HISTÓRIA DA TV GLOBO
Para tecer a história da cultura
política eletrônica no Brasil tomando com objeto empírico as Organizações
Globo, é necessário definir a periodização histórica como inflexão estrutural
de tal empresa como cultura política e as diferentes conjunturas políticas nas
quais ela exerceu seu poder simbólico. Trata-se de uma investigação para ser
realizada por redes transdisciplinares universitárias (com o auxílio de redes
da alta cultura em si) que aceitem a orientação da física da história. Quando
isso vai acontecer? Parece que não vai! Então resolvemos deixar algumas trilhas
desta investigação na CFF e no PCPT para a novíssima geração intelectual
nacional ou forânea.
Na década de 1980, a Globo era o
artefato hegemônico na cultura eletrônica de massas. Qual a forma política de
tal cultura? Como ela se articulava nos planos econômico, político e cultural
em si? Sob o comando político e intelectual de Roberto Marinho (R.M.), as
Organizações Globo tinham como objetivo tático se constituir em uma corporação
capitalista mundial da cultura eletrônica mundial, sob a chefia administrativa
de Irineu Marinho, filho dileto de R.M: “Com seus 12 mil funcionários – 1500
dos quais dedicados à produção de quase três hora diárias de ficção – a Rede
Globo produz cerca de 80% dos seus próprios programas, sendo a quarta maior
rede privada de televisão do mundo, só atrás das três gigantes norte-americanas
(CBS, NCB e ABC”) [Daniel Herz). O grupo econômico de R.M. tinha uma base
econômica nacional de acumulação de capital sólida. Além da televisão,
emissoras de rádio (AM e FM), jornal, editoras de livros e revistas, R.M.
possuía empresas em diversos ramos: fabrica de bicicletas; indústrias eletrônica
e de telecomunicações; negócios imobiliários, agricultura e pecuária
–destacando-se fazendas na Amazônia - mineração, distribuidora de títulos e valores
etc. R. M. era o nosso Príncipe empresarial eletrônico, o nosso condottieri, a
versão brasileira de 82 anos de César Bórgia. Seu livro de ninar era “O
Príncipe”, de Maquiavel!
Na década de 80, a forma política
da cultura eletrônica Gllobal (sob o poder político de R. M.) não se
apresentava como uma forma de governo tirânico? Na eleição de 1982 para o governo
do Estado do Rio de Janeiro (cidade-fortaleza sede do poder de R.M.), R. M.
articulou com Moreira Franco (PMDB) um assalto ao poder estadual pela fraude
eleitoral. Moreira enfrentava, então, o já antigo populista revolucionário de
esquerda Leonel Brizola, cassado pela ditadura militar. Moreira fraudou (e
César Maia, então brizolista e socialista, desarmou) a fraude computacional da
contagem dos votos no Caso Proconsult. Este episódio teve a participação do
governo do general Figueiredo através do SNI (o abjeto Serviço Nacional de
Inteligência). Este também tentou explodir, durante o governo de Figueiredo (buscando
produzir um assassinato em massa) um show de música da esquerda brasileira na
qual se encontrava a fina flor da juventude carioca da alta classe média do
Leblon e de Ipanema. No episódio da Proconsult, R.M. participou pessoalmente de
tal operação pela ação estratégica da TV e de seu jornal carioca, O Globo. Tal
agir consistia em mentir, manipular, manietar, seduzir a opinião pública no
sentido de impor a interpretação de que a eleição teria acontecido na mais
perfeita normalidade eleitoral. O tirano estava imbuído da vontade política de
cometer vários crimes para defender sua cidadela de seu arqui-inimigo dos
pampas gaúcho Leonel Brizola. Ele colocava em prática a razão prática kantiana
– sem qualquer problema de consciência moral - ao defender como legítimos e
legais os votos roubados de Brizola por Moreira Franco. Para R.M., o Brasil
deveria seguir seu imperativo categórico de R.M. : “Age de tal forma que sua
ação possa ser considerada como norma universal” (Danilo Marcondes). Traduzindo
a lógica kantiana para a física, no meio empresarial, o que define a diferença
entre o empresário em si (normal) e o empresário máquina de guerra econômica é
somente a ética weberiana capitalista. A lógica do imperativo categórico de R.M.
era claramente a lógica da máquina de guerra econômica totalitária: o avesso da
ética weberiana capitalista!
Há uma inflexão na história da
Rede Globo com a passagem de R. M. para o inferno da Divina Comédia, lugar dos
tiranos e das máquinas de guerra? Pode ser que sim! No entanto, há um religare
entre o passado e o presente e o futuro feito pela visão-de-mundo comum entre
eles. A Globo não continua interpretando a realidade brasileira a partir de mesma
visão pombalina do capitalismo do Engenho? A cultura política eletrônica
gllobal não é um ersatz da cultura oligárquico/totalitária do Engenho de
cana-de-açúcar? Trata-se de uma coincidência significativa (Jung) a Globo encontrar-se
na vizinhança do Vale do Paraíba, um solo tático central no Império da episteme
do Engenho? A cultura política gllobal não continua por outros meios – meios
eletrônicos – a cultura totalitária colonial na segunda década do século XXI?
HÁ UMA CRISE MORAL BRASILEIRA?
Vivendo exilado no México, o
filósofo espanhol Adolfo Sanchez Vasquez definiu a moral como um conjunto de
normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento individual
e social dos homens. Há duas dimensões na realidade moral: a) o normativo,
constituído pelas normas ou regras de ação e pelos imperativos que enunciam
algo que deve ser; b) o fatual, dimensão dos fatos morais, constituído por
certos atos humanos que se realizam efetivamente, isto é, que são independentes
de como pensemos que deveriam ser. Os atos que obedecem à lógica ou do
inconsciente freudiano, ou do inconsciente político escapam à esfera moral.
