terça-feira, 24 de março de 2015

NOTÍCIAS DA GUERRA

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.



SÍLVIO ROMERO/HOMEM/MÁQUINA
Sílvio Romero recolheu o conto popular mestiço luso-brasileiro “O homem que quis laçar Deus” no livro Contos populares do Brasil. Deus pode ser claramente concebido como inscrito no campo simbólico popular. O conto trata disso: “Havia um homem que era muito pobre e com muita família. No lugar em que morava, havia uma estrada muito grande e se dizia que ali passava Deus e o mundo. Ouvindo dizer isto o homem, e querendo saber a razão por que Deus o tinha feito tão pobre, armou um laço e assentou-se na estrada à espera de Deus”. A estrada que passa Deus e o mundo é vizinha do homem. Ela é a junção do Simbólico (Deus) com o Real (mundo da facticidade das mercadorias com o qual o homem alucina). Laçar Deus é o processo de simbolização capaz de fazer o homem integrar a facticidade do mundo ao inconsciente político. No entanto, não se trata do inconsciente mestiço, mesmo o conto sendo mestiço.
Um velhinho dá quatro vinténs ao pobre homem, ou será homem pobre, e diz que ele tinha de comprar algo exatamente deste valor. A miséria espiritual do homem não o deixa perceber que o velhinho é a encarnação de Deus, é o simbólico em carne e osso? Então, por que ele segue a ordem ao pé da letra? De qualquer maneira, fica muito contente e procura um compadre negociante rico para este trocar os quatro vinténs por um objeto em sua viagem a buscar sortimentos para sua loja. A única coisa que o rico negociante encontra por quatro vinténs é um gato. Era um animal raro naquele lugar. O significante que dá acesso a simbolização do inconsciente político é algo raro? Então começa o caminho que leva ao desejo do Outro. O desejo é o desejar o desejo do Outro. O desejo do Outro é possuir o gato porque o valor dele é exatamente quatro vinténs, ou seja, o valor estabelecido por Deus para um significante raro. Raro porque dá acesso ao processo de simbolização. Note bem, o valor não é o preço do mercado, ele não é estabelecido pela lógica da mercadoria, mas pela lógica populista de Deus, na medida em que Deus vai até o pobre! Para o pobre a simbolização através do mercado é impossível.
O desejo do amigo rico do negociante pelo gato - pelo processo de simbolização – o leva a comprar este significante raro por uma grande soma de dinheiro. Pela lógica da mercadoria o bem raro vale isso. O homem rico tem acesso à Deus pela lógica da mercadoria? Trata-se de um acesso perverso. Aqui a mercadoria é o objeto a (pequeno objeto-dejeto) que vai tamponar o buraco no simbólico.  Marcuse esclarece isso no seu livro Razão e Revolução. Para Hegel: “A lei (Gesetz) transforma a totalidade cega das relações de troca na máquina conscientemente regulada do estado”. O processo de simbolização - que significa a integração dos significantes raros ao inconsciente político – não pode se fazer através da mercadoria, mesmo ela sendo rara. A lei que propicia a simbolização está indissoluvelmente ligada a uma máquina, ao Estado como máquina. A lógica da mercadoria inicia o sujeito em um processo de simbolização por abstração – perverso-  das relações concretas através do objeto a. Através da lei, a máquina – que é uma máquina de guerra inibida em sua finalidade do uso absoluto da violência – inicia o homem em um processo de simbolização universal-concreto. Mas qual é o caminho do conto?
O rico deveria dar o dinheiro obtido com a venda do gato para o compadre pobre. A miséria espiritual do rico – que acredita que nenhum pobre tem o direito de ficar rico – o leva a enganar o pobre homem subtraindo-lhe a multiplicação dos quatro vinténs divinos através do significante raro: gato. Deus intervém para que o negociante rico devolva o dinheiro para o homem pobre ameaçando-o com uma moléstia mortal. No final, o rico entrega a rica soma de dinheiro e é curado por seu gesto.
Sem passar pelo inferno do trabalho abstrato e, portanto, pela lógica da mercadoria o homem pobre torna-se um homem rico pelas mãos de Deus: quatro vinténs divinos. O pobre homem é abençoado por Deus, pelo grande Outro, pelo discurso do Outro. Para o homem pobre, este não é o discurso do capitalista, ou a lógica da cultura política do dinheiro. Qual cultura política abençoa o pobre com a esperança de retirá-lo da pobreza sem que este tenha que fazer o caminho do self made man da cultura capitalista do dinheiro? Não seria a cultura política populista latino-americana? Uma máquina de guerra populista não inicia o pobre em um processo de simbolização que integra os significantes que povoam seus mais intensos desejos de riqueza a um inconsciente político arcaico? A locução da cultura política latina auri sacra fames (desejo do ouro, de ficar rico) não é algo do início da história da civilização arcaica? O populismo latino-americano não se filia - por caminhos misteriosos - à auri sacra fames? Ele não é o desejo de acumular ouro (dinheiro, riqueza) por meios divinos? Todos os caminhos não levam a Deus?                                                                                                           
MULTIDÕES-2015/BRASIL
Duas espécies de multidões tomaram as ruas das capitais do país em 13 e 15 de março de 2015. Na web, na grande imprensa de papel e eletrônica, a versão dos fatos não sai do modelo esquerda versus direita. Este modelo é a lógica do fantasma que pilota o imaginário político brasileiro. No entanto, há diferenças que precisam ser ressaltadas, pois elas são uma ruptura com tal imaginário.
A multidão-13 é um efeito da crise brasileira? Os sindicatos (CUT etc.) e alguns movimentos sociais (MST, Sem Teto etc.) foram para a rua como um sujeito esquizo. Um sujeito-multidão que deseja Dilma Rousseff no poder, mas não a facticidade neoliberal do poder rousseffiano: a realpolik petista. A divisão do eu da multidão é o espelho da divisão do eu petista. A multidão-13 foi articulada pelos diversos aparelhos de Estado petistas: burocracia estatal petista, aparelho sindical, aparelho social = movimentos sociais rural e urbano. A multidão-13 apresentou-se, afinal, como uma multidão institucional situacionista. Ela defende o status quo. Ela defende Dilma mesma que essa signifique o fim dos direitos trabalhistas, a suspensão das políticas sociais etc.   O eu esquizo deu lugar à lógica da fantasia rousseffiana: sacrifique-se. A população petista deve sacrificar-se para que o PT (a esquerda) continue no poder. Cuba não deve perecer! Ainda estamos muito longe da crise da Venezuela articulada pela lógica da fantasia bolivariana de que é preferível que a população chavista torne-se uma população de lemingues à substituição de Maduro por alguém da oposição ao chavismo! Mas é preciso assinalar que a crise brasileira e a crise venezuelana são duas superfícies contínuas: elas constituem um só espaço político.
MULTIDÃO E POLÍTICA (São Paulo)
