quinta-feira, 18 de maio de 2017

AUTODISSOLUÇÃO DA VISÃO DE MUNDO DO BRASILEIRO


             José Paulo

                                              LITERATURA, IDEOLOGIA, TEOLOGIA   

Escolhi comentaristas estudiosos reconhecidos da história da literatura nacional da USP e professores cariocas especializados na sociedade dos artistas para iniciar uma provável leitura da poética de Ferreira Goulart.

Tendo sucedido ao Prof. António Soares Amora na Cátedra de Literatura Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Massaud Moisés desenvolveu importantes trabalhos de pesquisa nesta área, logo a partir da década de 1950.

Logo após a criação da Fundação Padre Anchieta em 1969, Antônio Soares Amora foi convidado pelo então presidente José Bonifácio Coutinho Nogueira para assumir a diretoria do Departamento de Ensino da TV Cultura. Em 1971 Antônio Amora deixou o canal, retornando em 1975 como presidente da Fundação Padre Anchieta, cargo que ocupou até 1979. Desde 1994 exercia o cargo de presidente do conselho curador da Fundação.

A sociedade das letras no Brasil manteve fortes laços gramaticais com o Estado sgrammaticatura fascista militar 1968. O prof.  professor António Soares Amora foi o fundador e primeiro diretor da Faculdade de Letras da UNESP, em Assis, além de professor titular da disciplina de Literatura Portuguesa da USP.

Os estudos de Literatura Portuguesa haviam sido introduzidos nas universidades brasileiras a partir de finais da década de 1930. Na USP esse trabalho se deu pelas mãos do professor português Fidelino de Figueiredo, cujo trabalho foi continuado pelo seu discípulo António Soares Amora, a quem sucedeu Massaud Moisés.

Aliás, tal fenômeno veio ao encontro do meu trabalho e publicações, finalmente, sobre o CRIMINOSTAT FAIRFAX. Cidade-Estado soberano orbital de Fairfax governada pela CIA. Fairfax fica dentro do Estado pedestre republica da Virginia, e, portanto, dentro do Estado nacional pedestre/semiorbital EUA. Este meu texto é da era anterior a Donald Trump na presidência da América. Trata-se de um fato político que aturdiu o domínio do Criminostat burocrático pós-capitalista mundial sob comando do burguês da sociedade do rico democrata dos Estados Unidos e sua expressão política o partido democrata, braço político da CIA, SNA, FBI etc. 

A CIA não é uma instituição do Estado americano. Ela é o governo de um país orbital SGRAMMATICATURA virtual - eletrônico e digitalis.

Esta semana sofri um grande choque de tristeza ao descobrir que o notável professor da USP Massaud Moisés foi um funcionário de FAIRFAX. 

 Quem é o nosso Fidelino de Figueiredo?

“Licenciou-se em Ciências Histórico-Geográficas no Curso Superior de Letras (antecessor da Faculdade de Letras), em 1910, tornando-se professor liceal.

Em 1911 casou-se com Dulce Elisa Lobo da Costa (de Figueiredo), nascida em Lisboa em 22 de julho de 1890, com quem teve quatro filhos.

Foi deputado no Sidonismo, Chefe de Gabinete do Ministro da Instrução Pública em 1917-1918 e ainda director da Biblioteca Nacional, em 1918-1919, cargo no qual seria reconduzido em 1927.

Em 1927, participou na revolta dos Fifis contra a Ditadura Nacional, instalada em 1926, pelo que esteve dois anos exilado. Durante o exílio em Madrid é contratado, pela Universidade Central, para professor de Literatura portuguesa e espanhola.[1] Após passagens pelos EUA (Berkeley) e México, seria no Brasil, entre 1938 e 1951, que Fidelino de Figueiredo desenvolveria o seu magistério, sobretudo na Universidade de São Paulo e na Federal do Rio de Janeiro, onde foi titular de uma cátedra de Estudos Portugueses e criou uma ativa escola de lusistas: entre os seus discípulos contam-se Antônio Soares Amora, Segismundo Spina, Massaud Moisés e Cleonice Berardinelli. Ao contrair grave doença neuromuscular regressou a Portugal em 1951, fixando residência em Lisboa”.

Fidelino foi viver no Estado SGRAMMATICATURA SALAZARISTA a partir de 1951. Morreu em 1967, aos 68 anos de idade na sua própria cama, sendo consolado pelo bispo de Lisboa. Ele se tornou um sujeito gramatical, por sua própria vontade gramatical, da conservadora sociedade das letras portuguesas salazarista.  Talvez, se possa dizer que, no Brasil, Fidelino criou o Partido em filosofia literária conservador luso-brasileiro que fez o laço gramatical com o Estado fascista sgrammaticatura militar 1968.

Amigos professores comunistas da Faculdade de Letras da UFRJ foram constantemente assediados e invadidos em sua atividade docente pelo Partido conservador de literatura que controlou as letras da UFRJ durante alguns anos.   Esse Partido era a máquina de guerra literária que governou a ditadura das letras na UFRJ.  

Na disciplina de literatura no Colégio Militar carioca no Estado militar sgrammaticatura 1968, estudei Fidelino de Figueiredo, Massaud Moisés e Cleonice Berardinelli com o professor coronel Pedro Paulo.

MASSAUD MOISÉS

O verbete de Moisés sobre Ferreira Goulart é cheio de falhas. Massaud Moisés não leu, se leu, leu com uma tremenda má vontade, se investigou, não investigou, ou não compreendeu a obra do nosso Ferreira. Ele diz:
“Poema sujo (1976), escrito no exílio em Buenos Aires no ano anterior introduz a raiva e um tom desbragado, de revolta, que recorda, do âmbito formal o clima de 22/30”. (Moisés: 410).

 “Eduardo Jardim de Moraes, professor de filosofia na PUC-RJ, é hoje, no Brasil, uma referência obrigatória em Hannah Arendt, Martin Heidegger e no modernismo brasileiro, com especial ênfase no modernismo de Mário de Andrade”.

NO livro Limites do moderno, o pensamento estético de Mário de Andrade é uma verdadeira decepção, pois, Eduardo Jardim foi considerado por seus amigos da sociedade das letras cariocas a revolução nos estudos do modernismo brasileiro.

