quarta-feira, 29 de agosto de 2018

DA CONSCIÊNCIA BURGUESA COMUNICACIONAL


josé paulo




Na eleição 2018, o PT é a continuação de Cuba por outros meios, ou seja, meios bolivarianos. É conhecida a amizade de Hugo Chaves com Fidel Castro, Raul Castro e o Partido Comunista Cubano.  Os revolucionários bolivarianos venezuelanos se consideram como adeptos da revolução cubana e continuadores desta revolução no continente latino-americano. A Venezuela é percebida por seus socialistas como a NOVA CUBA.

Florestan Fernandes teceu um evangelho professoral cubano fidelista no Brasil. Ele diz:
“É pela situação revolucionária que Cuba vem ser ‘universal’ (no sentido em que os antropólogos empregam o termo) e ‘novas Cubas’ terão de surgir, porque não é possível deter a história”. (Fernandes: 6).

Com efeito, Cuba ressurge com o PT e Lula, com Hugo Chaves, os bolivarianos no Uruguai e na Bolívia. Ela ressurge com a revolução sandinista que apodreceu moral e politicamente, desde o início, se tornando com Daniel Ortega, no poder nicaraguense, uma autocracia oligárquica de esquerda criminal do século XXI.

O bolivariano brasileiro é a negação de uma evidência de Florestan Fernandes. Para este:
“Por isso, elas também não sabem sequer lidar com o radicalismo burguês (se ele chega a manifestar-se de alguma forma tímida e arcaica) e não conseguem absorver socialmente as pressões radicais das classes despossuídas: não existem mais condições estruturais e dinâmicas para associar a mudança social progressiva às ‘revoluções dentro da ordem’”. (Fernandes: 9).

A nova Cuba brasileira é produzida como efeito de uma ideologia de radicalismo burguês. Durante os anos que o PT ficou no governo, ele criou uma “revolução dentro da ordem” para os mais pobres, classes médias, burguesia de compadre e burguesia financeira. Nesta revolução radical burguesa, o PT se aburguesou e Lula entrou para a sociedade do rico paulista.    

O mundo é o que percebemos como totalidade histórica inacabada. A gramaticalização do todo histórico é a percepção da gramática da comunicação historial. Sempre, há algo que escapa à gramaticalização. Assim, a ideologia científica (Gramsci. v.1: 173) de um acontecimento historial é a história que anda com a cabeça e que pensa com os próprios pés. Ao contrário, trata-se de se ocupar com a história como corpo, ou melhor, como gramáticas da comunicação. Florestan nada sabe sobre isto!

A consciência sociológica e socialista de Florestan não foi ultrapassada pela história da América Latina?

Ele diz:
“Em contraposição, Cuba não é somente o único país da América Latina no qual a consciência social burguesa entrou em colapso”. (Fernandes: 9).

A ideologia científica de Florestan encontra-se atrasada em relação à história, pois, não há um colapso da consciência social burguesa, entre nós. Hoje, a consciência social burguesa existe como consciência dos mass media em relação à realidade dos fatos nacionais em uma trama existencial. Ela fez a passagem para a consciência burguesa comunicacional. O trabalho da consciência burguesa dos mass media é buscar a significação ou sentido da palavra, de gesto humano (mesmos distraídos ou habituais). A consciência supracitada é o trabalho midiático de pôr forma em um mundo ao qual ela retrata como um todo de comunicação: sociedade de comunicação de massa!

A consciência burguesa massa media diz que o mundo não é aquilo que é pensado, e sim aquilo que é vivido; o sujeito midiático está aberto ao mundo, comunica-se indubitavelmente com ele, mas não o possui, pois, o mundo mass media é inesgotável. Há a passagem da consciência social burguesa para a consciência burguesa comunicacional. Assim, a consciência burguesa torna-se um fenômeno sedutor.
                                                                                II

Antes de falar do fenômeno sedutor da consciência em tela, me remeto ao problema da decadência ideológica da consciência social burguesa. E me permito seguir um conselho de Sun Tzu:
“21. Lorsqu’il se concentre, préparez-vou à lutter contre lui; là òu il est fort, évitez-le”. (Sun Tzu: 96).