A questão principal da atual conjuntura política o seguinte. Por que São Paulo se transformou na capital política do País no alvorecer do segundo governo Dilma Rousseff? No dia 15 de março de 2015 não aconteceu a repetição diferente e lúdica de Junho de 2103? E não houve um deslocamento da rua como centro político do país do Rio para São Paulo? Por quê? Junho de 2013 significou o ponto de partida da dissolução da política articulada pelo modelo ideológico esquerda versus direita. E a esquerda perdeu o monopólio da política da rua! Mas não estava claro a natureza da contradição principal. A razão disso é que a esquerda, inclusive criptopetista, bolivariana procurou desviar e capturar o desenvolvimento do contrafluxo ideológico da multidão com o auxílio da sociedade do espetáculo. A multidão reagiu com não queremos partidos na rua conosco! Junho de 2013 levantou claramente a bandeira do fim do monopólio da política pelos partidos. Inconscientemente para a multidão, havia um partido dominante de Estado (aliança tácita do PT/PMDB/PSDB e partidos satélites) como fator de corrupção absoluta (corrosão) da política e do Estado brasileiros.
O 15-M retomou em um outro diapasão a contradição multidão (rua) versus partido dominante de Estado (espaço político restrito). Tal contradição derivou para a contradição principal entre a sociedade civil hegeliana (carregada na rua pela multidão) e o Estado petista ou Urstaat (Estado despótico arcaico). Apenas São Paulo poderia dar vida a contradição sociedade civil hegeliana versus Estado não-moderno. Trata-se obviamente da sociedade civil burguesa. Nas palavras de Hegel _ “Estão contidos na sociedade civil burguesa os três momentos seguintes: 1) a mediação da carência e a sua satisfação num sistema das carências e de fruições de todos os outros Em São Paulo a satisfação do sistema de carências está seriamente ameaçada de modo iminente); 2) a proteção da propriedade pela constituição jurídica (a possível desintegração da cidade é a negação da propriedade privada articulada pelo direito moderno) ; 3) a prevenção universal com vistas ao bem comum do indivíduo singular e com vistas a existência do direito: a polícia” (a polícia não pode existir e agir como uma máquina de guerra freudiana contra a população).
A sociedade civil burguesa é uma realidade cindida pela lógica do particular. Ela é o espaço dos indivíduos como pessoas privadas tendo por fim seus próprios interesses. A lógica do interesse domina a sociedade civil. A lógica do particular subsume a sociedade. Como membro ou cidadão do Estado, o indivíduo será sujeito político. O indivíduo moderno é cindido entre o burguês e o cidadão. Esta contradição articula a sociedade civil. A corporação – o conjunto das atividades industriais e comerciais em sentido amplo – é o significante-mediação que articula o Estado à sociedade civil: “Nos nossos Estados modernos, os cidadãos têm apenas uma limitada parte nos negócios universais do Estado; e, contudo, é necessário proporcionar ao homem ético uma atividade universal fora de seus interesses privados. Esse universal que o Estado moderno nem sempre lhe dá, encontra-o ele na corporação”. Já o Estado moderno é o desenvolvimento da Sittlichkeit, ou seja, da ética social imediata, que passa pela cisão da sociedade burguesa e vai até o Estado. A contradição sociedade civil hegeliana versus Estado moderno se resolve porque o Estado moderno racional constitui o resultado de todo o processo do direito moderno. A sociedade civil paulista está dirigindo na rua (Avenida Paulista) um processo político nacional que quer substituir o arcaico Estado brasileiro semi-moderno por um verdadeiro Estado moderno hegeliano. O que isso tem a ver com esquerda versus direita? 
A VOZ DA MULTIDÃO e o PCPT
“Segundo informações oficiais das Polícias Militares dos Estados, no mínimo, 1,950 milhão de brasileiros foram às ruas, a maioria vestida de verde e amarelo e com cartazes pedindo impeachment, renúncia da presidente e até mesmo a intervenção militar”.
http://especiais.g1.globo.com/politica/mapa-manifestacoes-no-brasil/15-03-2015/
“TOTAL DE PESSOAS, SEGUNDO A POLÍCIA ESTIMATIVA TOTAL 2,2 MILHÕES”
“Ao longo de todo o dia, ao menos 160 cidades registraram atos contra Dilma e a corrupção em todos os estados do país”.
A visão do PT é: a DIREITA se levantou como um só homem para desfechar um golpe de Estado no governo Dilma Rousseff. Eles não lembram mais do verso: “A praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião”. Esse verso só serve como hino para as massas antiditadura militar?
Cartazes pediam “até mesmo a intervenção militar”. Quem teria a coragem de negar que a cultura política totalitária habita o mundo-da-vida ou a sociedade civil hegeliana no Brasil. Os cartazes apenas indicam que o Exército brasileiro é identificado, por uma pequena parcela da massa, com a cultura totalitária. No entanto, isso não faz da M-15 uma multidão totalitária. A voz da multidão não é totalitária!
A M-15 pede o impeachment. Isso não é parte da solução, mas parte do problema. O impeachment não põe a raposa para tomar conta do galinheiro? Quando o PCPT lançou a ideia da Renúncia Já!, ele estava pensando nisso. Mas o governo pensa: se não há remédio, remediado está! Se o Congresso não é a solução, sobra o governo como solução para o problema: a crise brasileira. O país está num mato sem cachorro? Chegou ao fim da linha? Fernando Gabeira escreveu que o PT não existe mais como um centro intelectual de pensamento capaz de tecer uma saída para nós. O Instituto Lula é apenas um lugar para celebrar a ideologia petista de que a ESQUERDA deve governar o país para sempre! O Instituto Fernando Henrique Cardoso – por sua total inapetência intelectual – não chega a ser nem um salão burguês de criação de ideias. O PCPT tem dito que a solução da crise brasileira não será o resultado de uma política autárquica. O Brasil não é mais um engenho, apesar do desejo colonial   de Renan Calheiros e Eduardo Cunha de fazer do engenho (PMDB) o único centro da política brasileira. O PMDB é o grau zero da produção (um engenho fantasmático no Vale do Paraíba)) de um pensamento capaz de retirar o país da crise.
A crise brasileira é uma superfície contínua com a superfície da crise mundial. Trata-se de um único espaço mundial. O PCPT tem insistido neste ponto. Guevara queria que mil Vietnãs se levantassem contra os USA! Hoje, a crise não pulula em vários elos da cadeia mundial? Também o planeta chegou ao fim da linha? Ou foi a elite mundial que tornou-se volátil como um centro de pensamento capaz de pensar uma solução global para a crise mundial? Se ela não consegue perceber que existe uma crise mundial, o que será do planeta? A elite mundial tornou-se a máquina de guerra psicótica (temida por Freud depois da Primeira Guerra Mundial) que vai desintegrar a vida humana na terra? Máquina psicótica terrorista sublime?
Se em todo o mundo ocidental, as elites ensarilharam as armas do Iluminismo, por que não se deve contar com a possibilidade das massas serem o motor de um pensamento, de uma reflexão, de uma simbolização não apenas para a crise brasileira (ou venezuelana), mas para a crise da política mundial?
Evocando mais uma vez a poesia política de Marx:
Hic Rhodus, hic salta!
Aqui está Rodes, salta aqui!

