segunda-feira, 29 de abril de 2024

Dominação, governo, Estado, tela

José Paulo 

 

 

A sociologia política weberiana fala, sistematicamente, da dominação:

"Segundo a definição já dada, chamamos <dominação> a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas [ou todas] dentro de determinado grupo de pessoas. Não significa, portanto, toda espécie de possibilidade de exercer <poder> ou <influência> sobre outras pessoas. Em cada caso individual, a dominação [<autoridade>] assim definida pode basear-se nos mais diversos motivos de submissão: desde o hábito inconsciente até considerações puramente racionais, referentes a fins. Certo mínimo de vontade de obedecer, isto é, de interesse [externo ou interno] na obediência, faz parte de toda relação autêntica de dominação” (Weber: 170).

Se o leitor observar bem o texto acima, verá que falta algo. O quê?

Marx diz:

“Os homens fazem sua própria história, porém não a fazem como querem; não a fazem sob circunstância de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. (Marx. 1974: 335).

Em Weber falta o cérebro que contém a tradição ou hábitos inconscientes como estrutura de dominação. As regiões do cérebro se constituem como estrutura de dominação desde a Caverna?

Freud fala de aparelho psíquico. Vocábulo que corresponde à época das relações técnicas de produção do mercantilismo do capital europeu. Hoje, tela é o vocábulo que corresponde às relações técnicas de produção do mercantilismo do capital cibernético do celular. A tela gramatical é da época da escrita, da língua como escritura. A tela linguística é uma especificidade de tela gramatical.

O cérebro humano se constitui como plurivocidade de tela gramatical da tela natural à tela cultural. Para existir a cultura precisa se encontrar no cérebro. A tradição é tela gramatical da civilização rural; a tela gramatical ideológica é da civilização urbana e rural. Na tela moderna, fenômenos distintos na história universal aparecem como formas ideológicas:

“as formas jurídica, política, religiosa, artística ou filosófica, em resumo , as formas ideológicas [...].

Bem! As formas ideológicas necessitam ser postas no cérebro dos vivos para existir como a tradição. No caso da forma ideológica, o agente que põe e repõe ela no cérebro é a instituição. O que é a instituição?

“Na terminologia indicada [...] os <signos> implícitos em <significação> não devem ser equiparados à <símbolos>. Muitos autores tratam os dois termos como equivalentes, mas eu considero os símbolos, interpolados em ordens simbólicas, como uma dimensão principal do <agrupamento> de instituições. Os símbolos coagulam os <excedentes de significado> implícitos no caráter polivalente dos signos; eles unem aquelas interseções de códigos que são especialmente ricas em diversas formas de associação de significados, operando ao longo dos eixos da metáfora e da metonímia. As ordens simbólicas e os modos de discurso associados são um importante locus institucional da ideologia”. (Giddens. ‘1989: 26).

A instituição é um fenômeno do campo simbólico ao lado de: signo, símbolo, imagem, alegoria, fantasia, ideologia, cultura, tela. O campo simbólico une o campo político do indivíduo ao campo político da sociedade. Sair da caverna de Platão é mergulhar na cultura via educação. (Platon: 1101).

O que é a alegoria da Caverna?

A instituição faz pendant com constituição, que provém do verbo constituere: instituir, fundar”. (Sartori:13). Instituir qual fenômeno? Na civilização grega é instituir uma forma de governo. A forma de governo é sempre uma tela gramatical em um campo político civilizado?

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EM Platão, A alegoria da caverna faz par com a alegoria do Sol. Uma leitura diz que: “A caverna corresponde ao mundo do visível e o Sol é o fogo cuja luz se projeta dentro dela”. (Jaeger: 607). Platão diz que tem um fogo que ilumina a caverna. (Platon: 1102). Como os habitantes da caverna estão imobilizados de frente para a parede da caverna no fundo dela, não há como ter um fogo criado e mantido por eles. Portanto, o fogo só pode ser a luz do Sol? Tal imagem é importante, pois, se trata de um Sol como se fosse um fogo de lenha que permite o VER dos moradores da caverna?

A questão decisiva é o ver. O ver depende de luz natural. Assim Platão fala do homem culto e do inculto. Um é o homem da paideia ou outro no qual não existe Paidéia: homem ignorante e homem sem educação, homem comum e homem culto. (Platon: 1101).

A caverna é a alegoria de qual estado? Do homem desprovido do pressuposto saber da Paidéia. Trata-se de uma situação na qual o ver é aquele de ver sombras nas paredes como simulacros de gente e coisa que caminham na porta da caverna. (Platon: 1103). Eles veem a cópia das coisas na parede e não o original fora da caverna. A alegoria fala de um visível dos simulacros de um saber de simulação da percepção de simulacros. A alegoria da caverna é a do homem comum?   

