quarta-feira, 12 de agosto de 2015

FÍSICA DA HISTÓRIA EM MONTESQUIEU E EM CELSO FURTADO

HISTÓRIA DA TV GLOBO
Para tecer a história da cultura política eletrônica no Brasil tomando com objeto empírico as Organizações Globo, é necessário definir a periodização histórica como inflexão estrutural de tal empresa como cultura política e as diferentes conjunturas políticas nas quais ela exerceu seu poder simbólico. Trata-se de uma investigação para ser realizada por redes transdisciplinares universitárias (com o auxílio de redes da alta cultura em si) que aceitem a orientação da física da história. Quando isso vai acontecer? Parece que não vai! Então resolvemos deixar algumas trilhas desta investigação na CFF e no PCPT para a novíssima geração intelectual nacional ou forânea.  
Na década de 1980, a Globo era o artefato hegemônico na cultura eletrônica de massas. Qual a forma política de tal cultura? Como ela se articulava nos planos econômico, político e cultural em si? Sob o comando político e intelectual de Roberto Marinho (R.M.), as Organizações Globo tinham como objetivo tático se constituir em uma corporação capitalista mundial da cultura eletrônica mundial, sob a chefia administrativa de Irineu Marinho, filho dileto de R.M: “Com seus 12 mil funcionários – 1500 dos quais dedicados à produção de quase três hora diárias de ficção – a Rede Globo produz cerca de 80% dos seus próprios programas, sendo a quarta maior rede privada de televisão do mundo, só atrás das três gigantes norte-americanas (CBS, NCB e ABC”) [Daniel Herz). O grupo econômico de R.M. tinha uma base econômica nacional de acumulação de capital sólida. Além da televisão, emissoras de rádio (AM e FM), jornal, editoras de livros e revistas, R.M. possuía empresas em diversos ramos: fabrica de bicicletas; indústrias eletrônica e de telecomunicações; negócios imobiliários, agricultura e pecuária –destacando-se fazendas na Amazônia -  mineração, distribuidora de títulos e valores etc. R. M. era o nosso Príncipe empresarial eletrônico, o nosso condottieri, a versão brasileira de 82 anos de César Bórgia. Seu livro de ninar era “O Príncipe”, de Maquiavel!
Na década de 80, a forma política da cultura eletrônica Gllobal (sob o poder político de R. M.) não se apresentava como uma forma de governo tirânico? Na eleição de 1982 para o governo do Estado do Rio de Janeiro (cidade-fortaleza sede do poder de R.M.), R. M. articulou com Moreira Franco (PMDB) um assalto ao poder estadual pela fraude eleitoral. Moreira enfrentava, então, o já antigo populista revolucionário de esquerda Leonel Brizola, cassado pela ditadura militar. Moreira fraudou (e César Maia, então brizolista e socialista, desarmou) a fraude computacional da contagem dos votos no Caso Proconsult. Este episódio teve a participação do governo do general Figueiredo através do SNI (o abjeto Serviço Nacional de Inteligência). Este também tentou explodir, durante o governo de Figueiredo (buscando produzir um assassinato em massa) um show de música da esquerda brasileira na qual se encontrava a fina flor da juventude carioca da alta classe média do Leblon e de Ipanema. No episódio da Proconsult, R.M. participou pessoalmente de tal operação pela ação estratégica da TV e de seu jornal carioca, O Globo. Tal agir consistia em mentir, manipular, manietar, seduzir a opinião pública no sentido de impor a interpretação de que a eleição teria acontecido na mais perfeita normalidade eleitoral. O tirano estava imbuído da vontade política de cometer vários crimes para defender sua cidadela de seu arqui-inimigo dos pampas gaúcho Leonel Brizola. Ele colocava em prática a razão prática kantiana – sem qualquer problema de consciência moral - ao defender como legítimos e legais os votos roubados de Brizola por Moreira Franco. Para R.M., o Brasil deveria seguir seu imperativo categórico de R.M. : “Age de tal forma que sua ação possa ser considerada como norma universal” (Danilo Marcondes). Traduzindo a lógica kantiana para a física, no meio empresarial, o que define a diferença entre o empresário em si (normal) e o empresário máquina de guerra econômica é somente a ética weberiana capitalista. A lógica do imperativo categórico de R.M. era claramente a lógica da máquina de guerra econômica totalitária: o avesso da ética weberiana capitalista!
Há uma inflexão na história da Rede Globo com a passagem de R. M. para o inferno da Divina Comédia, lugar dos tiranos e das máquinas de guerra? Pode ser que sim! No entanto, há um religare entre o passado e o presente e o futuro feito pela visão-de-mundo comum entre eles. A Globo não continua interpretando a realidade brasileira a partir de mesma visão pombalina do capitalismo do Engenho? A cultura política eletrônica gllobal não é um ersatz da cultura oligárquico/totalitária do Engenho de cana-de-açúcar? Trata-se de uma coincidência significativa (Jung) a Globo encontrar-se na vizinhança do Vale do Paraíba, um solo tático central no Império da episteme do Engenho? A cultura política gllobal não continua por outros meios – meios eletrônicos – a cultura totalitária colonial na segunda década do século XXI?

HÁ UMA CRISE MORAL BRASILEIRA?
Vivendo exilado no México, o filósofo espanhol Adolfo Sanchez Vasquez definiu a moral como um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento individual e social dos homens. Há duas dimensões na realidade moral: a) o normativo, constituído pelas normas ou regras de ação e pelos imperativos que enunciam algo que deve ser; b) o fatual, dimensão dos fatos morais, constituído por certos atos humanos que se realizam efetivamente, isto é, que são independentes de como pensemos que deveriam ser. Os atos que obedecem à lógica ou do inconsciente freudiano, ou do inconsciente político escapam à esfera moral.
