BRASIL - Os cientistas políticos costumam conceituar os
partidos em uma discussão quase improdutiva. Weber concebeu o partido como
artefato lógico. Agora, trata-se de investigá-los como associação política,
aparelho ou máquina de guerra como condensação estrutural de cultura política
ou da lógica do simulacro. Um partido que condensa cultura política liberal
será verdadeiramente um partido liberal. Mas se ele é condensação da lógica do
simulacro liberal, ele será parte do espaço político modelado pela lógica do
fantasma que é a matriz simbólica de todas as lógicas do simulacro. No Brasil,
os partidos liberais sempre foram partidos-simulacros. É o caso do PSDB. Sempre
faltou a cultura política liberal para produzir partidos artefatualmente
liberais. Mas a cultura totalitária no Brasil já produziu vários partidos como
máquina de guerra. É preciso investigá-los em sua própria história de um ponto
de vista biográfico.
GRÉCIA. A Grécia é um ponto de
inflexão da história política universal. O pensamento grego e a cultura política
da polis foram metabolizados como cultura política pelos romanos na
Antiguidade. O Ocidente tem origem nesse ponto de inflexão da política
universal. A última eleição pôs o Syriza (ultra esquerda) e o Aurora Dourada
(nazismo) no proscênio da política grega do século XXI, em uma conjuntura
neoliberal da União Europeia. A política grega tornou-se um arte factus (artefato feito com arte
política) pela interseção da política mundial do século XX com a política
universal do século XXI. O desenvolvimento da cultura totalitária europeia
(derivada do discurso totalitário capitalista neoliberal) vai implodir a Grécia
que é o berço mais primevo do Ocidente? Isso não significaria a instalação de
um processo de desintegração do Ocidente? Resta acompanhar a lógica artefatual
da política ocidental nesta aurora do século XXI. A fala milenarista do fim do
mundo do Fórum Econômico Mundial em Davos e dos cientistas da Nasa e de outras
instituições científicas ocidentais não é um sinthoma de um processo que
significa o fim da história do Ocidente na política universal?
“Advogado de Cerveró desiste de
incluir Dilma como sua testemunha
Defesa diz que presidente não
participou de decisão na Petrobras sob investigação”
Nestor Cerveró é uma máquina de
guerra biográfica identificada na cultura política romana como auri sacra fames. A locução latina Quid non mortalia pectora cogis, | Auri
sacra fames é um verso de Virgilio
(Eneida, 3. 84-85), tomado por Séneca como Quod
non mortalia pectora coges, auri sacra fames que significa "o que
levas aos peitos mortais, maldito desejo de ouro". Na leitura da história
do Brasil como um pedaço da política universal, Nestor Cerveró é uma máquina de
guerra corporativa pública produzida pela cultura política totalitária
brasileira republicana. Ele parece ser um neurótico absolutamente normal
possuído pela fome do ouro (acumulação de dinheiro). Mas quem criou o
totalitarismo republicano brasileiro? Getúlio Vargas foi a máquina de guerra
populista banhada em sangue que ex-sistiu como demiurgo da cultura totalitária
republicana na década de 1930. Ainda não foi escrita a biografia de Getúlio
Vargas como parte da história política universal.
Brasil/Grécia
O novo governo da Grécia dirigido
pela ultraesquerda marxista (Syriza comandado por Alexis Tsipras) parece querer
construir uma vontade política capaz de estabelecer uma luta política pacífica
contra a megamáquina de guerra União Europeia neoliberal. O Syrisa se comporta
como um partido que não é uma máquina de guerra. No Brasil, o governo petista vai
se transformando em uma megamáquina de guerra neoliberal. Depois de quase
destruir Marina Silva e se mostrar como máquina de guerra stalinista, o PT
agora aplica o neoliberalismo que é um artefato lógico-empírico de guerra
contra a população. O governo petista vai implodir economicamente a população
em busca de uma utopia industrial que está em pleno processo de desintegração
no Estado de São Paulo?
