segunda-feira, 8 de maio de 2017

SIGO DELEUZE ATÉ AGAMBEN E LÉVI-STRAUSS


                                                                                José Paulo
                                                             I
                                                                                                   
Os ricos brasileiros gostam de ler sobre o fenômeno en masse sobrevivencialismo dos ricos da América (um velho e roto tema do cinema dos Estados Unidos). Trata-se de uma distopia da máquina desejante esquizo adulta do rico americano com medo de uma crise política real autodissolver o Estado da União dos Estados Unidos da América.  A cultura de massa do cinema americano já produziu uma invasão na internet chamada WROL (Without rule of law). Trata-se do velho cinema americano da década de 1940 da pequena cidade do Velho Oeste sem lei. Há algo em comum entre uma fração da máquina desejante esquizo do rico com medo e a sociedade do rico do Sudeste brasileiro e do nosso Centro-Oeste?

No território da subjetividade territorial do rico ariano do Brasil (do Sudeste ao Centro-Oeste) não há nada que se assemelhe ao sobrivivencialismo da consciência possível da crise do americanismo como forma soberana na vida do planeta.  Nada aproxima a alma medrosa americana da falta de almour (alma + amor) da nossa elite de poder pelo povo brasileiro. Os 12.000.000 de desempregados no Sudeste não metem medo nem na classe dominante nem em seus estrato dominante-dirigente na cultura dominante que tem como centro tático a sociedade do espetáculo virtual-eletrônico.

Quanto aos políticos brasileiros, eles não têm medo. Este meu texto é uma forma de mostrar (para o autor Evan Osno) que a experiência de autodissolução da nossa classe política e das instituições públicas e privadas é o sobrivivencialismo às avessas, no Brasil.

O nosso rico (e seu estrato dirigente jornalístico e acadêmico) festeja que um rentista da oligarquia do capital fictício europeu se torne presidente da república da França. O fracasso e o medo do triunfo arcaico da senhora Le Pen de fato são apenas os dois lados da mesma moeda. Trata-se do sobrevivencialismo da política da União Europeia encarnada na sociedade francesa que tem como maître o discurso do político do rentista mundial.             
                                                                                                      II

Na civilização arcaica, as máquinas de desejos esquizo (desejo = delírio) tornam-se uma montagem (amontoado gramatical ou todo deleuziano) que constrói a grande máquina gramatical arquitetura? Como linha de força gramatical periferia historial, o sentido gramatical da periferia da máquina arquitetura é exposta em duas páginas inenarráveis do livro Estética, de Hegel.

O Estética fala da articulação da periferia SIMBÓLICO (Lacan-Hegel) através do surgimento de um princípio de prazer que se encontra na fonte da vontade de potência gramatical saber arquitetônico. Em Hegel, o discurso do político do arquiteto faz pendant com a articulação da periferia S do conjunto periferia R.S.I. (Real/Simbólico/imaginário).

Quando e onde surge a arquitetura? 

A   arquitetura como totalidade do particular surge como uma arte particular: “Ao dar uma existência real e precisa ao seu conteúdo, a arte vem a ser uma arte, uma arte particular, o que nos permite falar doravante de uma arte real, e, por conseguinte, dos começos reais da arte. Mas a particularidade, por muito que ele esteja destinado a objetivar a ideia do belo e da arte, comporta o mesmo tempo em conformidade com o seu conceito, uma totalidade particular. Se, portanto, ao tratar das artes particulares, nós começamos pela arquitetura, não é somente porque, do ponto de vista conceitual, a arquitetura seja de todas as artes a que mereça ser estudada em primeiro lugar; mas também porque nos propomos mostrar que, até na ordem da existência, ela precede todas as outas artes. Para responder, todavia, à questão de saber qual fio começo das belas-artes, tanto do ponto de vista conceitual como do ponto de vista real, devemos começar por eliminar tanto os dados históricos e empíricos como todas as reflexões exteriores, todas as opiniões e representações, tão numerosas como variadas, que à primeira vista este assunto é suscetível de sugerir”. (Hegel: 352).    


