CIÊNCIA POLÍTICA HETERODOXA
A linguagem comum não consegue
ler a realidade política. A ciência política heterodoxa pode ajudar a superar
esta incapacidade de interpretação do homem comum. 1) vivemos em uma sociedade
de classes sem a centralidade na política da luta de classes entre burgueses e
operários. 2) A luta entre as frações do capital e as frações oligárquicas
exigem algum tipo de unidade política. 3) Poulantzas chamou de bloco no poder a
unidade das classes e frações dominantes sob a égide hegemônica de uma delas.
Os burgueses evitam resolver seus conflitos pela guerra, pois isso já é o
nazismo ou Pablo Escobar e seu cartel de Medelín.
O conceito bloco no poder
significa uma prática política legal. Pablo Escobar alterou tal conceito, pois
o narcopoder tinha – na Colômbia da década de 1980 - uma base econômica mais
forte que o resto das frações econômicas “burguesas”. Assim, uma fração ilegal
(criminosa) passou a disputar (recorrendo ao terrorismo) o lugar hegemônico do
bloco-no-poder colombiano. Parece que este fenômeno passou a existir na era
Lula que a diferencia qualitativamente da era FHC. Uma fração da burguesia
brasileira {empreiteiros + burocracia da Petrobrás + partidos do Estado
pombalino (PT e PMDB etc.)} ocupou o lugar hegemônico - vazio por causa da
crise de hegemonia do bloco-no-poder – transformando o bloco-no-poder em uma
prática política legal e ilegal, assentada no direito e no crime. As forças que
compõem a Lava Jato (Polícia Federal, juiz Sérgio Moro e o Ministério Público),
o TCU e o TSE representam a luta da parte legal do bloco-no-poder contra a
fração criminosa que detém a hegemonia provisória de tal bloco. Trata-se de uma
luta agônica interna à classe dominante brasileira. O desenvolvimento de tal
luta não significa a CRISE DO ESTADO BRASILEIRO? A prova de que a luta de
classes entre burgueses e operários não está no centro da política nacional
aparece no fato de que a crise do Estado está sob controle. Ela não deslizará
nem para a ditadura militar nem para a revolução operária. A democracia
pombalina (democracia despótica) brasileira não é a democracia populista que
foi encerrada por um golpe de Estado civil-militar. Ela parece ser um modelo de
democracia universal para o Ocidente. Ela foi a solução encontrada para superar
a cultura política populista na América Latina e no resto do planeta!
ECONOMIA POLÍTICA HETERODOXA
O estamento econômico intelectual
(universitário e burguês) detém o monopólio da interpretação da realidade
econômica nacional. Ele diz que a realidade brasileira é capitalista com
distorções intervencionistas na era Lula-Dilma pós-2008. Diz que na era FHC a
realidade inclinou-se para uma economia liberal neutralizando o velho lema
leninista da história brasileira, a saber: “a política no comando da economia”.
Com efeito, a linguagem do estamento econômico é a linguagem da ideologia oca
de significados verdadeiramente econômicos. Rigorosamente, o capitalismo não
existe, assim como o Estado não existe. São fumos machadianos! Existe o
capitalismo inglês que no século XIX e parte do século XX dominou a economia
capitalista mundial. Existe o capitalismo americano que substitui o inglês como
hegemonia econômica mundial. Existe o capitalismo corporativo mundial que
subsumiu os capitalismos americano, inglês, francês etc. Existe o capitalismo
brasileiro que começa com a fazenda de café no final do século XIX, depois se
industrializa e na década de 1960 se desenvolve como capitalismo dependente e
associado. No entanto, não é preciso definir as formas concretas do capitalismo
a partir da episteme política? A episteme capitalista articulou o capitalismo
inglês e americano, capitalismo em si. Qual episteme política articulou o
capitalismo brasileiro? A episteme do Engenho de cana-de-açúcar articulou o
capitalismo brasileiro do café e as outras formas capitalistas. Trata-se da
episteme oligárquica da economia autárquica. Então, o capitalismo do Engenho é
o nosso modelo histórico-estrutural de economia. A internacionalização da
economia a partir da década de 1960 gerou um capitalismo dependente e associado
do Engenho. No Brasil, a multinacional se transformou em empresa do Engenho:
autarquia nacional. Quando Collor atacou o capitalismo do Engenho, tal fato foi
decisivo para a sua queda. Não foram as massas que depuseram Collor. Foram os
representantes políticos do capitalismo dependente e associado do Engenho que
usaram o movimento de massas “Fora Collor” para desfechar um golpe de Estado
pombalino. O golpe foi exequível por estar o vice-presidente na conspiração da
elite no poder oligárquica. Itamar Franco foi o Príncipe infame do golpe
pombalino. Ele é o nosso Ricardo III mineiro! A imagem de Itamar da ideologia
dominante é ou a do sujeito imbecil, ou a do homem comum!
ÓDIO NA POLÍTICA
‘Eu a considero uma pessoa
honrada (Dilma Rousssef), e não tenho nenhuma consideração por ódio na
política, também não pelo ódio dentro do meu partido, ódio que se volta agora
contra o PT’, diz FHC.
O dicionário Houaiss define ódio
como “aversão intensa geralmente motivada por medo, raiva ou injúria sofrida”.
O antônimo seria amor. Na psicanálise, como relação de amor parental, a
transferência em si é o deslocamento (transporte) de energia do inconsciente
freudiano para um outro lugar, de substituição de um lugar para outro. Por
exemplo, substituição da família pelo consultório, pela relação
professor/aluno, médico/paciente/ líder carismático/massa partidária etc. O
problema é que isto transborda o inconsciente freudiano. A exportação da
energia em direção à sociedade significa que o inconsciente político se
superpôs ao inconsciente freudiano! A
transferência negativa seria vetor da hostilidade e da agressividade. Os
físicos gregos pré-aristotélicos diziam que o mundo se articulava a partir de
duas energias: amor e ódio. São as duas energias elementares da constituição da
política em si e da cultura política. O “amor ao mestre” liga as massas ao
grande homem (Freud) e articula religião, sociedade, povos e nações. Trata-se
de um recurso evolutivo da história da espécie humana. A própria organização da
cultura política intelectual pressupõe o amor de uma nação por seu intelectual
hegemônico. No Brasil, a cultura política intelectual é inextensiva, se faz
pela lógica do insignificante (que instala o subdesenvolvimento cultural), pois
é molecular. A cultura política intelectual desenvolvida é articulada como
cultura em extensão, como cultura produzida como lógica significante. A cultura
política intelectual desigual estabelece a política mundial como relação entre
centro e periferia. Ela é um fator fundamental para definir a reprodução
ampliada do capital. O capitalismo continua se reproduzindo no espaço mundial
como centro e periferia!
No Brasil, só existe (sempre foi
assim) a cultura política intelectual molecular. Por isso, quando FHC assumiu a
presidência da República cunhou a fórmula: “esqueçam o que eu escrevi”. Com
esta fórmula lapidar, ele revelou a existência da cultura política intelectual
brasileira como molecular. No Ocidente, a política em si existe como um
território da hegemonia. Ela é articulada em uma junção com a cultura
intelectual hegemônica. Isto é a civilização moderna. Esta se define por uma
grande acumulação e distribuição na política em si da energia amorosa. A
modernidade banhe o ódio da política. No Brasil, desde o século XIX, o ódio é o
vetor de energia que articulava a lógica do sentido da política partidária.
Trata-se da política oligárquica brasileira arcaica. A sociologia da USP viveu (ainda
vive) a ilusão de um Brasil moderno em ruptura com o Brasil tradicional
oligárquico. Os paulistas se orgulhavam de sua modernidade! O PSDB seria o
partido moderno paulista em ruptura com a vida partidária oligárquica. Mas
segundo FHC, o PSDB se transformou em um partido oligárquico, pois movido pelo
ódio. A crise das cidades paulistas (principalmente da cidade de São Paulo) é a
causa dessa transformação do moderno para o arcaico oligárquico no PSDB? FHC
tem sido o nosso Oráculo de Delfos com suas fórmulas enigmáticas. Mas eu não
sou Tirésias que interpretava os enigmas do Oráculo formulando outros enigmas. A
transferência negativa está dominando o país em todas as áreas. Ela é o sinal
de que algo transbordoueles do
inconsciente freudiano para o inconsciente político nietzschiano: o ódio. Acredito
que se o país não transformar a cultura política intelectual molecular em uma
cultura política em extensão nacional, ele dificilmente sairá do labirinto
barroco da crise brasileira na qual se encontra! E não estou falando do amor
pregado pela cultura política eletrônica das novelas da Globo!
DIREITO E LITERATURA/TV JUSTIÇA
“Que relação existe entre o
Direito e a Literatura? A resposta para esta e outras perguntas está no
programa Direito & Literatura, produzido pelo Instituto de Hermenêutica
Jurídica (IHJ) em parceria com a Fundação Cultural Piratini (TVE/RS), sob a
coordenação do prof. André Karam Trindade. O programa é apresentado por Lenio
Streck, professor do PPGDireito da Unisinos e procurador de Justiça no RS e tem
o objetivo de difundir, no Brasil, o estudo das interfaces existentes entre o
Direito e a Literatura”
O programa Direito e Literatura
de hoje (domingo,02/08/2015, 8:30) dirigido pelo filósofo e homem na comunidade
do direito gaúcha Lenio Streck com a participação da historiadora e
especialista em estética grega Kathrin Rosenfield versa sobre mito e direito.
Para eles, o mito é uma narrativa na qual não há uma identidade absoluta entre
palavra e coisa, entre linguagem e referente (realidade). O mito é
interpretação da realidade baseada na crença supracitada. O mito é uma
narrativa que articula a realidade na medida em que ele é a realidade! Lenio
Streck menciona na história da cultura política intelectual ocidental a
passagem do mito ao logos (razão grega) e à razão moderna do sujeito
cartesiano: “penso logo existo”. Trata-se da passagem da história mitológica
para a história factual. Mas ele e Kathrin sublinham o mito como dominus na
política em si e na cultura política moderna mundial contemporânea. Assim, eles
concebem a história do século XXI como uma dialética entre mito (estrutura
emocional da intersubjetividade associada ao inconsciente político
nietzschiano) e o racionalismo razão modernista. Kathrin Rosenfield pensa que a
solução para a crise da cultura política intelectual mundial é procurar o
equilíbrio dialético entre mito e razão; não se trata de tentar destruir o que
é um fato da história ancorada no seer. Lenio Streck sublinha que o direito
moderno é um direito mitológico. Portanto, a modernidade não deve ser definida
por um corte epistêmico com a cultura política intelectual mitológica que
articula a física freudiana da história. O programa Direito e Literatura sabe o
que a comunidade psicanalítica não sabe que sabe. Ele conhece a física
freudiana da história. Para finalizar, kathrin estabeleceu a relação entre mito
e fascismo alemão na cultura política intelectual da Alemanha na primeira
metade do século XX Tal artefato seduziu uma parte significativa da comunidade
jurídica alemão. Quem duvidar desta postagem do PCPT pode conferir vendo o
programa da TV Justiça, provavelmente o mais importante programa da cultura
política eletrônica brasileira da atualidade.
MODO DE PRODUÇÃO INTELECTUAL
MOLECULAR
A história da cultura política
intelectual mundial tem duas linhas de forças que se sobressaem na atualidade.
A principal é o modo de produção e circulação intelectual (MPCI) em extensão
nacional (USA) ou regional (Europa) de ideias. O secundário é o MPCI molecular
(inextensivo) realmente existente na América Latina. Aquele funciona pela
lógica do significante hegemonia e o outro pela lógica da cultura política do insignificante
oligarquia arcaica. A lógica do insignificante articula a política em si como
espaço privatista faccional e a lógica da articulação hegemônica significa uma
junção da cultura intelectual com a cultura política como cultura política
intelectual mundial pública. Passemos a análise de um caso brasileiro.
Trata-se do evento molecular na
cultura brasileira Simon Schwartzman. Seu livro “Bases do autoritarismo
brasileiro” (1982) deveria ter causado um choque simbólico de grande proporção,
se a cultura política intelectual brasileira existisse como um MPCI em extensão
nacional. O livro é uma interpretação do Brasil que inscreve na nossa cultura
uma terceira via entre a interpretação marxista (modelo estrutural da história)
e a weberiana (modelo patrimonialista da história). Tal terceira via seria a
nova sociologia liberal -conservadora claramente um artefato eclético na linha interpretativa
de um Oliveira Vianna. Simon pensa na possibilidade de uma outra articulação
entre Estado e sociedade na qual o Estado existisse articulado pela lógica dos
interesses das classes e dos grupos de interesse e, ao mesmo tempo, capaz de
desenvolver uma política social de interesse comum a longo prazo. Tratar-se-ia
de uma versão brasileira de Estado moderno na linha da modernidade política que
mesclaria as modernidades norte-americana e europeia social-democrática. Esse
Estado deixaria “definitivamente para trás o ranço patrimonial, ineficiente,
burocratizado, e autoritário, em benefício de uma estrutura mais moderna,
eficiente, aberta a informações e inovações, e consciente de suas
responsabilidades de condução da sociedade brasileira”. Portanto a tarefa da
elite moderna da década de 1980 era retirar o país da história
oliveiraviannista dominada pela separação entre Brasil legal (estrutura
constitucional formal extemporânea) e Brasil real da política articulada pela cultura
política oligárquica privatista. A conjuntura de 1980 deveria buscar um
equilíbrio moderno liberal-conservado distinto do equilíbrio político da
República Velha que combinava, em certo sentido, o pior dos mundos, o do
liberalismo novecentista e do patrimonialismo burocrático ineficiente e
autoritário. O PCPT retomará proximamente a discussão do Estado brasileiro
confrontando Simon com o marxista revolucionário da USP, Octávio Ianni. Simón
considerava Ianni o principal interlocutor da sua nova sociologia política carioca
no campo do marxista da sociologia política paulista. Como é um fato conhecido a sociologia de Simon
se expandiu molecularmente entre a rede de amigos sociólogos do IUPERJ
(Universidade Cândido Mendes). Ela jamais alcançou as universidades federais
cariocas de ciências sociais. Mas ela gerou um choque simbólico com a ciência
política de W.G. dos Santos descambando para uma crise molecular institucional
que só se encerrou com a saída de Simón do IUPERJ. Este é o foi o acontecimento
molécula mais espetacular da cultura política intelectual carioca nas últimas
décadas. A vitória de W.G. dos Santos apenas significou a garantia do monopólio
da esquerda liberal na instituição supracitada que acabou em nada com o
desmantelamento do IUPERJ no século XXI. O trabalho do PCPT é fazer a
reconstituição desse passado cultural para iniciar uma discussão sobre a
relação dialética entre Estado e sociedade no campo da física da história!
Passemos da crítica das armas para a arma da crítica das ideologias
sociológicas no campo da física da história!
