domingo, 1 de fevereiro de 2015

Anotações (crise da Venezuela)


BRASIL - Os cientistas políticos costumam conceituar os partidos em uma discussão quase improdutiva. Weber concebeu o partido como artefato lógico. Agora, trata-se de investigá-los como associação política, aparelho ou máquina de guerra como condensação estrutural de cultura política ou da lógica do simulacro. Um partido que condensa cultura política liberal será verdadeiramente um partido liberal. Mas se ele é condensação da lógica do simulacro liberal, ele será parte do espaço político modelado pela lógica do fantasma que é a matriz simbólica de todas as lógicas do simulacro. No Brasil, os partidos liberais sempre foram partidos-simulacros. É o caso do PSDB. Sempre faltou a cultura política liberal para produzir partidos artefatualmente liberais. Mas a cultura totalitária no Brasil já produziu vários partidos como máquina de guerra. É preciso investigá-los em sua própria história de um ponto de vista biográfico. 
GRÉCIA. A Grécia é um ponto de inflexão da história política universal. O pensamento grego e a cultura política da polis foram metabolizados como cultura política pelos romanos na Antiguidade. O Ocidente tem origem nesse ponto de inflexão da política universal. A última eleição pôs o Syriza (ultra esquerda) e o Aurora Dourada (nazismo) no proscênio da política grega do século XXI, em uma conjuntura neoliberal da União Europeia. A política grega tornou-se um arte factus (artefato feito com arte política) pela interseção da política mundial do século XX com a política universal do século XXI. O desenvolvimento da cultura totalitária europeia (derivada do discurso totalitário capitalista neoliberal) vai implodir a Grécia que é o berço mais primevo do Ocidente? Isso não significaria a instalação de um processo de desintegração do Ocidente? Resta acompanhar a lógica artefatual da política ocidental nesta aurora do século XXI. A fala milenarista do fim do mundo do Fórum Econômico Mundial em Davos e dos cientistas da Nasa e de outras instituições científicas ocidentais não é um sinthoma de um processo que significa o fim da história do Ocidente na política universal?  
“Advogado de Cerveró desiste de incluir Dilma como sua testemunha
Defesa diz que presidente não participou de decisão na Petrobras sob investigação”
Nestor Cerveró é uma máquina de guerra biográfica identificada na cultura política romana como auri sacra fames. A locução latina Quid non mortalia pectora cogis, | Auri sacra fames é um verso de  Virgilio (Eneida, 3. 84-85), tomado por Séneca como Quod non mortalia pectora coges, auri sacra fames que significa "o que levas aos peitos mortais, maldito desejo de ouro". Na leitura da história do Brasil como um pedaço da política universal, Nestor Cerveró é uma máquina de guerra corporativa pública produzida pela cultura política totalitária brasileira republicana. Ele parece ser um neurótico absolutamente normal possuído pela fome do ouro (acumulação de dinheiro). Mas quem criou o totalitarismo republicano brasileiro? Getúlio Vargas foi a máquina de guerra populista banhada em sangue que ex-sistiu como demiurgo da cultura totalitária republicana na década de 1930. Ainda não foi escrita a biografia de Getúlio Vargas como parte da história política universal.
Brasil/Grécia
O novo governo da Grécia dirigido pela ultraesquerda marxista (Syriza comandado por Alexis Tsipras) parece querer construir uma vontade política capaz de estabelecer uma luta política pacífica contra a megamáquina de guerra União Europeia neoliberal. O Syrisa se comporta como um partido que não é uma máquina de guerra. No Brasil, o governo petista vai se transformando em uma megamáquina de guerra neoliberal. Depois de quase destruir Marina Silva e se mostrar como máquina de guerra stalinista, o PT agora aplica o neoliberalismo que é um artefato lógico-empírico de guerra contra a população. O governo petista vai implodir economicamente a população em busca de uma utopia industrial que está em pleno processo de desintegração no Estado de São Paulo?              