Parece que a alegoria da caverna fala de uma estrutura de dominação de simulacro natural, fundado sobre a imagem, a imitação do ver, do que faz ver no reino da necessidade sem a Luz direta do Sol etc. (Baudrillard:177)):

“o conceito de esperança é aqui usado com especial referência à expectativa que o iniciado nos mistérios experimenta em relação ao além. A ideia da passagem do terreno à outra vida é aqui transferida para a passagem da alma do reino do visível ao reino do invisível. O conhecimento do verdadeiro Ser representa ainda a passagem do temporal ao eterno. A última coisa que na região do conhecimento puro a alma aprende a ver, <com esforço>, é a ideia do Bem. Mas, uma vez, que aprende a vê-la, tem necessariamente de chegar à conclusão de que esta ideia é a causa de tudo o que no mundo existe de belo e de justo, e de que forçosamente deve tê-la contemplado quem quiser agir racionalmente na vida privada e pública”. (Jaeger: 607).

O Sol é a alegoria da luz direta que cria as condições de possibilidade de ver a ideia de Bem e a série de ideias ligadas a ela como belo e justo. A alegoria do Sol remete para uma estrutura de dominação da Paidéia em contraposição ao homem da sensibilidade, do afeto, da afecção. O que se encontra no cérebro do homem educado é a Paidéia como estrutura de dominação/hegemonikon ou eu político de uma tela gramatical da cultura em contraposição à gramática natural do homem da caverna. Mesmo para ver o simulacro é necessário a gramática natural do cérebro, o signo virtual. Para ver as coisas reais é necessário um campo de conhecimento da estrutura de dominação do Sol em si. (Peirce: 48).

O que permite ver O Bem, o belo e o justo é a tela gramatical da forma de governo <normal>: monarquia, aristocracia, politeia. (Wolff: 110). A forma de governo heteróclita é sgrammaticatura (Gramsci: 2341, sem tela gramatical já que essa é uma Constituição, tela gramatical cultural que funda uma forma de governo normal. A forma de governo normal existe em um campo simbólico político com hegemonikon. O que é o campo simbólico?

O campo simbólico da forma de governo normal é aquele de uma Paidéia como cultura política, jurídica, estética ao qual o homem comum não tem acesso. A cultura é o Sol que ilumina a realidade de agentes e coisas; a política se rege pela ideia da verdade; o direito ´pela ideia de justo e a estética pelo belo. O ver a forma de governo exige um campo de conhecimento da Coisa em si, exige a Paidéia como estrutura de dominação do homem educado. A democracia constitucional depende da Paideia como estrutura de dominação com hegemonikon. Hoje, a instituição escola institui o homem comum em um conhecimento iniciático para ver a forma de governo pela realidade virtual do Bem?

Se a forma de governo normal, encontra-se na superfície solar do campo político, a forma de governo heteróclita encontra-se na superfície profunda da caverna sem a luz direta do Sol. É a superfície profunda da escuridão iluminada por um fogo mitológico do campo diabólico. (Godin: 732).     

Tela poética, tela analógica, tela alegórica são constitutivas do campo simbólico da política:

“Desde Pythagore e Platon, a analogia é um meio eficaz para se invadir a totalidade ao encontro do pensamento. Estabelece-se uma relação essencial entre os fenômenos distantes em aparência, a analogia permite englobar nas suas fórmulas (pequenas formas) o cosmo inteiro”. (Godin: 790).

A tela analógica é o telos que ordena o caos no pressuposto saber, aí entra o campo simbólico:

“Os signos da língua são totalmente arbitrários, ao passo, que em certas demonstrações de ´polidez (...) perderão esse caráter arbitrário para se aproximarem do símbolo [...]. A natureza do símbolo consiste em nunca ser completamente arbitrária; o símbolo não é vazio. Existem elementos de laço entre ideia e signo, no símbolo. A Balança símbolo de justiça”. (Todorov: 367).

O campo simbólico da política tem signo [espaço da arbitrariedade] e símbolo ou espaço da do laço social entre signo e ideia. O símbolo põe e repõe o signo na forma ideológica da cultura política, jurídica, estética;

“A comparação do Sol e da caverna, agrupada numa unidade, como vimos pela proporção matemática das quatros gradações do Ser, representam uma só encarnação simbólica da essência da Paidéia. Alegorias desse tipo nós encontramos em todas as exposições da filosofia antiga, onde são reproduzidas como símbolos impressionantes da ideologia platônica”. (Jaeger: 608).

