sábado, 23 de fevereiro de 2019

GUERRA – QUESTÃO PRÁTICA DE ESTADO?



José Paulo

A intenção de fazer guerra a Venezuela foi anunciada por Donald Trump. A Venezuela já se tornou uma questão prática da política americana. Trump diz que a situação colapsada da Venezuela se deve ao socialismo do século XXI de Maduro.

Trump quer usar Maduro para fazer política interna. Ele diz que o partido democrata encontra-se dominado pelo socialismo e assim faz parelha com o socialismo de Maduro. O delírio psicótico da extrema-direita (América socialista) de Trump se ancora na realidade dos fatos ao internalizar a catástrofe venezuelana. Trata-se de um retorno à Guerra Fria?

A Guerra Fria foi um fenômeno de uma história natural do conflito EUA versus URSS. Hoje, Trump a recria como um delírio da história política artificial do século XXI.  

O governo brasileiro parece querer abrir um front contra a Venezuela no Norte do país? Por quê o faria?

Bolsonaro encontra-se em uma camisa de onze varas com acusações (na imprensa) de corrupção da família e de envolvimento da família em assassinato político. O conflito de Bolsonaro com o presidente de seu partido (PSL) conturbou a relação do governo com o Congresso. É possível usar a guerra para desfazer o imbróglio político que põe a imprensa e parte do Congresso contra Bolsonaro?

Seria útil Bolsonaro decretar a guerra contra Maduro? O objetivo estratégico da guerra seria a queda de Maduro. O cenário da guerra incluiria a invasão da Venezuela para derrubar Maduro ou a guerra perderia seu sentido. No entanto, o principal consistiria no governo poder usar o Art. 137 do estado de sítio.

II – Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
O governo precisa solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio. Seria uma oportunidade de ouro para o governo construir um bloco formal parlamentar situacionista.

V – Busca e apreensão em domicilio.

A esquerda legal diz que o governo está usando a Okhrana (policia secreta) para levantar a identidade do maior número possível dos cidadãos de esquerda e comunistas sem partido. O inciso V é a porta aberta para uma repressão en massa da oposição ideológica e real ao governo de extrema-direita.  

VI – Intervenção nas empresas de serviços públicos.

Tal intervenção pode ser usada para desorganizar a burocracia estatal anti-governo promovendo um caça as bruxas.  

III – Restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, `prestação de informações e à liberdade imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei.

 Governo pode interpretar a lei autoritariamente e por um fim na liberdade expressão.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas casas legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.

Se a liberdade de opinião dos parlamentares é vigiada pelos presidentes das Casas,  a liberdade de expressão no mundo cyber pode ser restringido pelo estado de exceção.

A guerra contra Maduro só acabaria com a deposição deste. O teatro da guerra é hoje ainda indeterminado. A guerra pode ter um tempo de duração que permita a Donald Trump usá-la para caracterizar seu delírio supracitado como factual para uso na eleição presidencial americana próxima. O governo brasileiro seria beneficiado por essa extensão da guerra, pois, governaria com o estado de exceção.

1° - o estado de sítio, no caso do artigo 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no caso do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.

O estado de exceção permanente não parece ser uma possibilidade para um governo com uma forte facção de generais no comando do aparelho de Estado e do poder de Estado?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

PSICANALISE – DELEUZE-GUATTARI, GRAMSCI, MARX.


José Paulo


A psicanálise em gramática econômica começa na junção do inconsciente com os complexos do inconsciente:
“Falam-nos de família fusional, cisional, tubular, forcluinte. Mas de onde vêm os cortes e sua distribuição, que precisamente impedem a família de ser um ‘interior’? Há sempre um tio da América, um irmão que se deu mal, uma tia que fugiu com um militar, um primo desempregado, falido ou arruinado, um avô anarquista, uma avó louca ou extremamente alquebrada, internada em um hospital. A família não engendra seus próprios cortes: as famílias são cortadas por cortes que não são familiares: a Comuna, o caso Dreyfus, a religião e o ateísmo, a guerra da Espanha, a escalada do fascismo, o stalinismo, a guerra do Vietnã, Maio de 68...tudo isso forma os complexos do inconsciente, muito mais eficazes do que o eterno Édipo”. (Deleuze e Guattari: 1972:119).  

É necessário acrescentar aos complexos do inconsciente signos, acontecimentos, fatos e artefatos (Lacan. S. 18: 15-16) da história econômica mundial do capitalismo neocolonial satélite, satélite do capitalismo corporativo industrial mundial cyber (CCMc); acrescentar o supracitado do CCMc.

Tomando um nível de concretude dos complexos do inconsciente, o desfazer do poder civil e a fabricação do poder militar na conjuntura da terceira década do século XXI no Brasil domina a tessitura da tela gramatical dos complexos do inconsciente que deriva para fora do Brasil. Os devires deste complexo do inconsciente já fazem pendant como os devires dos complexos do inconsciente dos EUA, da América Latina, Hungria, Polônia, Turquia e geografias de corpo sem órgãos afins.

Falando de Proust, Deleuze e Guattari dizem:
“Seu interesse próprio é dirigido à maneira pelo qual o caso Dreyfus e, em seguida, a guerra de 1914 recortam as famílias e nelas introduzem novos cortes e novas conexões que trazem consigo um remanejamento da libido heterossexual e homossexual (por exemplo, no meio em decomposição que é o dos Guermantes). É próprio da libido investir o campo social sob formas inconscientes e assim alucinar toda a história, delirar as civilizações, os continentes e as raças, e ‘sentir’ intensamente um devir mundial”. (Deleuze. 1972: 120).

Um delírio populista americano parece capaz de varrer o continente e arrastá-lo para a guerra.

Deleuze diz:
“É com razão que os helenistas lembram que, mesmo no venerável Édipo, era já da ‘política’ que se tratava”. (Idem: 119).

O problema consiste em ver o Édipo na junção da política, história e economia estrito senso com a economia da política analítica na qual um inconsciente expressivo edipiano, sempre artificial, repressivo e reprimido, mergulhado em familismo cede seu lugar para que a psicanalise em gramática econômica atinja o inconsciente produtivo imediato.
A libido investe em elementos disjuntivos de Édipo; esses elementos nunca formam uma estrutura mental autônoma e expressiva; ao contrário são os cortes extrafamiliares, subfamiliares, essas formas de produção social que estão em relação com a produção desejante que desorganizam ou organizam a política. Assim como a esquizoanálise não esconde ser uma psicanálise política e social militante, a psicanálise em gramática econômica não esconde sua relação com o Marx, Engels e Gramsci. Aliás, a psicanálise edipiana: “se contentou em compreender a resposta a partir de um simbolismo expressivo ainda familiar, em vez de a interpretar num sistema inconsciente da produção enquanto tal [economia analítica]. (Deleuze. 1972: 120).

                                                         II
No “18 Brumário de Luís Bonaparte”, Marx fala sobre a democracia republicana em colapso.
“A história da Assembleia Nacional constituinte a partir das jornadas de junho é a história do domínio e da desagregação da fração republicana da burguesia, da fração conhecida pelos nomes de republicanos tricolores, republicanos puros, republicanos políticos, republicanos formalistas, etc.”. (Marx. 1974: 342).

