José Paulo
Um Jornalista da esquerda fala de um Estado mafioso no estado
do Rio de Janeiro. Ele é minha fonte primária. O Estado mafioso teria como
agente da gramática [que determina a forma de governo fluminense] mafiosa a <cupola>
do jogo do bicho. O Jogo do bicho foi o agente real da mudança da forma de
governo no Rio, pois a república é federalista: cada estado/província tem a particular
[privada] forma de governo. Assim, o jogo do bicho começou a fabricação de uma
gramática mafiosa como cópia, adaptado as condições locais, da gramática
mafiosa italiana universal.
Com Bolsonaro no governo federal o campo da direita
semimorta, moribunda, foi restabelecido pelo fenômeno de massa bolsonarista de
um lumpesinato político de classe média mafiosa.
Especialista na vida das organizações criminosas cariocas, o
cientista político heterodoxo Bruno Paez Manso também fala de um Estado
mafioso, entre nós.
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A Colômbia se caracterizava pela guerra civil permanente no
século XX em um contraponto ao Estado nacional fraco. Tendo como fenômeno
central a Igreja moderadora (Roziers: 14), um campo político surgiu na segunda
metade do século XX com classes médias modernas urbanas. O antagonismo moderno
versus tradicional teve um papel oi9nmportante na guerra civil. Basta lembrar,
que a guerrilha conquistou o campesinato e a classe média universitária com o
M19. Este chegou a estabelecer um tribunal revolucionário que condenou à morte
juízes da Suprema Corte. (Reziers: 15,16). O M19 foi a continuação do estado de
guerra civil pelo campo da esquerda.
Uma cultura política, econômica, estética mafiosa emergiu do
real do campo político do capitalismo subdesenvolvido. Uma cultura mafiosa da
guerra civil por outros meios paramilitares. A região de Antioquia deu origem a
primeira máfia da América Latina. (Reziers: 23). A máfia da cocaína colombiana
foi um grande impulso para a relação entre economia criminosa e Banco
americano. A lavagem do dinheiro narcotráfico foi um fenômeno econômico do
<capitalismo criminoso> estudado por S. Platt. (Platt; 2027). Além disso,
os EUA combateram Pablo Escobar na guerra civil mafiosa:
“O papel dos serviços americanos na instrumentalização dos
Pepes (Perseguidos por Pablo Escobar) resta ainda obscuro (...), mas não é
negligenciável. Este verdadeiro <esquadrão da morte> é responsável do
assassinato de dezenas de pessoas próximas de Escobar. Certos de seus
fundadores presumidos, como Rodolfo Ospina Baraya, antigo colaborador de
Escobar, são, segundo fontes diplomáticas colombianas, tornaram-se informantes
da DEA. De fato, a CIA conseguiu que narcos colaboram-se, em troca de
benefícios do l’US Witness Protection Act A Bogota; o Tactical Analisis Team da
CIA serviu de interface como o <Bloco de Busca>. (Observatoire: 172).
O <bloco de busca> foi uma invenção mafiosa de aliança
da Cia com os Pepes. Ele destruiu a máfia de Escobar e o assassinou, pois Pablo
não se entregou. A guerra civil mafiosa incluiu uma CIA mafiosa na luta contra
Pablo Escobar. O modelo mafioso americano de polícia secreta seria adaptado nas
Américas das grandes nações.
O campo político/econômico/estético colombiano era o barroco
espanhol do século XVII renascido na América Latina:
“Existe, no início do século, uma cultura internacional,
italianizante e hispanizante, que reina nos salões de Paris assim como em
Madrid e Roma, em Florença, Mântua ou em Nancy, na Antuérpia ou em Genova. A
preponderância espanhola não é uma palavra vã. A pedagogia dos Reverendos
Padres fez maravilhas. Uma pesquisa através das Igrejas da França do Sudeste
revelaria, por exemplo, o domínio do gosto barroco sobre numerosos ateliers
provincianos de escultura de um alto mérito e desconhecidos de Perpignan a Figeac
ou Carcassome (...). A influência dos jesuítas é imensa”. (Francastel: 39).
Um general intellect gramatical barroco europeu foi o agente
da fundação do campo político barroco do século XVII. Bem! Da Colômbia da
cultura política econômica barroca, emerge uma guerra civil barroca no século
XX. Esta guerra barroca contemplou o campo da direita paramilitar e da
esquerda, essa vinculada com a guerrilha rural e urbana.
A máfia da cocaína surge a partir da demanda da sociedade
narcose mundial. (Freud:100).
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O Cartel de Medellín foi a <sociedade do espetáculo>
mafiosa em choque traumático como Estado nacional e local. O Cartel de Cali foi
a recusa de qualquer e todo confronto com o Estado. Cali é a razão mafiosa
latino-americana do homo oeconomicus (Riziers: 279-280) análoga à razão do
capitalismo subdesenvolvido. Trata-se de um aprofundamento mafioso da estrutura
de dominação do capitalismo subdesenvolvido - que teria seu apogeu no México.
