sábado, 21 de fevereiro de 2015

cadernos do cárcere-web

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.

Estes textos são a pequena análise concreta de uma situação concreta do campo da física das máquinas de guerra freudianas.   

FÍSICA DAS MÁQUINAS DE GUERRA

A ideia não é fazer nestes textos-web uma fenomenologia política a partir do campo contraciência freudiana da política. O fato deste modelo alcançar os fatos (artefatos) do cotidiano da política demonstra apenas que ele existe como possibilidade de se tornar a linguagem-espelho do mundo. No Brasil, há uma crença na “comunidade intelectual do século XXI” da era petista de que só intelectuais dos USA ou da Europa podem fazer isto. Nem sempre foi assim. Vide por exemplo a linguagem-espelho do mundo criada por (só vou citar alguns) por  Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, Ruy Mauro Marini e outros. Felizmente não somos órfãos intelectuais submetidos a um padrasto-dominus europeu ou americano, ou seja, colonizados pelo USA e a Europa. Vejamos alguns “fatos” que associam a política brasileira à política mundial.

“A batalha migratória recrudesce nos Estados Unidos: um juiz federal suspendeu temporariamente as medidas executivas ordenadas em novembro pelo presidente Barack Obama para regularizar a situação de cerca de cinco milhões de imigrantes ilegais. A Casa Branca não demorou a reagir, e anunciou nesta terça-feira que o Governo apelará da decisão, visto que considera que Obama agiu “dentro de sua autoridade legal”. (Estadão). Este fato revela que o sujeito político é, na democracia normalmente, condensação de múltiplas culturas políticas. Obama que age como um artefato do totalitarismo americano em várias áreas (política externa , por exemplo) e situações (relação com a imprensa independente, por exemplo), no caso dos imigrantes, age de acordo com a lógica da cultura política liberal. O xifópago é o ser político, por excelência, da política nas democracias representativas. O Partido Republicano e a Comunidade Jurídica do Texas agem como máquinas de guerra freudiana do totalitarismo americano. A comunidade jurídica age como uma máquina de guerra especifica do universo das máquinas de guerra freudiana: a máquina de guerra heideggeriana.

