EPISTEME MODERNA DO CAPITAL
Ex nihilo nihil fit é uma
expressão latina que significa nada surge do nada. É uma expressão que indica
um princípio físico segundo o qual o ser não pode começar a existir a partir do
nada. Uma interpretação da física de Parmênides trata a ontologia (estudo sobre
o ser) como se referindo à uma lógica material, como se o discurso estivesse
compactado à experiência física. Há uma identidade entre SER, PENSAR E DIZER.
Para Marx, o capital moderno
(capital em si) articula-se ex nihilo nihil fit como uma entidade econômica.
Isto é um axioma axial da episteme do capital moderna. Seguindo Marx na
instituição de tal episteme, Weber estabelece que sociedade moderna é sinônimo
de sociedade capitalista ou sociedade do capital. Uma história ocidental
articula o capital moderno e é articulada por ele. Sem o bios theoretikos da
cultura política intelectual helênica, o capital moderno não existiria. Este é
articulado, na modernidade, por um processo de racionalização cultural (simbolização)
associada à duas cosmovisões: grega-helênica e judaico cristã. A junção delas
na cultura política intelectual da Idade Média desencadeou a racionalização
ética e cognitiva na modernidade. O capital faz a junção do bios theoretikos
com o agir instrumental definindo a esfera econômica separada das esferas
política e cultural. Isto é o resultado da revolução secular que configura uma
diferenciação das esferas de valor cognitivo, prático e estético. O processo de
simbolização-racionalização-secularização do mundo constituído como esferas
relativamente autônomas do seer social (economia, política, cultura, indivíduo)
se realiza na cultura política moderna. No domínio da cultura: arte, direito,
ciência, indivíduo e religião se constituem a partir de uma separação absoluta
entre eles. As ciências disciplinares modernas se constituem por uma autonomia
absoluta entre si. O indivíduo como uma substância moderna assume a forma do
homo sacer que é o objeto do domínio das psicologias individuais. O inconsciente
freudiano é parte deste domínio. Neste caminho epistêmico o seer social se
desintegra? Para Weber, o seer social se define pela identidade entre sociedade
moderna e sociedade capitalista. Em Marx, a lógica da mercadoria articula as
várias esferas separadas relativamente da sociedade moderna. Isto só é possível
graças à cultura política intelectual moderna subsumida à cultura política do
dinheiro. Para abreviar, a filosofia da modernidade é a filosofia do capital
moderno. Trata-se de uma filosofia material-espiritual que desencadeia um
processo de racionalização cultural, ou seja, um processo de
simbolização-secularização cujo motor é a lógica do capital na cultura política
intelectual moderna. A lógica do capital usa a lógica da mercadoria como uma
ideologia orgânico-racional que estrutura o mundo-da-vida, da arte, da família,
do indivíduo, da ciência. Isto está dito no texto de Marx “Manifesto do Partido
Comunista”. Marx diz: “Sobre que fundamento repousa a família atual, a família
burguesa? No capital, no ganho individual”. E continua: “ A cultura, cuja perda
o burguês deplora, é, para a imensa maioria dos homens, apenas um adestramento
que os transforma em máquinas”. A família e a cultura são articuladas pela
lógica do capital. Em outro trecho, ele diz: “A burguesia só pode existir com a
condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por
conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais”.
Trata-se de substituir a burguesia (sujeito) pelo capital como significante
historial (contrasignificante). Trata-se de fazer a passagem no texto de Marx
da filosofia do sujeito para à física da história dos contrasignificantes que
redefinem o lugar do sujeito na história mundial. A física estabelece a
filosofia moderna como filosofia do capital. A classe burguesa não é o motor da
história moderna. Ela não criou o modo de produção especificamente capitalista.
Este surge ex nihilo na secularização do seer social através de um processo de
simbolização-racionalização que define a episteme do capital moderna
(Marx/Weber). O capital é a entidade (seer social do ente) que ex-iste como
motor da articulação da história da modernidade no século XIX. Assim: “Tudo que
é sólido e estável desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e os
homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de
existência e suas relações recíprocas”. Além do reducionismo prosaico do mundo,
o seer social passa do domínio do mito para o domínio da história. Trata-se da
dissolução do mito no ar da modernidade. Na linguagem do inconsciente
freudiano, o mito é recalcado. Como se trata de um trabalho na cultura política
intelectual, podemos dizer que o seer social mitológico é recalcado no
inconsciente nietzschiano ou inconsciente político.
Em Freud e Nietzsche, temos o
retorno do recalcado e o eterno retorno do mesmo. Na física da história,
trata-se da relação entre história mitológica e história em si que articula o
vínculo orgânico-topológico entre inconsciente freudiano e inconsciente
político. A modernidade é a passagem da história mitológica para a história em
si, ou melhor, história do capital. Não se trata de uma ilusão ou autoilusão da
sociedade moderna. Porque tal passagem é vivida como Real/Simbólico/Imaginário
no processo de simbolização (racionalização cultural) através da cultura
política intelectual moderna articulada pela EPISTEME DO CAPITAL MODERNA.
No século XXI, entramos em uma
ERA de dissolução no ar da episteme moderna que começou com o buraco negro
epistêmico da pós-modernidade. Isto significa a crise da realidade mundial
moderna, ou seja, de qualquer bloco histórico epistêmico articulado pela
episteme do capital moderna. Então, assistimos um recuo da revolução secular
liberal e um avanço das revoluções conservadoras (contrarrevoluções) – em todos
os continentes - em uma escala e magnitude inimagináveis para a consciência
histórica do século XX. O melhor caminho para enfrentar a produção do
contemporâneo é a defesa irresoluta da modernidade (das linguagens modernas) como
faz a universidade brasileira? Tal universidade não sabe nada sobre a nova
articulação em conceituação do capital do século XXI? Neste século, o capital
não se articula mais como seer social moderno! Quem define o século XXI? O
capital pós-moderno ou a alta modernidade da já anacrônica sociologia inglesa
do final do século XX? A lógica do capital moderno continua fazendo,
desfazendo, refazendo o laço social? “Tudo que é sentido sólido desmancha no
ar”?
O prefácio à edição alemã e 1883
diz: “O pensamento dominante e essencial do Manifesto, isto é, que a produção
econômica e a estrutura social que necessariamente decorre dela, constituem em
cada época histórica a base da história política e intelectual dessa época”.
Tal axioma-mestre da episteme do capital moderna define a história em si
articulada pela cultura política intelectual materialista-economicista. Aquela
estabelece o capital como a entidade econômica que é o princípio articulador da
totalidade geoistórica moderna capitalista mundial! No século XX, o apogeu de
tal cultura encontra-se no fenômeno conhecido como stalinismo ou
marxismo-leninismo. A história da URSS (e do Leste europeu) foi articulada até
a queda do mundo de Berlim por tal cultura política economicista. No Ocidente
capitalista, a gestão da economia estatal e das corporações capitalistas
permanece nas mãos e cérebros do estamento intelectual econômico. Este não tem
uma visão de mundo científica da economia capitalista que funciona como ersatz
da visão de mundo stalinista? O totalitarismo economicista de Marx é uma visão
de mundo derivada da episteme do capital moderna. Com o capital pós-modernista
produzindo o contemporâneo, a releitura da modernidade não porá por terra toda
e qualquer visão de mundo economicista através da dissolução da linguagem da
cultura intelectual moderna?
MANIFESTO ECOMARXISTA
O ecomarxismo em Marx define a
história planetária como um equilíbrio de antagonismo entre história da
natureza e história da espécie humana até a emergência do capital no modo de
produção especificamente capitalista, no século XIX. A partir daí a história do
capital subsumiu a história da natureza; ele dominou o planeta como razão
instrumental absoluta sobre a natureza. Tal axioma é axial na episteme moderna
do capital. Tal filosofia moderna do capital foi quebrada na história da
cultura política intelectual com o pensamento de Nietzsche.
O capital é o ser do ente
enquanto fusão de ser, pensar e agir. Esta é a física do capital que articulou
a soberania absoluta do homem - burguês, branco, ocidental, - sobre a natureza:
subsunção real da natureza ao homem. Trata-se da hegemonia absoluta
(totalitária) do inconsciente político ariano (história mitológica do capital)
sobre o inconsciente político mestiço na história moderna do planeta. A
filosofia do capital (as ideologias do capital) é estabelecida e estabelece tal
linha de força geo-eco-histórica na política mundial do século XX contra
Nietzsche e usando a metafísica nietzschiana para se livrar da forma do capital
do século XIX!
No final do século XX, surge a
forma ecológica do capital. Ela surge articulando a metafísica nietzschiana a
partir da leitura revolucionária de Nietzsche por Heidegger. Três posições se
estabelecem na política ocidental capitalista no final do século XX: esquerda,
direita, ecológica. Mas não se trata da filosofia ecológica dos ambientalistas
(ideologias ecológicas), e sim da ecologia do capital. O século XX viu o
espetáculo da aliança esquerda/direita (oligarquia política híbrida) contra o
ecocapital. Com a crise mundial do modelo oligarquia política híbrida, o
ecocapital emergiu no século XXI como lugar hegemônico na política mundial nos
centros geo-eco-históricos do capital. A ecofilosofia do capital torna-se
hegemônica após a decadência da filosofia ambientalista na política mundial. O
espírito objetivo ecológico se antecipou à hegemonia do ecocapital na política
mundial ocidental! Aquele não consegue fazer a transição do espaço ideológico
para a ecofilosofia como cultura política intelectual. Com efeito, a política
deu a sua contribuição para que isso se tornasse um fato da política do século
XXI. Marina Silva apareceu na política brasileira como o sintoma real de tal
transição. A destruição simbólica e política de Marina na eleição de 2004 foi
arquitetada (consciente e inconscientemente) pela oligarquia política híbrida
brasileira para impedir a hegemonia da ecofilosofia do capital na América. Em
2014 a frase ia além do conteúdo; agora, o conteúdo vai além da frase! Marina
representava a inversão da soberania do inconsciente político ariano sobre o
inconsciente político mestiço. O primeiro passo da revolução ecomarxista!
O ecomarxismo é o herdeiro da
ecofilosofia do capital. Enquanto esta almeja reencontrar um equilíbrio de
antagonismo entre homem e natureza para salvar a civilização ocidental, aquela
busca a fusão de ser, pensar e agir tendo a natureza como ser do ente. Trata-se
de salvar a civilização do ecocapital para que ela impeça a destruição do
ecossistema planetário. Inevitavelmente, o movimento e a lógica do ecocapital
cava a própria sepultura dele! Trata-se de estabelecer a hegemonia da história
da natureza sobre a história da espécie humana. Claro que os ambientalistas e
marxistas tradicionais dirão que isso é muito complicado para ser entendido.
Com efeito, se eles não interromperem o seu gozo que tem como objeto a episteme
moderna do capital, jamais farão parte do discurso do físico ecomarxista. Eles
acreditam que pensam o mundo, quando quem pensa o planeta ou é o capital
(contrasignificante geo-eco-histórico ariano), ou é a natureza
(contrasigificante da história natural do inconsciente político mestiço).
A ética nasceu associada ao
surgimento da filosofia da polis com Platão e Aristóteles. Quem pensa é a polis
através destes dois filósofos! A modernidade viu se consolidar a ética
capitalista a partir da filosofia moderna do capital. O capital pensa a
modernidade como cultura política intelectual. A visão de mundo da ética da
natureza articula-se na física da história. Trata-se da natureza como summum
bonum. Com a física da história, a ética (ecoeticamarxista) retoma em um outro
patamar (dando um passo à frente real em relação à ética da polis) a filosofia
da ética de Platão e Aristóteles.
A ecohistória mundial sofreu uma
Spaultung geo-eco-histórica com a desintegração de Marina Silva por máquinas de
guerra freudianas totalitárias brasileiras. Hoje, está claro que tais máquinas
serviam à máquina de guerra econômica-política-ideológica que quer destruir a
Floresta Amazônica e as nações indígenas. O PCPT se articula como
eticaecomrarxista que tem como finalidade construir a nação mestiça para
proteger as nações indígenas e a Floresta Amazônica. Na eleição de 2014, Marina
Silva pôs em discussão a questão da água potável no Brasil. Ela disse: “o
Sudeste vai se tornar um deserto”. Hoje, o governador de São Paulo quer fazer
da crise hídrica paulista um problema de política prática nacional. Só nesta
hora na qual a onça desceu para beber água no rio paulista! Marina Silva
possuía uma ciência sobre o hídrico (que seria desenvolvida caso ela tivesse o
poder nacional em suas mãos) que Alckmin e Dilma ignoram. Dilma disse na
campanha eleitoral que o problema hídrico se resumia ao marketing eleitoral
“mais banho”! A derrota da eco-ratio brasileira não deve ser vista como um
problema escolástico tratado por uma linguagem escolástica ambiental. Esta é a
linguagem política articulada como um jargão sacralizado das ideologias
ambientais.
Ecologistas do mundo inteiro,
uni-vos!
NARCOSE/FELICIDADE/NÃO-TODO
O Príncipe Moderno é um dos
contrasignificantes que pensa a modernidade como ideologia orgânica e cultura
política intelectual. Gramsci foi o animal político intelectual de tal
Príncipe. Ele diz que o freudismo é uma ideologia orgânica do capital. A
psicanálise (psicologia do indivíduo, do homo clausus) é um pensar-agir do
capital das três primeiras décadas do século XX. Trata-se de uma ideologia
brilhante, genial e extremamente útil para a vida da burguesia e
pequeno-burguesa. O fordismo foi utilizado para organizar o mundo do trabalho
no chão da fábrica nos USA: americanismo.
No “O Mal-estar da civilização”,
Freud trata o significante felicidade como um significante universal da
história do homem. Ele transforma um significante produzido pela filosofia do
capital (um significante ideológico orgânico capitalista) em um significante
universal da espécie humana. “Pode-se dizer que os deuses constituíam ideias
culturais de felicidade”. No século XX, o homem se aproximou bastante da
consecução desse ideal, ele próprio quase se tornou um deus graças à ciência e
tecnologia. “O homem se tornou uma espécie de “Deus de prótese”. Quando faz uso
de todos os seus órgãos auxiliares, ele é verdadeiramente magnífico”. Esta
concepção de felicidade é o da Europa (e dos USA) como jardim do Éden. “Mas
também os seres humanos revelam uma tendência para o descuido, a irregularidade
e a irresponsabilidade em seu trabalho, e, portanto, é necessário um laborioso
treinamento para que aprendam a seguir o exemplo de seus modelos celeste”. A
vida humana (e o cérebro humano) é articulada pelo princípio do prazer e o
princípio da realidade. A civilização moderna é basicamente o princípio da
realidade (conceito de realidade como poder despótico) que garante o
funcionamento da economia, da sociedade e do Estado. Não existe vida humana
civilizada sem a coerção do princípio da realidade sobre o princípio do prazer.