A moral é uma realidade cuja história depende do desenvolvimento da consciência histórica. Para o indivíduo, a razão prática (Kant) tem como centro tático o imperativo categórico. No domínio da razão prática somos livres e, por isso se põe e repõe a questão da liberdade/moralidade. O filósofo brasileiro Danilo Marcondes fez a melhor fórmula do imperativo categórico: “Age de tal forma que sua ação possa ser considerada como norma universal”. O imperativo categórico proíbe os atos que não podem ser universalizados e, portanto, não admite exceção alguma em favor de ninguém. No plano coletivo, hábitos e costumes regulamentam o agir? Assim como o indivíduo, hábitos e costumes só ex-istem em uma determinada cultura política. Eles não ligam e religam a moral com o inconsciente político? Assim a moral é uma esfera onde há a junção da consciência histórica com o inconsciente político. Ela é uma força que se define por ser coerção não-violenta fisicamente. Mas não escapa de ser coerção como violência simbólica. No plano do indivíduo kantiano, não há a ideia do agir exemplar da cultura política romana? (Os filósofos kantianos que me perdoem). O exemplo grandioso dos políticos, individualmente, (e no plano coletivo da classe dirigente) é uma força coercitiva não-violenta capaz de modelar a consciência das massas. Aqui não se trata mais de coerção como violência simbólica. Trata-se de coerção simbólica não violenta em si. Em discurso no Senado, Cristovam Buarque pregava no deserto para senadores com ouvidos moucos. Ele dizia que para enfrentar a crise brasileira há necessidade de exemplos grandiosos. Para os senadores, inconscientemente, o senador Cristovam é simplesmente uma paródia do senador e filósofo romano Marco Túlio Cícero. A partir de processos sobre casos individuais que chegam ao STF, este discute a relação entre direto e realidade brasileira. Há uma relação estreita entre o plano do direito e o da moral, pois os dois estão sujeitos a normas que regulamentam as relações concretas entre homens, mulheres e crianças. Eles regulamentam as relações por meio de normas; postulam uma conduta obrigatória e devida. Tais normas têm a forma de imperativos. Lacan associou o imperativo ao gozo. O discurso do Outro diz: goza. O gozo moral e o gozo do direito não são idênticos? O direito pressupõe coerção física, isto é, o uso da violência sobre o aparelho repressivo de Estado sobre a população criminosa. E o discurso moral diz para a população soberana: “goza com a violência do Estado”. Tal discurso também ordena à população: goza com a violência simbólica autoaplicada sobre si pela comunidade. Assistindo as sessões do STF, consigo ver a crise do Estado sendo, de um modo competente e elegante, minuciosamente analisada. O STF quer ser parte do Estado weberiano moderno (compartilhar a partir deste uma moral moderna), mas tem que julgar segundo a realidade do real (Urstaat), ou seja, compartilhar com o Estado em si uma moral despótica.  Assistindo à televisão, vejo claramente a inexistência da consciência histórica entre nós. A televisão é um artefato do inconsciente político brasileiro fazendo de conta que é a consciência histórica da NAÇÃO! A moral ex-iste em uma cultura política concreta hegemônica. A nossa é a cultura política pombalina do Engenho de cana-de-açúcar: oligárquica-totalitária colonial.   

SOBERANIA/CIÊNCIA POLÍTICA HETERODOXA
O buraco negro epistêmico pós-moderno não devorou o significante soberania nacional? A União Europeia é a uma federação de Estados seminacionais como uma ersatz de império, na lúcida observação de Raymond Aron. Isso é o plano das relações internacionais. No plano nacional, a soberania em um sentido jurídico diz sobre a validade de um sistema de normas em um espaço determinado, ou território. Ela legitima a forma de governo e o poder de certas instâncias (a soberania da Corte Suprema dos USA) ou de certos indivíduos que detém o poder de um aparelho (simulacro de instituição pública) como a Câmara dos deputados no Brasil. Ou então serve para dissimular o poder da oligarquia política (“elite do poder”) acentuando a autoridade de um soberano coletivo (o povo) ou impessoal (as leis). Soberana deve ser a autoridade suprema que faz as leis; soberana é a instância constitucional que, no caso de uma crise, ou em uma situação excepcional, toma as decisões necessárias à renovação das instituições e ao bem comum, no quadro das instituições existentes. Na atual crise brasileira, só a oligarquia política pode ser esta instância “constitucional” capaz de resolver o estado permanente de crise política.   Soberanos são aqueles que detém efetivamente o poder supremo, que, de acordo com a prática regular ou excepcional, tomam as decisões que influenciam o destino da nação. Na Europa e nos USA, a oligarquia política híbrida tem a posse desse poder soberano fáctico. No Brasil atual, inexiste tal fenômeno político! Soberana, finalmente, é a instância que possuiu a law-enforcing capacity – a capacidade de impor respeito às leis e sanções (pela coerção violenta do aparelho de Estado) à sua violação: Estado moderno weberiano Tal conceito de soberania tem que se sustentar na ideia dos homens livres e iguais como cidadãos dentro dos Estados democráticos. O Brasil se encaixa nessa caracterização acima de soberania?
A soberania tem como finalidade estabelecer a paz nas nações. Tal paz pode ser de três tipos: equilíbrio, hegemônica e imperial. Os poderes soberanos podem escolher – em um quadro de relações de forças global nacional – o equilíbrio de compromisso (mantendo a autonomia relativa dos poderes); a hegemonia, onde um domina conservando um mínimo de autonomia para os outros poderes; ou o império, onde um poder político subsume os outros que perdem inteiramente a sua autonomia e tendem a desaparecer como centros de decisão política. Itamar e FHC elaboraram o modelo do equilíbrio de compromisso da oligarquia política híbrida: rodízio do poder entre esquerda e direita. No poder nacional, Lula e o PT descartaram tal modelo e metabolizaram um modelo hegemônico onde dominaram a direita como um conjunto de forças heteróclitas que finalmente se sublevaram em 2015. Nesta leitura, a crise deste modelo é a essência da crise política. O modelo imperial passou a ser buscado pelas forças em tela que extrapolaram a “dialética” esquerda/direita. As forças procuram se constituir enquanto única unidade soberana (soberania totalitária) com a perda da autonomia das demais. Tal acontecimento abalou a lógica fáctica dos poderes soberanos, entre nós, fazendo sobressair a natureza deles. Trata-se de simulacros de poderes soberanos pombalinos que sustentam uma democracia despótica: democracia pombalina do capitalismo do Engenho. Marina Silva diz que é preciso defender a democracia in abstrato. Ela ignora a forma concreta da democracia que é uma democracia despótica - democracia pombalina? Como pode ser tão cega! Ou ela quer somar forçar com a Veja e se tornar o animal vocal da oligarquia política brasileira?        