A pós-modernidade cancelou a modernidade e jogou Hegel na lata de lixo da história do pensamento mundial. Com o tempo do pós-posmoderno, Hegel pode ser retomado como parte de uma tela gramatical mais moderna do que o moderno da época moderna de 1500, das grandes navegações. A tela da alegoria é restaurada, mas não in totó:

“Começa ela por personificar e conceber como sujeitos, generalidades ou propriedades gerais e abstratas, que tanto podem pertencer ao mundo humano como ao mundo natural: religião, amor, justiça, stásis, glória, guerra, Primavera, Verão, Outono, Inverno, morte etc. Mas nem pelo conteúdo nem pela forma, esta subjectividade chega a ser enquanto tal, um sujeito ou um indivíduo, e sempre permanece a abstração de uma representação geral que só adquire, da subjetividade, a forma vazia. Poder-se-ia chamar-lhe o sujeito gramatical”. (Hegel.1993: 226).

Há a tela gramatical alegórica no campo simbólico político da antiguidade. Com a tela cibernética surge paródia vulgar de fenômeno alegórico no campo infrapolítico pós-moderno?

Segue Hegel:

“um ente alegórico, apesar da sua figura e forma humana, nada tem da individualidade concreta de um deus grego, de um santo ou de qualquer sujeito real pois, para tornar a subjectividade mais ou menos conforme à sua significação abstrata, tem de a esvaziar até que desapareça dela todo o sinal de individualidade. Por este motivo se acusa a alegoria de ser fria e vazia também, dado que a sua significação não passa de um produto abstrato do intelecto, de ser, do ponto de vista da invenção, mais uma criação do intelecto do que da intuição concreta e da profunda fantasia. Poetas como Virgílio, por exemplo, limitam-se à criação de seres alegóricos porque não são capazes de imaginar deuses individuais, com os de Homero”. (Hegel. 1993: 226).

 A existência da alegoria desvinculada da fantasia e da intuição tem a ver com determinada época das relações técnicas de produção? Marx fala da estrutura das relações entre as relações técnicas de produção e obra de arte.  Ele pontua a relação entre a obra de arte da antiguidade grega com Shakespeare, que parece criar a obra de arte da época moderna de 1500. (marx. 1974: 130-131).

As relações técnicas da antiguidade fazem pendant com a obra de arte que tem como seu solo a fantasia dos poetas arcaicos e festas dionisíacas. O nosso problema é a relação da obra de arte de Virgílio.com as relações técnicas de produção de Roma:

“Para Hegel, a arte romana é a decadência da arte grega”.  (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 12).

No entanto:

“A gramática do poder romano faz da articulação da hegemonia um fenômeno cosmopolita e mundial”. (Bandeira da Silveira. 2022a: cap. 12).  

A autonomia relativa da obra de Virgílio em relação à estrutura das relações técnicas de produção escravagistas e em relação à mitologia da antiguidade aparece como tela alegórica fria e vazia de individualidade de significações concretas, sem o recurso à fantasia do poeta [como em Shakespeare] ou à gramática da intuição de práticas barrocas de festa dionisíaca.  

Virgílio é da época da cesarismo como forma de governo virtual e atual. Sua tela poética/alegórica se define pela relação de sua obra com a forma de governo cesarista do cosmopolitismo romano mundial. Ela não é a expressão de uma cultura política estética, nacional romana. Então, alegoria parece como forma poética vazia de conteúdo nacional. Ao invés da relação da obra poética com as relações técnicas de produção econômica, a obra de arte é um efeito das relações técnicas políticas de produção e reprodução do cosmopolitismo mundial da forma de governo cesarista: Império de Roma.            

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Vejamos a ciência política literária materialista dos jogos de gramática do Bem e do mal. Ela opera com a economia pública da cultura política, jurídica, estética:

“O Estado lacaniano barroco é outro fenômeno da tela gramatical narrativa do mercantilismo do capital barroco. Ele administra a mais-valia pública”. (Bandeira da Silveira. 2023: cap.3).

 O Estado lacaniano é um ente da ciência política literária lacaniana. Ele é o uso da mais-valia pública ou Mehrlust (Lacan. S. 16: 30,29) pelo aparelho de Estado e pelos agentes políticos e grupos da sociedade. O uso da mais-valia pública pode ser público ou/e privado. O essencial, é se o uso visa o Bem comum ou é apropriado pelo capital e grupos parasitas do aparelho de Estado. O mal é esse uso de privatização patrimonialista da mais-valia pública estabelecendo um choque entre o Estado lacaniano e o Estado patrimonialista pós-moderno.