PSICOLOGIA POLÍTICA DA CRISE
BRASILEIRA
Fui visitado por um amigo de
longa data especializado em psicologia política brasileira (esta começa com
Oliveira Vianna) com doutorado em neurociência nos USA. Ele é um interprete da
história brasileira desde os bancos estudantis na UFRJ. Ele me a chamou a
atenção para um contraste na cultura brasileira política da atualidade.
Enquanto o estamento musical (”rural” e urbano) vende milhões de discos
(enriquece) e emociona as massas disponíveis para a música cantando o amor em
espetáculos oníricos barrocos que lembram Calderón de la Barca (“a vida é um
sonho”), a classe política viva do ódio e para o ódio. Isso é o gozo da política
no Brasil de 2015: “odeie”. A política se tornou em algum momento da República
Pombalina de Itamar Franco o viver a política como paixão oligárquica arcaica:
estado de guerra oligárquico! Esta é a melhor definição para o “homem cordial
brasileiro” de Sérgio Buarque de Holanda. Tal homem brasileiro atual é um ser
tomada pela ambivalência freudiana. Ele tem duas faces: a música brasileira
(amor) e a política contemporânea: ÓDIO. Então, indaguei como foi produzida
esta intersubjetividade da atualidade? Quando? Por quê? Ele me disse que estas
questões fazem parte de uma investigação em andamento. A psicologia da crise
procura capturar o momento que a crise atinge a intersubjetividade individual.
O indivíduo não é o homo clausus. Althusser criou um conceito de crise
leninista baseado na Revolução Russa. O elo mais débil da cadeia dos Estados
imperialistas entra em um processo de fissão. A crise funde a ordem vigente por
causa da acumulação da maior soma de contradições históricas então possível. Porque
a Rússia era ao mesmo tempo, a nação mais atrasada e a mais avançada,
contradição gigantesca que as suas classe dominante e dirigente, dividida entre
si, não podiam eludir e muito menos resolver. O conceito formal articula o
desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo mundial na Rússia com o
deslocamento e condensação das contradições para um ponto de fusão cuja última
fronteira é a psicologia dos indivíduos. Aqui, os indivíduos quebram e
mergulham no gozo que a cultura política dominante determina, no caso,
brasileiro: façam a guerra interindividual no mundo da vida. Este é o ambiente
cultural ideal para a existência do domínio das máquinas de guerra freudianas
na política e no mundo-da-vida. Há no horizonte uma linha de força que parece
pavimentar a estrada para a construção de uma Ordem sócio-política (o México
parece fazer uma luta agônica com ela) na América pós-colonial. Trata-se da
ORDEM DO MUNDO DAS MÁQUINAS DE GUERRA DO ENGENHO DA CANA-DE-AÇUCAR. O Brasil
foi fundado por máquinas de guerra freudianas (Engenho de cana-de-açúcar,
Entradas e Bandeiras). A crise catastrófica da episteme do capitalismo do
Engenho parece anunciar um corte político epistêmico com a democracia realmente
existente: democracia pombalina (democracia despótica). Vejamos outra linha de
força! Em seu recente livro “A favor de Althusser”(Editora Gramma), Luiz Eduardo Motta escreve: “A
dialética defendida por Althusser no marxismo contém a negação por meio de
rupturas, o que o aproxima das posições do maoísmo no campo teórico político”
(pg 29). E nos ilumina: “O comunismo é uma fairmação construída a partir de uma
negação radical e total do capitalismo. Não há conciliação possível entre esses
dois modos de produção por conterem práticas completamente antagônicas e
opostas umas ás outras” (pg 31). Althusser diz: “Por outras palavras a Rússia
se encontrava em atraso com uma revolução burguesa às vésperas de uma revolução
proletária, prenha, portanto, de duas revoluções, incapaz, mesmo adiando uma,
de conter a outra. Lênin via correto ao discernir, em meio a essa situação
excepcional e “sem saída” (para as classes dirigentes), as condições objetivas
de uma revolução na Rússia, e ao forjar, nesse partido comunista que era uma
cadeia sem elo débil, as condições subjetivas (intersubjetivas), o meio de
assalto decisivo contra esse elo débil da cadeia do imperialismo”. O Brasil não
fez sua revolução capitalista (burguesa) e a Globo News faz programas sobre a
porcaria que é o capitalismo nos USA e na Europa, regiões que passaram pela
revolução capitalista moderna. A consciência histórica burguesa significa um
mínimo de racionalidade na cultura política e no comportamento individual e
coletivo da classe dirigente. Introduzi o marxismo althusseriano revolucionário
a partir da discussão que este canal de televisão está propondo como saída para
crise brasileira, tal como entendida por Roberto Pontual e Elisabeth Carvalho.
Como na Rússia de Lênin, a crise é a fusão da ausência de revolução burguesa e uma
revolução proletária que já tem experiência no poder com a longa era Lula.
Vocês esqueceram que Dilma Rousseff foi forjada no aço do marxismo
revolucionário da luta armada contra a ditadura militar?
DA SOCIOLOGIA ECLÉTICA À FÍSICA
DA HISTÓRIA
Os jornalistas cobram das pessoas
que fazem análise política uma formação universitária: ou de ciência política,
ou de sociologia (política). Meu doutorado foi na área de sociologia com um ex-professor
da sociologia da USP. Não existem estudos sobre o que é mais desenvolvido no
país no campo das ciências sociais: sociologia, ciência política ou
antropologia. Mas a sociologia da USP continua em voga na atualidade. Raymond Aron diz que Montesquieu criou a
sociologia política. Como é sabido, a palavra foi criada por Augusto Comte. A
sociologia se desenvolveu com Marx que faz da sociedade de classes moderna
capitalista industrial seu objeto. Se Marx é o grande pensador eclético do
século XIX. Montesquieu é o maior eclético do século XVIII. Há uma disputa
envolvendo o pensamento deste pensador eclético francês. Althusser escreveu:
“Declarar Montesquieu o fundador da ciência política é uma verdade adquirida.
Disse-o Auguste Comte, repetiu Durkheim e nunca ninguém contestou seriamente
tal afirmação”. Então, a sociologia e a ciência política moderna nasceram
alinhadas com o pensamento da cultura política intelectual eclética mundial.
Isso é algo que gera um desgosto profundo no excepcional jurista brasileiro
Celso de Mello. Como um intelectual avant la lettre moderno da comunidade
jurídica brasileira (a modernidade política falta na nossa cultura política
intelectual), ele crê que Montesquieu pensa com conceito imiscíveis: água e
azeite. E diz que os fantásticos (em termos de cultura política intelectual)
ministros STF são ecléticos. Ele é o último moderno disciplinar do STF?
Já estabeleci em outra postagem
que nosso pensador universal francês é um físico da história. Portanto, embora
politicamente reacionário, a física de Montesquieu é um agir de pensamento que
deixou de ser prisioneiro do século XVIII. Léon Brunschvicg considera o
pensamento do fundador da sociologia política como essencialmente
contraditório. Trata-se de um pensamento do universo infinito, que não
totaliza, que não pode ser capturado pela cultura política intelectual
totalitária. É um pensamento que já adianta conceitos dialéticos (contraconceitos)
como o de espírito geral de uma nação que na física da história ressurge como
cultura política nacional. O espírito geral é a maneira de ser, de agir, de
pensar e de sentir de uma sociedade tal como o fizeram a geoistória. Ele
governa homens, mulheres e crianças. Ele é o resultado do clima, da religião,
das leis, das máximas do governo, dos exemplos das coisas passadas, dos
costumes (moeurs), dos hábitos (maniéres). Outro contraconceito é o de máquina:
“Essas máquinas, cujo objetivo é poupar esforço, nem sempre são úteis”. As
máquinas que reduzem o tempo e trabalho necessário à produção de objetos
manufaturados são sempre úteis - como conceito econômico (capitalista). A
máquina moderna é um axioma indestrutível da episteme capitalista. O conceito
capitalista de máquina é parte da concepção da história como progresso
econômico que contaminou com a interpretação totalitária da história (economicismo)
a dialética materialista de Marx e Engels.
Um outro conceito é o de estado
de guerra como contraponto ao conceito de estado de guerra de Hobbes. Para
Montesquieu, a guerra não tem como causa a natureza humana. O Freud da física
também não concebe a guerra como associada à natureza humana. Só os
psicanalistas continuam acreditando que a guerra tem a ver com uma
agressividade derivada de pulsões, que, em última instância, tem a ver com o
corpo. Para este pensador francês hegemônico, a guerra não tem origem no estado
de natureza. Há um equívoco em associar a fórmula latina de Plautus (Homo
homini lupus) com o conceito de homem. O lobo de face humana não é um homem; é
uma máquina de guerra inútil para a humanidade, ele é a figura despótica que
escraviza o homem. Montesquieu condena de modo radical escravidão e despotismo
por serem contrários às características do homem enquanto homem. A guerra é um
fenômeno social, é um laço social = sociedade. O físico Freud também caminha
nesta estrada por onde passam Deus, homens, mulheres, crianças e mercadorias.
Para Freud, a guerra é um contrasignificante da história mitológica que seduz a
todos (quase todos), pois ela articula a realidade poética em contraposição à
realidade prosaica do cotidiano do mundo-da-vida principalmente no capitalismo
moderno desenvolvido. No século XXI, Montesquieu faz a junção entre sociologia
e ciência política no campo da física da história. A universidade brasileira
acha isso uma bagatela e os jornalistas dizem amém! É a miséria da cultura
intelectual brasileira!
A ERA LULA E A COMUNIDADE DE
INFORMAÇÃO (“SNI”)
Com 16 anos em plena época de
chumbo da ditadura militar, eu estudava no Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Neste vivi a experiência de um poder despótico militar. A revolta contra tal
poder foi uma fonte de conturbação que me assolou durante toda a juventude. Um
dia desenhei na parede de uma sala (era uma bela parede sedutora) uma figura de
um homem fumando ao lado de uma arvore desenhado por outro aluno. Nesse dia,
saí mais cedo clandestinamente! Ao descobrirem, o general comandante do CM
ordenou que todos os alunos fossem interrogados na saída. Como os alunos
ficaram sabendo que eu era o autor do desenho, passaram a me odiar pelo
sofrimento extra que o general impôs a eles. Tudo bem! Um dos alunos
pressionado disse que ia me delatar. Então, me entreguei à justiça militar do
Colégio. O capitão comandante da Infantaria era do SNI, e eu era da Infantaria.
Ele se apressou a interpretar o desenho assim: “o homem fumando é um militar
que está poluindo a natureza” (ele queria dizer, em sua boçalidade: natureza = política
nacional). Ele propôs ao general comandante a minha expulsão imediata (que
significava a perda de todos os meus direitos civis, inclusive o direito de
estudar durante três anos, segundo ele mesmo me relatou). Ele queria que eu
fosse enquadrado como terrorista. Este é o Colégio Militar da ditadura militar,
um colégio muito deferente do Colégio Militar atual como pude comprovar em uma
visita recente ao belo campus da Tijuca.
Na universidade, militava em uma
organização marxista clandestina pacífica (política). O “SNI” (Comunidade de
informação estatal formal e informal, legal e ilegal, em suma, criminosa a serviço
do Urstaat militar) capturou o comitê regional da minha organização e durante
dois meses interrogou e torturou meus companheiros. Escapei porque fui avisado
para me evadir do Rio por uma companheira de outra organização! Por isso
aplaudi o presidente Fernando Collor de Mello quando ele extinguiu o SNI.
Collor desbaratou as redes de espionagem, assassinato e tortura que
controlavam, no mundo invisível, a política brasileira. Por que José Genuíno
resolveu recria a Comunidade de Informação? Ele não articulou apenas a ABIN
(serviço formal de inteligência do Estado brasileiro). Genuíno e o governo Lula
foram o motor da articulação formal e informal, legal e ilegal desta máquina de
guerra criminosa de informação. O governo agiu conforme o espírito da cultura
política brasileira? Montesquieu diz que um regime só se mantém na medida em
que o sentimento que lhe é necessário existe no povo. O espírito geral de uma
nação é o que mais contribui para manter esse sentimento, ou princípio,
indispensável à continuidade do regime. A era lula interpretou corretamente a
cultura política brasileira nacional? Trata-se de uma cultura totalitária que é
o ambiente ideal para o cultivo e proliferação das máquinas de guerra
terroristas, como o “SNI”. Enfim, a notícia no jornal diz que a comunidade de
informação brasileira está ligada à CIA e ao FBI. Será possível que está em
conceituação uma Comunidade de Informação capitalista mundial? Tal fato (e
artefato) não torna mais crível a substituição da democracia pombalina
(democracia despótica) – no conceito sociológico de Florestan Fernandes:
“democracia forte” – por uma ordem mundial governada por máquinas de guerra
tipicamente freudianas? Tal discussão já se encontra, pipocando, na web
brasileira!
A ERA LULA EM SI
A cultura política intelectual
molecular brasileira é o motor da pessoalização mais da cultura intelectual do
que da política em si. Tudo no Brasil é pessoal, privado ou íntimo, dandismo no
meio intelectual. Não existe a lógica pública que faz funcionar o modo de produção
intelectual hegemônico como direção intelectual e moral das massas. Assim,
Deleuze diria que a cultura intelectual no Brasil é produção de besteira, pois
descamba para a doxa, para a interpretação que explora a realidade como
indeterminação. Portanto, a realidade jamais chega, na nossa cultura
intelectual, a ser a síntese de múltiplas indeterminações (Marx). Ela é a
síntese de múltiplas indeterminações! Para ser aquela é preciso desvendar a
episteme que articula a política em si e a cultura política na política em si e
no mundo-da-vida. A cultura política intelectual hegemônica é a política para
si! A cultura política intelectual molecular é a política em si!
No modo de produção intelectual
revolucionário (Lênin), a cultura intelectual revolucionária precisa do
pensamento político contra a ordem e do agente que faça a ligação dele com as
massas: o partido leninista na Rússia ou o Príncipe Moderno no Ocidente
(Gramsci). A era lula possuía o pensamento político revolucionário
materializado discursivamente na sociologia marxista de Florestan Fernandes e
Octávio Ianni. Florestan foi deputado constituinte pelo PT e um elo de ligação
com o MST e outros movimentos de massas. Ele e Ianni chegaram próximos de serem
os intelectuais orgânicos das massas revolucionárias. Deste ângulo, o PT não se
forjou como um partido revolucionário do tropicalismo modernista brasileiro?