Lukács diz:
“En esta lucha de clases, diz Marx, las campanas tocaran a muerto por la economía burguesa científica. Y no se trataba de si este o aquel teorema era verdadero, sino de si al capital le resultaba útil o perjudicial, cómodo o incómodo, de si contravenía o no las ordenanzas policiales. Los espadachines a sueldo sustituyeron a la investigación desinteresada, y la mala consciência y las ruines intenciones de la apologética ocuparan el sitial de la investigación científica sin prejuicios”. (Lukács. 1986: 19). 

A consciência burguesa comunicacional é a prova da decadência ideológico burguesa mundial. Ela faz uso de velhas ciências universitárias e extrauniversitárias (economia, política, psicologia) para construir um todo comunicacional que não se sustenta frente a crítica das ideologias midiáticas. No Brasil, a decadência ideológica comunicacional é a causa necessária da decadência da política burguesa (de esquerda e direita) que transmutou partido político em facção política.  Não obstante, ela reina na gramática do capitalismo neocolonial.        

Para a ideologia comunicacional de massa não se trata de saber se esta ou aquela estrutura de evidência é verdadeira, senão se ela é útil ao capital ou prejudicial, cômodo, incômodo a ele; se contraria ou não o poder policial. O discurso mass media não é desinteressado, ele é um efeito das redes de interesses econômicos, ideológicos e de poder do capital neocolonial, hoje.

A consciência burguesa comunicacional neocolonial tem a consciência exata de que todas as armas forjadas por ela contra o socialismo, se voltaram contra ela mesma, de que todos os meios      de cultura ilustrados criados por ela se rebelaram contra sua própria civilização, de que todos os deuses que criou abandonaram-na. Daí o controle rígido da cultura através de uma facção cultural que detém o monopólio da escrita nos grandes jornais, revistas da ilustração burguesa e grandes editoras.

Irradiadora de um materialismo utilitarista (Bentham: 9-11) desenha o mundo como um espaço de dor, desprazer (o mundo como um teatro de corrupção política, assassinatos, rapto em massa de crianças, roubo de cargas, novos cangaceiros, desastres naturais ou artificiais, povo doente, epidemias, colapso do Estado, insegurança pública urbana e rural generalizada, trabalho escravo, o mundo-da-vida sob comando das facções criminosas etc.) e prazer (função prazerosa estética do possível consumo de mercadoria na publicidade capitalista).

O materialismo midiático se define por trabalhar com o significante capitalista congelado (capitalismo sem adjetivação) e sem desenvolvimento desigual entre primeiro-mundo e terceiro-mundo. Assim, a gramática dos mass media não tratam da evolução do capitalismo para a gramática do capitalismo neocolonial. O mais importante: os mass media nunca abordam essa gramática do capitalismo neocolonial. 

Tratar cientificamente da consciência burguesa comunicacional em sua integridade depende de uma história da ideologia burguesa depois da II Guerra Mundial nos EUA e outros países. No Brasil, não existe estudos sobre a história da ideologia burguesa comunicacional, isto é, da posição da sociedade burguesa de comunicação em junção com as grandes correntes:  literárias, sociais, políticas e filosóficas que favoreceram o lugar da articulação da hegemonia cum dominação dos mass media na cultura, política e economia. Trata-se  de uma história  da passagem do  Estado tout court  para o telestado.

Na história da ideologia burguesa comunicacional, um ponto de inflexão é a revolução utópica das massas gramaticalmente democráticas 2013. Os mass media comandaram a reação à revolução democrática atando as massas à imagem de desordem e caos urbano. Assim, o desenvolvimento democrático das massas na rua se tornou um alvo da Okhrana carioca e brasiliense que gerenciou a formulação de uma legislação enquadrando as massas em tela como terrorista. Hoje, um condottiere da Okhrana é candidato à presidência da República.