PAPA/DIABO/MÉXICO/PABLO ESCOBAR
“Papa Francisco: ‘O diabo castiga o México com muita fúria’
Pontífice identifica a violência do povo mexicano com uma força diabólica”
O bispo de Roma Francisco “explica” a violência mexicana como o domínio do Diabo sobre o México. Seria a lógica do Credo quia absurdum est (Creio porque é absurdo)? Freud estabeleceu que esta era a lógica preferida da Bíblia católica. Acho que não é isso! Francisco está, talvez, dizendo que a elite laica mundial não tem explicação para a violência mexicana. Isso é ou não é verdade? Se nenhuma ciência moderna explica, então cabe uma explicação bíblica. Sinal dos tempos? Ou a fala de Francisco não aponta o dedo para a crise global da cultura moderna?
O Papa diz que o Diabo é o responsável. Lacan diz que Deus é o simbólico, se olharmos o campo simbólico pela cultura política católica. Ele cometeu um equívoco por causa de sua psipolítica de fazer a punção do Romantismo do pensamento de FREUD. Fundador do campo freudiano, Lacan transformou Freud em um Homem da ilustração. Por isso, ele não podia assimilar a ideia de Goethe (papa literário do Romantismo Alemão), do Fausto, de que o Diabo é o simbólico na cultura política católica:
“Mefistófoles _ Sou parcela do Além,
Força que cria o mal e também faz o bem”
O Papa comete o erro também de identificar o Diabo apenas com o mal. Lacan leu Goethe, Francisco não!
Considerando que o Diabo é o campo simbólico, ele é o articulador da cultura política que gera a violência mexicana. Qual seria tal cultura política? Não é a cultura política totalitária que articula máquinas de guerra freudianas, totalitárias, terroristas no mundo-da-vida? Tal máquina se define pelo uso da violência sem limite sobre os outros.
“Há três semanas, declarações de Francisco sobre o México levantaram polêmica. O Papa disse que estava preocupado com os problemas de criminalidade que enfrenta seu país de origem, a Argentina, e que esperava que não evoluíssem para um conflito da mesma natureza do mexicano: “Tomara que estejamos a tempo de evitar a ‘mexicanização’. Estive falando com alguns bispos mexicanos e a coisa é um terror”.
A criminalidade mexicana – que se destaca- é a dos cartéis criminosos, ou seja, do “crime organizado”. Enquanto crime organizado, os cartéis são um artefato da cultura política totalitária mundial. No México, eles alcançaram uma forma acaba de crime organizado como narcotráfico e narcopoder. Não é visível, mas como o Diabo, eles criam o mal e fazem o bem. No entanto para conhecer tal força diabólica, é mais preciso ler sobre a Colômbia de Pablo Escobar.
Multidão/indústria da comunicação/jornalismo
ETC.
A produção histérica dos jornais escritos, digitais e televisivos sobre a multidão 15-M é um fato, ou melhor, artefato que não pode ser deixado em branco. Conversando com Almir Pereira, ele apontou o processo de dissolução do significado do protesto com Dilma Rousseff ocupando o proscênio da cena política televisiva. Assim, no verso da comunicação industrial Dilma Rousseff vestindo uma nova máscara: a sacerdotisa humilde. No reverso do objeto político comunicacional, jornalistas, cientistas políticos e quejandos dizendo alguma coisa sobre a multidão – muito vezes, às avessas ao sentido político do protesto. Todo esse processo parece confirmar que o funcionamento fáctico da indústria de comunicação – televisiva, digital, de papel – é o buraco negro do sentido político. A multidão entra no buraco negro comunicacional e encontra a Singularidade política, o coração de um buraco negro comunicacional, onde o tempo para e o espaço deixa de existir para a multidão na superfície política do mundo-da-vida. Um buraco negro comunicacional da política começa a partir de uma superfície denominada horizonte de eventos políticos, que marca a região a partir da qual não se pode mais voltar. No entanto na física das máquinas de guerra, o buraco negro comunicacional é uma megamáquina de guerra de comunicação industrial que tenta sugar a matéria (multidão) para a Singularidade política. O adjetivo negro em buraco negro se deve ao fato deste não refletir a nenhuma parte da luz que venha atingir seu horizonte de eventos, atuando assim como se fosse um corpo negro perfeito em termodinâmica. Na física das máquinas de guerra, a multidão é uma matéria que não só pode escapar do buraco negro comunicacional como dificilmente atua, quando sugada, como se fosse um corpo perfeito negro em termodinâmica.   
SAMBA/MÁQUINA DE GUERRA
Existe alguma relação entre o samba e a máquina de guerra cultural?
Por que gosto de Gilberto Freyre? Ele concebeu o significante cultura brasileira mestiça no axioma antropo-sociológico: “os brasileiros são espiritualmente mestiço”. Houve um tempo em que intelectuais de esquerda tentaram fazer do samba um artefato cultural negro. Eles queriam desbancar o bom Gilberto. Mas Beth Carvalho mostrou para o Brasil que o samba é mestiço. O samba é uma articulação do inconsciente político mestiço brasileiro. Ele é a continuação – por meios musicais e poéticos – de Canudos. Então, a fronteira entre as religiosidades populares torna-se plástica no encontro delas no inconsciente político sincrético. Este é o significante de preferência de Isidoro Eduardo Americano do Brasil para designar o inconsciente político mestiço.
O significante de Gilberto CULTURA BRASILEIRA é o reverso do significante máquina de guerra cultural. Um é a cultura instalando a paz na sociedade; o outro instala a cultura como guerra no mundo da vida e da sociedade. Os dois são os lados opostos de um medalhão: verso e reverso  da cultura no território brasileiro. Assim como o Estado moderno (instituição política) é o reverso do anverso Estado brasileiro. Este jamais foi moderno e sempre – nas horas críticas – agiu como megamáquina de guerra psicótica, terrorista através de um uso da violência sem limite (da lei) contra a população: Canudos, Contestado...A cadeia de significantes chega aos 1000000 de pessoas assassinadas nos últimos 30 anos pela máquina de guerra psicótica, terrorista que tem como principal mecanismo – mas não único - a Polícia Militar em todo o território nacional. A cultura brasileira gilbertiana faz uma interseção com a cultura política mestiça que têm como motor o inconsciente político mestiço. O inconsciente político ariano tem como motor o mito da racialização da política. Nietzsche disse: “eles dominam porque são superiores”. A física das máquinas de guerra diz: “eles são superiores porque dominam”. Com o inconsciente políticos ariano não há passagem do mito para a história. Esta passagem do mito para a história só ocorre com o inconsciente político mestiço.
  Lacan diz que há passagem do mito para a história na Bíblia (Seminário 11). Há história na Bíblia, segundo ele. Tenho de entender melhor a ideia de história de Lacan. A história nasce na Grécia como contraponto à narrativa lendária. Trata-se da história como lógica dos fatos! O fato histórico é um significante da cultura letrada grega. Mas Lacan fala no Seminário 18 em artefato. Não existe fato! Só artefato! É uma crítica direta aos gregos fundadores da historiografia.
A física das máquinas de guerra articula o contraconceito inconsciente político: Inconsciente ariano versus inconsciente mestiço. O primeiro tem como motor o mito da racialização da política e do mundo-da-vida. Não há passagem do mito para a história! Trata-se de uma história mitológica.
O inconsciente político mestiço tem como motor a mestiçagem. Ele tem como motor a genética. A partir dele a física vai poder metabolizar e simbolizar sobre os problemas do campo das ciências naturais. Mas o fundamental é que ele articula-se a um certo Real biológico. Neste sentido, ele é a verdadeira passagem do mito para a história. E mais, não passagem do mito para a história factual {ou artefactual do Homem (Platão)}, mas da passagem do mito para a história natural da espécie humana como história política universal                

