracia), como o sujeito gramatical homem aristocrático efeito de Sga poderia confrontar e conter o dilúvio Revolução burguesa. Homem aristocrático que ainda em 1848 se unifica no “partido da ordem” para disputar o poder político com o presidente eleito Luís Bonaparte pela maioria da nação camponesa, o sobrinho nada dileto e desconhecido da corte de Napoleão? O “partido da ordem” é um fenômeno político aristocrático que quer se apossar da recém República revolucionária dramatúrgica de 1848:
“ O período compreendido de 20 de dezembro de 1848, à dissolução da Assembleia Constituinte em maio de 1849 abrange a história do ocaso dos republicanos burgueses.   Após terem fundado uma república para a burguesia, expulsaram do campo da luta o proletariado revolucionário e reduzido momentaneamente ao silêncio a pequena burguesia democrática, são eles mesmos postos de lado pela massa da burguesia, que com justa razão reclama a república como sua propriedade. Essa massa era, porém, monárquica. Parte dela, os grandes latifundiários, dominara durante a Restauração e era, portanto, legitimista. A outra parte, os aristocratas da finança e os grandes industriais, havia dominado durante a Monarquia de Julho e era, consequentemente, orleanista. Os altos dignitários do exército, da universidade, da Igreja, da Justiça, da academia e da imprensa podiam ser encontrados dos dois lados, embora em proporções várias. Aqui, na república burguesa, que não ostentava nem o nome de Bourbon nem o nome de Orléans, e sim o nome de Capital, haviam encontrado a forma de governo na qual podiam governar conjuntamente. A insurreição de junho já os unira no ‘partido da ‘ordem”. (Marx: 348).

O partido da ordem foi um efeito das lutas de classes, da luta revolucionário do proletariado contra todas as classes e este operariado derrotado nas jornadas de junho. Esta derrota produziu o efeito Ditadura dos republicanos puros que foi posta à margem por um efeito eleitoral: a vitória de Luís Bonaparte na eleição de Luís Bonaparte para presidência a 19 de dezembro 1848.

Esta é a verdadeira gênese da democracia em geral para Marx, democracia das lutas biográficas individuais, de grupos e instituições:
“Enquanto o domínio da classe burguesa não se tivesse organizado completamente, enquanto não tivesse adquirido sua pura expressão política, o antagonismo das outras classes não podia, igualmente, mostrar-se em sua forma pura, e onde aparecia não podia assumir o aspecto perigoso que converte toda luta contra o poder do Estado em uma luta contra o capital”. (Marx: 366).

Marx faz corar o Tocqueville dialético de vergonha diante da dialética múltipla (transdialética gramatical), leitura de Marx dessas novas ciências gramaticais da política: sociologia gramatical, ciência da política gramatical, (historiografia) e psicanálise gramatical da política ocidental. Tais ciências gramaticais eram contemporâneas de uma outra revolução além da revolução burguesa que se torna uma revolução social, de fato e artefato, fazendo pendant com a revolução burguesa europeia ocidental em outubro de 1917, na Rússia de Lênin.            
                                                                        II            

Para Tocqueville a revolução burguesa é a destruição completa do velho, do Antigo Regime (Toqcqueville: 42). Há para o visconde de Tocqueville algo além da revolução burguesa? Esta interrogação é decisiva para a leitura do livro O Antigo Regime e a Revolução? Ela é intrínseca à reflexão do Lembranças de 1848? Estas questões são fundamentais para se saber se o aristocrata Tocqueville sabia algo sobre um tal de Karl Marx e seus livros sobre a política francesa! Como já anotamos, ele nada sabia sobre Marx e a revolução social. Ele não era parte da produção do contemporâneo de Marx e Engels.

O Antigo Regime age como uma força de desagregação da democracia liberal de 1848 como “partido da ordem” no livro 18 Brumário, no qual Tocqueville é mencionado como representante no parlamento. Marx conhecia bem o visconde. O “partido da ordem” é o significante gramatical empírico que existe como prova de que a Revolução de 1930 não destruiu todo o Velho Regime.

Então, creiam, Tocqueville não leu Marx! No Prefácio ao livro Lembranças, Braudel não considera importante tal problema. Ele considera o Lembranças mais científico que o 18 do Brumário. (Tocqueville: 36). Parece até que o grande historiador francês não leu realmente o 18 Brumário.

Em Marx, a Revolução de 1830 não destrói a sociedade monárquica e, além disso, Marx diz algo sobre uma sociedade burguesa monárquica rural legitimista (Marx: 335), a sociedade da velha monarquia rural agora monarquia do latifúndio burguês em contraponto a outra burguesia monárquica orleanista urbana do capital (Marx: 354). Tocqueville se põe claramente como uma personificação política do capital na defesa da Ordem do Burguês, que ele considera como a Ordem societal de todos os franceses. É tentador saber se ele, Tocqueville, acabaria vendo a passagem da revolução liberal em revolução social (Marx) como desordem, bagunça, anarquia das massas ignaras na desarticulação da ordem nacional da sociedade francesa.

