terça-feira, 26 de março de 2024

Estado mafioso, Colômbia, Rio, Brasil Profundo

 

José Paulo 

 

Um Jornalista da esquerda fala de um Estado mafioso no estado do Rio de Janeiro. Ele é minha fonte primária. O Estado mafioso teria como agente da gramática [que determina a forma de governo fluminense] mafiosa a <cupola> do jogo do bicho. O Jogo do bicho foi o agente real da mudança da forma de governo no Rio, pois a república é federalista: cada estado/província tem a particular [privada] forma de governo. Assim, o jogo do bicho começou a fabricação de uma gramática mafiosa como cópia, adaptado as condições locais, da gramática mafiosa italiana universal.

Com Bolsonaro no governo federal o campo da direita semimorta, moribunda, foi restabelecido pelo fenômeno de massa bolsonarista de um lumpesinato político de classe média mafiosa. 

Especialista na vida das organizações criminosas cariocas, o cientista político heterodoxo Bruno Paez Manso também fala de um Estado mafioso, entre nós.

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A Colômbia se caracterizava pela guerra civil permanente no século XX em um contraponto ao Estado nacional fraco. Tendo como fenômeno central a Igreja moderadora (Roziers: 14), um campo político surgiu na segunda metade do século XX com classes médias modernas urbanas. O antagonismo moderno versus tradicional teve um papel oi9nmportante na guerra civil. Basta lembrar, que a guerrilha conquistou o campesinato e a classe média universitária com o M19. Este chegou a estabelecer um tribunal revolucionário que condenou à morte juízes da Suprema Corte. (Reziers: 15,16). O M19 foi a continuação do estado de guerra civil pelo campo da esquerda.

Uma cultura política, econômica, estética mafiosa emergiu do real do campo político do capitalismo subdesenvolvido. Uma cultura mafiosa da guerra civil por outros meios paramilitares. A região de Antioquia deu origem a primeira máfia da América Latina. (Reziers: 23). A máfia da cocaína colombiana foi um grande impulso para a relação entre economia criminosa e Banco americano. A lavagem do dinheiro narcotráfico foi um fenômeno econômico do <capitalismo criminoso> estudado por S. Platt. (Platt; 2027). Além disso, os EUA combateram Pablo Escobar na guerra civil mafiosa:

“O papel dos serviços americanos na instrumentalização dos Pepes (Perseguidos por Pablo Escobar) resta ainda obscuro (...), mas não é negligenciável. Este verdadeiro <esquadrão da morte> é responsável do assassinato de dezenas de pessoas próximas de Escobar. Certos de seus fundadores presumidos, como Rodolfo Ospina Baraya, antigo colaborador de Escobar, são, segundo fontes diplomáticas colombianas, tornaram-se informantes da DEA. De fato, a CIA conseguiu que narcos colaboram-se, em troca de benefícios do l’US Witness Protection Act A  Bogota; o Tactical Analisis Team da CIA serviu de interface como o <Bloco de Busca>. (Observatoire: 172).

O <bloco de busca> foi uma invenção mafiosa de aliança da Cia com os Pepes. Ele destruiu a máfia de Escobar e o assassinou, pois Pablo não se entregou. A guerra civil mafiosa incluiu uma CIA mafiosa na luta contra Pablo Escobar. O modelo mafioso americano de polícia secreta seria adaptado nas Américas das grandes nações.

O campo político/econômico/estético colombiano era o barroco espanhol do século XVII renascido na América Latina:

“Existe, no início do século, uma cultura internacional, italianizante e hispanizante, que reina nos salões de Paris assim como em Madrid e Roma, em Florença, Mântua ou em Nancy, na Antuérpia ou em Genova. A preponderância espanhola não é uma palavra vã. A pedagogia dos Reverendos Padres fez maravilhas. Uma pesquisa através das Igrejas da França do Sudeste revelaria, por exemplo, o domínio do gosto barroco sobre numerosos ateliers provincianos de escultura de um alto mérito e desconhecidos de Perpignan a Figeac ou Carcassome (...). A influência dos jesuítas é imensa”. (Francastel: 39).

Um general intellect gramatical barroco europeu foi o agente da fundação do campo político barroco do século XVII. Bem! Da Colômbia da cultura política econômica barroca, emerge uma guerra civil barroca no século XX. Esta guerra barroca contemplou o campo da direita paramilitar e da esquerda, essa vinculada com a guerrilha rural e urbana.

A máfia da cocaína surge a partir da demanda da sociedade narcose mundial. (Freud:100).

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O Cartel de Medellín foi a <sociedade do espetáculo> mafiosa em choque traumático como Estado nacional e local. O Cartel de Cali foi a recusa de qualquer e todo confronto com o Estado. Cali é a razão mafiosa latino-americana do homo oeconomicus (Riziers: 279-280) análoga à razão do capitalismo subdesenvolvido. Trata-se de um aprofundamento mafioso da estrutura de dominação do capitalismo subdesenvolvido - que teria seu apogeu no México.