O campo político
mafioso faz a junção da economia criminosa com a economia legal capitalista. Um
campo político que faz desaparecer a fronteira entre: público e privado, campo
político do indivíduo e campo político da sociedade/Estado por sua estrutura de
dominação patrimonialista cesarista. Assim, a forma de governo colombiana
aparece como uma forma de governo mafiosa latino-americana tirânica. Já o Estado colombiano se autofabrica como
Estado mafioso tirânico/barroco.
No Brasil, o governo de Bolsonaro foi o criador de uma tela
gramatical mafiosa cesarista brutalista no grau zero da estética do <Brasil
Profundo>:
“O governo de Bolsonaro não é um raio em um céu azul na
política nacional. Ele não é, diretamente, um produto da luta de classes da
sociedade formal. Ele não é um efeito da história capitalista formal e legal.
Ele é consequência da evolução da economia urbana informal, aberta às
ilegalidades, em todo o país, mas, especialmente no Rio de Janeiro”.
“Uma economia urbana carioca informal é a fonte de poder na
formação do bando clânico de Bolsonaro. Esta economia é conhecida com nome de
“miliciano”. A família de Bolsonaro acumula sua riqueza explorando as técnicas
ensinadas pela economia miliciana. Ela usa um modelo mental miliciano para
acumular riqueza pública - transformando-a em riqueza familial, riqueza
privada”. (Bandeira da Silveira. 2021: cap. 2).
O Brasil Profundo é o motor histórico de produção e movimento
da guerra civil do lumpesinato político das classes médias no grau zero da
estética, na superfície profunda da escuridão da meia-noite se luz natural ou
artificial.
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No Além da época pósmoderna, o Brasil Profundo é a metamorfose
da guerra civil permanente mafiosa do campo da nova direita:
“Como relação social de produção, o capital é mercadoria,
capital mercantil, capital comercial, capital industrial, capital fictício etc.
As partes ou frações do capital não estão subsumidas a um todo, a um capital
que englobe todos os fragmentos de capital. No campo político, as partes do
capital lutam para dominar as instituições do Estado, que são pedaços de Estado
como governo nacional, parlamento, judiciário que se despedaça em mil partes,
governos locais, burocracia pública. O Estado nacional não é uma totalidade.
Como a filosofia da identidade opera com totalidade e conceito, ela “explica” a
existência e reprodução da sociedade a partir do capital como um todo. Este todo
da identidade é como se fosse dominação, coerção, segurança burguesa, e hegemonia
sobre o Estado e sociedade. Tal ilusão é um pressuposto do agir dos agentes no
campo político”. (Bandeira da Silveira. 2024: cap.26).
Vivemos em uma época cibernética:
“A técnica cibernética faz parte do campo político
alterando-o e se apresentando como uma concepção política de mundo cesarista no
regime virtualmente democrático de 1988. Do passado, o regime 1988 herdou a
oligarquia política patrimonial com sua ideologia de que não existe distinção
entre público e o privado na apropriação da mais-valia pública. Também, herdou
uma burguesia com uma ideologia econômica de indistinção entre privado
capitalista e Estado. Esta ideologia do moderno-tradicional-burguês é
articulação do campo político cesarista-burguês no regime-88”. (Bandeira da Silveira. 2024: cap. 36). Assim, seguimos
e falemos da estética política no além da época pós-moderna.
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Roziers tem um capítulo muito interessante sobre a estética
política mafiosa colombiana. (Roziers: 280-288). No gosto popular barroco
mafioso, a rumba apareceu nos filmes sobre Medellín como o êxtase sexual
de Pablo Escobar e amigos, e belas jovens prostitutas. A estética política
mafiosa é integrada à cultura nacional popular colombiana.
No Brasil, a estética política mafiosa é carioca. O samba da
escola de samba é o símbolo de laço social entre o bicheiro e a multidão popular
e de classe média que desfilam na escola de samba do Sambódromo. O populista de
esquerda Brizola e seu parceiro Darcy Ribeiro construíram a catedral gótica do
samba do jogo do bicho, antes do jogo se transformar em uma máfia carioca.
Como esquecer Caetano, Betania e o deputado Arthur Lira desfilando
no Sambódromo. Este foi copiado por inúmeras capitais, fazendo da arquitetura
populista do jogo do bicho um monumento nacional ao lado da modernista
Brasília.
O Brasil não conhece o Brasil!
BANDEIRA DA SILVEIRA, josé Paulo. Brasil Profundo. EUA:
amazon, 2021
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna.
EUA: amazon, 2024
ROZIERS, Philippe Burin des. Cultures mafieuses. L’exemple colombien.
Paris: Stock, 1995
FREUD. Obras Completas. O mal-estar na civilização. V. 21.
RJ: Imago, 1974
FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa. SP: Perspectiva,
1965
OBSERVATOIRE. État des drogues, drogue des États. Paris:
Hachette, 1994
PLATT, Stephen. Capitalismo criminoso. SP: Cultrix, 2017
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