A ética protestante capitalista é uma forma de coerção simbólica que articulou
o mundo do trabalho até a ética pós-modernista hedonista a substituir no mundo
das corporações capitalistas mundiais. Revolução na realidade freudiana
capitalista!
Freud concebe que a liberdade do
indivíduo é um desejo maior que a existência de qualquer civilização. O
indivíduo defenderá sua liberdade contra a vontade do grupo ou contra aspectos
da civilização ou contra a civilização, em geral. Por caminhos tortuosos, o
desejo de liberdade se associa ao princípio do prazer e, portanto, à busca da
felicidade. O bloqueio disso significa para o indivíduo (e para as massas) um
mundo estruturado pela injustiça. Trata-se da felicidade como técnica da arte
de viver como monopólio da elite em posse dos meios que possibilitam processos
sublimatórios modernos: arte, ciência, bioquímica. Trata-se do monopólio do uso
das drogas estranhas ao corpo que produzem sensações poderosas que aliviam o
estado de impulsos desagradáveis no ser humano. Há também drogas naturais do
próprio corpo que exercem tal função. Assim, a cultura da felicidade se liga
aos paraísos artificiais baudelerianos ou ao paraíso natural das drogas do
corpo agenciadas pela cultura, como por exemplo os exercícios: o correr sozinho
dos burgueses ou, mais tarde, das massas da classe média. Tudo isso leva ao
estado de felicidade.
Inicialmente, a NARCOSE foi um
instrumento da busca da felicidade da elite. Depois se transformou em um fenômeno
de massas até se transformar em um artefato que articulou o narcotráfico e o
narcopoder como fenômenos mundiais. Mas a unidade de tais fenômenos é como
economia e política algo que estrutura o mundo-da-vida na América Latina como
lógica fatal. Observem a história atual do México. O que Freud concebeu foi o uso das drogas
artificiais e naturais como articulador da vida moderna no século XX entrando,
com toda força, no século XXI. Com efeito, ele jamais negou a fórmula de Marx:
“a religião é o ópio do povo”. Trata-se da concepção de que as ideologias podem
funcionar como narcótico. Minha experiência universitária me diz que os
estudantes de ciências sociais querem ser narcotizados pelo ópio das
disciplinas científicas de tal domínio. Em Marx, a religião e a filosofia
contemplativa ocidental constituem os arcanos das ideologias modernas. Tais
ideologias produzem o gozo do ópio. A crítica das ideologias já produz o gozo
da praxis histórica: revolução. No entanto, tal gozo articula totalidades (todo)
assim como o gozo do ópio continua por outros meios (gozo masculino) a
articulação do todo.
Na segunda metade do século XX, o
uso de drogas deixou de ser a narcose como gozo masculino. Ele se tornou a
narcose como gozo da mulher que articula o não-todo (Lacan). A comunidade hippie
e depois, especialmente, o movimento feminista se articularam como gozo do
não-todo, assim como a sociedade de consumo nos USA. Tal espírito objetivo
antecipou a desarticulação espiritual do todo NAÇÃO que tomou um impulso
material considerável com a soberania na economia mundial do capitalismo
corporativo mundial. Do ponto de vista da relação entre narcose e gozo, a União
Europeia se articula como gozo da mulher, gozo do não-todo. Por isso, para ela
não tem solução política como todo. Ela é quase um império sem seer todo. Ela é
um império não-todo. O problema das drogas na atualidade deixou de ser a busca
da felicidade pelas massas para se tornar o “empoderamento” do gozo da mulher
fruído pelas massas, em geral. Portanto, a história do homem passa a dividir o
palco com a história da mulher. Tal história precisa ser simbolizada como
ideologia orgânica e cultura política intelectual, após o ocaso do feminismo.
Vamos correr no Aterro do Flamengo no domingo!
SPALTUNG/VENEZUELA/CRISE MUNDIAL
“Durante o primeiro dia de vigor
do estado de exceção decretado pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em
cinco municípios do Estado de Táchira, fronteiriços com a Colômbia, as
operações das forças policiais e militares venezuelanas se concentraram no
povoado de San Antonio del Táchira, onde, na quarta-feira, supostos paramilitares
colombianos atacaram e feriram três suboficiais do exército venezuelano”.
A televisão fala da crise do
capitalismo mundial hoje (24/08/2015) com o abalo na bolsa de valores mundial
provocado pelo fraco desempenho do capitalismo chinês e das corporações
mundiais capitalista na área de tecnologia, carro-chefe aparente da economia
mundial. Existe uma relação de causalidade entre a crise capitalista mundial e
o Spaltung do mundo venezuelano?
O ecomarxismo define o Estado
capitalista desenvolvido como um comitê de O capital. O capital (Marx) é uma
máquina de guerra econômica/política/filosófica, uma praxis histórica como
unidade de seer, pensar e agir. A crise mundial do capitalismo só se tornará um
fenômeno apocalíptico ao se transformar em crise historial e orgânica do
capital mundial, do seer social capitalista. A crise chinesa e a crise das
corporações capitalistas mundiais de tecnologia digital podem se transformar em
uma crise mundial de O capital no seu centro quente (fogo) geo-eco-histórico:
USA, Europa ocidental, Japão?
Marx criou a fórmula de que o
capitalista é a personificação do capital. Assim, ele saiu do domínio da
filosofia do sujeito, da classe sujeito soberana na história moderna:
burguesia. A soberania historial é a hegemonia de O CAPITAL. Mas podemos ir um
pouco adiante e dizer que o político capitalista também é a personificação do
capital. Obviamente, não se trata do conceito de capital de David Ricardo, mas
do contraconceito de capital de Marx. Qual a diferença? Em Ricardo temos
capital, um fenômeno econômico em si. Em Marx, O capital é um fenômeno global
como unidade de estrutura econômica e superestrutura ou espírito objetivo
hegeliano. Desta visão (platô), O capital hegemonicamente soberano na história
mundial do século XXI é O ecocapital. Este é a unidade de seer, pensar e agir.
A crise capitalista mundial se transformará em uma crise catastrófica para o
mundo como natureza, sociedade e história, SE ela se transformar em uma crise
de O CAPITAL. Trata-se da crise que produzira a Spaltung da Wirklichkeit:
realidade do real mundial.
A crise mundial capitalista vai
atingir a realidade mundial como objekt e Anschauung (intuição, cultura
política intelectual mundial como auto interpretação baseada na visão, no ver).
Trata-se da realidade em si como interseção do simbólico com o real, do mundo
objetivo, no sentido absoluto, Deus, o objeto absoluto, anterior à sua
dissociação em “realidades singulares”. Traduzindo para a linguagem
ecomarxista, trata-se da crise econômica da episteme política capitalista.
Ainda não se trata da crise política da episteme moderna de O capital. Mas esta
primeira crise vai afrouxar o nó górdio das redes do poder mundial. Só a crise
do O capital pode cortar o nó górdio (laço Real (economia/ Simbólico (política)
e Imaginário (ideologias orgânicas) que nos imprime a certeza de que a crise
capitalista se transformará em uma crise do O CAPITAL.
A crise mundial capitalista vai
gerar impotência na classe política (USA/Europa ocidental) como personificação
de O capital? Vai no mínimo fazer com que a energia dela se volte para impedir
que a crise capitalista mundial encontre uma tradução na linguagem de O capital
no modo topológico banda de Moebius (a língua inglesa é a língua da crise
mundial de O capital). Neste caso, não haverá descontinuidade entre a crise
capitalista e a crise de O capital mundial. Voltado para evitar a Spaltung de O
CAPITAL, O Estado dos países centrais do capitalismo (Estado como
personificação política de O CAPITAL) terá um agir frouxo em relação a crise da
Venezuela. Assim, o golpe de Estado bolivariano anunciado com o estado de
exceção –por enquanto municipal - poderá progredir livremente para um estado de
exceção nacional, sem as amarras – agora frouxas – das redes de poder de O
CAAPITAL mundial. A lei mundial é a lei do poder de O CAPITAL MUNDIAL. Se ela
afrouxa como efetividade universal em oposição a ela levanta-se o indivíduo
(bolivariano) criminosamente na política mundial. No a “Fenomenologia do
Espírito, Hegel diz: “Essa oposição vem a tornar-se crime quando o indivíduo
suprassume essa efetividade de uma maneira apenas singular, ou vem a tornar-se
um outro mundo – outro direito, outra lei e outros costumes, produzidos em
lugar dos presentes – quando o indivíduo o faz de maneira universal e,
portanto, para todos”. Trata-se da banda e Moebius. Ou melhor, da topologia
mundial sem descontinuidade entre a solução Spaltung bolivariana e a política
mundial. É claro e evidente que a crise brasileira também encontra-se no espaço
dessa topologia mundial. Isto dispensa os comentários complementares que
servirão para alimentar o bla bla blá narcotizante produzido pelo conluio entre
a universidade (não só a brasileira) e a cultura política intelectual
jornalística, em geral!
CRISE DA REALIDADE MUNDIAL/CHINA
O leitor pode consultar nos dois
links acima sobre a esquematização “empírico-racional” da crise da realidade
mundial. Para uma problematização de tal crise o leitor pode consultar a
postagem no PCPT/CFF: “Venezuela/Crise
da realidade mundial”.
A crise da China não pode ser
reduzida a uma crise econômica. A China é uma realidade (objekt) que pode ser
vista como capitalismo híbrido sem O capita (capital em si ou capital
marxista). Nela, o capital davidricardiano (ou capital econômico privado)
divide o funcionamento da economia política com o capital estatal. Tal país não
é governado pela episteme moderna do capital marxista. O que isto significa?
Que o ocidente capitalista não sabe nada sobre a existência verdadeiramente
Real/Simbólica/Imaginária (RSI) da China, segunda economia planetária. Se o
conceito de ocidente significava controle racional sobre o planeta, então, tal
conceito se desmanchou no ar asiático. O inglês é a língua do capital em si, e
a língua do mundo dominante chinês é o mandarim. Por enquanto, não existe
tradução possível da crise da realidade chinesa para a cultura política intelectual
“ocidental”: Spaltung linguística!
A crise chinesa tem que ser
pensada a partir da historial da China. O significante-mestre que
sobredetermina tal história é a revolução maoísta. Hoje, o maoísmo é a base de
uma cultura política intelectual (não só na China) que significa a substituição
da episteme moderna do capital marxista pela episteme pós-moderna do
ecocapital. Os chineses têm o problema ambiental como uma prioridade política
no mundo-da-vida. Tal problema tem como causa o capitalismo produtivista
davidricardiano, uma concepção epistêmica capitalista articulada pela cultura
política intelectual materialista-economicista. A classe política chinesa tem
um re-ligare com a tradição maoísta que faz do Príncipe asiático uma unidade
teoria/prática (PCC+massas) como possibilidade revolucionária capaz de
substituir a episteme moderna do capital marxista por uma episteme pós-moderna
do ecocapital. Assim, a China pode estar na origem da revolução mundial do
século XXI. Como para o capitalismo ocidental, a lógica da reprodução ampliada
planetária do capital marxista (uma máquina de guerra global
econômica-espiritual-política) é o essencial, a lógica natural é a aliança
orgânica e historial do ecocapital (que detém a hegemonia no bloco-no-poder
mundial) com o príncipe asiático. Hegel diz: “a sociedade (mundial) só se
coloca problemas que ela possa resolver”. A cultura política intelectual
milenarista é uma autointerpretação do mundo como fim do planeta. A revolução
ecocapitalista mundial é o avesso de tal interpretação. A revolução ecomaoista
é a prova de que o ecomarxismo se desenvolve se apoderando em português do
planeta e usando-o para se desenvolver. A cultura política intelectual chinesa
não tem o campo da física historial para se apoderar do mundo em mandarim. A
spaltung linguística do mundo (a quebra linguística do mundo, sua divisão
linguística) será ultrapassado pela revolução do ecocapital. Por caminhos
tortuosos, o ecocapital vai se apoderar da física historial. Esta é a transição
do espirito filosófico do capital marxista para o espírito físico do ecocapital
planetário.
Inimigos agônicos da física
freudiana, os psicanalistas cariocas vão dizer que esta interpretação da
realidade mundial é similar à filosofia de Schreber tal como interpretado por
Freud. Conhecendo Freud e Schreber, Walter Benjamin disse que preferia a interpretação
deste à interpretação de Freud. Com Lacan, o ensinamento (e a
contraconceituação) sobre o delírio psicótico não deu razão à Benjamin? Hoje, o
ecomarxismo maoísta pode ser enquadrado como delírio psicótico asiático pela
velha classe simbólica ocidental ferrenhamente apegada à cultura política
intelectual davidricardiana. Tal elite simbólica ainda não leu (e muito menos
simbolizou) o livro “A Ideologia Alemão” e, como Böhm-Bawerk, faz uma
interpretação davidricardiana do livro “O Capital”. Trata-se de uma
interpretação que produz o reducionismo materialista-economicista da episteme
política moderna do capital marxista. Tal elite simbólica ocidental tornou o
saber universitário uma coisa tediosa e inútil, uma ideologia oca incapaz de
significação diante da produção de significação da revolução mundial do
ecocapital. Tal elite só causa – no leitor - desprazer estético (narcisismo
masoquista) com sua ideologia oca prosaica do mundo! A história revolucionaria
atual da China não significa o fim do masoquismo estético ocidental como motor principal
de autointerpretação do mundo?
O GRANDE INQUISIDOR
O Grande Inquisidor é um poema
idealizado pelo personagem Ivan Karamazov e desenvolvido em forma de prosa no
relato a seu irmão Aliócha no romance de Fiódor Dostoiévski “Os Irmãos
Karamazov” (1879-1880). Trata-se de um monólogo, situado na cidade de Sevilha na
época da Grande Inquisição. Nele, o Cardeal da Santa Igreja (Diego de Deza
(1498-1507), o arcebispo de Sevilla inspirou o personagem?) se depara com Jesus Cristo reencarnado e
ordena sua prisão, julgando-o e condenando sua volta à Terra. O personagem
Grande Inquisidor representa a quebra entre a cultura política católica e o
cristianismo primitivo. Neste, a cultura cristã se definia por seu poder
simbólico masoquista narcísico que tomou o poder simbólico romano, enquanto o
cristianismo da cultura católica espanhola se definia como uma máquina de
guerra divina terrorista.
A Inquisição espanhola ou
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição foi uma instituição fundada em 1478.
Trata-se de um efeito da Reconquista da Espanha das mãos dos árabes muçulmanos,
e da política de conversão de judeus e muçulmanos espanhóis ao catolicismo. Em
1481, Fernando e Isabel indicaram Tomás de Torquemada (o mais notável
inquisidor) para investigar e punir os conversos — judeus e mouros que diziam
ter-se convertido ao catolicismo, mas que, de fato, continuavam a praticar suas
antigas religiões em segredo. Um total de 464 autos-de-fé contra judeus
ocorreram entre 1481 e 1826. No total, mais de 13 mil conversos foram julgados
entre 1480 e 1492. Trata-se de um importante dispositivo na política chamada
"limpeza de sangue" contra os descendentes de judeus e de muçulmanos
convertidos.