Integralismo
O texto Os protocolos dos sábios do Sião é uma obra antissemita fabricada pela Okrana, o serviço secreto do tzarismo que se tornou o modelo da KGB e da CIA. Ele pontua a existência de uma conspiração judaica mundial contra o Ocidente. Trata-se de um artefato da cultura política totalitária russa cultuado pelos nazistas. No Brasil, o grande Gustavo Barroso da Academia Brasileira de Letras – que chefiou com Plínio Salgado o Integralismo, a Ação integralista Brasileira - traduziu e divulgou este infame e abjeto artefato ideológico que foi integrado ao inconsciente político brasileiro pela cultura totalitária brasileira de massas: o integralismo. A AIB chegou a ter 800000 filiados e forneceu uma massa disponível na política na construção do Estado Novo getulista. Por que Plínio, Gustavo Barroso e Getúlio estabeleceram o primeiro vínculo entre o Estado autoritário e as massas no Brasil na década de 1930?   
Abc da crise brasileira.
A arauto do governo, Dilma Rousseff diz: “não existe crise brasileira”. O grupo que “pensa” a política é composto por Mercadante, o José Dirceu da Dilma, por João Santana, o Duda Mendonça da Dilma e pelo Ministro da Defesa e quejandos, ou seja, os jagunços stalinistas. Eles acreditam que o discurso da Dilma pode ditar a lógica dos fatos midiáticos. Este discurso diz que o problema da Petrobrás é os funcionários malvados, desviantes, marginais; o problema da relação das empreiteiras com o governo petista é os funcionários corruptos de tais empresas. É preciso defender a Petrobrás contra a conspiração norte-americana que quer privatizá-la; defender as empreiteiras, pois elas são instituições econômicas nacionais. Sem sombra de dúvida a presidenta Dilma é uma excelente atriz barroca (como personagem masculina do teatro de Calderón de la Barca) capaz de sustentar as mais deslavadas besteiras políticas como se fossem a verdade dos fatos. A relação do governo com a população pode ser definida como cego guiando cego no deserto. Marina Silva já disse – mas ninguém registrou – que o Sudeste vai virar um DESERTO/SERTÃO. No sertão, não domina a grande máquina de guerra jagunça?
 Ninguém vê partículas subatômicas, mas elas existem a partir do dizer dos físicos. Estes sabem que a lógica do mundo invisível determina a lógica do mundo visível. A comunidade jurídica e o jornalismo de papel ou eletrônico lidam com os fenômenos políticos tais como eles se apresentam no mundo visível. A comunidade jurídica concentra-se no julgamento dos funcionários corruptos das empreiteiras ou da Petrobrás, e esquecem os capitalistas oligárquicos que estão devastando a Floresta Amazônica. As mídias da sociedade do espetáculo precisam apresentar os culpados individualmente. O governo petista e a oligarquia capitalista amazônica manipulam tal lógica como uma arma política. Passemos, então, da arma da crítica para a crítica das armas! No mundo invisível, o problema da Petrobrás (ou da Floresta Amazônica) é a captura delas pela lógica do privatismo, ou seja, pela lógica da apropriação privada por determinados agentes (sujeitos públicos ou privados) da RIQUEZA PÚBLICA, isto é, da riqueza do Estado ou da riqueza da NATUREZA (Floresta Amazônica). O privatismo é um significante mestre da cultura política oligárquica (Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, José Paulo Bandeira). Os ricos (oligarcas) se apropriam privadamente de toda a riqueza da polis (Aristóteles). As redes público/privadas privatistas que se apropriam da riqueza pública (Petrobrás, Floresta Amazônica) são constituídas por funcionários de carreira, políticos, partidos, capitalistas oligárquicos, e as cúpulas do governo. Este mundo oligárquico invisível da política é modelado pela estrutura perversa. A Cultura política oligárquica é articula-se pela estrutura perversa. A lógica desta articula a ação estratégica dos sujeitos oligárquicos baseada na mentira, na manipulação, na coerção do debate político, na corrupção da vida política. O sujeito político perverso segue o princípio mais notável de Maquiavel, a saber: a separação absoluta entre a ética e a política. Para ele, a política está cravada no campo do imoral. Mas o perverso é um camaleão. Ele se confunde com o neurótico que, na maioria dos casos, tem uma visão de mundo articulada pela ética. A maioria da população da terra é formada por comunidades dos neuróticos. Então o perverso oligárquico sempre tem um duplo eu: eu público e eu privatista. O eu público faz o discurso de que ele não é privatista, mas um senador res publicano que condensa na política a comunidade neurótica. Esta figura da cultura política romana da Antiguidade colocava a riqueza pública acima de tudo. A ética res publicana fazia a separação absoluta entre o público e o privado, na defesa da riqueza da República. O perverso oligárquico vende para as mídias a ideia de que ele não participa das redes privatistas oligárquicas. Esta mensagem oligárquica é a ideologia que as mídias acabam comprando em nome da bandeira nacional: ORDEM/PROGRESSO. 