Ele não apareceu como um elo da revolução proletária tropicalista antecipada na
cultura musical pelo tropicalismo de Gil, Caetano, Tom Zé, etc.? A era lula não
é a revolução proletária interrompida do Partido dos Trabalhadores? O que
interrompeu tal revolução? Primeiro o inextensivo modo de produção intelectual
molecular. Florestan Fernandes não alcançou a posição de intelectual hegemônico
na cultura brasileira. Acolhido pelas massas, seu pensamento não foi
desenvolvido como cultura política intelectual para si. Ele ficou prisioneiro
do gueto da sociologia da USP. Segundo, o PT chegou ao poder nacional através
de Lula e José Dirceu. No lugar da hegemonia tropicalista petista, Lula e
Dirceu fizeram um outro laço social na política em si, isto é, a articulação
populista da política. A cultura política intelectual populista dirceu-lulista articulava
a política nacional a partir de interesses econômicos improdutivos. Trata-se do
interesse econômico do capital fictício mundial (oligarquia financeira mundial)
e do interesse econômico das massas dos descamisados e pés-descalços
(Bolsa-Família). Em tal cultura política, o PT era o elo mais débil da
revolução populista que é um ersatz de revolução proletária. Nesta revolução, o
proletariado é substituído pelo povo deserdado pelo capitalismo do Engenho,
pelos “homens livres da ordem escravocrata”. A cultura política populista
articula-se graças a inscrição na política em si do discurso do mestre
colonial. Se Getúlio Vargas é o populismo republicano, Lula é o populismo
colonial. Trata-se da reinvenção (repetição) do colonial como diferente, lúdico
e sedutor. Seduzido por essa parede sedutora, fiz a defesa do populismo lulista
no meu livro de 2002 “Capitalismo Corporativo Mundial”. Em um aspecto, eu
estava certo, o populismo do século XXI é uma articulação da cultura política
da sedução. Há muito que falar sobre isso ainda! Em 2015, a figura sedutora de
Lula está à beira do colapso político total. O sedutor PT parece ter chegado ao
fim da linha dessa estrada de ferro que liga Minas a lugar nenhum. Mas a elite
política só consegue ver na sua frente a revolução populista ou então a
revolução proletária tropicalista interrompida. A luta de classes não ocupa
mais o centro da política mundial. Isso é um fato! Mas no Brasil ela parece ser
determinante na CRISE BRASILEIRA. O hipermarxismo ler a realidade brasileira
corretamente! A luta de classes bloqueia que o pais viva, pela primeira vez, o
que Florestan designou como polarização utópica revolucionária do liberalismo
político. As massas de agosto de 2015 não são simplesmente de direita, mas são
burguesas em um sentido contrarrevolucionário. Elas agem articuladas pela
lógica da cultura política conservadora do capitalismo do Engenho. Tais massas
são a contrarrevolução da episteme do Engenho!
A TV Globo é a sua vanguarda na cultura intelectual eletrônica! As massas de agosto agem para jogar na lata de
lixo da história brasileira a revolução populista fracassada e a revolução
proletária tropicalista interrompida! Esta
é a verdade da era lula! Aí Gil e Caetano cantam para o povo Israelense!
FÍSICA DA IDEOLOGIA
O conceito epistêmico original de
ideologia (Marx) diz que a ideologia é uma linguagem que oculta a realidade. A
crítica das ideologias foi o método criado por Marx que articulou o campo da
crítica da economia política. A crítica (ciência) articulava uma outra linguagem
distinta da ideologia como espelho não distorcido da história. Na história
política intelectual, o significante ideologia se tornou um campo tático de
lutas interpretativas que derivou em uma multiplicidade de significados do
termo. Tal fenômeno acabou saturando e estilhaçando o significante. O
pós-modernismo fundamentalista só fez jogar a pá de cal que sepultou o conceito
na cultura intelectual mundial. A partir daí assim como não existe ideologia,
não existe também realidade! Na história do marxismo, Gramsci estabeleceu que
não existia a diferença entre ideologia e ciência. Tudo é ideologia. Talvez sob
a influência de Lênin que concebeu a ideologia como uma arma na luta de
classes. A luta de classe seria também um confronto entre a ideologia dominante
e a ideologia dos dominados: marxismo revolucionário. No Prefácio à crítica da
economia política, Marx escreveu que os homens levam as suas lutas até o fim no
terreno das ideologias: formas de consciência; filosofia do SUJEITO. A
algaravia em torno do significante resultou no relativismo jornalístico de que
se uma universidade tem três mil professores, então existem três mil ideologias
sobre cada tema que o jornalismo estabelece como pauta para os professores
abordarem. Assim, o mundo da linguagem é um labirinto confuso do qual ninguém
sai. Para a classe dominante isso é o jardim do Éden, pois não existe ideologia
dominante que serve ao poder mundial capitalista, e, portanto, não existe
classe dominante: apenas empresários éticos ou corruptos voltados para produzir
riqueza para sua nação e o mundo. A besteira é o reino da linguagem como
síntese de múltiplas indeterminações. O mundo é um conjunto de besteiras! Não é
preciso pensar o mundo como realidade. Não existe classe dominante, elite no
poder, oligarquia, patrimonialismo ou corrupção. A corrupção é uma invenção
técnica da linguagem jurídica. O direito articula o mundo, julga as pessoas e
as põe nas prisões ou as liberta. Se não existe ideologia, o direito
articula-se como lógica fáctica, lógica dos fatos. Mas o direito não tem como
impedir que o aparelho do direito ponha inocentes na cadeia ou os libertem. Tal
funcionamento prático do direito mostra que o direito teórico não é infalível.
As altas cortes de justiça existem para que os ministros-juízes estabeleçam o
direito como diálogo e confronto na interpretação das leis e dos casos
concretos. Assim, o direito torna-se o campo de conflito interpretativo entre
ideologias jurídico-políticas quase universais condensadas nas pessoas dos
juízes. Os juízes buscam a objetividade (e objetivar) tais ideologias). E se
tais ideologias jurídicas existirem como um conjunto ideológico, uma linguagem
que oculta a realidade? O direito não crê que a realidade não existe, pois ela
é da lógica dos fatos. Uma coisa fundamental para a comunidade jurídica é
ultrapassagem da antinomia direito/fato. A legitimidade da comunidade jurídica
depende da adequação entre direito (linguagem jurídica) e fato (realidade).
Hoje, o direito é a fonte mais poderosa da existência de uma ideologia dominante.
Mas ele existe e funciona a partir de uma autonomia relativa em relação à visão
de mundo da classe dominante: visão de mundo do capitalismo do Engenho Ele é a
fonte racional e ilustrada de tal ideologia que significa autonomia relativa.
No entanto, se o direito é uma linguagem que oculta a realidade – como já
explanou o ministro Luís Roberto Barroso do STF –, isto significa que ele é um
artefato simbólico do sistema de poder nacional. Tal sistema não existe solto
no ar! Ele serve à dominação de classe, se a sociedade é uma sociedade de
classes. Ah! Esqueci que não existe sociedade de classes no Brasil na
interpretação dos procuradores federias do empreendimento Lava Jato. A física
da história reconstrói o significante ideologia como contraconceito do hipermarxismo:
um marxismo que é mais marxista que o próprio marxismo; um marxismo
contratotalitário! Assim retornamos ao conceito ideologia de Marx no qual uma
linguagem política dominante (linguagem da classe dirigente/dominante) oculta a
realidade. Claro que o confronto e o diálogo para definir a realidade passa a
ser o campo tático onde se desenvolvem as interpretações do significante
ideologia. Designo este campo como cultura política intelectual. NO Brasil,
este campo está subsumido à cultura política eletrônica! Esta é a fonte
irracional e amargamente bárbara da ideologia do capitalismo do Engenho:
ideologia fáctica dominante brasileira.
18 BRUMÁRIO DE DILMA ROUSSEFF?
Ao longo de quase 40 anos como
professor ministrei cursos sobre o livro “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. No
último curso, explorei a articulação entre estética e política através dos
significantes grotesco político, tragédia histórica e epopeia histórica. Não
existe nada que possa ser comparado a este livro de Marx no materialismo
histórico, na sociologia política e na ciência política nem mesmo as análises
de conjuntura de Lenin, Rosa Luxemburgo, Trotsky e Weber. A realidade do 18
Brumário é a sociedade de classes, o capitalismo francês e a Republica
liberal-democrática. Lendo Marx com Lacan cheguei à conclusão que a realidade
nacional é uma superposição de camadas de redes de significantes naturais
(lógica dos fatos) com significantes culturais (lógica dos artefatos). A crise
política catastrófica é o deslocamento das lógicas fácticas e artefácticas para
um ponto de fusão. Um ponto no tempo-espaço onde natureza e cultura não se
distinguem mais. Trata-se da realidade do real de Heidegger!
A periodização do 18 Brumário diz
sobre o Segundo período item 1. De 4 de maio a 25 de junho de 1848. Luta de
todas as classes contra o proletariado. Derrota do proletariado nas jornadas de
junho. No item 2. De 25 de junho a 10 de dezembro de 1848. Ditadura dos
republicanos burgueses puros. Elaboração do projeto da Constituição.
Proclamação do estado de sítio. A ditadura burguesa é posta à margem a 10 de
dezembro com a eleição de Bonaparte para presidente. Terceiro período. Período
da república constitucional e da Assembleia Legislativa nacional. Item 1. De 28
de maio a 13 de junho de 1849. Luta da pequena burguesia contra a burguesia e
contra Bonaparte. Derrota da democracia pequeno-burguesa. Podemos ver aí as
várias camadas de significantes: a) proletariado, burguesia, pequena-burguesia;
b) republica constitucional, ditadura burguesa, governo de Bonaparte,
bonapartismo afluído. Ao longo do texto vão aparecendo as outras redes em
camadas de significantes naturais e culturais. Em agosto de 2015, formou-se um
consenso contra (conceito do general Golbery do Couto e Silva) o governo
Dilma/Lula/PT. O senador José Serra revelou este fenômeno para a televisão.
Estamos no 25 de junho de 1848: luta de todas as classes contra o proletariado.
Mas o presidente da Firjan Eduardo Eugênio Gouveia Vieira disse na televisão
que esta luta era um salto para o abismo que ninguém no Brasil gostará de
viver. Uma voz política da burguesia do capitalismo de commodities, Blairo
Maggi disse - na Voz do Brasil - que a lógica do quanto pior melhor era um
disparate, pois quanto pior, pior para o país. Parece que demos um salto para o
item c do terceiro período. c) De 11 de abril de 1851 a 9 de outubro de 1851.
Tentativas de revisão, fusão, prorrogação. O partido da ordem se decompõe em
suas partes integrantes. TORNA-SE DEFINITIVA A RUPTURA DO PARLAMENTO BURGUÊS E
DA IMPRENSA BURGUESA COM A MASSA DA BURGUESIA.
Blairo e Gouveia Vieira falam
pela massa da burguesia, eles são a personificação do capital no capitalismo
brasileiro. Estamos diante de uma ruptura entre a classe (econômica) dominante
e a classe dirigente na política e na cultura política eletrônica, de papel e
do rádio. A pequena-burguesia e a classe
média que estão sendo disponibilizados para tomar de assalto (insufladas pela
televisão) as ruas em 16 de agosto não são similares a pequena-burguesia
liberal-democrática francesa. Elas são o efeito da revolução conservadora que
quer desintegrar, inclusive no imaginário nacional, a revolução proletária
tropicalista interrompida e a revolução populista/patrimonialista fracassada
por causa da crise econômica estrutural. Tal confronto grandioso foi percebido
pelos nossos grandes burgueses como um acontecimento que pode jogar o pais no
caos político e por tabela também no caos econômico. Quem viveu a década de
1980 sabe muito bem o que é a economia funcionar pela lógica do caos. Estes
heróis burgueses estão olhando também para a Venezuela! É surpreendente que a
consciência burguesia diga: basta de ódio político! Que ela emerja como a
última casamata da consciência histórica nacional em uma conjuntura na qual o
cérebro da juventude não metaboliza mais o significante Nação. A grande
burguesia urbano-rural parece gritar para todos que existe esperança para o
Brasil. O princípio esperança é o motor utópica de seu agir. Ele pode se
transformar em uma praxis histórica? A classe economicamente dominante resolveu
coser um ponto de basta no estado de loucura narcísica (em junção com o
instinto de morte) que se apossou da classe dirigente. Para um físico da
história a grandiosidade da crise brasileira mostra que existem forças sociais
que podem condensar energias míticas acumuladas (e em circulação) capazes de
serem desviadas para evitar a tragédia política (contraconceito da física)
brasileira do século XXI.
CULTURA POLÍTICA DA PHRONESIS/NAÇÃO
Os contraconceitos não são
conceitos fixados no firmamento como as estrelas; o que são, são em
conceituação em uma situação concreta na qual nos encontramos. Assim, para
determina-los é preciso restituí-lo ao uso e a aplicação que faz deles a
consciência ética. Na Phronesis aristotélica, o saber ético engloba de uma
forma original nosso conhecimento dos fins e dos meios e se opõe precisamente
deste ponto de vista à política como saber técnico maquiavélico para tomar e
conservar o poder nacional na modernidade e na era pós-modernista. O saber
técnico da política vê o outro como inimigo a ser destituído ou aniquilado.
Isto depende da linha de força histórica que sustenta O INIMIGO no presente e
no futuro. O saber ético pressupõe a compreensão do outro como Outro, do outro
imaginário inscrito no Grande Outro, no campo simbólico. Um partido ou um líder
deve compreender o partido ou o líder competidor não apenas como um partido ou
um líder particular, mas como um partido ou um líder inscrito no Grande Outro
(Nação). Isto supõe um compromisso por uma causa justa, compromisso que
descobre quem se põe no lugar do outro inscrito no campo simbólico. Isto se
observa no fenômeno do conselho moral. Só se recebe e só se dá um bom conselho
unicamente entre amigos. Trata-se de uma relação entre um e outro, uns e
outros, que não pode ser a relação de duas coisas que não tem nada a ver uma
com a outra: imaginário como perda de energia narcísica (mito) para o outro. Trata-se
do outro como vampiro da energia do um. No simbólico, a relação de um com outro
(do outro com um) é regida pela lógica da afinidade. Esta lógica distingue o
partido/Igreja do partido/seita. O primeiro se orienta pelo justo relativo a
situação ética concreta na qual se encontra. O segundo pela dialética das
paixões facciosas. O partido/Igreja se articula em uma cultura política da
phronesis. Nesta a imagem que forma o homem de si mesmo, isto é, daquilo que
quer e deve ser, está constituída por ideias diretrizes como o direito (e o
evitar a injustiça), a coragem e a solidariedade. A seita é parte de uma
cultura política articulada por uma interpretação de que a injustiça (fazer o
bem para os amigos e prejudicar os outros) estrutura o mundo. Com efeito,
pertence a essência do fenômeno ético que o agente saiba não só decidir-se à
ação, como também deva ele mesmo saber e compreender como deve atuar, carga da
qual ele não poderá nunca se liberar. Assim, a reflexão ética contribui para a
clarificação e concreção da consciência histórica nacional. A estrutura
existencial do “pro-jeto arrojado nacional” - fundamento da compreensão como
operação significante do estar-aí nacional - é a estrutura que se encontra na
base da compreensão tal como se efetua no bloco histórico epitêmico hegemônico.
