José Paulo
O fascismo e o nazismo surgem
na Itália e na Alemanha. Qual é a
realidade política destes países?
A política é feita por partidos
políticos burgueses, pequenos burgueses e operários. Os partidos procuram se
adaptar ao modelo político do partido socialdemocrata alemão da época de Marx e
Engels. Trata-se de um partido de massas.
A década de 1920 é aquela do
apogeu da política organizada e sob comando dos partidos políticos. A revolução
social faz o contraponto à política burguesa. Vemos uma dialética simplificada
pela luta de classes que leva a Internacional Comunista da URSS e os partidos
comunistas a falarem de socialfascismo. A simplificação resulta na
identificação da política fascista com a política democrática representativa; a
“esquerda” crê que a política fascista é um suplemento da política democrática
- um ersatz da política democrática burguesa da socialdemocracia, por exemplo.
Na atualidade, a luta de classes
encontra-se expulsa para o mundo invisível da tela gramatical da política. No
Brasil, há a luta de classe da grande burguesia contra a sociedade salarial
cujo maior signo é a Reforma Trabalhista do programa “Uma ponte para o futuro”,
de Moreira Franco e Michel Temer. O neofascismo é a ofensiva do grande capital
sobre a retirada dos direitos trabalhistas da sociedade salarial sem resistência das
massas salariais.
A sociedade salarial vota no neofascismo
guiada pelo olfato; o neofascismo se apresenta como projeto de moralidade
política para restaurar a moralidade política destruída pela era Lula; ele diz
que criará uma moralidade política prazerosa para as massas sofridas da era Lula;
a falta de moralidade política democrática gera um cheiro nauseabundo na atmosfera
da tela gramatical da política, provocando o sofrimento da maioria da soberania
popular; o neofascismo soube pelo WhatsApp
amplificar o cheiro nauseabundo da falta de moralidade política impregnada no
corpo político de Lula; a vitória de Bolsonaro se deve a falta de moralidade
política democrática na atmosfera da tela gramatical do regime 1988.
Na década de 1920, a crise de
representação partidária é um fenômeno no qual os partidos deixam de
representar os representados; os partidos se separam das classes sociais que
representam em situação normal. Na atualidade, os partidos vivem em um estado
autotélico no qual pouco se importam com a soberania popular; ele continuam
representando os interesses do capitalismo neocolonial em uma conjuntura de
crise mundial do capitalismo do globalismo neoliberal; os partidos da gramática
do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo se abrem para ideologias radicais
como a ciberideologia messiânica (de Messias Bolsonaro) do terceiro-mundo.
A tomada do poder por Bolsonaro
se realiza pelo uso maciço da ciberideologia neofascista no WhatsApp. Este é o
grau zero das gramáticas da sociedade de comunicação, como percebeu Bruno Cavas.
A cibersgrammaticatura é a solução neofascista para ganhar eleição e fabricar
uma ideologia neofascista. Um Estado neofascista brasileiro surgirá do
funcionamento ideológico, em estado permanente de sgrammaticatura (falta de
gramática), do WhatsApp?
II
O fascismo é um efeito da luta de classes (revolução operária, ameaça
de revolução social com governo operário) e da sociedade de classes capitalista
europeia. O bloco-no-poder fascista tem como classe hegemônica o grande
capital. Tal bloco se constitui como ofensiva do grande capital na exploração
da classe operária através da luta de classe daquela classe contra a classe
operária e seus partidos políticos.
O nazismo triunfou em uma crise
capitalista mundial que nos EUA conduziu a política do New Deal de Roosevelt:
“En Alemania, el nacionalsocialismo
triunfó por ‘via democrática’, apoyado por las clases medias que luchaban
contra su proletarización forzada por la crises y que se dejaban fácilmente
arrastrar por la demagogia revanchista del partido nazi. Por outra parte, la
contrarrevolución alemana colmaba los interesses de la alta burguesia y de la
aristocracia militarista. La posibilidad de crear un império en la misma Europa
hacía soñar al capital alemán con un inmenso mercado a dominar y a someter. El
campesinado y la clase media urbana se convirtieron en los principales soportes
populares del nazismo. La crisis lanzó a
esas clases sociales a los brazos de Hitler”. (Fioravanti: 113-114).