ARGENTINA/ FÁBULA/TOTALITARISMO
A Piauí (março/102) publicou um longo artigo do jornalista argentino Gabriel Pasquini sobre a morte do promotor Alberto Nisman. Trata-se de uma vontade de explicar a Argentina pós-crise de 2001 – que teria passado a funcionar na política pela fabulação - e a morte de Nisman como inexplicáveis devido ao imaginário fabular que domina o país. Pasquini pretende desvelar tal imaginário pela lógica dos fatos racionalizados. Então, não se trata mais de fatos, mas de artefatos jornalísticos. A Argentina é explicada por uma lógica de fatos hiper-racionais. Se o leitor conseguir atravessar este deserto da hiper-realidade, onde o texto de Pasquini é mais racional que a própria racionalidade, talvez possa usar o texto para pensar por que a Argentina foi lançada para o reino da fábula política. Trata-se de fazer a leitura do país que tem o mito como motor da vida política.  
O texto de Pasquini tem como principal conclusão que Cristina Kirchner não está envolvida com a morte (assassinato) do promotor Nisman. Considerando que a Piauí é uma revista criptobolivariano, eis o provável interesse da revista no relato cientificista de Pasquini.
Mas o texto nos permite uma outra leitura da situação argentina. A implosão do prédio da Amia – Associação Mutual Israelita argentina, coração da comunidade judaica nacional – e o atentado à bomba da embaixada israelita tornaram-se possíveis porque a máquina de guerra terrorista que o praticou foi impulsionada pela cultura totalitária argentina. Esta articula máquinas de guerra totalitárias: a comunidade jurídica (máquina de guerra jurídica heideggeriana); a indústria de comunicação (televisão, rádio, jornal de papel etc.) como máquina de guerra cultural; também o Partido Peronista como uma máquina de guerra política-populista. Na superfície política do bloco no poder, a Argentina encontra-se dominada por uma oligarquia econômica que funciona também como uma máquina-elite totalitária de guerra. Eis a explicação para a política encontrar-se dominada pelo mito. As máquinas de guerra totalitárias são articuladas pelo mito! Assim, Os ricos não são objetos da máquina de guerra jurídica heideggeriana. Esta só encarecera os pobres (pg. 26). Trata-se da racialização da cultura política – rico=superior; pobre=inferior –, racialização que é a prova mais cabal de que o totalitarismo populista (peronista) domina a Argentina, até agora sem resistência consistente ou visível! Nisman - que era um agente de tal totalitarismo populista – acabou fulminado por este fenômeno, sem direito a túmulo político. Então, quando a Argentina vai passar do mito para a história?    

FERNADO COLLOR/TIRANIA
A universidade é um lugar triste. Os alunos não têm o menor interesse em saber, refletir e simbolizar os artefatos históricos do período recente. Collor é ainda um fato político que acabou de sair do forno. Para os estudantes Collor é deixado para as calendas gregas. No plano factual, ele foi o primeiro presidente brasileiro cuja cabeça foi decepado pelo impeachment. As massas que derrubaram Collor (pois o impeachment foi um efeito do movimento de massas sem qualidade) eram espontâneas: não exista ainda a internet. No auge da crise, Brizola defendeu Collor. Quando os biógrafos vão fazer a biografia de Brizola? Trata-se de um político que elevou aos píncaros o papel do desejo na política brasileira. O desejo de Leonel de se tornar presidente o levou a defender a prorrogação do mandato do general Figueiredo e tentar impedir a queda de Collor. O desejo de Dilma Rousseff de ficar até o fim do mandato é algo que a põe na galeria das grandes máquinas de desejo (de Deleuze e Guattari) brasileiras, ao lado de Brizola e Collor. Mas qual era o desejo de Fernando Collor? Tratava-se do desejo tirânico iluminado por Platão no livro que funda a ideia de contraciência da política: A República. O estudo de Collor como tirano pós-moderno do século XX (uma vez que Floriano Peixoto foi o primeiro tirano republicano ligada à tradição brasileira e Getúlio Vargas foi o primeiro tirano moderno contra a tradição brasileira) encontra-se no link abaixo. A juventude universitária brasileira quer provar que a tradição não pesa como chumbo no cérebro jovem depois do diluvio, ou seja, depois dessa longa jornada do PT no PODER. No entanto, mais grave do que isso é a visão mentirosa repetida ad nauseam pelo jornalismo sobre o papel histórico de Fernando que dissimula o caráter tirânico de Collor na aurora da República Democrática de 1988. Tristes Trópicos?   