A dissolução da fração republicana faz um corte na política como complexo do inconsciente, atingindo a família burguesa; o corte gera a produção social de desejo na burguesia de se desvincular da forma política democrática:
“A linguagem respeitável, hipocritamente moderada, virtuosamente corriqueira da burguesia, revela seu significado mais profundo na boca do autocrata da Sociedade de 10 de Dezembro e no herói de piquenique de St. Maur e Satory”. (Marx. 1974: 375).

A burguesia é Napoleão III, a forma democrática é também a forma do império bonapartista; o delírio imperial de Luís é o delírio da burguesia; Napoleão III é a figura paterna (pai tirânico) do Édipo em colapso francês na linguagem familial da burguesia. O delírio supracitado é produção social de uma forma política da história universal da modernidade. Trata-se do cesarismo:
“27. O cesarismo. César, Napoleão i, napoleão III, Cromwell, etc. catalogar os eventos históricos que culminaram em uma grande personalidade ‘heroica’ “. (Gramsci. 1975. V. 3: 1619).

Para falar de um fato recente, no Brasil, na eleição de 2018, Jair Bolsonaro se apresentou como uma personalidade “heroica” (“mito”) capaz de resolver a crise política catastrófica:
“Mas o cesarismo, embora expresse sempre a solução ‘arbitral’, confiada a uma grande personalidade, de uma situação histórico-política caracterizada por um equilíbrio de forças de perspectiva catastrófica, não tem sempre o mesmo significado histórico”. Pode haver um cesarismo progressista e um cesarismo regressivo; e, em última análise, o significado exato de cada forma de cesarismo só pode ser reconstruído a partir da história concreta e não de um esquema sociológico”. (Gramsci. 1975. V. 3: 1619).


A crise política catastrófica se mantinha a partir de forças sociais materializadas em dois partidos - PT e PSDB como forças indutoras dos complexos do inconsciente na política. Uma outra força indutora dos complexos do inconsciente é o fenômeno conhecido como Lava Jato (agir de um Estado de polícia-judicial voltado para cuidar da corrupção público-privada). A Lava Jato desorganizou a potência das forças catastróficas e abriu a porta para que a personalidade “heroica” chegasse ao poder nacional pelas mãos majoritária da soberania popular.

A personalidade heroica brasileira se inscreve na política em extensão da sociedade civil  familial. A época do PT (Lula e Dilma Rousseff) no poder nacional significou o Édipo em colapso com o movimento da mulher e do LGBT no comando da cultura, mass media, política educacional. O aparelho de Estado - e o poder de Estado (Balibar: 94) - se tornou aberto à intervenção das lutas multiculturalistas. A crise catastrófica brasileira vai da política até o Édipo em colapso nas famílias, instituições e na rua (carnaval).  

Na eleição 2018, o discurso eleitoral de Bolsonaro se dirigiu à crise catastrófica em sua totalidade. A imprensa chamou a crise Édipo em colapso como elemento da campanha “pauta de costumes” do messianismo (de Jair Messias Bolsonaro). Depois, o jornalista não entendeu o porquê da pauta dos costumes ter se transformado em pauta de governo. Resolver o Édipo em colapso é uma responsabilidade do messianismo consigo mesmo como grande política dos complexos do inconsciente da nossa geografia política do corpo sem órgãos do CNS.

                                                                  III
Os poderes na política geram cortes concretos nos complexos do inconsciente de uma nação. Recorro a Marx;
“Bonaparte que precisamente por ser um boêmio, um príncipe lumpen-proletário, levava vantagem sobre o burguês vil porque podia conduzir a luta por meios vis, viu agora, depois que a própria Assembleia o guiara, por sua própria mão, através do terreno escorregadiço dos banquetes militares, das revistas de tropas, da Sociedade de 10 de Dezembro e, finalmente, do Código Penal, que chegara o momento em que poderia passar de uma aparente defensiva à ofensiva. As pequenas derrotas sofridas nesse interim pelos ministros da Justiça, da Guerra, da Marinha e da Fazenda, através das quais a Assembleia Nacional expressava seus rosnados e desagrado, incomodavam-no muito pouco. Não só impediu que os ministros renunciassem, e com isso admitissem a supremacia do Parlamento sobre o Poder Executivo, como se sentiu capaz de consumar agora o que começou durante o período de recesso da Assembleia Nacional; a separação entre o poder militar e o Parlamento, a destituição de Changarnier”. (Marx. 1974: 379).

Um governo do Bolsonaro com uma facção de generais no comando do aparelho estatal e se preparando para assumir o poder de Estado parece ou não ser o signo de um cesarismo americano – do militarismo nas Américas?

O nosso cesarismo se realiza: pelo enfraquecimento do poder civil e a fabricação de um poder militar; pelo enfraquecimento do poder secular e a fabricação de um poder político religioso. Devemos levar as últimas consequências a interpretação do cesarismo:
“O cesarismo é progressista quando sua intervenção ajuda a força progressista a triunfar, ainda que com certos compromissos e acomodações que limitam a vitória; é regressivo quando a sua intervenção ajuda a força regressiva a triunfar, também neste caso com certos compromissos e limitações, os quais, no entanto, têm um valor, um alcance e um significado diversos daqueles do caso anterior. César e Napoleão I são exemplos de cesarismo progressista. Napoleão III e Bismarck, de cesarismo regressivo. Trata-se de ver se, na dialética revolução-restauração, é o elemento revolução ou o elemento restauração que predomina., já que é certo que, no movimento histórico, jamais se volta atrás e não existem restaurações in toto. (Gramsci. 1977. V.3: 1619).
 A cada vez mais perto guerra (polemos) contra a Venezuela de Maduro seria um organizador de complexos do inconsciente épicos? Pois, lançaria a política brasileira em uma estética do épico histórico como fenômeno equivalente à tragédia e comédias históricas da estética da política do “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. (Marx. 1974: 336; 372-373). 


No passado, o cesarismo progressista de Napoleão I fez cortes nos complexos do inconsciente americano:
“A invasão da Península Ibérica, em 1808, por Napoleão, por exemplo, estilhaçou grande parte do império ultramarino espanhol. Dentro de poucos meses, na maior parte da América Latina espanhola organizaram-se movimentos de independência, e nos dez anos seguintes quase toda a região se fragmentou em estados independentes”. (Telly:70)     

A guerra europeia fez cortes nos complexos do inconsciente latino-americano com a fundação de Estado-nações em uma geografia política que chega ao século XXI. Hoje, os EUA aparecem como candidatos a indutores de corte dos complexos do inconsciente, arrastando vários países do continente para a formação de um exército das Américas contra Maduro?