Para construir o fascismo alemão,
Hitler se integrou a um minúsculo partido
que teve seu nome alterado em 1° de abril de 1920, para Partido
Nacional-Socialista dos trabalhadores Alemães. A relação com a classe operária explica
o aspecto obreirista da ideologia fascista (“anticapitalista”), que entra
em declínio com o avanço do aspecto
propriamente “pequeno-burguês”, sob a forma da ideologia corporativista. A
história do fascismo inclui a transformação do partido nazi em um partido de
massas. A política fascista é a criação de uma lado do polígono mistilíneo da
tela gramatical da política alemã em choque com o lado comunista do polígono.
A política alemã não se movia
pelo imaginário político retilíneo esquerda versus direita. Tal imaginário já é
uma simplificação topológica da política constituída no espaço simbólico da
tela gramatical da política do polígono mistilíneo.
No Brasil, o jornalismo do Estado
vídeocrático (Debray: 139) fala da
política explorando o imaginário político esquerda versus direita. Assim, o
aparecimento do messianismo neofascista (de Messias Bolsonaro) significou um
tremendo embaraço para os jornalistas e cientista políticos do tele-Estado.
Bolsonaro se encontrava na extrema-direita
e o jornalismo achou melhor ocultar tal fato. Uma facção jornalista messiânica se formou
facilmente para fazer a campanha de Bolsonaro no tele-Estado.
O uso que o lulismo faz da
palavra fascismo é mistificador, pois, significa o inimigo do petismo. Como o
jornalismo é antilulista, parece natural que ele tente banir a palavra da cultura política
nacional. No entanto, a psicanálise em gramática marxista fez do neofascismo um
significante que surge como ciberEstado.
A facilidade da gramaticalização
do significante em tela na cultura mundial mostra que a psicanálise supracitada
encontra-se no caminho certo. A vitória iminente de Bolsonaro exigirá que o
neofascismo tropicalista seja metabolizado pelo espaço público procedural. Dificilmente,
a família Bolsonaro terá sua vontade de desenvolver a ideologia neofascista mal
recebida entre as massas sujeito grau
zero democrático.
Já há demonstrações no aparelho
repressivo de Estado de simpatias à ideologia neofascista. No apagar das luzes, Temer assinou o Decreto
9.527/2018, publicado no Diário Oficial da União, criando a chamada
Força-Tarefa de inteligência. Rigorosamente, trata-se da centralização da
Okhrana (das polícias secretas nacional e local) com pretexto estratégico de
combater o crime organizado dos de baixo nas grandes cidades.
Temer e Moreira Franco resolveram
ajudar Bolsonaro na montagem de um Estado que já não é mais o Estado
constitucional democrático 1988. O Estado da polícia secreta (Okhrana neofascista)
servirá ao governo Bolsonaro. Seu chefe será um general com ideologia neofascista
declarada. É o primeiro-passo para a criação do Estado neofascista
tropicalista.
Comandante das forças de ocupação
no Haiti na era Lula, o general Heleno mostrou que não se preocupava com direitos
individuais, direitos humanos e legalidade da ação policial-militar nas favelas
do Haiti. Temer diz que a criação de sua Okhrana é para combater as
organizações lumpencriminosas. Fazendo pendant com o general Heleno na chefia
do Ministério da Defesa, o Estado bolsonarista não entrará em conflito aberto
com os Artigo 5° do Estado democrático virtual contido na Constituição 1988?
O Decreto 9.527/2018 da Força
Tarefa de inteligência é o primeiro passo para a retomada de uma legislação antiterrorismo
de 2016, do governo Dilma Rousseff, que
pretende: a) criminalizar como terrorista as lutas na rua contra o Estado
neofascista; b) criminalizar também as manifestações de críticas da política do
novo Estado na cibercultura.
O regime de liberdade de
expressão policiada do Facebook será substituído pela repressão ao “marxismo
cultural”, como já afirmaram deputados do PSL de Jair Bolsonaro. O combate ao
marxismo cultural não poupará jornalistas e até comediantes da televisão. O
marxismo cultural é a senha negra para processar nos tribunais neofascistas
como terroristas os cibernautas que mantém
blogs literários e científicos de linhagem crítica ilustrada. O PSL quer
aprovar leis que incluam a prisão perpétua para os crimes de terrorismo.
A legislação antiterrorista do
bloco de poder na Câmara sob a hegemonia neofascista do PSL vê com naturalidade
a ideia de construir campo de concentração para esquerdistas. A política de
destruição do Estado getulista 1988 será a causa de um movimento reativo de massas que terá como centro as
lutas estudantis contra a desarticulação do sistema universitário estatal.
Tido como luta econômica do reformismo
burguês contra o passado getulista e contra o Estado lulista multiculturalista,
o neofascismo aponta para a inevitabilidade da exclusão da sociedade universitária
científica da vida brasileira. O ataque devastador à classe média simbólica
pública é uma crônica da morte anunciada.