ESTADO-NAÇÃO AMERICANO DAS MÁQUINAS DE GUERRA FREUDIANAS
O livro “Guerras Sujas: o Mundo é um Campo de Batalha” é a primeira obra-prima da física do jornalismo americano. Jeremy Scahill faz do Estado americano um objeto jornalístico que pode ser considerado um artefato simbólico da ciência política heterodoxa, região da física da história. Tal objeto é concebido como contraconceito Estado-nação americano das maquinas de guerra em conceituação concreta. O 11 de Setembro é o ponto de inflexão deste Estado que já estava em conceituação empírica no governo Clinton com o uso de drones para espionagem no Afeganistão (Editora Companhia das Letras: 42).  A prova da em conceituação democrática deste Urstaat americano encontra-se no governo Obama com o uso de drones militarizados para localizar alvos (fixos ou móveis) e exterminá-los. A famigerada equipe 6 dos SEALS da marinha, que assassinou Osama bin Laden, foi criada para executar as missões que visavam os Alvos de Grande Valor: terroristas a serem assassinados, sem misericórdia, em uma ampla conceituação da doutrina Bush:  “o mundo é um campo de batalha” (guerra). Scahiil diz que o 11 de setembro é a causa dos neoconservadores produziram uma mudança profunda no aparelho de segurança nacional americano. Conceitua tal aparelho como uma máquina de guerra (Idem: 92). Mais à frente, ele escreve sobre a relação entre tal aparelho e as máquinas de guerra distinguindo um e outras. A presença das máquinas de guerra se faz notar em dois eventos. O primeiro é o ataque seminal do drone NQ-1 Predator a um jipe no deserto do Iêmen que assassinou o americano Ahmed Hijazi, também conhecido como kamal Derwish. O segundo fato foi o aperfeiçoamento e a ampliação do campo Lemonnier, nos arredores doo aeroporto de Djibut, preparando-o para o papel clandestino das operações da JSOC - Comando Conjunto das Operações Especiais (Joint Special Operations Command) - contra a Al-Qaeda. Tais fatos eram a face material da doutrina Bush “o mundo é um campo de batalha global”. Nesta, os Alvos de Grande Valor apontam para um novo direito – baseado na política americana – de guerra. Serge então a primeira linguagem fáctica do direito das máquinas de guerra freudianas, que o poder simbólico americano em junção com o poder político dos USA tornou legítimo na política mundial. Portanto, uma causa desse direito reativo mundial é a cultura política totalitária mulçumana: o Islã Político das máquinas de guerra mulçumanas!
O 11 de Setembro permitiu aos neoconservadores republicanos inaugurarem uma nova conjuntura política mundial em conceituação histórica. Em 2015, a dialética dominante da política mundial ainda é a dialética Estado-nação americano das máquinas de guerra versus totalitarismo islâmico. Com Bush filho, a história americana produziu uma mudança profunda no direito internacional e, portanto, nas relações internacionais através de uma alteração na articulação do poder executivo com o Congresso que remete para a década e 1970. Nesta, o Congresso condenou os bombardeios do Laos e do Camboja e cancelou a tentativa de Nixon de vetar a Lei dos Poderes da Guerra de 1973, que limitava os poderes do presidente da República para autorizar ações militares secretas. Segundo a Lei de Segurança Nacional de 1947, exige-se que o presidente emita uma autorização antes de qualquer ação secreta. Com Bush, tais leis tornaram-se leis mortas pelo agir fáctico das maquinas de guerra. Os neoconservadores usaram o governo Bush para fazer uma pressão eficaz no sentido da retirada da chancela americana ao Estatuto de Roma que reconhecia a legitimidade de um Tribunal Internacional de Justiça que foi reconhecido pelo presidente Clinton no apagar das luzes de seu governo.
     A exportação do Urstaat americano neoconservador para o planeta me leva a pensar o mundo-da-vida invadido por aparelhos legais e ilegais, formais e informais, normais e criminosos. O aparelho de segurança nacional americano é um aparelho também ilegal, informal e criminoso. O aparelho se define por ser uma articulação (e articulado) por máquinas de guerra freudianas Ele tem hierarquia, é vertical, e articulado por uma cultura política totalitária que articula o mundo-da-vida. O aparelho é ligado a redes de aparelho no mundo da sociedade burguesa e ao aparelho de Estado. No Brasil, o SNI é isso tudo, pois faz serviços para os burgueses e para os governos e partidos. O aparelho pode estar presente em um edifício de moradia de 20 andares que tem mais de 15 "funcionários", e na vizinhança através das redes de autoproteção (contra a guerra molecular urbana) do grande e médio comercio. Ele recruta os funcionários nanomáquinas guerra (desprovido de genes do medo) para as suas ações. A física conceitua o controle das grandes cidades por essa materialidade dos aparelhos que são o solo das máquinas de guerra freudianas. A física da história é, de fato, o novo materialismo na cultura filosófica mais rigorosa sem contradição in adjecto!      