A arquitetura é a fusão da técnica artesanal com a ciência moderna em Lévi-Strauss? Para Hegel, é o momento da articulação da periferia simbólico.  

No livro Pensamento selvagem, a questão da periferia SIMBÓLICO toma o lugar da relação ente cultura primitiva contra a política real arcaica do livro Sociedade contra o Estado = passagem da sociedade selvagem para a civilização arcaica. Portanto, em Clastres, trata-se da sociedade tribal primitiva com seus recursos culturais mobilizados para evitar a política real do Urstaat prosaicamente dito assim: “a sociedade primitiva nunca tolerará que seu chefe se transforme em déspota”. (Clastres: 144).

Com o Urstaat adveio o capital rentista fazendo pendant com o comerciante (Marx. O capital. v. 5. Livro terceiro: 381, 382). Tais fenômenos significam o SPAULTUNG da era do neolítico DA SOCIEDADE PRIMITIVA TRIBAL e, consequentemente, a passagem do primitivo para a civilização do homem da civilização arcaico.

Marx diz:
“Por certo, o capital a juros é também a forma arcaica do capital. Mais adiante veremos por que o mercantilismo não partiu dele, mas antes encarou-o de maneira polêmica”. (Idem: 388).    

Mas será a passagem da ordem do selvagem para a ordem da civilização deva ser nosso grau zero para pensar o século XXI? Passagem dos povos sem história para os povos historial? Passagem para os povos com gramática complexa-abstrata arcaica da sociedade do civilizado?

Em Lévi-Strauss a polarização não ocorre entre o arcaico e o moderno, mas entre o primitivo e o moderno, entre a ciência mito-poética do primitivo e a ciência moderna:
“O homem da era neolítica ou da proto-história é, portanto, o herdeiro de uma longa tradição científica; entretanto, se o espírito que o inspirou, assim como a seus antepassados, tivesse sido o mesmo que o dos modernos, como poderíamos compreender que ele tenha parado e que vários milhares de anos de estagnação se intercalem, como um patamar, entre a revolução neolítica e a ciência contemporânea? O paradoxo só admite uma solução: é que há duas formas distintas de pensamento científico, ambas função, não certamente de estádios desiguais do desenvolvimento do espirito humano, mas de dois níveis estratégicos, onde a natureza se deixa atacar pelo conhecimento científico: um aproximadamente ajustado ao da percepção e da imaginação, e o outro sem apoio: como se as relações necessárias, objetivo de toda ciência – seja ela neolítica ou moderna – pudessem ser atingidos por dois caminhos diferentes: um muito perto da intuição sensível e o outro mais afastado”. (Lévi-Strauss: 35-36).

A gramática da sociedade historial instala uma luta contra a natureza e aí advém o discurso do político do cientista moderno:
“Toda classificação é superior ao caos (sgrammaticatura): e mesmo uma classificação no nível das propriedades sensíveis, é uma etapa para uma ordem racional (gramática em narrativa lógica) ” (Lévi-Strauss: 36).           

                                                                                            V 

Hegel estabelece a arquitetura como o Simbólico tanto como conceitual e, também, como real. Trata-se da primeira gramática “en camino a ... (Heidegger: 14) narrativa lógica de uma sociedade civilizada. O artefato da periferia Simbólico que subtrai o homem do caos da sopa das relações de significações sem significante, relações como sinal:
“ A relação entre o conteúdo e a forma sensível, a favor da qual aquele está destinado a transmitir-se de representação em representação, não poderá ser nestas condições, mais do que a natureza simbólica.  Um edifício destinado a revelar aos outros uma significação geral, não tem outro fim do que essa revelação e constituí por esta razão o símbolo, bastando-se a si mesmo, de uma ideia essencial, tendo um valor geral, uma linguagem oculta em homenagem ao espírito. As produções desta arquitetura estão portanto destinadas a fazer pensar, a estimular representações gerais, em lugar de servir de simples invólucro ou envolvimento às significações que já possuem uma forma. É por esta razão que a forma, ao fazer transparecer um tal conteúdo, não deve ter somente valor de sinal, como as cruzes que erigimos aos mortos ou como as pedras comemorativas de batalhas. Sinais deste gênero podem despertar representações, mas uma cruz ou amontoado (Deleuze, todo esquizo) de pedras não são capazes de por si só fazer nascer a representação que se quer despertar: elas podem aliás fazer nascer muitas outras. Tal é o conceito geral da arte na fase da qual nos vamos ocupar”. (Hegel: 357)
                                                                                