A moral é uma realidade cuja
história depende do desenvolvimento da consciência histórica. Para o indivíduo,
a razão prática (Kant) tem como centro tático o imperativo categórico. No
domínio da razão prática somos livres e, por isso se põe e repõe a questão da
liberdade/moralidade. O filósofo brasileiro Danilo Marcondes fez a melhor
fórmula do imperativo categórico: “Age de tal forma que sua ação possa ser
considerada como norma universal”. O imperativo categórico proíbe os atos que
não podem ser universalizados e, portanto, não admite exceção alguma em favor
de ninguém. No plano coletivo, hábitos e costumes regulamentam o agir? Assim
como o indivíduo, hábitos e costumes só ex-istem em uma determinada cultura
política. Eles não ligam e religam a moral com o inconsciente político? Assim a
moral é uma esfera onde há a junção da consciência histórica com o inconsciente
político. Ela é uma força que se define por ser coerção não-violenta
fisicamente. Mas não escapa de ser coerção como violência simbólica. No plano
do indivíduo kantiano, não há a ideia do agir exemplar da cultura política
romana? (Os filósofos kantianos que me perdoem). O exemplo grandioso dos
políticos, individualmente, (e no plano coletivo da classe dirigente) é uma
força coercitiva não-violenta capaz de modelar a consciência das massas. Aqui
não se trata mais de coerção como violência simbólica. Trata-se de coerção
simbólica não violenta em si. Em discurso no Senado, Cristovam Buarque pregava
no deserto para senadores com ouvidos moucos. Ele dizia que para enfrentar a
crise brasileira há necessidade de exemplos grandiosos. Para os senadores, inconscientemente,
o senador Cristovam é simplesmente uma paródia do senador e filósofo romano Marco
Túlio Cícero. A partir de processos sobre casos individuais que chegam ao STF,
este discute a relação entre direto e realidade brasileira. Há uma relação
estreita entre o plano do direito e o da moral, pois os dois estão sujeitos a
normas que regulamentam as relações concretas entre homens, mulheres e
crianças. Eles regulamentam as relações por meio de normas; postulam uma
conduta obrigatória e devida. Tais normas têm a forma de imperativos. Lacan
associou o imperativo ao gozo. O discurso do Outro diz: goza. O gozo moral e o
gozo do direito não são idênticos? O direito pressupõe coerção física, isto é,
o uso da violência sobre o aparelho repressivo de Estado sobre a população
criminosa. E o discurso moral diz para a população soberana: “goza com a
violência do Estado”. Tal discurso também ordena à população: goza com a
violência simbólica autoaplicada sobre si pela comunidade. Assistindo as
sessões do STF, consigo ver a crise do Estado sendo, de um modo competente e
elegante, minuciosamente analisada. O STF quer ser parte do Estado weberiano
moderno (compartilhar a partir deste uma moral moderna), mas tem que julgar
segundo a realidade do real (Urstaat), ou seja, compartilhar com o Estado em si
uma moral despótica. Assistindo à
televisão, vejo claramente a inexistência da consciência histórica entre nós. A
televisão é um artefato do inconsciente político brasileiro fazendo de conta
que é a consciência histórica da NAÇÃO! A moral ex-iste em uma cultura política
concreta hegemônica. A nossa é a cultura política pombalina do Engenho de
cana-de-açúcar: oligárquica-totalitária colonial.
SOBERANIA/CIÊNCIA POLÍTICA
HETERODOXA
O buraco negro epistêmico
pós-moderno não devorou o significante soberania nacional? A União Europeia é a
uma federação de Estados seminacionais como uma ersatz de império, na lúcida
observação de Raymond Aron. Isso é o plano das relações internacionais. No
plano nacional, a soberania em um sentido jurídico diz sobre a validade de um
sistema de normas em um espaço determinado, ou território. Ela legitima a forma
de governo e o poder de certas instâncias (a soberania da Corte Suprema dos
USA) ou de certos indivíduos que detém o poder de um aparelho (simulacro de
instituição pública) como a Câmara dos deputados no Brasil. Ou então serve para
dissimular o poder da oligarquia política (“elite do poder”) acentuando a
autoridade de um soberano coletivo (o povo) ou impessoal (as leis). Soberana
deve ser a autoridade suprema que faz as leis; soberana é a instância
constitucional que, no caso de uma crise, ou em uma situação excepcional, toma
as decisões necessárias à renovação das instituições e ao bem comum, no quadro
das instituições existentes. Na atual crise brasileira, só a oligarquia
política pode ser esta instância “constitucional” capaz de resolver o estado
permanente de crise política. Soberanos
são aqueles que detém efetivamente o poder supremo, que, de acordo com a
prática regular ou excepcional, tomam as decisões que influenciam o destino da
nação. Na Europa e nos USA, a oligarquia política híbrida tem a posse desse
poder soberano fáctico. No Brasil atual, inexiste tal fenômeno político! Soberana,
finalmente, é a instância que possuiu a law-enforcing capacity – a capacidade
de impor respeito às leis e sanções (pela coerção violenta do aparelho de
Estado) à sua violação: Estado moderno weberiano Tal conceito de soberania tem
que se sustentar na ideia dos homens livres e iguais como cidadãos dentro dos Estados
democráticos. O Brasil se encaixa nessa caracterização acima de soberania?
A soberania tem como finalidade
estabelecer a paz nas nações. Tal paz pode ser de três tipos: equilíbrio,
hegemônica e imperial. Os poderes soberanos podem escolher – em um quadro de
relações de forças global nacional – o equilíbrio de compromisso (mantendo a
autonomia relativa dos poderes); a hegemonia, onde um domina conservando um
mínimo de autonomia para os outros poderes; ou o império, onde um poder
político subsume os outros que perdem inteiramente a sua autonomia e tendem a
desaparecer como centros de decisão política. Itamar e FHC elaboraram o modelo
do equilíbrio de compromisso da oligarquia política híbrida: rodízio do poder
entre esquerda e direita. No poder nacional, Lula e o PT descartaram tal modelo
e metabolizaram um modelo hegemônico onde dominaram a direita como um conjunto
de forças heteróclitas que finalmente se sublevaram em 2015. Nesta leitura, a crise
deste modelo é a essência da crise política. O modelo imperial passou a ser
buscado pelas forças em tela que extrapolaram a “dialética” esquerda/direita.