LUTA DE CLASSES OU LUTA DE MASSAS
O modelo geral de interpretação ideológica da esquerda latino-americana é o da luta de classes? A esquerda lulo-petista transformou a luta de classes em luta entre ricos e pobres. O Bolsa Família é o programa do governo Lula que materializou tal concepção ideológica. O PCPT vem desenvolvendo já há algum tempo a hipótese de que a luta de classes não ocupa mais o centro tático da política mundial. Professores de filosofia política da UNICAMP tentaram demonstrar em vão que a eleição presidencial de 2014 foi articulada pela luta de classes. Além do interesse escuso envolvido nisso, há a tentativa de falsificar a hipótese do PCPT. Fracassaram rotundamente!
A multidão de 13-M (13 de Março) seria constituída por massas saída da luta de classes: operários, camponeses, lumpencitadino, lumpenpolítico e vai por aí. Trata-se obviamente da operação estratégica de um vasto aparelho de Estado ampliado (burocracia sindical, burocracia camponesa, aparelho social urbano, aparelho partidário etc.) que pôs na rua estas massas disponíveis por serem contra o neoliberalismo do governo Dilma Rousseff. A política não segue linhas retas. Para a política o caminho mais curto entre dois pontos não é uma reta! Então, tais massas artificiais cantaram o hino do continuísmo de Dilma em um contraponto às massas naturais esperadas para o 15-M. O leitor talvez concorde que o Estado ampliado petista instalou na interseção entre o 13-M e o 15-M a lógica da luta de classes como simulacro de simulação.  
Com o 15M, o petismo desandou a falar em massa pobres (13-M) contra massas ricas. Um jornal inglês foi mais longe e falou em massas brancas de alta classe média e da elite. Eles se tornou o corifeu petista na Europa. O jornal inglês poderia ter usado a ideia do PCPT de que a história política universal é a dialética entre o inconsciente político ariano e o inconsciente político mestiço. Como nenhum sábio europeu sabe nada sobre isso, o jornal caiu no ridículo! De qualquer ângulo que se olhe a luta de classe não ocupa o centro da política confirmando a frase – não sei se é apenas uma frase de efeito – do jornalista espanhol Juan Arias: “A quem interessa manter essa luta surda de classes criada por ideologias que até a esquerda mais iluminada considera superadas e que semearam no mundo milhões de mortes?”. É claro que a luta de classes não foi uma criação de ideologias. Mas também é possível dizer que hoje a luta de classes é um “processo” determinado pela lógica do simulacro de simulação associado ao modelo ideológico esquerda “versus” direita. Até quando a cultura jornalística vai insistir em ver a política brasileira pelo binóculo da interpretação ideológica esquerda versus direita? Para superar tal modelo não é preciso que o jornalismo passe a simbolizar a partir das ideias materiais produzidas por um campo de pensamento realmente epistêmico?   

PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT)
“A situação é pior entre os jovens. Pela 1.ª vez na série histórica, o PT foi alcançado pelo PSDB e não lidera a preferência entre quem tem 16 e 24 anos. A pesquisa mostra que 6% preferem os tucanos e 5% os petistas. O porcentual de eleitores sem preferência partidária também é recorde: 75%.” (mar 19, 2015 ~ Deixar um comentário ~ Escrito por Rodrigo Burgarelli, do blog do Estadão)
A crise brasileira se traduz em números desastrosos sobre a relação dos jovens com os partidos. Mas o que os números traduzem em termos de sentido político. Trata-se de um retrato pós-eleitoral do divórcio entre os jovens e o ‘sistema partidário”? Sim! Por quê? O que a juventude viu na eleição que a levou a denegar os partidos? Essas perguntas deveriam ser formuladas por cientistas políticos assim como as respostas. Mas vamos ao esboço de resposta no campo da física das máquinas de guerra.
A primeira máquina de guerra política da República Democrática foi Fernando Collor. Na época como eu ainda não havia nomeado uma certa política como máquina, chamei Collor de Príncipe Infame. O Ricardo III de Shakspeare foi o modelo para designar esta máquina de guerra política collordemello. Na eleição de 2014, o PT copiou collordemello e agiu como um Príncipe Infame, ou seja, como uma máquina de guerra política. Marina Silva foi o objeto-inimigo fulminado pelos raios do Príncipe Infame. A máquina de guerra política é o avesso de uma instituição política. Na primeira predomina o uso da violência simbólica para desintegrar o inimigo subjetivamente. Ela faz da política um campo de guerra simbólica. No “Acreditavam os gregos em seus mitos”, Paul Veyne se refere a máquina de guerra de pensamento guerreando em um campo de forças simbólicas. Mas esta aplica força sobre o pensamento de outra máquina ou do homem. O objeto a ser desintegrado é a ideia do outro, não o outro como sujeito. A máquina de guerra política aplica força simbólica para destruir o outro como sujeito: a subjetividade política do Homem. Esse foi o espetáculo que o PT (e o PSDB) proporcionaram para o eleitor. O partido é uma instituição política que deve agir pacificamente na luta política. Ele não deve ou pode visar a destruição do outro. Ele se caracteriza por ter sob controle o uso da violência simbólica. Então, a reação da juventude parece indicar que ela quer a política como um território pacificado. Esse parece ser o sentido político dos números que expressam o desejo da juventude brasileira. As máquinas de guerra políticas querem afundar a política brasileira no abismo do MITO, pois esse é o habitat delas.  Este caminho já está sendo trilhado pela Argentina, como mostra a postagem Argentina/Fábula/Totalitarismo. O mito é um tertium quid, nem verdadeiro nem falso. As máquinas de guerra políticas querem fazer o Brasil passar da história (onde tem um regime de verdade efetivo sustentado por uma episteme) para o mito, onde nada na política é verdadeiro ou falso. Isso é perfeito para o regime da política brasileira que desde o século XIX estabeleceu a política como simulacro de simulação, onde o verdadeiro é um simulacro de verdade!
A Colômbia de Pablo Escobar foi o grau zero da passagem da história para o mito na América Latina da segunda metade do século XX.