A Okhrana é constituída por redes de espionagem, de controle das massas na rua, de vigilância e perseguição aos democratas gramaticais. Ela é o suprassumo político da agenda dos mass media, agenda neoliberal, neoconservadora e neocolonial. O comitê central da Okhrana é composto por chefes capitalistas do mundo privado, das Forças Armadas, de várias instituições da sociedade civil, judiciário, poder policial, Congresso nacional e dos mass media. A Okhrana é um fenômeno mundial com uma gramática em narrativa comunicacional épica (televisão, rádio, jornal de papel, romances, textos científicos, filosófica, cinema, seriados de TV etc.). No Brasil, a campanha do candidato da OKhrana é um efeito da narrativa épica mundial dos serviços secretos (CIA, DEA, serviço secreto inglês, ou russo ou chinês em suas lutas contra o terrorismo islâmico, e os lobos solitários e terrorismo de etnias etc. Na eleição 2018, ela pode ser transmutada na mais poderosa facção política criminal brasileira neocolonial, neoconservadora, neoliberal, se ela conquistar o poder nacional.  

No “Doutor Fausto”, Thomas Mann fala da cultura que preparou o terreno para o nazismo alemão. Trata-se do romantismo alemão do triunfo da vontade, de toda a filosofia alemã da segunda metade do século XX, da historiografia e da ciência ariana e/ou racista. Quanto à filosofia, Lukács estabeleceu as conexões históricas entre a filosofia alemão, a ciência estética e o nacional socialismo. (Lukács. 1959:124).

O nazismo alemão não foi um raio em um céu azul. Toda uma formação cultural alemã preparou o terreno para a construção de Hitler como rhetor percipio. Como um cabo do exército, artista plástico frustrado, escritor pasteurizado e político representativo medíocre se tornou o gramático fascista da revolução conservadora alemã? 

A TV apresenta Bolsonaro como candidato das redes sociais digitais. Trata-se de uma astúcia, pois, a televisão preparou o terreno para o desenvolvimento e crescimento do candidato como homem forte em uma narrativa épica. Se o mundo é aquele mundo doente carioca e paulista que a televisão ficcionaliza como sendo o real, então o capitão Bolsonaro é a cura. A televisão preparou o terreno para a revolução fascista conservadora tupiniquim sob comando político da Okhrana em um contraponto a tentativa do PT voltar ao poder nacional.  

Os mass media são a vanguarda da consciência burguesa comunicacional. Se havia uma decadência da ideologia burguesa como consciência social, pois, esta evitava falar abertamente da realidade e das forças moventes desta (a luta de classes, o desenvolvimento do capitalismo etc. ), com a ideologia burguesa comunicacional, o exército  de jornalistas faz uma luta para conquistar o monopólio da percepção da realidade. Tal exército pesca um significante de realidade que oblitera (no imaginário político mundial) as forças práticas da evolução do capitalismo do século XXI. A decadência ideológica social não é sinônimo de um ensarilhar das armas da consciência burguesa na medida em que ela se torna uma consciência comunicacional. 
                                                            III  

Qual cultura preparou o terreno para o bolivariano?

Toda uma literatura, crítica literária, filosofia política, sociologia, cinema, música, artes plásticas, política etc. preparou o terreno para o bolivariano do PT e Lula no Brasil. O bolivariano é um efeito do multiculturalismo (nascido na América) que destronou as ideologias nacionais brasileiras. A gramática multiculturalista invadiu os mass media estabelecendo uma esdrúxula aliança formal comunicacional entre o bolivariano e a televisão carioca. Esta passou a fazer apologia da revolução cubana, obscenamente, enquanto destruía, na prática comunicacional, a revolução utópica democrática 2013, revolução percebida, por Dilma Rousseff como uma ameaça do real da política à conservação do poder nacional em mãos da esquerda do bolivariano.

A ruptura da TV carioca com o bolivariano se deve a posição sensata que os mass media foram obrigados a assumir (a contragosto) contra o apocalipse econômico venezuelano. Neste ponto, as relações internacionais latino-americanas determinaram a mudança de posição dos mass media em relação às novas Cubas.  

Uma distância irrevogável existe entre o imaginário da elite cultural da primeira metade do século XX e a elite cultural da segunda metade do século XX.