A cruz que remete para um amontoado de pedras é como a mesa esquizo é a forma ersatz de gramática, em um sentido superior, ou simplesmente um baixo sentido sgrammaticatura produção primária da produção da política real (Deleuze:  14; 17, 18) 

A passagem da mesa esquizo para o significante da esfera-periferia simbólico está na página 358, de Hegel. Significante reunião de almas invasão do território da subjetividade territorial do sagrado. Retornaremos a tal ponto mais adiante. No Anti-Édipo se ergue uma rede neurônica de vontade de saber associando gramaticalmente um conjunto de sujeitos gramaticais extraordinários, tendo como nó tático Hegel e os outros nós necessários:  Marx, Pierre Clastres e Lévi-Strauss e os próprios Deleuze e Guattari e o encontro destes com Agamben.

Trata-se de um espaço procedural público sobre um objeto gramatical chave para o estabelecimento do significante civilização na medida, em que tal significante se define por taxinomia pela periferia SIMBÓLICO e de seu avesso - a periferia Real campo de concentração. 

Há um simbólico no qual a mesa é um amontoado de elementos e há o simbólico no qual a mesa (a casa) é uma mesa tout court. Este problema se encontra discutido em Hegel e Deleuze: “para falar da arquitetura, não podemos, como faremos mais tarde, ao falar da arquitetura clássica e romântica, tomar por ponto de partida formas definidas, a da casa por exemplo, porque pelo seu próprio conteúdo e pela sua forma a arquitetura oriental não nos comunica qualquer princípio que permita seguir o desenvolvimento e entrever a ligação que une as obras umas às outras. As significações que servem especialmente de conteúdos permanecem como no simbólico em geral, representações gerais, desprovidas de formas (SIGNIFICANTE TÉCNICO GRAMATICAL concreto), abstrações tiradas à vida da natureza, uma vezes isoladas, outras associadas de uma forma arbitrária (forma ersatz de gramática), ora entre si, ora às ideias que têm a sua origem na realidade espiritual, sem estarem ligadas entre elas com outras tantas emanações de um único sujeito”. (Hegel: 367).

A ligação gramatical das relações de significação em um único sujeito significa a persistência do S1gramatical no real do ser da arquitetura. Mas não é um monopólio da arquitetura clássica e romântica o surgimento do Sg1. Há o Sg sagrado que antecipa a periferia simbólico laico, por exemplo, o Estado (Leviatã) como S1g da teologia secular Deus mortal de Hobbes na era moderna: “Feito isto, a multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. E esta a geração daquele grande Leviatã, ou antes, (para falar em termos mais reverentes = teológico naturalis-saecularis) daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e tranquilidade”. (Hobbes: 110).       

