José Paulo
REVOLUÇÕES: POLÍTICA E IMPOLÍTICA
Para os leitores que ainda não se atinaram com a coisa as publicações nesses blog não são publicações de textos acadêmicos ou universitários. São somente gramaticalização científicas em narrativa lógica do inconsciente do discurso do político do maître na história da cultura da política universal.
I
Marx e Tocqueville expõe duas
concepções de revolução moderna antagônicas?
A revolução em Marx em longa
duração é a revolução econômica capitalista que se transforma em revolução ideológica
gramatical como força prática as revoluções políticas. É o caso da Revolução
Francesa.
Em Tocqueville, a Revolução
Francesa como efeito da longa duração é uma longa duração da sociologia
historial da política nacional democrática. Trata-se da necessidade da
revolução democrática contra as velhas instituições podres e inúteis para a
manutenção da Ordem Sociológica no Ancien Régime.
O Velho regime é a transformação
da política em impolítica, sendo este fenômeno a causa da necessidade da revolução
democrática. Necessidade de substituir as antigas instituições carcomidas e
inúteis para manter a Ordem na sociedade francesa. Foi uma catástrofe
inevitável pois os ricos (aristocracia e burguesia), pois, eles não tinham como
chegar a acordos e a um pacto para a mudança natural da soberania na cultura da
política da sociedade aristocrática para a sociedade democrática.
Toc nos permite pensar a
revolução francesa como revolução permanente nacional moderna no campo das
relações entre países, nações e impérios na Europa. A revolução com Napoleão
torna-se uma força prática burocrática
(Kraft der Praxis, die bürokratischen)
que Marx registra no 18 Brumário:
“Torna-se imediatamente óbvio que
um pais como a França, onde o Poder Executivo controla um exército de
funcionário que conta mais de meio milhão de indivíduos e, portanto, mantém uma
imensa massa de interesses e de existências na mais absoluta dependência; onde
o Estado enfeixa, controla regula superintende e mantém sob sua tutela a
sociedade civil, desde suas mais amplas manifestações de vida até suas
vibrações mais insignificantes, desde suas formas gerais de comportamento até a
vida privada dos indivíduos”. (Marx. 1974: 363).
Tanto Marx como Toc. nos fazem
ver a Revolução francesa não como revolução homo
clausus local, ou nacional, mas como uma revolução articulada ao campo de
poder kantiano europeu. A França da revolução democrática nacional moderna quer
fundar um campo de poder mundial kantiano para a emancipação da humanidade,
pois tratava-se de fundar a política moderna para tomar o lugar da impolítica
tirânica do antigo regime aristocrático:
“desde o início de nossa
história, tem determinado a própria existência da política, a causa da
liberdade contra a tirania”. (Arendt: 9).
Hannah faz uma teoria geral da
contrafação entre IMPOLÍTICA (ou polis da tirania ou da polis oligarquia) e a
política tout court como política
girando no eixo da liberdade. O ponto forte da Revolução bolchevique era a
ideologia gramatical de luta em diversas formas de stásis (e depois guerra ou
pólemos) contra o Ancien Régime tzarista, luta pela liberdade em vários graus.
Tal fato aparece claramente na
brochura O Estado e a revolução que é uma promessa de Lenin de uma era de
liberdade na Rússia jamais vista no planeta inclusive na América, pátria de uma
revolução na qual a liberdade é a fonte de uma ideologia gramatical até hoje
povoando os sonhos americanos, pois, nem Donald Trump pode fazer desaparecer
tal ideologia gramatical revolucionária da liberdade.
A Revolução francesa é a produção
de uma NARRATIVA nacional democrática da modernidade como forma de articulação
da hegemonia do campo de poder mundial na passagem de um campo hobbesiano para
um campo kantiano liberal. O essencial da revolução francesa não é o fato como
cem si inexplicável, mas a narrativa produzida posteriormente sobre o fato
transformando-o em artefato narrativo da liberdade, portanto, da política. A
política kantiana exige um campo de poder procedural público:
“Já como sábio, ao contrário, que
por meio de suas obras fala para o verdadeiro público, isto é, o mundo, o
sacerdote, no uso público de sua razão,
goza de ilimitada liberdade de fazer de sua própria razão e de falar em seu
próprio nome. Pois o fato de os tutores do povo (nas coisas espirituais)
deverem ser eles próprios menores constitui um absurdo que dá em resultado a
perpetuação de absurdos”. (Kant: 108).
