sexta-feira, 19 de outubro de 2018

NOTA SOBRE FASCISMO E NEOFASCISMO


José Paulo 



O fascismo e o nazismo surgem na  Itália e na Alemanha. Qual é a realidade política destes países?



A política é feita por partidos políticos burgueses, pequenos burgueses e operários. Os partidos procuram se adaptar ao modelo político do partido socialdemocrata alemão da época de Marx e Engels. Trata-se de um partido de massas.



A década de 1920 é aquela do apogeu da política organizada e sob comando dos partidos políticos. A revolução social faz o contraponto à política burguesa. Vemos uma dialética simplificada pela luta de classes que leva a Internacional Comunista da URSS e os partidos comunistas a falarem de socialfascismo. A simplificação resulta na identificação da política fascista com a política democrática representativa; a “esquerda” crê que a política fascista é um suplemento da política democrática - um ersatz da política democrática burguesa da socialdemocracia, por exemplo.



Na atualidade, a luta de classes encontra-se expulsa para o mundo invisível da tela gramatical da política. No Brasil, há a luta de classe da grande burguesia contra a sociedade salarial cujo maior signo é a Reforma Trabalhista do programa “Uma ponte para o futuro”, de Moreira Franco e Michel Temer. O neofascismo é a ofensiva do grande capital sobre a retirada dos direitos trabalhistas  da sociedade salarial sem resistência das massas salariais.



A sociedade salarial vota no neofascismo guiada pelo olfato; o neofascismo se apresenta como projeto de moralidade política para restaurar a moralidade política destruída pela era Lula; ele diz que criará uma moralidade política prazerosa para as massas sofridas da era Lula; a falta de moralidade política democrática gera um cheiro nauseabundo na atmosfera da tela gramatical da política, provocando o sofrimento da maioria da soberania popular; o neofascismo soube pelo  WhatsApp amplificar o cheiro nauseabundo da falta de moralidade política impregnada no corpo político de Lula; a vitória de Bolsonaro se deve a falta de moralidade política democrática na atmosfera da tela gramatical do regime 1988.    



Na década de 1920, a crise de representação partidária é um fenômeno no qual os partidos deixam de representar os representados; os partidos se separam das classes sociais que representam em situação normal. Na atualidade, os partidos vivem em um estado autotélico no qual pouco se importam com a soberania popular; ele continuam representando os interesses do capitalismo neocolonial em uma conjuntura de crise mundial do capitalismo do globalismo neoliberal; os partidos da gramática do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo se abrem para ideologias radicais como a ciberideologia messiânica (de Messias Bolsonaro) do terceiro-mundo.



A tomada do poder por Bolsonaro se realiza pelo uso maciço da ciberideologia neofascista no WhatsApp. Este é o grau zero das gramáticas da sociedade de comunicação, como percebeu Bruno Cavas. A cibersgrammaticatura é a solução neofascista para ganhar eleição e fabricar uma ideologia neofascista. Um Estado neofascista brasileiro surgirá do funcionamento ideológico, em estado permanente de sgrammaticatura (falta de gramática), do WhatsApp?         



                                                                                  II



O fascismo é um efeito da luta de classes (revolução operária, ameaça de revolução social com governo operário) e da sociedade de classes capitalista europeia. O bloco-no-poder fascista tem como classe hegemônica o grande capital. Tal bloco se constitui como ofensiva do grande capital na exploração da classe operária através da luta de classe daquela classe contra a classe operária e seus partidos políticos.  



                                                                          

O nazismo triunfou em uma crise capitalista mundial que nos EUA conduziu a política do New Deal de Roosevelt:

“En Alemania, el nacionalsocialismo triunfó por ‘via democrática’, apoyado por las clases medias que luchaban contra su proletarización forzada por la crises y que se dejaban fácilmente arrastrar por la demagogia revanchista del partido nazi. Por outra parte, la contrarrevolución alemana colmaba los interesses de la alta burguesia y de la aristocracia militarista. La posibilidad de crear un império en la misma Europa hacía soñar al capital alemán con un inmenso mercado a dominar y a someter. El campesinado y la clase media urbana se convirtieron en los principales soportes populares del  nazismo. La crisis lanzó a esas clases sociales a los brazos de Hitler”. (Fioravanti: 113-114).  