A SOCIOLOGIA HETERODOXA DA USP
Um livro pode ser um evento capaz de gerar um ponto de inflexão na cultura política? O contraconceito de hegemonia define-se pela articulação de cultura intelectual e cultura política. Hegemonia é um contrasignificante em conceituação permanente através da constituição e reprodução do bloco histórico epistêmico. Leio José de Souza Martins desde a década de 1980. Seus livros sempre constaram da bibliografia de meus cursos de sociologia política brasileira, na UFRJ. Por isso, me espantei ao ler “Linchamentos – a justiça popular no Brasil”. É indescritível a distância estrutural (abissal) entre “ O poder do atraso. Ensaios de sociologia da história lenta”, da década de 1990, e o “Linchamentos”, de 2015. Com este livro, Martins restaurou a possibilidade da USP se tornar novamente hegemônica na cultura política brasileira. Ele surge como o herdeiro da hegemonia da USP (quebrada na década de 1990), legítimo herdeiro de Antônio Cândido, Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso.
“O Poder do Atraso” é um livro da sociologia disciplinar universitária que acenava com um rompimento como o modernismo uspiano da Semana de Arte Moderna. Ele se declara ligado à tradição sociológica conservadora de um Oliveira Vianna (e veladamente de Gilberto Freyre). Martins sempre foi um  scholar em si  em permanente sublevação sociológica. Um enfant terrible da sociologia da USP. O livro supracitado é o espelho de uma sociologia disciplinar que foi material e espiritualmente absorvida pelo buraco negro epistêmico pós-modernista. O livro também produziu a narrativa sociológica de seu desmoronamento. Ele cria uma identidade absoluta entre patrimonialismo e privatismo revelando assim uma leitura precariamente (para um mestre da sociologia do conhecimento) sociológica e ideológica de Raymundo Faoro, Oliveira Vianna e Gilberto Freyre. Tal identidade absoluta faz com que o leitor não consiga distinguir entre o urbano e o rural na realidade brasileira. Assim, ele parece não ter entendido a estatura (envergadura) e função na cultura política (e na política em si) do significante oligarquia brasileira. De sobejo, ele cria um reducionismo sociológica da realidade colonial que se repete no final do século XX); ele reduz a cultura política brasileira à obscena lógica do favor.
O “Linchamentos” é o momento da refundação da sociologia heterodoxa brasileira. Ela é matéria liberada pelo buraco negro pós-modernista. Como José de Souza Martins não sabe nada do pós-modernismo, ele é o sujeito que cria a sociologia heterodoxa paulista como efeito do inconsciente político brasileiro; o auctor é, com efeito, um contrasignificante. Ele acredita que a sociologia trabalha com fatos capturados pela linguagem comum que são recriados sociologicamente. Ele não entendeu o conceito de artefato sociológico? O corte epistêmico (político) - que é a causa da sociologia heterodoxa do século XXI - não tem como ser lido por qualquer sociologia do conhecimento. Isso é o autoengano sociológico de Martins que é movido pela vontade de convencer o leitor de uma evolução entre sua sociologia disciplinar e sua atual sociologia heterodoxa. Ele não sabe que sabe que a sociologia heterodoxa é ex nihilo? O buraco negro epistêmico gera a fundação da cultura política ex nihilo. No essencial, Martins se estabelece como o interlocutor, no Brasil, do campo da física da história, particularmente de uma região deste campo: a ciência política heterodoxa. 

CELSO FURTADO/INTELECTUAL HEGEMÔNICO MUNDIAL
A crise brasileira é sobredeterminada pela crise econômica. Não se trata de determinismo econômico como princípio da realidade freudiano. Este princípio define uma realidade econômica como poder repressivo ao qual as sociedades têm que necessariamente se submeter. A cultura política possui uma autonomia relativa em relação à economia. Portanto, ela é capaz de definir o rumo para os países como contrafluxo econômico contornando o princípio freudiano da realidade econômica. Mas a cultura política se desenvolve em sua junção com a cultura intelectual de um país que é parte da cultura intelectual mundial. O desenvolvimento da cultura política intelectual pressupõe que os intelectuais saibam qual intelectual (ou rede de intelectuais) ocupa o lugar hegemônico. Em 2015 no Brasil, a cultura intelectual não sabe que sabe qual é o seu centro hegemônico. Este existe na história da cultura intelectual como lógica do fantasma do passado que precisa ser atualizado na conjuntura intelectual do século XXI!
Celso Furtado é um fantasma-hegemônico a partir do qual a cultura política intelectual deveria se organizar e articular o presente? Esta discussão não pode ser o monopólio do estamento intelectual econômico! Eles desprezam Furtado! Furtado criou o campo da economia política heterodoxa, um campo eclético que não teve um efeito determinante sobre a cultura política intelectual econômica, por ser ele um pensador da periferia do capitalismo. A cultura política intelectual mundial continua mantendo a relação centro/periferia através do desenvolvimento desigual e combinado dela que articula hegemonia cultural do centro (USA/Europa ocidental) sobre a periferia.