As forças procuram se constituir enquanto única unidade soberana (soberania
totalitária) com a perda da autonomia das demais. Tal acontecimento abalou a
lógica fáctica dos poderes soberanos, entre nós, fazendo sobressair a natureza
deles. Trata-se de simulacros de poderes soberanos pombalinos que sustentam uma
democracia despótica: democracia pombalina do capitalismo do Engenho. Marina
Silva diz que é preciso defender a democracia in abstrato. Ela ignora a forma
concreta da democracia que é uma democracia despótica - democracia pombalina? Como
pode ser tão cega! Ou ela quer somar forçar com a Veja e se tornar o animal
vocal da oligarquia política brasileira?
ESTADO-NAÇÃO AMERICANO DAS
MÁQUINAS DE GUERRA FREUDIANAS
O livro “Guerras Sujas: o Mundo é
um Campo de Batalha” é a primeira obra-prima da física do jornalismo americano.
Jeremy Scahill faz do Estado americano um objeto jornalístico que pode ser
considerado um artefato simbólico da ciência política heterodoxa, região da
física da história. Tal objeto é concebido como contraconceito Estado-nação
americano das maquinas de guerra em conceituação concreta. O 11 de Setembro é o
ponto de inflexão deste Estado que já estava em conceituação empírica no
governo Clinton com o uso de drones para espionagem no Afeganistão (Editora
Companhia das Letras: 42). A prova da em
conceituação democrática deste Urstaat americano encontra-se no governo Obama
com o uso de drones militarizados para localizar alvos (fixos ou móveis) e
exterminá-los. A famigerada equipe 6 dos SEALS da marinha, que assassinou Osama
bin Laden, foi criada para executar as missões que visavam os Alvos de Grande
Valor: terroristas a serem assassinados, sem misericórdia, em uma ampla
conceituação da doutrina Bush: “o mundo
é um campo de batalha” (guerra). Scahiil diz que o 11 de setembro é a causa dos
neoconservadores produziram uma mudança profunda no aparelho de segurança
nacional americano. Conceitua tal aparelho como uma máquina de guerra (Idem:
92). Mais à frente, ele escreve sobre a relação entre tal aparelho e as
máquinas de guerra distinguindo um e outras. A presença das máquinas de guerra
se faz notar em dois eventos. O primeiro é o ataque seminal do drone NQ-1
Predator a um jipe no deserto do Iêmen que assassinou o americano Ahmed Hijazi,
também conhecido como kamal Derwish. O segundo fato foi o aperfeiçoamento e a
ampliação do campo Lemonnier, nos arredores doo aeroporto de Djibut,
preparando-o para o papel clandestino das operações da JSOC - Comando Conjunto
das Operações Especiais (Joint Special Operations Command) - contra a Al-Qaeda.
Tais fatos eram a face material da doutrina Bush “o mundo é um campo de batalha
global”. Nesta, os Alvos de Grande Valor apontam para um novo direito – baseado
na política americana – de guerra. Serge então a primeira linguagem fáctica do
direito das máquinas de guerra freudianas, que o poder simbólico americano em
junção com o poder político dos USA tornou legítimo na política mundial.
Portanto, uma causa desse direito reativo mundial é a cultura política
totalitária mulçumana: o Islã Político das máquinas de guerra mulçumanas!
O 11 de Setembro permitiu aos
neoconservadores republicanos inaugurarem uma nova conjuntura política mundial
em conceituação histórica. Em 2015, a dialética dominante da política mundial
ainda é a dialética Estado-nação americano das máquinas de guerra versus
totalitarismo islâmico. Com Bush filho, a história americana produziu uma
mudança profunda no direito internacional e, portanto, nas relações
internacionais através de uma alteração na articulação do poder executivo com o
Congresso que remete para a década e 1970. Nesta, o Congresso condenou os
bombardeios do Laos e do Camboja e cancelou a tentativa de Nixon de vetar a Lei
dos Poderes da Guerra de 1973, que limitava os poderes do presidente da
República para autorizar ações militares secretas. Segundo a Lei de Segurança Nacional
de 1947, exige-se que o presidente emita uma autorização antes de qualquer ação
secreta. Com Bush, tais leis tornaram-se leis mortas pelo agir fáctico das
maquinas de guerra. Os neoconservadores usaram o governo Bush para fazer uma
pressão eficaz no sentido da retirada da chancela americana ao Estatuto de Roma
que reconhecia a legitimidade de um Tribunal Internacional de Justiça que foi
reconhecido pelo presidente Clinton no apagar das luzes de seu governo.
A exportação do Urstaat
americano neoconservador para o planeta me leva a pensar o mundo-da-vida
invadido por aparelhos legais e ilegais, formais e informais, normais e
criminosos. O aparelho de segurança nacional americano é um aparelho também ilegal,
informal e criminoso. O aparelho se define por ser uma articulação (e
articulado) por máquinas de guerra freudianas Ele tem hierarquia, é vertical, e
articulado por uma cultura política totalitária que articula o mundo-da-vida. O
aparelho é ligado a redes de aparelho no mundo da sociedade burguesa e ao
aparelho de Estado. No Brasil, o SNI é isso tudo, pois faz serviços para os
burgueses e para os governos e partidos. O aparelho pode estar presente em um
edifício de moradia de 20 andares que tem mais de 15 "funcionários",
e na vizinhança através das redes de autoproteção (contra a guerra molecular
urbana) do grande e médio comercio. Ele recruta os funcionários nanomáquinas
guerra (desprovido de genes do medo) para as suas ações. A física conceitua o
controle das grandes cidades por essa materialidade dos aparelhos que são o
solo das máquinas de guerra freudianas. A física da história é, de fato, o novo
materialismo na cultura filosófica mais rigorosa sem contradição in adjecto!
A SOCIOLOGIA HETERODOXA DA USP
Um livro pode ser um evento capaz
de gerar um ponto de inflexão na cultura política? O contraconceito de
hegemonia define-se pela articulação de cultura intelectual e cultura política.