Para construir o fascismo alemão, Hitler se integrou a um  minúsculo partido que teve seu nome alterado em 1° de abril de 1920, para Partido Nacional-Socialista dos trabalhadores Alemães. A relação com a classe operária explica o aspecto obreirista da ideologia fascista (“anticapitalista”), que entra em  declínio com o avanço do aspecto propriamente “pequeno-burguês”, sob a forma da ideologia corporativista. A história do fascismo inclui a transformação do partido nazi em um partido de massas. A política fascista é a criação de uma lado do polígono mistilíneo da tela gramatical da política alemã em choque com o lado comunista do polígono.



A política alemã não se movia pelo imaginário político retilíneo esquerda versus direita. Tal imaginário já é uma simplificação topológica da política constituída no espaço simbólico da tela gramatical da política do polígono mistilíneo.  



No Brasil, o jornalismo do Estado vídeocrático  (Debray: 139) fala da política explorando o imaginário político esquerda versus direita. Assim, o aparecimento do messianismo neofascista (de Messias Bolsonaro) significou um tremendo embaraço para os jornalistas e cientista políticos do tele-Estado. Bolsonaro se encontrava na  extrema-direita e o jornalismo achou melhor ocultar tal fato. Uma  facção jornalista messiânica se formou facilmente para fazer a campanha de Bolsonaro no tele-Estado.



O uso que o lulismo faz da palavra fascismo é mistificador, pois, significa o inimigo do petismo. Como o jornalismo é antilulista, parece natural que ele  tente banir a palavra da cultura política nacional. No entanto, a psicanálise em gramática marxista fez do neofascismo um significante que surge como ciberEstado.



A facilidade da gramaticalização do significante em tela na cultura mundial mostra que a psicanálise supracitada encontra-se no caminho certo. A vitória iminente de Bolsonaro exigirá que o neofascismo tropicalista seja metabolizado pelo espaço público procedural. Dificilmente, a família Bolsonaro terá sua vontade de desenvolver a ideologia neofascista mal recebida  entre as massas sujeito grau zero democrático.



Já há demonstrações no aparelho repressivo de Estado de simpatias à ideologia neofascista.  No apagar das luzes, Temer assinou o Decreto 9.527/2018, publicado no Diário Oficial da União, criando a chamada Força-Tarefa de inteligência. Rigorosamente, trata-se da centralização da Okhrana (das polícias secretas nacional e local) com pretexto estratégico de combater o crime organizado dos de baixo nas grandes cidades.  



Temer e Moreira Franco resolveram ajudar Bolsonaro na montagem de um Estado que já não é mais o Estado constitucional democrático 1988. O Estado da polícia secreta (Okhrana neofascista) servirá ao governo Bolsonaro. Seu chefe será um general com ideologia neofascista declarada. É o primeiro-passo para a criação do Estado neofascista tropicalista.



Comandante das forças de ocupação no Haiti na era Lula, o general Heleno mostrou que não se preocupava com direitos individuais, direitos humanos e legalidade da ação policial-militar nas favelas do Haiti. Temer diz que a criação de sua Okhrana é para combater as organizações lumpencriminosas. Fazendo pendant com o general Heleno na chefia do Ministério da Defesa, o Estado bolsonarista não entrará em conflito aberto com os Artigo 5° do Estado democrático virtual contido na Constituição 1988?



O Decreto 9.527/2018 da Força Tarefa de inteligência é o primeiro passo para a retomada de uma legislação antiterrorismo de 2016, do governo Dilma Rousseff,  que pretende: a) criminalizar como terrorista as lutas na rua contra o Estado neofascista; b) criminalizar também as manifestações de críticas da política do novo Estado na cibercultura.



O regime de liberdade de expressão policiada do Facebook será substituído pela repressão ao “marxismo cultural”, como já afirmaram deputados do PSL de Jair Bolsonaro. O combate ao marxismo cultural não poupará jornalistas e até comediantes da televisão. O marxismo cultural é a senha negra para processar nos tribunais neofascistas como terroristas os cibernautas que mantém  blogs literários e científicos de linhagem crítica ilustrada. O PSL quer aprovar leis que incluam a prisão perpétua para os crimes de terrorismo.  



A legislação antiterrorista do bloco de poder na Câmara sob a hegemonia neofascista do PSL vê com naturalidade a ideia de construir campo de concentração para esquerdistas. A política de destruição do Estado getulista 1988 será a causa de um movimento  reativo de massas que terá como centro as lutas estudantis contra a desarticulação do sistema universitário estatal. Tido  como luta econômica do reformismo burguês contra o passado getulista e contra o Estado lulista multiculturalista, o neofascismo aponta para a inevitabilidade da exclusão da sociedade universitária científica da vida brasileira. O ataque devastador à classe média simbólica pública é uma crônica da morte anunciada. 