Os lugares concretos que representam uma moral ou uma tradição, mas geralmente
as condições históricas concretas, inclusive as possibilidades futuras que elas
implicam, definem do que se trata no interior da compreensão própria da cultura
política intelectual nacional. A compreensão de uma tradição histórica trará
consigo, ela também e necessariamente, a pegada da estrutura existencial do
estar-aí no mundo-da-vida nacional. Trata-se do reconhecimento da realidade
concreta dos homens, mulheres e crianças. Trata-se de um desenvolvimento e uma
continuação daquilo que reconhecemos como sendo o lugar concreto entre todos
nós! No entanto, a consciência histórica moderna deve tomar a tradição como o
estranho, não como factum brutum, ente subsistente que articula nosso seer. A
“verstehen” (“compreender”) significa não apenas compreender o significado de
algo, mas um ato de conhecer, um “conhecer-se em algo”, um saber como
reencontrar-se nisso. Compreender é um processo de simbolização do texto como
acontecimento histórico ou como o espírito objetivo de Hegel cujo reino engloba
toda forma de vida humana em suas linguagens, em valores morais, em suas formas
jurídicas, em sua forma estatal. O conceito materialista de espírito objetivo teria
que englobar a simbolização da forma econômica. O bloco epistêmico moderno
(hegemônico) contém a possibilidade do processo de simbolização para resolver a
crise nacional, se for o caso com a revolução dentro da ordem epistêmica
capitalista mundial. O bloco epistêmico oligárquico (molecular) não contém a
negação de si como um recurso evolutivo para romper com o capitalismo
oligárquico do Engenho. A nação brasileira jamais deixou de ser a nação do
engenho de cana-de-açúcar. A modernidade política são apenas os fumos de
Machado de Assis: puro fantasma abstrato. Um cronista da época colonial tardia
disse: cada engenho é uma república. Os partidos do Engenho estão fadados a
serem seitas e os líderes senhores do Engenho, ou no máximo barões do Império
na República oligárquico/pombalina de Itamar Franco. Tal tradição pesa como
chumbo (sentido sólido) no cérebro dos líderes políticos, inclusive daqueles
que se consideram modernos como FHC e José Serra!
HIPERMARXISMO E PODER
Marx conceituou o significante
poder como poder de classe e poder de Estado. A distinção nas formas do
significante abre o campo da física da história para uma analítica marxista
pós/pós-modernista do poder. O poder de classe é (primeiro) o poder econômico
da classe dominante na sociedade civil marxo-hegeliana. Trata-se, é claro, do
poder do capital. Mas o poder de classe não precisa ser econômico. É o caso do
poder da classe operária que é um “contrapoder”, como o define Ralph Miliband
no seu livro “Marxismo e Política” (Ed. Zahar: 56). A classe operária só é uma
classe para si se adquirir a capacidade de organizar-se politicamente (Idem:
27). Toda luta de classe é uma luta política! O poder do Estado é o poder da
classe dirigente. (Todo poder econômico, social etc. é também um poder
político). Gramsci criou a ciência marxista da política em um confronto/diálogo
com a “teoria das elites” de Pareto, Mosca e Michels. A divisão entre a classe
dominante (Marx) e classe dirigente (teoria das elites) foi um passo atrás e
dois à frente para a integração do marxismo ao campo da física como
hipermarxismo: um marxismo que é mais marxista que o próprio marxismo.
A distinção de Weber entre poder
e dominação é parte da episteme intelectual que funcionou como um buraco negro
sociológico que tragou a conceituação marxista do poder no campo da cultura
política intelectual mundial universitária. Décadas depois, a episteme
política/filosófica pós-modernista (Baudrillard, Jameson, Foucault, Deleuze,
Derrida, Lyotard) desintegraria de vez o significante poder marxista. Isto foi
altamente funcional para as classes dominante que viu como em um raio em um céu
azul a sua caraterização como uma entidade desprovida de poder político. O
pós-modernismo é a ideologia mundial capitalista da era do CCM (capitalismo
corporativo mundial). Como ele se tornou uma segunda natureza da cultura
política intelectual, passou a agir como um poder invisível. Então, é prudente
fazer a distinção entre o poder de Estado e o poder simbólico. O primeiro é o
poder da classe política sobre o aparelho de Estado ampliado que incluiu as
instituições da sociedade civil. O segundo é o poder de interpretar a
realidade. No Brasil, o monopólio da interpretação da realidade para as massas
populares e para a maioria da classe média encontra-se nas mãos e no cérebro da
cultura política eletrônica. Note-se a divisão na classe dirigente entre classe
política que detém o poder de Estado e classe simbólica que detém o poder de
interpretar a realidade. O aparelho (ou a instituição) não detém o poder. O
poder existe e funciona em uma cultura política concreta. Os agentes do poder
existem em um quadro global relações de forças no espaço-tempo das culturas
políticas. Ele é a condensação de relações de forças nos aparelhos
(instituições) e máquinas de guerra na política em si e na política do
mundo-da-vida. Restaurar a microfísica do poder de Foucault no campo da física
da história não é uma tarefa essencial para a analítica do pequeno poder? Mas
também se faz urgente a analítica hipermarxista do grande poder. O contraconceito
de bloco histórico epistêmico é parte da região marxista da física da história.
Ele é a geoistória do grande poder político: social, econômico, de Estado e
simbólico. Tal estrutura de pensamento do contrasignificante poder diz que o
poder é estrutura realizada, atualizada (e como repetição) em uma praxis hitórica. Ele é parte de um
devir da forma/poder como metamorfose histórica. O camaleão muda sua cor como
autodefesa contra o ambiente. O camaleão é um significante natural inscrito no
quadro global natural/artificial das relações de forças. O poder político muda
de forma para se adaptar ao quadro global das relações de forças no conjunto
sociedade/Estado que define uma conjuntura histórica. A propósito, a física precisa ir além do
significante lacaniano, pois este é limitado por ser um significante
estruturalista separado da praxis histórica. O estruturalismo de Lacan foi a
autodefesa do campo freudiano para impedir que a psicanálise fosse tragada pela
episteme pós-modernista. No entanto, os freudianos precisam investigar se o
estruturalismo lacaniano também não foi absorvido pelo buraco negro
pós-modernista que acabou liberando, no Seminário 20, Lacan da escravidão
estruturalista!
O GOLPE E ESTADO DE MICHEL TEMER
Antônio Carlos Magalhães (ACM) imortalizou
Michel Temer no anedotário político nacional ao dizer que ele tem “pose de
mordomo de filme de terror”. O golpe de estado pombalino do mordomo de Dilma
Rousseff está em todos os jornais inclusive no New York Times. Estariam no
golpe a Fiesp e a Firjan representando o capital quase produtivo, o Brasdesco
representando o capital fictício local , Blairo Maggi como voz do capitalismo
de commodities. O Grupo Globo teria rompido seu laço social com o PSDB
abandonado também por seu principal filósofo, o uspiano José Arthur Giannotti: “O
PSDB nunca foi um partido. Sempre foi muito mais uma reunião de caciques que
têm as suas posições. A ideologia não é o forte do PSDB. O que o partido está
fazendo, na Câmara, é uma oposição fraca ao Governo, sem levar em conta que são
seus próprios princípios que estão em jogo”. O que tornou o PSDB um partido
oco, sem princípios? A noção de ideologia de Giannotti ignora o conceito de
ideologia de Marx: linguagem da classe dominante/dirigente que oculta a
realidade. É um fato estranho, pois Giannotti é um especialista em Marx. Assim
como o PSDB é oco de princípios, Giannotti nega seu passado marxista. Qual a
atual situação política?
O poder do capital (poder
econômico) teria se articulado com o PMDB para dar um golpe na República Democrática
Pombalina de 1988? A burguesia brasileira com o apoio da oligarquia financeira
mundial faz da política brasileira o palco da luta de classes que não ocupa mais
o centro da política mundial. Trata-se e uma revolução conservadora da ordem.
Qual ordem? Da ordem do capitalismo do Engenho de cana-de-açúcar. O PMDB é o
partido grande máquina de guerra cortesã de tal ORDEM! Ele vai usar a violência
simbólica sem limite contra o governo eleito de Dilma Rousseff no qual ele
ocupa o posto da vice-presidência e vários ministérios. O mordomo conspira e
assassina o seu senhor (senhora), ele é sempre o culpado: “No dia seguinte, empresários,
por meio das federações das indústrias de São Paulo e do Rio (Fiesp e Firjan),
decidiram se manifestar, usando como gancho o alerta do vice-presidente Michel
Temer, que pouco antes da fatídica votação havia pedido que alguém assumisse o
compromisso de unir o país para evitar o agravamento da crise. ‘O momento é de
responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do
Brasil’, dizia a nota assinada pelas duas federações, afirmando que o Brasil
não pode se permitir mais irresponsabilidades fiscais. ‘É hora de colocar de
lado ambições pessoais ou partidárias e mirar o interesse maior do Brasil’,
continuava a nota, cobrando dos representantes políticos eleitos a defesa de
pleitos legítimos”. As várias frações urbano/rural do capital teriam se
unificado no bloco-no-poder para desfechar um golpe de Estado com o mordomo da
presidenta? O poder econômico parece apontar uma solução para a crise política?
O poder simbólico está dividido neste exato momento. A revista Veja apoia o
golpe de Estado frio do PSDB com o TSE (uma decisão política baseada em um
simulacro de técnica jurídica) que destituiria Dilma e seu mordomo. O Grupo
Globo lavou as mãos como Pilatos. Gato tem medo de água fria! Os golpistas
dizem que o golpe vai ser constitucional, que impeachment e o TSE tornam a
derrubada de Dilma um fato da ordem jurídica. A ordem jurídica brasileira é um
simulacro de simulação de ordem jurídica liberal-democrática. Mas senhores,
trata-se da luta de classes feita por meios de simulacros jurídicos! Uma revolução conservadora quer
fazer desmoronar de vez a revolução proletária tropicalista interrompida e a
revolução populista patrimonialista. Nesta revolução conservadora da ordem
oligárquico-pombalina do engenho, o capital é o lobo de face humana, é uma
máquina de guerra freudiana econômica contra a classe operária e o povo dos
escamisados e pés-descalços. A hora das máquinas de guerra chegou na política
brasileira? Agora, a política funcionar pelo princípio da realidade freudiana.
Esta é um poder despótico (totalitário) que subsume o princípio do prazer na
política. Trata-se da realidade prosaica (vulgar) da luta da classe dominante
contra a classe operária e o povo pobre que aniquila a possibilidade da
política como realidade poética. Ao contrário do que disse o presidente do
Bradesco, não há grandeza em tal acontecimento. O golpe de Estado do PMDB vai
decompor a classe política em suas partes integrantes. Franca ruptura do Parlamento
consigo próprio? São grandes as possibilidades do impeachment naufragar? Os
burgueses parecem não saber nada sobre a crise brasileira? Eles não sabem que
estão dando um empurrão para ela se tornar uma crise catastrófica do Estado
brasileiro? A luta de classes pode instalar a guerra civil em uma realidade
brasileira tomada pelo estado de guerra permanente no mundo-da-vida: guerra
molecular! Se os burgueses não sabem, eu digo que o PMDB é uma máquina de
guerra oligárquica ligada a uma cultura política totalitária colonial que
cultiva o estado de guerra oligárquico permanente. Os burgueses são boçais,
ignorantes e estúpidos? Jamais pensam na Nação? Este é o retrato que Florestan
pintou sobe a burguesia local no seu monumental “Revolução burguesa no Brasil”!
O GOLPE DE ESTADO DO CAPITAL
MUNDIAL
A crise conjuntural é
deslocamento e condensação das contradições estruturais e conjunturais. Há uma
nítida aceleração da história na crise brasileira de 2015. O segredo da
periodização da crise política está contido no “O 18 Brumário e Luís
Bonaparte”. Os estágios da crise (do foguete espacial que para acelerar e
progredir - para além da estratosfera - tem que ejetar partes suas) são
observados pela entrada no proscênio do palco da política das forças sociais,
econômicas, culturais e políticas. O estágio inicial da crise brasileira é dado
pela luta política entre os partidos que fazem suas lutas no aparelho de
Estado, principalmente nos confrontos internos ao Legislativo e no confronto do
Legislativo com o governo. A entrada do poder judiciário neste conflito pode
periodizar a crise em um determinado sentido e rumo político. No caso da crise
política atual, observem a política do juiz Sérgio Moro/Procuradoria Federal/
Polícia Federal/ TCU/TSE. As massas são outra força da periodização da
política. A entrada delas na crise significa que a autonomia absoluta da
política em relação à sociedade civil transformou-se em autonomia relativa. O
impeachment de Dilma Rousseff pode sofrer uma inflexão com as massas da
revolução conservadora paulista do dia 16 de agosto de 2015. Tais massas
periodizarão a crise, jogarão a crise para um estágio superior. Na crise do
governo Collor, um FHC dialético disse: “se as massas não forem para a rua, não
haverá impeachment”!
Portanto, quais são as forças que
agenciam as massas de agosto? Estas forças são o grande poder político em suas
diferentes formas. As forças são as classes envolvidas na luta de classes
aberta que retornou ao país. Quais classes? Obviamente a burguesia e o proletariado.
Mas também grupos sociais indeterminados com ausência de adscrição de classe:
as massas populares, por exemplo. Mas é preciso aquilatar o peso de classes
sempre em “transição” entre a burguesia e o proletariado: pequena-burguesia tradicional
e classe média ou nova pequena-burguesia na atual conjuntura. Mas as classes
são dominantes, dominadas e classe dirigente. A classe dominante ou burguesia
se define pelo poder do capital. Este poder é um poder econômico mundial que na
crise política funciona como um poder político fatal. A classe dirigente se
subdivide em classe política e classe simbólica (os intelectuais em si de
Gramsci). A classe política é aquela que detém o poder do Estado, o poder sobre
o aparelho de Estado ampliado. No que interessa aqui, a classe simbólica se
define pelo usufruto do poder simbólico, o poder de interpretar a realidade
para as massas. Poder decisivo na crise política! É preciso não confundir o
poder da classe com o domínio sobre o aparelho (ou instituição). O aparelho não
gera poder, este é articulado na relação das classes com o campo da cultura
política intelectual. Há autonomia relativa entre os poderes políticos (poder
econômico, poder de Estado e poder simbólico) que define o agir deles nas
situações normais. No entanto na crise política catastrófica, o poder do
capital (poder econômico) pode funcionar como um determinismo político sobre os
outros poderes. Quando isto acontece, o poder do capital já produziu a entrada
da conjuntura no estágio final da crise conjuntural, mas não da crise política
estrutural. O poder do capital tornou-se protagonista da crise na semana que
começa no dia 7 para o dia 8 de agosto. O poder simbólico hoje se resume à
corporação capitalista quase mundial com a roupagem jurídica Grupo Globo. Os
donos desta corporação capitalista simbólica são a família Marinha, do antigo
patriarca Roberto Marinho, já falecido, envolvido em vários golpes de Estado
como o golpe de 1964 e o golpe pombalino itamar franco sobre o governo Collor de Mello. Em editorial, o
Grupo Globo definiu sua posição como de distanciamento jornalístico da crise ás
vésperas das massas de agosto tomarem a rua, principalmente de São Paulo e do
Rio de Janeiro, estados governados pelo PSDB e PMDB, os dois partidos golpistas
principais. Quando o poder do capital (Oligarquia financeira mundial/capital
produtivo privado/capital bancário brasileiro, capital de commodities/capital
comercial) se decidiu pelo golpe pombalino como bloco-no-poder contra o governo
Dilma Rousseff, o poder simbólico capitalista se viu metido em “uma camisa de
onze varas” (A expressão "meter-se em camisa de onze varas", hoje
pouco usada para significar que alguém está em dificuldades, teve origem em
antiga medida inglesa, a vara, equivalente a um metro e dez centímetros. Era o
comprimento, determinado por lei, para a camisola que condenados à morte deviam
vestir ao subir no patíbulo). O poder do capital (da grande burguesia) sobre o
poder simbólico capitalista (Grupo Globo) é palpável. Trata-se de um poder que
é mediado pela publicidade. O Grupo Globo vive do capital da publicidade e dos
empréstimos do capital bancário. Às vezes recorre ao capital estatal privado! O
capital funciona em redes de subsunção formal e real do trabalho ao capital.