Integralismo
O texto Os protocolos dos sábios do Sião é uma obra antissemita fabricada
pela Okrana, o serviço secreto do tzarismo que se tornou o modelo da KGB e da
CIA. Ele pontua a existência de uma conspiração judaica mundial contra o
Ocidente. Trata-se de um artefato da cultura política totalitária russa
cultuado pelos nazistas. No Brasil, o grande Gustavo Barroso da Academia
Brasileira de Letras – que chefiou com Plínio Salgado o Integralismo, a Ação
integralista Brasileira - traduziu e divulgou este infame e abjeto artefato
ideológico que foi integrado ao inconsciente político brasileiro pela cultura
totalitária brasileira de massas: o integralismo. A AIB chegou a ter 800000
filiados e forneceu uma massa disponível na política na construção do Estado Novo
getulista. Por que Plínio, Gustavo Barroso e Getúlio estabeleceram o primeiro
vínculo entre o Estado autoritário e as massas no Brasil na década de
1930?
Abc da crise brasileira.
A arauto do governo, Dilma
Rousseff diz: “não existe crise brasileira”. O grupo que “pensa” a política é
composto por Mercadante, o José Dirceu da Dilma, por João Santana, o Duda
Mendonça da Dilma e pelo Ministro da Defesa e quejandos, ou seja, os jagunços
stalinistas. Eles acreditam que o discurso da Dilma pode ditar a lógica dos
fatos midiáticos. Este discurso diz que o problema da Petrobrás é os
funcionários malvados, desviantes, marginais; o problema da relação das
empreiteiras com o governo petista é os funcionários corruptos de tais
empresas. É preciso defender a Petrobrás contra a conspiração norte-americana
que quer privatizá-la; defender as empreiteiras, pois elas são instituições
econômicas nacionais. Sem sombra de dúvida a
presidenta Dilma é uma excelente atriz barroca (como personagem masculina
do teatro de Calderón de la Barca) capaz de sustentar as mais deslavadas
besteiras políticas como se fossem a verdade dos fatos. A relação do governo
com a população pode ser definida como cego guiando cego no deserto. Marina
Silva já disse – mas ninguém registrou – que o Sudeste vai virar um
DESERTO/SERTÃO. No sertão, não domina a grande máquina de guerra jagunça?
Ninguém vê partículas
subatômicas, mas elas existem a partir do dizer dos físicos. Estes sabem que a
lógica do mundo invisível determina a lógica do mundo visível. A comunidade
jurídica e o jornalismo de papel ou eletrônico lidam com os fenômenos políticos
tais como eles se apresentam no mundo visível. A comunidade jurídica
concentra-se no julgamento dos funcionários corruptos das empreiteiras ou da Petrobrás,
e esquecem os capitalistas oligárquicos que estão devastando a Floresta
Amazônica. As mídias da sociedade do espetáculo precisam apresentar os culpados
individualmente. O governo petista e a oligarquia capitalista amazônica manipulam
tal lógica como uma arma política. Passemos, então, da arma da crítica para a
crítica das armas! No mundo invisível, o problema da Petrobrás (ou da Floresta
Amazônica) é a captura delas pela lógica do privatismo, ou seja, pela lógica da
apropriação privada por determinados agentes (sujeitos públicos ou privados) da
RIQUEZA PÚBLICA, isto é, da riqueza do Estado ou da riqueza da NATUREZA (Floresta
Amazônica). O privatismo é um significante mestre da cultura política
oligárquica (Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, José Paulo Bandeira). Os ricos
(oligarcas) se apropriam privadamente de toda a riqueza da polis (Aristóteles). As redes público/privadas privatistas que se
apropriam da riqueza pública (Petrobrás, Floresta Amazônica) são constituídas
por funcionários de carreira, políticos, partidos, capitalistas oligárquicos, e
as cúpulas do governo. Este mundo oligárquico invisível da política é modelado
pela estrutura perversa. A Cultura política oligárquica é articula-se pela estrutura
perversa. A lógica desta articula a ação estratégica dos sujeitos oligárquicos
baseada na mentira, na manipulação, na coerção do debate político, na corrupção
da vida política. O sujeito político perverso segue o princípio mais notável de
Maquiavel, a saber: a separação absoluta entre a ética e a política. Para ele,
a política está cravada no campo do imoral. Mas o perverso é um camaleão. Ele
se confunde com o neurótico que, na maioria dos casos, tem uma visão de mundo
articulada pela ética. A maioria da população da terra é formada por comunidades
dos neuróticos. Então o perverso oligárquico sempre tem um duplo eu: eu público
e eu privatista. O eu público faz o discurso de que ele não é privatista, mas
um senador res publicano que condensa
na política a comunidade neurótica. Esta figura da cultura política romana da
Antiguidade colocava a riqueza pública acima de tudo. A ética res publicana fazia a separação absoluta
entre o público e o privado, na defesa da riqueza da República. O perverso
oligárquico vende para as mídias a ideia de que ele não participa das redes
privatistas oligárquicas. Esta mensagem oligárquica é a ideologia que as mídias
acabam comprando em nome da bandeira nacional: ORDEM/PROGRESSO.