Os países subdesenvolvidos têm no choque supracitado a criação e recriação do campo simbólico político. A subjetividade política da esquerda consiste em procurar [na relação de força vigente] usar   a mais-valia pública como um Bem público. A subjetividade da direita é o mal uso da mais-valia pública, seja para a reprodução simples do capital subdesenvolvido, seja para alimentar o parasitismo de camadas privilegiadas da burocracia pública patrimonialista. As maiorias eventuais ou pontuais do parlamento decidem sobre o uso para o Bem comum ou para o Mal da mais-valia pública. A Suprema Corte também decide sobre o Bem e o Mal na economia pública da mais-valia pública. A gramática econômica do Bem comum constitui o campo simbólico da política/estética/jurídica. A sgrammaticatura do Mal do Estado pós-moderno põe e repõe o país no campo diabólico da infrapolítica. Sobre a esquerda, mais ainda:

“Ao desenvolver a região da esquerda no campo da psicanálise, Lacan fez de Marx um dos marxistas barrocos ao lado de Lenine e Bukharin? (Bandeira da Silveira. 2024: cap. 3).

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No Brasil, o Estado lacaniano é um fenômeno específico da tela barroca latino-americana. Em sua origem brasileira, ele converte o mal (mais-valia privada) em bem público pela história de seus efeitos. A obra do Aleijadinho é um dos efeitos da tela barroca do mal privado. Em Nietzsche, há os jogos de gramática no qual o bem pode emergir do mal. (Nietzsche: 22). No ciclo do ouro em Minas Gerais:

“A estrutura social é bastante simples. A nobreza é importante em número, mas não pelo papel que lhe é atribuído, pois, constitui-se de militares de carreira ou de funcionários, a maior parte vindos do Reino e estranhos à essência da vida da colônia. A classe dirigente é formada pelos senhores de lavra ou concessionários das minas que possuem e produzem a riqueza; os empresários, comerciantes, trabalhadores são homens livres, entre os quais figuram pessoas de cor”. (Bazin: 72).

Observe leitor que no Brasil colonial não há mulher no campo político da exploração do ouro. A fêmea não existe na tela barroca mineira. Segue:

“A população é, então, composta de uma parte de brancos, em número maior que em outros lugares, e que contribuem para provocar, na província, um espírito de emancipação intelectual; de outra parte, por uma massa de homens de cor, livres, orgulhosos, e cônscios de seus direitos, e que influem na mentalidade geral. Tornada sensível pelo choque de sangues, a alma desses mestiços está sujeito aos impulsos os mais contraditórios. De temperamento apaixonado, são levados à fantasia, à sensualidade e a um misticismo grosseiro, alimentado pela superstição. Isso tudo contribui para a <atmosfera barroca> de minas Gerais no século XVIII – os negros e os mestiços não eram os últimos a animarem as ruas com espetáculos que, entre eles, tomavam uma forma particularmente estrepitosa e colorida”. (Bazin: 72).

A fêmea [de feminino] inexiste, seja na realidade coletiva, seja na realidade molecular dos campos do ouro. Ela é o mal/visto molecular? ela dá azar coletivamente?

 Recorrendo à mitologia, Jung diz:

“Se, partindo do ponto de vista a que chegamos, observamos a elaboração inconsciente do problema de SPITTELER, a nossa atenção será imediatamente atraída para o fato de que o pacto como o mal não obedece ao desígnio de Prometeu, mas à inadvertência de Epitemeu, possuidor apenas de uma consciência coletiva, porém destituído de qualquer faculdade diferenciadora para as coisas do mundo exterior, pondo à margem, portanto, o que é novo e singular”. (Jung: 229).

Como o mal na prática política coletiva, o mesmo, isto é, a compulsão à repetição no campo político aparece como subjetividade tirânica que unifica todas as classes socias da tela pós-moderna. Ao novo e singular do pós-posmoderno, a subjetividade do Estado pós-moderno patrimonialista faz a <guerra civil artes marciais com mãos e pés>: sem sangue. Aqui no Brasil, tentou-se passar à guerra civil capa e espada com sangue, essa como símbolo da guerra civil com armas de fogo e banho de sangue molecular e coletivo. Disse Jair Messias Bolsonaro: ”vou assassinar 30 mil esquerdista”                                                                                            

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Um problema heteróclito é a estrutura de dominação ideológica do Estado pós-moderno policial na época pós-posmoderna. No campo infra-ideológico pós-moderno, o saber do Bem é excluído como estrutura de dominação ideológica. um saber que não tem inscrição nas esferas da técnica e da política. (Gadamer: 113). Há uma autonomia absoluta entre a estrutura de dominação ideológica da técnica [e da política] e a gramática do Bem comum. Ora, a ideia de Bem é a ideia da tela gramatical narrativa em geral (Gademar:114). Daí a tela pós-moderna ser sgrammaticatura, uma tela <anarcoempirista>, que usa a guerra civil como modo de fazer a infrapolítica. A guerra civil artes marciais com as mãos e os pés (sem sangue) prepara a transição para a guerra civil capa e espada, inclusive, com banho de sangue civil coletivo.