 Abc da crise da Venezuela
“A tradição pesa como chumbo no cérebro dos vivos” (Marx)
 Oscar Arias Sánchez foi presidente da Costa Rica de 1986 a 1990 e de 2006 a 2010 e Prêmio Nobel da Paz 1987. Arias enviou esta carta ao foro “Poder Cidadão e a Democracia de hoje”, realizado em 26 de janeiro em Caracas e ao qual não pôde comparecer, mesmo tendo sido convidado, junto com os ex-mandatários Sebastián Piñera, do Chile, Felipe Calderón, do México, e Andrés Pastrana, da Colômbia.
Oscar Arias acredita que a Venezuela é uma ditadura bolivariana. A solução para a crise política abissal é a transição para uma democracia representativa. A Venezuela não é uma ditadura, mas uma democracia despótica/representativa bolivariana . Para sustenta-la, Hugo Chaves construiu um Estado bolivariano com cores e retórica marxista. No entanto, sua filiação ideológica-prática é com o totalitarismo castrista. Fidel Castro é a matriz simbólica do bolivarianismo chavista. O que é isso? O Estado chavista é uma máquina de guerra freudiana/bolivariana/castrista, uma máquina de guerra criada pela cultura política totalitária venezuelana. Portanto, Sr. Oscar Arias, a Venezuela não está vivendo a crise de uma ditadura. Neste país, a cultura totalitária bolivarianista engendrou uma democracia despótica/representativa apoiada em quase metade da população. Em uma viagem à Cuba em 1992 como turista, fiquei impressionado com os laços simbólicos e afetivos do povo venezuelano com a pátria do socialismo caribenho!
A cultura totalitária bolivariana no mundo da vida constitui vastas redes políticas articuladas ao Estado bolivariano. No mundo da vida, ela instalou grandes máquinas de guerra militarizadas (milícias populares e plebe romana/bolivariana, por exemplo) que constituem as trincheiras e casamatas do chavismo na guerra de posição contra a oposição e a população contrabolivariana. Gramsci escreveu: matar e encarcerar os capitães de um exército significa instituir o grau zero da política em qualquer situação. O chavismo está aplicando Gramsci? Gramsci foi o formulador da política como hegemonia construída pelo Príncipe moderno, ou seja, o Partido Marxista Ilustrado. Mesmo que sua matriz simbólica seja Maquiavel, este Príncipe moderno tem uma extração hegeliana para quem a política não deveria ser o reino dos partidos-máquinas de guerra. O Príncipe Gramsci/hegeliano é um partido que já não é uma máquina de guerra, já não é um partido napoleônico. Napoleão concebeu no mundo moderno a política como a guerra por outros meios. Hegel concebeu a modernidade política como lugar da soberania do Estado da hegemonia, Estado capaz de articular cultura, ética e política para conduzir as nações pacificamente rumo ao fim da história. Quando Hegel disse que a história foi um vale de lágrimas até a modernidade política, ele provavelmente estava pensando em uma história política universal dominada pelas máquinas de guerra. Hegel desejou ardentemente o fim da história política universal! Trata-se da história sob o tacão do da dialética senhor versus escravo, da dialética do discurso do senhor. A contraciência lacaniana da política reconstrói a dialética hegeliana como uma dialética verdadeiramente universal: a dialética das grandes máquinas de guerra. E ao contrário de Hegel não se deixa iludir sobre o fim da história. Não mistura desejo e história!
