J.osé Paulo
O campo político/estético é dirigido e regulado por uma
plurivocidade de tela gramatical. Um fenômeno do regime constitucional de 1988
é o evangelismo radical neoconservador do americanismo.
O evangelismo radical invade o campo político-88 ao se
constituir como uma cultura política econômica que ergue uma tela gramatical
neoconservadora radical. Como o evangelismo significa dezenas de milhões de
´pessoas [sendo maioria mulheres] é preciso todo cuidado na análise desse
fato/artefato.
O evangelismo é a massa religiosa habitando o campo
político/estético através da soberania popular e rua. O pastor se tornou um
agente da política brasileira que levou ao governo nacional Jair Messias
Bolsonaro e quase o reelegeu, em 2022. O evangelismo é um fenômeno que se
define como negação do campo da esquerda lulista/petista. Lula o derrotou em
outubro de 2022, ao jogar Bolsonaro para a superfície profunda da meia-noite do
campo político/estético-88.
Começo análise pela relação do evangelismo com a Constituição
de 1988. O evangelismo neoconservador
tem uma posição dentro das <quatro linhas> da Constituição?
“VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. (Constituição: 18).
O evangelismo radical aparece como uma religião das classes
populares brancas que estabelecem a guerra civil racial contra as classes
populares pobres negra e mestiça. No campo político religioso/estético, o
evangelismo faz das religiões afro-brasileira um objeto de ataque [inimigo no
território do sagrado], em uma guerra de posição religiosa cujo objetivo é
jogar para a superfície profunda da meia-noite a cultura política econômica
religiosa afro-brasileira.
Qual a relação do evangelismo radical com o direito
penal? já que este é a nova gramática de
inteligibilidade das relações sociais. (Garapon: 14).
“XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar”. (Constituição: 19).
No campo político/estético religioso, o evangelismo radical
aparece como franja paramilitar e, assim passa a fazer parte da guerra civil da
meia-noite no campo político/estético-1988.
2
No campo político neoconservador da América de Tocqueville,
Donald Trump representa o evangelismo radical da guerra civil religiosa. A
guerra civil trumpista é uma vontade de poder de produzir a transformação da
forma de governo. Donald se apresenta como partidário de uma forma de governo
cesarista/tirânica brutalista de um Estado teológico, como no Brasil, Bolsonaro
é o agente de uma forma de governo teológica neogrotesca secundado pelo pastor
Malafaia e Michele Bolsonaro.
Qual a relação do evangelismo neoconservador brasileiro com o
campo da direita liberal radical?
O neoconservador neopentecostal se caracteriza por uma
relação diferente do evangélico tradicional. Este quer conservar a tradição de
costumes e hábitos da moralidade familiar no campo político religioso. O
evangélico radical é um agente de mudança no campo político que usa a tradição
da moralidade familiar como arma religiosa de intervenção na soberania popular.
Ele fala em <teologia do domínio> como concepção política de vida de assalto ao Estado secular. Ele põe e repõe abertamente a vontade de substituir
o Estado brasileiro laico da Constituição de 1988 por um Estado teológico. A
tradição do neoconservadorismo é a política teológica do americanismo
neoconservador.
O evangelismo radical neoconservador é a abolição no campo
político/estético religioso da Constituição-88 - com sua teologia da
prosperidade-, que é a ideia de desintegração do Estado-88:
Capítulo II, Direitos sociais
“Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de
vulnerabilidade social terá direto a uma renda básica familiar, garantida pelo
poder público em programa permanente de transferência de renda, cujas normas e
requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e
orçamentária”. (Constituição: 23). 23
Este parágrafo é o coração da gramática social da
constituição-1988. Contra ele se levanta uníssono o campo ideológico da direita
que se apresenta como uma estrutura de dominação hegemônica na política
nacional, através do Congresso e do poder judiciário.