A tela gramatical do Bem é chôrismos, ou seja, <separação> dela da esfera das práticas: técnica, política, econômica. (Gadamer: 114). O Bem é vinculado à tela gramatical cultural milenar ocidental. A técnica é exterior ao Bem, ela se torna uma estrutura de dominação ideológica com o capitalismo inglês do século XIX. (Spengler: 46). A tela cultural era o suporte da elite culta, isto é, elite útil culturalmente para a prática política e para a economia com o fenômeno do general intellect gramatical. (Bandeira da Silveira; 2022b) Com a época da técnica industrial moderna, a ideia de elite cultural perde a força de direito, deixa de estar ancorada no campo político moderno industrial europeu. 

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O Estado pós-moderno cria e recria o campo diabólico e o Estado moderno novo cria e recria o campo simbólico. Donald Trump e quejandos latino-americano aprecem como alegoria do diabo. Ainda não apareceu o anjo barroco como o Principe do novo moderno. O campo diabólico foi poetizado pelo moderno romantismo alemão:    

 “Mefistófeles  - Sou parcela do Além,

Força que cria o mal e também faz o bem!

(...)

Mefistófeles – Eu sou aquele gênio que nega e destrói!

E o faço com razão; a obra da Criação

Caminha com vagar para destruição.

Seria bem melhor se nada fosse criado.

Por isso, tudo aquilo a que chamas pecado,

Ou também <destruição>, ou simplesmente <o mal>

Constitui meu elemento eleito e natural”. (Goethe: 59-60).

Tal formulação do mal já é a sgrammaticatura anarcoempirista do campo diabólico do Estado posmoderno. Como Lula ensaia a criação e recriação do novo moderno como Estado nacional que procura a estrutura de dominação ideológica do Bem comum , ele é rechaçado imediatamente pela subjetividade hegemônica brutalista da estrutura de dominação pós-moderna.

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical, ensaios. EUA: amazon, 2022a

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Gramática do general intelect. EUA: amazon, 2022b

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Revolução barroca dentro da ordem. EUA: amazon, 2023

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna

BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée,1981

BAZIN, Germain. O Aleijadinho. RJ: Record, 1971

EAGLETON, Terry. Ideologia. SP: UNESP, 1997

GADAMER, Hans-Georg. L’idée du Bien comme enjeu platônico-aristotélicien. Le savoir pratique. Paris: J.Vrin, k1994

GIDDENS, Anthony. A constituição da sociedade. SP: Martins Fontes, 1989

GODIN, Christian. La totalité. V. 1. Paris: Champ Vallon, 1998

GOETHE. Fausto e Werther. SP: Nova Cultural, 2002

GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. V. 3. Torino: Einaudi, 1977

HEGEL. Estética. Lisboa: Guimarães, 1993\

JAEGER, Werner. Paidéia. Brasília: UNB, 1986

JUNG, C. G. Tipos psicológicos. RJ: Zahar, 1974

LACAN, Jacques. O Seminário. livro 16. De um Outro o outro. RJ: Zahar, 2008

MARX. Os Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974

NESCHKE-HENTSCHKE, Ada. Platonisme politique et théorie du droit naturel. V. 1.Paris: Peeters, 1995

NIETZSCHE. Par-delà bien et mal. Paris: Galllimard, 1971

PEIRCE, Charles S. Semiótica. SP: Perspectiva, 2000

PLATON. Oeuvres Complètes. V. 1. La République. Paris: Gallimard, 1950

SARTORI, Giovanni. Elementos de teoría política. Madrid: Alianza Editorial, 1992

SPENGLER, Oswald. L’homme et la technique. Paris: Gallimard, 1958

WEBER, Max. Economía y sociedad. México: FCE, 1984

WOLFF, Francis. Aristóteles e a política. SP: Discurso Editorial, 1999   

TODOROV, Tzvetan. Teorias do símbolo. Campinas: Papiros,L1996           

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