Representante da elite cultural da segunda metade do século XX, Florestan Fernandes vive em um imaginário político no qual a nação é um fato menor:
“Não podemos ignorar os fatos e, se há algo admirável com relação a Cuba, é a forma pela qual a revolução procurou subjugar e ultrapassar os fatos mais duros e adversos. Não se deve ignorar isso, se se quiser compreender, amar e servir à revolução cubana”. (Fernandes: 6).

Em seu opúsculo “Porque me ufano do meu país”, Affonso Celso diz o contrário de Florestan:
“Entre esses ensinamentos, avulta o do patriotismo. Quero que consagreis ilimitado amor à região onde nascestes, servindo-a com dedicação absoluta, destinando-lhe o melhor da vossa inteligência, os primores do vosso sentimento, o mais fecundo da vossa atividade, - dispostos a quaisquer sacrifícios por ella, inclusive a vida”. (Affonso Celso: 1). 

A Cuba de Florestan e da esquerda brasileira bolivariana é o signo da integração revolucionária latino-americana. O livro de FHC “Dependência e desenvolvimento na América Latina” (amigo marxista burguês de Florestan) é o evangelho sociológico da integração latino-americana. A ideologia marxista pró-Cuba teve com FHC seu presidente da República.

A admiração da revolução cubana pelos sociólogos marxistas da USP pode ser medida pela citação seguinte:
“A ‘revolução dentro da ordem’ foi um momento real da revolução cubana. Durou pouco e se extinguiu depressa porque só os deserdados da terra se mobilizaram para lutar por ela. A ‘revolução contra a ordem’ tornou-se, alternativamente, uma realidade permanente e em aceleração crescente. Porque não havia nada mais a salvar do capitalismo e só o socialismo respondia ao radicalismo nacional e democrático da maioria”. (Fernandes: 13).

A política no comando da economia, eis a fórmula de Lenin (autonomia do político na revolução socialista) que Cuba teria levado às últimas consequências:
“Ora, em Cuba o político se desprendeu com um grau de liberdade relativa que não se configura em nenhuma outra grande revolução deste século (mesmo que as comparações tomem como ponto de referência a União Soviética, a China, ou o Vietnã), embora a autonomia do político nem sempre pudesse ser aproveitada concretamente na mesma extensão e com a mesma rapidez na criação dos pré-requisitos da transição, e, portanto, na aceleração do desenvolvimento socialista. Não se trata, aqui, de um ‘mito’ da revolução, gerado pelos revolucionários e aceito ingenuamente pelo observador da cena histórica”. (Fernandes: 10-11).

Com efeito, Florestan divulga, no Brasil universitário, uma mitologia política criada por Fidel Castro e Che Guevara. A metabolização por nós se deve ao fenômeno da revolução cubana se realizar contra o neocolonialismo americano.

O que era o neocolonialismo?
“No caso de Cuba, alguns autores utilizaram o conceito de protetorado (que não é correto) e o de neocolonialismo (que vem a ser preciso, se se entender por essa palavra a situação típica, transitória, ou permanente, na qual a dominação indireta gradua e limita o alcance e o ritmos da descolonização, freando-a em proveito da nação ou das nações hegemônicas”. (Fernandes: 37-38).

Uma realidade impossível de ser suportada, pois, abjeta como discurso do senhor, o neocolonialismo americano sempre foi o grande anti-herói para a esquerda latino-americana:
“A situação neocolonial, em Cuba, representa o produto do aproveitamento das contradições da velha ordem colonial por uma potência que logrou converter-se em centro imperial, impedir o êxito militar e político da revolução nacional e engendrar um novo colonialismo.
Esse novo colonialismo não passava pela dominação centralizada aos níveis econômico, cultural e político. Ele se fundava em controles indiretos, criados pelos mecanismos de mercado e do desenvolvimento capitalista ou pelos dinamismos da incorporação e da satelização. Desse ângulo, Cuba foi convertida em apêndice segmentar e especializado dos Estados Unidos”. (Fernandes: 42).