Trata-se da relação capitalista como relação coercitiva não-violenta, coerção
do capital sobre o trabalho para produção da mais-valia. Tal coerção
capitalista pode ser exportada para o espaço político nas relações entre o
poder econômico do capital e o poder simbólico? A subsunção do capital
simbólico ao capital em si (econômico) é similar à subsunção formal do trabalho
ao capital, só que estabelecida entre formas do capital! O capital em si pode
afetar a produção de lucro do capital simbólico sem se imiscuir no processo de
produção do excedente deste. Trata-se de uma relação de exterioridade formal
entre o capital econômico e o capital simbólico.
A entrada na cena política do
capital em si como protagonista do golpe (luta de classe do capital contra o
trabalho em estado de inércia política) imprime um ritmo fatal para o governo) na
crise política. Claro que o rumo da crise pode sofrer mudanças dependendo do
agir do capital. A solução da crise política não é uma linha reta traçada entre
dos pontos do equilátero político! Mas o capital como fato político vai definir
o rumo da conjuntura governamental. Então, o capital simbólico vai manter sua
autonomia relativa em relação ao capital em si, ou vai perdê-la na semana de
agosto da revolução conservadora das massas do sudeste do país? Não é preciso
muito esforça para perceber que o mesmo quadro global de relações de forças (que
quebrou em pedaços contraditórios Fernando Henrique Cardoso) encontra-se agora
condensando no Grupo Globo. Esta corporação capitalista simbólica tornou-se o
centro tático da luta entre o bloco-no-poder e o governo Dilma Rousseff. Os marxistas
tradicionais são incapazes de compreender este tipo de análise de conjuntura,
pois ela é realizada pelo contraconceito de conjuntura do hipermarxismo: do
campo da física da história. Mas no Brasil, qualquer atividade intelectual é
considerada apenas como palavras lançadas aos dromedários, sendo assim Cristo
pregando no deserto de homens e ideias. O Grupo Globo vai agir agora
heroicamente para dissolver a lógica pombalina do golpe de Estado? Ele vai se
pôr como parte da política normal contra o estado de surto narcísico que
envolveu até o poder do capital em si?
NORMAL (ETHOS) E PATOLÓGICO (PATHOS)
NA POLÍTICA.
Paul Krugman diz que os
candidatos republicanos estão loucos. Eles não ouvem mais o estamento
intelectual americano que assegura o funcionamento da cultura política
intelectual hegemônica nos USA. Um capital público (estatal e privado) de
bilhões de dólares é gasto para manter o bloco histórico epistêmico hegemônico funcionando
na América do Norte. No Brasil, a história é outra. O estamento intelectual é
uma peça do bloco histórico epistêmico oligárquico do Engenho. A cultura
intelectual brasileira é movida pela lógica molécula inextensiva, avesso da
articulação hegemônica da política. Hoje, a cultura política intelectual
eletrônica ocupa o lugar de um simulacro de hegemonia. Isto não é um xingamento
ao pós-modernismo assim como Marx não fez a Ideologia Alemã para simplesmente
xingar os filósofos desconstruídos como artefato ideológico. Vamos ao busílis
da questão. A esquerda brasileira é conduzida por ideologias, entre elas o
marxismo tradicional que é apenas uma ideologia teimosa (que não quer admitir a
própria morte) que quer sair da sepultura como no filme americano Zumbilândia,
pois este filme é a condensação metafórica de todos os filmes sobre zumbis
americanos.
A ideologia marxista zumbi se
caracteriza por não saber que sabe que estava fazendo uma revolução populista
patrimonialista. Dilma Rousseff na comemoração de uma data do programa Mais
Médicos soltou no ar a seguinte frase: “eu queria fazer uma revolução”. Ninguém
no bloco histórico capitalista do país prestou atenção nesta fórmula que
explica a política brasileira da ERA Lula/Dilma. Ela explica que a crise
brasileira conjuntural é fruto desta revolução populista patrimonialista;
CORRUPÇÃO. Dillma disse em algum momento: “vamos fazer o ajuste fiscal, e
depois tudo volta ao normal”. A política normal é a revolução populista
patrimonialista. Mas os marxista tradicionais-zumbis não sabem nada sobre isso.
Se soubessem teriam que metabolizar que esta revolução se faz dentro da ordem
do capitalismo do engenho em uma versão ligada aos interesses improdutivos do
pais: capital fictício e povo dos pés-descalços e descamisados! É louvável que
o governo tenha transformado uma parcela do capital estatal em capital público
a ser gasto com o povo mais humilde. Mas ele também encheu as burras dos bancos
de capital nacional: de RIQUEZA PÚBLICA. Lula é amigo pessoal de uma família de
banqueiros que sustenta a única revista (de grande circulação) marxista
tradicional no país: ideologia marxista pura! A revista entrou em crise com a
crise catastrófica da revolução populista. Ela não sabia que era uma revolução
populista patrimonialista. Acreditem!
A revolução populista
patrimonialista é a estrutura nacional que articulou uma cultura política
lumpesinal burguesa que se apoderou do lugar hegemônico do bloco-no-poder em
crise para levar adiante o saque ilimitado da Petrobrás. A lúmpen-burguesia é a
causa societal e econômica da crise brasileira conjuntural. Entretanto na
política em si, temos outra causa. Trata-se do fenômeno autodesignado pelos
petistas de “HEGEMONIA PETISTA”. Esta significa que o PT existe para viver a
política na democracia atual através do monopólio do poder nacional até que a
democracia entre em colapso. Depois do colapso, o PT quer continuar no poder
nacional com o seu projeto de “hegemonia petista”? Tal política não é a
política de Marx, Engels, Lenin ou Mao Tse Tung. A concepção da política destes
era a revolução proletária levada até o fim, que significava a destruição do
próprio conceito de poder político!
A episteme política que articula
o PT é a episteme vulgar conhecida pelo nome de maquiavelismo. Neste a política
é assalto ao poder e conservação do poder custe o que custar, inclusive o fim
do significante REPUBLICA DEMOCRÁTICA! Trata-se da política cujo o único fim é o gozo
eterno do poder político. Na linha do realismo político, Weber definiu a
“política” assim: “Que pratica política, reclama poder: poder como meio ao
serviço de outros fins – ideais ou egoísta -, ou poder ‘pelo próprio poder’,
para deleitar-se com a sensação de prestígio que proporciona” (Economia e
Sociedade. v. 2: 526. UNB). A política normal é um equilíbrio entre o egoísmo e
a busca de fins ideais. Trata-se da política nacional, é claro! Na sociedade
brasileira, o egoísmo é parte da intersubjetividade nacional como herança do
individualismo da cultura política oligárquica colonial. Quando o partido
esquece a Nação, trata-se da política patológica. Uma população de cerca de
200.000 milhões de habitantes vive em um país em processo articulado pela
lógica do desmoronamento geoistórico do significante Brasil. A revolução
populista patrimonialista é a causa suficiente de tal crise. A revolução populista
de esquerda acabou, fracassou! O bloco histórico epistêmico capitalista mundial
considera o Brasil uma economia tática para a sua reprodução capitalista
ampliada no futuro próximo. O PT vai começar a revolução proletária do século
XXI no Brasil? Com que roupa crítico-pratica? Nas “Teses sobre Feuerbach” que o
marxismo brasileiro ignora calculadamente, Marx diz que a revolução é o
contrasignificante que sobredetermina a cadeia de significantes do marxismo
como ciência que se autoconstrói pela crítica das ideologias filosóficas, sendo
a filosofia a arma sublime de qualquer ideologia dominante que tenha
autoestima. A ideologia se define por ser uma interpretação da realidade do
real que foraclui a revolução real dentro da ordem e a revolução contra a
ordem: revolução em si. Por isso a ideologia é a fonte da vida da cultura
política conservadora. O marxismo tradicional brasileiro existente foraclui de
sua linguagem morta o significante revolução seja dentro da ordem, seja contra
a ordem. A revolução populista patrimonialista é um simulacro de simulação de
revolução! Notem que a revista Piauí em toda a sua existência jamais usou o
significante revolução brasileira. Ela é parte do dandismo marxista tradicional
ligado à episteme do capitalismo do engenho de cana-de-açúcar. O banco e o
engenho eram um xifópago econômico. Se ainda não está claro, clarifiquemos! O
PCPT é a arma crítica-revolucionária que mostra que a esquerda marxista brasileira
é uma esquerda ideológica e que, - ao contrário do hipermarxismo que é uma
contraciência – , encontra-se articulada por um marxismo-leninista morto e
sepultado pela história do século XXI!
DO PRÍNCIPE ELETRÔNICO AO
PRÍNCIPE SIMBÓLICO
Na cultura política intelectual,
a política como atividade do Príncipe começa no Renascimento com Maquiavel.
Gramsci desfechou um golpe de Estado literário na cultura intelectual (Machado
de Assis) mundial ao mostrar a inflexão histórica com a substituição do
Príncipe renascentista pelo Príncipe moderno. Octávio Ianni publicou um texto
em 1998 que trata de uma nova inflexão da política com a tomada do proscênio da
política pelo Príncipe Eletrônico (“O Príncipe Eletrônico”. Primeira Versão.
IFCH/UNICAMP). Sigo o texto livremente. “Para Maquiavel, o Príncipe é uma
pessoa, uma figura política, o líder carismático ou condottiero, capaz de
articular inteligentemente as suas qualidades de atuação e liderança (virtù) e
as condições sócio-políticas (fortuna) nas quais deve atuar” (pg. 6). No
essencial, o Príncipe é uma biografia individual se equilibrando entre a virtù
e a fortuna. Trata-se do Príncipe Real! Em Maquiavel não existe ainda o
conceito hegemonia em um sentido moderno. Na cultura política intelectual,
Hegel elaborou tal conceito no início do século XIX como direção morla e intelectual de um país.
Gramsci é a junção e condensação de várias linhas de forças da cultura política
intelectual, incluindo o realismo de Maquiavel e a dialética hegeliana. Seu
ecletismo marxista não fica devendo nada ao ecletismo da filosofia de St°.
Agostinho. Gramsci concebeu o conceito Príncipe moderno: “Para Gramsci, o
moderno príncipe já não é uma pessoa, figura política, líder ou condottiero,
visto como personificação, síntese e galvanização da Política, mas uma
organização?” (pg. 7). Não se trata da passagem do indivíduo para o grupal, mas
da passagem do indivíduo para a instituição pública! Com Gramsci, a função de
interpretação da realidade para as massas deixa de estar condensada em uma
biografia individual. Ela torna-se um monopólio do partido (instituição
pública) como intelectual orgânico de uma classe universal, o proletariado. O
partido comunista é o aspecto teórico da revolução social e o proletariado o
aspecto prático. Trata-se portanto, rigorosamente, da praxis histórica. Gramsci
concebe o Príncipe a partir do mito sorelliano, isto é, “uma ideologia política
que se apresenta não como fria utopia ou como raciocínio doutrinário, mas como
uma criação da fantasia concreta que opera sobre um povo disperso e pulverizado
para suscitar e organizar uma vontade coletiva” (Gramsci. Quaderni del Carcere.
V. III: 1556). Então, o Príncipe moderno não é uma mera articulação racional
(conceito vulgar-moderno de ideologia política), mas um partido político que
estabelece ligações da razão moderna com a história mitológica (contraciência
marxista da política) de uma nação através de sua autocriação como fantasia
concreta. Ele é o Príncipe Ideológico gramsciano. Trata-se do trabalho político de organização
de um povo disperso e pulverizado em multidão articulada como consciência
histórica em uma determinada conjuntura histórica revolucionária. Além da virtù
e da Fortuna, o Príncipe Ideológico articula hegemonia como direção intelectual
e moral de um pais dotado de soberania nacional.
Octávio Ianni pensa a passagem da
modernidade política para o pós-modernismo político através do Príncipe Eletrônico.
Este é o “Intelectual orgânico dos grupos, classes ou blocos de poder
dominantes, em escala nacional ou mundial. Um intelectual orgânico coletivo, já
que sintetiza a atividade, o descortino e as formulações de várias categorias
de intelectuais: jornalistas e sociólogos, locutores e atores escritores e
animadores, âncoras e debatedores, técnicos e engenheiros, psicólogos e
publicitários; todos mobilizando tecnologias eletrônicas, informáticas e
cibernéticas como técnicas sociais de alcance local, nacional e mundial. Essa
é, em larga medida, a fábrica da hegemonia e da soberania, que teriam sido
prerrogativas do Príncipe de Maquiavel e do Moderno Príncipe de Gramsci. Agora
é o Príncipe eletrônico que detém a faculdade de trabalhar a virtù e a fortuna,
a hegemonia e a soberania; ou o problema e a solução, a crise e a salvação, o
exorcismo e a sublimação. Assim se instaura o imenso ágora eletrônico”(Ianni:
30). Como intelectual coletivo orgânico, o Príncipe eletrônico, com efeito, é
exatamente a classe simbólica operando em um processo catártico com a multidão.
Ele é um fenômeno da estética como fantasia eletrônica (Ianni: 27, 29). Mas o
que é o Príncipe eletrônico como figura política nova no campo da teoria e da
prática da política? Octávio diz que ele é uma criação da indústria cultural
(pg. 25). Ou seja, ele é articulado pela e na cultura política intelectual eletrônica.
O Príncipe de Maquiavel tem a biografia de um indivíduo mitológico como
significante-suporte. O Príncipe gramsciano tem o partido comunista como
suporte-significante. E o Príncipe pós-moderno de Ianni da era do globalismo? Octávio intuitivamente vê a televisão (pg. 11)
como o significante suporte da interpretação da realidade como hegemonia e
soberania.