Abc da crise da Venezuela
“A tradição pesa como chumbo no cérebro dos vivos” (Marx)
Oscar Arias Sánchez foi presidente da Costa
Rica de 1986 a 1990 e de 2006 a 2010 e Prêmio Nobel da Paz 1987. Arias enviou
esta carta ao foro “Poder Cidadão e a Democracia de hoje”, realizado em 26 de
janeiro em Caracas e ao qual não pôde comparecer, mesmo tendo sido convidado,
junto com os ex-mandatários Sebastián Piñera, do Chile, Felipe Calderón, do
México, e Andrés Pastrana, da Colômbia.
Oscar Arias acredita que a
Venezuela é uma ditadura bolivariana. A solução para a crise política abissal é
a transição para uma democracia representativa. A Venezuela não é uma ditadura,
mas uma democracia despótica/representativa bolivariana . Para sustenta-la,
Hugo Chaves construiu um Estado bolivariano com cores e retórica marxista. No
entanto, sua filiação ideológica-prática é com o totalitarismo castrista. Fidel
Castro é a matriz simbólica do bolivarianismo chavista. O que é isso? O Estado
chavista é uma máquina de guerra freudiana/bolivariana/castrista, uma máquina
de guerra criada pela cultura política totalitária venezuelana. Portanto, Sr.
Oscar Arias, a Venezuela não está vivendo a crise de uma ditadura. Neste país,
a cultura totalitária bolivarianista engendrou uma democracia despótica/representativa
apoiada em quase metade da população. Em uma viagem à Cuba em 1992 como
turista, fiquei impressionado com os laços simbólicos e afetivos do povo
venezuelano com a pátria do socialismo caribenho!
A cultura totalitária bolivariana
no mundo da vida constitui vastas redes políticas articuladas ao Estado
bolivariano. No mundo da vida, ela instalou grandes máquinas de guerra
militarizadas (milícias populares e plebe
romana/bolivariana, por exemplo) que constituem as trincheiras e casamatas
do chavismo na guerra de posição contra a oposição e a população
contrabolivariana. Gramsci escreveu: matar e encarcerar os capitães de um
exército significa instituir o grau zero da política em qualquer situação. O
chavismo está aplicando Gramsci? Gramsci foi o formulador da política como
hegemonia construída pelo Príncipe moderno, ou seja, o Partido Marxista
Ilustrado. Mesmo que sua matriz simbólica seja Maquiavel, este Príncipe moderno
tem uma extração hegeliana para quem a política não deveria ser o reino dos
partidos-máquinas de guerra. O Príncipe Gramsci/hegeliano é um partido que já
não é uma máquina de guerra, já não é um partido napoleônico. Napoleão concebeu
no mundo moderno a política como a guerra por outros meios. Hegel concebeu a
modernidade política como lugar da soberania do Estado da hegemonia, Estado
capaz de articular cultura, ética e política para conduzir as nações
pacificamente rumo ao fim da história. Quando Hegel disse que a história foi um
vale de lágrimas até a modernidade política, ele provavelmente estava pensando
em uma história política universal dominada pelas máquinas de guerra. Hegel
desejou ardentemente o fim da história política universal! Trata-se da história
sob o tacão do da dialética senhor versus
escravo, da dialética do discurso do senhor. A contraciência lacaniana da
política reconstrói a dialética hegeliana como uma dialética verdadeiramente
universal: a dialética das grandes máquinas de guerra. E ao contrário de Hegel
não se deixa iludir sobre o fim da história. Não mistura desejo e história!
A crise da Venezuela é uma crise política
ligada à história política universal. A população contrabolivariana enfrenta um
ser universal como o Estado chavista que é uma megamáquina de guerra
bolivariana/ castrista. O bolivarianismo despertou o Urstaat latino-americano. A Venezuela não tem tradição de cultura
política liberal no mundo da vida. Na América Latina, o liberalismo é um
artefato instituído pela lógica do simulacro de simulação. Em toda a América Latina,
o simulacro de liberalismo sustenta e é sustentado pela comunidade jurídica. As
Constituições latino-americanas são simulacros de Constituições liberais. O
bolivarianismo transformou a comunidade jurídica em um artefato lógico-empírico
totalitário. E transformou a Constituição da Venezuela em um artefato
constituído pela cultura totalitária bolivariana. O Prêmio Nobel da Paz Oscar
Arias clama pela volta do simulacro de liberalismo?