O marxismo de Marx não pensa a revolução apenas como destruição do velho regime, como nos esclarece Carlos Henrique Escobar:
“Marx não trancou sua obra. Ela é tão aberta quanto sua militância. Da sua obra, da sua vida e da sua militância ficam explícitos os princípios. Os princípios enquanto a aventura de uma intervenção subvertedora. Nem Kant nem Hegel nem Freud, como uma filosofia que o sucede, são referências esclarecedoras para o ‘marxismo de Marx’. Estas filosofias querem preservar no lugar de destruir.
Marx quer destruir e criar”. (Escobar: 143).       

Aliás, a sociologia de Marx põe ao lado da sociedade urbana burguesa uma sociedade rural burguesa. Trata-se da descoberta de um significante gramatical sociológico – sociedade burguesa rural – que passou despercebido pela sociologia universitária centenária que sempre se considerou uma ciência do urbano em contraponto ao rural tradicional.

Braudel não entendeu que Marx criou um novo paradigma de ciência?

O significante sociedade do burguês rural abre uma janela encantadora para uma outra leitura gramatical científica da história do Brasil, por exemplo, a partir do Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre e dos livros conservadores de Oliveira Vianna ou dos marxistas Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Nelson Werneck Sodré.  

No paradigma de ciência gramatical da política de Marx, a força prática estética não é fundamental na construção transtextual do 18 Brumário? Tal fato aparece de leve na Introdução do brasileiro Renato Janine Ribeiro ao Lembranças quando ele trata da retórica e da denúncia da política como dramaturgia (teatro, encenação, espetáculo, sedução...).

Sartre escreveu o L’imaginaire pensando em Marx:
‘L’acte d’imagination, nous venons de le voir, est un acte magique. C’est une incantation destinée à faire apparaître l’object auquel  on pense, la chose qu’on désire, de façon qu’on puisse em prendre possession”. (Sartre: 239).

Sartre pensa o objeto irreal (falsa consciência) como objeto de desejo da ideologia gramatical burguesa, objeto como ato da imaginação, ato mágico, ato de encantamento da linguagem política (no nosso caso). O encantamento é um modo de invasão do real pela ideologia gramatical revolucionária burguesa que será absorvido dramaticamente pelo seer da sociedade nacional francesa do século XIX até a revolução social da Comuna de Paris, em 1871.

Não se trata de simples falsa consciência, e sim da ideologia gramatical revolução permanente que Tocqueville viu como um único fenômeno, unidade das revoluções que fraturam gramaticalmente a sociedade de classes nacional e, portanto, a sociedade da dialética das lutas de classes gramatical de um país e de um povo.    

Infelizmente, o excelente Scholar Janine entendeu o caráter dramatúrgico apenas como ideologia da falsa consciência mecanicista, e não como língua gramatical estética que invade o real do seer da sociedade francesa, primeiro como língua emprestada aos atores políticos (isso define uma forma de dramaturgia da política representativa moderna em uma era revolucionária) e, depois, como o próprio idioma político francês, língua naturalizada no território da subjetividade territorial da nação francesa verdadeiramente revolucionária da era moderna. O efeito da língua naturalizada é a revolução permanente e sua passagem de revolução da classe média para a revolução social do proletariado:
“De maneira idêntica, o principiante que aprende um novo idioma traduz sempre as palavras desse idioma para a sua língua natal; mas, só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela”. (Marx: 335).  

Como Toc. pode ser mais científico historial e sociologicamente do que Marx?
                                                                              III

Janine fala de teologia naturalis como fenômeno cultural dominante no Antigo Regime e, sobrevivendo além, assim voltamos ao fenômeno do encantamento não mais apenas secular, e sim teológico materialista racional. 

Janine diz:
“um bom exemplo em Hobbes, quando este filósofo mostra como a Igreja católica e as seitas protestantes radicais utilizam a teologia e a religião com o fim de assentar seu domínio político”. (Tocqueville: 12).

Janine trata a theologia naturalis como instrumento ideológico mecanicista. Parece que nosso filósofo paulista não leu Engels que vê e prova ser a teologia o terreno onde se desenvolvem as lutas de classes da era medieval entrando na moderna. Ele parece desprezar a ideia de Marx de que a própria ideologia era o terreno onde se desenvolviam gramaticalmente até o fim as lutas de classes entre o capital e o trabalho:
“Com a transformação da base econômica, toda a enorme superestrutura se transforma com maior ou menor rapidez. Na consideração de tais transformações é necessário distinguir sempre entre a transformação material das condições econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa verificação da ciência natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito até o fim”. (Marx: 136).