Hegemonia é um contrasignificante em conceituação permanente através da
constituição e reprodução do bloco histórico epistêmico. Leio José de Souza
Martins desde a década de 1980. Seus livros sempre constaram da bibliografia de
meus cursos de sociologia política brasileira, na UFRJ. Por isso, me espantei
ao ler “Linchamentos – a justiça popular no Brasil”. É indescritível a
distância estrutural (abissal) entre “ O poder do atraso. Ensaios de sociologia
da história lenta”, da década de 1990, e o “Linchamentos”, de 2015. Com este
livro, Martins restaurou a possibilidade da USP se tornar novamente hegemônica
na cultura política brasileira. Ele surge como o herdeiro da hegemonia da USP
(quebrada na década de 1990), legítimo herdeiro de Antônio Cândido, Florestan
Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso.
“O Poder do Atraso” é um livro da
sociologia disciplinar universitária que acenava com um rompimento como o
modernismo uspiano da Semana de Arte Moderna. Ele se declara ligado à tradição
sociológica conservadora de um Oliveira Vianna (e veladamente de Gilberto
Freyre). Martins sempre foi um scholar
em si em permanente sublevação
sociológica. Um enfant terrible da sociologia da USP. O livro supracitado é o
espelho de uma sociologia disciplinar que foi material e espiritualmente
absorvida pelo buraco negro epistêmico pós-modernista. O livro também produziu
a narrativa sociológica de seu desmoronamento. Ele cria uma identidade absoluta
entre patrimonialismo e privatismo revelando assim uma leitura precariamente
(para um mestre da sociologia do conhecimento) sociológica e ideológica de
Raymundo Faoro, Oliveira Vianna e Gilberto Freyre. Tal identidade absoluta faz
com que o leitor não consiga distinguir entre o urbano e o rural na realidade
brasileira. Assim, ele parece não ter entendido a estatura (envergadura) e
função na cultura política (e na política em si) do significante oligarquia
brasileira. De sobejo, ele cria um reducionismo sociológica da realidade
colonial que se repete no final do século XX); ele reduz a cultura política
brasileira à obscena lógica do favor.
O “Linchamentos” é o momento da
refundação da sociologia heterodoxa brasileira. Ela é matéria liberada pelo
buraco negro pós-modernista. Como José de Souza Martins não sabe nada do
pós-modernismo, ele é o sujeito que cria a sociologia heterodoxa paulista como
efeito do inconsciente político brasileiro; o auctor é, com efeito, um
contrasignificante. Ele acredita que a sociologia trabalha com fatos capturados
pela linguagem comum que são recriados sociologicamente. Ele não entendeu o
conceito de artefato sociológico? O corte epistêmico (político) - que é a causa
da sociologia heterodoxa do século XXI - não tem como ser lido por qualquer
sociologia do conhecimento. Isso é o autoengano sociológico de Martins que é
movido pela vontade de convencer o leitor de uma evolução entre sua sociologia
disciplinar e sua atual sociologia heterodoxa. Ele não sabe que sabe que a
sociologia heterodoxa é ex nihilo? O buraco negro epistêmico gera a fundação da
cultura política ex nihilo. No essencial, Martins se estabelece como o
interlocutor, no Brasil, do campo da física da história, particularmente de uma
região deste campo: a ciência política heterodoxa.
CELSO FURTADO/INTELECTUAL
HEGEMÔNICO MUNDIAL
A crise brasileira é
sobredeterminada pela crise econômica. Não se trata de determinismo econômico
como princípio da realidade freudiano. Este princípio define uma realidade
econômica como poder repressivo ao qual as sociedades têm que necessariamente
se submeter. A cultura política possui uma autonomia relativa em relação à economia.
Portanto, ela é capaz de definir o rumo para os países como contrafluxo
econômico contornando o princípio freudiano da realidade econômica. Mas a
cultura política se desenvolve em sua junção com a cultura intelectual de um
país que é parte da cultura intelectual mundial. O desenvolvimento da cultura
política intelectual pressupõe que os intelectuais saibam qual intelectual (ou
rede de intelectuais) ocupa o lugar hegemônico. Em 2015 no Brasil, a cultura
intelectual não sabe que sabe qual é o seu centro hegemônico. Este existe na
história da cultura intelectual como lógica do fantasma do passado que precisa
ser atualizado na conjuntura intelectual do século XXI!
Celso Furtado é um
fantasma-hegemônico a partir do qual a cultura política intelectual deveria se
organizar e articular o presente? Esta discussão não pode ser o monopólio do
estamento intelectual econômico! Eles desprezam Furtado! Furtado criou o campo da
economia política heterodoxa, um campo eclético que não teve um efeito
determinante sobre a cultura política intelectual econômica, por ser ele um
pensador da periferia do capitalismo. A cultura política intelectual mundial
continua mantendo a relação centro/periferia através do desenvolvimento
desigual e combinado dela que articula hegemonia cultural do centro (USA/Europa
ocidental) sobre a periferia.