                                                                       IV

O Brasil vive entre a restauração do capitalismo neocolonial satélite (CNS) apoiado por forças econômicas e sociais (Mercado Financeiro, Banco, mass media) e a revolução do capitalismo corporativo mundial cyber (CCMc) industrial com suporte em forças culturais e do socius como universidade estatal, instituições científicas em geral, classe operária do capitalismo dependente e associado em processo de dissolução, psicanalise em gramática econômica, trabalho simbólico, especialmente o trabalho científico.   
A questão cadente é se a acumulação de capital na economia de commodities agrícola e pastoril pode ser um fenômeno de transferência de renda para a acumulação de capital da revolução capitalista em direção ao CCMc  ou para a restauração do CNS  



BALIBAR, Étienne. Cinq études du matérialisme historique. Paris: Maspero, 1974
DELEUZE & GUATTARI, Gilles e Félix. L’anti-oedipe. Capiatlisme et schizophrénie, v, 1. Paris: Minuit, 1972
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. V. 3. Torino: Einaudi, 19778.
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 18. De um discurso que não fosse semblante. RJ: Zahar, 2009
MARX. Pensadores. O 18 brumário de Luís Bonaparte. SP: abril Cultural, 1974
TYLLY, Charles. Coerção, capital, e Estados europeus. SP: EDUSP, 1996

  

      



  



 

     



sábado, 16 de fevereiro de 2019

IRREVERSÍVEL MUNDO CAPITALISTA EM COLAPSO?


José Paulo




“Não é a toa que aqui nos serviremos da palavra termo para designar o simbólico em questão”. (Lacan. S. 19: 167).

Termo é um conceito de Charles S. Peirce:
“Ou pode haver uma relação que consiste no fato da mente associar o signo com seu objeto; neste caso, o signo é um nome (ou símbolo). (Peirce: 11-12).

O signo representa a linguagem ou campo simbólico e o objeto ou referente a realidade. A gramática faz pendant com a posição de verdade na linguagem através da lógica:
“porque a lógica é isso, é situar na gramática aquilo que assume a forma da posição de verdade, aquilo que torna a linguagem adequada para produzir a verdade. Adequada não significa que ela sempre o conseguirá. Então, investigando bem suas formas, acredita-se chegar perto do que vem a ser a verdade”. (Lacan. S. 19; 177).

O problema da existência da realidade como posição de verdade separa Lacan e Marx?
Lacan diz:
“Mais de uma coisa no mundo é passível do efeito do significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando com ele se articula o significante. Nunca, jamais surge sujeito algum até que o fato seja dito”. (Lacan. S. 16: 65). 

Marx diz:
“Como en general en toda ciencia histórica, social, al observar el desarrollo de las categorías económicas hay que tener siempre en cuenta que el sujeto – la moderna sociedad burguesa en este caso – es algo dado tanto en realidad como en la mente, y que las categorías expresan por lo tanto formas de ser, determinaciones de existencia, a menudo simples aspectos, de esta sociedade determinada, de este sujeto, y que por lo  tanto, aun desde el punto de vista científico, su existencia de ningún modo comienza en momento em  que se comienza a hablar de ella como tal”. (Marx. 1982: 27).

A gramática materialista de Marx diz que a sociedade burguesa moderna (sujeito) tem uma existência anterior ao Marx começar falar dela. Lacan diz que Marx estabeleceu a sociedade moderna burguesa como sujeito a partir da articulação do significante dito por Marx: capital do livro “O Capital” ou do “Grundrisse”. O capital é o fato dito que produz a sociedade burguesa moderna como efeito do significante ou discurso capitalista.

 A lógica do capital situa na gramática ou discurso de Marx a posição da verdade, ou seja, aquilo que torna a linguagem marxista adequada para produzir a verdade. Ela nem sempre conseguirá produzir a verdade - “Então, investigando bem suas formas, acredita-se chegar perto do que vem a ser a verdade”.
                                                                            II
Lacan diz:
“Há uma face do saber sobre a verdade que extrai sua força de negligenciar totalmente o conteúdo dela.
Isso permite asseverar que a articulação significante é de tal forma sua hora e seu lugar que a verdade não é nada senão essa articulação”. (Lacan. S. 19: 168).

A verdade do nosso mundo é a articulação significante capital/trabalho da sociedade industrial: sua gramática capitalista. No Ocidente, estratégias tornaram precária a articulação significante em tela.  A articulação significante define a realidade (sujeito) como seu efeito. Mas a realidade continua se distinguindo do significante, do discurso:
“Resta deixar claro que é realmente de sujeito que se trata, o que é corroborado pelo fato de que, na minha lógica, o sujeito, se exaure ao se produzir como efeito de significante, mantendo-se tão distinto deste”. (Lacan. S. 19; 166).

O sujeito se enfraquece, torna-se exausto, absorvido, consumido, haurido e também está sujeito a ser invadido por estratégias de sua precarização absoluta ao ser produzido como efeito do significante e não ser reduzido a um epifenômeno do significante capital. Isto significa uma porta aberta para o sujeito em colapso?

Lacan diz:
“A verdade ser mostrada, no sentido passivo, revela assumir um sentido ativo e se impor como demonstração ao ser falante, que nesse momento não pode fazer mais do que reconhecer não apenas que habita o significante, mas que não é nada além da marca deste. A liberdade de escolher seus axiomas, isto é, o ponto de partida escolhido para essa demonstração, consiste apenas, com efeito, em dela sofrer como sujeito as consequências, as quais, por sua vez, não são livres”. (Lacan. S. 19: 168).

O sujeito sociedade burguesa moderna habita o significante capital/trabalho. Ao ser produzido como efeito do significante (discurso capitalista), ele se exaure, e estar sujeito à invasão de estratégias que geram sua precarização absoluta como sociedade moderna articulada por uma ordem do direito moderna.: sociedade de direito do trabalho ocidental.

A pauperização absoluta do trabalho é uma relação da origem da sociedade industrial moderna. A luta de classe do trabalho, a mias -avalia relativa e a sociedade salarial significam a saída da pauperização. Hoje, há o retorno da pauperização absoluta sob novas formas, todas significando a desarticulação da sociedade de direito do trabalho com consequências graves para o sujeito sociedade capitalista.      

O Ocidente criou estratégias (capitalismo globalizado, por exemplo) para desfazer a potenciada da gramática articulação significante para sua autodestruição:
“El capital es la contradicción en proceso (puesto) que se esfuerza por reducir a um mínimo el tiempo de trabajo como única medida y fuente de la riqueza. Disminuye el tiempo de trabajo en la forma de tiempo de trabajo necessario, para aumentarlo en la forma del superfluo; pone, por tanto, cada vez más el superfluo como condición – question de vie et de mort – del necesario. Por un lado despierta a la vida de todos los poderes de la ciencia y de la naturaliza, así como de la cooperación social y del intercambio social, para hacer que la creación de la riqueza sea (relativamente) independiente del tienpo de trabajo empleado em ella. Por el otro lado, procura medir con el tienpo de trabajo esas gigantescas fuerzas sociales creadas por esta suerte y reducirlas a los límites imprescindibles para que el valor ya creado se conserve como valor. Las fuerzas productivas y las realaciones sociales  - unas y otras, aspectos diversos del desarrollo del individuo social – se le aparecen al capital únicamente como medios, y no son para él más que medios para producir fundándo-se em su mezquina base. In fact, empero, constituyen las condicines materiales para hacerla volar por los aires”. (Marx. 1982: XXXVI-XXXVII).