A cultura política intelectual
católica criou o modelo do Grande Inquisidor condensado na biografia de
Torquemada. O direito católico legitimava o poder despótico-terrorista do
religioso Torquemada. Em nenhuma época, Torquemada (e o Tribunal do Santo
Ofício) foi acusado de banalização do mal. Hanna Arendt usou tal conceito para
o direito e a máquina de guerra burocrática fascista alemã no fenômeno “Solução
Final”. Mas Hitler não teve o seu Vyshinsky, a biografia individual real do Grande
Inquisidor de Dostoiévski. Em 1935 ele se tornou Procurador-Geral da URSS, o
mentor legal de Joseph Stalin no Grande Expurgo que assassinou 80% do comitê
central do PC soviético. Embora agindo como juiz, encorajou a polícia a obter
confissões forçadas dos acusados. Em alguns casos, ele preparou as acusações
antes da conclusão do "investigação". Em sua “Teoria de Provas
judiciais em Justiça Soviética” (Prêmio Stalin em 1947), ele criou o modelo
teórico/prático para o sistema judicial Soviético, com base em princípios
marxista-leninista. Vyshinsky é o Príncipe do direito stalinista em um
contraponto ao direito do capital como máquina de guerra econômica-espiritual-política
que se define por uma linguagem jurídico-técnica desvinculada do direito
natural. Muitas dos axiomas introduzidos pelo Grande Inquisidor configuravam o
direito soviético como uma realidade jurídica paradoxal. Por exemplo, Vyshinsky geralmente advertiu
contra o tratamento de autoacusação como uma prova formal devido a uma possível
manipulação, mas, ao mesmo tempo, ele admitia tal regra nos casos de
conspiração, organizações criminosas, e, especialmente, nos casos de
antisovietismo e de grupos contrarrevolucionários. Ele também usou seus
próprios discursos dos “Julgamentos de Moscou” como um exemplo sobre como as
declarações sob tortura dos réus podem ser usados como evidência primária em
tais casos. Pare ele, a acusação não pode esperar que os conspiradores ofereçam
documentos sobre suas atividades criminosas.
Talvez tal prática tenha sido formulada pelo próprio Stalin - sobre o
uso de confissões e do uso da pena de morte. A seleção ideológica dos acusados
é uma ideia do Grande Inquisidor russo. A fórmula de Vyshinsky preferida de
Stalin era: “a confissão do acusado é a rainha das provas”.
Em uma época na qual a comunidade
jurídica brasileira tornou-se quase protagonista da política, a sociedade do
espetáculo banaliza a figura do Grande Inquisidor. Não sendo leitor do livro “Os
Irmãos Karamazov” ou da história das Inquisições espanhola e russa, Fernando
Collor procura fazer um retrato do Grande Inquisidor, no Senado, como uma
personagem banal, grosseira e estupidamente ignorante, ligado aos interesses da
Coca-Cola e à prática seletiva ideológica dos investigados. Como se dizia
antigamente: “a história decidirá”.
CRISE INSTITUCIONAL BRASILEIRA?
O debate no jornalismo (auxiliado pelo
discurso da universidade) sobre a ausência de crise institucional não está à
beira da irreflexão? Como diz o jornalismo brasileiro, o ponto de partida é que
existem mil teorias e definições de instituição na cultura letrada. Neste
mercado de ideias quase hermenêutico, que é uma caixinha de surpresas, o
jornalismo e a classe política tem a certeza que não existe crise das
instituições. O Brasil está forte institucionalmente! Ele sobreviverá à crise
brasileira!
Saindo do céu de brigadeiro “hermenêutico”,
a instituição é um artefato produzido pela e na cultura política intelectual de
um país. Esta está, por mil fios visíveis e invisíveis, enredada às redes de
poder (político e simbólico como hegemonia, dominação e soberania) mundial. Entre
nós, a literatura e a sociologia letrada se preocuparam em estabelecer o que é
instituição brasileira. Gilberto Freyre começou esta elaboração/simbolização
com a dialética Casa/Rua. A casa é o lugar da instituição brasileira em um
contraponto à rua: lugar do não-institucional. Traduzindo para o ecomarxismo.
Existe uma cultura política institucional intuitiva colonial (rural-urbana) cujo
significante-mestre (Sm) é a casa. Também existe uma cultura política
não-institucional urbana-imperial cujo Sm é a rua.
Na sociologia mundial, um passo
adiante foi dado com o conceito de cultura como sistema cultural de ação. O
conceito de sistema periodiza a história da sociologia mundial. Trata-se do
problema da antinomia teoria/prática. Lukács observou que havia uma contradição
na hegemonia cultural dm sua época conjuntural que oscilava entre a definição
de realidade social como totalidade dinâmica de inter-relações significativas
fundamentadas no trabalho social (marxismo ontológico) e a definição de
realidade da sociologia burguesa, isto é, a realidade como uma justaposição
estática de objetos e eventos isolados, governados pela lei externa do mercado.
Para Lukács, isto seria o semblante da realidade. Como Lacan diz que todos os
discursos que ele conhece são semblante, esta discussão ainda não acabou. Com
efeito, o conceito de sistema (que engloba o institucional e o não
institucional em um todo) mudou a história da cultura política intelectual da
sociologia!
Com Freyre, podemos dizer que
existem dois mundos: institucional e não-institucional, casa e rua. Mas a rua
de Freyre é o lugar da lógica privatista e da exclusão da lógica pública. Ela
é, portanto, o lugar da cultura política brasileira
aristocrática/burguesa/popular intuitiva. Trata-se do sistema rua/casa (como
institucional e não-institucional) como privado. Não se trata da cultura nacional-popular. Isto
nunca existiu entre nós, pois esta faz da rua um espaço público. Como um
sistema de ação, a cultura só pode ser cultura política intelectual reflexiva
ou intuitiva. O sistema de ação brasileiro é privatista e intuitivo. Mas também
ele funciona como simulacro de simulação de uma cultura política intelectual
autorreflexiva. Ele é reflexivo como simulacro! São, portanto, dois tipos
distintos de unidade entre teoria e prática, entre cultura intelectual (Gramsci
diz que todos os homens são filósofos) e cultura política intelectual definida
pelo lugar do Príncipe Philosophía.
Qual a relação entre mundo
institucional e o não-institucional na atualidade brasileira? A definição
concreta de Freyre é que só existe instituição privada no Brasil e que a
instituição pública é um simulacro de simulação, na leitura de Freyre pelo
ecomarxismo. O leitor pode verificar isso no maravilhoso “Sobrado e Mucambos”,
de Gilberto. Se não existe instituição pública autêntica e sincera não pode
existir crise institucional pública. Jornalistas e políticos não podem ser
sinceros (nem autênticos) quando falam em crise institucional! Regida pelo
simulacro de simulação, a cultura política pública faz da instituição pública
um aparelho de Estado. Marx concebeu o aparelho como um espaço político que se
define como coerção física sem limite. Depois a sociologia francesa marxista
(Bourdieu) desenvolveu a ideia da coerção simbólica sem limite na definição do
aparelho, em geral. O aparelho é o habitat natural das máquinas de guerras
freudianas e de outros tipos.
A crise institucional brasileira
pode ser estabelecida como uma crise econômica da instituição privada, crise do
capitalismo urbano-rural do engenho. A instituição epistêmica fundante
brasileira é o engenho de cana-de-açúcar: suprassumo de instituição privada. Um
ato de pânico e desespero é a ideologia orgânica do engenho esconder tal
fato/artefato: a crise sistêmica do mundo baseado na instituição privada
(lógica do privatismo) brasileira. Trata-se da denegação na física freudiana. A
denegação é um mecanismo de defesa através do qual o sujeito (cultura
política intelectual/ideologia orgânica)
exprime negativamente um desejo ou uma ideia cuja presença ou existência ele
recalca. A crise da episteme do engenho é o artefato que a cultura brasileira
dominante exprime negativamente, recalcando-o no inconsciente político
nacional.
A crise da instituição pública
não ocorrerá, pois tal instituição só existe pela lógica cultural-política do
simulacro de simulação. Não são partidos políticos, são máquinas de guerra
partidárias que simulam serem partidos políticos. A lógica delas é faccional. Para
elas, a única totalidade que existe é o todo engenho: “O engenho são mil
republicas”. Esta é a autêntica cultura política conservadora brasileira - sociedade
privatista das maquinas de guerra do engenho. Por outro lado, todas as
instituições públicas são escravas da cultura política do simulacro de
simulação pombalino. O gozo do engenho é o gozo, em geral, da totalidade da
população brasileira? A cultura política intelectual intuitiva da rua escapa do
gozo da cana-de-açúcar? Uma instituição brasileira da rua é o carrinho que na
feira, na rua, vende o caldo-de-cana. A pastelaria chinesa também vende
caldo-de-cana. O pastel é um artefato chinês?
FÍSICA HISTORIAL/CONTRACIÊNCIA
A física historial é um
continente contracientífico com várias regiões. Até agora foram descobertas
três regiões: física freudiana, ecomarxismo (ecofísica) e física lacaniana.
O continente historial existe nas
quatro linhas de forças históricas cuja fundação encontra-se na civilização
arcaica: história ecológica; história das máquinas de guerra; história do homem
e história da mulher (não-todo). A história ecológica é explorada na interseção
do campo ecomarxista com os campos freudiano e lacaniano. O ecomarxismo é um
campo contracientífico que surgiu com Marx e se desenvolveu com o ecocapital e
o Príncipe Asiático marxista. Mao Tse Tung é o animal política intelectual
carismático (weberiano) referente a tal Príncipe. O Príncipe Asiático é uma unidade
teórico/prática determinante na história ecológica dialética do século XXI. Ele
é o aspecto político da contradição que tem o ecocapital como aspecto
econômico. Se o ecocapital marxista se define como uma máquina de guerra
econômica-espiritual-política que articula o mundo no século XXI, ele é uma
máquina de guerra que já não é uma máquina de guerra ao buscar o equilíbrio de
antagonismo com a natureza na história ecológica. Trata-se de uma máquina de
guerra em extinção!
A partir da civilização arcaica,
a história das máquinas de guerra freudiana e nietzschiana é a linha de força
que articula a história do homem (história freudiana) à história da mulher
(história lacaniana) em uma história ecológica sem o capital marxista e o
Ecopríncipe Asiático. A história da natureza e a história da espécie humana se
articulam por um equilíbrio de antagonismo entre homem/natureza. Tal equilíbrio
foi rompido com a soberania do capital moderno-marxista na história mundial.
Na história mundial arcaica, as
máquinas de guerra existem em função do Príncipe arcaico e do Urstaat. Ainda
não está clara o nível de complexidade das relações entre o Urstaat, o Príncipe
arcaico e as máquinas de guerra como unidade teórico/prática de seer/pensar/dizer/agir.
Como história da cultura
político-intelectual, a história do planeta tem um ponto de inflexão global com
o Príncipe Philosophía e a polis no mundo greco-romano antigo. Heidegger só vê
o surgimento deste Príncipe (a filosofia como um fenômeno da cultura política
intelectual) na era moderna. No entanto, a associação entre Platão e a polis no
Príncipe Grego parece dizer que este fenômeno surgiu como unidade
teórico/prática (filosófica/política) no mundo da antiguidade greco-romana.
Talvez seja desnecessário lembrar que o Príncipe Republicano é o Príncipe
Romano, retomado de um modo diferente, lúdico e sedutor na revolução
republicana moderna. A partir do mundo greco-romano, a história do homem busca
um equilíbrio de compromisso com a história das máquinas de guerra.
Sobre a história da mulher é
preciso fazer, antes de qualquer coisa, um comentário sobre o uso do
significante mulher = não-todo (Lacan).
A escolástica medieval fez uma
distinção entre catégorème e syncatégorème para pensar a totalidade. O título
desta postagem é uma totalidade como catégorème. E a totalidade dos eleitores é
uma totalidade como syncatégorème. Como é fácil de intuir, a totalidade dos
eleitores só existe matematicamente. Ela tem uma existência numérica, existência
real. Ela não existe ou como totalidade imaginária-sensível ou como totalidade
simbólica-significante; ela está no mundo como não-todo realmente existente. A
mulher (não-todo) é uma totalidade real não-toda. Trata-se da totalidade que
quase se articula como totalidade ou imaginária, ou simbólica. O gozo da mulher
é um gozo do real. Ou seja, se articula como não-todo, enquanto o desejo é o
desejo de totalidade! A mulher é uma quase totalidade (não-todo) que não para
de não se inscrever no Grande Outro, no discurso do Outro. A física historial
emerge associada à história da mulher, pois ela é contraciência, ou seja,
ciência do real!
A história da mulher é uma linha
de força (até onde eu consigo ver) que começa na Revolução Francesa. A linha de
força dominante da revolução republicana é articulada pelo gozo fálico, isto é,
como totalitarismo. A guilhotina é o símbolo real de uma spaltung na revolução
republicana como história do homem, como história totalitária. Cortar a cabeça
do Rei e depois dos líderes republicanos é o sintoma do deslocamento da
revolução republicana da linha de força história do homem para a linha de força
história da mulher; da história freudiana para a história lacaniana; da
história totalitária para a história contratotalitária!
O Marquês de Sade é o ponto
biográfico (teórico/político) epistêmico de tal deslocamento do significante
totalitário republicano para o contrasignificante não-todo revolução
republicana permanente. Trata-se da revolução que jamais deve se totalizar, se
tornar um significante, se tornar uma totalidade política, pois isso é a
revolução republicana totalitária articulada pelo gozo fálico: "A
insurreição deve ser o estado permanente de uma república, um estado e
movimento perpétuo que aproxima o político republicano da insurreição
necessária, na qual é preciso que o republicano mantenha sempre o governo de
que é membro" contra o poder despótico, em geral!
Durante uma conjuntura
teórico/política, Marx foi o animal político intelectual carismático da
revolução permanente do século XIX. Aí ele estava em consonância com a história
da mulher. O conceito/significante/fálico de ditadura do proletariado (e do
proletariado como classe sujeito) é um buraco negro epistêmico totalitário que
atrai Marx para a história do homem. A interpretação de Engels de que a Comuna
de Paris é a ditadura do proletariado é pura história fálica do homem. A tese
de Althusser de que o homem não faz a história (e nem tão pouco a
classe-sujeito a faz) e sim as massas já é quase história da mulher. A luta de
classes como motor da história é história da mulher? As massas da Comuna de
Paris são um não-todo social, uma totalidade de classe que fracassou na
história política intelectual do século XIX. Ou melhor, a Comuna de Paris é um
não-todo político e feita por um não-todo social: as massas populares. Ela foi
destruída pelas máquinas de guerra físicas da contrarrevolução europeia
alemã/francesa.