O livro “O mito do
desenvolvimento econômico” de 1974 deveria ter causado uma mudança na ciência
econômica mundial. Não causou! Por quê? No Brasil, a cultura intelectual ainda
não entendeu a lógica de seu desenvolvimento como cultura política que consiste
em se organizar e se articular a partir do intelectual hegemônico. É a cultura
política intelectual nacional (ou regional) que causa a mudança na cultura
política intelectual mundial. Neste sentido, a cultura política intelectual
brasileira (e latino-americana) ainda não saiu do grau zero! No Seminário XVII,
Lacan concebeu o conceito de episteme do discurso do mestre transformado na física
da história freudiana no contraconceito de episteme política. No momento que
Lacan articulava a episteme como paradigma filosófico-histórico, Furtado articulava
a episteme econômica também como paradigma filosófico-histórico. Ele parte da
ideia de que o mito é constitutivo da história econômica do capitalismo. Ele
roça a ideia do mito como energia mítica! A cultura política intelectual
trabalha com o mito articulado por um conjunto de axiomas (fantasmas do passado
ou do futuro) que tem a função de manter o funcionamento concreto da acumulação
ampliada de capital em escala planetária. Nas palavras de Furtado: “Os mitos
têm exercido uma inegável influência sobre a mente dos homens que se empenham
em compreender a realidade social”. Os intelectuais modernos “têm buscado apoio
em algum postulado enraizado num sistema de valores que raramente chegam a
explicitar. O mito congrega um conjunto de hipóteses que não podem ser
testadas”. Só a história pode desfazer o mito como laço social RSI
(Real/Simbólico/Imaginário). Mais ainda: “Assim, os mitos operam como faróis
que iluminam o campo de percepção do cientista social, permitindo-lhe ter uma
visão clara de certos problemas e nada ver de outros, ao mesmo tempo que lhe
proporciona conforto intelectual” (Furtado: 15). Primeiro o mito do progresso
articulou a cultura política intelectual para manter a acumulação ampliada de
capital à escala mundial. É a época da hegemonia econômica inglesa sobre o
planeta. Depois o desenvolvimento econômico é o mito ersatz que continua o mito
do progresso econômico. Trata-se do mito de que as economias periféricas
poderiam, um dia, alcançar o desenvolvimento econômico dos países centrais. Tais
mitos eram parte da episteme capitalista desenvolvidos pela cultura política
mundial no centro e na periferia. No mundo contemporâneo, tais mitos foram
desintegrados! E agora José, a festa acabou! Na conjuntura atual, as culturas
políticas intelectuais passam por uma profunda crise nos países centrais:
apagão simbólico. Mas nota-se um esforço para uma nova articulação de um bloco
histórico epistêmico mundial intelectual que realize a produção epistêmica do
capitalismo do século XXI. Por isso a rede intelectual mundial Thomas Piketty
foi tão festejada pelo “Fórum Econômico Mundial”. Mas se trata de fumos
machadianos (Machado de Assis), ou seja, de um fantasma oco de significações,
incapaz de articular o lugar hegemônico da cultura política intelectual (econômica)
mundial. Este lugar ainda continua sendo o lugar de um outro fantasma pleno de
significações no século XXI: o nosso Celso Furtado que criou a contraciência
econômica eclética!
FASCISMO JUDEU
O progresso da cultura política totalitária
mundial não se dá apenas com o Islã Político no Oriente Médio. O PCPT vai
também tratar do fascismo judeu em todos os cantos do planeta. Mas a matriz
histórica-epistêmica do totalitarismo judeu encontra-se em Israel. Claro que o
totalitarismo judeu não abarca toda a comunidade judaica mundial. Mas ele tem
sido eleito como a melhor forma de governar Israel há mais de uma década. A
cultura totalitária judaica construiu um Urstaat israelense com fortes
características bíblicas (do velho testamento), com a mesma voz de um Deus
(seer judeu) que elegeu os judeus como o povo escolhido por ELE na terra para
governar a política mundial em seu nome e com a mesma disposição do uso da
violência física (e simbólica) sem limite contra o INIMIGO do povo eleito. O
Deus da cultura judaica totalitária é uma máquina de guerra apocalíptica que
despeja sua violência física abjeta sobre os palestinos, desde que estes foram
expulsos de sua terra sagrada, tradicional, histórica, mitológica. No Oriente
Médio, o Islã Político e o Fascismo Judeu constituem um ser político xifópago:
cultura política nazista sagrada, religiosa. Este texto é apenas a introdução
ao tratamento que o PCPT vai dar ao totalitarismo fascista: judeu e islâmico
político! Agora, o fascismo judeu está se voltando contra a própria população
de Israel deixando o primeiro-ministro fascista Benjamin Netanyahu em uma
situação delicada. As declarações cínicas de Benjamin defendendo a democracia
israelense são a prova e que o fascismo judeu constitui uma máquina de guerra
bíblica apenas contra o povo palestina e os países inimigos do oriente Médio? “Um
judeu ultraortodoxo causou pânico nesta quinta-feira durante a parada do
orgulho gay de Jerusalém ao esfaquear seis pessoas em pleno centro da cidade. O
agressor, que foi imediatamente detido, havia saído da cadeia há duas semanas
depois de cumprir uma pena de dez anos por uma agressão semelhante em 2005,
informou a polícia israelense”. O Judeu ultraortodoxo que atacou a parada do
orgulho gay não é um criminoso comum. Ele não representa a cultura política
judaica bíblica fascista a qual Benjamin Netanyahu está ligado por fios
religiosos invisíveis? A BBC
diz que: “No entanto, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que
controla a Cisjordânia, afirmou que o governo de Israel é "totalmente
responsável pelo assassinato brutal" do menino.
A QUESTÃO JUDAICA
Um livro da juventude Marx, a
“Questão Judaica” é o mais brilhante texto sobre a cultura política burguesa
(capitalista). Tal cultura está contida na Declaração dos direitos do homem,
etc., de 1795. A liberdade é o direito de fazer e empreender tudo aquilo que
não prejudique os outros. Então, a liberdade é o conceito de justiça de
Sócrates: não prejudicar ninguém. Mas na cultura política capitalista tal
liberdade (justiça) é a liberdade do homem como de uma mônoda isolada, dobrada
sobre si mesma. Trata-se do homo clausus. Por que Freud construiu o campo
freudiano a partir do homo clausus? Ele edificou a psicanalise a partir da
cultura política capitalista. O notável psicanalista carioca Chaim Samuel Katz pode
responder a esta questão? Na cultura capitalista, “A aplicação prática do
direito humano da liberdade é o direito humano à propriedade privada”. O
direito humano à propriedade privada, portanto, é o direito de desfrutar de seu
patrimônio e dele dispor arbitrariamente, sem atender aos demais homens. A
segurança existe para garantir a liberdade capitalista. Ela é o conceito social
supremo da sociedade burguesa, o conceito de polícia. Isso significa que toda
sociedade somente existe para garantir a cada um de seus membros a conservação
de sua pessoa, de seus direitos e de sua propriedade. A psicanalise não faz sua
clínica baseada nesse axioma? A concepção capitalista de política é que esta
serve a garantia dos direitos humanos, dos direitos do homem individual. Como
corolário, a revolução política é a revolução da sociedade civil, da sociedade
capitalista. Ela suprimiu o caráter política da sociedade civil feudal. A
revolução capitalista significa que a emancipação política é a emancipação da
sociedade capitalista em relação à política. Na cultura política capitalista,
“o homem enquanto membro da sociedade burguesa é considerado como o verdadeiro
homem, como homme, distinto do citoyen por se tratar do homem em sua existência
sensível e individual imediata, ao passo que o homem político é apenas o homem
abstrato, artificial, alegórico, moral. O homem real só é reconhecido sob a
forma de indivíduo egoísta; e o homem verdadeiro, somente sob a forma do
citoyen abstrato”. Os direitos humanos não vão mais além do homem egoísta, do
homem considerado como membro da sociedade burguesa; isto é, do indivíduo
voltado para si mesmo, para seu interesse particular, em sua arbitrariedade
privada e dissociado da comunidade. Na cultura política capitalista, a
revolução política rebaixa até mesmo a cidadania, a comunidade política ao
papel de simples meio para a conservação dos chamados direitos humanos;
portanto, o citoyen é declarado servo do homem egoísta. Também não se considera
como homem verdadeiro e autêntico o homem enquanto cidadão, somente enquanto
burguês. A psicanálise foi feita para o homem burguês? Por que ela ignora o
citoyen?