No enunciado mais ousado sobre Mário de Andrade, Eduardo diz:
“Finalmente, outras passagens expressam o vínculo, perseguido por Mário de Andrade em toda a sua obra, entre o propósito antiformalista e a afirmação da dimensão moral e social da arte. O vínculo estaria garantido ao ser reivindicada a mais estrita economia formal e ao se reconhecer na acentuada recusa de todo o formalismo a caminho para a superação do desvio individualista. Caso isso venha a ocorrer efetivamente, a dimensão social da arte já estará inscrita nos próprios procedimentos técnicos mobilizados pelo artista”. (Jardim de Morais: 95).     

Leitor de Heidegger, Eduardo foi incapaz de pensar Mário na tela gramatical em narração modernista ersatz de burguês paulista. A revolução ersatz burguesa socialis gramatical interpretativa de Mário de Andrade, pelo andar da carruagem universitária e extra-universitária paulista/carioca vai definitivamente para as calendas gregas.

No entanto, a sóbria e bem-comportada pequena burguesa carioca educada por Eduardo Jardim como leitor do modernismo é suficientemente letrada e sagaz para apreciar o absurdo do enunciado de Moisés:   “Poema sujo (1976), escrito no exílio em Buenos Aires no ano anterior introduz a raiva e um tom desbragado, de revolta, que recorda, do âmbito formal o clima de 22/30”.

Sem ter coragem de censurar a poesia comunista de Ferreira Goulart, Massaud Moisés diz:
“ Em Dentro da Noite Veloz (1975) ventila a mesma ideia; no entanto, o verso redondilho, popular, é substituído pelo verso livre, de andamento prosístico, e o ardor panfletário cede a moderação, ainda que parcial”. (Moises: 410) 

Trata-se da interpretação de Ferreira pela teologia negra do Partido das letras do Estado Militar fascista 1968, feita no fim da década de 1980. Infelizmente, a ideologia gramatical modernista liberal de Eduardo Jardim fez pouco caso e desinteressou-se de combater a ideologia sgrammaticatura literária da direita fascista da sociedade das letras uspiana 1968.       

LUIS COSTA LIMA

O professor carioca Luís Costa Lima, talvez, se coloque na melhor posição em se tratando da episteme política marxista (Lacan) na leitura do modernismo brasileiro no seu livro Lira e Antilira do fim da década de 1960.  Na nota à 2°edição, aparece o fenômeno sociedade do crítico fazendo pendant com o discurso do político do crítico. A sociedade do discurso do crítico tem seu jardim das delícias na seguinte cornucópia:
“Publicado originalmente em começos de 1968, Lira e Antilira aparecia poucos anos depois de livros da crítica literária que permanecem altamente significativos: A Sereia e o Desconfiado, de Roberto Schwartz, Razão do Poema, de José Guilherme Merquior, ambos de 1965, e Metalinguagem (1p67), de Haroldo de Campos. A eles, nos anos próximos seguintes, se acrescentaram os livros de vieram a editar Alfredo Bosi, David Arrigucci, João Alexandre Barbosa, Leila Perone Moisés, Silviano Santiago e Walnice Nogueira Galvão. Juntos, pertencemos à geração de críticos literários formada pelo legado de Antônio Cândido e Augusto Meyer e dos emigrados Anatol Rosenfeld e Otto Maria Carpeaux. Falo em geração apenas no sentido cronológico, pois o que de imediato transparece em cada um dos nomeados é a orientação própria”. (Lima: 13).  

O leitor pode observar que o AUTOR de Lima não é um efeito do significante lacaniano conjuntura da sociedade da LITERATURA carioca e paulista!          

Mergulhar a poética de Ferreira Gullar no Oceano Pacífico discurso da física gramatical gera o efeito tático de integrar tal poética no inconsciente gramatical gramsciano (Gramsci. v. 3: 2341-2343) através do estruturalismo passado pelo ferro de passar quente da cultura historial. Assim, a teoria marxista carioca da modernidade dá um passo à frente sem dá dois passos atrás. Mostro! Não mostro! 
“Partindo-se do suposto de ser a linguagem uma rede de significação verbalmente estabelecida, através da qual o homem não apenas se assegura do que já soubesse, mas a partir de que estabelece o novo que desconhecera, partindo-se, em segundo lugar, do suposto de que a linguagem é elemento da cultura, modificando e propulsionado por esta, chegamos, em terceiro lugar, ao pressuposto fundamental: a linguagem se modifica por responder e se propor como ponta de lança da sociedade que muda. Entre linguagem e sociedade corre um vínculo estreito, não determinista, que faz com que a sombra desta se projete no semblante dissemelhante daquela”. (Lima: 20).    

A articulação marxista carioca estruturalista linguagem/sociedade fala de um vínculo estreito entre elas não determinista através do qual a sombra da sociedade se projeta na semblância dissemelhante da linguagem. Bela conceituação marxista que pensa mais concretamente a relação em tela como corpo da língua (morfologia e sintaxe) com o corpo social (a gramática em narração lógica, literária e ideológica - a sintaxe social da sociedade de classes/lutas de classes cum ideologia/formas de consciência de classes gramatical).

Nesta formulação de Costa Lima o problema da relação sintaxe social/sintaxe da langue e/ou parole do poeta é articulada e desarticulada por uma dialética estruturalista carioca cultural historial. O estruturalismo althusseriano havia conquistado o coração e a mente da polis carioca fazendo pendant com a cultura psicológica associada ao pensamento e ideias de Gramsci. Aliás não consigo ver em Lima o problema da língua como trans-sujeito saussuriano (sem recorrer aos significantes gramatica e sgrammaticatura de Gramsci) que nos remete para o problema da gramática do inconsciente da langue.  

Aliás, as ciências da física gramatical enviam para as calendas gregas a Era Ideológica leninista, mais sua sociedade de classes como luta ideológica de classes in bruto no comando da política mundial.  

                                                                                       II

O corpo da língua como morfologia e sua sintaxe.  Morfologia é o tratado das formas que a matéria da língua pode tomar. Do grego “morphe” (morfo = forma) e (logos = estudo). No âmbito da língua portuguesa, morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras observadas isoladamente. É o estudo da estrutura e formação das palavras, suas flexões e sua classificação. A esses elementos que formam a palavra dá-se o nome de elementos mórficos ou morfemas. Daí é um passo para a gramática gramsciano.