O livro “O mito do desenvolvimento econômico” de 1974 deveria ter causado uma mudança na ciência econômica mundial. Não causou! Por quê? No Brasil, a cultura intelectual ainda não entendeu a lógica de seu desenvolvimento como cultura política que consiste em se organizar e se articular a partir do intelectual hegemônico. É a cultura política intelectual nacional (ou regional) que causa a mudança na cultura política intelectual mundial. Neste sentido, a cultura política intelectual brasileira (e latino-americana) ainda não saiu do grau zero! No Seminário XVII, Lacan concebeu o conceito de episteme do discurso do mestre transformado na física da história freudiana no contraconceito de episteme política. No momento que Lacan articulava a episteme como paradigma filosófico-histórico, Furtado articulava a episteme econômica também como paradigma filosófico-histórico. Ele parte da ideia de que o mito é constitutivo da história econômica do capitalismo. Ele roça a ideia do mito como energia mítica! A cultura política intelectual trabalha com o mito articulado por um conjunto de axiomas (fantasmas do passado ou do futuro) que tem a função de manter o funcionamento concreto da acumulação ampliada de capital em escala planetária. Nas palavras de Furtado: “Os mitos têm exercido uma inegável influência sobre a mente dos homens que se empenham em compreender a realidade social”. Os intelectuais modernos “têm buscado apoio em algum postulado enraizado num sistema de valores que raramente chegam a explicitar. O mito congrega um conjunto de hipóteses que não podem ser testadas”. Só a história pode desfazer o mito como laço social RSI (Real/Simbólico/Imaginário). Mais ainda: “Assim, os mitos operam como faróis que iluminam o campo de percepção do cientista social, permitindo-lhe ter uma visão clara de certos problemas e nada ver de outros, ao mesmo tempo que lhe proporciona conforto intelectual” (Furtado: 15). Primeiro o mito do progresso articulou a cultura política intelectual para manter a acumulação ampliada de capital à escala mundial. É a época da hegemonia econômica inglesa sobre o planeta. Depois o desenvolvimento econômico é o mito ersatz que continua o mito do progresso econômico. Trata-se do mito de que as economias periféricas poderiam, um dia, alcançar o desenvolvimento econômico dos países centrais. Tais mitos eram parte da episteme capitalista desenvolvidos pela cultura política mundial no centro e na periferia. No mundo contemporâneo, tais mitos foram desintegrados! E agora José, a festa acabou! Na conjuntura atual, as culturas políticas intelectuais passam por uma profunda crise nos países centrais: apagão simbólico. Mas nota-se um esforço para uma nova articulação de um bloco histórico epistêmico mundial intelectual que realize a produção epistêmica do capitalismo do século XXI. Por isso a rede intelectual mundial Thomas Piketty foi tão festejada pelo “Fórum Econômico Mundial”. Mas se trata de fumos machadianos (Machado de Assis), ou seja, de um fantasma oco de significações, incapaz de articular o lugar hegemônico da cultura política intelectual (econômica) mundial. Este lugar ainda continua sendo o lugar de um outro fantasma pleno de significações no século XXI: o nosso Celso Furtado que criou a contraciência econômica eclética!  

FASCISMO JUDEU
O progresso da cultura política totalitária mundial não se dá apenas com o Islã Político no Oriente Médio. O PCPT vai também tratar do fascismo judeu em todos os cantos do planeta. Mas a matriz histórica-epistêmica do totalitarismo judeu encontra-se em Israel. Claro que o totalitarismo judeu não abarca toda a comunidade judaica mundial. Mas ele tem sido eleito como a melhor forma de governar Israel há mais de uma década. A cultura totalitária judaica construiu um Urstaat israelense com fortes características bíblicas (do velho testamento), com a mesma voz de um Deus (seer judeu) que elegeu os judeus como o povo escolhido por ELE na terra para governar a política mundial em seu nome e com a mesma disposição do uso da violência física (e simbólica) sem limite contra o INIMIGO do povo eleito. O Deus da cultura judaica totalitária é uma máquina de guerra apocalíptica que despeja sua violência física abjeta sobre os palestinos, desde que estes foram expulsos de sua terra sagrada, tradicional, histórica, mitológica. No Oriente Médio, o Islã Político e o Fascismo Judeu constituem um ser político xifópago: cultura política nazista sagrada, religiosa. Este texto é apenas a introdução ao tratamento que o PCPT vai dar ao totalitarismo fascista: judeu e islâmico político! Agora, o fascismo judeu está se voltando contra a própria população de Israel deixando o primeiro-ministro fascista Benjamin Netanyahu em uma situação delicada. As declarações cínicas de Benjamin defendendo a democracia israelense são a prova e que o fascismo judeu constitui uma máquina de guerra bíblica apenas contra o povo palestina e os países inimigos do oriente Médio? “Um judeu ultraortodoxo causou pânico nesta quinta-feira durante a parada do orgulho gay de Jerusalém ao esfaquear seis pessoas em pleno centro da cidade. O agressor, que foi imediatamente detido, havia saído da cadeia há duas semanas depois de cumprir uma pena de dez anos por uma agressão semelhante em 2005, informou a polícia israelense”. O Judeu ultraortodoxo que atacou a parada do orgulho gay não é um criminoso comum. Ele não representa a cultura política judaica bíblica fascista a qual Benjamin Netanyahu está ligado por fios religiosos invisíveis?    A BBC diz que: “No entanto, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que controla a Cisjordânia, afirmou que o governo de Israel é "totalmente responsável pelo assassinato brutal" do menino.  




 A QUESTÃO JUDAICA
Um livro da juventude Marx, a “Questão Judaica” é o mais brilhante texto sobre a cultura política burguesa (capitalista). Tal cultura está contida na Declaração dos direitos do homem, etc., de 1795. A liberdade é o direito de fazer e empreender tudo aquilo que não prejudique os outros. Então, a liberdade é o conceito de justiça de Sócrates: não prejudicar ninguém. Mas na cultura política capitalista tal liberdade (justiça) é a liberdade do homem como de uma mônoda isolada, dobrada sobre si mesma. Trata-se do homo clausus. Por que Freud construiu o campo freudiano a partir do homo clausus? Ele edificou a psicanalise a partir da cultura política capitalista. O notável psicanalista carioca Chaim Samuel Katz pode responder a esta questão? Na cultura capitalista, “A aplicação prática do direito humano da liberdade é o direito humano à propriedade privada”. O direito humano à propriedade privada, portanto, é o direito de desfrutar de seu patrimônio e dele dispor arbitrariamente, sem atender aos demais homens. A segurança existe para garantir a liberdade capitalista. Ela é o conceito social supremo da sociedade burguesa, o conceito de polícia. Isso significa que toda sociedade somente existe para garantir a cada um de seus membros a conservação de sua pessoa, de seus direitos e de sua propriedade. A psicanalise não faz sua clínica baseada nesse axioma? A concepção capitalista de política é que esta serve a garantia dos direitos humanos, dos direitos do homem individual. Como corolário, a revolução política é a revolução da sociedade civil, da sociedade capitalista. Ela suprimiu o caráter política da sociedade civil feudal. A revolução capitalista significa que a emancipação política é a emancipação da sociedade capitalista em relação à política. Na cultura política capitalista, “o homem enquanto membro da sociedade burguesa é considerado como o verdadeiro homem, como homme, distinto do citoyen por se tratar do homem em sua existência sensível e individual imediata, ao passo que o homem político é apenas o homem abstrato, artificial, alegórico, moral. O homem real só é reconhecido sob a forma de indivíduo egoísta; e o homem verdadeiro, somente sob a forma do citoyen abstrato”. Os direitos humanos não vão mais além do homem egoísta, do homem considerado como membro da sociedade burguesa; isto é, do indivíduo voltado para si mesmo, para seu interesse particular, em sua arbitrariedade privada e dissociado da comunidade. Na cultura política capitalista, a revolução política rebaixa até mesmo a cidadania, a comunidade política ao papel de simples meio para a conservação dos chamados direitos humanos; portanto, o citoyen é declarado servo do homem egoísta. Também não se considera como homem verdadeiro e autêntico o homem enquanto cidadão, somente enquanto burguês. A psicanálise foi feita para o homem burguês? Por que ela ignora o citoyen?