 O campo político mafioso faz a junção da economia criminosa com a economia legal capitalista. Um campo político que faz desaparecer a fronteira entre: público e privado, campo político do indivíduo e campo político da sociedade/Estado por sua estrutura de dominação patrimonialista cesarista. Assim, a forma de governo colombiana aparece como uma forma de governo mafiosa latino-americana tirânica.  Já o Estado colombiano se autofabrica como Estado mafioso tirânico/barroco.

No Brasil, o governo de Bolsonaro foi o criador de uma tela gramatical mafiosa cesarista brutalista no grau zero da estética do <Brasil Profundo>:

“O governo de Bolsonaro não é um raio em um céu azul na política nacional. Ele não é, diretamente, um produto da luta de classes da sociedade formal. Ele não é um efeito da história capitalista formal e legal. Ele é consequência da evolução da economia urbana informal, aberta às ilegalidades, em todo o país, mas, especialmente no Rio de Janeiro”.

“Uma economia urbana carioca informal é a fonte de poder na formação do bando clânico de Bolsonaro. Esta economia é conhecida com nome de “miliciano”. A família de Bolsonaro acumula sua riqueza explorando as técnicas ensinadas pela economia miliciana. Ela usa um modelo mental miliciano para acumular riqueza pública - transformando-a em riqueza familial, riqueza privada”. (Bandeira da Silveira. 2021: cap. 2).

O Brasil Profundo é o motor histórico de produção e movimento da guerra civil do lumpesinato político das classes médias no grau zero da estética, na superfície profunda da escuridão da meia-noite se luz natural ou artificial.             

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No Além da época pósmoderna, o Brasil Profundo é a metamorfose da guerra civil permanente mafiosa do campo da nova direita:

“Como relação social de produção, o capital é mercadoria, capital mercantil, capital comercial, capital industrial, capital fictício etc. As partes ou frações do capital não estão subsumidas a um todo, a um capital que englobe todos os fragmentos de capital. No campo político, as partes do capital lutam para dominar as instituições do Estado, que são pedaços de Estado como governo nacional, parlamento, judiciário que se despedaça em mil partes, governos locais, burocracia pública. O Estado nacional não é uma totalidade. Como a filosofia da identidade opera com totalidade e conceito, ela “explica” a existência e reprodução da sociedade a partir do capital como um todo. Este todo da identidade é como se fosse dominação, coerção, segurança burguesa, e hegemonia sobre o Estado e sociedade. Tal ilusão é um pressuposto do agir dos agentes no campo político”. (Bandeira da Silveira. 2024: cap.26).

Vivemos em uma época cibernética:

“A técnica cibernética faz parte do campo político alterando-o e se apresentando como uma concepção política de mundo cesarista no regime virtualmente democrático de 1988. Do passado, o regime 1988 herdou a oligarquia política patrimonial com sua ideologia de que não existe distinção entre público e o privado na apropriação da mais-valia pública. Também, herdou uma burguesia com uma ideologia econômica de indistinção entre privado capitalista e Estado. Esta ideologia do moderno-tradicional-burguês é articulação do campo político cesarista-burguês no regime-88”.  (Bandeira da Silveira. 2024: cap. 36). Assim, seguimos e falemos da estética política no além da época pós-moderna.

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Roziers tem um capítulo muito interessante sobre a estética política mafiosa colombiana. (Roziers: 280-288). No gosto popular barroco mafioso, a rumba apareceu nos filmes sobre Medellín como o êxtase sexual de Pablo Escobar e amigos, e belas jovens prostitutas. A estética política mafiosa é integrada à cultura nacional popular colombiana.

No Brasil, a estética política mafiosa é carioca. O samba da escola de samba é o símbolo de laço social entre o bicheiro e a multidão popular e de classe média que desfilam na escola de samba do Sambódromo. O populista de esquerda Brizola e seu parceiro Darcy Ribeiro construíram a catedral gótica do samba do jogo do bicho, antes do jogo se transformar em uma máfia carioca.

Como esquecer Caetano, Betania e o deputado Arthur Lira desfilando no Sambódromo. Este foi copiado por inúmeras capitais, fazendo da arquitetura populista do jogo do bicho um monumento nacional ao lado da modernista Brasília.      

O Brasil não conhece o Brasil!

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, josé Paulo. Brasil Profundo. EUA: amazon, 2021

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna. EUA: amazon, 2024

ROZIERS, Philippe Burin des. Cultures mafieuses. L’exemple colombien. Paris: Stock, 1995

FREUD. Obras Completas. O mal-estar na civilização. V. 21. RJ: Imago, 1974

FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa. SP: Perspectiva, 1965

OBSERVATOIRE. État des drogues, drogue des États. Paris: Hachette, 1994      

PLATT, Stephen. Capitalismo criminoso. SP: Cultrix, 2017

    

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