Lacan disse que a morfologia da língua como laço social se realiza pela matéria como significante do inconsciente lacaniano: L’inconscient est ce qui lit como laço social (Lacan: S. 20: 29, 51).  Eivado em dúvidas, dei um passo à frente com a ideia do inconsciente lido como laço gramatical. Trata-se da articulação língua/sociedade pelo laço gramatical.

A leitura do laço gramatical carioca estruturalista mostra que ele é ainda um laço ideológico leninista  althusseriano. Nesta ideologia: L’histoire est un processus, et un processus sans sujet”. (Althusser: 31). A ideologia althusseriana descarta o sujeito gramatical como biografia intelectual política ao tentar se livrar da ideologia burguesa do homem como sujeito da história? (Idem: 31-32). Não. Ele faz um ataque fulminante ao homo clausus da modernidade do burguês cultural. De fato, o homo clasus da modernidade do burguês cultural é a ideologia gramatical do inconsciente do discurso do político do burguês moderno cultural. Se tal fato cultural fosse levado a sério no Rio e em São Paulo.  
Althusser esqueceu que a Revolução bolchevique foi um efeito de um sujeito gramatical biográfico conhecido por Lenin? De qual efeito de significante o sujeito Lenin é resultado, eis um outro problema que o estruturalismo marxista desconsidera? Ambas interrogações são inconsistentes!

Outro problema que embaraça o althusserianismo brasileiro literário é a ideia de que a literatura é luta de classes ideológica na tela gramatical em narração literária. Trata-se de uma tese que faz pendant com a ideia de que a filosofia é luta de classes ideológica na teoria (Althusser: 41). No Brasil, tal ideia serviu para alimentar lutas inorgânicas contra a ideologia burguesa abstrata em sala de aula, esquecendo-se que o inimigo principal era o Partido em filosofia marxista da USP criado por Caio Prado Júnior         

                                                                                                  III
Nas ciências da gramatica da política, no lugar do laço ideológico althusseriano, uso a ideia fantasia lacaniana penso e/ou laço gramatical teológico (Lacan. S. 20: 32-33, 44- 45, 75) que articula (sem dissolver a fronteira gramatical teológica) physis/metaphyis, subjetividade/objetividade, matéria/espírito, matéria como tal/matéria metafísica, história mundial/história nacional, sociedade civili/sociedade política, privado/público, civilização/barbárie, Ocidente/Oriente; ideia/ato, realidade/ficção, amor/raiva; desejo sexual/aversão sexual.

O discurso do político físico gramatical realiza a articulação teológica gramatical língua/sociedade ao integrar tal fato linguístico à gramática do físico como matéria metafísica ao inconsciente gramatical gramsciano destituindo a construção historial do século XXI como um efeito hipertardio da revolução galilaica como matematização da physis (Husserl: 27) da sociedade dos significantes (Lacan: S. 18: 18) pelo   discurso do físico lacaniano. Tal efeito é o inconsciente matemático topológico lalangue (Idem. S. 20: 126).

O discurso do físico gramatical põe e repõe, cria e recria, expõe e reexpõe a gramaticalização do inconsciente do discurso do político do físico como um caminho para a gramaticalização da política mundial agora. Trata-se da integração da língua/sociedade mundial ao inconsciente gramatical gramsciano. 
                                                                                   
ROBERTO VENTURA

Roberto Ventura foi o mais consistente Ideólogo literato paulista do bolivariano multiculturalista da sociedade do artista, antes do bolivariano. Desgraçadamente foi subtraído de nossa convivência intencional, em um acidente automobilístico, na flor da juventude biográfica criativa cultural.

Seu livro Estilo Tropical é o pequeno Evangelho ideológico do bolivarianismo multiculturalista, antes da era do bolivariano  

Roberto Ventura entendeu que Euclides era um alvo tático essencial para a construção da subjetividade bolivariana multiculturalista como fantasia lacaniana gramatical do futuro próximo.

Seu livro de bolso panfletário/propagandístico Os Sertões não faz uma menção sequer ao Euclides da Cunha caboclo do Sudeste ou a Canudos como uma comuna sertaneja mestiça.

NO livro póstumo Euclides da Cunha. Esboço biográfico, Roberto Ventura oblitera, ofusca, soterra a Canudos cabocla em uma única citação do Os Sertões, sujeito gramatical robertiano para não dizer que não falei em caboclagem.  Ele oblitera a memória mestiça da tela gramatical em narração euclidiana. Memória da política sertaneja sujeito gramatical teológico - máquina de guerra euclidiana teológico-mestiça de ideia em um choque aberto com a sociedade sub-burguesa ariana da sociedade dos ricos associados carioca e paulista.

O bolivariano multiculturalista não é um simples sintoma gramatical na escrita de Ventura. É claramente um desejo sexual com satisfação realizada abertamente no discurso do político escritor:
“Os festejos no Rio de Janeiro tiveram, como ponto alto, o grande desfile organizado pela imprensa no domingo, 20 de maio. Todos os grupos das elites ou das camadas urbanas estiveram representados: os jornais e revistas, repartições públicas, clubes, sociedades e associações profissionais, escolas e colégios. Os únicos ausentes da festa eram os ex-escravos, cuja libertação era comemorada”. (Ventura: 61-62).

ESTILO TROPICAL

O desejo sexual de Ventura é a transformação da sociedade ariana dos ricos carioca e paulistas em uma festa permanente - sociedade do bolivariano multiculturalista. A partir de 2003 a era do bolivariano não acabou por realizar tal fantasia lacaniana de Roberto - já não mais entre nós em carne e osso?

