sábado, 25 de agosto de 2018

O CANDIDATO ÉPICO DA OKHRANA


José Paulo

Com o progresso das eleições no Brasil, os mass media já sabem de sua importância desproporcional na determinação do resultado eleitoral presidencial. A gramática dos mass media fica oculta na parte invisível da tela gramaticas da sociedade de comunicação. O trabalho do marxismo brasileiro é traze-la para a dimensão visível da tela gramatical.  

Os mass media são um fenômeno industrial capitalista no Ocidente e periferia ocidental. Eles são regulados pelo princípio da mercadoria (econômica, política, cultural).

Os mass media se vendem como mercadoria econômica para obter volumosa renda de publicidade; se vende como mercadoria política para influenciar no processo eleitoral e na composição do poder nacional (e local) pelas facções políticas dominante; se vende como mercadoria cultural (a mercadoria é o Deus mortal) para seduzir a massa eletrônica.

Os mass media são um campo de múltiplas contradições (funcionamento democrático em período normal) entre as facções de entretenimento, cultural e homo informacionalis. A facção infomacionalis (sob o comando dos jornalistas) detém o poder comunicacional, no domínio político mediático. As outras facções trabalham pare ela na época eleitoral, pois, se trata de fazer política comunicacional para fazer presidentes e depor presidentes.

Em época de eleição, os mass media funcionam em um regime de exceção comunicacional. Eles passam a funcionar como uma burocracia weberiana, isto é, segundo uma cultura hierárquica inflexível, e uma racionalidade instrumental funcional. Nesta burocracia corporativa, industrial comunicacional, neocolonial, o jornalista torna-se o “funcionário público” capitalista regulado pelo princípio do dever com o dono da empresa. A manutenção do emprego grita mais forte do que ideologias políticas pessoais. O funcionamento democrático é substituído por outro, autocrático. A política comunicacional é realizada por jornalista que obedecem cegamente ao patrão editor. A alta administração dita as linhas editoriais a serem seguidas automaticamente pelos jornalistas.      

A facção cultural é constituída de músicos criativos, atores e atrizes, cientistas, médicos, psicólogos, economistas, cientistas políticos e outros especialistas de diferentes áreas de saber. Ela é tática para garantir a legitimidade: os mass media como poder legítimo em uma era de poder ilegítimo dos políticos tout court.

No período eleitoral, os mass media precisam tomar a decisão de qual candidato eleger. A escolha não é uma besteira, não é feita por critérios da indeterminação, e sim de hiperdeterminação. A decisão é um efeito da gramática social sobre os mass media. Na sociedade neoliberal do capitalismo neocolonial, a decisão obedece à lógica das classes dominantes que dominam poderes estatais: poder do Congresso nacional, poder governamental, poder judiciário.

Como se trata de um campo de poderes de múltiplas contradições, os mass media servem e são enredados pelo poder econômico dominante do capitalismo neocolonial.

No Brasil, a economia de commodities neocolonial é o poder econômico dominante. No Congresso, ela existe como um bloco de poder conhecido como b.b.b (bala, bíblia, boi) e se entrelaça com o Centrão, tendo o PP ou Progressistas como facção congressual no comando da política das facções neoliberais, neoconservadoras e neocoloniais.

O candidato oficial neocolonial, neoconservador (Opus Dei) e neoliberal  é o paulista Gerald Alckmin. No entanto, saído da escola política b.b.b., Bolsonaro é o candidato estepe do poder econômico dominante. Com Geraldo até agora sem chances de chegar ao segundo turno (e Bolsonaro em primeiro lugar nas pesquisas de opinião devoto) os mass media do Rio já fazem campanha (nada sutil) para o carioca Bolsonaro.

Quem é Bolsonaro?

Trata-se de um capitão aposentado do Exército com ideologia favorável ao Estado 1968 fascista, em primeiro lugar. Contudo, a biografia política de Bolsonaro só se torna inteligível associada à história da Okhrana.  

Na presidência, Fernando Collor extingui legalmente o SNI: Okhrana estatal. Os agentes secretos do SNI passaram a servir à burguesia e pequena burguesia do comércio no Rio e em São Paulo. A Okhrana se tornou um serviço secreto burguês, privado de vigilância, espionagem interempresarial, espionagem e perseguição do inimigo gramatical do capitalismo neocolonial  e proteção do comércio das grandes cidades etc.

Em 1999, FHC recriou o SNI e serviços secretos das forças de segurança (exército, marinha, aeronáutica, polícia militar, casa civil nacional etc.). O novo SNI púbico/privado (Okhrana) é um poder secreto da gramática de estatização do campo de poderes. Trata-se de um poder que não atua contra o poder criminoso. A explicação deste fato é um segredo guardado a sete chaves. Falar do agir da Okhrana é falar de um agir que domina a dimensão invisível da tela gramatical da política.

Portanto, não se trata de falar de fatos, e sim de sintomas.