A revolução política burguesa é a
emancipação política enquanto redução do homem, de um lado, a membro da
sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente, de outro, a cidadão do Estado,
a pessoa moral. O jovem Marx pensou um outro conceito de revolução política
capaz de articular uma contracultura política revolucionária: “Somente quando o
homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como
homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas
relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado
suas “forces propes” como forças sociais e quando, portanto já não separa de si
a força social sob a forma de força política, somente então se processa a
emancipação humana” (Marx e Engels. Obras fundamentales. v. I. Fondo de Cultura
Económica. México,1982).
Para Marx, a revolução política
burguesa se faz contra a cultura despótica feudal. Depois dela é possível
pensar em uma revolução política como emancipação humana. O Brasil não fez sua
revolução capitalista (Florestan Fernandes se equivocou ao tentar provar que
houve uma Revolução Burguesa no Brasil) contra a cultura despótica da episteme
do Engenho de cana-de-açúcar, contra a
ordem colônia oligárquica que se repete no Império, na República e alcança
2015. É possível queimar a etapa da revolução liberal capitalista e entrar
direto na revolução da emancipação humana?
Acredito que crise brasileira vai pôr e repor o pais frente a este problema
ainda na atual conjuntura histórica! Ilegal
CORRUPÇÃO: PESTE MUNDIAL?
Há uma interpretação no Brasil
que a luta contra a corrupção é a luta contra uma peste simbólica mundial. Este
texto faz a tradução para a física da história do livro “Arte de Furtar
(Editora Nova Fronteira. Autor anônimo. 1992). O livro é a linguagem política
da cultura barroca. Parece que é um livro do século XVII que teve uma ampla
repercussão no século XVIII. A linguagem barroca é o espelho deformado (Pg.
293) da realidade política em si condensada na cultura política barroca. A
linguagem barroca mostra a verdade-imagem da deformação da realidade política.
A deformação pode ser resumida no significante corrupção intrínseco aos grandes
Estados patrimonialistas da era moderna. No entanto, há dois modos de lidar com
tal verdade. O primeiro é o da cultura política portuguesa: “Em Ouguela, lugar
do Além-Tejo, entre Elvas e Campo maior, há uma fonte cuja água não coze a
carne, nem peixe por mais que ferva” (9). Ou na palavra mais cara do anônimo:
“Conforme a estes exemplos, também nos homens há estômagos que não cozem,
muitos manjares, como a fonte de Ougela, o forno de Pombal” (idem). A cultura
portuguesa não metaboliza a verdade da linguagem barroca. Com efeito, ela é um
perpétuo processo de foraclusão da verdade. A cultura política inglesa tem
outra lógica barroca: “Mais me admirou que haja animais que comam e possam
digerir osso mais duros que pedras! Mais que muito, se há aves que comem e
digerem ferro, quais são as emas!” (idem). Trata-se da existência de um
processo de simbolização da verdade na cultura política. A lei da cultura
política é a lógica do desenvolvimento desigual (9). A corrupção progredi de um
modo desigual nos países por causa das distintas culturas política. A cultura
inglesa determinou a evolução do mundo moderno.
A corrupção da elite mundial tem
um desigual desenvolvimento através das elites nacionais. Acreditar que não é
assim significa abolir o conceito de sociedade de classes. A corrupção no
Brasil tem a ver com a presença no bloco-no-poder de uma junção da classe
dirigente com uma fração da classe dominante como fração ilegal, criminosa que
ocupou provisoriamente a lugar hegemônico vazio devido à crise brasileira. Uma
outra fração legal luta para desterrar a fração criminosa da posição hegemônica
no bloco-no-poder. Tal fato é a essência da nossa crise política.
A corrupção também tem que ser
analisada como um significante que tem motores que remetem à história da
antiguidade. Um deles é auri sacra fames: (avidez pelo ouro); ou então, a
cobiça e a fome que os homens têm de riquezas: Crescit amor nummi, quantum ipsa
pecunia crescit. A cultura política moderna se define também por tentar
desligar esse motor. A moral moderna da razão prática é radical com o
axioma-imperativo: “ Age de tal forma que sua ação possa ser considerada como
normal”. Uma tradução do imperativo categórico é: “ou ninguém é corrupto, ou
todos são corruptos”. A episteme política kantiana é a vontade de um corte
epistêmico com a cultura política patrimonialista moderna. O Estado moderno
weberiano (capitalista) seria o significante mais luminar de tal corte. A ética
protestante (sociedade) seria o corte com a patrimonialista ética católica,
religião do Estado patrimonialista.
O outro motor da corrupção é a
“morte bem assombrada”. Os homens querem riqueza para morrerem dignamente,
poderosos. O poder é derivado do crescimento da riqueza (287-288). O homem
nasce nu, desprovido de tudo, e o poder significa acumulação de riqueza que o
torne temido e respeitado em vida, e digno na morte e na memória da comunidade
(287-288). Essa é a definição da elite no poder do anônimo. Na cultura política
cristã, a riqueza da elite obtida pela corrupção era o passaporte dela para o
inferno como homem nu: “do pó viestes, para o pó voltarás”. Trata-se de uma
coerção simbólica não-violenta do cristianismo primitivo helenizado (
preservado na cultura católica até a alta Idade Média) que se tornou um
significante oco de significação política frente o domínio da ética
patrimonialista católica da era moderna. A concepção do Império barroco era:
“crescer até o fim do mundo”! Transformar todas as elites do planeta em
corruptas: avesso da intenção da lógica da razão prática. O Império
patrimonialista mundial português finalmente alcançou a sua forma acabada no
século XXI!