Roberto invadiu o território escrito de Silvio Romero para tomar a cidadela da interpretação da mestiçagem:
“Romero fundou, por outro lado, os mitos da identidade nacional e as ideologias do caráter e da cultura brasileira, baseados na fusão e integração de raças e culturas, Gilberto Freyre retomou a valorização da miscigenação”. (Ventura: 65). E acrescenta:
“ Romero questionou, em 1913, a viabilidade do branqueamento, e comparou suas previsões anteriores às de João Batista de Lacerda e Afrânio Peixoto. Lacerda havia estabelecido o prazo de um século para o triunfo do europeu e a liquidação do negro e do índio. No romance A esfinge, Afrânio Peixoto previa um hiato de dois séculos até ser alcançado o branco total, despido de qualquer impureza. O próprio Romero, na História da literatura brasileira, afirmara que esse processo se completaria em três ou quatro séculos”. (Ventura: 64)

Roberto trabalha com a visão de que a formação intelectual brasileira a partir de Silvio Romero é aquela do “homo ideologicus”:
A ideologia do caráter nacional é concebida, portanto, mais como fase do que como problema. Fase que teria sido superada, para Moreira Leite, pela história e sociologia a partir de 1950. Entretanto, afirmar a nova teoria como modelo de pensamento não-ideológico não seria propor uma outra ideologia? Não seria eleger, como modelo de verdade, o padrão científico contemporâneo ao interprete? ”. (Ventura: 60).

Mostraremos em seguida que Sílvio Romero não fundou, entre nós, a Era do homo ideologicus. Ao contrário, ele é o primeiro artesão rhetor percipio da criação da tela gramatical em narrativa teológica literária racial da sociedade burguesa dos ricos arianos Rio/SP.

Tal tela em tela tem como dominação interpretativa teológica sgrammaticatura a fantasia lacaniana do futuro do embranquecimento do país fazendo pendant como desejo sexual de uma supremacia absoluta da NAÇÃO ARIANA da sociedade burguesa Rio/SP sobre o resto mestiço do Brasil.

Em um contraponto a tela negra ariana encontra-se a sociologia gramatical da mestiçagem euclidiana.
Tal teologia sgrammaticatura ariana é, hoje, ainda a superestrutura gramatical em narração com semblância multiculturalista que põe e repõe a articulação da hegemonia dominante da sociedade sub-burguesa Rio/SP sobre o país inteiro. Ela exerce a função de cobrir com um véu espesso o estado de guerra racial entre os arianos carioca e paulista contra a sociedade gramatical em narração teológica mestiça!

Esta tela ariana supracitada encontra-se em um estado de autodissolução crônico!

O último golpe de Estado da NAÇÃO ARIANA RJ/SP foi pôr Euclides da Cunha no INDEX do discurso do político artista em todo o território da subjetividade territorial letrada e eletrônica (televisão e rádio) da sociedade burguesa ariana carioca/paulista. 

A era bolivariana multiculturalista deu um salto da passagem da quantidade para a qualidade gramatical teológico no discurso do político bolivariano que só seja semblância. Assim, o pequeno Evangelho robertoventura Estilo Tropical é a sintetização da era do discurso do político bolivariano.

GRAMATICA TEOLÓGICA DE SILVIO ROMERO

Escolhi no História da literatura brasileira (volume 5°) os verbetes Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco e Euclides da Cunha para fazer um breve comentário sobre Ferreira Gullar em relação à visão de mundo gramatical da história da literatura universal de Silvio Romero.

Se os senhores leitores folhearem Silvio Romero e a história da literatura (ou de Alfredo Bosi, ou de Massaud Moisés, ou dos livros de Roberto Ventura [de uma fração notável da sociedade de letras de espiões de FAIRFAX associada a Fidelino de Figueredo], ou do livro de Flora Süssekind discurso do literato da sociedade dos ricos burgueses associados Rio/SP [O Brasil não é longe daqui. O narrador, a viagem]) terão um choque com a superioridade intelectual e ética de Silvio em relação a Bosi, Moisés, Flora, Roberto Ventura.

Barão do Rio Branco é apresentado como o rhetor percipio filiado à sociedade de diplomatas mundial. Ele teria criado no Brasil o discurso do político diplomata:
“Ainda não. Ele não é um diplomata de ofício, como foi por certo seu ilustre pai.
Sua força, seu prestígio lhe advém de outra parte: brotam de sua vasta cultura histórica e geográfica, de seu profundo saber, acumulado por quarenta longos anos, da corografia e dos anais pátrios, nomeadamente das lutas e pendências de guerra havidas com as gentes vizinhas.
Sobre este largo e seguro alicerce é que se tem alevantado a capacidade diplomática de rio-Branco”. (Romero: 1906).      

O Barão é uma linha divisória estabelecida entre a pequena política (seita) e a grande política Igreja), ele é o Partido em filosofia da diplomacia que sustenta o Itamaraty até os dias atuais. Sendo mais claro, Rio Branco criou a tela gramatical em narrativa do discurso do político da diplomacia tendo o Itamaraty como sua força prática teológica ariana.  

Ao visitar Machado de Assis nas suas últimas horas de vida, o Barão, ao sair do quarto fúnebre pediu sabão e toalha limpa para lavar as mãos tal era a aversão sexual que sentia pelo asqueroso mestiço parvenu do Vermelho e o Negro Machado/Julian Sorel. 

Joaquim Nabuco Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em Recife (1849) e morreu em Washington (1910). Foi político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista brasileiro formado pela Faculdade de Direito do Recife. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Na data de seu nascimento, 19 de agosto, comemora-se o Dia Nacional do Historiador.

Silvio vê Joaquim como um Lenin brasileiro antes de Lenin? Ou será melhor vê-lo como o nosso Lutero: “Mas o seu falar e o seu escrever tiveram sempre uma substância plástica que dava vigor à sua forma brilhante: a doutrinação político-social”. (Romero: 1914).

A substância plástica do discurso do político Nabuco não é uma matéria metafísica teológica?  

Na história da política mundial, talvez, Nabuco tenha feito o Evangelho da teologia doutrinária/propagandista do terceiro-mundo (pois, não se trata de ideologia política) no seu livro O Abolicionismo:
“O MANDATO ABOLICIONISTA É uma dupla delegação, inconsciente da parte dos que o fazem, mas, em ambos os casos, interpretada pelos que a aceitam como um mandato a que não se pode renunciar. Nesse sentido, deve-se dizer que o abolicionista é o advogado gratuito de duas classes sociais que, de outra forma, não teriam meios de reivindicar os seus direitos, nem consciência deles. Essas classes são: os escravos e os ingênuos. Os motivos pelos quais essa procuração tácita se impõe-nos uma obrigação irrenunciável não são puramente – para muitos não são mesmo principalmente – motivos de humanidade, compaixão e defesa generosa do fraco e do oprimido”. (Nabuco: 13).    