 O desenvolvimento capitalista gerou a sociedade do trabalho científico, ou mais exatamente, trabalho simbólico como trabalho supérfluo como condição do trabalho necessário para o ato da produção da riqueza. Esta condição se tornou um peso inútil para a reprodução ampliada do capitalismo ocidental e um fato utópico de uma sociedade de classes em direção a uma revolução criativa pós-capitalista. Tal fato está na base da criação da estratégia capitalismo globalizado (globalização que tem como elo mais débil a União Europeia), e também estratégias para o deslocamento da sociedade industrial capitalista - via capitalismo corporativo mundial para a Ásia, em especial, a China e Índia. A técnica cyber só se torna tempo de trabalho supérfluo utilmente preponderante na reprodução da acumulação planetária com o capitalismo corporativo mundial cyber fazendo pendant como o neomercantlismo de Estados asiático.
                                                                                      IV
O capitalismo é a realização do capital/trabalho como processo:
Es de la naturaleza de este proceso el que su comienzo y su fin deban no sólo estar separados el uno del otro, sino hasta en aparente conflicto. Pero el conflito no es otro que aquél que hay etre potencia y acto, entre el mero ‘proyecto’ de un concepto y su completo desarrollo y repercusión”. (Cassirer1971: 19).

O “projeto” de um conceito é o discurso em potência, discurso virtual ou gramática atualizado no processo em discurso completo desenvolvido e sua repercussão. O capitalismo é uma gramática ocidental em potência em conflito com o ato (atualização) do “projeto” de um conceito ou gramática, gramatica atualizada no Oriente asiático. 

A totalidade concreta é potência e ato. Assim, é necessário que o sujeito (sociedade capitalista ocidental) esteja sempre presente na gramática como premissa. Ao substituir a sociedade capitalista ocidental por uma sociedade capitalista asiática no comando da economia mundial, o fim entra em conflito com o começo.
Marx diz:
“El sujeto real mantiene, antes como después, su autonomía  fuera de la mente, por lo menos durante el tiempo en que el cerebro se comporte únicamiente de maneira especulativa, teórica. En consecuencia, también en el método teórico es necesario que el sujeto, la sociedade, esté siempre presente en la representación como premissa”. (Marx> 1982: 22).

O sujeito real não é mais a sociedade capitalista ocidental e sim a sociedade capitalista industrial asiática do capitalismo corporativo mundial cyber. Na mente ocidental, o sujeito real continua sendo uma inexistente sociedade capitalista ocidental. A que se deve tal autoilusão?  

                                                                 V
O idealismo tem como objeto as formas culturais da história universal como linguagem, conhecimento, religião e mito. As formas são estudadas como totalidade concreta do espírito como princípio lógico ou lei do método dialético em Hegel, apogeu do idealismo clássico. (Cassirer1971:24). Com o materialismo da modernidade, a cultura passa a ser um campo ao lado dos campos econômico e político. Marx trabalha neste diapasão.

O princípio lógico do campo cultural da história universal cede seu lugar à gramática da sociedade da modernidade que põe e repõe a unidade das formas econômica, política e cultural. A gramática da sociedade é capitalista; ela tem como princípio lógico da gramática em narrativa capitalista a articulação significante capital/trabalho.  

No século XXI, há as estratégias de substituição da sociedade industrial capitalista pelo capital fictício no comando da economia, cultura e política no Ocidente. As estratégias são: a financeirização da economia, o capitalismo globalizado, a União Europeia, a economia industrial asiática, em especial a chinesa, o sistema neomercantilista de Estados asiáticos, os Estados Unidos como enclave científico do capitalismo corporativo mundial cyber cuja história natural econômica faz pendant com o neomercantilismo asiático. Todos os fatos supracitados constituem os elos da cadeia capitalista mundial.  

Na atualidade, o financista e profeta capitalista Soros diz que a união Europeia é o elo mais fraco da cadeia em questão. Ele fala de uma União Europeia em colapso pois a lógica da União Europeia se dissolve no ar com o Brexit. A chefe do FMI Lagarde fala da desaceleração da economia chinesa, do Brexit, do ajustamento dos juros, da guerra comercial mundial entre EUA e China como fenômenos que seriam a causa múltipla da gramática capitalista em colapso.

A gramática capitalista em colapso é irreversível?
Se EUA e China fazem parar a guerra comercial, a China reverterá a desaceleração econômica? Se a política britânica suspender o Brexit, a União Europeia evita o colapso? Se o capital fictício mundial mudar a política de ajustamento de juros, o capitalismo globalizado deixará de ser um capitalismo em colapso?

Vivemos em uma ´época da lógica da reversibilidade?

CASSIRER, Ernest. Filosofía de las formas simbólicas. México: Fondo de Cultura Económica, 1971
LACAN, Jacques. O Seminário. De um outro ao outro. Livro 16. RJ: Zahar, 2008
LACAN, Jaques. O seminário. Livro 19. RJ: Zahar, 2012
MARX. Elementos fundamentales para la crítica de la economia política. Grundrisse (1857-1858). España: Siglo XXI, 1982
PEIRCE, Charles S.  Semiótica. SP: Perspectiva: 2000



         






 

         





terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

PSICANALISE E MARX


José Paulo

Freud não estabeleceu uma relação entre a psicanálise e Marx. Lacan estabeleceu o campo freudiano tendo como significante lapidar a sociedade em Marx a partir do Seminário 16. A psicanálise em gramática econômica parte do Seminário 16 para articular o problema das formas de capitalismo e o capitalismo em colapso no século XXI. 

A psicanálise em gramática econômica parte da relação entre sociedade e política, entre sociedade como articulação de mais-valia e plus-de-jouir, ou Mehwert e Mehrlust. (Lacan. Seminário 16:29-31) e a política como soberania historial do Há-um fazendo pendant com o ao menos um (Lacan. Seminário 19: 132-133).

Se em Marx a propriedade dos meios de produção faz pendant com o poder alheio que domina o trabalho ou, por conseguinte, a sociedade salarial, a força criadora do trabalho (criadora da riqueza da nação e criadora e recriadora da sociedade) enquanto força do capital se estabelece como poder alheio à sociedade salarial e em relação à toda realidade. (Marx. 1982:XXVII).

A sociedade capitalista industrial tem dois fundamentos:
“Si consideramos el intercambio entre capital y trabajo, tenemos que se descompone en dos procesos contrapuestos, diferentes no sólo desde el punto de vista formal, sino también cualitativamente:
1)      El trabajador intercambia su mercancia – el trabajo, el valor de uso que como mercancía, también tiene un precio, como todas las demás mecancías -, por determinada suma de valores de cambio, determinada suma de dinero, que el capital lo cede.
2)      El capitalista recibe en cambio el trabajo mismo, el trabajo como actividade creadora de valores; es decir, recibe en cambio la fuerza productiva que mantiene y reproduce al capital y que, con ello, se transforma en fuerza productora y reproductora del capital, en una fuerza perteneciente al proprio capital”. (Marx. 1982:215).
A propriedade da sociedade pelo capitalista também faz pendant com a propriedade da realidade pelo poder alheio força criadora do trabalho (que cria e recria a própria realidade capitalista) como força do capital.