Há uma razão para ao destruição
da classe média simbólica. Ela pode atuar como classe distinta ou fração autônoma (Poulantzas: 72) de um Estado-cientista (Châtelet: 610) que comandaria a evolução do país para um capitalismo tendo no comando um novo
modelo industrial. Assim, o Brasil deixaria de ser um país subemergente para se
tornar um país emergente no bloco do capitalismo asiático com a China e a Índia.
Portanto, trata-se de um conflito
agônico entre duas vias capitalista, levando a melhor, na situação atual, o capitalismo
neocolonial do terceiro-mundo.
A luta econômica reformista (ultraliberal
neocolonial do terceiro-mundo) dos mass
media é a ressignificação do capitalismo brasileiro na via do capitalismo
neocolonial do terceiro-mundo. Este não precisa de uma geoeconomia da grande
sociedade industrial em um país
continental com mais de 200 milhões de habitantes. O Estado neofascista se
caracteriza por tratar as massas desempregadas como massas disponíveis para o
crime organizado dos de baixo. Esta linha de política econômica espera uma
solução mágica para a retomada do modelo industrial baseado no velho sistema do
capitalismo dependente e associado.
III
Como pensar a diferença entre
fascismo e neofascismo, sem debulhar suas similitudes, jogando-as na lata de
lixo ?
O fascismo surge na transição do
capitalismo liberal para o capitalismo
monopolista de Estado nacional nos elos mais fracos políticos da cadeia
democrática ocidental O neofascismo surge na transição do capitalismo neoliberal
do globalismo para o capitalismo neocolonial; emerge no elo mais fraco da
cadeia capitalista neocolonial, isto é, na formação gramatical do capitalismo
neocolonial do terceiro-mundo; ele é o peixe que solta para fora do oceano no elo mais fraco da cadeia da
democracia ocidental como civilização da modernidade.
O neofascismo significa uma
ofensiva do grande capital (e do Mercado Financeiro) na política brasileira.
Uma ofensiva iniciada no governo Dilma Rousseff com sua guinada para o neoliberalismo. A queda de
Rousseff e a tomada do poder nacional pelo “traidor” Temer, (pois, vice de
Rousseff) se fez sob a direção do político e sociólogo carioca, da família de
Getúlio Vargas, Moreira Franco.
Moreira Franco é o ideólogo do
ultraliberalismo neocolonial do terceiro-mundo com seu projeto “A Ponte para o
Futuro”. Tal projeto realizado, em parte, no governo Temer é o cimento de um
bloco-no-poder capitalista neocolonial do
terceiro-mundo. Vindo da ideologia corporativa da fração militar da
burguesia de Estado, Bolsonaro se apresentou como um ultraliberal a Moreira.
Assim foi estabelecido laços políticos entre o neofascismo e o moreirismo
através da ideologia ultraliberal neocolonial, hoje, representada, sem contradições, pelo vice de Messias, o
general Mourão, amigo de caserna do general Heleno.
Ao contrário do fascismo, o
neofascismo é, por enquanto, um xifópago intervencionista (plasmado pela
ideologia corporativa pelo alto) e ultraliberal. A contradição terá que ser
resolvida caso Bolsonaro queira desenvolver uma ideologia neofascista que não
seja híbrida. Os generais aposentados do messianismo no poder não terão que
abrir mão da ideologia corporativista,
pois, a Reforma da Previdência do governo Bolsonaro fará dos militares uma
casta com direitos especiais em relação aos servidores públicos e ao restante
da população assalariada. Resta saber se o juiz, o policial federal e quejandos
também serão transformados em uma casta do aparelho repressivo de Estado. Trata-se da ideologia corporativa
neofascista tropical. Quanto ao intervencionismo, Bolsonaro poderá privatizar a
maioria das empresas estatais inúteis para a evolução do capitalismo
neocolonial do terceiro-mundo.
Parece que o governo Temer
resolveu fazer a transição para o governo Bolsonaro apostando na construção do
Estado neofascista tropical. Assim, Moreira Franco poderá fazer parte do
governo Bolsonaro e Temer se livrar do encarceramento que o espera no fim de seus governo.
CHÂTELET & PISIER-KOUCHNER. Les conceptions politiques du XX° Siècles. Paris: PUF, 1981
FIORAVANTI, Eduardo. El capital monopolista internacional., Barcelona: Ediciones Penínsaula, 1976
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