Ao lado do Barão, Nabuco estabeleceu a divisão entre a gramática em narração teológica grande política e pequena política, que se autodissolveu na nossa atual Ordem Liberal 1988:
“Ele está bem em seu lugar, no seu posto de Embaixador da civilização brasileira perante o mundo. A cultura nacional não poderia encontrar mais distinto representante. Sua passagem para a República, como a de Rio-Branco, exprime a nítida consciência que tiveram de que acima de mesquinhas agitações partidárias, paira para os grandes espíritos o destino supremo da pátria.

Não fizeram mais do que seguir os ensinamentos do Visconde do Rio-Branco, que passara oportunamente do liberalismo inarticulado e dispersivo para o partido conservador, e de Nabuco de Araújo, que deixou pelas costas o conservadorismo, que se havia tornado negativo e improgressista, e alistou-se galhardamente entre os liberais, quando estes se tornaram dignos de sua adesão.
O exemplo de tais mestres nulifica e apaga os motejos grotescos que a politicagem impenitente possa garatujar nas botas dos dois cavalheiros.
Não sei se a evolução contemporânea do Brasil reserva alguns problemas que tenham de ser resolvido por Joaquim Nabuco”. (Romero: 1914-1915).        

Euclides da Cunha era o enjeitado (Nietzsche: 435) segundo Romero, na página 1941, da sociedade do escritor que Flora Süssekind sustenta ter sido criada nas décadas de 1830 e 40 (Süssekind: 19)

Aliás, Flora fala, sem tropeço do discurso do político escritor (discurso do escritor) sem saber que sabe que está se referindo a tal fenômeno:
“Mantida a máscara de guia e a paisagem imaginária a que obrigatoriamente se destina, é o caso de erguer tais marcos, impô-los à vista e, ao mesmo tempo, fazer crer que sempre estiveram lá. Quando, ao contrário, a tinta ainda fresca, o desenraizamento, indicariam serem apenas cenários, e recém-pintado por esse narrador-paisagista, de quem se exige ainda o duplo papel de comandante e cronista de repetida viagem em sentido único: regresso. A uma paisagem atemporal e pitorescamente cheia de referências locais, e a uma essência meta-histórica – e que se chama Brasil – que preexistiria à conquista europeia, persistiria durante o período colonial e justificaria a consolidação de um Estado-Nação imperial como o que a parcela dominante ligada ao trono lutava para assegurar em meio aos levantes que se sucediam durante o período regencial e os primeiros tempos do Segundo Reinado por todo o país. Paisagem una e particularmente útil então, esta que se funda ou a que se deve ‘regressar’ ”. (Süssekind: 37-38).

O discurso do político do escritor emerge como posição de articulação da hegemonia na cultura do narrador descobridor de um país na imaginação biográfica coletiva, mas como fantasia lacaniana do futuro na prosa novelesca, um narrador de ficção lacaniano, onde sujeito de ficção faz pendant com a verdade do real como estrutura da sociedade em tela, sendo a estrutura a causa do discurso do narrador (Lacan. S. 16: 30, 31,  ). O narrador não é, ou cronista, ou historiador, ou sociólogo. Mas sua verdade triunfará não forçosamente por ser a verdade, mas triunfará por ser verdadeira:
“Aliás, nesse mesmo artigo, ‘A ciência e a verdade’, relembrei o dito de Lênin sobre a teoria marxista do social, a qual ele diz que triunfará por ser verdadeira – mas não forçosamente por dizer a verdade. Isso também se aplica aqui”. (Lacan. S. 16: 169).

Lacan diz sobre a verdade: “ao sublinhar que a verdade, na medida em que seu lugar só pode ser aquele em que se produz a fala, que a verdade, em essência – perdoem-me esse ‘em essência’, ele serve para eu me fazer entender, não depositem nele toda a ênfase filosófica que o termo comporta -, a verdade, digamos, por si só, tem uma estrutura de ficção”. (Idem: 186).

Assim, pode-se revisitar o descobridor-narrador novelesco como sujeito gramatical de uma estrutura de ficção arcaica designada por “Brasil”?         
“Percebe-se, por seu turno, nesse começo histórico de prosa novelesca no Brasil, nesse movimento de configuração de um narrador de ficção, uma falha trágica em duplicata. Se o regresso à origem é uma impossibilidade e o que se faz é ‘fingir a volta a casa’, fundar uma paisagem, uma cena histórica ou familiar, um marco aprazível a que se nomeiam ‘Brasil’, ‘origem’, ‘Natureza’, é preciso, simultaneamente, com uma das mãos empreender a fundação e com a outra negá-la e exibir minuciosamente mapas de minas, origens, nações. Se ao narrador cabe a função de descobridor, de guia, e o ponto de chegada pré-dado se mostra um lugar-comum, é preciso realizar operação semelhante.  (Süssekind: 37).          

Talvez em um futuro que não chegue jamais, Os Sertões venha a ser considerado o discurso do político do mestiço que desfechou o mais belo golpe de Estado literário na sociedade do escritor ariano da sociedade aristocrática rica do Rio cujo começo é uma verdade de ficção do arcaica paisagístico e pitoresco Brasil.  

Os Sertões pode ser visto como a nossa tela gramatical em narrativa teológica da mestiçagem como força prática da revolução civili de uma sociedade de homens, mulheres e crianças livre e normais. O livro é o nosso Evangelho revolucionário da mestiçagem escrito pelo mais extraordinário psicótico nacional:
“Excede o autor dOs Sertões, de Perú versus Bolívia, Contrastes e Confrontos, À Margem da História, na força do pensamento e no saber real científico. O seu êmulo se lhe avantajava no estilo, nos fulgores da forma. À Mulher e a Sociogenia e Alucinações e Ilusões são duas produções d’altíssimo valor, que, se fossem, na ocasião oportuna, quando apareceram, traduzidas, vantajosamente, ideias teriam dado da inteligência brasileira.