A crise política venezuelana pode
evoluir de uma guerra de posição para uma guerra de movimento? A dialética
universal não pode desintegrar o aparelho militar de Estado em vários
subaparelhos e bando-máquinas de guerra militares fazendo guerra uns contra os
outros? Antes que se chegue neste estágio da dialética universal, Maduro não
poderia usar o resto de bom senso que lhe resta e convocar eleições gerais.
Antes, ele tem que abrir as portas dos cárceres chavistas e deixar livre
Leopoldo Lopes e seus amigos. Isso significa necessariamente a instalação de um
processo de simbolização envolvendo elite política e povo venezuelano como um
só homem. É aconselhável que após a eleição generalizada para os cargos
políticos, a Venezuela convoque uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer
uma Constituição contra bolivariana, dando início a produção de uma cultura
política liberal no mundo da vida. Para sair do labirinto totalitário, a
América Latina precisa romper com o espaço político modelado determinado pela
lógica do simulacro de simulação.
Interrogação: qual é o problema
mais cadente da Venezuela?
Resposta: não é chavismo ter
despertado o Urstaat
latino-americano?
Simón Bolívar foi um rico e
poderoso oligarca venezuelano escravocrata, homem exemplar da elite branca que
deveu sua posição à Coroa espanhola. Era um descendente de uma das famílias
mais antigas de Caracas, ligada à aristocracia criolla do cacau. Como membro da elite oligárquica branca
frequentou a corte de Madrid e nela encontrou a bela cortesã caraqueña Maria Tereza del Toro. Esta
foi sua esposa, vivendo no latifúndio de Bolívar em Caracas até morrer de febre
amarela.
Bolívar era católico e fiel à
Coroa espanhola, mas teve uma educação intelectual banhada por ideias e ideais
da dialética da liberdade da Ilustração contra o despotismo europeu. Ele foi
uma máquina de guerra possuída pela lógica do paradoxo. Seu mestre Simón
Rodrigues lhe ensinou Rousseau. Outro mestre com uma visão mais consistente e
ampla do pensamento político europeu completou a educação intelectual criolla de Bolívar. No final do século
XVIII e início do século XIX, a oligarquia latino-americana se ilustrava com as
ideias liberais e até com as ideias de Rousseau. Nem o Brasil colonial
português escapou da Ilustração. No corte do Rio de Janeiro, em 1922, uma
Assembleia Constituinte tentou fazer a primeira Constituição liberal
brasileira. Pedro I fechou a Assembleia com o exército português fiel ao
Príncipe, expulsando os constituintes do prédio onde estava sendo feita a
Constituição, e outorgou, em 1923, a primeira constituição do Brasil
independente. Tratava-se de uma Constituição baseada nas ideias do francês
Benjamin Constant com sua ideologia do poder moderador liberal/absolutista. A
Constituição liberal/absolutista de Pedro I foi um ato do Príncipe absolutista
luso-brasileiro, um ato de uma cultura política absolutista (totalitária) luso-brasileira
que instalou no Brasil o espaço político modelado pela lógica do simulacro
liberal. Certamente o Brasil do século XIX não foi um Império liberal, mas um
simulacro de Império liberal. Os intelectuais do século XIX falavam de um país
vivendo em um simulacro de democracia liberal. No entanto, a República foi a
forma de regime que prevaleceu na maioria dos países da América Latina.
Não existe uma historiografia que
tenha estudado a desintegração do Império espanhol na América Latina com parte
da história política universal. Nesta, haveria a leitura da transformação do
oligarca Bolívar na mais notável, brilhante, exuberante e imperiosa grande máquina
de guerra freudiana revolucionária/biográfica da história política universal
das Américas no século XIX. A liberdade política certamente foi um significante
que moveu tal máquina de guerra revolucionária em sua luta contra o despotismo
espanhol. A América espanhola vivia sob o domínio do discurso do mestre
espanhol que segregava uma cultura política totalitária monárquica/católica de
longa duração na história política universal europeia. Tal cultura totalitária
tem sido estudada como dominação e repressão sobre os povos. Ainda surgirá uma
historiografia que a estudará como produtora das máquinas de guerra freudianas
que dominaram o continente latino-americano até a libertação do continente
latino-americano do jugo espanhol. O modelo mais arcaico de tais máquinas espanholas
é indubitavelmente Fernand Cortes.