Todos são iguais perante à lei da política liberal-democrática. A cada indivíduo um voto. Como espaço da liberdade entre iguais (cidadãos) na escolha da representação política, a soberania popular faz pendant com os sujeitos iguais na economia capitalista:
“Cad sujeto es un intercambiante, esto es, tiene con el otro la misma relación social que éste tiene con él. Considerado como sujeto de intercambio, su relación es pues la de igualdad. Imposible es hallar entre ellos cualquier diferencia o aun contraposición, ni siquiera una disparidad. Por añadidura, las mercancías que esos individuos intercambian son equivalentes – en cuanto valor de cambio -, o al menos pasan por tales . Sólo puede producirse un error subjetivo en la valoración recíproca, y si un individuo trampea en algo a otro  , ello no se debe a naturaliza de la función social en la que ambos se enfrentan, pues ésta es la misma, en ella son los dos iguales, sino sólo a la astucia natural, al arte de la pesuasión, etc.; em suma sólo a la pura superioridad individual de un individuo sobre el outro”. (Marx. 1982: XXIII-XXIV).


A gramática da realidade capitalista estabelece a igualdade como fundamento da economia e da política, na democracia liberal, ou em quaisquer regimes de representação política criado e recriado pela soberania popular. Não se deve jogar a criança fora da bacia com a água suja. Viemos uma gramática capitalista em colapso que pode custar a impossibilidade de manter a política democrática liberal.

A realidade capitalista é relação social de produção e forças produtivas materiais mais fantasia. As formas jurídico-políticas e as relações de propriedade não são as relações de produção tout court, e sim uma expressão destas relações. Aliás, Marx demonstra que na sociedade burguesa o dinheiro não é um mero objeto natural e sim a forma objetivada da relação social básica dentro da qual a produção capitalista tem lugar. O dinheiro é o laço social que une aos produtores e consumidores que de outra forma se encontrariam separados dentro da sociedade capitalista; ele constitui os pontos de partida e de conclusão do processo de acumulação. A relação social sobre a qual descansam todas as relações legais e políticas capitalistas – e da qual as últimas são expressões – é a relação de cambio. O imperativo social é que nem a produção nem o consumo podem produzir-se sem a intervenção do valor de troca. Ou em outras palavras, o capitalista deve extrair mais-valia e também realizar mais-valia mediante a conversão do produto excedente em dinheiro, e que o individuo deve ter necessidade [e desejo = fantasia sobre a coisa-mercadoria] de bens de consumo e também deve possuir dinheiro necessário para adquiri-las. (Marx. 1982: XXIX).
Em resumo, para o homem comum viver na realidade capitalista, é preciso ganhar e pagar.

O ponto de partida é a produção como apropriação da natureza. Apropriação significa que o homem – como sujeito natural – tem a propriedade de um objeto: a natureza. A apropriação que não se apropria é uma contradição in subjecto. Assim, a história universal é a história das formas de propriedade, também. A produção determina a superestrutura do Estado ao direito e formas ideológicas:
‘a los economistas burgueses les parece que con la policía moderna la producción funciona mejor que, p. ej., aplicando el derecho del más fuerte. Olvidan solamente que el derecho del más fuerte es también un derecho, y que este derecho del más fuerte se perpetúa bajo otra forma en su ‘estado de derecho’”. (Marx. 1982: 8).

O “estado de direito” sofreu uma inversão servindo ao direito do indivíduo contra os poderes absolutistas da atualidade. No entanto, na sociedade periférica do  capitalismo neocolonial satélite do capitalismo corporativo cyber, o estado de direito como realidade virtual da Constituição não se atualiza como vida prática constitucional.  

             

                                                                               ii


A realidade como sociedade aparece claramente em Lacan:
“Chamo de realidade o que é a realidade, ou seja, por exemplo, a existência própria de vocês, sua forma de sustento, que certamente é material, e, antes de mais nada, porque ela é corpórea”. (Lacan. S. 19: 135).

A realidade é a realidade material da sociedade capitalista francesa de 1972. A realidade é aquela da existência individual ou de um conjunto (“existência de vocês”) como existência corpórea. Lacan acrescenta a fantasia à sociedade na definição da realidade. A realidade é material e fantasia:
“É exatamente nessa perspectiva que podemos tomar o que chamamos de realidade, a realidade natural, no nível de um certo discurso. E não recuo na pretensão de que o discurso analítico seja esse. A realidade, sempre podemos toma-la no nível da fantasia”. (Lacan. S. 19: 135-136).

A fantasia estrutura a categoria de consumo capitalista ao lado da necessidade na história econômica.  Aliás, a história econômica já se articula como realidade material e fantasia para além da história natural da espécie humana.

A diferença entre história natural e história econômica se baseia no impulso ao objeto e percepção do objeto no gozo estético da arte na relação consumo e produção:
“Cuando el consumo emege de su primera inmediatez y de su tosquedad natural – y el hecho de retrasarse en esta fase sería el resultado de uma producción que no há superado la tosquedad natural – es mediado como impulso por el objeto. La necesidad de este último  sentida por el consumo es creada por la percepción del objeto. El objeto de arte – de igual modo que cualquier otro produto – crea un público sensible al arte, capaz de goce estético. De modo que la producción no solamente produce un objeto para el sujeto, sino también un sujeto para el objeto. La producción produce, pues, el consumo, 1) creando el material de éste; 2) determinando el modo de consumo; 3) provocando en el consumidor la necesidad de produtos que ella há creado originariamente como objetos. En consecuencia, el objeto del consumo, el modo de consumo y el impulso al consumo”. (Marx. 1982: 12-13).

 A produção cria a pulsão ao consumo e, portanto, ao objeto da arte; ela cria um público sensível capaz de gozo estético; o objeto da arte como paradigma do objeto de consumo diz que a produção cria o gozo estético; o gozo estético envolve a fantasia.    
A história econômica mundial parece caminhar para o capitalismo globalizado em colapso como fantasia (utopia capitalista realmente existente) e realidade material. Chefe do FMI, Christine Lagarde fala das “4 nuvens” que pairam sobre a economia global: guerra comercial estabelecida por Donald Trump contra China, especialmente; ajustes de juros que empobrecem mais ainda lares, famílias, nações e governos e criam problemas para a reprodução ampliada do capitalismo; incertezas relacionadas ao Brexit; desaceleração da economia chinesa.
A desaceleração da economia chinesa é o elo mais fraco do neomercantilismo dos Estados industriais asiáticos.   
                                                                                       III
Há uma alteração na história econômica que ilumina o século XXI. Trata-se da substituição da propriedade do objeto-mercadoria pela posse do objeto. Chama-se economia da recorrência. Antes o consumidor pagava para ser proprietário de um produto. Agora, o consumidor paga para ter acesso. Joremy Rifkin fala da economia da posse em seu livro ‘A era do acesso: a nova cultura do hipercapitalismo”. As corporações capitalistas passaram a cobrar “aluguéis” – cobram taxas para o acesso a um bem, serviço ou experiência. O consumidor adquire o direito de uso pela posse do objeto.