A revolução política burguesa é a emancipação política enquanto redução do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente, de outro, a cidadão do Estado, a pessoa moral. O jovem Marx pensou um outro conceito de revolução política capaz de articular uma contracultura política revolucionária: “Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propes” como forças sociais e quando, portanto já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana” (Marx e Engels. Obras fundamentales. v. I. Fondo de Cultura Económica. México,1982).
Para Marx, a revolução política burguesa se faz contra a cultura despótica feudal. Depois dela é possível pensar em uma revolução política como emancipação humana. O Brasil não fez sua revolução capitalista (Florestan Fernandes se equivocou ao tentar provar que houve uma Revolução Burguesa no Brasil) contra a cultura despótica da episteme do Engenho de cana-de-açúcar,  contra a ordem colônia oligárquica que se repete no Império, na República e alcança 2015. É possível queimar a etapa da revolução liberal capitalista e entrar direto na revolução da emancipação humana?  Acredito que crise brasileira vai pôr e repor o pais frente a este problema ainda na atual conjuntura histórica!   Ilegal
CORRUPÇÃO: PESTE MUNDIAL?
Há uma interpretação no Brasil que a luta contra a corrupção é a luta contra uma peste simbólica mundial. Este texto faz a tradução para a física da história do livro “Arte de Furtar (Editora Nova Fronteira. Autor anônimo. 1992). O livro é a linguagem política da cultura barroca. Parece que é um livro do século XVII que teve uma ampla repercussão no século XVIII. A linguagem barroca é o espelho deformado (Pg. 293) da realidade política em si condensada na cultura política barroca. A linguagem barroca mostra a verdade-imagem da deformação da realidade política. A deformação pode ser resumida no significante corrupção intrínseco aos grandes Estados patrimonialistas da era moderna. No entanto, há dois modos de lidar com tal verdade. O primeiro é o da cultura política portuguesa: “Em Ouguela, lugar do Além-Tejo, entre Elvas e Campo maior, há uma fonte cuja água não coze a carne, nem peixe por mais que ferva” (9). Ou na palavra mais cara do anônimo: “Conforme a estes exemplos, também nos homens há estômagos que não cozem, muitos manjares, como a fonte de Ougela, o forno de Pombal” (idem). A cultura portuguesa não metaboliza a verdade da linguagem barroca. Com efeito, ela é um perpétuo processo de foraclusão da verdade. A cultura política inglesa tem outra lógica barroca: “Mais me admirou que haja animais que comam e possam digerir osso mais duros que pedras! Mais que muito, se há aves que comem e digerem ferro, quais são as emas!” (idem). Trata-se da existência de um processo de simbolização da verdade na cultura política. A lei da cultura política é a lógica do desenvolvimento desigual (9). A corrupção progredi de um modo desigual nos países por causa das distintas culturas política. A cultura inglesa determinou a evolução do mundo moderno.
A corrupção da elite mundial tem um desigual desenvolvimento através das elites nacionais. Acreditar que não é assim significa abolir o conceito de sociedade de classes. A corrupção no Brasil tem a ver com a presença no bloco-no-poder de uma junção da classe dirigente com uma fração da classe dominante como fração ilegal, criminosa que ocupou provisoriamente a lugar hegemônico vazio devido à crise brasileira. Uma outra fração legal luta para desterrar a fração criminosa da posição hegemônica no bloco-no-poder. Tal fato é a essência da nossa crise política.
A corrupção também tem que ser analisada como um significante que tem motores que remetem à história da antiguidade. Um deles é auri sacra fames: (avidez pelo ouro); ou então, a cobiça e a fome que os homens têm de riquezas: Crescit amor nummi, quantum ipsa pecunia crescit. A cultura política moderna se define também por tentar desligar esse motor. A moral moderna da razão prática é radical com o axioma-imperativo: “ Age de tal forma que sua ação possa ser considerada como normal”. Uma tradução do imperativo categórico é: “ou ninguém é corrupto, ou todos são corruptos”. A episteme política kantiana é a vontade de um corte epistêmico com a cultura política patrimonialista moderna. O Estado moderno weberiano (capitalista) seria o significante mais luminar de tal corte. A ética protestante (sociedade) seria o corte com a patrimonialista ética católica, religião do Estado patrimonialista.
O outro motor da corrupção é a “morte bem assombrada”. Os homens querem riqueza para morrerem dignamente, poderosos. O poder é derivado do crescimento da riqueza (287-288). O homem nasce nu, desprovido de tudo, e o poder significa acumulação de riqueza que o torne temido e respeitado em vida, e digno na morte e na memória da comunidade (287-288). Essa é a definição da elite no poder do anônimo. Na cultura política cristã, a riqueza da elite obtida pela corrupção era o passaporte dela para o inferno como homem nu: “do pó viestes, para o pó voltarás”. Trata-se de uma coerção simbólica não-violenta do cristianismo primitivo helenizado ( preservado na cultura católica até a alta Idade Média) que se tornou um significante oco de significação política frente o domínio da ética patrimonialista católica da era moderna. A concepção do Império barroco era: “crescer até o fim do mundo”! Transformar todas as elites do planeta em corruptas: avesso da intenção da lógica da razão prática. O Império patrimonialista mundial português finalmente alcançou a sua forma acabada no século XXI!