A Okhrana é como o complexo de Édipo um sinthoma. (Lacan.2007: 23). Ela é um sujeito suposto:
“Contudo, a experiência demonstra-nos que essa suposição está sempre entregue ao que chamarei de uma ambiguidade. Quero dizer que, como tal, o sujeito sempre é não somente duplo, mas dividido. Trata-se de dar conta do que, dessa divisão, instaura o real”. (Lacan. 2007: 30).
                                                                              II


A Okhrana é o sujeito esquizo, pois, ela é um sujeito legal (ABIN) e ilegal-terrorista (maior parte dos serviços secretos que agem na sombra da legalidade). Gianfranco Sanguinete estudou a Okhana no caso do sequestro e assassinato de Aldo Moro.

S. diz: “Ora o terrorismo italiano é o último enigma da sociedade do espetáculo e só quem raciocinar dialeticamente o poderá resolver”. (Sanguinetti: 23). A Okhrana é, hoje, um enigma da sociedade do espetáculo comunicacional funcional do capitalismo neocolonial. Ela é um agir de espionagem legal de Estado (ABIN) e uma prática política terrorista agindo no lado invisível da tela gramatical da política. Como sujeito esquizo, ela instaura o real da política burguesa brasileira. 

S. diz:
“Todos os actos do terrorismo, todos os atentados que tiveram e têm poder sobre a fantasia dos homens, foram e são ou acções ofensivas ou acções defensivas (...) O terrorismo defensivo dos Estados é por eles praticados direta ou indiretamente, com as suas próprias armas ou com as de outrem”. (Sanguinette: 63).

O terrorismo introduz uma gramática na política que corrói a democracia em geral:
 “Todos o grupúsculos terroristas secretos são organizados e dirigidos por uma hierarquia que permanece clandestinamente para os próprios militantes na clandestinidade, o  que reflete perfeitamente a divisão do trabalho e dos papéis própria desta organização social: na  cúpula decide-se e na base executa-se”. (Sanguinette: 64).

A Okhrana é constituída por grupúsculos terroristas secretos que instaura o real do sujeito esquizo na política da democracia 1988. Ações defensivas têm praticado a OKhrana. Estas ações não já suprimiram vidas importantes da política brasileira?  

A Okhrana age, eleitoralmente em 2018, através de grupúsculos digitais terroristas nas redes sociais. O agir desses grupúsculos não provocou uma reação violenta simbólica do poder judicial tentando controlar o terrorismo nas redes digitais?    

Como dizer a verdade sobre o sujeito Okhrana?

Lacan diz sobre a verdade:
“só há verdade na medida em que ela apenas pode ser dita pela metade, tal qual o sujeito comporta. Para exprimi-lo conforme o enunciei, a verdade só pode ser meio dizer”. (Lacan. 2007: 31).

Notem e anotem que os mass media não tratam jamais das ações da OKhrana em solo pátrio. Os mass media brasileiros cultivam uma grande admiração pela OKhrana americana, especialmente, pela CIA. Esta aparece como um sujeito de uma saga épica da política mundial.

A CIA é um herói transliterário (Bakhtin: 29), pois, é o herói romanesco transladado para a realidade invisível da tela gramatical da política mundial. A facção cultural americana dos mass media cria e recria uma cultura (filmes, seriados, documentários, história em quadrinhos, livros científicos, romances etc.) em uma narrativa na qual a Okhrana é um herói épico.   

A CIA é o herói épico da narrativa romanesca dos mass media brasileiros. A Okhrana é constituída por redes secretas interligadas mundialmente e em luta permanente, entre si. O Brasil faz parte dessa Okhrana mundial. O terrorismo de Estado da CIA criou o primeiro grupúsculo terrorista da esquerda brasileira na década de 1960:
“”qualquer serviço secreto pode inventar uma sigla ‘revolucionária’ e levar a cabo um certo número de atentados, que a imprensa se encarregará de propagandear, e a partir dos quais lhe será fácil formar um pequeno grupo de militantes, ingénuos, que dirigirá com a maior das facilidades”. (Sanguinette: 64).

A CIA criou vários grupos terroristas islâmicos. No México, a Okhrana fez aliança informal com  El Chapo (capitalista neocolonial lumpencriminal), usando-o como moeda de troca da política mexicana formal. Na segunda década do século XXI, a segunda prisão de El Chapo é obra da Okhrana mexicana e americana (DEA). O túnel cavado para a fuga de El Chapo da prisão de segurança máxima é obra da Okhrana. E finalmente, a extradição de El Chapo para os EUA é obra da Okhrana.     
No Brasil, a Okhrana pode estar por trás da criação de organizações criminais que dominam a parte invisível da tela gramatical da política. Fenômenos estranhos acontecem (explosões de aviões como o do ministro de Sarney Marcos Freire, assassinatos políticos de ambientalista e Marielle Franco, movimentos de sublevação criminal fazendo pendant com sublevação policial, criação de legislação para enquadrar as massas na rua como terroristas, corrupção em larga escala da elite política e econômica etc.), e eles têm a mão invisível da Okhrana.