Popular deriva de população. A
população é uma abstração como a produção em geral, mas uma abstração-real razoável,
na medida em que, efetivamente sublinhando e precisando os traços comuns,
poupa-nos a repetição. No entanto a população como caráter geral (ou este
elemento comum que se destaca através da comparação), é ela própria um conjunto
complexo de indeterminações diferentes e divergentes: uma totalidade
abstrato-real = não-todo. Alguns traços comuns pertencem a todas as épocas,
outros apenas são comuns a poucas. As massas populares não são a-históricas,
elas estão ligadas por muitos fios à história das culturas políticas
intelectuais do passado. A fórmula de Marx ilumina tal fenômeno: “A tradição de
todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. As
massas sociais são constitutivas da história do homem (totalidade social), se o
destino delas é a ditadura do proletariado - este gozo fálico/totalitário da
política mundial do século XX. As massas populares são constitutivas da
história da mulher, pois o destino delas é a forma política como não-todo.
Trata-se de uma história marcada por símbolos paradoxais. A primeira é a
história do significante homem (totalidade simbólica). A outra é a história do
contrasignificante (não-todo) mulher!
O GOLPE
DE ESTADO LITERÁRIO-POMBALINO/"CARTA DOS EMÉRITOS" DA UFRJ
“Não tenho muito tempo de ler
tudo o que se comenta aqui, mas tenho uma pergunta: se esses eméritos se
sentiram prejudicados pelo CLG do SINTUFRJ (ao qual muitos deles são filiados,
inclusive), por quê não recorreram ao CONSUNI, nosso órgão máximo, no qual têm
representante e muitos amigos? Porque ir ao MEC e à Globo, pedindo a
intervenção na universidade e medidas enérgicas contra o Reitor eleito
democraticamente, ao invés de respeitarem as instâncias da UFRJ e debaterem o
tema democraticamente dentro da nossa comunidade? É isso o que eu não consigo
entender... Alguém saberia me responder?” Interrogação de uma professora da
UFRJ no Facebook.
“Nota de Interesse Público e da
Comunidade da UFRJ.
A reitoria registra a sua
preocupação e lastima que um grupo de docentes Eméritos, sem qualquer diálogo
prévio, tenha exortado, por meio de Carta datada de 20 de agosto de 2015, o
ministro da Educação a realizar intervenção governamental na UFRJ, em
desrespeito ao preceito da autonomia universitária assegurada
constitucionalmente, ao recente processo eleitoral, validado por unanimidade
pelos conselhos superiores da Instituição...”
O golpe de Estado universitário
pombalino dos Eméritos é um ersatz do golpe de Estado literário, de Machado de
Assis. Trata-se do golpe de Estado no domínio da cultura (brasileira) e das
instituições de tal espaço político. Um grupo de cineastas ligados ao governo
militar desfecharam um golpe de Estado literário totalitário na nossa cultura
cinematográfica. A Embrafilme foi criada através do decreto-lei Nº 862, de 12
de setembro de 1969, como Empresa Brasileira de Filmes Sociedade Anônima. Tal
técnica do golpe de Estado literário, agora na forma pombalina, parece estar
sendo colocada em prática contra a reitoria atual da UFRJ, eleita
democraticamente e sancionada pela presidente Dilma Rousseff. Agora, há um
rumor no Facebook que um Instituto Liberal está apregoando que a reitoria, a
ADUFERJ e conselhos universitários se constituíram em uma espécie de sovietes
da história da Revolução Russa de 1905. Tudo isto começa com a Carta dos Eméritos
articulada pelos professores da Escola de Comunicação (ECO) Heloísa Buarque de
Holanda e Muniz Sodré. Eles são os professores com uma grande e ampla
influência nos jornais de papel e no Grupo-Globo. Vendo esta fissura entre a
esquerda universitária, a direita neoliberal extremada resolveu botar suas
patas sujas na UFRJ.
A luta política desencadeada
pelos eméritos é muito clara e evidente. Eles se constituíram como um centro de
poder pessoal-oligárquico (ilegítimo) na UFRJ para manter o poder político das
redes burguesas-petistas na universidade, hoje, ameaçadas por uma nova geração
de professores que tem um contato direto com as massas estudantis e vontade de
saber anticolonialista. Os governos petistas (Era Lula) criaram uma subclasse
simbólica universitária em todo o país. Trata-se de um subproletariado
professoral, burocrático e estudantil com características revolucionárias.
Lucidamente, Lacan associou a revolução estudantil francesa de 1968 à presença
das massas estudantis subproletarizadas da universidade francesa.
Agora todos estão falando de
revolução. Há um mês atrás apenas o PCPT desenvolvia a ideia de revolução
brasileira no século XXI. Enquanto Lula fala que fez uma revolução democrática
e quer fazer uma revolução na educação, seu grupo emérito-estamental na UFRJ
concebe o golpe de Estado literário nas Universidades Federais para resolver o
problema criado pela própria Era Lula. Trata-se da revolução brasileira posta
como um problema universitário nacional. Finalmente, o desejo de Florestan
Fernandes torna-se realidade, ou seja, a cultura nacional tornou-se um
espaço-tempo revolucionário dentro da ordem. Na UFRJ, a velha esquerda
burguesa-petista se depara com uma nova esquerda revolucionária independente.
Não se trata de uma esquerda acadêmica populista radical como o estamento
acadêmico populista burguês-petista está apregoando. A questão não é esta! O
problema real é que a universidade tem uma forma política presidencial. O poder
do reitor (da reitoria) é um poder efetivo, real. Ele pode mudar a atual
organização acadêmica (cultura política hierárquico- oligárquica acadêmica) da
UFRJ. Ele pode criar uma cultura política intelectual liberal-democrática! O
capital da universidade é manejado pela reitoria. As decisões sobre a
distribuição das bolsas de estudos são da alçada da reitoria etc.. Mas este
poder é contrabalançado pelos conselhos universitários democráticos. A luta
política na UFRJ é uma luta nacional entre a contrarrevolução petista e a
revolução universitária cujo objetivo latente é transformar a Universidade
Estatal em uma Universidade Pública. A Era Lula construiu a universidade
estatal como universidade privada mantida pelo capital público. A classe média
universitária sob a direção do estamento intelectual lulista privatizou as universidades
federais. Assim, Lula cooptou o estamento universitário que ele próprio criou
para o Projeto Hegemônico Petista. Parece que o Grupo-Globo agora faz parte do
bloco político formal da contrarrevolução petista do brasileirismo do
capitalismo de Engenho. Na UFRJ existe uma luta que quer criar a primeira
instituição pública no Brasil. Um fato da revolução brasileira atual é dotar o
país de instituições públicas na cultura e na política e de instituições
capitalistas verdadeiras (reais) no domínio da economia nacional! Esta é a
verdade que a Carta dos Eméritos revelou para o país!
CONTRACONCEITO MILITAR DE LOUCURA
Em algum momento da era moderna,
a cultura política intelectual modernista é possuída por uma identidade
absoluta entre loucura e psicose. A episteme política freudiana foi a
responsável por este fenômeno? A cultura política intelectual eletrônica
americana tem certeza até hoje que loucura é um estado cujo psicótico tem o
monopólio. Na música clássica, Mozart é o mais notável psicótico. E a música é
o seu processo de simbolização que estabeleceu uma fronteira plástica entre
psicose, loucura e vida normal na vida cotidiana. A música de Mozart rompeu com
a ideologia musical da sociedade de corte da era moderna absolutista. Como um
burguês outsider a serviço da corte, Mozart lutou com uma coragem espantosa
para se libertar dos aristocratas, seus patronos e senhores. Ao romper as
cadeias da servidão voluntária musical cortês, Mozart pôs em prática uma
revolução biográfica molecular no estado político da música cortês que fundou a
modernidade política musical. Trata-se do início do deslocamento da energia
narcísica (mito) da aristocracia para a burguesia. Com Mozart, a aristocracia
perde o monopólio da riqueza nacional narcísica. Com Mozart, a sociedade
burguesa se emancipa – no domínio da estética – do seu lugar ontológico
inferior narcísico em relação à nobreza. A música de Mozart anuncia e antecipa
a revolução burguesa como tragédia histórica. O lugar da música de Mozart na era
moderna ilumina a função política dela na história da cultura política
intelectual estética da modernidade política. No entanto, a música como
artefato do processo de simbolização revolucionário no mundo-da-vida das massas
de homens e mulheres brancos teria que esperar o rock and roll na segunda
metade do século XX, nos USA.
Lacan iluminou a investigação
sobre a psicose com o seu estruturalismo, com o conceito de estrutura psicótica.
No entanto na vulgata psi-estruturalista, há um determinismo da estrutura sobre
o indivíduo. Trata-se da ideologia lacaniana! Como clínica, o discurso
freudiano foi criado para tratar o neurótico. Para Freud, o psicótico era um
caso perdido. Lacan tentou mudar tal situação, pois, sendo psicótico, ele se
recusou a aceitar a ideologia freudiana neurótica que banhia o psicótico da
sociedade burguesa. Então, Lacan inventou o discurso do analista para lidar com
o paciente psicótico. A ideia de Lacan era que o discurso do analista funcionasse,
pelo menos, articulando o mundo europeu ocidental. Com efeito, o discurso do
analista só existiu efetivamente no consultório do Doutor Lacan. E isso trouxe esperança
para seus pacientes viverem uma vida normal na comunidade dos homens e mulheres
neuróticos normais. O problema do discurso do analista é que ele queria
integrar os psicóticos na comunidade dos neuróticos que detinha o poder
político em si e o poder político simbólico na política mundial ocidental.
O estruturalismo lacaniano se faz
por uma ruptura com o conceito de seer heideggeriano. O estruturalismo foi uma
máquina de guerra de pensamento epistemológica para desintegrar o ser na
cultura política intelectual ocidental após a Segunda Guerra Mundial. Tratava-se
de desintegrar o ser na história biográfica dos povos e dos indivíduos. Nos
USA, a sociologia sistêmica levaria tal engenho às últimas consequências. Na
cultura eletrônica americana não há um mínimo vestígio do ser. Uma certa
filosofia festejou tal acontecimento como o fim da metafísica. Enfim, o ser havia
desaparecido da linguagem moderna e da cultura política intelectual moderna.
Então, as estruturas (psicótica, neurótica e perversa) passaram a funcionar
como um determinismo quase biológico na biografia dos indivíduos. E a
comunidade mundial dos neuróticos aparecia como comunidade dos homens, mulheres
e crianças normais com a missão na terra de controlar a vida dos psicóticos e dos
perversos e, na essência, bloquear a revolução, ou dos psicóticos, ou dos
perversos. Nesta história, a estrutura era soberana na vida biográfica dos
indivíduos e dos povos. É fácil perceber que a estrutura psicótica definia o
estado de loucura na sociedade europeia e na sociedade americana.
O contraconceito de loucura parte
da reintegração do ser na cultura política intelectual e na linguagem para além
da modernidade. A biografia do indivíduo e a história dos povos só podem ser
pensadas com tal reintegração na cultura política intelectual do conceito de
ser. O contraconceito de loucura se define pela relação da estrutura com o ser.
Em Freud, Norbert Elias e Foucault, o indivíduo (sujeito em Foucault) se define
como partes de si em luta contra as outras partes de si. O indivíduo (e o país)
é um campo de forças em luta. As partes lutam para ocuparem e dominarem o
território inimigo. O indivíduo é um
campo de guerra. Nesta luta, a estrutura acaba dominando as outras partes: eu e
supereu. O indivíduo é id, eu e supereu em um estado de guerra permanente. Não
existe ser ou seer. Então, a música é reduzida a um processo de sublimação
(Freud). Lacan vai mais longe, pois, nele, a música é processo de simbolização.
Um músico psicótico pode viver um cotidiano normal, se a sua atividade musical levar
a uma integração – por um processo de simbolização pública – à sociedade burguesa
normal. Isto aconteceu com Mozart e Kurt Cobain. A diferença é que Kurt usava
drogas pesadas para simbolizar o cotidiano psicótico.
Uma discussão sobre a função da
música na cultura política intelectual tornou-se urgente com a transformação da
música em um objeto/artefato da sociedade capitalista. A música como mercadoria
parece ter desossado a função política que ela detinha na sociedade de corte
absolutista na era moderna e na modernidade política burguesa. Agora, é preciso
re-ligare a função política da música. A qual dimensão do indivíduo a música se
dirige? Ao inconsciente, ao eu ou ao supereu? Qualquer músico vai dizer que aí
não está a resposta. Para abreviar, a música se dirige, ou melhor, é um
re-ligare ao ser, ao seer. A loucura se instala com as tropas da estrutura
ocupando o domínio do ser e suprimindo a voz musical do seer. O seer se liga ao
eu na biografia do indivíduo do século XX (depois da Segunda Guerra Mundial) e do
século XXI através da música para as massas na comunidade mundial dos
psicóticos. A loucura é a operação militar da estrutura na qual são destruídas
as estradas e pontes que ligam o eu ao seer, musicalmente. Cortar ou desviar o
fluxo ou o contrafluxo entre as fontes da energia mítica narcísica - a energia
narcísica é a entidade (ente do seer) da biografia individual ou de um povo - e
o eu, lança-os no deserto real da loucura. A experiência da loucura bloquei a sublimação
e/ou a simbolização através da música. Um psicótico sabe que sua vida voltou ao
normal quando a música enche sua alma de pequenas alegrias e ele vê retornar o
princípio esperança no cotidiano do mundo-da-vida. A arte de viver o mundo como
poesia-prosaica – através da música - é o caminho da luz para a biografia do
psicótico. A cultura política intelectual eletrônica americana continua
insistindo que o destino natural do psicótico é a sua transformação em máquina
de guerra psicótica. Os USA chamam tal máquina de psicopata. No entanto, o
psicopata é a máquina de guerra em si não possuída pelo estado permanente de
loucura. E seus atos psicopáticos não são realizados em um surto de loucura.
Eles são obra do gozo psicopático que nada tem a ver com o estado de loucura. A
definição da máquina de guerra em si pode ser assim. Trata-se de uma biografia
individual constituída apenas pelo aparelho psíquico freudiano: eu/supereu/id.
No psicopata, o eu ex-iste como deserto do seer! Assim, todo discurso é apenas
semblant!
VENEZUELA/BRASIL
http://infograficos.estadao.com.br/public/internacional/venezuela-revolucao-em-perigo/capitulo-2.php
“Mas penso muito no meu país, sou
um apaixonado por ele. E me causa dor ver o que acontece. Aqui não há um
problema de esquerda ou de direita. O problema da Venezuela não é ideológico. O
problema da Venezuela é de uma facção política que só se interessa por
permanecer no poder ao custo da destruição do país
Quando se tem um compromisso.