O estamento intelectual jurídico entre nós ainda não metabolizou que o Brasil jamais foi moderno. Nunca existiu moral moderna entre nós, pois nunca existiu uma real cultura política moderna, que é a cultura política capitalista em si. Existiu um simulacro de simulação de moral moderna ex-istindo em um simulacro de simulação de cultura política liberal, sustentados na episteme do engenho pombalina! O choque do pós-modernismo no Brasil significou a absorção pelo buraco negro pós-modernista da moral e da cultura do simulacro de simulação. Agora a lógica do simulacro funciona apena como lógica abstrata na comunidade jurídica e na cultura política eletrônica. O pós-pós modernismo metaboliza a repetição (lúdica, diferente, sedutora) da cultura política portuguesa da aurora da era moderna como paradigma da cultura política mundial do século XXI. Isto é a peste simbólica do século XXI. A cultura portuguesa aparece como causa de um laço social universal, uma nova configuração RSI (Real/Simbólico/Imaginário) da realidade concreta dos homens, mulheres e crianças na história do século XXI. Ela é o fantasma do passado articulando a produção do contemporâneo!
SOBRE A HISTÓRIA DA CULTURA POLÍTICA INTELECTUAL MUNDIAL
No Ocidente, Platão é o paradigma do intelectual hegemônico universal, paradigma do intelectual hegemônico mundial. A influência dele sobre a cultura intelectual grega é inquestionável. A cultura política romana se constitui também em uma junção com a cultura grega. Aquela é a base do desenvolvimento da cultura política intelectual cristã pós-helênica, como atestam vários estudiosos. O truísmo de que toda a cultura intelectual ocidental é somente constituída de notas de pé-de-página do pensamento platônico faz algum sentido. Na modernidade, Hegel se apresentou como o arquétipo do intelectual hegemônico mundial. Isto explica o esforço de Marx em tomar o lugar dele (hegemônico) na história política mundial: o marxismo como o avesso materialista do idealismo hegeliano! Se Hegel foi um pensador restrito à hegemonia europeia, Marx transformou a história da cultura política intelectual em uma história mundial através de discípulos como Lenin, Mao Tse Tung e uma miríade de intelectuais espalhados nas várias regiões e continentes. Marx é o primeiro intelectual associado à revolução política mundial.
A cultura política intelectual começa com uma molécula em uma cadeia finita de moléculas. Ou então com um nó nas redes da cultura intelectual. Marx é a molécula que pode ser conceituada como uma contramáquina de guerra de pensamento mestiça. Hegel conceituou que a cultura política intelectual se desenvolve através do diálogo e do confronto. Trata-se de um uso legítimo de violência simbólica para trabalhar o mármore (matéria-prima de pensamento), e transformá-lo em um campo de pensamento. Qual campo de pensamento Marx criou? O da ciência marxista da história com regiões como a da ciência política heterodoxa em si e a da crítica da economia política, isto é, uma ciência da economia heterodoxa em si. No século XXI, a abertura do campo da física da história está estabelecendo que Marx fundou a física da economia política. Contida no livro “O Capital”, o conceito de episteme moderna capitalista fez dele o físico da história política intelectual moderna no século XIX. A episteme capitalista é o objeto invisível deste livro que a física da história (criada no Brasil) está finalmente trazendo para a claridade. A física da política em si é uma criação de Lenin, (a partir do “18 Brumário de Luiz Bonaparte”) que se condensou na Revolução Russa. Gramsci articulou a física leninista da política como artefato da cultura política intelectual ocidental.
A era pós-pós modernista (objeto, por excelência da física da história) está produzindo novas epistemes que vão abalar a modorrenta cultura intelectual atual ocidental. A episteme portuguesa já foi tratada na postagem “Corrupção: peste mundial?” dos PCPT/CFF. Mas o fenômeno mais espetacular é o desmoronamento da episteme moderna capitalista. O Anônimo (“Arte de Furtar”) tinha uma visão da gênese dos fenômenos: “E para que não nos detenhamos em coisa trilhadas, é de saber que no ano que Herodes matou os inocentes, deu um catarro tão grande no diabo que o fez vomitar peçonha e desta se gerou um monstro, assim como nascem ratos ex materia putridi, ao qual chamaram os críticos ‘Razão de Estado’”. A matéria pútrida é a episteme moderna capitalista que pode resultar no nascimento de ratos ou não. Isto depende da evolução da história política intelectual do século XXI! O fim de Marx como intelectual hegemônico mundial parece estar chegando ao fim! O prêmio Nobel de economia é apenas uma forma ritualística europeia de tentar controlar o lugar do intelectual hegemônico na cultura política mundial. A defesa do Nobel Emoticon smile hegemonia) é a baixa comédia de Humberto Eco encenada para atacar a web, ele que é um lídimo representante da cultura política intelectual conservadora europeia. Para ele, a voz do Nobel é homóloga a voz da consciência do seer na cultura política intelectual mundial.