 A crise da Venezuela é uma crise política ligada à história política universal. A população contrabolivariana enfrenta um ser universal como o Estado chavista que é uma megamáquina de guerra bolivariana/ castrista. O bolivarianismo despertou o Urstaat latino-americano. A Venezuela não tem tradição de cultura política liberal no mundo da vida. Na América Latina, o liberalismo é um artefato instituído pela lógica do simulacro de simulação. Em toda a América Latina, o simulacro de liberalismo sustenta e é sustentado pela comunidade jurídica. As Constituições latino-americanas são simulacros de Constituições liberais. O bolivarianismo transformou a comunidade jurídica em um artefato lógico-empírico totalitário. E transformou a Constituição da Venezuela em um artefato constituído pela cultura totalitária bolivariana. O Prêmio Nobel da Paz Oscar Arias clama pela volta do simulacro de liberalismo?
A crise política venezuelana pode evoluir de uma guerra de posição para uma guerra de movimento? A dialética universal não pode desintegrar o aparelho militar de Estado em vários subaparelhos e bando-máquinas de guerra militares fazendo guerra uns contra os outros? Antes que se chegue neste estágio da dialética universal, Maduro não poderia usar o resto de bom senso que lhe resta e convocar eleições gerais. Antes, ele tem que abrir as portas dos cárceres chavistas e deixar livre Leopoldo Lopes e seus amigos. Isso significa necessariamente a instalação de um processo de simbolização envolvendo elite política e povo venezuelano como um só homem. É aconselhável que após a eleição generalizada para os cargos políticos, a Venezuela convoque uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer uma Constituição contra bolivariana, dando início a produção de uma cultura política liberal no mundo da vida. Para sair do labirinto totalitário, a América Latina precisa romper com o espaço político modelado determinado pela lógica do simulacro de simulação.
Interrogação: qual é o problema mais cadente da Venezuela?
Resposta: não é chavismo ter despertado o Urstaat latino-americano?
Simón Bolívar foi um rico e poderoso oligarca venezuelano escravocrata, homem exemplar da elite branca que deveu sua posição à Coroa espanhola. Era um descendente de uma das famílias mais antigas de Caracas, ligada à aristocracia criolla do cacau. Como membro da elite oligárquica branca frequentou a corte de Madrid e nela encontrou a bela cortesã caraqueña Maria Tereza del Toro. Esta foi sua esposa, vivendo no latifúndio de Bolívar em Caracas até morrer de febre amarela.
Bolívar era católico e fiel à Coroa espanhola, mas teve uma educação intelectual banhada por ideias e ideais da dialética da liberdade da Ilustração contra o despotismo europeu. Ele foi uma máquina de guerra possuída pela lógica do paradoxo. Seu mestre Simón Rodrigues lhe ensinou Rousseau. Outro mestre com uma visão mais consistente e ampla do pensamento político europeu completou a educação intelectual criolla de Bolívar. No final do século XVIII e início do século XIX, a oligarquia latino-americana se ilustrava com as ideias liberais e até com as ideias de Rousseau. Nem o Brasil colonial português escapou da Ilustração. No corte do Rio de Janeiro, em 1922, uma Assembleia Constituinte tentou fazer a primeira Constituição liberal brasileira. Pedro I fechou a Assembleia com o exército português fiel ao Príncipe, expulsando os constituintes do prédio onde estava sendo feita a Constituição, e outorgou, em 1923, a primeira constituição do Brasil independente. Tratava-se de uma Constituição baseada nas ideias do francês Benjamin Constant com sua ideologia do poder moderador liberal/absolutista. A Constituição liberal/absolutista de Pedro I foi um ato do Príncipe absolutista luso-brasileiro, um ato de uma cultura política absolutista (totalitária) luso-brasileira que instalou no Brasil o espaço político modelado pela lógica do simulacro liberal. Certamente o Brasil do século XIX não foi um Império liberal, mas um simulacro de Império liberal. Os intelectuais do século XIX falavam de um país vivendo em um simulacro de democracia liberal. No entanto, a República foi a forma de regime que prevaleceu na maioria dos países da América Latina.
Não existe uma historiografia que tenha estudado a desintegração do Império espanhol na América Latina com parte da história política universal. Nesta, haveria a leitura da transformação do oligarca Bolívar na mais notável, brilhante, exuberante e imperiosa grande máquina de guerra freudiana revolucionária/biográfica da história política universal das Américas no século XIX. A liberdade política certamente foi um significante que moveu tal máquina de guerra revolucionária em sua luta contra o despotismo espanhol. A América espanhola vivia sob o domínio do discurso do mestre espanhol que segregava uma cultura política totalitária monárquica/católica de longa duração na história política universal europeia. Tal cultura totalitária tem sido estudada como dominação e repressão sobre os povos. Ainda surgirá uma historiografia que a estudará como produtora das máquinas de guerra freudianas que dominaram o continente latino-americano até a libertação do continente latino-americano do jugo espanhol. O modelo mais arcaico de tais máquinas espanholas é indubitavelmente Fernand Cortes.