Estes absurdos são parte da
máquina de guerra psicótica delirante da cultura sacerdotal do tutor espiritual
do povo! Em Kant, o espaço público procedural do uso público livre da razão é a
gramaticalização do inconsciente do discurso do político do sacerdote. Daí aos ataques à teologia e à metafísica
como máquinas de produção de ideologias psicóticas delirantes é um pequeno
salto:
“Mas, enquanto sábio, tem
completa liberdade, e até mesmo o dever, de dar conhecimento ao público de
todas as suas ideias, cuidadosamente examinadas e bem-intencionadas, sobre o
que há de errôneo naquele credo, e expor suas propostas no sentido de melhor
instituição da essência da religião e da Igreja” (Kant: 106), ou seja, do poder
impolítico dominante como ideologia gramatical de toda uma época.
II
A narrativa depois da revolução é
um contraponto entre o uso público da razão e o uso privado da razão:
“O sacerdote proclama: não
raciocineis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis aqui por toda parte a
limitação da liberdade” fazendo pendant com a impolítica. “Que limitação,
porém, impede o esclarecimento [˂Aufklãrung>]? Qual não o impede, e até
mesmo o favorece? Respondo: o uso público
de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode realizar o esclarecimento [˂Aufklãrung>]
entre os homens. O uso privado da razão pode, porém, muitas
vezes ser muito estritamente limitado, sem, contudo, por isso impedir
notavelmente o progresso do esclarecimento [˂Aufklãrung>]. Entendo, contudo,
sob o nome de uso público de sua própria razão aquele que qualquer homem,
enquanto SÁBIO, faz dela diante do grande público do mundo letrado”. (Kant: 104).
A antítese razão versus loucura
em Kant é da cultura da política médica das grandes figuras da loucura do
século XVIII (Foucault: 251), sendo a demência a com mais efeito de realidade
na sociedade médica a qual Freud associa o Dr. Schreber:
“Sob nomes diversos, mas que
abrangem quase todos o mesmo domínio – dementia,
amentia, fatuitas, stupiditas, morosis -, a demência é reconhecida pela
maioria dos médicos dos séculos XVII e XVIII. Reconhecida e facilmente isolada
entre as outras espécies mórbidas, mas não definida em seu conteúdo positivo
concreto. Ao longo desses dois séculos ela persiste no elemento do negativo,
sempre impedida de adquirir uma figura característica. Num certo sentido, a
demência é, dentre todas as doenças do espírito, a que permanece mais próxima
da loucura. Mas da loucura em geral, da loucura experimentada em tudo o que
pode ter de negativo: desordem, decomposição do pensamento, erro, ilusão,
não-razão e não-verdade”. (Foucault: 252).
Se a política da serpente e pomba
é expressão da racionalidade da ordem do discurso da lei da sociedade política,
a sociedade da demência é a impolítica como desordem enquanto falta de
incivilidade, decomposição das ideias políticas práticas e do pensamento
político abstrato, erro o mais grosseiro, ilusão delirantemente psicótica, no
máximo a racionalidade estreita do interesse econômico homo clausus e, finalmente, a ausência total da verdade e/ou do
verdadeiro na cultura da impolítica. Acompanhando a incultura da política do
simulacro de simulação falta completa de valores próprio da política da
serpente astuciosa, pois, não limitada pela moral da justiça da pomba
(Sócrates).
KANT: POLÍTICA E IMPOLÍTICA
Aliás, pode até parecer
pernóstico, pedante e elitista a ideia em tela kantiana. No entanto, ela faz
pendant com a construção da narrativa da revolução após a revolução que assim
se transforma em uma ideologia força prática gramatical invadindo e sendo
absorvida pelo real da realidade ou mundo.
O papel do intelectual, ou seja,
da classe governante (classe simbólica + classe política) é muito claro na
revolução liberal kantiana. Ela deve se articular como moral e política:
“A política diz: ‘sede astutos como as serpentes’. A moral acrescenta (como condição
limitante): ‘e sem maldade, como as
pombas’. Quando estas duas coisas não podem coexistir em um mesmo
mandamento, há realmente um conflito entre a política e a moral; mas se ambas
devem ser inteiramente unidas, o conceito contrário é absurdo e a questão de
saber como resolver aquele conflito não se apresenta mais como problema”.
(Kant: 130):
A articulação da política
serpente como tal é a impolítica; e a articulação do limite da política
serpente pela moral pomba, aí, encontra-se a política liberal. A política como
tal kantiana é o avesso da impolítica serpente kantiana
Como fazer a revolução perdurara
pela narrativa republicana liberal (se pp 114):
“Um Estado pode também já governar-se em forma de república,
embora ainda possua de acordo com a constituição vigente, uma autoridade
soberana despótica, até que o povo progressivamente se torne capaz de sofrer a
influência da pura ideia da autoridade da lei (do mesmo modo como se a lei
possuísse uma força física) e, por conseguinte, se encontre apto a dar a si mesmo
uma legislação própria (fundada originalmente no direito”. Se também pela
violência de uma revolução produzida
por uma má constituição fosse conquistada, de maneira ilegítima, uma
constituição mais de acordo com a lei, não deveria, também, entretanto ser
considerado permitido reconduzir o povo novamente à constituição anterior,
embora durante a primeira qualquer indivíduo que tenha tomado parte dela,
violenta ou astuciosamente, deva ser submetido com razão aos castigos dos
rebeldes”. (Kant: 136).