3
O livro “Para além da esquerda e da direita”, põe o problema
do fim da ideologia no campo político/estético inglês. Ele fala da relação
entre democracia e autoritarismo na década de 1990:
“De repente, todo mundo descobriu a democracia! Uma paixão
pelo governo democrático tem sido há muito tempo a marca registrada das
filosofias políticas liberais, mas o Velho Conservadorismo e o socialismo
revolucionário sempre se mantiveram a distância. No entanto, existe atualmente
algum pensador político que não seja, em um sentido ou outro, um democrata?
(Giddens: 121).
No regime 1988, o poder governamental caiu nas mãos da
esquerda no início dos anos 2000. Assim, a esquerda abandonou a revolução
socialista e se inscreveu na tradição do populismo de esquerda de um João
Goulart e Brizola.
O campo político barroco aparece como uma evolução política
do domínio da esquerda populista até 2013. Em junho de 2013, a revolução
barroca dentro da ordem constitucional passou do real para o campo político da
rua.
A tela gramatical viva da multidão-13 aparece como a
gramática do aprofundamento da democracia lulista. A presidente lulista Dilma
Rousseff entrou em choque traumático com a multidão e passou a tratá-la pela
legislação penal de exceção, jogando a multidão para a superfície profunda da
meia-noite, com a legislação penal antiterrorista. Assim, o lulismo se
desvinculou da necessidade de
desintegrar a estrutura de dominação <capitalismo subdesenvolvido>
(Bandeira da Silveira; 2019), a bandeira principal, invisível, virtual, de
2013. O lulismo decidiu governar com a estrutura de dominação da tela
gramatical subdesenvolvida. Em 2023, Lula e o PT retomam o governo nacional
segundo o modelo ideológico de governar sem nada fazer para mudar o
subdesenvolvimento.
Leo Strauss ensina;
“Para compreender o problema do direito natural, se faz
necessário partir de uma inteligência não <científica> mais
<natural> das coisas políticas, isto é, da maneira como se apresentam na
vida política e nos atos da vida cotidiana, cada vez que se torna necessário
tomar decisões”. (Strauss: 83).
Substituir o logos científico pela razão linguística do campo
político é descer do céu do paradigma científico para a terra da tela
gramatical político/estética de uma conjuntura. Nos encontramos na conjuntura
de junho de 2013, aceite a esquerda esse fato ou não. Esta situação concreta é
da revolução barroca dentro da ordem ou da contrarrevolução da direita:
‘A esquerda clássica governa para o capital e para o pobre.
Em um período, no qual o Estado se encontra sob o domínio do capital fictício,
governar para o pobre e os assalariados se tornou um problema revolucionário. O
governo Temer e o Centrão fizeram a reforma trabalhista contra os
trabalhadores. O governo Bolsonaro fez a reforma da previdência contra os
aposentados e pensionistas. Aí funda-se o campo da direita neobarroca
cibernética”. (Bandeira da Silveira: 2023).
Rigorosamente, se estabelece a região da direita como guerra
civil aberta da meia-noite na superfície profunda do campo político/estético do
<Brasil Profundo>. (Bandeira da Silveira; 2021).
Bem. Lula venceu a última eleição contra Bolsonaro evocando a
revolução barroca a ´partir do governo nacional:
“A história caminhou para uma conjuntura na qual a revolução
barroca dentro da ordem se tornou a revolução barroca contra a gramática do
capitalismo subdesenvolvido brasileiro. A situação concreta é a da transição de
Forças Armadas do capital para aquelas de classe média. A burocracia pública
existe como uma categoria social de classe média. Porém, a ideologia do
exército como exército do capital ou poder moderador é uma sobrevivência de um
fenômeno da ditadura militar no regime-1988”. (Bandeira da Silveira: 2023,
capítulo 37).
4
A república começa com um ersatz de guerra civil de generais ligados
à família real que desintegra a monarquia. Dois governos iniciais da guerra
civil dos generais foram substituídos pelo pode civil oligárquico. De 1910 a
1920, a luta de classe do proletariado manufatureiro habitou o campo
político/estético da República Velha. A luta de classe foi tratada como questão
de polícia. Antes, uma guerra civil popular de Canudos e Contestado foi
esmagada pelo exército da guerra civil dos generais.