No Brasil, a Câmara de deputados está – pela linguagem política tradicional – sob o domínio conservado e tem na presidência o PMDB: “Depois de travar uma batalha contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e conseguir o apoio de uma Câmara mais conservadora que nas legislaturas anteriores para se eleger presidente da Casa, Eduardo Cunha, o deputado carioca evangélico da ala rebelde do PMDB, começa a colocar na ordem do dia medidas polêmicas, que contrariam bandeiras progressistas, feministas e da comunidade LGBT” (El Pais). Eduardo Cunha é um político tradicional do Rio de Janeiro, ou seja, um artefato da cultura oligárquica do estado. A cultura política oligárquica se define pela privatização da política (privatismo). Ao lado de Renan Calheiros (presidente do Senado pelo PMDB), Cunha trata o Congresso Nacional como se fosse sua propriedade privada. Na linha de força que o liga à cultura política oligárquica colônia, Cunha (e Renan) “pensa” e age como se o Congresso fosse o seu Engenho, a sua autarquia política no Vale do Paraíba. Mas o PMDB está dando uma guinada para o totalitarismo brasileiro em choque com a interseção de culturas políticas liberal e libertária dos movimentos progressistas, feministas e da comunidade LGBT. Note-se que o PT, nesta área não condensa cultura totalitária em uma prática política simular a de Obama. Assim, a superfície da política brasileira se caracteriza por ser um espaço contínuo ligado à superfície política norte-americana. Chamar o Partido Republicano, a Comunidade Jurídica do Texas (e de tantos outros estados) e o PMDB de Cunha de conservador é fruto de uma linguagem política anacrônica usada pelo jornalismo sob o domínio do modernismo político sustentado pela ciência política universitária americana. O discurso da universidade continua sustentando tal linguagem corriqueira das mídias do Ocidente. O Partido Republicano, a Comunidade Jurídica do Texas (e de tantos outros estados americanos) e o PMDB de Cunha se constituem como máquinas de guerra freudianas articuladas por culturas políticas totalitárias. Então precisamos de uma física das máquinas de guerra freudianas para a reflexão e simbolização da política mundial, ou mais precisamente, da política universal.   
ARGENTINA/MÁQUINA (19/02/2015)
A física das máquinas de guerra é uma contraciência da política. Ela trabalha com contraconceitos, isto é, fluxos que são contrarrazão conceitual. Um contraconceito é constituído por um efeito de dizer da investigação que articula teoria e artefato histórico. Ele é uma rede de significantes que se condensa na dialética universal/particular/singular de uma superfície lógico-histórica: a política universal.
A máquina de guerra freudiana é um contraconceito articulado por uma rede de significantes transdisciplinar, ou seja, uma rede eclética de significantes que tem como centro tático os significantes freudianos. Assim, ela é a realização da satisfação da pulsão de morte de um sujeito cuja finalidade é o uso sem limite da violência. Toda grande máquina de guerra tem como modelo o Urstaat. A lógica do fantasma do Urstaat articula qualquer grande de máquina associando psicologia do indivíduo, psicologia grupal, metapsicologia e physica-psychologia. Portanto, tal contraconceito é um efeito de dizer no campo contraciência freudiana da política.
“Embora os organizadores da manifestação tenham ressaltado o caráter apolítico do ato - não havia bandeiras de partidos, apenas cartazes que não fossem de Nisman ou da bandeira argentina - as razões para a presença iam além da morte do promotor e atingiam indiretamente os políticos. "É uma marcha silenciosa, então não vou falar mal do governo. Mas estamos indignados com tudo, com a corrupção que mata", afirmou María Guevara, dona de casa de 62 anos, segundo ela parente em 5.º grau do revolucionário” (Estadão) http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,homenagem-a-promotor-reune-400-mil-sob-chuva-e-eleva-pressao-sobre-cristina,1636222.
A notícia sublinha o caráter apolítico do ato. Uma multidão marcha em “silêncio, desde as imediações do Congresso, onde começava a marcha, até a Praça de Maio, onde ela terminava” (El Pais) http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/18/internacional/1424297883_889426.html .
O silêncio é um contraponto com o barulhento e efusivo carnaval do Brasil do sudeste. Enquanto o Brasil se diverte, a população vizinha simboliza a crise argentina.  Não estamos sozinhos! No entanto, marcha apolítica seria algo fora da política, inarticulada, invertebrada, um nonsense como um desafio matemático que se contrapõe à lógica política. A Marcha saiu diretamente das páginas de um Lewis Carroll argentino (a multidão em Buenos Aires) surrealista e dadaísta. Buenos Aires é a capital da melhor literatura e da mais exuberante dramaturgia da América Latina. A poesia parece ser constitutiva da marcha pela memória do promotor assassinado Nisman. Mas para a física das máquinas de guerra a multidão argentina é uma poética contramáquina de guerra freudiana. Ela é um pequeno ato da história política universal que é constituído pela dialética máquina de guerra versus contramáquina de guerra. Mas isso não é tudo!