Quando se vê a composição social da Venezuela e se observa que a grande maioria
é de pobres, e você não entende isso, você nunca vai ter uma maioria”(Henrique
Capriles).
Hoje, o americanismo pode ser
definido pela soberania da cultura política intelectual eletrônica sobre a cultura
nacional. O Brasil (e quase toda a América Latina) vive sob o domínio do
americanismo. Neste modelo cultural, a ciência política e a sociologia
ortodoxas servem ao jornalismo. Por isso, é inevitável que a autointerpretação
da realidade latino-americana tenha como ponto de partida o jornalismo. No
entanto, o jornalismo é o mundo da doxa artefactual. O jornalismo vende como
fato seus artefatos jornalísticos industriais. O jornalismo é um sistema fabril
de fabricação de opinião. Trata-se de um sistema ou conjunto de juízos que a
cultura jornalística elabora em uma conjuntura cultural supondo tratar-se de
uma verdade óbvia ou evidência natural. Tal sistema cultural fabril usa a universidade
pra legitimar seus artefatos. A base do artefato jornalístico é o conhecimento
imediato, intuitivo dos fatos. O jornalismo trabalha com noções. Esta se define
em relação ao conceito. Este caracteriza-se por ser do domínio da episteme. A
noção é o reino da indeterminação, da doxa, e o conceito da determinação, da
episteme. Trocando em miúdos, o conceito se define por identificar a estrutura
do fenômeno, ao contrário da noção que é a-estrutural. Mas o conceito é o
fenômeno sem história, a-histórico. Na unidade teoria/prática, o conceito é
teoria sem prática, teoria a-histórica.
Marx inventou o primeiro
contraconceito na história intelectual do planeta. Trata-se do contraconceito
bonapartismo. Tal conceito tem uma estrutura política que é a estrutura do
império francês criado por Napoleão Bonaparte. Ele também tem uma história que
é a condensação do passado e do futuro na conjuntura 1848-1852. E ele resolve o
problema do sujeito na história. Ele é impensável sem as biografias de Napoleão
Bonaparte e do sobrinho Luiz Bonaparte. A história é o passado das gerações
mortas que pesa como chumbo no cérebro dos vivos. E este passado é biográfico e
luta de classes. Sem os camponeses franceses de Napoleão, o bonapartismo é
ininteligível. Marx ainda viveu em uma época na qual o jornalismo estava
subsumido à cultura letrada europeia. “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” foi
publicado primeiro em um jornal antes de se tornar livro.
O PCPT trabalha com
contraconceitos em um claro desafio ao poder político simbólico da cultura
industrial jornalística. Passemos para a demonstração! A noção de oligarquia do
jornalismo é oca, escolástica vulgar, ideologia escolástica inorgânica. A oligarquia
como contraconceito é teoria e história (prática): praxis histórica. A
oligarquia venezuelana tem a propriedade da terra como sua estrutura econômica
basal. Mas ela tem um aspecto político que a sobredetermina. Ela é cultura
política conservadora que se caracteriza como autodefesa contra a inscrição no
país do capital marxista e também do capital davidricardiano. Se o Brasil tem
capitalismo industrial de Engenho, a Venezuela tem ausência de qualquer forma
de capitalismo industrial moderno, exceto a indústria petrolífera
colonial-moderna: capitalismo de commodities. Esta é a causa estrutural do chavismo não
construir um sistema industrial moderno em si no país.
O chavismo é uma revolução
conservadora, pois ele continua por outros meios a história estrutural
venezuelana ao não implantar no país um sistema industrial moderno em si. Mas tal
história é também a destruição (revolução) da oligarquia da terra sem a
articulação de uma agricultura alternativa. Com o chavismo, o campo tornou-se
um deserto econômico produtivo. Qual o contraconceito gerado pelo chavismo. Não
é o bolivarianismo? Trata-se de uma tradição revolucionária populista radical
ligada a Simón Bolívar, ao século XIX. Qual é a estrutura do bolivarianismo
venezuelano? Economicamente, a estrutura se define pela indústria petrolífera,
pelo capitalismo de commodities moderno. Este capital colonial-moderno é tudo
que a Venezuela conhece de capitalismo. Qual a estrutura política do
bolivarianismo?
Henrique Capriles a menciona
intuitivamente ao falar do país como uma política na qual o povo é soberano. A
Venezuela é uma democracia representativa sólida. A crise catastrófica global
venezuelana segue um caminho no qual não há ruptura “institucional”. O problema
maior da Venezuela é o bolivarianismo perder a eleição para o parlamento em
dezembro de 2015. O choque traumático desta eleição parece definir o fim ou não
(parece a eleição vai ser fraudulenta) da conjuntura bolivariana como cultura
política intelectual. Quem decide o fim ou não de tal conjuntura: o povo. A
estrutura política do bolivarianismo venezuelano é a democracia despótica.
Aristóteles a definiu exatamente como hegemonia dos pobres na democracia grega,
democracia direta. A Venezuela definiu a democracia despótica bolivariana como
hegemonia dos pobres na política representativa. No Brasil, o lulismo não foi o
ensaio geral de uma democracia despótica bolivariana soberana na América Latina?
O Nordeste condensou a hegemonia dos pobres na política brasileira. Entre nós,
as eleições presidenciais, no século XXI, se definiam no Nordeste e,
sobremaneira, no sertão. A revolução bolivariana brasileira tem sua
particularidade. A singularidade dela se deve ao fato que o contraconceito é
praxis, história. Lula não é Chaves, Dilma não é Maduro. O Brasil não é a
Venezuela! No entanto, eles são contrasignificantes geoistóricos da América Latina.
Por isso, a história atual do Brasil está no mesmo espaço político da história
da Venezuela. Não há descontinuidade espacial entre a crise brasileira e a
crise da Venezuela. O jornalismo brasileiro é um simulacro de simulação cultural
da modernidade. Seguindo a lógica da modernidade, o jornalismo acredita (e quer
fazer o leitor espectador acreditar) que países são nações soberanas e isoladas
politicamente dos outros países. Ele é
incapaz de metaboliza que o destino político do Brasil está associado ao
destino da Venezuela. Para o jornalismo não existe xifópago político, só xifópago
biológico. Segue meu texto sobre a Venezuela!
CULTURA/WITZ/FHC
VEJA. 26/AGOSTO/2015.
“O sistema político brasileiro
fracassou. E fomos todos responsáveis” (FHC. pg 41)
Habermas crê que a cultura
nacional na democracia para existir efetivamente – ter alguma utilidade prática
na política - tem que ser autêntica, sincera e séria. A cultura judaica tem o
witz (chiste) como um significante elementar do mundo-da-vida tanto para zombar
de si mesma quanto para expressar o quanto pode rir das realidades mais
sombrias e grotescas. No entanto, o witz é um significante ausente na
articulação da política judaica em Israel e no mundo. Mas historiadores judeus
refinados contam a seguinte piada. Depois do Holocausto, o judaísmo resolveu se
constituir em poder mundial colocando em prática as ideias do livro da Okhrana (Rússia)“Os
protocolos dos sábios do Sião”. Trata-se de uma piada de humor negro associada
ao mecanismo do riso do inconsciente político judaico.
A política americana produziu um
witz com Donald Trump como principal candidato do Partido Republicano para a
próxima eleição presidencial? Na cultura
política intelectual, o witz é o avesso do sério. O sério está desaparecendo da
cultura política americana? Candidato negro do populismo democrata sincero,
Obama foi transformado em um witz. Em seu governo, a polícia americana passou a
caçar os negros nas ruas de várias cidades e matá-los. A polícia transformou
Obama em uma piada mundial. A cultura política witz americana começa com Bill
Clinton. No seu gabinete presidencial, a estagiaria Monica Samille Lewinsky ficava
oculta em banquinho realizando felações em Clinton, enquanto ele recebia em
audiência os Senadores da República. Isto foi a causa real do impeachment.
Clinton não foi castrado por um voto. Os Pais Fundadores da republicana teceram
a história americana como história freudiana, história totalitária do homem. Na
história freudiana, o PHALO é o símbolo totalitário da subsunção da história da
mulher à história do homem. A felação em Clinton tinha este sentido que
permaneceu soterrado em camadas de significados produzidos pela cultura
política intelectual americana letrada. Agora, o PCPT torna visível a lógica do
sentido Monica Lewinsky na política americana. Obama negro virou presidente dos
USA por ser homem, e acaba de desintegrar a candidatura de Hillary Clinton
revelando para a nação os e-maisl secretos dela da época em que ela foi
Ministra de Estado. Obama convenceu o vice-presidente Joe Biden a ser o
candidato do partido democrata. A tática de Obama é a autodefesa da história
freudiana, pois Hillary na presidência pode não ser um wizt. Pode significar o
início da transição da história freudiana totalitária witz do homem à história da mulher lacaniana
(não-todo). Este é o segredo atual da política dos USA.
Como a cultura política
intelectual americana foi tomada como modelo para o Brasil, vejamos as
consequências!
A política brasileira é um
complexo witz. Nela, nada é sério. O impeachment de Collor foi um witz. Ele foi
impedido por causa de uma carroça brasileira, um fiat Elba. Depois Itamar
franco na presidência foi o apogeu político do witz. Ninguém esqueceu o
carnaval no Rio no qual uma jovem estava sem calcinha ao lado de Itamar no
camarote. Os rumores da rua diziam que tudo foi armado pelo governo para provar
para o exército que Itamar não era gay - witz mineiro para evitar o golpe
militar de Estado. Os cartazes pedindo a volta dos militares na manifestação de
agosto de 2015 é puro witz. A declaração de FHC supracitada é um witz? Parece
que ninguém levou a sério. Para a cultura política brasileira letrada e
eletrônica, agora, FHC é um witz. Mas FHC fez uma declaração autentica, sincera
e SÉRIA. Como a cultura brasileira vive pelo mecanismo do witz, a mensagem foi
descartada da discussão política entre os políticos, na universidade e entre os
jornalistas como uma piada de mau-gosto.
Além do witz, o outro mecanismo
da cultura brasileira, em geral, é a bobagem: ato ou dito de ou próprio de bobo
(personagem grotesco). Agora, para a cultura política brasileira, FHC é bobo,
só diz bobagens. O incrível aconteceu! FH se tornou uma personagem grotesca da
política e da cultura política intelectual eletrônica. As interrogações mais
cadentes não foram feitas: qual sistema político fracassou? Quem são os
responsáveis? Quais atos desses responsáveis foram a causa do fracasso do
sistema político? E a pergunta mais importante. Se fracassou, o que vai ser da
política brasileira pós-diluviana. FHC falou do diluvio e isso foi banalizado.
A jornalista Cristiana Lobo
deixou escapar que o trabalho do jornalismo eletrônico é a banalização da
política e dos políticos. A política tem que ser vista pelas massas como algo
prosaico-banal. Na crise brasileira catastrófica, a política é apresentada como
a banalização do mal em imagens e palavras na televisão. Pode ser que assim, as
massas passem a acreditar que a crise é algo banal, corriqueiro. Brilhante
tática! O senador Paim presidiu no Senado a criação de uma nova central
sindical na maior crise do sistema industrial-urbano do país. Não se trata da
banalização do sindicalismo brasileiro?
A indeterminação é o outro
mecanismo da cultura brasileira, especialmente, eletrônica. Para esta, o mundo
é indeterminado. Deleuze designou tal mecanismo como a santa produção cotidiana
do jornalismo da besteira para as massas. Assim, a revolução na educação brasileira
não permanece no meio da estrada entre o inútil e o witz?
MODELOS CULTURAIS DA HISTÓRIA
UNIVERSAL NO SÉCULO XXI
http://sustentabilidade.estadao.com.br/…/geral,numero-de-al…
“No estudo de qualquer problema da
história universal, um filho da moderna civilização europeia sempre estará
sujeito à indagação de qual a combinação de fatores a que se pode atribuir o
fato de na civilização Ocidental, e somente na Civilização Ocidental, haverem
aparecido fenômenos culturais dotados (como queremos crer) de um
desenvolvimento universal em seu valor e significado” (Weber).
Não é problemático dizer que o
Ocidente europeu dominou a história universal na modernidade através da ciência
e do capital marxista. Estes são dois fenômenos culturais, mais propriamente
dois fenômenos da cultura política intelectual. A partir do século XIX, o
modelo cultural anglo-saxão foi hegemônico através do capitalismo moderno e do
Império britânico. No século XX, tal modelo entrou em decadência e foi
substituído pelo modelo anglo-americano. Este foi hegemônico com as corporações
capitalistas monopolistas internacionais de Estado e com um Estado
imperial-nacional. O modelo anglo-americano se metamorfoseou no globalismo das
corporações capitalistas mundiais e, no plano político mundial, teve que
dividir o poder mundial com a União Europeia e a China. Nesta conjuntura
histórica, a história universal já é a crise da Civilização Ocidental, pois a
China é uma spaltung no poder mundial.
Em 2008, a crise econômica
internacional já não é mais uma crise econômica! Por quê? Porque o mundo não se
divide mais em esferas separadas e autônomas: economia, política, cultura. A
economia separada das outras esferas é um simples efeito da episteme do capital
moderna! Weber deixa claro que a cultura (cultura política intelectual) é a
individualidade histórica que dá acesso à compreensão do mundo: “poderá ser uma
individualidade histórica, isto é, um complexo de elementos associados na
realidade histórica, que unimos em um todo conceptual do ponto de vista de um
significado cultural”. A economia e a política mundiais associadas em um todo
cultural na realidade histórica é a chave para a autorreflexão sobre o destino
do planeta. Todos culturais mundiais foram o modelo britânico, o modelo
anglo-americano e o modelo do globalismo capitalista que perdeu toda a sua
potência. Ele é, hoje, um cadáver insepulto ideológico.
A crise de 2008 é a crise da
história universal ocidental; não é uma simples crise econômica mundial. Naquela
crise, a China estabeleceu laços sociais com todos os continentes, incluindo a
África. Os economistas vulgares anglo-americanos dizem que tudo se deve à
necessidade chinesa de matéria-prima. Não se deve descartar isso. No entanto, a
China entrou na história universal como um modelo cultural para o planeta.
Agora, este modelo pode se materializar como revolução do ecocapital maoista. A
crise ocidental é a crise da episteme do capital moderno. Os ocidentais acham
que é o fim do planeta, o fim da história universal. Eles não querem acreditar
que se trata do fim da conjuntura histórica da hegemonia ocidental.