Mas concentremo-nos em Euclides da Cunha. Comecemos por seus livros de ensaio e artigos soltos.
"Os Contrates e Confrontos estão cheios de estudos referentes a assuntos que não andamos, já disse, costumados a encontrar nas literatices correntes. São questões de caráter sério tomadas à política e à ordem social do Brasil, do Perú, da Argentina, da Bolívia, do Uruguai e até da Rússia, da Alemanha, da Inglaterra, dos Estados Unidos, do Oriente, todas interpretadas por um são brasileiríssimo”. (Romero: 1942-1943).

Mas qual sujeito gramatical surge com um tal engenheiro militar caboclo de Euclides da Cunha? Precisamos um pouco mais de Sílvio Romero:
“São estudos escritos entre 1901 e 1904. Os mais notáveis vêm a ser: O Marechal de Ferro, Plano de uma cruzada, Contra os caucheiros, Entre o Madeira e o Javarí, Fazedores de desertos, Entre as ruínas, Ao longo de uma estrada, O ideal americano.
O estilo é sempre fluente, imaginoso e geralmente correto. A pintura que faz da índole e do caráter de Floriano Peixoto, por exemplo, é um quadro de gênero realístico de fino primor.
Pinta-o indiferente e impassível no 15 de Novembro de 1889 por ocasião da revolta republicana, no 23v de Novembro de 91, no contragolpe de Estado oposto a Deodoro e no 6 de Setembro de 93, quando foi da revolta da armada”. (Romero: 1943).

Romero fala de Euclides como a emergência do discurso do político do sociólogo entre nós com problemas de erros conceituais em relação ao domínio da sociologia da cultura europeia e americana. Porém, é inegável a inscrição de Euclides no campo da sociologia:
“Os estudos sociais não hão de ser feitos com leituras tumultuárias de Gumplowicz, de Tarde, de Durkheim, de Bouglé, de Novicow, de René Worms, nem mesmo dum Giddings, dum Lester Ward, dum de Greef, dum Baldwin.
Deveremos começar por H. Spencer, porque é excelente para mostrar as bases gerais da sociedade, seus fatores internos e externos e como se lhe aplicam as leis fundamentais da evolução. Chegamos ao fim dos Princípios de Sociologia, ficamos a saber como a sociedade se formou e constituiu em suas manifestações diversas, dos costumes e cerimônias, da religião, da família, da política, do direito, das profissões, das instituições econômicas, etc. ”. (Romero: 1945).

Com a sociologia mestiça de Euclides começa a linhagem que atravessa a literatura modernista, a sociologia conservadora arrebatadora iluminista de um Oliveira Vianna até chegar a Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e a sociologia literária marxista paulista de Roberto Ventura, depois de passar por Antônio Cândido.

Este marxismo de Ventura é um contraponto ao marxismo carioca estruturalista cujo epígono é o livro Marx Trágico, de Carlos Henrique Escobar. Escobar chegou a fazer uma peça teatral sobre a relação trágica entre Euclides e Anna de Assis, mulher de Euclides.

O Marx trágico diz muito sobre Euclides (um admirador de Marx) e sua obra:
“Marx não trancou sua obra. Ela é tão aberta quanto sua militância. Da sua obra, de sua vida e de sua militância ficam explícitos, no entanto seus princípios. Os princípios enquanto a aventura de uma intervenção subvertedora. Nem Kant nem Hegel nem Freud, como uma filosofia que o sucede, são referências esclarecedoras para o ‘marxismo de Marx’. Estas filosofias querem preservar no lugar de destruir. Marx quer destruir e criar”. (Escobar: 143).       

 A diferença entre o marxismo carioca e o paulista – na conjuntura althusseriano carioca e paulista -  se deve ao chefe e criador do Partido em filosofia marxista da USP, o nobre Caio Prado Júnior.
A leitura de Ventura sobre Euclides se alinha com as publicações de Caio Prado sobre Althusser. Uma publicação tática é o pequeno ensaio O marxismo de Louis Althusser. Este texto é axial no abismo aberto entre o marxismo paulista e o marxismo carioca estruturalista e pós-estruturalista.

O texto de Caio Prado trata exatamente do conceito de real em Althusser:
“Para A., paradoxalmente, não é assim. O objeto de conhecimento não é para ele a realidade objetiva, o ‘objeto real’, como ele diz. Não é esta realidade que nos cerca e da qual participamos; o mundo real com seus fatos, ocorrências, fenômenos nele constatados e observados, e que a ciência, ou antes o cientista, interroga através de seus experimentos, não é isto, para A., o objeto de conhecimento ou ciência. Não é disto que a ciência se ocupa e para que se dirige. Para A., o objeto de conhecimento é distinto do objeto real”. (Pardo Júnior: 74).

A cena intelectual da USP jamais acompanhou as investigações e debates sobre o real no marxismo estruturalista e em Lacan, exposto no livro Écrits (1966). Facilita ao leitor consultar o Seminário 18 onde Lacan trabalha fato e artefato na gramática da lógica do significante. Trata-se, de certo modo, do desenvolvimento da episteme da política de Althusser da relação da ciência como o fato real e o objeto real de conhecimento.

Lacan resume tal aparente antinomia assim:
Artefato, disse eu no começo.
O artefato, é claro, com absoluta certeza, é nosso destino de todo dia, nós o encontramos em toda esquina, ao alcance dos menores gestos de nossas mãos. Se há um discurso sustentável, ou pelo menos sustentado, nominalmente chamado de discurso da ciência, talvez não seja inútil nos lembrarmos de que ele partiu, muito especialmente, da consideração de aparências”. (Lacan. S. 18: 15).

No marxismo, Althusser foi o pioneiro nessa discussão sobre o real que envolve desde os sofistas, Platão, passando por Kant e Hegel até chegar em Marx. Lacan introduz o significante que Althusser integra em seu discurso como se pode constatar nos ensaios Freud e Lacan, Marx e Freud da década de 1960.