A interrogação materialista a
fazer é: Bolívar foi uma máquina de guerra revolucionária produzida por qual
cultura política?
A ruptura com o general
revolucionário Francisco de Miranda resultou na prisão do general e na prisão
do próprio Bolívar pela Coroa espanhola. Bolívar foi enviado para a selva de
Cartagena para viver no meio de ladrões, assassinos, negros e mestiços, ou
seja, a mais baixa ralé da Venezuela. Despossuído da rica vida oligárquica ou
revolucionária na selva de Cartagena, transformou a ralé da selva em uma plebe
revolucionária. Na selva, ele virou a primeira máquina de guerra populista das
Américas, muito antes do populism norte-americano.
A partir da selva, Bolívar se metamorfoseou em uma máquina populista mitológica.
O domínio intuitivo da ars rhetorica, da
eloquência artística, fez dele uma máquina de guerra poética de um Romantismo
amalgamado com a Ilustração. A máquina de guerra populista revolucionária se
estabeleceu nas guerras da independência como máquina terrorista em
contraposição ao terrorismo da máquina despótica espanhola. O sangue do inimigo
despótico espanhol foi derramado abundantemente através de fuzilamentos de prisioneiros.
Como grande máquina de guerra
freudiana, Bolívar pertence aos anais das máquinas de guerra da história
política universal. No século XIX, a mais festejada – pela historiografia europeia,
mas não só - máquina guerreira foi Napoleão Bonaparte. No entanto, o
bonapartismo foi imortalizado pelo efeito de dizer de Marx no O 18 Brumário e Luís Bonaparte. O
sobrinho-grotesco de Napoleão acabou, para a posteridade, como um fenômeno
notável como máquina de guerra política que criou a cultura bonapartista
moderna. Além de ser o criador do populismo revolucionário, Bolívar foi a
máquina de guerra política que criou uma linha de força que tomou como modelo a
evolução autoritária e militar da França, principalmente, na era
napoleônica. Não podemos esquecer o
caráter sincrético da máquina bolivariana que bebeu sofregamente na cultura
norte-americana dos Federalistas. Bolívar se notabilizou por instaurar no continente
um ecletismo ideológico/político que deu origem seja a cultura populista, seja
acultura totalitária republicana latino-americana. Ele instalou tal cultura
totalitária sendo governador da grande Colômbia (composta por Bolívia, Equador,
Venezuela e Panamá), como presidente da Venezuela em 1819, como governador do
Peru entre 1824 e 1827 e ditador da Bolívia em 1825. Nesta perspectiva, há uma
homologia empírica entre Bolívar e Pedro I como criadores da cultura
totalitária na América Latina. Um criou o totalitarismo republicano e o outro
criou o totalitarismo imperial no século XIX.
A máquina de guerreira populista
movida pela pulsão de morte (=mito) aparece claramente e distintamente na
travessia do exército bolivariano nos Andes. Neste episódio épico, inclusive
para o padrão mais alto da história universal, Bolívar mostrou que a morte o
fascinava e o fazia seguir adiante. A morte de seus soldados foi simbolizada
como algo necessário para El Libertador.
Este acontecimento épico foi a prova de que a pulsão de morte (=mito)
determinava o destino dos bolivarianos biograficamente existindo como máquina
de guerra no exército de libertação do jugo despótico espanhol. Como máquina de
guerra, os bolivarianos parecem fazer parte de uma totalidade cultural
latino-americana fundada na lógica do sentido, ainda a ser iluminado.