Estamos diante de uma alteração na história da economia que significa a substituição da economia política moderna pelo tribalismo econômico hipercapitalista:
En cambio, sería justo decir que existen familias, tribus, que se limitan a poseer, pero que no tiene propriedade. Frente a la propriedad, la relación de simples comunidades de familias o de tribus aparece como la categoria más simples. En la sociedad de un nivel más elevado la propriedad aparece como la relación más simple dentro de una organización desarrollada. Pero el substrato más concreto, cuyo vínculo es la posesión, está siempre supuesto”. (Marx. 1982: 23). 

Posse e propriedade encontram-se no cerne da história do capitalismo, pois, o processo particular de apropriação do trabalho pelo capital significa que o capital é proprietário do trabalho: 
“La diferencia del segundo acto respecto del primero – o sea que el proceso particular de apropriación del trabajo por parte del capital es el segundo acto -  es exactly la diferencia que va del intercambio entre capital y trabajo al intercambio en el cual el dinero oficia de intermediario entre mercancías”. (Marx. 1982: 216).

O capital é, enfim, o proprietário maior da realidade capitalista. Contra o capital se ergue o partido revolucionário marxista como proprietário da realidade como realidade socialista realmente existente. Falo do partido bolchevique no extremo-Ocidente e do partido maoísta no Oriente asiático. Eis o nosso passado que se autodissolveu.  
                                                                       IV
A época do partido político proprietário da realidade foi suplantada pela época dos mass media  e cybertribos proprietários da realidade. Ambos se articulam na política do há um. Eles são o ersatz do partido político na era da política democrática liberal em colapso e também do presidencialismo em colapso.
A lógica do colapso não significa o império do caos como dissolução do país. Ela aponta para novas formas do há um em uma era do capitalismo globalizado em colapso. Falo de formas do há um adequadas ao capitalismo neocolonial satélite (entre nós) do capitalismo corporativo mundial cyber - como ao menos um.

Ao menos um significa a criação do numero extravagante, do número irracional que sai do campo do Um. (Lacan. S. 19: 137).

Esse um número extravagante está sendo criado a partir do campo (presidencialismo em colapso) do Um no Brasil. A atividade que legitima o número extravagante é aquela do proprietário da realidade irracional: mass media e cybertribo.

Quando surge o ao menos um chefe de um rebanho (Lacan. 2012:140), ou significante extravagante, tal fato se articula ao surgimento do Há um ou significante-mestre de uma nova época. (Lacan.  2012: 146) com seu matema. Este é o saber que por ser apenas produzido está ligado às normas do mais-de-gozar e mais-valia do mensurável das formas econômicas de capitalismo do século XXI: capitalismo neocolonial satélite -  satélite do capitalismo corporativo mundial industrial cyber.        

LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 16. De um Outro ao outro. RJ: Zahar, 2008
LACAN. Jacques. O Seminário. Livro 19. ...ou pior. RJ: Zahar, 2012
MARX. Elementos fundamentales para aa crítica de la economía política. Borrador (1857-1858). Vol. 1. España: Siglo XXI Editores, 1982         

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

MANIFESTO POR UM MOVIMENTO DE MASSAS CONTRA A GLOBO NEWS


José Paulo

A história criminosa do Grupo Globo começa com o envolvimento de proa de Roberto Marinhos nos golpes de estado contra Getúlio Vargas. O jornal o Globo foi decisivo para o movimento de disposição de Getúlio na democracia 1946. Getúlio escolheu o suicídio para derrotar, naquela conjuntura 1954, as forças militares (ESG) e civis capitaneadas pelo jornalista Roberto Marinhos e Carlos Lacerda.

Na conjuntura 1964, Roberto Marinho fez parte da reunião de forças antidemocráticas IPES/IBAD ao lado da CIA (O Grupo Globo sempre teve ligação visceral com a CIA), ESG, Igreja católica, OAB, ABI etc. Em 1968, Roberto Marinhos se aliou ao militarismo neofascista e instalou um Estado militar neofascista, entre nós. Sem sombra de dúvida, Roberto Marinho é um dos grandes criminosos da nossa história.  

Nos anos 2000, o jornal o Globo fez um editorial com uma autocrítica rechaçando a vida criminosa de Roberto Marinhos. Em 2018, a Globo News fez uma campanha aberta para eleger Bolsonaro presidente. O telejornalismo em questão sabia que Bolsonaro representava a extrema direita. Em 2019, a Globo News continua cerrando fileiras com a extrema direita no poder político. Assim, a Globo News se transformou em emissora praticando um jornalismo de extrema direita.

O programa econômico da extrema direita consiste em destruir tudo que lembrar a modernidade brasileira como a universidade estatal. Há uma lógica de ferro movendo o poder da extrema direita. É a lógica da gramática do tribalismo africano do terceiro mundo na América Latina.

Hoje, o pequeno jornalista Bournier começou uma campanha contra a universidade brasileira instigando o ministério público a invadir o campus de uma universidade por causa de um trote sexista verbal. Seu escudeiro menor Octavio Guedes (cuja origem são os jornais da Baixada Fluminense de um território sem ordem judicial, domínio sem lei) incitava o ministério público do interior de São Paulo a usar criminosamente o direito brasileiro em um ataque aberto contra a universidade.

O “Em Ponto” (telejornal da manhã de Bournier) começa uma campanha contra a imagem da universidade conquistando as almas da audiência para um ataque frontal contra o sistema de universidade estatal.  Trata-se de uma estratégia usada em outros momentos como por exemplo no incêndio do Museu Nacional da UFRJ. A Globo News fez uma campanha para a Polícia Federal prender o reitor da UFRJ. Hoje, o ministro da educação fala em levantar a ficha ideológica dos reitores das universidades públicas federais.

A destruição da universidade estatal parece ser parte do programa econômico da Globo News. Esta é o elo mais fraco de um pensamento do tribalismo econômico que quer tornar irreversível a possibilidade do Brasil evitar a gramática africana do terceiro mundo.

A universidade estatal precisa começar um movimento de massas e intelectual (inclusive na internet) contra a Globo News. Este movimento terá a adesão de muitos setores da sociedade, pois, a vida criminosa do telejornalismo Globo News provoca aversão e repugnância em uma parte importante da vida nacional.  

A Globo News é o elo mais fraco do discurso político do tribalismo africano do terceiro mundo, romper este elo é uma tática que pode conter a destruição da universidade pública federal.  


domingo, 3 de fevereiro de 2019

CAPITALISMO GLOBALIZADO CYBER EM COLAPSO


José Paulo



Quando li na década de 1990 o livro “A transfiguração do político. A tribalização do mundo”, não vi esta teoria pós-modernista como sendo a teoria fazendo pendant com qualquer história econômica mundial. Hoje, vejo o livro de Maffesoli como uma profecia racional de uma realidade econômica que surge como parte do capitalismo mundial em colapso.