A interrogação materialista a fazer é: Bolívar foi uma máquina de guerra revolucionária produzida por qual cultura política?
A ruptura com o general revolucionário Francisco de Miranda resultou na prisão do general e na prisão do próprio Bolívar pela Coroa espanhola. Bolívar foi enviado para a selva de Cartagena para viver no meio de ladrões, assassinos, negros e mestiços, ou seja, a mais baixa ralé da Venezuela. Despossuído da rica vida oligárquica ou revolucionária na selva de Cartagena, transformou a ralé da selva em uma plebe revolucionária. Na selva, ele virou a primeira máquina de guerra populista das Américas, muito antes do populism norte-americano. A partir da selva, Bolívar se metamorfoseou em uma máquina populista mitológica. O domínio intuitivo da ars rhetorica, da eloquência artística, fez dele uma máquina de guerra poética de um Romantismo amalgamado com a Ilustração. A máquina de guerra populista revolucionária se estabeleceu nas guerras da independência como máquina terrorista em contraposição ao terrorismo da máquina despótica espanhola. O sangue do inimigo despótico espanhol foi derramado abundantemente através de fuzilamentos de prisioneiros.  
Como grande máquina de guerra freudiana, Bolívar pertence aos anais das máquinas de guerra da história política universal. No século XIX, a mais festejada – pela historiografia europeia, mas não só - máquina guerreira foi Napoleão Bonaparte. No entanto, o bonapartismo foi imortalizado pelo efeito de dizer de Marx no O 18 Brumário e Luís Bonaparte. O sobrinho-grotesco de Napoleão acabou, para a posteridade, como um fenômeno notável como máquina de guerra política que criou a cultura bonapartista moderna. Além de ser o criador do populismo revolucionário, Bolívar foi a máquina de guerra política que criou uma linha de força que tomou como modelo a evolução autoritária e militar da França, principalmente, na era napoleônica.  Não podemos esquecer o caráter sincrético da máquina bolivariana que bebeu sofregamente na cultura norte-americana dos Federalistas. Bolívar se notabilizou por instaurar no continente um ecletismo ideológico/político que deu origem seja a cultura populista, seja acultura totalitária republicana latino-americana. Ele instalou tal cultura totalitária sendo governador da grande Colômbia (composta por Bolívia, Equador, Venezuela e Panamá), como presidente da Venezuela em 1819, como governador do Peru entre 1824 e 1827 e ditador da Bolívia em 1825. Nesta perspectiva, há uma homologia empírica entre Bolívar e Pedro I como criadores da cultura totalitária na América Latina. Um criou o totalitarismo republicano e o outro criou o totalitarismo imperial no século XIX.
A máquina de guerreira populista movida pela pulsão de morte (=mito) aparece claramente e distintamente na travessia do exército bolivariano nos Andes. Neste episódio épico, inclusive para o padrão mais alto da história universal, Bolívar mostrou que a morte o fascinava e o fazia seguir adiante. A morte de seus soldados foi simbolizada como algo necessário para El Libertador. Este acontecimento épico foi a prova de que a pulsão de morte (=mito) determinava o destino dos bolivarianos biograficamente existindo como máquina de guerra no exército de libertação do jugo despótico espanhol. Como máquina de guerra, os bolivarianos parecem fazer parte de uma totalidade cultural latino-americana fundada na lógica do sentido, ainda a ser iluminado.