No Brasil, em nome do combate à
mudança climática, um bloco político formal se constituiu para destruir a
Floresta Amazônica e as tribos do Xingu. Para tal bloco a Floresta é somente
uma fonte importante da poluição do ar no planeta. Tal bloco é constituído pelo
Estado petista em decomposição acelerada, o capital monopolista internacional
de Estado predatório, a oligarquia financeira mundial, a oligarquia brasileira
do capitalismo de commodities e o Grupo Globo. Este quer convencer as massas
urbanas e rurais que a Floresta tem que ser destruída. Navegador é um programa
da Globo News (com antropólogos e jornalistas da excelente Escola de
Comunicação da PUC) empenhado em aplicar a linha política de força do
brasileirismo como visão de mundo brutal do Grupo Globo concentrado taticamente
na destruição da Floresta Amazônica. Para isso, ele leva pessoal da casta de
ambientalistas mantida por instituições capitalistas alinhadas com o Fórum
Econômico Global que garante que a Floresta polui o ar do planeta e contribui
para o aquecimento global. A crise econômica catastrófica do Grupo Globo está
determinando o alinhamento dele ao bloco político formal petista antiamazônico!
O modelo do ecocapital chinês só
se tornará um modelo universal se ele se transformar no modelo do ecocapital
maoista como revolução mundial que irá tecer a episteme pós-pós-modernista.
Trata-se da revolução mundial da episteme do ecocapitalmarxista. O modelo do
ecocapital ocidental só se transformará em um modelo universal se ele existir
como episteme do ecocapital capaz de substituir a episteme do capital moderna.
O Fórum Econômico Global ainda representa a episteme do capital moderna! O
Ocidente jamais voltará a governar o planeta sozinho!
No Brasil, a crise da realidade
brasileira associada à crise da realidade mundial está fazendo emergir a visão
de mundo brutal da cultura política do brasileirismo vocalizada pelo animal
político eletrônico Grupo Globo. Este quer agenciar o apoio das massas urbanas
e rurais como cúmplices neste crime de lesa-razão contra a natureza e os povos
indígenas. Em um polo oposto ao brasileirismo capitaneado pelo Grupo Globo, o
modelo de cultura judaica se apresenta como um modelo da história universal do
século XXI com tecnologia para resolver a crise hídrica e propor um novo
caminho para a ciência mundial. Acreditando que o modelo cultural judaico é
apenas a continuação, por outros meios, da hegemonia anglo-americana, o modelo
cultural islâmico perde um tempo precioso no combate à Israel. A cultura
política intelectual islâmica (cuja energia mítica narcísica está sendo
subsumida ao instinto de morte do islã político) contém o modelo cultural no
qual as esferas cognitiva, prática e estética não estão fragmentadas e isoladas
de um modo absoluto umas em relação às outras. O modelo cultural
português-pombalino (Marquês de Pombal) do século XVIII tem a força de lei da
tradição. Ele é o avesso do modelo anglo-saxão.
Acredito que está claro que a
história universal se encontra em uma transição para uma outra época histórica.
Os modelos culturais supracitados são a prova de que o planeta não está ou vai
mergulhar no caos milenaristas. O fim da hegemonia do Ocidente na história mundial
não é o fim da história universal.
MODELO CULTURAL BRASILEIRO DO
SIMULACRO DE SIMULAÇÃO
Vou usar o programa “Direito e
Literatura” (TV Justiça, 05/09/2015) para mostrar o funcionamento do modelo
brasileiro de cultura. O coordenador do programa disse: “o pensamento da
polis”! O que é isto? Já mostrei aqui no PCPT que o Príncipe philosophía pensa,
produz as estruturas de pensamento do mundo grego já Ocidental. O que o
coordenador não sabe é que tal Príncipe é um contraconceito/contrasignificante.
O conceito é um artefato da história da cultura intelectual conceitual.
Trata-se de uma unidade formal entre teoria/prática na qual a prática está
ausente. É a filosofia sem prática, a filosofia sem a polis. A sofística é a
prática (polis) sem filosofia na definição socrática-platônica. O
contraconceito/contrasignificante é história da cultura política intelectual. O
significante biográfico Platão é a teoria (filosofia) unida organicamente à
prática: polis. Isto é epistemologia da física historial. Não é cultura do witz
ou retórica filosófica! A epistemologia da física não é cultura witz, de faz de
conta intelectual, de cultura que funciona pelo simulacro de simulação. O
coordenador ou não conhece direito as estruturas de pensamento da física ou as
usa como se fossem dele, e as usa erroneamente.
Passemos para a história moderna.
A ciência moderna é história cultural intelectual até se tornar história da
ciência do capital. A história da cultura política intelectual é a historial da
ciência (teoria) unida organicamente e historicamente ao capital (prática). Um
exemplo heideggeriano. A bombas atômicas jogadas em Hiroshima e Nagasaki são a
prática da física nuclear (teoria). A prática significa sangue jorrado e corpos
em decomposição - no Japão da Segunda Guerra Mundial - como prática da ciência
nuclear do século XX. Os cientistas não são inocentes! Deixo ao leitor a
descoberta de quem é o significante biográfico teórico da segunda guerra
Mundial para o Japão e os USA.
Há no mundo moderno direito sem
prática. Trata-se da história cultural intelectual do direito (sem prática,
escolástico). Então, qual é a prática do direito no mundo moderno? O capital. O
DIREITO DO CAPITAL é o discurso do direito (Lacan) que articula o mundo.
Trata-se do contraconceito de direito que trabalha com o contrasignificante
direito do capital. A cultura do direito brasileira do simulacro de simulação
não vai metabolizar tal contraconceito.
Na história da cultura política
intelectual, quem é o auctor conceitual do contrasignificante? Marx! Ele contraconceituou
o capital e foi além da física econômica (que ele criou) contraconceituando um
fenômeno político: BONAPARTISMO. O significante biográfico do bonapartismo é
Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte. Isto já é parte da prática
bonapartista: a tradição histórica bonapartista como fantasma do passado. O
pensamento bonapartista é o pensamento do Príncipe Bonapartista que tem como
significante biográfico Luís Bonaparte como condensação da cultura política
intelectual bonapartista imperial. E tal pensamento tem como prática a ligação
do bonapartismo com os camponeses franceses (a cultura política intelectual
camponesa ou “imaginário" napoleônico camponês como laço social), a
eleição, em 1848, de Luís para presidente da República – pela maioria dos
eleitores (que é o campesinato) -, a conspiração para destruir a república
democrática, o golpe de Estado e a construção do Segundo Império que os
franceses tem, até hoje, como um fato histórico muito positivo e grandioso.
Será que já está claro para o “Direito e Literatura” que a física historial não
é uma brincadeira? Celso Furtado se disse um vagabundo intelectual (a ideia é
de Rousseau). Isto não é sinônimo de intelectual vagabundo. A física é um campo
produzido por um vagabundo intelectual pois ela foi produzida como
contrahegemonia em relação ao domínio do discurso da universidade (em aliança
com a cultura eletrônica, ou seja, televisão) na cultura política intelectual
brasileira. A física é o avesso da cultura do simulacro de simulação!
Talvez, eu devesse mostrar o
contraconceito/significante de populismo brasileiro. Só farei isto no PCPT
quando o “Direito e Literatura” reconhecer o PCPT como interlocutor público
dele! O modelo da cultura do simulacro de simulação acaba produzindo o
intelectual vagabundo e, parafraseando Lacan, o intelectual canalha
pós-modernista para quem não existe autor, além dele!
O MARXISMO DE CELSO FURTADO
O livro “Criatividade e
dependência na civilização industrial” (1978) articula a cultura intelectual
brasileira ao desenvolvimento do marxismo mundial. Como este fenômeno cultural
pode ter passado em brancas nuvens entre nós? Ainda hoje é necessário provar
que C. F. é o auctor de um pensamento marxista que tornou obsoleto o marxismo
universitário paulista. O mais impressionante é que nem José Guilherme Merquior,
um especialista brasileiro em história do marxismo ocidental, anotou tal fato.
O marxismo de C.F. é uma física
marxista contrahegemônica em relação ao discurso da universidade. Isto é a
definição que Celso para um pensamento que é o pensamento do vagabundo
intelectual. Aqui ele reconstruiu e restaurou a autodefinição de Rousseau como
vagabundo intelectual. O discurso da universidade é o lugar do intelectual
vagabundo; “As páginas que seguem pretendem ser uma antilivro acadêmico. Os
problemas aí abordados são demasiados amplos para caber nos tubos de ensaios
das ciências sociais”. Enquanto o marxismo da USP transcreveu/cooptou/traduziu
o marxismo para o campo da sociologia (discurso da universidade), o vagabundo
intelectual restaura a linha de força cultural que liga o marxismo brasileiro
ao marxismo de Marx. Não foi um acaso Marx ter abandonado a universidade alemão
depois de ter feito sua tese de doutorado que ele não defendeu. Este ato de
Marx é o primeiro ato que funda a vagabundagem intelectual rousseauniana como
um fato/artefato que contrapõe a cultura política intelectual em si ao discurso
da universidade.
A física marxista de C.F. começa
com a definição do capital marxista como uma máquina de guerra econômica-cultural-política-técnica.
Para Celso, o conceito de capital deve ser definido como condensação das
relações sociais de poder: “A grande empresa deve ser observada como
manifestação de condensação de poder” (pg 44). Neste conceito de corporação
capitalista transnacional, C. F. faz a junção de Marx com o Poulantzas
pós-estruturalista do livro “O Estado, o poder, o socialismo”. Trata-se do
Poulantzas contratotalitário! C. F. diz: “Se deixarmos de lado a visão
economicista do capitalismo industrial como simples forma de organização da produção
e o observarmos como sistema de organização social, captamos sem dificuldade o
real significado da considerável concentração de poder que hoje o caracteriza”
(pg. 43).
Mas a genialidade de Celso
aparece no seu contraconceito de capital como uma máquina de guerra
econômica-cultural-política-técnica. O capital faz uso da violência física e
simbólica para a sua acumulação ampliada mundial; ele tem uma visão-de-mundo
economicista globalizadora criativa que articula a política mundial. Trata-se
do capital como fenômeno da cultura política intelectual como autointerpretação
do mundo científico-estética: “Destarte, o capitalismo industrial é uma forma
de organização social cujo traço dominante é a complexidade da estrutura de
poder, na qual a eficácia e legitimidade competem em múltiplos planos. A
capacidade de iniciativa permanece como fator estratégico, pois a reprodução da
estrutura de privilégios que caracteriza o sistema requer a transformação
contínua deste. Esta é a razão pela qual, não obstante a formidável diversificação
da ação do Estado, as grandes empresas ocupam uma posição predominante: a elas
corresponde o máximo de iniciativas no campo da acumulação e da orientação de
criatividade” (pg 45).
O capital se constitui como
vontade de poder: “A faculdade de transformar o contexto em que atua eleva o
agente à posição de motor do sistema econômico” (pg. 37). Trata-se do capital
como fenômeno político: “Assumindo a criatividade, o agente impõe a própria
vontade, consciente ou inconscientemente, àqueles que são atingidos em seus
interesses pelas decisões que toma. Implícito na criatividade existe, portanto,
um elemento de poder” (Idem). Ainda quanto a política, o capital corporativo
transnacional é o centro de poder hegemônico que articula a política mundial.
O contraconceito de capital só se
torna inteligível associada à história da cultura intelectual da luta de
classes: “Da formidável concentração do poder
econômico, que conduz às sofisticadas formas de controle dos mercados
que vieram a prevalecer, sem a organização das massas trabalhadoras e a
combatividade que historicamente demonstraram, a evolução do capitalismo
industrial muito provavelmente teria seguido uma linha de maior concentração de
renda, possivelmente combinada com uma mais vigorosa expansão externa, ou mais
amplo gastos de prestígio, agressão externa ou coisa similar” (pg. 42). A luta de classes é
constitutiva do contrasignificante capital. C. F. é o mais dialético e materialista dos marxistas americanos.
O contraecomicismo de C. F. se
autoafirma na caracterização do valor da força-de-trabalho pela cultura
política intelectual. Há uma periodização a fazer. Primeiro, o valor da
força-de-trabalho era definida exclusivamente pela cultura nacional. Na era do
capitalismo corporativo transnacional, ela é definida no espaço-tempo da
interseção da cultura política intelectual capitalista mundial com as culturas
nacionais. Para concluir por enquanto, Celso contraconceituou o significante
cultura política intelectual inscrevendo nele o fenômeno econômico. Com C. F.,
a cultura política intelectual torna-se um contrasignificante como
autointerpretação da forma como é apropriado e utilizado o excedente social. A
cultura como autointerpretação da realidade econômica constitui também o nível
de acumulação, o qual condiciona a produtividade física do trabalhador (pg.
52). A produtividade do trabalho é também um problema econômico de
autointerpretaação da cultura política intelectual em um espaço no qual não há
descontinuidade ente o nacional e o mundial!
Celso Furtado escreve sobre uma
visão-de-mundo do capital na qual a arte está associada à física econômica. A
Criatividade do capital é o sintoma de que existe uma arte do capital, uma
estética do capital!
NAÇÃO E CAPITAL
As “Teses sobre Feuerbach”
constituem o modelo cultural para a leitura da história universal e, mutatis
mutandis, para a releitura da história mundial moderna. A periodização
histórica deve ser fixada a partir da inflexão entre os tipos de unidade
teoria/prática. Na Tese 11, a prática significa revolução.
A transição para o modo de
produção especificamente capitalista ou modo de produção capitalista industrial
(MPCI) vai do século XV ao século XIX. Ela começa com a revolução burguesa do
capital mercantil. A teoria deste capital é dada pelo pensamento militar em
junção com a ciência/técnica da navegação de longo curso. Trata-se da técnica
da cultura política intelectual naval que significa o desenvolvimento da
cartografia etc. O capital mercantil é a
matriz epistêmica do capital como máquina de guerra econômica-cultura-política
e técnica. Ele é uma articulação do poder naval do Império português que pôs em
cheque, no Sul da Ásia, o poder do Império Otomano. A lógica de acumulação do
capital mercantil é mundial e tal lógica o articula como máquina de guerra de
pilhagem da riqueza dos povos incluindo a pilhagem do trabalho indígena e
africano: escravidão. O capital mercantil é uma máquina de guerra econômica que
usa da violência física e simbólica para a acumulação de excedente. Tal era
moderna vai do século XV ao século XIX. E depois?
No século XIX na Inglaterra surge
ex nihilo o modo de produção capitalista industrial. A lógica da acumulação
industrial nacional subsume a lógica da acumulação mundial mercantil. A NAÇÃO
DO CAPITAL MODERNO INDUSTRIAL altera o quadro global do poder mundial. Marx
designou tal fenômeno como dominação dos povos bárbaros pela civilização
industrial. Portanto, a soberania do capitalismo realmente moderno – na
política mundial - ocorre como uma revolução burguesa industrial nacional. É
claro que tal revolução não é um simulacro de revolução burguesa nacional. Não
é este o modelo de cultura política intelectual da Europa ocidental (e também
dos USA). O modelo é uma unidade de teoria (ciência moderna nacional) com uma
prática: o capital industrial nacional. A nação é um axioma da episteme do
capital moderna.