No essencial, a definição de
Príncipe moderno se estabelece como poder simbólico de interpretar a realidade para
as massas visando a revolução social. Em um sentido mais genérico, o Príncipe é
o poder simbólico de interpretar a realidade para as massas em uma cultura
política intelectual. No Brasil, ao olharmos para a história da cultura
política intelectual tendo como significante-metre o Príncipe, o PCB é a
experiência histórica de construção do Príncipe moderno pela esquerda. A
presença do PCB na cultura brasileira é um fato que aponta neste sentido. No
final do século XX e parte do século XXI, o PT continuou a construção da
esquerda como Príncipe moderno como avesso da hegemonia comunista, ou seja,
como hegemonia da revolução populista patrimonialista: Príncipe patrimonial
populista! Tal fato é útil para a periodização da cultura política intelectual
no Brasil? A hegemonia da esquerda é uma linha de força histórica que existe
(existiu) como um contraponto à cultura política intelectual molecular e
oligárquica da classe dominante/dirigente brasileira. Com o fim da hegemonia da
esquerda mergulhamos no buraco negro hegemônico? Talvez a emergência do Príncipe
Simbólico como significante-ersatz do príncipe eletrônico aponte par um outro
caminho. A televisão é o suporte-significante do Príncipe simbólico. Ele é a
articulação da classe simbólica (classe que detém o monopólio da interpretação
da realidade) como Príncipe (partido político simbólico) na cultura política intelectual
eletrônica. Assim no Brasil, o lugar vazio da hegemonia de esquerda é
preenchido pela televisão como cultura política intelectual eletrônica. Hoje,
uma corporação capitalista simbólica parece ocupar este lugar: o Grupo Globo!
PARÚSIA/SPALTUNG HISTÓRICA
A revolução populista
pós-modernista precisa ser acompanhada também como revolução molecular em São
Paulo. O populismo bárbaro do PSDB está produzindo rupturas simbólicas dos
intelectuais orgânicos do partido com o PSDB paulista. Seria o caso do cientista
político da USP José Alvares Moisés e do economista Samuel Pessoa da FGV/SP.
Formadores da opinião pública da classe simbólica, Moisés e Pessoa parecem ter
clareza da evolução da crise brasileira. Pessoa começa a pensar em um futuro
ajuste econômico que vai abalar o ser social do país. Agora é a hora e
economistas, sociólogos (Bolívar Lamounier) e cientistas políticos (cujo
cérebro foi liberado das ideologias brasileiras partidárias) simbolizarem sobre
uma cisão (SPALTUNG) na Republica Democrática existente de 1988. Eles podem
atrair FHC, Francisco Weffort e Wanderley Guilherme dos Santos (em franca
ruptura com o PT) para este processo de simbolização. A hora dos juízes do STF
se erguerem em prol de um projeto democrático nacional-popular bate á porta da
comunidade jurídica brasileira. O presidente do Senado Renan Calheiros condensa
a PARÚSIA (às avessas) que é o mais brilhante e iluminado símbolo da SPALTUNG
histórica da política mundial; "Vi também outro Anjo que subia do Oriente
com o selo do Deus vivo. Esse gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam
sido encarregados de fazer o mal à terra e ao mar. 'Não danifiqueis a terra, o
mar, e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso
Deus". Como é o avesso da Parúsia, Renan e o PT lulista começaram marcando
a fronte dos que não são servos do Deus às avessas: as tribos do Xingu!
DELFIM NETTO: URSTAAT CAPITALISTA
Mário Sérgio Conti entrevistou
Delfim Netto na Globo News. Um espaço jornalístico ideológico deu passo um
importante para se tornar um espaço público procedural? Trata-se do espaço
intelectual onde a ideologia não exerce seu poder coercitivo não-violento. Os
intelectuais exercem seu direito de interpretação livremente sem coerção
ideológica ou do poder político. Vamos ao que interessa!
Delfim propõe, inconscientemente,
a abertura de uma Assembleia Nacional Constituinte. O quadro global de relações
de força que definiu a constituição de 1988 é finito. Delfim é o maio
intelectual orgânico do capital no Brasil. Ele é o maior pensador da direita
brasileira. Assim, não é surpreendente que ele defenda o projeto abjeto de
Renan Calheiros/Joaquim Levy. A Constituição de 1988 pode ser vista como uma Constituição
que estabeleceu uma longa conjuntura política na qual os direitos sociais (do
proletariado, em geral, e de grupos socais com um sindicalismo forte e bem
organizado) se empoderaram do Estado brasileiro. A era Lula ampliou o quadro
dos direitos sociais com a política benevolente para os pés-descalços e
descamisados (Bolsa-Família, por exemplo). A Constituição de 1988 precisa ser
entendida pela sua base real. Trata-se da República pombalina de Itamar Franco.
Esta fez do direito social a base de um simulacro de simulação de um Estado
liberal-democrático. No Brasil, a universidade falava de um Estado
social-democrático: pura ilusão ideológica de esquerda.
A crise econômica brasileira
transformou tal ideologia em poeira cósmica. Delfim diz – com uma certa dose
razão – que a Constituição de 1988 é a articulação do Brasil pela injustiça.
Trata-se de uma estruturação do mundo onde os amigos do poder nacional são
beneficiados em seus interesses egoísticos (uma minoria organizada) e a maioria
torna-se o Outro a ser tratado sem benevolência oligárquica. Isto é a velha
estruturação do país pela significante injustiça oligárquica-totalitária
colonial. Mas Delfim quer que o mundo brasileiro seja estruturado pela
injustiça capitalista do engenho em uma nova forma. Tal fenômeno significa a
destruição das tribos do Xingu e da floresta Amazônica pelo capitalismo de
commodities da oligarquia rural capitalista amazônica empoderada pelo
capitalismo monopolista internacional. Delfim sempre foi um quínico (cínico in re
ipsa). A proposta dele de uma nova Assembleia nacional Constituinte aponta para
uma ruptura radical (Spaltung histórica) com a República pombalina de Itamar
Franco. Delfim sempre achou Itamar um aborto político! A nova política que está
sendo costurada pelo PT/PMDB/Dilma/Lula/Renan quer estabelecer um quadro de relações
de forças como já dado. No entanto, um outro quadro de forças (o da
Constituição de 1988) começa a indicar que os agentes do liberalismo pombalino
querem transformar tal simulacro de simulação liberalismo em um liberalismo
político real. A comunidade jurídica determinar que o governo mude seu conceito
de prisão-campo de concentração é o primeiro sintoma de tal fenômeno. A direita
oligárquica capitalista (em aliança com o PT) caminha para a ruptura com a
democracia atual. O quadro global de forças atual não permite a convocação de
uma Assembleia Nacional Constituinte. Ele é equivalente ao equilíbrio de forças
do fenômeno político empate dos povos da floresta: “À frente, Marina Silva,
liderando um empate na fazenda Bordon, em Xapuri no Acre”. Portanto, a conclusão
lógica é a seguinte. Delfim está tendo uma recaída totalitária militarista e
propondo uma SPALTUNG para instalar uma forma de Urstaat civil capitalista a
brasileira cujo contorno pode ser visto no detalhe da Câmara ter aprovado uma
lei terrorista (bancada da bala com a ajuda do PT) para as massas urbanas
contra a ordem. As massas urbanas que são massas disponíveis do poder político
do Urstaat ficam protegidas da lei terrorista. Isto é a forma do direito
oligárquico-totalitário brasileiro: “tudo para os amigos do poder, a lei para
os inimigos! Delfim Netto que foi o principal formulador do Urstaat militar,
agora está se transformando (sendo empossado) como o grande interprete do novo
Urstaat civil capitalista que nasce das entranhas do populismo capitalista pós-moderno.
Ele é agora o intelectual orgânico de um projeto (lógica do fantasma do futuro)
em conceituação: Urstaat capitalista totalitário brasileiro do século XXI!
Condensado na biografia atual da família Marinho, o Príncipe Simbólico é uma
realidade complexa. Ele é um contrasignificante de uma região da física da
história: a região hipermarxista. Trata-se de uma realidade materialista e
dialética como unidade de múltiplas (contradições) determinações econômica,
política, cultura e técnica pós-moderna. Tal príncipe existe na cultural
política intelectual eletrônica e na web. As contradições da classe simbólica
mundial é a sua realidade do real!
FAUSTO/GOETHE/JPB
“Brasília - Após se reunir por
mais de três horas com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou uma nova versão da agenda anticrise
que havia apresentado na segunda-feira”.
A “Agenda Brasil” é o nome do
plano de Renan Calheiros que firma o pacto entre Dilma Rousseff e Renan. O PCPT
já mostrou que Eduardo Cunha é o lobo com face humana, ou seja, uma máquina de
guerra oligárquica do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma máquina mundana
com face evangélica. E quem (o quê) é Renan Calheiros? Antes da cultura
eletrônica ser seduzida pelo Pacto Renan/Dilma/Lula, ela disse que Renan
controla o TCU. Como o PCPT já tinha dito, nem o TCU ou o TSE são órgãos cuja
decisão é determinada pela técnica jurídica. Esta serve para legitimar - no
jogo destes micropoderes jurídicos-políticos com o Congresso e a cultura
eletrônica - uma decisão que é, em primeira instância, política. Congresso e
cultura eletrônica fazem de conta que se trata de uma decisão técnica. Tal
interpretação da cultura eletrônica para as massas é fundamental para o golpe
de Estado pombalino . Mas quem é Renan?
Renan não é uma simples máquina
de guerra mundana. Só sua história biográfica pode revelar como um ser humano
foi transformado - pela junção de culturas políticas totalitárias - em uma
máquina de guerra bíblica (MGB). Trata-se da MGB do Fausto de Goethe:
Mefistófeles. Para se entender tal fenômeno histórico é preciso recorrer à
leitura da episteme romântica alemã. Goethe faz uma síntese de tal episteme no
seu Fausto. A Dedicatória tem a conceituação da episteme que a tradução
portuguesa de Alberto Maximiliano conserva em sua prosa-poética.
A episteme romântica filosofa
sobre a articulações do presente pelo passado: “E o passado renasce, vivo,
terrificante”. A posição metafórica dos adjetivos teria que ser conferida na
língua alemã. Mas o fundamental é que o passado renasce e articula o presente
como um fenômeno sedutor. Parece que o Príncipe simbólico capitalista se deixou
fascinar pela lógica sedutora do fantasma do passado. O passado é “sombras
vaporosas”, sonho, brumas, lendas. Ou seja, ele é: “A saudade me assalta em
tudo que é passado”. Ainda não está claro o que é o passado? O passado é um
fantasma, a lógica do fantasma do passado que liga o presente às lendas, ao
mito. Ele desce do espaço mitológico (a história mitológica é a história da
cultura política da sedução) para a terra quando; “Meus cantos de agora já não
são amados por aqueles que outrora os ouviam, fascinados; perderam-se os sons
tão bons e tão queridos. Já bem longe se vão seus ecos antigos. Os cânticos do
presente se tornaram uma ideologia petista oca de significações! Meus cânticos
de hoje é o que quer toda a gente” Estes cânticos de hoje são os cânticos da
lógica do fantasma do passado que renasce, vivo, terrificante. Cânticos que não
são humanos, cânticos que afastam o sujeito (intersubjetividade) da realidade
atual dele. O passado sempre é vivido pelo sujeito com um mundo idílico –
utopia regressiva – perdido naquele mundo brando e espiritual, tão amado. Mas
quando ele se torna presente, ele é terrificante, ele é a realidade grotesca do
terror. A agenda Brasil é exatamente isto para as tribos do Xingu: realidade
terrorista. Um poder terrorista grotesco que vai reduzi-los a pó.
Renan é Mefistófeles, pois ele
condensa biograficamente tal poder terrorista grotesco na presidência do
Congresso nacional!
“Mefistófeles – Sou parcela do
Além, Força que cria o mal e também faz o bem!”.
Sendo Mefistófeles, Renan é uma
máquina de guerra bíblica! A Agenda Brasil vai gerar o mal (a violência sagrada
do Urstaat sobre a população, especialmente sobre os índios) e vai fazer o bem
para o capitalismo de commodities metamorfoseado pelo capitalismo monopolista
internacional de Estado. Dilma para ficar no poder nacional (e o PT/lulista
também) vendeu a alma ao diabo! Esta é a terceira metamorfose da alma petista
no poder político nacional. O passado grotesco terrificante é a Spaltung
histórica do presente, a quebra do mundo! Virgem Maria, nos acuda!
O OUTONO DO PATRIARCA
BRASÍLIA- Em café da manhã neste
sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a atuação da
presidente Dilma Rousseff, durante a semana, para conter a crise. Lula e Dilma
se reuniram no Palácio da Alvorada, na véspera das manifestações contra o
governo, para definir a estratégia de enfrentamento das turbulências no cenário
político e econômico.
Na avaliação do ex-presidente, o
movimento pela desestabilização do governo começa a arrefecer porque Dilma saiu
do gabinete no Palácio do Planalto, defendeu sua gestão e conseguiu mobilizar o
Senado, movimentos sociais e até empresários contra o impeachment.
Além disso, o Planalto ganhou
tempo no Tribunal de Contas da União (TCU), que analisa o balanço do governo de
2014, e obteve vitórias, ainda que não definitivas, no Supremo Tribunal Federal
(STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).”
O PCPT já mostrou que a biografia
de Luís Inácio Lula da Silva é o epicentro da crise política. Há uma diferença
elementar entre Lula e FHC. Fernando Henrique Cardoso deu o passo normal para
fazer política nos bastidores. Ele se tornou o intelectual hegemônico que tem
orientado a política do PSDB até este partido ser possuído pelo populismo
pós-moderno de uma nova geração de políticos paulistas e se fragmentado na
cúpula pela disputa do poder partidário entre Aécio Cunha, Geraldo Alkmin e
José Serra. As contradições do PSDB não são uma coisa celestial do espaço/tempo
político! Mudando a direção do olhar, chegamos ao PMDB. Tal partido está
dilacerado por uma divisão entre Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Michel Temer.
Tal divisão se materializa como contradição palpável no aparelho de Estado
entre a Câmara dos Deputados e o Senado. Eduardo Cunha é o presidente da Câmara
e Renan do Senado. Há uma disputa entre eles pelo controle do partido e pela
sobrevivência política e pessoal. A Operação Lava-Jato apanhou estes dois
peixes graúdos (significantes políticos) na rede e eles se debatem para escapar
da rede do poder judiciário. Para isso usam o poder da Câmara e do Senado.
Enquanto Cunha ataca a presidente para que ela interfira na investigação da
Procuradoria Geral da República, Renan se alia com o governo com o obsceno pacote
Agenda Brasil. Em suma, o PMDB é um partido estraçalhado por contradições
políticas e biográficas pessoais, pois se Renan é o Príncipe das trevas, Cunha
é o nosso Ricardo III: Príncipe Infame.
A crise brasileira é a causa da
crise do PSDB e do PMDB. E o PT? A crise não fragmentou em pedaços
contraditórios o Partido dos Trabalhadores. A estrutura do aparato partidário
continua monolítica. Como mostra a fala de Lula supracitada, ele canta o samba de
Paulo Vanzoline: “Reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira,
dá a volta por cima. O PPT não se fragmentou por ser um artefato de duas
culturas políticas totalitárias: o populismo lulo-getulista e o populismo
stalinista. Trata-se de um partido cuja estrutura totalitária impede que as
contradições da crise brasileira dividam o aparato em mil pedaços. As chamadas
frações (tendências) petistas são um faz de conta de democracia partidária.