Hegel fala de obras arquiteturais destinadas a servir de laço gramatical de reunião dos povos:
˂Que é o sagrado? > Pergunta Goethe. E logo responde: ˂ É o que une as almas>. Podemos dizer, partindo desta definição, que o sagrado enquanto fim desta união e que esta própria união constituem o primeiro conteúdo da arquitetura independente. Temos o exemplo mais familiar na narrativa de Babel. Nos distantes vales do Eufrates, erige o homem uma imensa obra arquitetural, todos os homens trabalham nela em conjunto, e é esta comunidade que constitui por sua vez o fim e o conteúdo da obra. Esta união que se queria criar não era uma associação patriarcal. Pelo contrário: devia marcar a dissolução dessa associação e a construção que devia elevar-se até às nuvens devia significar precisamente a objetivação desta dissolução e a realização de uma união mais vasta. Todos os povos de então nela trabalharam, e se aproximaram uns dos outros para realizar esta obra incomensurável, para remover o solo, sobrepor os blocos e pedra, para impor a todo o país como uma transformação arquitetônica, se eles se exoneraram assim das obrigações que em nossos dias são exigidas pelos usos, pelos costumes e pela organização legal do Estado, isto foi unicamente para criar entre eles um laço que devia ser indissolúvel”. (Hegel: 358).

Como ligação gramatical das almas, o sagrado é o primeiro conteúdo da forma arquitetura independente, da arquitetura que não é uma mesa (ou uma casa) como um amontoado de coisas, não é uma bricolagem patriarcal? A união de almas não se faz como uma bricolagem na periferia SIMBÓLICO. O Sga mestre periferia simbólico é um conjunto união de almas em uma narrativa teológica civil dos sacerdotes egípcios, por exemplo (Toynbee: 106). A teologia secular da união de almas de Goethe é o significante que faz pendant com o acontecimento sagrado Torre de Babel. O Significante-mestre é o um que reúne a humanidade em uma só alma. Na teologia materialista racional das ciências da gramaticalidade, trata-se do significante trans-subjetividade humanidade.
Mas Hegel continua:
“Na medida em que não exprime o sagrado, uma tal construção é, ao mesmo tempo, simbólica, o laço que une os homens por meio de alusões, sob forma puramente exterior. Mas a mesma tradição acrescenta que os povos depois de estarem reunidos num único ponto para realizar esta obra, de novo se separam, para cada qual seguir seu próprio caminho”. (Hegel: 358).    

O simbólico se dirige ao homem na forma de um laço gramatical exterior como início da metabolização mecanicista como invasão do território da subjetividade territorial (alma como tradição) humanidade. A repartição da humanidade em povos é o início de uma nova vida desses povos agora unidos pela trans-subjetividade alma humanidade. Na linguagem da filosofia da diferença trata-se da gramática transdialética dos polos identidade e diferença. Não se trata mais de uma mesa esquizo feita de um amontoado de pedaços de das Ding (cada vez menos uma mesa [ou casa]), mas de uma mesa ou uma casa tout court, uma gramática com narração lógica de uma teologia materialista racional:
“Tal como estava era uma mesa feita de pedaços, como foram feitos certos desenhos de esquizofrênicos, desenhos ditos entulhados, e se ela se apresentava acabada, era só na medida em que já não havia maneira de lhe acrescentar mais nada, mesa que se tinha tornado cada vez mais um amontoado e cada vez menos uma mesa...E não servia para nada do que se possa esperar de uma mesa. Pesada, embaraçante, só a custo podia ser transportada. Não se sabia como pegá-la (nem mental nem manualmente). O tampo, a parte útil da mesa, progressivamente reduzido, desaparecia, e era tão pouco relacionado com o resto da incômoda armação que já não era possível pensar no conjunto como sendo uma mesa, mas tão somente como um móvel à parte, um instrumento desconhecido cuja utilidade era inapreensível”. (Deleuze: 17-18).

No livro O Estado e a revolução de Lenin, aparece o significante mesa-esquizo ditadura do proletariado como um amontoado de sentidos heteróclitos tão na cara do leitor que não preciso informá-los, indicá-los aqui. A púnica defesa de Lenin é que se trata de um inconsciente do discurso do político Lenin púnico como vontade de potência gramatical de uma máquina desejante esquizo, ou melhor, de uma fantasia mesa-delírio de uma biografia-máquina desejante esquizo.  