 O caminho a seguir começa com a semelhança entre significantes do mundo colonial do Novo Mundo e neocolonial da contemporaneidade. Por motivo econômico, a emigração é um significante do Novo Mundo. A emigração atual ocorre por causa da guerra e do terrorismo e motivo econômico, pois pessoas buscam asilo econômico em países que não se encontram no meio da tempestade do capitalismo mundial em colapso.
                                                                  II
O raptor é um significante do Mundo Colonial. O raptor era apelidado “espírito”, aquele que que pega homens, mulheres e crianças e os vende num navio para serem transportados além-mar para trabalhar na economia da escravidão. Tal atividade ocorria em Londres e Bristol. O sequestro de crianças, mulheres e jovens hoje alimenta a economia da escravidão entre a periferia e os países desenvolvidos. Fato sobejamente explorado pela sociedade de comunicação de massa. O raptor de hoje conta com uma rede de espionagem criminal exuberante nas cidades e quase a céu aberto na tela gramatical da polis. O raptor é uma figura da atmosfera da economia da escravidão capitalista do século XXI.   O raptor atual neocolonial só é possível como agente do capitalismo mundial em colapso.

                                                                          III

O colonialismo moderno está indissoluvelmente associado ao significante racismo. Um livro da década de 1940 diz: “a escravidão não nasceu do racismo: ao contrário, o racismo nasceu da escravidão”. (Williams: 18). O racismo é um efeito da história  econômica da escravidão moderna.  

Marc Ferro fala do racismo como efeito da expansão colonial europeia:
“a expansão colonial tornou-se a solução para todos os problemas: pobreza, luta de classes, superpopulação. Argumentava-se que ela representava o interesse comum, que estava acima dos partidos. Aliás, nas coloniais o funcionário público ou o colono proclamavam-se, acima de tudo, franceses – ou ingleses -, e nem de esquerda nem de direita; era realmente a raça que os definia, e não sua atividade ou sua função social. Era ela que definia a elite, justificava a opressão.
Por certo, as teorias raciais já existiam antes da colonização, antes do imperialismo, mas tinham pouca repercussão. O imperialismo deu-lhes substância e vida, propagou-as. (Ferro: 42).

Me remeto ao  brasileiro Octavio Ianni para falar do racismo como significante da segunda metade do século XX.

Sobre a racialização das relações sociais como tribalização do mundo, Ianni faz uma citação
“Hoje, por todos os lados, a etnicidade é a causa da desagregação de nações. A União soviética, Iugoslávia, Índia, África do Sul estão todas em crise. As tensões étnicas perturbam e dividem Sri Lanka, Burma, Etiópia, Indonésia, Iraque, Líbano, Israel, Chipre, Somália, Nigéria, Libéria, Angola, Sudão, Zaire, Guiana, Trindade, e outras nações. Mesmo nações como a Inglaterra e a França, a Bélgica, Espanha, e Tchecoslováquia enfrentam perturbações étnicas e raciais. O tribalismo..., adormecido por anos, reacende para destruir nações”. (Ianni: 192).

Ianni fala da retomada dos problemas raciais devido á universalização do capitalismo globalizado cyber, ou então,  por causa da de manifestações de movimentos e configurações da sociedade global em formação.  (Ianni: 193). A tribalização do mundo faz pendant com o capitalismo globalizado cyber. Aí se encena a racialização da política.

O racismo pode ser o efeito de uma superpopulação absoluta produzida pela expansão do capitalismo globalizado cyber:
‘superpopulação absoluta; isto é, uma superpopulação composta de um contingente relativo, que se forma e dissolve, e um contingente que não encontra possibilidades de emprego, nunca voltam. Conforme ocorre no capitalismo globalizado, quando a microeletrônica, a automação, a robótica, a informática e as redes aceleram e multiplicam a capacidade produtiva da força de trabalho, nessa época um contingente pode tornar-se permanentemente residual ou excedente. Nessa época agrava-se a questão social. Mesclam-se e dinamizam-se as tensões sociais, umas vezes manifestando-se no âmbito do desemprego estrutural, outras aparecendo em fundamentalismos, xenofobias, etnicismos ou racismos”. (Ianni:199-200).

O capitalismo globalizado cyber  faz um nova leitura da racialização, pois, a ideia de raça superior branca ocidental será colocada em cheque no século XXI com o deslizamento da cadeia de significantes capitalismo corporativo mundial cyber para a Ásia fazendo pendant com um sistema neomercantilista  de Estados asiáticos cyber.

No campo imaginário ocidental, a raça deixa de ser um significante com acesso ao real geográfico. Assim, o mundo não aparece mais como uma história natural de uma distribuição do poder mundial a partir das raças branca, amarela, negra. Ianni ajuda a entender tal fenômeno:
“Neste ponto cabe um esclarecimento indispensável. Ainda que em forma breve. ‘Etnia’ é o conceito científico habitualmente utilizado para distinguir os indivíduos ou as coletividades por suas características fenotípicas; ao passo que ‘raça’ é o conceito científico elaborado pela reflexão sobre a dinâmica das relações sociais, quando se manifestam estereótipos, intolerâncias, discriminações, segregações ou ideologias raciais. A ‘raça’ é construída socialmente no jogo das relações sociais. São indivíduos, grupos ou coletividades que se definem reciprocamente como pertencentes à ‘raça’ distintas”. (Ianni: 205-206).
                                                                             IV
No Ocidente, o novo equilíbrio de poder econômico mundial provoca um efeito político regressivo. Um neofascismo ganha terreno político na Europa, EUA e América Latina. Trata-se de um fenômeno grotesco e derrisório, risivelmente charlatanesco, pois, o movimento neofascista é despossuído do significante raça ariana superior no comando da economia, política e cultura.

No entanto, o capitalismo globalizado cyber  gera um efeito sobre a sociedade de classes sociais que a sociologia designa como subclasse. Esta é a base de novas formas de radicalização social fazendo pendant com o neofascismo na política representativa:
“É principalmente nas grandes cidades, metrópoles, megalópoles, e, frequentemente, nas cidades globais, que se localiza a subclasse: uma categoria de indivíduos, famílias, membros das mais diversas etnias e migrantes, que se encontram na condição de desempregados mais ou menos permanentes. São grupos e coletividades, bairros, e vizinhanças, nos quais reúnem-se e sintetizam-se todos os principais aspectos da questão social como questão urbana: carência de habitação, recursos de saúde, educação, ausência ou precariedade de recursos sociais, econômicos e culturais para fazer face a essas carências;  desemprego permanente de uns e outros, muitas vezes combinado com qualificações profissionais inadequadas à novas formas de organização técnica do processo de trabalho e produção; crise de estruturas familiares; tensões sociais permanentes, sujeitas a explodirem em crises domésticas, conflitos de vizinhança, riots”. (Ianni: 75-76).  