Os Andes são formados por uma superfície montanhosa principalmente composta de pedras pontiagudas semelhantes na cor ao granito escocês quebrado, porém mais duras, e em alguns pontos assume a quase aparência e a qualidade de pederneiras brancas. Assim, era possível seguir os rastros do exército bolivariano pelas manchas de sangue que se fixavam no caminho. Nesta travessia, os homens – incapacitados para a travessia - imploravam desesperadamente a seus companheiros que os matassem para não agonizarem até morrerem de fome ou sede. Na travessia, Bolívar não demonstrou o menor desânimo. A vontade de aço desta máquina de guerra freudiana era uma condensação da pulsão de morte (=mito) que a tornava um ser para além do humano, um ser mitológico. No século XX, Che Guevara foi movido pela mesma vontade de aço revolucionária capaz de dominar potentes crises de asma no meio do combate guerrilheiro. Nas batalhas, Bolívar provou abundantemente do sangue do inimigo despótico realizando a satisfação da pulsão de morte como desejo/vontade de matar o inimigo. Tal desejo é um fenômeno universal da história universal. No século XX, máquinas de guerra militares surgiram como generais de gabinete comandando os exércitos em guerras que mataram milhões de soldados. A elite militar tornou-se máquina de guerra burocrática. Eles jamais provaram o sangue do inimigo. Isso é parte do desencantamento com a poesia da guerra quando ela torna-se guerra que tem como motor a lógica do interesse capitalista moderno.                            
Nas guerras da Independência, outra máquina de guerra fez sombra à Bolívar: San Martín. Embora não tivesse recebido educação militar, Bolívar era dotado de um saber sobre a guerra desenvolvido como capitão de guerrilhas na selva de Cartagena: improvisação, descortino nas emergências, tirocínio militar e brilhantismo na execução dos planos militares. Não chegou a desenvolver a técnica das operações conhecidas em terra e no mar, como San Martín. Este era filho de um funcionário espanhol e de uma criolla de Buenos Aires, pertencente a uma família de funcionários régios. Ele tinha em mente uma América do Sul composta de nações independentes e governadas por príncipes europeus. Já Bolívar esperava que se estabelecessem governos republicanos para depois formarem uma união federativa sob o governo de um chefe: ele próprio. Trata-se de um mito fundador da cultura totalitária bolivariana. Martín era uma máquina de guerra militar e Bolívar uma máquina militar e política. Infelizmente da famosa entrevista de Guaiaquil entre El Libertador e San Martín o que foi preservado precariamente nas anotações incompletas e sem detalhes do secretário de Bolívar não esclarece  porque Martín se submeteu à Bolívar e retirou-se dos campos de batalha. Mas Bolívar era uma máquina de guerra imperiosa.
As guerras latino-americanas da independência funcionaram como uma cornucópia de maquinas de guerra militares, ao contrário do Brasil. Elas ligaram a política latino-americana à história política universal enquanto o Brasil seguia a tortuosa linha de força que o distanciava de tal história. A historiografia (Sérgio Buarque de Holanda) a ciência política não-universitária (Oliveira Vianna), a sociologia de Pernambuco (Gilberto Freyre), o marxismo (Caio Prado Jr., Jacob Gorender) e o weberianismo (Raymundo Faoro)  construíram esta ideia de um Brasil singular. Em relação ao Brasil, a principal tarefa da contraciência lacaniana  da política é demonstrar que eles estão equivocados. Isso certamente significa um choque traumático para a ideologia intelectual brasileira dominante e o imaginário midiático de papel e eletrônico.  
 O chavismo é o amalgama do populismo revolucionário com a cultura totalitária republicana. Trata-se do xifópago bolivariano. Coronel do Exército, Chaves subjetivou em sua existência a cultura política totalitária militar venezuelana. Aí, ele foi se transformando em uma máquina de guerra militarizada. Esta tem como axioma o fantasma do Urstaat. A lógica de tal fantasma determinou a transformação do Estado em uma magamáquina de guerra freudiana povoada pelo exército tradicional, o exército bolivariano, as milícias populares e bandos chavistas avulsos. A militarização do mundo da vida foi o desdobramento lógico do domínio da cultura totalitária chavista sobre a sociedade. Nesta militarização da vida, o totalitarismo cubano stalinista teve um papel, inclusive técnico, essencial.  A Venezuela pagou sustendo economicamente Cuba. Chaves foi substituído, precocemente, por Maduro no comando do país. O presidente Maduro parece estar cegamente determinado a conduzir a Venezuela para o abismo. Ele parece convicto de estar diante de uma situação que torna impossível qualquer retrocesso Assim, as próprias condições gritam:
Hic Rhodus, hic salta!

Aqui está Rodes, salta aqui!                         

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