O Lenin púnico é bricoleur?  
“Quando Lévi-Strauss define a bricolagem propõe um conjunto de características estritamente ligadas: a possibilidade de um estoque ou de um código múltiplo, heteróclito (agramatical), porém limitado; a capacidade de introduzir fragmentos em fragmentos sempre novas; donde decorrer uma indiferença do produzir e do produto, do conjunto instrumental e do conjunto a ser realizado. A satisfação do bricoleur, quando liga alguma coisa à corrente elétrica, quando desvia um conduto de água, seria muito mal explicada por um jogo de ‘papai-mamãe’ ou por um prazer da transgressão. A regra de produzir sempre o produzir, de inserir o produzir no produto, é a características das máquinas desejantes ou da produção primária, produção da produção”. (Deleuze: 18).

O Lenin púnico não é a atividade de produzir sempre a produzir a revolução bolchevique?

Há um paralelo, essencial, a fazer com Lévi-Strauss na definição do sujeito gramatical bricoleur mais adiante 

Aliás, a política real é a política da produção da mesa-esquizo, política das máquinas desejantes da produção da política primária, produção da produção da política da modernidade.         

A mesa era aquele plasma de significações hegelianos que se caracterizavam por ser objeto feio e inútil por falta de gramática, uma reunião de almas com falta de gramática (mesa-sgrammaticatura) ou vida nua nas ciências da gramática da política representativa moderna:
“A pergunta: ‘de que modo o vivente possui a linguagem? ’ corresponde exatamente àquela outra: ‘de que modo a vida nua habita a polis’. O vivente possui o lógos [gramatical em narração lógica] tolhendo e conservando nele a própria voz, assim, como ele habita a pólis deixando excluir dela a própria vida nua”. (Agamben: 15-16). Isto propõe: “A tese de uma íntima solidariedade entre democracia e totalitarismo (que, aqui devemos, mesmo com toda prudência, adiantar) não é, obviamente, (como por outra, aquela de Strauss sobre a secreta convergência entre liberalismo e comunismo quanto a meta final”. (Agamben: 18).  

A mesa esquizo é a ditadura do proletariado (estado de exceção permanente DO ESTADO DA SOCIEDADE DA BÜROCRATIE POST-CAPITALIST periférico R.S.I articulado pela periferia R)) da vida nua como sujeito gramatical sgrammaticatura, “a vida matável e insacrificável  do homo sacer (Agamben: 16), só se for como o ingresso de zoé (vida nua) na esfera da pólis (a gramática da cidade-Estado),“a politização da vida nua como tal constitui o advento decisivo da modernidade, que assinala uma transformação radical das categorias político-filosóficas do pensamento clássico”. (Agamben: 12).

A modernidade política é o acontecimento de denegação do sujeito constituído, gramaticalmente, por um amontoado de relações de significações que não tem como ter um soberano gramatical moderno, a não ser “o campo de concentração e a estrutura dos grandes estados totalitários do Novecentos”. (Agamben: 12). Ou o Estado policial foucaultiana psiquiátrico para a máquina desejante desorientada ou voltada para prover a explosão do espaço da linguagem da ideologia em geral.   