A lei como força prática ideológica gramatical
liberal faz pendant com o espaço procedural público:
“A liberdade de pensar opõe-se em primeiro lugar a coação civil. Sem dúvida ouve-se dizer: a liberdade de falar ou de escrever pode nos ser tirada por um poder superior, mas não a
liberdade de pensar. Mas quanto e com
que correção poderíamos nós pensar,
se por assim dizer não pensássemos em conjunto com os outros, a quem comunicamos nossos pensamentos, enquanto
eles comunicam a nós os deles! Portanto, podemos com razão dizer que este poder
exterior que retira dos homens a liberdade de comunicar publicamente seus pensamentos rouba-lhes também a
liberdade de pensar, o único tesouro
que ainda nos resta apesar de todas as cargas civis, e graças ao qual
unicamente pode ainda ser produzido um remédio contra todos os males da
situação”. (Kant: 93-94).
No entanto, a narrativa da
liberdade (da política moderna liberal) é objeto de todo tipo de obstrução:
“Mesmo quando os conceitos da razão só querem
fundar uma obrigação legal apenas e de acordo com os princípios da liberdade,
pela qual unicamente é possível uma constituição do Estado válida de direito”.
(Kant: 138).
Tal fenômeno em tela é a saída da
minoridade de uma espécie de servidão voluntária ao discurso do político do maître contra o qual o Esclarecimento luta sem descanso:
“Esclarecimento [˂Aufklãrung>]
é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a
direção de outro indivíduo. O homem é
o próprio culpado dessa menoridade se
a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão
e coragem de servir-se de si mesmo
sem a direção de outrem. Sapere aude!
Tem coragem de fazer uso de teu próprio
entendimento, tal é o lema do esclarecimento [˂Aufklãrung>].
III
Como o esclarecimento e o espaço procedural de
comunicação pública entre os homens, o homem que sai de sua minoridade na era
moderna saí como classe simbólica que surge contra a vigilância e a repressão:
“ à luz da história subsequente do trabalho da polícia ideológica”. (Darnton.
1986: 193). Onde houver classe simbólica em maioridade haverá polícia
ideológica para desarticular o trabalho daquela pela república liberal como tal
moderna.
A classe simbólica em maioridade
é a possibilidade do discurso do político do liberal que desossa o delírio
psicótico e seus absurdos sobrea política e na articulação da política da
serpente:
“Já como sábio, ao contrário, que
por meio de obras fala para o verdadeiro público, isto é, o mundo, o sacerdote,
no uso público de sua razão, goza de
ilimitada liberdade de fazer uso de sua própria razão e de falar em seu próprio
nome. Pois o fato de os tutores do povo (nas coisas espirituais) deverem ser
eles próprios menores constitui um absurdo que dá em resultado a perpetuação
dos absurdos”. (Kant: 108).
Uma classe simbólica gramatical
minoritária, conscientemente, por covardia ou preguiça, como tutora das massas
gramaticais é a causa mais certa da difusão do delírio psicótico como fantasia
de articulação do cotidiano da política da serpente.
No Brasil, a impolítica do modo
de produção da cultura da política do coronel do sertão de Guimarães Rosa crê
que o alvo da polícia ideológica deva ser o sacerdote
digitalis.
A diferença entre a política e a
impolítica está no vínculo da política com a moral e a ideia de direito como
fonte territorial da subjetividade do território gramatical da liberdade:
“A verdadeira política, portanto,
não pode dar um passo sem antecipadamente ter prestado homenagem à moral (da pomba socrática), e embora a
política em si mesma seja uma arte difícil, a união dela com a moral não
constitui uma arte, pois a última corta o nó górdio que a política não consegue
desatar, quando ambas entram em conflito uma com a outra. O direito do homem
deve ser considerado sagrado, por maiores que sejam os sacrifícios que custem
ao poder dominante”. (Kant: 152).