O capitalismo neocolonial de Florestan significa redes de poderes econômico, político, cultural que criam uma Cuba subalterna ao centro imperial americano, nas relações internacionais, a partir de um regime extrativista mercantilista de uma única commodities, o açúcar. (Fernandes: 42-43). Florestan esquece o papel do narcotráfico da máfia americana durante o regime de Batista que transformou Cuba em um grande cassino do Caribe e em um puteiro de luxo para os ricos e políticos americanos enquanto a maioria da população cubana era pobre, doente e faminta.  

Vejamos a diferença entre o capitalismo neocolonial de Florestan e o capitalismo neocolonial do século XXI.

No capitalismo neocolonial de ontem, a ideologia capitalista é aquela da consciência social burguesa; no capitalismo de hoje, a ideologia é aquela da consciência burguesa comunicacional. O capitalismo neocolonial de ontem é uma categoria geográfica (relações internacionais geopolíticas ou geoeconômicas) de uma ideologia científica sociológica; o atual se constitui como uma gramática em narração comunicacional do marxismo brasileiro. Não há centro geográfico no capitalismo neocolonial da atualidade. O capitalismo neocolonial é o próprio centro geopolítico e geoeconômico: capitalismo neocolonial americano, europeu, chinês, do terceiro-mundo etc.

O neocolonialismo é uma realização capitalista de colonização da subjetividade pelo inconsciente matemático lacaniano e pela mercadoria como Deus mortal; uma colonização de territórios objetivos da economia, política e cultura.  Não é uma realidade das relações entre Estados dominantes e Estados subalternos. Isto, não significa negar a realidade das relações de subordinação entre nações e Estados autônomos e/ou dependentes. Há uma autonomia relativa entre as relações entre gramáticas do capitalismo neocolonial (primeiro-mundo e terceiro-mundo etc.) e as relações entre Estados nacionais e destes com Estados satélites.    

O bolivariano continua “pensando” o mundo pelas categorias do marxismo sociológico da USP.
                                                                IV

A Consciência burguesa comunicacional é um poder sedutor da gramática da estatização do campo de poderes do capitalismo neocolonial. Como poder sedutor, ela é parte do Estado ampliado ou integral constituído pela sociedade política e sociedade civil, hegemonia e dominação (Buci-Glucksmann: 114); mas vai além.

No direito internacional, o Estado é uma pessoa moral de direito público territorial e soberano. (Lacoste: 1). Já a geopolítica trata de rivalidades de poderes sobre um território. Não há raciocínio geopolítico sem referência aos Estados, quer se trate de suas relações mais ou menos conflituosas ou, por cada um deles, de problemas de geopolítica interna, como as desigualdades regionais ou as reivindicações de minorias nacionais.

Observe-se que a América Latina não é assolada pelos problemas supracitados. A Venezuela encontra-se em um apocalipse econômico, e nenhum Estado moveu um dedo para evitar a destruição de um Estado com um passado de capitalismo, razoavelmente, organizado.   

As duas características fundamentais de um Estado são sua configuração territorial e a ordem de grandeza do efetivo de sua população. Nos países do terceiro-mundo, a evolução demográfica vai na contramão dos países do primeiro-mundo. Há um crescimento populacional efetivo na América Latina. Trata-se de um traço geopolítico que a desordem do capitalismo neocolonial transforma em uma bomba demográfica explodindo na cara dos EUA.

O Brasil é na geopolítica o outro polo de poder nacional (ao lado dos EUA) nas Américas. Todavia ao contrário dos EUA, o Brasil não tem uma política de segurança americana continental como tem os EUA.

As elites brasileiras só se interessam por uma geopolítica interna que consiste em explorar a riqueza nacional até a última gota, e manter o controle da população que tem uma imensa plebe doente e sem cuidados mínimos da alimentação, escola, higiene e saúde. O Brasil está muito próximo de perder o Estado nacional como pessoa moral e soberano, pois, as elites se transformaram em facções (na economia, política e cultura); e facções criminosas repartem como Estado legal o monopólio da violência real no mundo-da-vida.
                                                                                       V

A geopolítica brasileira levantou, nas últimas décadas, um poderoso e eficiente Estado sedutor capaz de dominar e controlar a vida das massas, mesmo com todo o sofrimento que a desintegração do capitalismo dependente e associado está gerando na vida das massas desempregadas. A consciência burguesa comunicacional é o poder sedutor que carrega as elites nas costas.   