“A definição schmittiana da soberania (‘soberano é aquele que decide sobre o estado de exceção) tornou-se um lugar-comum, antes mesmo que se compreendesse o que, nela, estava verdadeiramente em questão, ou seja, nada menos que o conceito-limite da doutrina do Estado e do direito, no qual esta (visto que todo conceito-limite é sempre limite entre dois conceitos) confina com a esfera da vida e se confunde com ela. Enquanto o horizonte da estatalidade constituía o círculo mais vasto de qualquer vida comunitária, e as doutrinas políticas, religiosas, jurídicas e econômicas que o sustentam ainda estavam firmes, esta ‘esfera mais extrema’ não podia verdadeiramente vir à luz. O problema da soberania reduzia-se então a identificar quem, no interior do ordenamento, fosse investido de certos poderes, sem que o próprio limiar do ordenamento fosse jamais posto em questão. Hoje, em um momento em que as grandes estruturas estatais entraram em processo de dissolução (na verdade, elas não se auto dissolvem, pois, assumem a forma da mesa-esquizo), e a emergência como Benjamin havia pressagiado, tornou-se a regra, o tempo é maduro para propor, desde o princípio em uma nova perspectiva, o problema dos limites e da estrutura originária da estatalidade. Posto que a insuficiência da crítica anárquica e marxista do Estado era precisamente a de não ter mesmo entrevisto esta estrutura e de assim ter deixado apressadamente de lado o arcanum imperii, como se este não tivesse outra consistência fora dos simulacros e das ideologias que se alegaram para justificá-lo. No entanto, acabamos cedo ou tarde nos identificando com o inimigo cuja estrutura desconhecemos, e a teoria do Estado (e em particular do estado de exceção, ou seja, a ditadura do proletariado como fase de transição para a sociedade sem Estado) é justamente o escolho sobre o qual as revoluções do nosso século [século XX] naufragaram”. (Agamben: 19).     

A mesa esquizo se define por não ter fronteira demarcável, por dissolver (antes da antinomia se impor) normal e patológico na política real; para a mesa esquizo o todo político é um amontoado onde o estado de exceção é um pedaço, como outro qualquer, um pedaço semelhante ao pedaço Estado tout court de direito. A ditadura do proletariado é um desenho esquizo que faz pendant como o desenho esquizo Estado de direito. Só no território da ideologia gramatical do discurso do político do juiz liberal, a mesa esquizo liberal vai adquirir a aparência da semblância de uma gramática em narração lógica de atores hobbesianos, kantianos, marxistas acima de um mundo povoado, de fato, por máquinas de vontade de potência desejantes arcana imperii de saber.

As máquinas desejantes de saber-poder se exprimem por meio do agramatical e os efeitos da bricolagem intelectual que elas produzem na política representativa moderna são devastadores:
“Ora, o próprio do pensamento mítico é exprimir-se com o auxílio de um repertório cuja composição é heteróclita e que, apesar de extenso, permanece não obstante limitado; é preciso, todavia, que dele se sirva, qualquer que seja a tarefa a que se proponha, porque não tem mais nada a seu alcance. Aparece, assim, como uma espécie de bricolage intelectual, o que explica as relações que se observam entre ambos”. (Lévi-Strauss: 38).

Estendendo uma pouco mais a ideia em tela:
“A comparação merece ser aprofundada, pois dá melhor acesso às verdadeiras relações entre os dois tipos de conhecimento científico que distinguimos. O bricoleur  está apto a executar grande números de tarefas diferentes; mas, diferentemente do engenheiro, ele não subordina cada uma delas à obtenção de matérias-primas e de ferramentas, concebidas e procuradas na medida do seu projeto: seu universo instrumental é fechado e a regra do jogo é a de arranjar-se sempre com os meios-limites, isto e, um conjunto, continuamente restrito, de utensílios e de materiais, heteróclitos (falta de gramática), além do mais porque a composição do conjunto não está em relação como o projeto do momento, nem , aliás, com qualquer projeto particular, mas é o resultado contingente de todas as ocasiões (estou me remetendo ao discurso do político  da política real da atual atualidade brasileira, da possível política da América e da França rentista, e da atual política da Turquia) que se apresentaram para renovar enriquecer o estoque, ou para conservá-lo, como resíduos de construções e de destruições anteriores. O conjunto dos meios do bricoleur não se pode definir por um projeto (o que suporia, aliás, como com o engenheiro [do discurso do político do engenheiro], a existência de tantos conjuntos instrumentais quanto os gêneros de projetos, pelo menos em teoria); define-se somente por sua instrumentalidade, para dizer de maneira diferente e para empregar linguagem de bricoleur, porque os elementos são recolhidos ou conservados, em virtude do princípio de que ‘isto sempre pode servir’. Tais elementos são, pois, em parte particularizados: o bastante para que o bricoleur não tenha necessidade de equipamento e do conhecimento de todos os corpos de administração; mas não o suficiente para que cada elemento seja sujeito a um emprego preciso e determinado. Cada elemento representa um conjunto de relações, ao mesmo tempo concretas e virtuais; são operações, porém utilizáveis em função de qualquer operação dentro e um tipo”. (Lévi-Strauss: 38-39).            