Desde o século XIX, a classe
simbólica brasileira identificou o modelo de cultura política intelectual do
Brasil. Eles falaram em lógica do simulacro, pois não poderiam se referir à
lógica do simulacro de simulação. Esta foi revelada pela revolução pós-modernista
da cultura mundial. Os brasileiros escreveram (Joaquim Nabuco e outros) sobre a
política articulada pela lógica do simulacro - da democracia como simulacro no Império.
Com a “revolução republicana” fica claro que a revolução brasileira é regida
pela lógica do simulacro. Machado de Assis pescou este significante escrevendo
que a única mudança na revolução foi a troca do nome da farmácia, em uma rua do
Rio de Janeiro, de império para república. Os economistas e historiadores brasileiros
sempre leram a revolução brasileira como uma revolução efetiva, como algo da
realidade do real como as revoluções europeia e americana. Sociólogos marxistas
paulistas escreveram sobre a revolução burguesa no Brasil como homóloga às
revoluções europeia e americana. As ciências sociais do Brasil evitaram a
revolução epistêmica pó-modernista. Esta permitiu que, finalmente, Joaquim
Nabuco se tornasse inteligível para a contemporaneidade. Mas o fato essencial é
a leitura da economia brasileira com um simulacro de simulação de economia
capitalista moderna.
O capitalismo industrial
brasileiro é um simulacro de simulação de capitalismo moderno industrial
americano ou europeu. O estamento intelectual econômico aplica no Brasil a
teoria econômica (a linguagem científica) dos centros do capitalismo. Trata-se
simplesmente de alienação cultural em relação à realidade brasileira. E também
é um instrumento ideológico de dominação na medida em que oculta a efetiva
realidade brasileira subsumida à lógica do capitalismo do Engenho urbano e rural.
Tal mimese cultural serve à
dominação do capitalismo realmente existente no Brasil: o capitalismo do
engenho da cana-de-açúcar. O estamento intelectual econômico não é
qualitativamente diferente do estamento intelectual imperial do século XIX. São
barões intelectuais. A dominação de tal baronato intelectual acontece pela
aliança do discurso da universidade com a cultura política eletrônica. Os
consultores econômicos de um simulacro de simulação de capital moderno
industrial vão para a televisão dizer que a crise da realidade econômica está
no fim. Eles pretendem agir sobre o espírito da burguesia industrial do Engenho.
No entanto, eles não sabem explicar porque a economia hoje não vai repetir a
lógica do caos econômica da década de 1980.
O mais brilhante historiador brasileiro
da economia, Celso Furtado mostrou que a década de 1970 é a década da soberania
do capital corporativo transnacional (CCT). Neste período estava em formação a
superestrutura tutelar desta mudança da história da cultura política
intelectual mundial. Neste período, o Brasil ignorou tal fenômeno histórico
determinante para a política mundial consolidando seu capitalismo industrial do
Engenho cujo apogeu é a era do general Geisel. Na década de 1990, o CPT é
substituído pelo capital corporativo mundial (CCM) na medida em que a
superestrutura tutelar mundial (poder mundial) se constitui como uma nova
unidade teoria/prática. Todo isto era conhecido no Brasil pelos sociólogos
paulistas que liam Habermas e sua teoria de que a ciência tinha se tornado uma
força produtiva. O CCM foi ignorado na era FHC e na era Lula. Mas o CCM significava
uma nova lógica de acumulação industrial. Trata-se de um imperativo categórico
que determinava que o sistema industrial da reprodução ampliada do CCM articularia
a crise catastrófica do sistema industrial do capitalismo do Engenho. Como
fenômeno político isto significa que o “capital industrial” perde seu lugar
hegemônico, no bloco-no-poder, para o capitalismo de commodities. Esta
hegemonia significa na realidade política crise hegemônica no bloco-no-poder e
do bloco-no-poder em relação à população e à sociedade.
A lógica do caos econômico não se
repeti porque o quadro global das relações de forças “nacional” e mundial é
distinto do quadro da conjuntura da década de 1980. O bloco-no-poder de 1980 não
se encontrava em uma crise hegemônica como o bloco atual. Este bloco não pode
fazer a economia brasileira funcionar pela lógica do caos econômico, pois isto
pode significar o fim do modelo cultural do simulacro de simulação da economia
que é a hiperrealidade que funciona como uma cortina de fumaça que oculta o
modelo de cultura política intelectual conservadora que articula a realidade do
real: o modelo do capitalismo do Engenho urbano e rural.
O ecomarxismo de Celso Furtado
descortinou o modelo cultural do simulacro de simulação do brasileirismo!
Caro FHC, a discussão sobre a
crise brasileira ainda vai durar mais um pouco! Mas ela tem como modelo
cultural o ecomarxismo de Celso Furtado da década de 1970.
CIVILIZAÇÃO
INDUSTRIAL/CAPITAL/SUBCAPITAL
Um elemento de dissipação da
crise econômica da realidade brasileira não é o colapso da ciência econômica
universitária e extra universitária? Tal fenômeno está associado ao
desaparecimento do animal político intelectual quase carismático no seio do
baronato dos economistas. A década de 1950 teve Eugênio Gudin, Roberto Campos e
Celso Furtado. A ditadura militar teve Octávio Gouveia de Bulhões, Delfim Neto
e Mário Henrique Simonsen. As décadas de 1980 e 1990 tiveram grupúsculos
autoafirmativos e narcisistas de jovens intelectuais da PUC/Rio e da UNICAMP.
Na era Lula, nem os economistas quase carismáticos ou os grupúsculos
hipereficientes deram o ar de sua graça. Isto explica porque o médico Antonio
Palocci se tornou o economista-chefe da primeira fase da era Lula. E porque
Mantega se tornou o superministro stalinista da economia após a queda de
Palocci.
O colapso simbólico da ciência
econômica não é um fenômeno da era Lula? Nesta dobra da história, a
universidade se isolou em relação às correntes teóricas internacionais do
centro do capitalismo. Contudo, não é possível que tenha ocorrido um apagão
simbólico da ciência econômica no centro do capitalismo? Os fogos de artifício
laudatórios nos USA para o livro do francês Thomsas Piketty (“O capital no
século XXI”) não é o sintoma da crise da ciência econômica dos países centrais
do capitalismo? Trata-se de um livro que não significa uma revolução
epistemológica na ciência econômica universitária ou fora dela! O livro não
discuti o sistema econômico capitalista do século XXI como cultura política
intelectual do capital. No entanto, ele se interroga sobre um problema basal –
o que é o capital no século XXI? Vou discutir tal problema no Curso sobre Marx
que lecionarei a partir de outubro/2015 na UFRJ. Mas é possível adiantar um
pouco a discussão.
A partir do século XIX monta-se a
civilização industrial. Trata-se da era da soberania do capital industrial
moderno que articulou as nações centrais do Ocidente capitalista. A Nação é um
axioma-mestre da episteme do capital industrial. A razão industrial é o axioma
axial da episteme do capital moderna ao lado de axiomas como: urbanização;
generalização do trabalho assalariado; deslocamento do excedente para o
processo técnico capitalista de acumulação ampliada do capital industrial; a
ciência moderna é a teoria do capital industrial, e este a prática de tal
ciência. Assim, a história do Ocidente é a história do desenvolvimento do
capital industrial.
O processo de desenvolvimento das
forças produtivas implica a concentração do excedente na acumulação ampliada do
capital industrial. Ele é um processo de recriação das relações sociais que se
apoia na acumulação. Isto não é o desenvolvimento como história mitológica.
Como o capital não é uma COISA, e sim condensação de relação social como
cultura política intelectual do capital - a ideia de desenvolvimento não é
somente um artefato da história mitológica do capital.
No século XX, a civilização
industrial se internaliza na periferia. Lênin criou o conceito de dependência
(em contraste como o de colônia) para caracterizar a industrialização da
periferia. Então no século XX temos o centro capitalista (imperialismo) e a
periferia dependente e colonial. Este sistema capitalista entrou em
decomposição com a soberania do capital corporativo transnacional na economia
internacional, na década de 1960 . Esta história ainda não foi escrita como
história da cultura política intelectual mundial do capital. Mas o que
aconteceu com industrialização da periferia, ou melhor, qual é a sua natureza?
A revolução do capital industrial
moderno expande a civilização industrial no centro. Isto são favas contadas! E
a expansão da civilização industrial na periferia dependente? Trata-se de uma
moderna revolução do capital industrial? Não se trata disso!
A civilização industrial se
expande na periferia dependente por meio de um simulacro de simulação de
revolução burguesa do capital industrial. Tal lógica articulou os mais
estranhos fenômenos econômico (subcapital) e político (bloco-no-poder
periférico) e uma cultura política intelectual periférica do subcapital. Esta
articulou-se como história mitológica do desenvolvimento (questão do meu
Curso).
Se a tecnologia é o conjunto de
transformações no sistema produtivo e nas relações sociais que têm como vetor
(transmissão do capital industrial-vírus) a acumulação como modelo de cultura
política intelectual do capital. Se este significa a hegemonia da razão
industrial no uso do excedente na acumulação, é preciso ver, ou seja,
autointerpretar a expansão da civilização industrial na periferia como
revolução burguesa do subcapital. Este é o ersatz do capital industrial moderno
do centro capitalista.
A episteme do capital industrial
moderna do século XX poder ter desaparecida como configuração do RSI
(Real/Simbólico/Imaginário) articulada concretamente como centro (imperialismo
ou império do capital industrial) e periferia - dependente e colonial. Mas isto
não significa que a natureza (physis) do capital industrial periférico foi
alterada. Este continuou como subcapital existindo e funcionando na história da
cultura política intelectual periférica pela lógica do simulacro de simulação,
ou seja, como cultura política intelectual do subcapital. A partir da década de
1990 o capitalismo corporativo mundial tem o capital corporativo mundial como
vetor da economia internacional. Trata-se de uma lógica do capital mundial
industrial que redefiniu o significante desenvolvimento como história em si e
como história mitológica.
Vou adiantar outro comentário. No
CCM, a tecnologia torna-se o discurso da técnica moderna. Este estabelece-se
como discurso do senhor (a ciência como master nas forças produtivas) em
relação às outras formas de capital internacional ou em relação ao próprio
capital corporativo transnacional. Também o CCM subsume o processo de
acumulação do espaço nacional. Ele articula o mundo de um modo integralmente
novo. O Capital Corporativo Mundial é um contrasignificante que existe em uma
dobra tempo-espacial na história da cultura política intelectual mundial do
capital. A cultura política intelectual latino-americana não é capaz de
autointerpretar tal fenômeno porque ele é um fenômeno econômico eclético. A
ciência econômica brasileira é uma máquina quase cultural de guerra disciplinar
e o inimigo dela é o campo de conhecimento transdisciplinar. Ela está
completamente confusa e sem rumo ou prumo. O leitor deve saber que a própria
sociologia americana busca, hoje, o caminho do transdisciplinar.
Enfim no CCM, não há lugar para o
subcapital industrial como um sistema econômico nacional! Entramos em uma era
de transformação política que afeta de um modo fatal o bloco-de-poder dos
países periféricos. O motor de tal transformação é a soberania econômica e a
hegemonia política concreta do capital corporativo mundial na política mundial.
Tal fenômeno está subsumido formalmente ao poder tutelar da hegemonia
abstrata-real do capital fictício mundial (oligarquia financeira mundial) sobre
os blocos-no-poder no centro e na periferia!
A SÍRIA – SPALTUNG DA PHYSIS
PLANETÁRIA
http://brasil.elpais.com/…/09/opinion/1441823162_058030.html
Os especialistas podem dizer os
nomes dos agentes da guerra da Síria para impressionar as formosas jornalistas.
Mas esta percepção nominalista da história do Oriente para deleite da sociedade
do espetáculo “ocidental” fez da cultura política eletrônica um Museu mundial
de atrocidades. Quando o horror da guerra da Síria torna-se um problema europeu
(invasão demográfica do Ocidente pelo Oriente), ele transforma-se em um
problema mundial. Tal fenômeno é a condensação da história universal na
biografia dos sírios-imigrantes. Tal história pode ser concebida a partir das
biografias dos sírios imersos em uma diáspora de magnitude bíblica. Todavia, a
sombra de Moisés está guiando os sírios em direção à Europa pelo mar: o deserto
do povo sírio no século XXI. Para os sírios, a Europa é o jardim do Éden? As
mortes biográficas dos sírios no seu deserto atual (o mar e as praias
europeias) agora estão sendo autointerpretadas – pela cultura política
intelectual ocidental – como parte da história mitológica do homem. Até agora
tais mortes estavam sendo sepultadas no inconsciente político mundial pela
razão do capital que é a razão de uma máquina de guerra
econômica-cultural-politica-técnica. Como isto está ligado à história
universal?
A história universal é a história
da dialética homem versus máquina. Trata-se da história freudiana. Na
civilização arcaica, o Urstaat (modelo divino de todas as máquinas de guerra
sem ele próprio ser uma máquina) era um instrumento ancilar do Rei. Na história
da civilização arcaica, o rei é divino e a fonte da divindade do Urstaat é a
divindade do rei. Trata-se de uma cultura política intelectual poética divina!
A fórmula do Faraó é: “O Urstaat sou eu”. A vida biográfica do rei sustenta a
história como mito. Não é aconselhável separar mito e Deus = Grande Outro.
Trata-se da história mitológica associada ao inconsciente político ariano, ao
homem ariano como desejava o fascismo alemão. A história universal do homem é a
condensação dela na biografia do rei. O rei não é o homem criado à semelhança
de Deus, ele é Deus; ele é o campo simbólico, o Grande outro, o discurso do
Outro. Casar com a própria irmã é incesto para o homem prosaico ou poético
secular e/ou religioso e não é incesto para o homem=Deus. O leitor precisa
saber que esta concepção de homem=Deus é um fato/artefato da cultura política
intelectual poética divina de determinados povos da civilização arcaica. Um
modelo de unidade teoria/prática. divino! É um contraconceito da cultura em uma
unidade divina com a physis! Todavia, o Estado como condensação
(personificação) do rei aparece em uma fórmula de Luís XIV: “O Estado sou eu”.
Trata-se da secularização da fórmula do Faraó. Tal fórmula ilumina a cultura
política intelectual patrimonialista se esta for a história como condensação
biográfica do Príncipe patrimonial.
Se concebermos a história da
Alemanha fascista como modelo universal de cultura política intelectual para a
história mundial do século XX, trata-se de uma história como
condensação/personificação da história biográfica de Hitler. Este poderia ter
parodiado Luís XIV e criado a fórmula: “ O Estado alemão sou eu”.