CRISE BRASILEIRA
A história dos partidos no Brasil começa não com partidos, mas com as máquinas de guerra políticas. Republicanos e liberais foram as duas máquinas de guerra que derramaram muito sangue. Sempre desfraldando a bandeira liberal à brasileira, a máquina de guerra federalista intervém no movimento da Independência, ensanguentando o Primeiro Reinado e a Regência. O Estado se constituiu como uma megamáquina de guerra (chamado de exército nacional) que sob o comando de Caxias derramou cachoeiras de sangue até desintegrar a máquina federalista.      A revolução de 1917 e a Confederação do Equador foram artefatos produzidos pelo trabalho da máquina de guerra republicana. A máquina de guerra liberal ensanguentou as províncias em movimentos como a Sabinada ou a guerra dos Farrapos, bastante aparentados com os que tinham se sublevado, em 1917 e 1924, o governo de Pedro I. Agora, no entanto, a situação era mais grave. Não era contra um tirano que arrepiava a juba o leão liberal. Era contra a unidade do Império. A crise brasileira do século XIX foi a crise da desintegração do Império que poderia se transformar na desintegração do Brasil. Uma história materialista da política tem que partir da história das máquinas de guerra para abordar a crise do século XIX e a história dos partidos. O liberal Bernardo Pereira de Vasconcelos foi o artífice da constituição do Partido Conservador, um amálgama de liberalismo de direita com antigos restauradores de esquerda ligados aos interesses da lavoura do café - a commodities principal que foi a base econômica da solução da crise brasileira. O Partido conservador foi a primeira instituição política partidária. Ele não era uma máquina de guerra freudiana. Este partido foi o artefato simbólico que encaminhou uma solução para a crise brasileira do século XIX.
A crise brasileira do século XXI já está sendo falada até na televisão. Mas afinal o que é a crise do nosso século? O PCPT não é pescador em águas turvas. Ele está voltado para a busca da contraverdade da crise brasileira que deve ser fruto de um refinamento maior que a própria verdade. Admitir que estamos na crise brasileira é o início de uma reflexão e uma simbolização que podem gerar o Bernardo Pereira de Vasconcelos do século XXI? Bernardo foi o nosso Príncipe moderno que poderia servir de espelho para a política brasileira atual. Mas não podemos esquecer que com a capitalismo de commodities na hegemonia do bloco no poder os problemas do século XXI são: a desintegração da República e a dissolução do país. Fui longe demais?    

PSICOPATA AMERICANO
O psicopata é um pesadelo da vida americana que passeia na estrada por onde passa o mundo, mas não passa Deus ou o Diabo. Ele é um significantepsi da cultura freudiana industrial de massas dos USA. Ele está além do mundo freudiano habitado por comunidades de neuróticos - que dominam o Ocidente - perversos e psicóticos. Os psicanalistas atacam e desqualificam o conceito de psicopata a partir do reducionismo freudiano. O que é isso? O reducionismo em geral é a privatização do objeto de pensamento, como esclareceu Claude Lefort. Trata-se da lógica privatista do objeto-pensamento como continuação da lógica privada do inconsciente político no campo do pensamento. As “escolas” de psicanálise (que fazem o reducionismo psi) constituem a Corporação de Ofício Freudiana em vários continentes. O privatismo freudiano quer dizer o que existe e o que não existe no mundo-da-vida. Ele é a vontade de poder de instituir o mundo por um efeito de um dizer psi: privatização freudiana do mundo-da-vida.
O significante psicopata foi alvo de uma guerra levada no campo da cultura pela Corporação de Ofício Freudiana. Esta faz a política que instala uma guerra psi no campo da cultura, em geral. Na atualidade, tal corporação já fez movimentos no sentido de desintegrar o significante máquina de guerra freudiana. O Psicopata não é Homem. É o além do Homem! Ele também não é cyborg: a biologia humana com protese. O Piscopata e o cyborg tem algo em comum? São máquinas como artefato simbólico no corpo humano? Refiro-me ao cyborg como máquina de guerra híbrida dos filmes de ficção científica. Mas qual é diferença entre o cyborg e o psicopata? Os dois são máquinas freudianas cujo agir usa uma violência sem limites? Os dois são como o camaleão: muda de cor (face, rosto) com o ambiente. Eles se confundem facilmente com os neuróticos na comunidade mundial dos neuróticos. Eles simulam neurose. A lógica do simulacro de simulação é a lógica da máquina de guerra que simula ser humana. Então, mais uma vez, onde está a diferença?
O psicopata é uma máquina de guerra psicótica natural in extremis. O psicopata é uma vocação cerebral; ele é exterior ao laço RSI (Real/Simbólico/Imaginário; ele é facticidade pura impossível de se tornar artefato ou significante integráveis ao inconsciente político. Ele é parte da galeria das grandes máquinas de guerra freudianas da história política universal: pensem em Gengis Khan ou Hitler.  Ele é uma máquina de guerra psicótica todo o tempo e em qualquer espaço. No mundo próximo de nós, ele é faticidade - do campo da cultura política freudiana industrial de massas – produzido pela racialização da superfície política do mundo-da-vida cotidiano. Só a racialização articulada pelo narcisismo das pequenas diferenças pode produzir e “explicar” que os Balcãs - com o fim do socialismo realmente existente – tenham passado para o domínio de psicopatas como Milosevic. Este foi o paradigma das máquinas de guerra psicóticas terroristas que viviam dos banhos de sangue das populações diferentes da etnia deles, em geral. O cyborg é uma máquina de guerra psicótica derivada da alma neurótica. A história do cyborg articula-se na família, na vizinhança, nos aparelhos e instituições. Ele tem alma e o psicopata não! Esta é a diferença marcante entre eles! O cyborg é, em geral, a pequena máquina de guerra cortesã que se tornou notável nas Cortes Europeias no fim do feudalismo e na aurora da era moderna. Ela se define pela inibição do uso da violência, por um redirecionamento da energia (pulsão de morte) para o estado de emulação!  Já a sociedade de guerreiros medievais esteve sob o domínio das grandes máquinas de guerra psicóticas terroristas (psicopata): os guerreiros medievais. O psicopata e cyborg não podem ser reconstruídos como significantespsi das culturas políticas pela física das máquinas de guerra? 
PRÍNCIPE MODERNO OSWALDIANO
“O Príncipe de Maquiavel poderia ser estudado como uma exemplificação histórica do “mito”soreliano, isto é, de uma ideologia política que se apresenta não como fria utopia, nem como  raciocínio doutrinário, mas como uma criação da fantasia concreta que atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e organizar a sua vontade coletiva” (Gramsci). O mito de Sorel associa política e guerra: “Os homens que participam dos grandes movimentos sociais representam sua ação imediata sob a forma de imagens de batalhas que asseguram o triunfo de sua causa. Propus chamar de mito essas construções”. A representação da ação política como parte da guerra remete para a ideia de que a política não é um mero fenômeno racional, mas um fenômeno ligado ao inconsciente político. A guerra é um significante do inconsciente político presente desde o início arcaico da história da política universal. A fantasia concreta da guerra ronda também a modernidade política. A lógica desse fantasma atualizada pode transformar os partidos modernos weberianos (ou os partidos tradicionais oligárquicos) em máquinas de guerra. Em países onde a modernidade política é quase modernidade, a lógica do fantasma (=guerra) costuma tomar posse dos partidos transformando a política no reino das máquinas de guerra “partidárias”.
A solução da crise brasileira passa, antes de mais nada, pela construção do Príncipe Moderno, entre nós. Ele não pode ser pensado como um artefato político meramente racional. Ele tem que ser constituído a partir da fantasia da contraguerra política, ou seja, como um artefato simbólico do inconsciente político brasileiro, e não do imaginário europeizante que domina a elite, as mídias e a universidade. A contraguerra do inconsciente político brasileiro popular remete para o SERTÃO e para o Bom Jesus e Canudos. Este foi a contramáquina de guerra poética (máquina de guerra autodefensiva) do Sertão que batalhou até a sua aniquilação contra a máquina de guerra terrorista (exército republicano florianista):
“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio (de 1924) é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá o ouro e a dança.”. O Manifesto da poesia Pau-Brasil é a poesia como técnica das técnicas da cultura política mestiça. Tem cheiro e sabor de sertão no coração do Litoral político brasileiro!       