A episteme capitalista pós-pós modernista aparece como fato, ou seja, como um fenômeno articulado pela lógica fática (realidade do real). Como se dizia antigamente o significante antecipa o conceito, o fenômeno é anterior à cultura política intelectual. Assim, busca-se o intelectual hegemônico mundial a partir do qual irá se organizar/articular as redes intelectuais da episteme capitalista do século XXI. O desenvolvimento desigual da cultura política intelectual determina que culturas mais desenvolvidas serão o celeiro onde surgira o intelectual hegemônico? Como molécula (contramáquina de guerra de pensamento mestiça, eclética, transdisciplinar) tal intelectual surgiu no Brasil. Trata-se de Celso Furtado que recriou e recriou no século XX a física da economia política pós-Marx. Sua obra é a mina de prata - o El Dourado de Sérgio Buarque de Holanda - que espera intacta a investigação/exploração da episteme capitalista do século XXI. Infelizmente, a cultura política intelectual brasileira jamais saiu do grau zero. O capital (Marx) público que os países desenvolvidos e centrais (USA e Europa Ocidental) aplicam na cultura política intelectual não está disponível no Brasil e na América Latina. A elite latino-americana desconhece a função da cultura política intelectual no desenvolvimento das nações! Trata-se de uma longa história que os intelectuais da América Latina fazem questão de ignorar. Isso é o que se passa nesta Babilônia do mundo, onde tudo é confusão e labirintos! Eles parecem não saber que sabem que isso não resultará em uma velhice muito descansada e lustrosa, pois neste mundo do século XXI não há velhice descansada ou lustrosa: Senectus ipsa est morbus!a
FÍSICA DA HISTÓRIA EM MONTESQUIEU
O livro “Grandeza e decadência dos romanos” é uma obra admirável da física da história da década de 1730. Grande máquina de pensamento da cultura política intelectual monarquista moderna, nosso autor pensou a polis romana como uma magnânima máquina guerra político-militar. Pensou a república romana como uma forma de governo articulado pelo princípio da guerra contínua (pg. 17). O conceito técnico-militar de máquina de guerra de assédio às cidades já está em Montesquieu (17). A republica se desenvolve e desenvolve a cultura da guerra militar, inclusive tecnicamente como máquina de guerra. Há uma cultura política intelectual militar romana equivalente a cultura intelectual militar chinesa do ano 500, aproximadamente, antes de Cristo. A cultura política intelectual romana militar era uma cultura racional articulada ao inconsciente político romano: “Não há nada de mais poderoso que uma república onde se observam as leis, não por medo, não por raciocínio, mas por paixão, conforme sucedia em Roma e na Lacedemônia: pois que, então, junta-se à sabedoria de um bom governo toda a força que possa ter uma facção” (30). Razão (polis = instituição pública) e inconsciente político (lógica faccional, lógica privada) articulados constituem a fonte de força da cultura política romana.  
  Tudo em Roma era motivo para desenvolver a arte militar desde o exercício físico a construções das maravilhosas estradas romanas.  A cultura romana era orientada pela lógica do significante magnânimo em um contraponto à lógica do insignificante (43). No entanto, a cultura romana possuía os mesmos significantes da cultura política cartaginesa: o amor da glória, o desprezo da morte, a obstinação em vencer (28). A diferença entre Roma e Cartago encontrava-se em um significante romano (inexistente na cultura política cartaginesa) que sobreterminava os demais significantes da cultura política da guerra militar romana: o amor à guerra (30).  O conceito de cultura política em estado prático nesse físico do século XVIII é muito claro quando ele mostra que o incesto no Egito da civilização arcaica era um problema de organização do poder político articulado pela cultura política: “De qualquer modo, era lei fundamental da coroa do Egito que as irmãs sucedessem com os irmãos, e, a fim de preservar a unidade do governo o irmão devia casar-se com a irmã. Ora, é difícil imaginar algo de mais pernicioso em política do que semelhante ordem de sucessão, pois todos arrufos domésticos se transformam em desordem de Estado” (44).  Trata-se do conceito de cultura política manejado por um físico da história. Assim como, o poder republicano romano era baseado em uma articulação da lei com o inconsciente político romano, como assinalamos acima. Na atualidade, a União Europeia parece um epifenômeno do capitalismo neoliberal mundial. No entanto, a unidade da Europa para além das nações e povos europeus visava desligar a Europa como magna máquina de guerra militar. A Europa moderna se livrou do Estado de guerra permanente feudal para cair em uma cultura política da guerra entre os Estados Europeus articulados, finalmente, como Estados nacionais. No entanto, a Europa máquina de guerra moderna militar é homóloga à Europa máquina de guerra da antiguidade: “Como os povos da Europa, nestes tempos, possuem praticamente as mesmas artes, as mesmas armas, a mesma disciplina e a mesma maneira de fazer guerra, a prodigiosa fortuna dos romanos nos parece inconcebível” (25). O estado de guerra europeu permanente da antiguidade não é algo inteiramente estranho à Europa moderna. Uma versão biologista vulgar da história diria que a guerra está no DNA europeu!      
Para finalizar, vejam o conceito de imaginário na física de Montesquieu: “Geralmente, não é perda real numa batalha (isto é, a de alguns milhares de homens) que se mostra funesta a um Estado, mas a perda imaginária e o desencorajamento, os quais o privam das próprias forças que a Fortuna lhe deixou” (35). O imaginário como perda de força, ou melhor, de energia é um genuíno conceito abstrato-concreto da física da história. Trata-se do imaginário como buraco negro que traga a energia mítica da cultura política militar: instinto de morte e narcisismo. As causas da grandeza de Roma consistem na materialização da polis nos magníficos prédios públicos (arquitetura romana como parte da cultura política intelectual), nos reis como grandes personalidades políticas e na exaltação da guerra. O amor à guerra significa uma alta concentração/condensação de energia narcísica na cultura política intelectual (e militar) em junção com o instinto de morte. Esta junção de narcisismo e instinto de morte faz da história romana o paradigma para abordar as outras culturas políticas em diferentes épocas e espaços. Na República Romana, tal junção atinge seu clímax: “Mas, como a República tinha seus chefes que mudavam todos os anos e procuravam marcar sua magistratura pra obter outras, a ambição não podia perder um minuto; eles instavam o Senado a propor a guerra ao povo e apontavam-lhe diariamente novos inimigos” (16). É possível estabelecer um paralelo com a cultura política da guerra dos USA?                    


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