Fazendo pendant com o significante há a realidade do real, o real da realidade, e a aparência do semblante da realidade. Lacan resume tais relações assim:
“É nessa medida que não há semblante de discurso. Tudo que é discurso só pode dar-se como semblante, e nele não se edifica nada que não esteja na base do que é chamado de significante. Sob a luz em que hoje o produzo para vocês, o significante é idêntico ao status como tal do semblante”. (Lacan. S. 18: 15).

O Partido em filosofia da USP sustenta ou sustentou a sociologia paulista (e também todo o jornalismo carioca e paulista de papel e da televisão) com a noção de que fato existente e consiste no real para ser conhecido pela ciência como tal ou pela ciência do jornalismo que vai de encontro a Althusser (e Lacan):
“Em todo caso, não se trata certamente de ‘fato’ na acepção corrente e usual, tanto que no mesmo texto, pouco adiante, A. exclui de sua ‘prática teórica’ os ‘fatos puros e absolutos que seriam puro dado objetivo’ – o que soa mais próximo do que ordinariamente entendemos por ‘fato’ ”.  (Prado Júnior: 76).

O conluio entre a sociologia pré-diluviana da USP e a sociedade do espetáculo que usa tal sociologia para sustentar que a ficção-aparência de fatos é o próprio fato é parte da cultura psicológica epicurista pós-modernista que faz despropositadamente uma confusão arrebatadora (para o público) entre fato (coisa) e imagem (artefato bruto) de acordo com a ordem cultural do pós-modernismo vulgar. E para não dizerem que só falo da psicanálise lacaniana, faço uma citação longa da psicanálise de Sartre:
“Uma coisa, porém, é apreender imediatamente uma imagem como uma imagem, outra formar pensamentos sobre a natureza da imagem em geral. O único meio de constituir uma teoria verdadeira da existência em imagem seria sujeitar-se rigorosamente a nada avançar a respeito dela que não tivesse sua fonte diretamente numa experiência reflexiva. É que, na realidade, a existência em imagem é um modo de ser de apreensão bastante difícil. Para isso é preciso contenção de espírito; é preciso sobretudo que nos desembaracemos do hábito quase invencível de constituir todos os modos de existência segundo o tipo de existência física. Aqui, mais do que alhures, essa confusão entre os modos de ser é tentadora, uma vez que, apesar de tudo, a folha em imagem e a folha em realidade são uma única e mesma folha em dois planos diferentes de existência. Por conseguinte, desde que desviamos o espírito da para contemplação da imagem enquanto tal, desde que que pensamos sobre a imagem sem formar imagens, verifica-se um deslizamento e da afirmação da identidade da essência entre a imagem e o objeto passamos à de uma identidade de existência. Já que a imagem é o objeto, concluímos que a imagem existe como o objeto. E, dessa maneira, constitui-se o que chamaremos de metafísica ingênua da imagem. Essa metafísica consiste em fazer da imagem uma cópia da coisa, existindo ela mesma como uma coisa. Eis, pois, a folha de papel ‘em imagem’ provida das mesmas qualidades que a folha ‘em pessoa’. É inerte, não existe mais somente para a consciência: existe em si, aparece e desaparece a seu critério e não ao critério da consciência; não cessa de existir ao deixar de ser percebida, mas prolongada, fora da consciência, uma existência de coisa. Essa metafísica, ou melhor, essa ontologia ingênua é a de todo mundo. Eis por que se observa o curioso paradoxo: o mesmo homem, sem cultura psicológica, que nos afirmava, há pouco, poder reconhecer imediatamente suas imagens como imagens, vai acrescentar agora que vê suas imagens, que as ouve etc. É que sua primeira afirmação decorre da experiência espontânea e a segunda de uma teoria ingenuamente construída. Ele não se dá conta, precisamente, de que se visse suas imagens, se as percebesse como coisas não poderia mais distingui-las dos objetos; e chega a constituir, em lugar de uma só folha de papel em dois planos de existência, duas folhas rigorosamente semelhantes existindo no mesmo plano. Uma bela ilustração desse coisismo ingênuo das imagens nos é fornecido pela teoria epicurista dos ‘simulacros’. As coisas não cessam de emitir ’simulacros’, ‘ídolos’, que são simplesmente envelopes. Esses envelopes têm todas as qualidades do objeto, o conteúdo, a forma, etc. São mesmo, exatamente, objetos. Uma vez emitidos, existem em si como o objeto emissor e podem errar pelos ares durante um tempo indeterminado. Haverá percepção quando um aparelho sensível reencontrar e absorver um desses envelopes”. (Sartre: 42).

O envelope, por exemplo, é a ideologia gramatical da sociedade do espetáculo que invade o real da sociedade do mundo-da-vida e é absorvida como objeto, como fato, não como artefato. Tal fenômeno consiste no poder do espetáculo sobre o espectador. Este fenômeno é a autodissolução da visão de mundo brasileira contemporânea não da produção do contemporâneo!    

A citação de Sartre é um resumo esplendido do funcionamento da sociedade do espetáculo e do tipo de confusão entre fato e artefato, aparência da semblância e realidade do real no marxismo ingênuo paulista (do marxismo que não foi sacudido pela revolução althusseriano) e, também, do jornalismo mundial, principalmente, carioca e paulista.     

Ainda tem mais um comentário sobre o combate do marxismo da USP a Althusser:
“Na edição Maspero de Lire le Capital (que estamos aqui utilizando), A. se defende categoricamente da incriminação de estruturalista de que foi tachado e continua a sê-lo (L. C., Advertissement). Mas não há dúvida de que estas suas concepções, que acabamos de passar em revista, são muito afins das do Papa do estruturalismo, Lévi-Strauss. Não se trata como pretende A., de simples coincidência terminológica. Por que esta coisa de A., de uma ‘estrutura’ que se manifesta através dos indivíduos pensantes que seriam simples ‘agentes’ do pensamento (homo clausus) configurado naquela estrutura, e agentes a cada um dos quais a mesma estrutura atribui (assigne) o lugar e a função próprios na produção do conhecimento, isto se parece muito muito mesmo, com as estruturas levistraussianas que condicionam e determinam os modos de agir, pensar, e de sentir dos homens e das sociedades que eles compõem”. (Althusser: 82).        