Tarso Genro é o maior sintoma deste simulacro de simulação de democracia
petista. Ele prega a refundação do partido para ouvidos petistas moucos. O PT
está agora envolvido Com Renan, a Bancada da Bala e Delfim Netto na produção de
um Spaltung (quebra do mundo brasileiro) que articulara Ex nihilo nihil fit o Urstaat capitalista pós-moderno como solução
para a crise global da América Latina. Lula surge como o master carismático
deste Urstaat. Mas ele não sabe nada sobre isso. O guarda vermelho da Revolução
Cultural chinesa Jair Sá, me disse na década de 1980 que Lula não conseguiu
passar da 15°página do livro “História da Riqueza do Homem”, de Leo Huberman.
Trata-se de um livro feito para adolescentes de 13 anos! Esta é a idade
intelectual de Lula. O Príncipe do sertão é fruto de uma cultura política oral
pós-moderna que apendeu a manipular a cultura intelectual eletrônica (CPE). Ele
usa a interpretação da CPE da realidade para as massas para estender seu
domínio carismático sobre estas massas. A CPE sempre adorou o jogo de cabra
cega com Lula! Ele é um sertanejo ladino que engana a CPE desde a “Carta aos
Brasileiros”, que foi o trampolim para o Príncipe sertanejo tomar o poder
nacional até os últimos dias de sua vida. Somos companheiros no câncer, e
provavelmente será esta praga biológica do século XXI que encerrará sua vida
política vitoriosa. Isso pode acontecer daqui a 20 anos. Assim, é melhor adotar
nas escolas brasileiras o livro do amigo de Fidel Castro e Lula, “O Outono do
Patriarca”. Só espero que os leitores não recebam esta postagem como um texto pós-modernista
de literatura fantástica latino-americana!
PRÍNCIPE PHILOSOPHÍA
"O que é isto – a
filosofia”/Heidegger.
Para um grupo de professores de
filosofia do Rio Grande do Sul só se deve discutir Heidegger em alemão. Me
rebelando contra tal coerção de violência linguística, ouso ler Heidegger como
um filósofo onde encontra o contraconceito de história da cultura política intelectual
em um contraponto à história intelectual em si. Livros (textos) podem ser
apenas livros. E podem seer forças armadas: exército, marinha e aeronáutica. Eles
podem ser máquinas de guerra de pensamento! Os livros que são forças armadas
constituem a história da cultura política intelectual. Trata-se da junção da
cultura intelectual com a cultura política articuladora da política em si. Tal
junção tem um nome original historial, isto é, um futuro historial, um caminho:
“Ele conduz da existência própria ao mundo grego até nós, quando não para além
de nós mesmos”. Este caminho é o caminho do Príncipe philosophía que nasce na
cultura política intelectual grega. “Mas a essência originariamente grega da
filosofia é dirigida e dominada na época de sua vigência na Modernidade
Europeia, por representações do cristianismo. A hegemonia destas representações
é mediada pela Idade Média. Entretanto, não se pode dizer que a filosofia se
tornou cristã”. O Príncipe philosophía articula-se como hegemonia simbólica
(representação =significante) na modernidade através da cultura política
cristã. “A frase: a filosofia é grega em sua essência, não diz outra coisa que:
o Ocidente e a Europa, e somente eles são, na marcha mais íntima de sua
história originariamente ‘filosóficos’. Isto é atestado pelo surto e domínio
das ciências. Pelo fato de elas brotarem da marcha mais íntima da história
ocidental-europeia, o que vale dizer do processo da filosofia, são elas capazes
de marcar hoje, com seu cunho específico, a história da humanidade pelo orbe
terrestre”. O Príncipe philosophía é a hegemonia da Europa sobre a história mundial.
Isto responde e a questão: o que é o Príncipe?
“Consideremos por um momento o
que significa o fato de caracterizarmos uma era da história humana de ‘era
atômica’. A energia atômica descoberta e liberada pelas ciências é representada
como aquele poder que deve determinar a marcha da história. Entretanto, a
ciência nunca existiria se a filosofia não a tivesse precedido e antecipado”. A
cultura política intelectual europeia articulava o poder atômico que definia o
caminho da história no século XX. O caminho traçado pelos gregos como Príncipe
philosophía (hegemonia simbólica que articula a cultura política atômica e, por
meios tortos, a política em si) é o caminho da correspondência ao ser do ente?
O corresponder ao ser do ente é a filosofia. O espanto sobre o ente e sobre o
fato de ele ser e de que seja é pathos, a arkhé da filosofia. Páthos não é
paixão, turbilhão afetivo. “Páthos remonta a páskhein, sofrer, aguentar,
suportar, tolerar, deixar-se levar por, deixar-se con-vocar. Páthos é
dis-posição (dis-position) uma tonalidade de humor que nos harmoniza e nos
com-voca por um apelo”. Assim, o espanto é a dis-posição na qual e para a qual
o ser do ente se abre. “O espanto é a dis-posição em meio à qual estava garantida
para os filósofos gregos a correspondência ao ser do ente!”. O pensamento como
co-respondência está a serviço da linguagem. Assim, “devemos entrar em diálogo
com a experiência grega da linguagem como lógos. Por quê? Porque nós, sem uma
suficiente reflexão sobre a linguagem, jamais saberemos verdadeiramente o que é
a filosofia como a co-repondência acima assinalada (ao ser do ente), o que ela
é como uma privilegiada maneira de dizer”.
Buscar no filosofar o fim da
filosofia é um caminho ao ser do ente? Outro caminho é o historial, o caminho
da história da cultura política intelectual. Quando a filosofia deixou de
ex-istir como Príncipe philosophía, a filosofia como episteme quebrou. Ela deixou de ser competente, hábil enquanto
competência theoretiké, que é capaz de theorein, isto é, olhar para algo e
envolver e fixar com o olhar aquilo que perscruta: o ser do ente. A filosofia é
epistéme theoretiké. “A filosofia é uma espécie de competência capaz de
perscrutar o ente, a saber, sob o ponto de visa do que ele é, enquanto é ente”.
Tal episteme torna-se episteme política no significante Príncipe philosophía
que só existe como significante da cultura política ocidental e europeia. No
entanto, Lacan com Gramsci estabeleceram na física da história o contraconceito
bloco histórico epistêmico mundial. Parece que há coisas entre o céu e a terra
que escapam à filosofia. A história do século XX é a desintegração da hegemonia
política europeia na política mundial e da hegemonia simbólica do Príncipe
philosophía na cultura política intelectual mundial. Falando em português
claro, a episteme filosófica já organizou e articulou blocos históricos.
Gramsci mostrou a existência de um deles na história da Itália. A crise do
século XXI não é essencialmente a crise do bloco histórico epistêmico
ocidental?
AS MASSAS DE 16 de AGOSTO/2015
A análise hipermarxista no PCPT
mostrou que as massas periodizam a política. As massas do 16 de Agosto fizeram
a ligação entre Lula e a crise política. Elas creem que a derrubada do governo
Dilma Rousseff é o caminho mais curto para dar um fim no domínio petista sobre
a política brasileira. Elas querem o fim imediato da Era lula.
As massas de agosto já produziram
efeitos palpáveis sobre a política. Ontem, O Grupo Globo (Príncipe simbólico
capitalista) fez uma programação vergonhosa (estrategicamente antijornalística)
para defender o status quo. Ficou claro a participação dele no bloco político
formal realmente existente capitaneado por Renan Calheiros, Lula, Dilma e Rodrigo
Janot, o Procurador Geral. A Procuradoria Geral da República pode implodir
Eduardo Cunha se ele continuar seu agir em direção ao impeachment? O Bloco
político quer a submissão integral de Cunha ao governo. Em 17 de agosto, o Príncipe
simbólico capitalista mudou de posição e passou a retratar o movimento de
massas de ontem com um realismo jornalístico destacando a participação do PSDB
na manifestação. Junto com as massas, o Grupo Globo pode reverter a
fragmentação do PSDB e do PMDB? As massas podem consolidar o poder de Eduardo
Cunha no PMDB, pois ele tem 70% do partido sob seu comando. As massas podem
isolar Renan Calheiros provocando o deslocamento de Michel Temer para a
conspiração do impeachment. A hora do mordomo de Dilma se tornar o patrão e assaltar
a presidência se aproxima. As massas de agosto significam a reversão do quadro
global de forças partidárias. Elas são a causa (isto é uma linha de força
histórica que pode se materializar ou não) da constituição de um bloco político
em conceituação formal que será o suporte de UM GOVERNO de SALVAÇÃO NACIONAL,
capitaneado pelo PMDB/PSDB. Como o PMDB não tem estofo no estamento intelectual
econômico, o PSDB assumiria a direção do aparelho econômico de Estado. Claro
que todos os partidos que contam para fazer a maioria no Congresso seriam
cooptados para este GOVERNO DE SALVAÇÃO NACIONAL. Isto é apenas uma conclusão
lógica natural.
Lula, o PT e Renan iram para a
oposição esperando 2018? Renan é Mefistófeles que deixa de governar o inferno
de onde extrai seu poder? Ou ele vai negociar o domínio absoluto da Floresta
Amazônica e a destruição do Xingu pelo capitalismo de Commodities + capitalismo
monopolista internacional de Estado – com o novo bloco político formal - para
jogar o PT no inferno da oposição? Hoje, ele é o chefe de fato do bloco
político oligarquia rural capitalista. Renan é o Príncipe das trevas que vai
fazer uma aliança com o nosso Ricardo III, o Príncipe infame Eduardo Cunha para
manter uma parte da fatia do poder no PMDB.
O PT irá para a oposição
desossado, sem articulação política baseada em hegemonia. Ele agora aparece
como uma máquina de guerra totalitária que levou o pais para o fundo do poço. Mas
ele ainda tem Lula em 2018, pois Janot jogou seu manto protetor sobre Lula. O Príncipe
do sertão não desiste e nem recua. Ele foi educado pela escola do sindicalismo
do ABC e pela cultura populista totalitário-oligárquica do SERTÃO DE PERNABUCO:
cabra macho! O bloco político formal que vai assumir o poder nacional não terá
compaixão com Luís Inácio Lula da Silva, pois as massas de agosto querem a
cabeça dele em uma bandeja de prata, ou melhor, o querem no cárcere. Assim Lula
poderá reescreve o “Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos. É claro que ele
usará um Ghostwriter: um fantasma escritor!
PRÍNCIPE SIMBÓLICO ELETRÔNICO E DA WEB
O Príncipe simbólico é o partido
político na cultura política eletrônica ou na web. O Grupo Globo é uma espécie
de unidade entre teoria e prática eletrônicos capitalista. Uma corporação da
indústria cultural existe como um partido político no plano da cultura política
intelectual eletrônica. Trata-se de um partido pela sua estrutura e lógica de
funcionamento que se protege naturalmente pelo grau de complexidade da relação
dele com a política em si e com o público no mundo-da-vida. Elegemos o PCPT
como um partido simbólico da web para termos régua e compasso para investigar o
partido simbólico eletrônico. Primeiro, o PSC (partido simbólico capitalista)
interpreta a realidade para as massas. Althusser diz que tal partido produz uma
“explicação” de massa da história. Trata-se de um erro crasso. Tal partido
explica a realidade a-histórica. Na cultura política intelectual eletrônica,
entre a história real e as massas tem sempre um écran, uma separação: uma
ideologia de classe da realidade a-histórica, uma filosofia de classe como
interpretação da realidade a-histórica a qual as massas humanas creem
“espontaneamente”. Se a filosofia é a luta de classes na teoria, então ela
depende em última instância da política, ela é, como filosofia, efeitos
políticos na prática política (da elite) e das massas. Se ela é luta de classes
na teoria, ela define o tipo de união teoria/prática. Tal concepção da
filosofia pode ser traduzida como a filosofia sendo um tipo ideal do
funcionamento da cultura política intelectual, pois a filosofia é o Príncipe
philosophía: partido político simbólico. Assim, o Grupo Globo é a superposição
de uma corporação capitalista e de um partido político simbólico eletrônico:
tipo de unidade teoria/prática. Na estrutura partidária, há uma distribuição de
funções (divisão do trabalho simbólico) similares a de um partido político. O
papel do "explicador" (interprete) não é o mesmo papel do repórter ou
do apresentador dos telejornais. Ele é parte da direção do partido ao lado dos
editores, diretores e dos proprietários. Mas ao mesmo tempo, ele é o militante
que põe em prática a linha político-simbólica do partido. Sua função
intelectual condensa a função do teórico com o do propagandista e do agitador!
O Príncipe simbólico capitalista possui uma estratificação das funções
intelectuais e funciona através de uma hierarquia flexível similar à da empresa
capitalista pós-moderna. No topo encontram-se os criadores da linha
político-ideológica (dirigentes), no estrato intermediário os funcionários
(quadros intermediários) do aparelho cultural e no estrato inferior os
militantes de base. A relação com o público deve ser compreendida pela teoria
da comunicação. As massas-público abstratas metabolizam as mensagens e as
reinterpretam. Não são receptores passivos. As multidões políticas (massas
concretas) na rua fazem a sua própria leitura da realidade a partir dos
materiais que a cultura política jornalística (eletrônica, papel, rádio)
despejam sobre elas. A leitura das multidões concretas pode alterar a linha
política do Príncipe eletrônico (PSC).
O PCPT está se constituindo como
um partido simbólico da web. Enquanto o Grupo Globo é um partido simbólico
capitalista (PSC), uma instituição privada, o PCPT é uma instituição pública. O
PSC secreta a ideologia dominante como cultura política intelectual eletrônica.
Ele interpreta a realidade para as massas como “explicação” de massa. Ele
produz um saber sem história a serviço da dominação do capitalismo do engenho.
Mas ele está sujeito a luta de classes das classes e frações dominantes e da
pequena-burguesia tradicional ou nova. Portanto, ele não é monolítico ou uma
fortaleza inexpugnável. E é vulnerável à luta das multidões concretas.