O Estado soviético definitivo é o
Estado stalinista como personificação biográfica da vida de Stalin: “O Estado
russo sou eu”. Hitler e Stalin são parcela da história universal da luta do
homem contra as máquinas de guerra. Trata-se de uma história da cultura
política intelectual mundial na qual o homem é soberano em relação às máquinas
de guerra. Hitler e Stalin usaram toda a violência possível das máquinas de
guerra de um ponto de vista biográfico. A Segunda Guerra Mundial foi decidida
no cerco do exército alemão a Moscou. Quando Stalin resolveu resistir até o fim
ao cerco alemão, e venceu o exército alemão, ele decidiu o fim da Segunda
Guerra Mundial. Neste cerco, Stalin se transformou no animal político
intelectual carismático divino secularizado: “A história secular sou eu”. A
biografia de Stalin é a condensação/personificação da história universal no
século XX. Hoje, as vidas biográficas dos sírios em diáspora no deserto do mar
é a condensação da história universal como dialética da história mitológica do
homem versus a história em si do capital-máquina de guerra freudonietzschiana.
Qual a diferença entre a história síria e a história de Stalin ou Hitler?
Os últimos são parcela da
humanidade como história do inconsciente político ariano do homem. A história
síria é história ariana, pois eles não querem nem a miscigenação espiritual.
Uma Europa ariana tem rechaçado os sírios por este motivo. A Europa quer que os
sírios sejam espiritualmente europeus, arianamente europeus. No entanto, a
bomba demográfica de Hiroshima síria não articula uma outra lógica de sentido
da história universal. Trata-se da passagem da história mitológica do homem
(história do inconsciente político ariano) para a história em si: história da
physis. Como isso é possível? A história síria vive hoje sob a soberania das
máquinas de guerra. Na luta do homem sírio contra as máquinas de guerra, estas
venceram e fizeram da Síria um território de terra arrasada, um cemitério a céu
aberto. A finalidade da história das maquinas de guerra é transformar o planeta
em um deserto (cemitério) para o homem.
Todavia a crise da história
mundial como SPALTUNG DA PHISYS PLANETÁRIA parece indicar um outro caminho.
Trata-se da passagem da história mitológica como dialética entre homem versus
máquina para a história em si. Esta é uma história como teoria/prática na qual
a dialética materialista histórica torna-se a unidade da physis – com autonomia
relativa – entre cultura e natureza. Podemos entrar em uma era na qual a
cultura política intelectual ancore-se no fato biológico, ancore-se na physis.
A história da phiysis começa com a subsunção real do inconsciente político
ariano ao inconsciente político mestiço.
No Brasil, esta é a história
nacional a partir das biografias que lutaram e foram mortas no combate ou
assassinadas em Canudos, no início da história republicana brasileira ariana.
Como história universal, a passagem da história mitológica para a história em
si da physis começa em Canudos. Euclides da Cunha é a voz literária de Canudos
e o princípio da articulação de uma cultura política intelectual mestiça da
physis. O Brasil teceu o modelo universal da cultura política intelectual
mestiça. Na década de 1930, Gilberto Freyre fez a fórmula de tal cultura:
“Somos espiritualmente mestiços”. Como Príncipe mestiço, o animal político
intelectual carismático da physis surgiu no Brasil! Quando o planeta se
transformar em Canudos – “ O Sertão vai virar Mar, e o Mar virar Sertão”. Ou
então o mundo será escrito pela fórmula do físico literário João Guimarães Rosa
no “Grande Sertão: Veredas” – “O sertão está em toda a parte”.
A CRISE DO BOLIVARIANISMO
http://brasil.elpais.com/…/…/politica/1441907504_558221.html
http://brasil.elpais.com/…/internaci…/1441891200_087531.html
O PT faz um trabalho de
propaganda para ocultar que ele transformou a esquerda brasileira em uma
esquerda bolivariana. A nova geração de sociólogos e historiadores pode se
debruçar, mais tarde, sobre este fenômeno. Uma razão do criptobolivarianismo
petista é o fato do chavismo ser a locomotiva bolivariana latino-americana.
Lula jamais conseguiu disputar com Chaves a liderança do bolivarianismo no
continente. Chaves era a voz deste fenômeno para o planeta. Hoje Lula é o líder
bolivariano solitário. Mas continua a negar que é um bolivariano!
Qual é o conceito de
bolivarianismo? Não se trata de populismo latino-americano? Por que o estamento
intelectual – com seus 180000 pesquisadores universitários – acha que pode
ignorar o fenômeno político que conduziu o país para a maior e mais profunda
crise brasileira? O chavismo não conduziu a Venezuela para uma spaltung (quebra)
do mundo venezuelano?
O peronismo renasceu como
bolivarianismo depois da crise catastrófica argentina de 2001-2002. Nestor
Kirchner é o primeiro bolivariano argentino. O bolivarianismo indígena de um
Evo Morales é diferente por ser a Bolívia um país no qual os índios têm um peso
político maior do que os brancos. Uma democracia despótica indígena se sustenta
na bela biografia de Evo Morales que desfechou um golpe de Estado bolivariano
(alterando a Constituição) para se tornar o “Outono do Patriarca” indígena
boliviano! Uma nova forma de Estado está sendo metabolizada na Bolívia – uma
democracia despótica plurinacional indígena bolivariana. Não vou falar da
América Central. Vou dizer algo sobre o conceito!
O bolivarianismo é uma espécie de
populismo. O que é, afinal, o populismo latino-americano? Vejamos o Brasil,
pois neste pais o populismo é uma forma muito desenvolvida. A discussão sobre o
populismo ainda não foi encerrada. No Brasil, o populismo está associado ao
animal político carismático Getúlio Vargas. O jornalista Mario Sérgio Conti diz
que falar de Getúlio é fulanização do populismo. Ele ainda acredita nas leis
necessárias da história que anulam completamente o indivíduo na história. O
leitor deve saber que isto é a concepção de história de Stalin. Pensar o
populismo no Brasil sem Getúlio e o populismo argentino sem Perón é pura
insanidade jornalística. Mas o que é o populismo?
A revolução burguesa na Europa
foi a revolução do capital mercantil, primeiro, e depois a revolução burguesa
do capital industrial. Mas a história do capital não é uma história de
processos abstratos, simplesmente. Certas biografias políticas são a
personificação do capital. Elas costumam produzir choques simbólicos na
história dos povos. (O século XX é inconcebível sem Hitler, Stalin, Mao e
outros animais políticos carismáticos). Uma sociologia marxista diz que Luís
Bonaparte é um efeito da luta de classes. Marx diz que ele não existiria sem o
tio e o imaginário camponês. A luta de classes é um produto da história da cultura
política intelectual modernista. Em Celso Furtado, tal cultura é a cultura do
capital industrial. Há uma estreita ligação entre o desenvolvimento do capital
industrial na França e a biografia de Luís Bonaparte.
A revolução burguesa no Brasil (e
na América Latina) é uma revolução do capital industrial? Em outo texto mostrei
que se trata de uma revolução sub-burguesa, pois é a revolução do subcapital.
Este é instalado pela lógica do simulacro de simulação: modelo/cópia. A cópia é
um ersatz (sub, substituto) que produz o populismo como revolução sub-burguesa.
O populismo getulista é a articulação da subindustrialização brasileira e o
populismo peronista da subindustrialização argentina. E o populismo
bolivariano?
Chaves jamais pensou em uma
subrrevolução venezuelana industrial. Ele não é uma biografia associada a
história da cultura política latino-americana do subcapital industrial. Por
quê? A razão está na era do capitalismo mundial na qual o chavismo está incluído
como um fenômeno estranho a ela. E o Brasil? Lula poderia ter aproveitado a
revolução populista petista _ que o levou ao poder nacional – para integrar o
país no capitalismo corporativo mundial. Ele teria que biograficamente se
tornar um efeito do capital corporativo industrial mundial. Todavia, ele
preferiu transformar o populismo revolucionário petista em populismo
bolivarianista. Antes dele, FHC preferiu dar continuidade ao subcapital
industrial dependente e associado do Engenho de cana-de-açúcar. FHC já
reconheceu seu erro histórico enquanto Lula insiste em manter uma parcela da
América latina sujeita ao, hoje, estado de loucura narcísica bolivarianista.
Tentando eleger, na Argentina, o candidato bolivariano-peronista ele diz,
contrapondo o bolivarianismo ao modelo europeu: “‘Conseguimos um pequeno
milagre com as políticas de transferência de renda, que para alguns eram
assistencialismo ou populismo. Conseguimos que milhões de pessoas pela primeira
vez pudessem comprar o alimento necessário para seus filhos. A primeira coisa
que fiz foi levar todos os ministros a bairros pobres para que vissem como as
pessoas viviam. Sabia que se melhorasse a vida dos mais humildes todos
ganhariam, e as empresas também”. O bolivarianismo é o populismo da era da
crise histórica-estrutural de longa duração do subcapital industrial na América
Latina. Venezuela, Brasil e Argentina são parte dessa história.
O bolivarianismo é a esquerda
latina possuída por uma patologia política (estado de surto narcísico
permanente) que a transforma em um fenômeno irracional do inconsciente político
latino-americano do século XXI.
Mario Sérgio Conti é o mais
bolivariano dos jornalistas bolivarianos. Só os militantes de base do PT
acreditam que o Grupo Globo é o arqui-inimigo do PT. Isto é parte da patologia
política bolivariana brasileira!
Por que o judiciário venezuelano
condenou Leopoldo López - o maior líder oposicionista – a 13 anos de prisão?
ESTAMENTO OLIGÁRQUICO INTELECTUAL
Em outras postagens do PCPT falei
do modo de produção molecular-oligárquico brasileiro de ideias. Trata-se de um
fenômeno cultural periférico-colonial que faz da cultura intelectual um
exercício narcísico que se define por uma lógica de sentido da carreira
intelectual como um negócio da vida privada americanizada. Nem sempre foi
assim.
A desintegração do subcapital
industrial dependente e associado como lógica de sentido da realidade
brasileira (das sociedades dependentes, em geral) transformou o mundo
intelectual em algo subsumido ao estamento oligárquico intelectual. A produção
de ideais desligada da lógica de sentido da realidade (subcapital dependente e
associado) é efetivamente “as ideias fora de lugar “. Portanto, não faz sentido
a existência de um sistema de universidades estatal e privado ou a existência
de 180000 pesquisadores no país. Eles constituem o estamento oligárquico
brasileiro com o seu atual problema crônico de plágio, inclusive nas teses de
doutorado. É preciso fazer de conta que os doutorados brasileiros são parte do
saber criativo do capitalismo corporativo mundial - da cultura política
intelectual do capital corporativo mundial
Na era Lula tal oligarquia
intelectual serviu ao projeto de “hegemonia petista”. Ela adquiriu uma lógica
de sentido política lulista. Em 2015, tal estamento foi enlaçado pela crise
brasileira. No Congresso, o debate sobre o fim da gratuidade da universidade
estatal está acelerando. Uma característica da oligarquia intelectual é que ela
não se constitui como autorreflexão, como simbolização de si em relação à
realidade externa. Ela é autotélica! Para ela, a crise brasileira ou é uma
invenção (interpretação do lulismo sobre a crise) ou é algo que não lhe diz
respeito. Uma pequena burguesia transformada em estamento oligárquico
intelectual vive a vida de um platô narcísico. Para as biografias intelectuais
universitárias, o estamento cultural oligárquico é o espelho de narciso, como
já disse Muniz Sodré. Aparecer na televisão enche as salas de aula, por
exemplo. No Brasil, as ideias não existem como ponto de condensação de energia
narcísica carismática. Daí a inexistência, entre nós, do animal político
intelectual carismático! (Vejam o culto narcísico que a televisão faz em torno
de seus artistas). Ao contrário do Brasil, a produção de ideias é um fenômeno
cultuado pelos europeus ocidentais e, mais ainda, pelos americanos dos USA.
O que fazer?
No capitalismo corporativo
mundial, há o desacoplamento do sistema econômico do subcapital dependente e
associado nacional do espaço de uso do excedente para a acumulação ampliada do
capital corporativo mundial. Isto alterou a lógica de sentido da produtividade
física do trabalho (conceito microeconômico). Os economistas brasileiros não
sabem porque a produtividade no Brasil (e na América Latina) é ridícula. A
produtividade é algo que tem a ver como a condensação do discurso do
capitalista (discurso técnico moderno) na biografia dos trabalhadores.
Traduzindo, trata-se do investimento de parcela do excedente na biografia dos
trabalhadores. Atualmente, isto só se inscreve como lógica de sentido no
espaço-tempo do capitalismo corporativo mundial.
No Brasil esta investigação
começa com Celso Furtado na década de 1970. Meu livro “Capitalismo Corporativo
Mundial” (2002) é uma modesta contribuição ao assunto que ficou conhecida de um
pequeno grupo de leitores. Em relação ao estamento oligárquico intelectual
brasileiro, sou outsiders ou um vagabundo intelectual rousseauniano. Mesmo
participando de pós-graduações jamais encontrei um ambiente favorável para
desenvolver minhas ideias. Agora estou preste a me aposentar. Também jamais consegui
publicar meus livros nas editoras que possuem capital para publicar livros cuja
circulação nacional é garantida. Publiquei em pequenas editoras. As grandes
editoras são parte do monopólio do estamento oligárquico intelectual sobre a
cultura brasileira. Há mais de um ano venho publicando livros digitais que já
abordam a crise brasileira como contraconceito: conceito articulado aos fatos.
Estudei inclusive a possibilidade da desintegração do significante república
brasileira pombalina. Lecionei um curso sobre o tema que acendeu a ira dos
alunos contra a minha fala. Isto aconteceu em 2014. Em 2015, meus dois cursos
ficaram reduzidos à cinco alunos cada um deles.
Estou desenvolvendo o campo
inédito de pensamento FÍSICA HISTORIAL desde a década de 1990. Como ele é feito
no Brasil, não tem valor cultural ou poder acadêmico. A luta oligárquica
narcísica na universidade e na cultura em si bloqueia qualquer tentativa de
revolução epistemológica na ciência brasileira. Isto explica porque o livro
“Criatividade e Dependência na Civilização Industrial” (do primeiro físico
historial brasileiro - Celso Furtado) não obteve mínima repercussão na cultura
letrada brasileira. Trata-se simplesmente do mais importante livro (da física
historial marxista) do marxismo brasileiro feito por um Celso Furtado que
acreditava não ser um marxista, mas apenas um especialista brasileiro em
marxismo.
Hoje, a crise monumental da
oligarquia intelectual pode ser lida como a crise da cultura política
intelectual do subcapital industrial dependente e associado do Engenho. Mas tal
oligarquia vai continuar ignorando (foracluindo) racionalmente tal fenômeno e
reintegrando-o ao inconsciente político brasileiro que está diante de uma
spaltung insofismável! O nosso estamento oligárquico intelectual articula-se
como cultura política intelectual do witz. O witz é o avesso do sério sem ser o
cômico!
Excelente artigo
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