O estamento intelectual jurídico
entre nós ainda não metabolizou que o Brasil jamais foi moderno. Nunca existiu
moral moderna entre nós, pois nunca existiu uma real cultura política moderna,
que é a cultura política capitalista em si. Existiu um simulacro de simulação
de moral moderna ex-istindo em um simulacro de simulação de cultura política
liberal, sustentados na episteme do engenho pombalina! O choque do
pós-modernismo no Brasil significou a absorção pelo buraco negro pós-modernista
da moral e da cultura do simulacro de simulação. Agora a lógica do simulacro
funciona apena como lógica abstrata na comunidade jurídica e na cultura
política eletrônica. O pós-pós modernismo metaboliza a repetição (lúdica,
diferente, sedutora) da cultura política portuguesa da aurora da era moderna
como paradigma da cultura política mundial do século XXI. Isto é a peste
simbólica do século XXI. A cultura portuguesa aparece como causa de um laço
social universal, uma nova configuração RSI (Real/Simbólico/Imaginário) da
realidade concreta dos homens, mulheres e crianças na história do século XXI.
Ela é o fantasma do passado articulando a produção do contemporâneo!
SOBRE A HISTÓRIA DA CULTURA
POLÍTICA INTELECTUAL MUNDIAL
No Ocidente, Platão é o paradigma
do intelectual hegemônico universal, paradigma do intelectual hegemônico
mundial. A influência dele sobre a cultura intelectual grega é inquestionável.
A cultura política romana se constitui também em uma junção com a cultura
grega. Aquela é a base do desenvolvimento da cultura política intelectual
cristã pós-helênica, como atestam vários estudiosos. O truísmo de que toda a
cultura intelectual ocidental é somente constituída de notas de pé-de-página do
pensamento platônico faz algum sentido. Na modernidade, Hegel se apresentou
como o arquétipo do intelectual hegemônico mundial. Isto explica o esforço de
Marx em tomar o lugar dele (hegemônico) na história política mundial: o
marxismo como o avesso materialista do idealismo hegeliano! Se Hegel foi um
pensador restrito à hegemonia europeia, Marx transformou a história da cultura
política intelectual em uma história mundial através de discípulos como Lenin,
Mao Tse Tung e uma miríade de intelectuais espalhados nas várias regiões e continentes.
Marx é o primeiro intelectual associado à revolução política mundial.
A cultura política intelectual
começa com uma molécula em uma cadeia finita de moléculas. Ou então com um nó
nas redes da cultura intelectual. Marx é a molécula que pode ser conceituada
como uma contramáquina de guerra de pensamento mestiça. Hegel conceituou que a
cultura política intelectual se desenvolve através do diálogo e do confronto.
Trata-se de um uso legítimo de violência simbólica para trabalhar o mármore
(matéria-prima de pensamento), e transformá-lo em um campo de pensamento. Qual
campo de pensamento Marx criou? O da ciência marxista da história com regiões
como a da ciência política heterodoxa em si e a da crítica da economia
política, isto é, uma ciência da economia heterodoxa em si. No século XXI, a
abertura do campo da física da história está estabelecendo que Marx fundou a
física da economia política. Contida no livro “O Capital”, o conceito de
episteme moderna capitalista fez dele o físico da história política intelectual
moderna no século XIX. A episteme capitalista é o objeto invisível deste livro
que a física da história (criada no Brasil) está finalmente trazendo para a
claridade. A física da política em si é uma criação de Lenin, (a partir do “18
Brumário de Luiz Bonaparte”) que se condensou na Revolução Russa. Gramsci
articulou a física leninista da política como artefato da cultura política
intelectual ocidental.
A era pós-pós modernista (objeto,
por excelência da física da história) está produzindo novas epistemes que vão
abalar a modorrenta cultura intelectual atual ocidental. A episteme portuguesa
já foi tratada na postagem “Corrupção: peste mundial?” dos PCPT/CFF. Mas o
fenômeno mais espetacular é o desmoronamento da episteme moderna capitalista. O
Anônimo (“Arte de Furtar”) tinha uma visão da gênese dos fenômenos: “E para que
não nos detenhamos em coisa trilhadas, é de saber que no ano que Herodes matou
os inocentes, deu um catarro tão grande no diabo que o fez vomitar peçonha e
desta se gerou um monstro, assim como nascem ratos ex materia putridi, ao qual
chamaram os críticos ‘Razão de Estado’”. A matéria pútrida é a episteme moderna
capitalista que pode resultar no nascimento de ratos ou não. Isto depende da
evolução da história política intelectual do século XXI! O fim de Marx como
intelectual hegemônico mundial parece estar chegando ao fim! O prêmio Nobel de
economia é apenas uma forma ritualística europeia de tentar controlar o lugar
do intelectual hegemônico na cultura política mundial. A defesa do Nobel
Emoticon smile hegemonia) é a baixa comédia de Humberto Eco encenada para atacar
a web, ele que é um lídimo representante da cultura política intelectual
conservadora europeia. Para ele, a voz do Nobel é homóloga a voz da consciência
do seer na cultura política intelectual mundial.
A episteme capitalista pós-pós
modernista aparece como fato, ou seja, como um fenômeno articulado pela lógica
fática (realidade do real). Como se dizia antigamente o significante antecipa o
conceito, o fenômeno é anterior à cultura política intelectual. Assim, busca-se
o intelectual hegemônico mundial a partir do qual irá se organizar/articular as
redes intelectuais da episteme capitalista do século XXI. O desenvolvimento
desigual da cultura política intelectual determina que culturas mais
desenvolvidas serão o celeiro onde surgira o intelectual hegemônico? Como
molécula (contramáquina de guerra de pensamento mestiça, eclética,
transdisciplinar) tal intelectual surgiu no Brasil. Trata-se de Celso Furtado
que recriou e recriou no século XX a física da economia política pós-Marx. Sua
obra é a mina de prata - o El Dourado de Sérgio Buarque de Holanda - que espera
intacta a investigação/exploração da episteme capitalista do século XXI.