                                                                           IV

Engels trata a theologia naturalis como ideologia dominante gramatical, pois, até: “Os pregadores do campo e das cidades constituíram a fração plebeia do clero. Estavam à margem da hierarquia feudal da Igreja e excluídos do gozo das suas riquezas. O seu trabalho estava menos controlado e – apesar da sua importância para a Igreja – era menos indispensável naquele momento do que os serviços policiais dos monges aquartelados. Eram, portanto, muito mais mal pagos; na sua maioria recebiam prendas bastantes exíguas. Graças a sua origem burguesa ou plebéia, tinham conservado o contato com as massas, e o conhecimento das suas condições de vida, apesar de seu ofício, levava-os a simpatizarem com a causa burguesa e plebeia. Os monges, salvo raras exceções, não tomaram parte nos movimentos da época; pelo contrário, aqueles deram-lhes teóricos e ideólogos e não poucos morriam no cadafalso. O ódio popular contra os frades raras vezes se voltava contra eles”. (Engels: 38-39).  

Engels vê a teologia como teoria e ideologia, mas não como ideologia mecânica à serviço da Igreja e da classe dominante senhorial. A teologia é um campo de poder teórico e ideológico habitado por vários atores intelectuais e as massas sujeito grau zero secular.

O estudo de Ernst Bloch é um clássico marxista sobre revolução camponesa e theologia naturalis.

Para Bloch, a teologia era a arma da luta de classes camponesa contra os senhores feudais, como no documento que começa assim: “que Eu, Thomas Münzer, de Stolberg... (...) Dai advém que os cristãos na defesa da verdade, equivalem a poltrões. E podem, em consequência, blasonar com soberba que Deus não mais fala com os homens como se tivesse ficado mudo” (Münzer: 14).

A teologia de Münzer é falar de Deus na luta de classes entre senhores e camponeses, especialmente, no efeito sobre a criança, por exemplo: “as crianças pediram pão, porém ninguém estava presente para dividi-lo. Com Thomas Münzer, a theologia naturalis é uma arma teórica na luta de classes institucional:
“Aqui tomará impulso a renovada Igreja apostólica e se espalhará pelo mundo. Assim, pois, apressai-vos na direção da sua Palavra, cuja passagem será rápida; através de indizível fornicação fizeram da Igreja de Deus um caos sombrio, uma Igreja quebrada, abandonada, dispersa. Porém, o Senhor a construirá de novo, a consolará, a unirá, até que ela veja o Deus dos deuses em Sion, Amém”. (Münzer: 15).

Em Marx, a teologia material racional já é uma posição de episteme da cultura da política:
“C’est là tout l’effort de dégagement de ce qui s’appelle l’épistèmé (da cultura da política do senhor). C’est um drôle de mot, je ne sais si vous y avez jamais bien réfléchi – se mettre en bonne position, c’est en somme le même mot que verstehen. Il s’agit de trouver la position qui permette que le savoir devienne savoir de maître. La fonction de l’épistèmé em tant que spécifiée comme savoir transmissible, reportez-vous aus dialogues de Platon, est, tout inteire, empruntée toujours aus techniques artisanales, c’est-à-dire serves. Ce dont il s’agit, c’est d’en extraire l’essence pour que ce savoir devienne savoir de maître”. (Lacan: 21).  

Marx não inclui a teologia como forma de ideologia no trecho supracitado por mim. A teologia é da ordem da cultura da política do inconsciente do discurso do senhor – como posição de episteme da cultura da política europeia moderna. A theologia naturalis ou secular como tal se inclina para a metaphysica e a ideologia gramatical para a physica do real da sociedade democrática moderna quase liberal francesa, pois, atravancada por um pesadelo de um passado monárquico. Por isso Toc. diz que a revolução moderna da classe média destruiu todo o seu passado metafísico.

Trata-se de um desejo sexual que é a fonte de um delírio psicótico homólogo aos delírios de Daniel Paul Schreber?  O delírio de Toc. não é a verdade ou o verdadeiro como mostra a gramaticalização via Marx da asserção de nosso herói da cultura universal francesa:
“A Assembleia Nacional eleita está em relação metafísica (teológica racional materialista) com a nação ao passo que o presidente eleito está em relação pessoal (ideologia gramatical biográfica individual) com ela. A assembleia Nacional exibe realmente, em seus representantes individuais, os múltiplos aspectos do espírito nacional (teológico racional materialista), enquanto que no presidente esse espírito nacional encontra a sua encarnação (ideológica biográfica gramatical). Em comparação com a Assembleia, ele possui uma espécie de direito divino (teológica racional materialista); é presidente pela graça do povo”. (Marx: 346).              