Na política em geral, a relação de saber do sujeito gramatical como o objeto ersatz de gramática ou sgrammaticatura são conhecidos da velha antropologia estrutural nova:
“Todos esses objetos heteróclitos, que constituem seu tesouro, interroga-os para compreender o que cada um deles poderia ‘significar’, contribuindo, assim, para definir um conjunto a realizar, mas que não diferirá, finalmente, do conjunto instrumental senão pela disposição interna das partes. Este cubo de carvalho pode ser um calço para remediar a insuficiência de uma tábua de abeto, ou, ainda, um soco, o que permitiria pôr em evidência o áspero e o polido da velha madeira. Num caso, ele será extensão e, no outro, matéria. Mas estas probabilidades permanecem sempre limitadas pela história particular de cada peça e pelo que nela subsiste de predeterminado, devido ao uso original, para o qual ela foi concebida, ou pelas adaptações que sofreu, em vistas de outros empregos. Como as unidades constitutivas do mito, cujas combinações possíveis são limitadas pelo fato de serem obtidas por empréstimo da língua em que já possuem um sentido restringindo a liberdade de manobra, os elementos colecionados e utilizados pelo bricoleur (o sentido subtraído de uma gramática usado em um ersatz de gramática em narração lógica) estão ‘pré-constrangidos’. (Lévi-Strauss 5, p. 35). Por outro lado, a decisão depende da possibilidade de permutar um outro elemento na função vacante, de tal forma que cada escolha acarretará uma reorganização total da estrutura, que não será nunca igual à vagamente sonhada, nem a uma outra, que lhe poderia ter sido preferida”. (Lévi-Strauss: 39-40).             

Tudo leva a crer que a periferia RSI encontra-se abandonando seu momento antropológico estrutural do neolítico DO ESTADO DA SOCIEDADE DA BÜROCRATIE POST-CAPITALIST PERIFERIA (do discurso do político do oligárquico do luso-brasileiro) “en camino a...” à sociedade periferia pós-estrutural antropológica lacaniana do discurso do político das máquinas com vontade de potência desejante bricoleur. A máquina esquizo bricoleur só consegue executar uma atividade usando meios e expedientes (expedientes, no sentido de viver de oportunidades ou negócios fortuitos, em geral ilícitos) que indicam a ausência de um plano predeterminado e se afastam dos processos e normas adotados pela técnica burocrática weberiana, por exemplo. 

Trata-se da passagem do ESTADO BÜROCRATIE POST-CAPITALIST PERIFERIA da sociedade dos significantes do oligárquico-arcaico para o ESTADO DA BÜROCRATIE POST-CAPITALIST PERIFERIA da sociedade dos significantes do político (público e/ou privado) primitivo bricoleur.     

AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer. O poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002
CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. RJ: Francisco Alves: 1978
DELEUZE E GUATTARI, Gilles e Félix. O Anti-Édipo. SP: Editora 34, 2010
HEGEL. Estética. Lisboa: Guimarães Editores, 1993
HEIDEGGER, Martin. ¿ Que significa pensar? Buenos Aires: Editorial Nova, 1972
HOBBES, Thomas. Os Pensadores. Leviatã. SP: Abril cultural, 1974
LÉVI-TRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. SP: Companhia Editora Nacional, (1962, Librairie Plon)
MARX. O capital. Livro 3. O processo global de produção capitalista. v. 5. SP: Difel, 1985

TOYNBEE.  A humanidade e a Mãe-Terra. Uma história narrativa do mundo. RJ: Zahar: 1978

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