Mas ele é o resultado de um
processo sem sujeito? Althusser concebeu a história como um processo sem
sujeito, um processo no qual as massas fazem a história cujo motor é a luta de
classes. A foraclusão do sujeito na história (e na realidade) é um tema
polêmico na cultura política intelectual marxista e além. Lacan pensa que o
sujeito é fundamental para a leitura da história: “Por exemplo, os produtos a
cuja qualidade, na perspectiva marxista da mais-valia, os produtores, mais do
que ao patrão, poderiam pedir contas da exploração que sofrem. Quando se
reconhecer o tipo de mais-de-gozar que leva a dizer “isto é alguém”, estaremos
no caminho de um material dialético talvez mais ativo do que a carne do
Partido, empregada como baby-sitter da história (Lacan. Outros Escritos. Jorge
Zahar Editor: 413). A classe dirigente simbólica oferece sua interpretação para
as massas na medida em que estas estão separadas da história por uma ilusão do
conhecer a história. Quem faz a interpretação? O intelectual orgânico coletivo
do Grupo Globo. Isto é alguém! Não se trata de um objeto, mas de um sujeito que
pensa, senti, se apaixona (odeia quem desmascara sua natureza de Príncipe
simbólico capitalista) por sua interpretação da realidade para as massas. Mas o
PSC não interpreta a história para as massas. Sua explicação de massa foraclui
o passado, a tradição rearticulada no presente. Ao contrário, o PCPT interpreta
a realidade histórica. Como instituição pública, o PCPT defende (não os
interesses econômicos, políticos e culturais da classe dominante) interesses
ecológicos como o Xingu, as tribos do Xingu e a Floresta Amazônica. Defende
também na atual conjuntura uma revolução democrática-nacional. A NAÇÃO
brasileira só existe como republica oligárquica do engenho de cana-de-açúcar na
sua versão atual de capitalismo do engenho pombalino: nação do engenho! A
ideologia do PSC é a defesa disso! Trata-se, portanto, de dar início a uma
revolução cujo projeto é a construção da NAÇÃO como realidade real, não como
uma realidade nacional articulada como simulacro de simulação. A linguagem do
PSC é a-histórica, e o PCPT serve a uma linguagem histórica. Tal linguagem é a
linguagem da física da história que se desenvolve como língua portuguesa
apoderando-se do mundo brasileiro, usando-o para se desenvolver.
HABERMAS E A CRISE BRASILEIRA
A cultura intelectual se
caracteriza por produzir ideologia inorgânica. A cultura política intelectual
por produzir um pensamento que articula ideologia orgânica. Ao contrário da
primeira, a ideologia orgânica organiza e articula a realidade social. Isto é
fundamental para nós, pois a crise brasileira é a superposição da crise da
realidade econômica com a crise da realidade política. A fórmula epistêmica de
Lênin (“a política no comado da economia”) é uma fórmula para se compreender a
história em si. Trata-se da história conjuntural na qual a política
sobredetermina a economia. Trata-se da episteme histórica contraeconomicista.
Isto significa que não é possível solucionar a crise da realidade econômica sem
solucionar primeiro a crise da realidade política.
Habermas é o maior pensador
eclético (transdisciplinar) da segunda metade do século XX. Na fase atual da
construção da hegemonia simbólica no Brasil, a filosofia bebe na hermenêutica
heideggeriana e, portanto, Habermas pode fazer parte do novo bloco histórico
epistêmico que desponta na cultura política intelectual mundial latente como
lógica do fantasma do futuro. Trata-se de uma convergência de linhas de forças
históricas que podem ou não se condensar em uma cultura política intelectual
brasileira. Na sociologia política da física da história, a classe dominante e
a classe dirigente (política ou simbólica) constituem o terreno geoistórico da
construção de tal bloco histórico epistêmico.
Habermas defende que a razão
moderna é superior às visões de mundo mitopoéica e religiosa-metafísica. O
pensamento moderno é superior ao pensamento mítico. Por quê? Na história da
espécie humana – como evolução social – as sociedades modernas precisam do
pensamento moderno para solucionar seus problemas, principalmente os problemas
críticos, ou seja, solucionar as crises da realidade, ou melhor, a realidade em
crise. Habermas admite que tais soluções são históricas, isto é, elas ocorrem
na história contingente. Lênin elaborou a teoria/prática da história
contingente, história em si. Trata-se do contraconceito de conjuntura. A crise
pode ser estrutural ou contingente, mas a solução dela é conjuntural. Isto
define a periodização da conjuntura e a distinção entre conjuntura econômica e
conjuntura política. A conjuntura pode ser curta ou longa. Uma conjuntura
política longa pode significar a desintegração do significante: república,
monarquia, nação, país, ordem sócio-política. Tal discussão só se resolve com a
investigação da história em si.
Habermas acredita que a ação
comunicativa é a melhor forma do agir para resolver a crise política. A ação
comunicativa na política ocorre quando os agentes políticos procuram
expressamente (no espaço público procedimental através do discurso
argumentativo, onde o melhor argumento torna-se hegemônico) chegar a um acordo
voluntário (Verständigung) de modo a poder cooperar. FHC propôs a renúncia
habermasiana de Dilma Rousseff abrindo espaço para um Governo de Salvação
Nacional? FHC é um herdeiro e fundador da sociologia humanista uspiana. Ele é
humano, demasiadamente humano? Se os partidos brasileiros (PT/PMDB/PSDB) fossem
partidos políticos, partidos que funcionassem pela lógica do HOMEM, ele poderia
esperar que seu apelo racional moderno à classe dirigente (política e
simbólica) se materializasse. Como ele não consegue metabolizar e simbolizar a
linguagem da realidade do real (linguagem da física da história), FHC não sabe
que sabe que está lidando com partidos-máquinas de guerra freudianas. Estas são
agenciadas pela lógica da ação estratégica. Trata-se de uma agir no qual os
agentes podem forçar outros a contribuir para a sua meta emitindo ordens,
ameaças, mentiras, chantagem, capturando reféns, e outras proposições
manipulativas que servem para manietar o outro, o Outro.
Habermas apela para a consciência
histórica articulada pela razão moderna como o modo de agir mais eficaz
(competente) para resolver a crise da realidade política. Em Platão, a ideia de
que o agir é algo que implica uma articulação da razão e do inconsciente
político faz o conceito de agir comunicativo aparecer como algo ingênuo e puro
idealismo da ideologia alemã. A materialidade do inconsciente político remete
para as relações de poder em uma polis mundial, e o poder é a linguagem da
classe política, e na era do Príncipe simbólico capitalista também da classe
simbólica. Não se trata meramente da razão instrumental articulando a realidade
política, que transforma a política de uma relação entre indivíduos (pessoas)
em uma relação objetificante, isto é, uma relação entre coisas (objekt). As
redes de coisas na política encontram um fundamento (como lógica do sentido) na
cultura política do dinheiro. Elas funcionam no mínimo por uma lógica
utilitarista prosaica ou, então, vulgar na baixa cultura política intelectual
materialista. A cultura política intelectual eletrônica metaboliza a baixa
cultura materialista e a usa para retratar cotidianamente os políticos como
indivíduos mesquinhos, egoístas, interesseiros, tristes, feios e vulgares
enquanto cria a imagem do estamento intelectual eletrônico (jornalistas,
artistas, compositores e músicos) como desinteressado, alegre, altruísta, belo,
flâneur no miserável mundo-da-vida- narcísico carioca - e nobre. No entanto, o
tipo ideal da cultura jornalística brasileira continua sendo Assis
Chateaubriand , o famigerado Chatô! Este foi o mais vulgar jornalista
(chantôngista) proprietário dos Diários Associados que dominou a cultura
política jornalística pré-Grupo Globo. O Príncipe Simbólico capitalista detém o
monopólio da energia narcísica do modo de produção, distribuição e circulação
da riqueza narcísica mítica nacional. Até agora!
Sobredeterminante na solução da
crise da realidade política, o Príncipe simbólico capitalista é um vasto, intrincado,
confuso, contraditório, inconsistente e complexo conjunto de redes de poder
(econômica/política/cultura/) articulado ao inconsciente político mundial
capitalista. Se os senadores e deputados nacionais tem nas mãos a solução da
crise da realidade política, o agir deles é uma condensação de racionalidade
moderna com lógicas do inconsciente político mundial capitalista. Claro que FHC
parece trabalhar com conceitos lunares, não com contraconceitos terrenos. Mas
inegavelmente, ele deseja uma solução racional para a crise da realidade
brasileira em um deserto do real habitado por máquinas de guerra partidárias em
si e simbólicas; as pretensões à sinceridade e autenticidade pertencem ao mundo
pessoal dos sentimentos e desejos. Se Dilma Rousseff confessar que errou, não
fornecerá o motivo palpável para o impeachment. Por que FHC se tornou a voz
razoável da política brasileira? Por que ele é inconscientemente leninista? A
ideologia (pensamento) de Habermas é orgânica ou inorgânica?
REVOLUÇÃO DO CAPITAL E DIALÉTICA.
Depois da Revolução Francesa, os
burgueses passaram a ter medo da própria sombra. Aí a sombra burguesa da
revolução se materializou como revolução proletária ou quase proletária. Mas o
capitalismo só se manteve por revolucionar a natureza burguesa conservadora das
forças produtivas e da sociedade burguesa. Com isto, a revolução do capital fez
com que a luta de classes deixasse de ser o centro da política mundial no final
do século XX. A fusão entre o capital e a ciência moderna criou outros tipos
sociais de burgueses, pois o capitalista é a personificação do capital. Mas a
coisa não parou nisso! A revolução capitalista no modo de produção
especificamente capitalista não é um simples fato econômico. Ela é uma resposta
a dialética materialista da luta de classes. Os efeitos da luta de classe na
teoria/prática podem ser estudados (Mao) no pensamento de Marx (e Engels). “O
Capital” é um livro que articula a teoria/prática capitalista como episteme
política capitalista. O PCPT ainda abordará profunda e intensamente tal tema.
Um axioma (a episteme política é
constituída por axiomas teórico-práticos) fundamental da episteme capitalista
moderna (Marx) é aquele que enuncia que o capitalismo havia unificado o planeta
homogeneizando-o. Tal axioma estruturalista é a base simbólica do totalitarismo
de Marx. O estruturalismo de Marx foi uma operação tática economicista que fez
do capital uma entidade (ser do ente) sem história em si (uma história
historial) - uma entidade econômica reduzida a uma história estruturalista que
começa com o capital mercantil na civilização arcaica. Trata-se do capital como
significante estruturalista que é o avesso do capital como significante
historial! O capital é dominação (máquina de guerra econômica), hegemonia
(Príncipe capitalista em si) e soberania econômica, política e cultural
mundial.
No século XIX, a história do
capital tem uma poderosa e intensa inscrição nas sociedades nacionais. Quando
Marx fez da Inglaterra o objeto ideal para o estudo do capital, ele recorreu a
ideia hegeliana da forma histórica mais desenvolvida. Isto significa que todos
os capitalismos nacionais deveriam buscar se construir segundo este modelo
abstrato do ponto de vista historial. Tal conceito de desenvolvimento histórico
é estruturalista/totalitário. Como o capital é uma relação social entre homens,
mulheres e crianças que são determinados teórico-praticamente pela lógica da
luta de classes, o contraconceito de mais-valia significa produção de riqueza
(excedente econômico e espiritual) apropriada pelo capital na luta de classes.
O seer social do capital moderno é dialético e materialista. Assim, o capital
faz sua revolução contra a própria burguesia, pois ele só pode existir e
continuar existindo revolucionando o modo de produção material e espiritual
especificamente capitalista. Quantas revoluções espirituais o capital fez desde
o século XIX? Antes disso, no século XVIII, o capital não se beneficiou da
Revolução da ilustração e da Revolução do Romantismo Alemão? Se Lukács
considera Nietzsche como um assalto à razão moderna, ele deixou passar (ele é
genial) que Nietzsche é a revolução do capital que liberou este mesmo capital
de sua forma espiritual e física liberal do século XIX. Nietzsche é a revolução
cultural do capital que coadunou o espírito objetivo do capital com o capital
em si para o desenvolvimento deste no século XX. As duas Grandes Guerras
Mundiais estão associadas a esta revolução do capital.
É claro e evidente que o capital
se revolucionou ao arrepio da própria burguesia europeia mais desenvolvida. Por
quê? Porque a história é materialização e condensação da filosofia dialética
(Platão) desde os gregos. Mas na modernidade do modo de produção
especificamente capitalista, a história se materializa e se condensa como
filosofia materialista e dialética.
No “A Ideologia Alemã”, Marx
escreve sobre o fim da filosofia em sua forma metafísica e contemplativa
transformada em ideologia à serviço da dominação da classe dominante, ou
melhor, do capital. O contraconceito essencial não é classe dominante, e sim o
capital. O capital é uma máquina de guerra econômico-espiritual=filosófica-política
(esta ideia está em estado prático em Celso Furtado) que ergue, destrói,
reconstrói a sociedade burguesa e o Estado.
Marx tinha uma certa razão em
dizer que o Estado era o comitê da burguesia? Se substituirmos burguesia por
capital, a fórmula torna-se uma fórmula matemática. Para o capital, o Estado
pode ser moderno-weberiano, pode ser o Estado hitlerista, pode ser o Urstaat
pós-moderno: repetição lúdica, diferente e sedutora da forma original do Estado
despótico-sagrado da civilização arcaica. Heidegger fez a releitura
revolucionária de Nietzsche não para o fascismo alemão. Ele a fez para a
revolução teórico-prática do capital na medida em que este fosse bloqueado em
sua existência e desenvolvimento (como seer social) pelas formas do próprio
capital do século XX. No século XXI, tal bloqueio significa a maior crise do
capitalismo mundial, pois trata-se, finalmente, do esgotamento e saturação da
episteme capitalista moderna (Marx). O capital para existir e continuar sua
reprodução econômica ampliada mundial depende da existência do bloco histórico
epistêmico capitalista mundial. Trata-se do tipo universal de teoria/prática do
capital moderno em crise. Hoje, não é possível pensar qualquer crise nacional
ou regional sem pensar a crise mundial de tal bloco histórico epistêmico
moderno.
O discurso da universidade
brasileira considera que a física da história é uma quimera ou um sonho de uma
noite do verão carioca ou amazônica! Um brasileiro usando a língua portuguesa
não é capaz de pensar o mundo como a alta intelectualidade europeia o faz. Tudo
bem! Por isso, o nosso estamento intelectual universitário ignorou o esforço
ciclópico que Celso Furtado fez para pensar, na década de 1970, a economia
política vinculada às culturas políticas de diferentes épocas e civilizações.
Ele facilmente teria chegado à conclusão que a história do Brasil moderno é a
história burguesa sem o capital em si, se tivesse se tornado o intelectual
hegemônico brasileiro Trata-se, com efeito, da história do simulacro de
simulação do capital. A economia política brasileira (e latino-americana) é um
simulacro de simulação da economia política do capital!
No Brasil, a universidade é a
principal força bloqueadora da transformação da cultura intelectual (cultura
livresca) em cultura política intelectual: cultura como fenômeno político! Esta
última é uma ideia clara em Lacan. Se hoje estamos mergulhados em uma crise
econômica brasileira abissal, isso não se deve apenas ao processo econômico
capitalista mundial do século XX: imperialismo. Se deve ao fato que o capital
em si no Brasil não é o significante/sujeito-espiritual central (ou periférico)
na nossa história. Por isso, o PCPT está a serviço da linguagem (física da
história) que é o espelho da revolução ecológica do capital mundial nos países
que não fazem parte do centro capitalista. O capital mundial ilustrado não quer
destruir a Floresta Amazônica! Qual máquina de guerra econômica (simulacro de
simulação do capital) quer destruir a Floresta?
A Revolução Cultural chinesa é a
experiência utópica-prática que vislumbrou a articulação de uma episteme
ecológica para além do capital e do Urstaat. Ela antecipou a ERA na qual a
filosofia dialética e materialista do capital (e do Urstaat pós-moderno) será
substituída pela dialética materialista da física da história na história
mundial.
Hic Rhodus, hic salta
Aqui está Rodes, salta aqui!
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