Os Andes são formados por uma
superfície montanhosa principalmente composta de pedras pontiagudas semelhantes
na cor ao granito escocês quebrado, porém mais duras, e em alguns pontos assume
a quase aparência e a qualidade de pederneiras brancas. Assim, era possível
seguir os rastros do exército bolivariano pelas manchas de sangue que se
fixavam no caminho. Nesta travessia, os homens – incapacitados para a travessia
- imploravam desesperadamente a seus companheiros que os matassem para não
agonizarem até morrerem de fome ou sede. Na travessia, Bolívar não demonstrou o
menor desânimo. A vontade de aço desta máquina de guerra freudiana era uma
condensação da pulsão de morte (=mito) que a tornava um ser para além do
humano, um ser mitológico. No século XX, Che Guevara foi movido pela mesma
vontade de aço revolucionária capaz de dominar potentes crises de asma no meio
do combate guerrilheiro. Nas batalhas, Bolívar provou abundantemente do sangue
do inimigo despótico realizando a satisfação da pulsão de morte como
desejo/vontade de matar o inimigo. Tal desejo é um fenômeno universal da
história universal. No século XX, máquinas de guerra militares surgiram como
generais de gabinete comandando os exércitos em guerras que mataram milhões de
soldados. A elite militar tornou-se máquina de guerra burocrática. Eles jamais
provaram o sangue do inimigo. Isso é parte do desencantamento com a poesia da
guerra quando ela torna-se guerra que tem como motor a lógica do interesse
capitalista moderno.
Nas guerras da Independência,
outra máquina de guerra fez sombra à Bolívar: San Martín. Embora não tivesse
recebido educação militar, Bolívar era dotado de um saber sobre a guerra
desenvolvido como capitão de guerrilhas na selva de Cartagena: improvisação,
descortino nas emergências, tirocínio militar e brilhantismo na execução dos
planos militares. Não chegou a desenvolver a técnica das operações conhecidas
em terra e no mar, como San Martín. Este era filho de um funcionário espanhol e
de uma criolla de Buenos Aires,
pertencente a uma família de funcionários régios. Ele tinha em mente uma
América do Sul composta de nações independentes e governadas por príncipes
europeus. Já Bolívar esperava que se estabelecessem governos republicanos para
depois formarem uma união federativa sob o governo de um chefe: ele próprio.
Trata-se de um mito fundador da cultura totalitária bolivariana. Martín era uma
máquina de guerra militar e Bolívar uma máquina militar e política.
Infelizmente da famosa entrevista de Guaiaquil entre El Libertador e San Martín
o que foi preservado precariamente nas anotações incompletas e sem detalhes do
secretário de Bolívar não esclarece porque Martín se submeteu à Bolívar e
retirou-se dos campos de batalha. Mas Bolívar era uma máquina de guerra
imperiosa.
As guerras latino-americanas da
independência funcionaram como uma cornucópia de maquinas de guerra militares,
ao contrário do Brasil. Elas ligaram a política latino-americana à história política
universal enquanto o Brasil seguia a tortuosa linha de força que o distanciava
de tal história. A historiografia (Sérgio Buarque de Holanda) a ciência
política não-universitária (Oliveira Vianna), a sociologia de Pernambuco
(Gilberto Freyre), o marxismo (Caio Prado Jr., Jacob Gorender) e o weberianismo (Raymundo Faoro) construíram esta ideia de um Brasil singular. Em relação ao
Brasil, a principal tarefa da contraciência lacaniana da política é demonstrar que eles estão
equivocados. Isso certamente significa um choque traumático para a ideologia intelectual
brasileira dominante e o imaginário midiático de papel e eletrônico.
O chavismo é o amalgama do populismo
revolucionário com a cultura totalitária republicana. Trata-se do xifópago
bolivariano. Coronel do Exército, Chaves subjetivou em sua existência a cultura
política totalitária militar venezuelana. Aí, ele foi se transformando em uma
máquina de guerra militarizada. Esta tem como axioma o fantasma do Urstaat. A lógica de tal fantasma
determinou a transformação do Estado em uma magamáquina de guerra freudiana
povoada pelo exército tradicional, o exército bolivariano, as milícias
populares e bandos chavistas avulsos. A militarização do mundo da vida foi o desdobramento
lógico do domínio da cultura totalitária chavista sobre a sociedade. Nesta
militarização da vida, o totalitarismo cubano stalinista teve um papel,
inclusive técnico, essencial. A
Venezuela pagou sustendo economicamente Cuba. Chaves foi substituído,
precocemente, por Maduro no comando do país. O presidente Maduro parece estar
cegamente determinado a conduzir a Venezuela para o abismo. Ele parece convicto
de estar diante de uma situação que torna impossível qualquer retrocesso Assim,
as próprias condições gritam:
Hic Rhodus, hic salta!
Aqui está Rodes, salta aqui!
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