Fazendo parte da subclasse, aposentados, pensionistas acabam formando uma força social gramatical que se faz notar tanto no movimento de rua como na política. Trata-se de um fenômeno demográfico na divisão do trabalho internacional, pois, são corpos vivos (plenos de necessidades e desejos) que deixaram de ser produtivos como força de trabalho do capitalismo globalizado cyber.

A subclasse na periferia do capitalismo globalizado aparece como a força social dos de baixo fazendo laço social com a expansão irrevogável do crime organizado:
“Estas são algumas das características da subclasse; minorias raciais, desempregados por longo tempo, falta de especialização e treinamento profissionais, longa dependência do assistencialismo, lares chefiados por mulheres, falta de uma ética do trabalho, droga, alcoolismo. (Ianni: 76).

A subclasse, os aposentados e a tribalização do mundo acabam aparecendo como sintomas exuberantes do capitalismo globalizado em colapso. A tribalização do mundo põe e repõe em cena uma nova espécie de racionalização regressiva extemporânea no capitalismo globalizado cyber. Talvez, o primeiro sintoma do capitalismo em colapso seja, paradoxalmente, o apocalipse historial do socialismo realmente existente. O apocalipse põe e repõe em cheque a utilidade da gramática econômica do Estado moderno (fazendo parelha com a nação moderna como força secular da Ilustração) como força motora de uma sociedade burguesa socialista realmente existente como alternativa ao capitalismo mundial ocidental em colapso. A vontade de potência niilista historial universal aprende o caminho e o método para a dissolução das gramáticas econômicas da modernidade:   
“Logo que desabou o bloco soviético, quando se movimentam mais abertamente os vários setores da sociedade civil em cada nação e debilita-se como núcleo e síntese da sociedade, nessa ocasião eclodem os nacionalismos, localismos, provincianismos, fundamentalismos, etnicismos, e racismos. O mesmo processo de desagregação política e econômica é também de desagregação social e cultural. Em pouco tempo, desintegram-se nações e nacionalidades no Leste Europeu e na Rússia. Multiplicam-se as novas repúblicas eslavas ou islâmicas, orientais ou europeizantes. É o que acontece com a Iugoslávia, a Tchecoslováquia e a Rússia, sendo que em alguns casos as novas repúblicas também são atravessadas por movimentos de desintegração mais ou menos radicais, quando se afirmam identidades e diversidades, muitas vezes com base em vivencias e ilusões pretéritas. Está em curso nova onda de racialização no mundo”. (ianni; 209).  

          
                                                                       V

                                                                    
A teoria do tribalismo da política mundial de Maffesoli é aquela da história econômica do capitalismo neocolonial internacional satélite (CNIS) do capitalismo corporativo mundial cyber (CCMc)? Ela parece ser a teoria da implosão da gramática moderna racional no domínio da política da nação e sociedade com ideologias sem ligação com a história econômica do capitalismo. A tribalização da política não funciona como superestrutura do capitalismo. É o método da sociologia pós-modernista.
“Excesso de luz escurece. Esse aforismo pascalino pode servir-nos, ao contrário, para aceitar o claro-escuro induzido pela ambiência emocional e as contradições que lhe são inerentes. Esse clima emocional é particularmente perceptível na implosão, em cadeia, que atinge o Estado-nação e os grandes impérios ideológicos. Uns e outros estão cedendo lugar a confederações que, de maneira mais leve, cimentam comunidades, de proporções diversa, repousando mais sobre um sentimento de vinculação que sobre a moderna noção de contrato social, ao qual se atrela uma conotação racional e voluntária”. (Maffesoli: 18).

A tribalização do mundo remete para a lógica familial, uma lógica arcaica pré-moderna que em Weber se vê na dominação tradicional. No entanto, esta é ainda baseada em uma racionalidade tradicional. Como sintoma do capitalismo mundial em colapso, a lógica familial política substitui a razão instrumental ´pelo estado sentimental ou Estado sentimental:
“Numerosos são os indícios que, nacional ou internacionalmente, exprimem esse sentimento de vinculação comunitária ou tribal. Regiões, cidades, departamentos, levantam-se contra o centralismo jacobino, em torno de um herói epônimo: prefeito, notável local, estrela esportiva ou personalidade de renome afirmam um imaginário que os constitui como tal. O mesmo vale nos quatros cantos do mundo, a partir de uma reivindicação étnica, de uma especificidade cultural ou de um fanatismo religioso.  Em cada um desses casos, afirma-se o que Wittgenstein chamava de <semelhança de famílias>. Desde então, não é mais possível pensar nessas pequenas sociedades fragmentadas com os conceitos de instituição, de estrutura e de relação entre eles, conceitos elaborados em três séculos de modernidade homogeneizadora. Talvez seja necessário pensar fora da História, pois, o que tende a predominar é da ordem das pequenas histórias locais, dos acontecimentos, do que acontece, de maneira mais ou menos efervescente, em estado puro”. (Maffesoli: 19).

O livro de Maffesoli é de 1992. Nosso autor parisiense não contava com o contexto pré-diluviano, no qual se insere o início da década de 1990, estabelecido pela narrativa universal do capitalismo globalizado cyber. No entanto, ele viu a tribalização do mundo da política mundial como superestrutura do capitalismo neocolonial internacional satélite (CNIS) do CCMc.

A superestrutura política do CNIS é exposta de um modo brilhante por Maffesoli:
É a partir disso que tento analisar a emergência de uma cultura do sentimento (capítulo 3) na qual predomina o ambiente, a vivacidade das emoções comuns e a necessária abundância de supérfluo que parece estruturar a sociedade pós-moderna. Essa cultura permite compreender a transfiguração do político em esboço sob os nossos olhos. De fato, quem diz sentimento partilhado, diz pluralização, pois se declina ao infinito a atração ou a repulsão que me liga, ou separa, ao outro, do outro. Isso, o político, por natureza normativo, tendendo sempre para o estado (Estado) de direito, não pode compreender, a fortiori admiti-lo. Não é mais decretando o que devem ser a sociedade e o indivíduo que se consegue entendê-los ou conhecer, em realidade, suas transformações. De onde o despertar brutal de alguns fenômenos, suscitados pela afirmação da identidade étnica, pela semelhança de família, aos quais está atrelada a classe política em seu conjunto”. (Maffesoli: 21-22).  

A sociedade pós-moderna virou fumos machadianos (delírio social em Machado de Assis) com o capitalismo globalizado cyber em colapso. Agora trata-se de investigar a gramática dos capitalismos (CCMc e CNIS) no comando da economia, política e cultura em colapso como tribalização do mundo.


FERRO, Marc. História das colonizações. SP: Companhia das Letras. 1996
IANNI, Octavio. A era do globalismo. RJ: Civilização Brasileira, 1996
MAFFESOLI, Michel. A transfiguração do político. A tribalização do mundo. Porto Alegre: Sulina, 1997
WILLIAMS, Eric. Capitalismo e escravidão. RJ: americana, 1975