PMDB=MÁQUINA DE GUERRA OLIGÁRQUICA
Veja_ “Fora das instituições não há salvação”
Com esta palavra de ordem Veja entra no movimento do golpe de Estado parlamentar do PMDB. Triste figura do jornalismo brasileiro. Para o leitor jovem é preciso dizer que a revista já teve momentos grandiosos. Mas isso parece ter ficado no passado!
Sobre Eduardo Cunha, ela diz; “Quem foi condenado foi o procurador. Cunha pode não ser, como parece mostrar seu passado, um monumento de ético. Mas, desde que seus pecados pertençam ao passado e seus compromissos seja com a saúde institucional, a Constituição e a democracia, há esperança porque o nosso povo mereeeece respeito”. Isso não lembra o ditado popular: “quem não tem cão, caça com gato”?
A Veja usa uma linguagem política que assegura que o PMDB é uma instituição política, uma instituição de salvação nacional com o colapso do PT. Partido (=instituição) significa que ele não está envolvido com lógica ou estrutura que instalam a guerra na política stritu sensu ou na política do mundo-da-vida. O PMDB é um “partido” de fala mansa aprendida com a política oligárquica, com os coronéis do SERTÃO. Estes coronéis - transfigurados pela relação do sertão com o poder federal petista – são verdadeiras máquinas de guerra oligárquicas e tirânicas. O coronel é uma máquina de guerra oligárquica individual e biográfica que cochicha mansamente no ouvido do jagunço a ordem para matar o inimigo. Isso é uma tradição do poder oligárquico no Brasil. No governo do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral deu a ordem mansa no ouvido do Secretário de Segurança para o uso da violência sem lei sobre a multidão. O coronelismo de Cabral tinha apoio no Judiciário através de juízes que agiram como máquinas de guerra heideggerianas. Estes juízes pertenciam ao bando oligárquico e Cabral. A máquina de guerra jurídica heideggeriana é a continuação da violência da máquina de guerra policial sobre a população por meios jurídicos despóticos!
Eduardo Cunha começou na política sob a direção do inesquecível PC Farias que era o subchefe do bando oligárquico collorido das Alagoas. PC tinha ligações com máfias que acabaram assassinando-o. Depois através com garotinho, Cunha se integrou à máquina de guerra evangélica do Rio de Janeiro. O privatismo evangélico (apropriação privada da coisa pública em nome de Jesus) foi sempre o seu guia na política. Para completar também é ligado à Paulo Maluf, que parece ter saído das páginas do livro Arte de Furtar, de autor anônimo da época colonial.
Isso é o que a Veja chama de instituição capaz de salvar o Brasil. Cinismo, oportunismo, irresponsabilidade burguesa e canalhice jornalística em último grau!
Por isso, já há algum tempo o PCPT lançou a ideia da Renúncia de Dilma Rousseff como um agir capaz de evitar que o PMDB tome através do golpe de Estado parlamentar - em conluio com o PSDB - o poder brasileiro. É possível que Dilma e o PT ainda tenham na memória o tempo que o partido gramsciano representava o projeto da esquerda brasileira para implantação de uma sociedade em ruptura com a sociedade oligárquica colonial que o PMDB sempre representou. Isso seria o começo para a política brasileira sair do domínio das grandes máquinas de guerra partidárias como o PMDB e o PSDB. Este poderia ser o último gesto do PT como máquina de guerra. Trata-se de um gesto grandioso, de um republicanismo capaz de agenciar um liberalismo político ainda inexistente no Brasil. Se o PT acreditar que a política é arte de tornar possível o impossível, ele poderia começar a sua transformação de máquina de guerra em instituição política: PARTIDO.

CULTURA INDUSTRIAL DE MASSAS/NIETZSCHE
Em Nietzsche, a feira e os clowns dela são metáforas para se pensar a cultura industrial de massas da sociedade do espetáculo. Ele se refere à sociedade do espetáculo como a grande comédia: “em torno dos comediantes giram o povo e a fama: “é esse o caminho do mundo”.  O comediante faz os o espectador acreditar nele e no agir dele na cultura industrial de massas. Amanhã, ele terá nova crença e, depois de amanhã, outra, também nova. Possui sentidos rápidos, tal como a plebe, e faro de caminheiro. Com efeito, ele só acredita nos deuses que fazem grande estardalhaço no mundo. Repleta de clowns está a sociedade de espetáculo – e a plebe espectadora ufana-se de seus grandes “homens”, que são, para ela, os senhores da hora. Paradoxalmente, os clowns da cultura industrial de massas são absolutos e apressadores em fazer funcionar absolutamente a doxa. A doxa é o terreno cultural mais primário da articulação da cultura política totalitária no mundo-da-vida. A sociedade do espetáculo é a máquina de guerra clowniana, mas como simulacro de simulação da comédia ou antiga ou histórica. É longe da cultura industrial e da sociedade do espetáculo – da feira, dos clowns e da fama – que os físicos das máquinas de guerra as leem como elas realmente funcionam. A cultura industrial de massas é a vontade cultural de produzir o espectador como pequeno e miserável. De prepara-los para a invisível vingança do mundo pequeno e miserável. Vingança autoaniquiladora!  Esta visão de mundo (“Weltanschauung”) laica substitui a visão de mundo da cultura política católica de que “a vida é apenas sofrimento” causada pela pulsão de morte. Então, tratais, portanto, de que cesse essa vida que é somente sofrimento”. Este era o gozo milenar da cultura política católica que a era moderna alterou substancialmente. No lugar dele, entrou o gozo da cultura política industrial de massa: goze com a vida pequena e miserável espiritualmente sendo um espectador entretido pelos grandes e pequenos clowns da sociedade do espetáculo.
Como fenômeno político, a multidão é o avesso do espectador pequeno e miserável espiritualmente. Ela é grandeza espiritual e quando faz acontecer a revolução política passa por uma metamorfose histórica que só assusta os áulicos ou os fariseus. Ela de plebe ignara se transforma em uma multidão sublime.