                                                                            SEGUNDA PARTE

Uma linha gramatical de força tática em Tocqueville é a distinção entre sociedade democrática liberal (EUA) e sociedade democrática com inclinação transversal despótica (França).

A desigualdade das classes (ordres) e das condições constitui a essência das monarquias modernas como condição para a liberdade política, sendo exemplar a sociedade moderna francesa. Nessa, a desigualdade de condições sociais evita a queda na sociedade despótica do UM, do poder de um só, poder arbitrário, hierárquico e sem limite no uso da força física e/ou simbólica contra a sociedade em geral, contra todos.

A sociedade democrática liberal da América não tem o passado Ancien Régime da sociedade fundada na desigualdade social. A América surge como uma sociedade sem passado que vai se constituir em uma sociedade mercantil e industrial moderna. A sociedade democrática americana consiste na igualização das condições sociais. Democrática é a sociedade americana onde não subsistem condições de ordens de classes que possam levar a uma aristocratização e sua expressão nefasta negra às avessas: a oligarquia: “a igualdade social significa a inexistência de diferenças hereditárias de condições; quer dizer que todas as ocupações, todas as profissões, dignidades e honrarias são acessíveis a todos. Estão, portanto, inscritas na ideia de democracia a igualdade social e, também, a tendência para a uniformidade de modos e níveis de vida”. (Aron: 225). 

O enunciado em tela constitui o significante ideologia gramatical dominante vivencial intencionalmente de invasão do real do seer da sociedade americana. Esta ideologia diferencia a América do resto do continente americano possuído por uma ideologia gramatical oligárquica desde a origem. A América Latina é conhecida por lutar pela construção de uma sociedade moderna democrática sem jamais ter conseguido abandonar sua cultura da política oligárquica.

Em geral, Tocqueville apostava em uma evolução democrática para a América mercantil e industrial. Ele considerava que estas duas estruturas de economia não se inclinariam facilmente para a formação de uma aristocracia que dirá para a, de uma oligarquia.

No entanto, no capítulo XX, Segunda Parte, do 2°Volume do De la démocratie em Amérique, Toc. Admite que a grande indústria poderia dar origem a uma aristocracia econômica. (Toc.: 183-184). Já a oligarquia seria a interseção da soberania da aristocracia industrial em uma cultura da política de uma sociedade de desigualdade permanente. (Aron: 266-267).

A sociedade americana dos anos 2000 não caminha para se consolidar como uma sociedade industrial aristocrática com dominância oligárquica na cultura da política economia fazendo pendant com uma filosofia da economia política aristocrática republicana? Tal sociedade americana não se parece com a linha de força sgrammaticatura sociedade mundial, tomando esta como modelo das sociedades nacionais?  Não parece que acabamos de ser invadidos em nosso real pelas pp 166-167, do O.C., T 1, v. 2 de Tocqueville?

A oligarquia como significante-mestre gramatical que se apossa do século XXI já estava anunciada e enunciada nas obras de Michels, Pareto, Mosca e Weber. Em Weber, ela adquire a forma da força prática oligárquica burocrática como fantasia lacaniana do futuro.

Na atual atualidade, o discurso do político do Toc. é parte do espaço procedural público, pois, ele nos faz deslizar da sociedade democrática liberal à forma de sociedade BÜROCRATIE POST-CAPITALIST PERIFÉRICA oligárquica.

Este meu texto é o início da discussão sobre Tocqueville e a produção do contemporâneo.                                                     
ARON, Raymond. Les étapes de la pensée sociologique. Paris: Gallimard, 1967
BLOCH, Ernst. Thomas Münzer. Teólogo da revolução. RJ: Tempo Brasileiro, 1973
ENGELS, Friedrich. As guerras camponesas na Alemanha. Porto: Editorial Presença, 1975
ESCOBAR, Carlos Henrique. Marx Trágico. O marxismo de Marx.  RJ: Taurus, 1993
FREUD. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (dementia paranoides). 1911. Obras Completas. v. XII. RJ: Imago, 1969
LACAN, Jacques. Le Séminaire. Livre XVII. L’envers de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1991
---------------------  Outros Escritos. RJ: Jorge Zahar Editor, 2003
-------------------- O Seminário. De um outro ao Outro. Livro 16. RJ: Zahar, 2008
MARX, Karl. Os Pensadores. SP: Abril Cultural. 1974
SARTRE. L’imaginaire. Paris: Gallimard, 1940
SCHREBER, Daniel Paul. Memórias de um doente dos nervos. SP: Paz e Terra, 1995
TOCQUEVILLE, Alexis. De la démocratie en Amérique. v. 2. Paris: Gallimard, 1961
---------------------------    Lembranças de 1848. As jornadas revolucionárias em Paris. SP: Companhia das Letras, 211