Na década de 1920, a classe média pública em armas se
apresenta contra a ordem política da república velha. Em 1930, da oligarquia
estancieira do Sul, Getúlio Vargas foi o condottiere de tropas armadas que destruíram
a democracia representativa da república velha. O capitão do exército brasileiro
Luís Carlos Prestes fez sua própria guerra civil particular com a <Coluna Prestes> do
tenentismo de esquerda.
Em 1932, São Paulo fez sua guerra civil armada contra o
estado de exceção getulista, instalado em 1930. Foram derrotados, mas os
efeitos desse acontecimento político redundaram na democracia de 1934 - criada
por uma Assembleia Nacional Constituinte. Nessa democracia, viveu-se a guerra
civil comunista, em 1935, e despois a guerra civil fascista ou integralista. Getúlio
aproveitou a conjuntura de guerra civil aberta para destruir a democracia-34, a
segunda que ele desintegrou. No lugar da democracia fabricou um Estado totalitário,
em 1937.
Getúlio foi derrubado pelos generais em um ersatz de guerra
civil militar. Na democracia (19436-1964), a guerra civil aparece por insurreições
militares no governo JK. Um ersatz de rebelião dos generais havia derrubado
Getúlio. Na década de 1960, o presidente João Goulart foi derrubado por uma
guerra civil da classe média privada e pública do Rio e São Paulo. Na conjuntura
de 1964-68, a luta de massas provoca um golpe de Estado na forma de governo ditatorial
oligárquico liberal iluminista. No lugar desse governo, entra uma forma de
governo tirânica/cesarista brutalista. A classe média da esquerda moderna da juventude
RJ/SP se choca com a ditadura em uma guerra civil armada - e é aniquilada.
A luta de massas contribui para o fim da ditadura. No lugar desta,
temos a forma de governo democrático liberal moderna de 1988. Após algumas décadas
de governo lulista, Dilma Rousseff foi derruba pela guerra civil branca de
Michael Temer, seu vice-presidente. Depois, um fenômeno judiciário conhecido
como Lava Jato se transformou em uma guerra civil judicial para levar a direita
ao governo via eleição. Como deputado federal, Jair Bolsonaro evocava a guerra
civil suja da meia-noite como solução capaz de acabar com o campo da esquerda com
uma bala de prata. Se tornou presidente da república e fez do Estado nacional um
instrumento político de sua guerra civil suja, que assassinou 300 mil pessoas
na era da covid.
Perdeu a eleição para Lula em 2022, mas sua estratégia de
transformar a eleição em guerra civil lhe rendeu 48% dos votos. Fora do governo
usou a guerra civil para impedir que Lula assumisse o governo legítimo, pois,
pacífico. A guerra civil suja é uma
guerra injusta, a injustiça berrada aos quatro cantos do país. Um Bolsonaro
inelegível para 2026 continua sua guerra civil no campo eleitoral como guerra
de posição ´para tomar de assalto as principais prefeituras em 2024.
A república dos generais se define por ter substituído a luta
de classe pela guerra civil político/civil, público/privada. No fim da época pós-moderna
e no além da época posmoderna (Bandeira da Silveira; 2024), o que será do campo
político/estético-1988?
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Subdesenvolvimento hoje.
Lisboa: Chiado, 2019
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Brasil Profundo. EUA:
amazon, 2021
BANDEIRA DA SILVEIRA,
José Paulo. Crítica da dialética barroca. EUA: amazon, 2023
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna. EUA
amazon, 2024
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SP: EDIPRO, 2022
GARAPO0N E SALAS. La république pénalisée. Paris: Hachette,
1996
GIDDENS, Anthony. Para além da esquerda e da direita. SP:
UNESP, 1996
STRAUSS, Leo. Droit naturel et histoire. Paris: Flammarion,
1954
Nenhum comentário:
Postar um comentário