Há uma razão para ao destruição da classe média simbólica. Ela pode atuar como classe distinta ou fração autônoma  (Poulantzas: 72) de um Estado-cientista (Châtelet: 610) que comandaria a evolução do país para um capitalismo tendo no comando um novo modelo industrial. Assim, o Brasil deixaria de ser um país subemergente para se tornar um país emergente no bloco do capitalismo asiático com a China e a Índia.  Portanto, trata-se de um conflito agônico entre duas vias capitalista, levando a melhor, na situação atual, o capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.   

A luta econômica reformista (ultraliberal neocolonial do terceiro-mundo) dos mass media é a ressignificação do capitalismo brasileiro na via do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Este não precisa de uma geoeconomia da grande sociedade industrial  em um país continental com mais de 200 milhões de habitantes. O Estado neofascista se caracteriza por tratar as massas desempregadas como massas disponíveis para o crime organizado dos de baixo. Esta linha de política econômica espera uma solução mágica para a retomada do modelo industrial baseado no velho sistema do capitalismo dependente e associado.       

                                                                                 III

Como pensar a diferença entre fascismo e neofascismo, sem debulhar suas similitudes, jogando-as na lata de lixo ?



O fascismo surge na transição do capitalismo liberal para o  capitalismo monopolista de Estado nacional nos elos mais fracos políticos da cadeia democrática ocidental O neofascismo surge na transição do capitalismo neoliberal do globalismo para o capitalismo neocolonial; emerge no elo mais fraco da cadeia capitalista neocolonial, isto é, na formação gramatical do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo; ele é o peixe que solta para  fora do oceano no elo mais fraco da cadeia da democracia ocidental como civilização da modernidade.



O neofascismo significa uma ofensiva do grande capital (e do Mercado Financeiro) na política brasileira. Uma ofensiva iniciada no governo Dilma Rousseff com  sua guinada para o neoliberalismo. A queda de Rousseff e a tomada do poder nacional pelo “traidor” Temer, (pois, vice de Rousseff) se fez sob a direção do político e sociólogo carioca, da família de Getúlio Vargas, Moreira Franco.



Moreira Franco é o ideólogo do ultraliberalismo neocolonial do terceiro-mundo com seu projeto “A Ponte para o Futuro”. Tal projeto realizado, em parte, no governo Temer é o cimento de um bloco-no-poder capitalista neocolonial do  terceiro-mundo. Vindo da ideologia corporativa da fração militar da burguesia de Estado, Bolsonaro se apresentou como um ultraliberal a Moreira. Assim foi estabelecido laços políticos entre o neofascismo e o moreirismo através da ideologia ultraliberal neocolonial, hoje, representada,  sem contradições, pelo vice de Messias, o general Mourão, amigo de caserna do general Heleno.



Ao contrário do fascismo, o neofascismo é, por enquanto, um xifópago intervencionista (plasmado pela ideologia corporativa pelo alto) e ultraliberal. A contradição terá que ser resolvida caso Bolsonaro queira desenvolver uma ideologia neofascista que não seja híbrida. Os generais aposentados do messianismo no poder não terão que abrir mão da ideologia  corporativista, pois, a Reforma da Previdência do governo Bolsonaro fará dos militares uma casta com direitos especiais em relação aos servidores públicos e ao restante da população assalariada. Resta saber se o juiz, o policial federal e quejandos também serão transformados em uma casta do aparelho repressivo  de Estado. Trata-se da ideologia corporativa neofascista tropical. Quanto ao intervencionismo, Bolsonaro poderá privatizar a maioria das empresas estatais inúteis para a evolução do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.



Parece que o governo Temer resolveu fazer a transição para o governo Bolsonaro apostando na construção do Estado neofascista tropical. Assim, Moreira Franco poderá fazer parte do governo Bolsonaro e Temer se livrar do encarceramento que o  espera no fim de seus governo.




CHÂTELET & PISIER-KOUCHNER. Les conceptions politiques du XX° Siècles. Paris: PUF, 1981 
FIORAVANTI, Eduardo. El capital monopolista internacional., Barcelona: Ediciones Penínsaula, 1976
POULANTZAS, Nicos. Pouvoir politique et classes sociales. v. II. Paris: Maspero, 1971
                       


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