 “A marcha foi convocada por cinco promotores como uma homenagem ao companheiro falecido quando se cumpre um mês de sua morte. Era um fato insólito. O Poder Judicial, ou parte dele, jamais havia convocado uma marcha ao longo das últimas três décadas de democracia argentina. Os principais dirigentes da oposição se somaram imediatamente à iniciativa. Mas o Governo viu uma tentativa de desestabilização, uma forma suja de fazer política sob o pretexto de render homenagem ao promotor morto. Entre as duas posições ficou gente como o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, que se mostrou crítico ao Governo e também aos organizadores da marcha, que acusou de oportunismo político” (El Pais). A marcha foi convocada por uma peça da máquina de guerra jurídica heideggeriana argentina (promotores). O governo de Cristina Kirchner chamou a multidão de jogo sujo da política nacional. Tal governo é uma articulação da cultura política populista totalitária e sua linguagem é a linguagem do totalitarismo argentino. Ela não tem nada de poético; é vulgar; é de baixa moral; é a linguagem do lumpesinato portenho. Então uma máquina heideggerina é capaz de articular uma multidão- contramáquina de guerra freudiana. A física de Heidegger não é a física de Freud! Mas no fundo da cena da política argentina, há este choque entre uma peça da máquina heideggeriana com a máquina populista terrorista com seu dominus:  Cristina Kirchner.
E o prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel? Ele se tornou o camponês que não para de arar seu terreno vizinho ao campo de operações da batalha de Waterloo. Pérez Esquivel é um ser antediluviano da era de uma linguagem política anacrônica que deixou de ser o espelho do mundo, inclusive na Argentina.         
ISLÂNDIA/GRÉCIA (20/02/2015).
“O colapso dos bancos no final de 2008 levou a Islândia a perder 8% de sua riqueza em dois anos e a uma taxa inédita de desemprego de 11,9%. A economia da ilha deu uma guinada a partir de 2011. Baseada sobretudo no turismo, nas exportações pesqueiras e na indústria de alumínio, a Islândia recuperou o terreno perdido: hoje, a taxa de desemprego oscila entre 3% e 4% e o Governo previu uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,3%. O presidente do país, Ólafur Ragnar Grimsson, atribuiu parte dessa recuperação ao fato de não ter levado em consideração os conselhos dos órgãos internacionais, em particular a Comissão Europeia, para que aplicasse medidas de austeridade” (El Pais). http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/18/economia/1424281414_946592.html.
A ciência econômica tece a linguagem econômica do capitalismo como espelho do mundo. Fazer ela funcionar é uma tarefa das instituições econômicas (Comissão Europeia, FMI, Banco Mundial etc.) as quais têm como guia a produção intelectual dos economistas burgueses. De Marx, a crítica da economia política foi criada para desconstruir tal linguagem econômica como espelho do mundo. No entanto, tal método de Marx acabou tornando-se a fonte do economicismo stalinista, a base de uma cultura política totalitária. O economicismo quer explicar a política (e fazer da política) um fenômeno determinado pela linguagem econômica. Isso é a base articulatória da cultura política totalitária stalinista e capitalista. O discurso do capitalista articula o mundo político através de um determinismo econômico. Tal fenômeno produz a cultura política do dinheiro como um artefato simbólico totalitário. O economicismo engendra o capitalismo como máquina de guerra freudo-econômica sob o dominus da oligarquia financeira mundial. Em nome do funcionamento ótimo do sistema econômico, a máquina de guerra capitalista aplica a força máxima sobre países, povos, civilizações e pessoas. É a realização da satisfação da pulsão de morte (violência absoluta sem limite) por outros meios, isto é, por meios econômicos ou, mais precisamente, financeiros. Tal violência sem limite tem produzida a maior devastação do planeta com um estado guerra aberta, permanente e fatal contra a natureza.  
A Islândia constitui-se em uma contramáquina de guerra freudo-econômica vitoriosa. Os analistas mostraram porque a posição deste país na relação de força com a oligarquia financeira mundial foi favorável aquele. Um país não precisa ser uma máquina de guerra econômica para resolver sua crise econômica. Só os que se alinham favoravelmente com o domínio da física das máquinas de guerra sobre a política mundial são partidários da solução totalitária (economicismo) para a crise econômica. Esta nunca é apenas um problema econômico, pois ela é a condensação de uma rede de significantes de culturas políticas que podem ser ou totalitária (discurso do capitalista), ou liberal (liberalismo político), por exemplo. A cultura política totalitária resolve o problema através da máquina de guerra capitalista. Já a liberal tende a instalar uma contramáquina de guerra econômica para a solução da crise. Por sua educação nas universidades norte-americanas ou seguindo os modelos matemáticos de tais universidades, os economistas preferem o agir da máquina de guerra econômica. A Grécia é o último objeto da aplicação de força de tal máquina capitalista que tem como master a oligarquia financeira mundial. Agora veremos se a União Europeia é apenas um epifenômeno do discurso do capitalista ou se ela é capaz de conceber uma solução que acabe com a inércia do domínio da oligarquia financeira sobre a política mundial. Mas o capitalismo parece se comportar como o modelo universal da máquina de guerra para Freud, a saber: a máquina de guerra psicótica. Um fantasma assombra a humanidade: a máquina de guerra stalinista. Stalin representa o modelo de máquina de guerra psicótica que o capitalismo contemporâneo usa como espelho para conduzir a espécie humana a um destino funesto!