O trecho acima estabelece, claramente, a explosão epistemológica da psicanálise de Bachelard, ou seja, a descontinuidade via explosão da língua do campo da cultura da ciência vigente (Bachelard: 171, 177) do marxismo de Althusser com o marxismo de Lenin e o leninismo dominante na cultura mundial marxista ainda no cárcere do homo clausus da cultura psicológica ocidental. A spaltung ocorre pela articulação de um campo de saber marxista lacaniano que é um efeito de mai 1968 de explosão da língua do homo clausus. Nesta quebra do mundo do marxismo-leninista, o significante-mestre (S1gramatical) assume o lugar da estrutura antropológica na posição de episteme da política (Lacan. S. 17: 21) e nesta o sujeito gramatical (de produção de pensamento e ideia) é uma biografia intelectual (do individual ao grupal) como efeito do S1gramatical = althusserianismo cum psicanálise marxista de Lacan.

Para sair do campo do marxismo recorro a ideia de paradigma de Thomas S. Kuhn:
“Quando os cientistas não estão de acordo sobre a existência ou não de soluções para os problemas fundamentais de sua área de estudos, então a busca de regras adquiri uma função que não possui normalmente. Contudo, enquanto os paradigmas permanecem seguros, eles podem funcionar sem que haja necessidade de um acordo sobre as razões de seu emprego ou mesmo sem qualquer tentativa de racionalização”. (Khun 1987:73-74; 1962: 48-49).

O Partido em filosofia da USP teve no sociólogo Luiz Pereira a sua descontinuidade althusseriano ortodoxa não-freudiana (seguido por Décio Saez com o deu magnífico A formação do Estado burguês no Brasil e ensaios sobre o populismo), especialmente, no livro Anotações sobre o capitalismo. Infelizmente, na atualidade, desconheço o efeito do marxismo althusseriano no Departamento de Sociologia da USP. No Rio, Carlos Henrique Escobar é o líder informal de uma fração marxista lacaniana muito influente na cultura carioca.

O resultado da luta do althusserianismo como o Partido em filosofia da USP foi a derrota pela conquista da soberania ideológica gramatical na cultura da política brasileira. A aliança do PCF de Caio Prado com o jornal O Globo e a televisão Globo permitiram que a filosofia de Caio Prado (via a sociologia marxista paulista) invadisse e fosse absorvida pelo real do seer das massas grau zero analfabetas em cultura filosófica da sociedade do rico carioca e paulista. O jornalismo faz o resto do trabalho de metabolização da ideologia gramatical PCF Caio Prado junto as massas grau zero em filosofia em toda a parte urbana do país.       
  
Aliás, encerro com um comentário que fiz em outro lugar sobre a poesia Bomba Suja marxista lacaniano antes do marxismo lacaniano mai 1968 que trata de um modo esplêndido dos problemas em tela:

A poesia A BOMBA SUJA é um poema neoconcretista que pode ser objeto associado à teologia gramatical materialista racional?

O poema faz um jogo entre palavra e gramática lógica do significante de Lacan acossado/assombrado pela antiguidade do discurso do político do sofista na politeia. :

"NO DICIONÁRIO A PALAVRA É MERA IDÉIA ABSTRATA. MAIS QUE PALAVRA, DIARRÉIA É ARMA QUE FERE E MATA". (Gullar: 156)

A diarreia que mata é o real da vida biológica humana. Real periferia que mata como um significante naturalis que invade o corpo humano e se implanta como uma bomba relógio suja que explode a linguagem naturalis da vida humana.

Meus caros, O poeta Ferreira Gullar da atualidade atual é o sofista da gramática do significante bomba suja que tem vontade de potência gramatical que mata a palavra e a vida humana.

Façam um favor! Parem de enterrar o poeta F.G. nesses ridículos documentários cova rasa falando sobre a vida pessoal ou a vida política de um velho Gullar antiguidade propriedade do PCB.
Parece que vocês não sabem que sabem sobre a atualidade do neoconcretismo gramatical marxista atual de F.G nesse momento decisivo da vida brasileira!

ALTHUSSER. Réponse a John Lewis. Paris: Maspero, 1973
ALTHUSSER. Freud e Lacan. Marx e Freud. RJ: Graal, 1984
BACHELARD, Gaston. Epistemologia. RJ: Zahar Editores, 1977
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del cárcere. v. III. Quaderni 12-29 (1932-1935)
GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. RJ: José Olympio, 2001
ESCOBAR, Carlos Henrique. O Marxismo de Marx. Marx trágico. RJ: Taurus, 1993
HUSSERL, Edmund. La crise des sciences européennes et la phénoménologie transcendentale. Paris: Gallimard, 1976
KUHN, Thomas S. The structure of scientific revolutions. Chicago: The University of Chicago Press, 1962
---------------------  A estrutura das revoluções científicas. SP: Perspectiva, 1987
LACAN, Jacques. Livro 16. De um Outro ao outro. RJ: Zahar, 2008
-------------------- Livre XVII. L’envers de la psychanalyse. Le Seminaire. Paris: Seuil, 1991
-------------------- O Seminário. Livro 18. De um discurso que não fosse semblância. RJ: Zahar, 2009
-------------------- Encore. Livre XX. Le Seminaire. Paris: Seuil, 1975
LIMA, Luiz Costa. Lira e Antilira. Mário, Drummond, Cabral. RJ: TOPBOOKS, 1995
MORAIS, Eduardo Jardim. Limites do moderno. O pensamento estético de Mário de Andrade. RJ: Relume Dumará, 1999
MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira. Modernismo. SP: Cultrix/EDUSP, 1995
NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. SP: Nova Fronteira, 2000
NIETZSCHE. Os Pensadores. Obras Incompletas. SP: Nova Cultural,1999
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PRADO JÚNIOR, Caio. Estruturalismo de Lévi-Strauss. Marxismo de Louis Althusser. SP: Brasiliense, 1971
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SARTRE. Os Pensadores. A Imaginação. SP: Abril Cultural, 1973
SÜSSEKIND, Flora. O Brasil não é longe daqui. O narrador, a viagem. SP: Companhia das Letras, 2000
VENTURA, Roberto. Estilo Tropical. História cultural e polêmicas literárias no Brasil. SP: Companhia das Letras, 2000
   
                

         
  
         
   
        


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