EXISTE UM PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO?
Raymundo Faoro escreveu tal livro a partir do qual a juventude (dos 14 aos 36) pode estabelecer um ponto de partida para a revolução política brasileira. Um sinthoma da nossa cultura política atual é justamente a denegação da juventude em relação ao passado, à história política do país. Talvez, ela saiba sem saber que sabe que a nossa história foi instituída, constituída pela TRANSAÇÃO de absolutismo português colonial com o simulacro de simulação de liberalismo a partir do Terremoto de Lisboa (1755) que levou o Marquês de Pombal ao poder tutelado por D. José I. Este é o modelo político luso-brasileiro colonial que - com o liberalismo constitucional de 1923 e 1824 - se transformou em modelo neopombalino que continuou com o fim do Império de Pedro II por meios republicanos. A própria República Democrática de 1988 foi subsumida a este neopombalismo. Enfrentando Oliveira Vianna, Faoro diz algo diferente da hipótese consagrada que associa liberalismo brasileiro e oligarquia (aristocracia) da terra. Movimentos liberais – 1789 (Inconfidência Mineira), repressão do Rio de Janeiro (1794, revolução dos Alfaiates da Bahia (1789) e a irradiação das revoluções liberais em 1817, 1824, 1831, nas insurreições regenciais, e eventualmente na Praieira (1848) – tornaram significante liberal fora da transação integrado ao inconsciente político brasileiro. Faoro acredita que um pensamento político do inconsciente nietzschiano brasileiro pode se articular como uma cultura política capaz de ser a junção de logos e praxis- ideais e massas – em um processo revolucionário que possa finalmente desintegra o modelo neopombalino colonial-imperial-republicano.
No entanto, a junção de logos e praxis no século XXI necessita se condensar em uma contramáquina  de guerra de pensamento política. A multidão que derrubou Collor, as massas de junho de 2013 e a multidão (mais de 2000000 de pessoas) do 15-M de 2015 não seriam um sinthoma do pensamento liberal do inconsciente político nacional? Trata-se de um liberalismo político não assujeitado à lógica colonial da TRANSAÇÃO? Para evitar tal lógica, guiado pela contramáquina de guerra de pensamento político autônomo, o pensamento liberal articula-se a lógica da cultura política mestiça insurgente em Canudos. Em um ponto, Raymundo Faoro tem inteira razão: o inimigo principal da revolução brasileira é o Urstaat neopombalino despertado ao longo da história republicana e agora!   

GOLPE DE ESTADO
O primeiro golpe de Estado no Brasil nasceu do choque político entre o imperador Pedro I e a Assembleia Nacional Constituinte de 1823. Trata-se do choque entre o executivo e o legislativo. Pedro diz na abertura da Assembleia Constituinte: defenderei com a minha espada a constituição se “fosse digna do Brasil e de mim”. O choque fica mais claro se o leitor aceitar que Pedro I se apresenta não como poder constituinte e constituído pela aclamação popular, mas como a espada do trono, ou seja, como a primeira máquina guerra política absolutista luso-brasileira.
José Honório Rodrigues interpretou o choque como o perigo da Constituinte arrogar-se, como se arrogará, a encarnação da soberania nacional sobrepujando-se ao Príncipe despótico. A Constituinte foi dissolvida pela tropa militar – máquina de guerra militar arquetípica da burocracia militar brasileira – dominada naquele momento pela facção portuguesa sob ordem direta e clara de Pedro I. Assim, o país mergulhou no absolutismo pombalino novamente, de onde nunca havia saído.
Octávio Tarquínio de Souza esclarece que José Bonifácio na Constituinte considerava o liberalismo político como uma metafísica dissociada de qualquer realidade política, gerando máquinas de guerra terroristas que banhavam em sangue França e a Espanha. Elas alimentavam e potencializavam o estado de guerra permanente freudiano (anarquia permanente) que tomava conta da política mundial com a desintegração parcial das monarquias absolutistas, ou seja, do poder despótico absolutista. Os liberais mais exaltados se opunham a Bonifácio dizendo que as Repúblicas liberais não eram anarquia política ou um artefato simbólico como resultado de um estado de anarquia política. O liberalismo político não tinha como motor um desejo de anarquia política!  
O primeiro projeto da Constituinte foi a lei da anistia. Ele reconhecia que a política brasileira estava sob domínio das máquinas de guerra políticas civis e militarizadas que lutavam contra o Urstaat absolutista: a máquina das máquinas de guerra militarizadas. A anistia levantou constitucionalmente o problema da violência sem lei do Urstaat, entre nós, que funcionava como uma Santa Inquisição laica amplamente amparada na cultura política católica. Contra a anistia, levantou-se José Bonifácio – o paulista mais culto e inteligente com formação europeia – que encerrou sua participação constitucional sobre o problema da violência despótica dizendo que ela era um instrumento necessário para a salvação da pátria. A constituinte rejeitou a anistia na sessão de 22 de maio de 1823 fornecendo para a cultura política dominante o carácter divino da violência do Urstaat absolutista. A violência divina metabolizada pela cultura política dominante a partir da decisão da Assembleia Constituinte sobre a anistia articulou-a (como mito) concretamente ao inconsciente político ariano brasileiro. Esta é a leitura da violência divina sem limite do Urstaat brasileiro como significante da história política universal que articula a cultura política totalitária no mundo-da-vida no século XXI brasileiro. Imaginação sartreana?                                               

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