POUR FRANCISCO WEFFORT
“A separação entre o público e o privado na investigação da Operação Lava Jato se impôs como um dos maiores desafios do Governo Dilma Rousseff. Diante da encruzilhada em que se encontra, de prestar contas à sociedade e manter em pé as empresas envolvidas no escândalo da Petrobras, a presidenta trafega numa tênue fronteira que separa os dois mundos (...)
Um deles é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que fez duros comentários sobre a condução de Cardoso por meio da sua conta no Twitter ao longo da semana. 'Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça', atacou Barbosa no dia 14 de fevereiro. Nos dias seguintes, tuitou diversos recados criticando a postura do ministro. 'Os que recorrem à política para resolver problemas na esfera judicial não buscam a Justiça. Buscam corrompê-la. É tão simples assim', replicou ele nos dias seguintes”.
A modernidade política pode ser definida ou pela separação absoluta entre privado/ público, ou pela autonomia relativa entre privado/público. Já a subsunção do público ao privado como lógicas do inconsciente político significa que estamos aquém ou além da modernidade política. As conjunturas históricas de um determinado país, ou de uma região, ou de um continente podem ser periodizadas a partir da soberania de uma destas lógicas. A conjuntura cardosista (FHC) tentou manter a lógica da autonomia relativa público/privado. A era FHC foi o ensaio geral da soberania do discurso do capitalista liberal que foi substituído pelo discurso do mestre colonial na era Lula. No entanto, um ato totalitário de FHC fez seu período governamental mergulhar na lógica mais profunda do inconsciente político brasileiro, que é o da subsunção absoluta do público ao privado. Trata-se da lógica da sociedade oligárquica articulada ao inconsciente político colonial. O ato de FHC foi a da mudança da Constituição de 1988 que não admitia reeleição para a presidência da República. FHC teve um ataque privatista ao tratar o Congresso como coisa privada para seu gozo de poder, um artefato simbólico criado pela elite política aristocrática, digo oligárquica, de Pedro II. Mas como o ato foi totalitário? FHC agiu – através da aliança PSDB/PFL – como uma máquina de guerra narcísica que veio a definir a política brasileira do século XXI, até agora. A reeleição permitiu o domínio de Lula sobre a política de 2003 até 2018, até o momento. Lula tornou-se uma máquina populista irremediavelmente carismática que caiu nas graças de uma maioria de leitores com a ajuda do seu benevolente Bolsa Família. Através do Bolsa Família Lula tornou-se o senhor colonial de Gilberto Freyre: sádico (totalitário) e benevolente. Este significante da cultura política cristã que foi secularizado, inclusive, na era moderna. Lula ligou-se às empreiteiras, inclusive, levando-as para uma colonização econômica, política e ideológica da África e fez a colonização do aparelho industrial de Estado brasileiro. Dilma Roussef aprofundou tal colonialismo petista que tem como raiz a cultura política do Brasil colonial que é uma interseção de cultura oligárquica com cultura totalitária das máquinas de guerra. Estas aparecem clara e distintamente no livro de Francisco Weffort, Espada, cobiça e Fé. As origens do Brasil: “‘Existia uma educação para a agressividade e a vingança fazia parte do código de honra vigente’. Seria demasiado admitir que algo desse espírito persiste na história contemporânea d Ibéria e da América Ibéria, inclusive no Brasil?” Weffort:172). O livro pode estabelecer um novo começo para a historiografia sobre o Brasil e a América Latina.
Da comunidade jurídica brasileira, Joaquim Barbosa aposentado se sente qualificado a falar como uma voz legítima desta máquina de guerra heideggerina. A máquina de guerra governamental só reconhece a voz da razão de uma outra máquina de guerra. O jornalismo brasileiro só reconhece como legítimas - no espaço público totalitário - as vozes das máquinas de guerra. Isso é o que se pode designar hoje como o funcionamento da ideologia dominante no sentido de Marx. A ideologia dominante nunca foi a superfície do agir cultural de sujeitos livres, ilustrados, enfim do intelectual de Gramsci. Ela sempre foi o espaço do agir da máquina de guerra cultural-burguesa na sociedade capitalista. Pode-se redinamizar, reconstruir a noção de intelectual se ele for integrado ao campo da física das máquinas de guerra. Esta é uma leitura materialista possível da história da cultura. Mas a cultura tem que concebida em uma topologia lacaniana como espaço de interseção com a cultura política.                                         

Nenhum comentário:

Postar um comentário