Teoria da conspiração?

A Okhrana é a argamassa gramatical do b.b.b (b. de economia de commodities, b. de fundamentalismo neoconservador, b. de complexo industrial-militar) e do movimento pela legalização dos jogos de azar, entre nós. A Okhrana faz pendant com o complexo industrial-militar mundial

                                                                            III

Dou um salto qualitativo no marxismo brasileiro ao tratar com as gramáticas da sociedade de comunicação.

Dominique Wolton diz que, no modelo ocidental, através das raízes judaico-cristãs por emergência dos valores modernos do indivíduo livre, observa-se, nitidamente, o ideal de emancipação individual e coletivo. Comunicar implica, de um lado, a adesão aos valores fundamentais da liberdade e da igualdade de indivíduos. De outro lado, a busca de uma ordem política democrática. Mesmo no capitalismo neocolonial, a ideologia técnica industrial “cultural” ocidental supracitada é um guia da ação de comunicação dos jornalistas dos mass media. Sem drama até aqui!

A indústria cultural mescla a gramática da comunicação normativa com a gramática da comunicação técnica social.

Wolton diz:
“Par communication normative il faut comprendre l’idéal de communication, c’est-à-dire la volonté d’échanger, pour partage quelque chose en commun et se comprendre. Le mot ‘norme’ ne renvoie pas à um impératif, mais plutôt à l’idéal poursuivi par chacun. La volonté de compréhension mutuelle est ici l’horizon de cette communication. Et qui dit compréhension mutuelle suppose l’existence de règles, de codes et de symboles. Personne n’aborde ˂naturellement> autrui. Le but de l’éducation puis de la  socialisation est de fournir à chacun les règles nécessaires à l’entrée en contact avec autrui”. (Rolton: 17).

Fazendo pendant com a gramática da comunicação funcional, a gramática da indústria cultural introduz um ponto de inflexão na história das gramáticas da comunicação:
Par communication fonctionelle il faut entendre les besoin de communication des économies et des sociétés ouvertes, tant pour les échanges de biens et de services que pour les flux économiques, financiers ou administratifs. Les règles jouent ici un rôle encore plus important que dans le cadre de la communication interpesonnelle, non dans une perspective d’intercompréhension ou d’intersubjectivité, mais plutôt dans celle d’une efficacité liée aux nécessités ou aux intérêts”. (Wolton: 17).

A comunicação funcional dos mass media instala no real da tela gramatical comunicacional o trans-sujeito industrial cultural da sociedade de comunicação de massa.  Em tal sujeito, a determinação não se obra em favor da indeterminação, e sim a favor de uma hiperdeterminação, no vazio. (Baudrillard. 1983: 12). Os fenômenos de inércia se aceleram; as massas caem em um gigantesco processo de inercia por aceleração. (Baudrillard. 1983: Além desse ponto só ficam uns acontecimentos sem consequências (e teorias sobre as massas sem consequências), porque absorvem precisamente seu sentido em si mesmos, não refratam nada, no pressagiam nada. Mais além deste ponto aparecem as catástrofes. (Baudrillard. 1983: 13).

O capitalismo neocolonial da comunicação funcional é a estratégia catastrófica como última etapa do capitalismo mundial:
“La catastrophe est l’événement brut maximal, là encore le plus événementiel que l’événement – mais l’événement sans conséquence et qui laisse le monde en suspens”. (Baudrillard. 1983: 17).

A sociedade de comunicação da cultura industrial do homo informacionalis fez da transparência o elemento da gramática que retrata a catástrofe como um dado natural da época contemporânea. E a transparência comunicacional significa que é subtraído da tela gramatical da comunicação funcional a sua parte invisível. Assim, a Okhrana fica protegida de uma exposição fatal na cultura de massa. No entanto, na era da comunicação catastrófica, a transparência torna-se uma estratégia cínica. A chefe da CIA de Donald Trump é uma mulher acusada de praticar tortura com presos muçlumanos.

Vivemos uma época na qual a comunicação catastrófica funcional dos mass media já metabolizou a legitimidade de candidatos presidenciais da Okhrana. Trata-se da emergência de uma consciência cínica funcional mass media na política nacional. Observe-se que também o poder judiciário não tem jurisdição sobre o agir da Okhrana.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação literária. SP: Martins Fontes, 1992
BAUDRILLARD, Jean. Les stratégies fatales. Paris: Grasset, 1983
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 23. O sinthoma. RJ: Zahar, 2007
SANGUINETTI, Gianfranco. Do terrorismo e do Estado. Lisboa: Antígona, 1981
WOLTON, Dominique. Penser la communication. Paris; Flammarion, 1997





                
    


 
   
    
  


        
        

Nenhum comentário:

Postar um comentário