Ela funciona pelo princípio esperança em uma contraposição dialética ao caos, ficionalizado por ela, da vida nacional. O capitalismo neocolonial é o futuro do país:
“Le futur, c’est ce que l’on craint ou ce que l’on espère; sur le plan de l’intention humane, qui refuse l’échec, l’avenir c’est qui est espéré. La fonction et le contenu de l’espoir sont constamment vécus et dans toutes les sociétés ascendentes, ils ont été mis en oeuvre et développés”. (Bloch: 10).  

O princípio esperança da gramática dos mass media compõem a agenda sedutora do poder da consciência burguesa comunicacional. Trata-se das revoluções midiológicas da gramática de estatização do campo de poderes. Podemos observar a passagem do Estado público universal de Hegel (Taminiaux: 274), do Estado educador de Gramsci e Debray (direção moral e intelectual das massas) para o telestado, isto é, a política humilhada pela técnica. (Debray: 101). Trata-se do homo informacionalis como governabilidade.

Debray resume:
Un État est une longue patience. Il fonctionne au temps long, et droit avoir la force d’attendre. C’est à la fois une morale et une précaution. L’historien a les mêmes.  Or le temps vidéo n’attend pas. C’est un support pressé (le signal magnétique se dégrade). L’État vidéocratique l’est aussi. Il ne peut attendre les historiens – ni souffrir de confier ses secrets aux Archives nationales où, jadis, ils allaint goûter un lent sommeil réparateur, trente au cinquante ans, selon la loi. Pour écrire son histiore, l’État-Polaroïd se fait son propre journaliste”. (Debray: 139).

O Estado sedutor opõe-se radicalmente `anatomia como o destino. Ele cria e recria o fim da era freudiana: “Somente a sedução rompe com a sexualidade distintiva dos corpos e a inelutável economia fálica dela  resultante”. (Baudrillard: 15). A política deixa de funcionar pela atração sexual ou aversão sexual das massas pelo líder. A sedução dos mass media é um processo altamente ritualizado, uma missa rezada todo santo dia pelos jornalistas que são os sacerdotes da modernidade da atualidade:
“A questão da superioridade profunda das lógicas rituais de desafio e de sedução sobre as lógicas econômicas do sexo e da produção permanece inteira”. (Baudrillard: 51).

O marxismo brasileiro trabalha com uma dimensão que suprassume a lógica tout court da sociedade. Trata-se das gramáticas da comunicação. Assim, o Estado-sedutor torna-se um significante gramatical de uma história universal inacabada.


AFFONSO CELSO. Porque me ufano de meu paiz. RJ: Livraria Garnier, 1908
BAUDRILLARD, Jean. Da sedução. Campinas: Papirus, 1991
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. SP: Abril cultural, 1974
BLOCH, Ernest. Le principe esperance. v. 1. Paris: Gallimard, 1976
BUCI-GLUCKSMANN, Christine. Gramsci et l’État. Paris:  Fayard, 1975
DEBRAY, Régis. L’État séducteur. Paris; Gallimard, 1993
FERNANDES, Florestan. Da guerrilha ao socialismo. A revolução cubana. SP: TOA, 1979
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. RJ: Civilização Brasileira, 2015
LACOSTE, Yves (org). Dictionnaire geopolique des Etats. 1996. Paris: Flammarion, 1995
LUKÁCS, Georg. El asalto a la razón. Barcelona: Grijalbo, 1972
LUKÁCS, Georg. Marx y el problema de la decadencia ideológica. Espanha; Siglo XXI, 1986
SUN TZU. L’art de la guerre. Paris; Flammarion, 1972
TAMINIAUX, Jacques. Naissance de la philosophie hégélienne de l’État. Paris: Payot, 1984
       
                
      
  
              
                
  


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