Infelizmente, a cultura política intelectual brasileira jamais saiu do grau
zero. O capital (Marx) público que os países desenvolvidos e centrais (USA e
Europa Ocidental) aplicam na cultura política intelectual não está disponível
no Brasil e na América Latina. A elite latino-americana desconhece a função da
cultura política intelectual no desenvolvimento das nações! Trata-se de uma
longa história que os intelectuais da América Latina fazem questão de ignorar.
Isso é o que se passa nesta Babilônia do mundo, onde tudo é confusão e
labirintos! Eles parecem não saber que sabem que isso não resultará em uma
velhice muito descansada e lustrosa, pois neste mundo do século XXI não há
velhice descansada ou lustrosa: Senectus ipsa est morbus!a
FÍSICA DA HISTÓRIA EM MONTESQUIEU
O livro “Grandeza e decadência
dos romanos” é uma obra admirável da física da história da década de 1730.
Grande máquina de pensamento da cultura política intelectual monarquista
moderna, nosso autor pensou a polis romana como uma magnânima máquina guerra
político-militar. Pensou a república romana como uma forma de governo
articulado pelo princípio da guerra contínua (pg. 17). O conceito
técnico-militar de máquina de guerra de assédio às cidades já está em
Montesquieu (17). A republica se desenvolve e desenvolve a cultura da guerra
militar, inclusive tecnicamente como máquina de guerra. Há uma cultura política
intelectual militar romana equivalente a cultura intelectual militar chinesa do
ano 500, aproximadamente, antes de Cristo. A cultura política intelectual
romana militar era uma cultura racional articulada ao inconsciente político
romano: “Não há nada de mais poderoso que uma república onde se observam as
leis, não por medo, não por raciocínio, mas por paixão, conforme sucedia em
Roma e na Lacedemônia: pois que, então, junta-se à sabedoria de um bom governo
toda a força que possa ter uma facção” (30). Razão (polis = instituição
pública) e inconsciente político (lógica faccional, lógica privada) articulados
constituem a fonte de força da cultura política romana.
Tudo em Roma era motivo para desenvolver a arte militar desde o
exercício físico a construções das maravilhosas estradas romanas. A cultura romana era orientada pela lógica do
significante magnânimo em um contraponto à lógica do insignificante (43). No
entanto, a cultura romana possuía os mesmos significantes da cultura política
cartaginesa: o amor da glória, o desprezo da morte, a obstinação em vencer
(28). A diferença entre Roma e Cartago encontrava-se em um significante romano
(inexistente na cultura política cartaginesa) que sobreterminava os demais
significantes da cultura política da guerra militar romana: o amor à guerra
(30). O conceito de cultura política em
estado prático nesse físico do século XVIII é muito claro quando ele mostra que
o incesto no Egito da civilização arcaica era um problema de organização do
poder político articulado pela cultura política: “De qualquer modo, era lei
fundamental da coroa do Egito que as irmãs sucedessem com os irmãos, e, a fim
de preservar a unidade do governo o irmão devia casar-se com a irmã. Ora, é
difícil imaginar algo de mais pernicioso em política do que semelhante ordem de
sucessão, pois todos arrufos domésticos se transformam em desordem de Estado”
(44). Trata-se do conceito de cultura
política manejado por um físico da história. Assim como, o poder republicano
romano era baseado em uma articulação da lei com o inconsciente político
romano, como assinalamos acima. Na atualidade, a União Europeia parece um
epifenômeno do capitalismo neoliberal mundial. No entanto, a unidade da Europa
para além das nações e povos europeus visava desligar a Europa como magna máquina
de guerra militar. A Europa moderna se livrou do Estado de guerra permanente
feudal para cair em uma cultura política da guerra entre os Estados Europeus
articulados, finalmente, como Estados nacionais. No entanto, a Europa máquina
de guerra moderna militar é homóloga à Europa máquina de guerra da antiguidade:
“Como os povos da Europa, nestes tempos, possuem praticamente as mesmas artes,
as mesmas armas, a mesma disciplina e a mesma maneira de fazer guerra, a prodigiosa
fortuna dos romanos nos parece inconcebível” (25). O estado de guerra europeu
permanente da antiguidade não é algo inteiramente estranho à Europa moderna.
Uma versão biologista vulgar da história diria que a guerra está no DNA
europeu!
Para finalizar, vejam o conceito
de imaginário na física de Montesquieu: “Geralmente, não é perda real numa
batalha (isto é, a de alguns milhares de homens) que se mostra funesta a um
Estado, mas a perda imaginária e o desencorajamento, os quais o privam das
próprias forças que a Fortuna lhe deixou” (35). O imaginário como perda de
força, ou melhor, de energia é um genuíno conceito abstrato-concreto da física
da história. Trata-se do imaginário como buraco negro que traga a energia
mítica da cultura política militar: instinto de morte e narcisismo. As causas
da grandeza de Roma consistem na materialização da polis nos magníficos prédios
públicos (arquitetura romana como parte da cultura política intelectual), nos
reis como grandes personalidades políticas e na exaltação da guerra. O amor à
guerra significa uma alta concentração/condensação de energia narcísica na
cultura política intelectual (e militar) em junção com o instinto de morte. Esta
junção de narcisismo e instinto de morte faz da história romana o paradigma
para abordar as outras culturas políticas em diferentes épocas e espaços. Na
República Romana, tal junção atinge seu clímax: “Mas, como a República tinha
seus chefes que mudavam todos os anos e procuravam marcar sua magistratura pra
obter outras, a ambição não podia perder um minuto; eles instavam o Senado a
propor a guerra ao povo e apontavam-lhe diariamente novos inimigos” (16). É
possível estabelecer um paralelo com a cultura política da guerra dos USA?
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