A moral da pomba na política da
serpente é a ideia de moral fazendo pendant com a ideia de justiça (justo) em
Sócrates no livro A República- não prejudicar. Trata-se do anverso da
ideia e justiça de Homero, de Somonide e do sofista. (Platon: 866-867)
- Donc faire du bien aux amis, du
mal aux ennemis, c’est là que Simonide entend par justiçe? – A mon avis”>
(Platon: 864). Esta é a justiça fazendo pendant com a política da serpente do
modo de produção da cultura da política oligárquico do coronel urbano-rural brasileiro!
Em Sócrates: “En verité,
pourtant, les bons sont de homens justes et incapables de commettre une
injustice? – Cést la verité”. Platon: 867). De fato, se trata de não prejudicar o amigo nem o inimigo, de não prejudicar, simplesmente. Esta fórmula se
encontra na Edição do A Republica, em português, de um modo claro:
“Logo, não é obra própria do
justo o causar dano a um amigo ou a qualquer outro, e sim do seu contrário, o
injusto”. (Platão: 23). Justo é a política que é a gramática em narração
lógica: não prejudicar ninguém.
IV
A narrativa liberal-democrática tem
necessidade do filósofo e do homem das belas letras como classe simbólica em
estado de maioridade, ou seja, como força prática ideológica gramatica como
culto desejado pelo intelectual da maioridade:
“Aqui outra vez, celebrou o homem
de letras como o guerreiro solitário, na luta pela civilização, e prosseguiu
emitindo uma declaração de independência para a gens de lettres como grupo social” (Darnton. 1986: 268). Trata-se
da luta da classe simbólica do esclarecimento na cultura da política por uma
ideia de justiça associada a maioridade, e, portanto, a abolição da ideia da
produção sob o mandato de um tutor, o discurso do político do senhor do
absolutismo. Daí a necessidade de o estado absolutista criar a polícia
ideológica como contrapeso a luta do intelectual pela maioridade cultural e
simbólica.
Napoleão temia os ideólogos
(grupo como o qual ele tivera contato), porque não sabe que sabe da força
prática das ideias revolucionárias modernas nacionais democráticas no jogo do
campo de poder hobbesiano europeu e americano.
A narrativa da articulação da
hegemonia europeia francesa tinha necessidade de destruir o baluarte
continental do Ancien regime aristocrático na Europa. Assim, as guerras
napoleônicas eram inevitáveis e uma necessidade em longa duração sociológica da
história da cultura da política da liberdade e da democracia na versão francesa
napoleônica.
Marx pensou a guerra napoleônicas
contra a Rússia como a revolução do modo de produção do burguês francês levado
à economia rural tradicional russa. Revolução do urbano contra o rural.
Tocqueville pensa a revolução das guerras napoleônicas como a expansão em
escala ampliada da revolução política francesa. A derrota francesa na guerra
com o czarismo definiu o curso da revolução europeia que acabou em 1917 dando
um salto do Ancien Régime para o socialismo bolchevique. A Rússia nunca soube,
de fato, o que é uma revolução moderna democrática nacional.
A vitória da Rússia impediu a
criação de um campo de poder mundial kantiano no início do século XIX na
Europa, ou seja, um território de relações entre nações fundado na política ao
invés de se fundar na impolítica.
Na revolução para fazer a
passagem da impolítica para a política, a relação entre o intelectual e a nação
é essencial. A criação da sociedade do escritor na França do século XVIII
(Darnton) transportou a política para os hábitos da literatura e a literatura
passou a fazer pendant com a política. Daí a cultura deixa de ser remetida à hábitos, costumes e crenças e se torna a cultura da política econômica feita
por uma literatura, com alto grau de abstração, do filósofo e do homem de
letras, e do economista:
Tocqueville diz:
“Os filósofos não deram apenas
suas ideias ao povo que a fez (a Revolução): deram-lhe seu temperamento e eu
humor. Sob sua longa disciplina, à falta de quaisquer outros líderes, no meio
da ignorância profunda em que vivia no cotidiano, toda a nação, ao lê-los,
terminava por contrair seus instintos, sua inclinação espiritual, o gosto e até
os cacoetes próprios aos que escrevem. De sorte que, quando ela começou a
atuar, transportou para a política todos os hábitos da literatura”. (Aron: 246).
Na Rússia czarista, a revolução
que destruiria o czarismo seria aquela da classe simbólica sob comando dos
intelectuais marxistas.
A classe simbólica significa a
produção de uma literatura abstrata sobre primeiro sobre a França, depois sobre
a Europa e na Rússia onde se destaca o fenômeno da literatura abstrata marxista
e a escola de Lenine da articulação da interpretação abstrata com o método análise concreta de situações concretas. Na
Rússia, a literatura marxista foi o aspecto principal da unidade teoria e
prática. A literatura marxista se transformou em uma ideologia gramatical como
força prática bürokratische da
sociedade e do Estado com a revolução stalinista. Tal força prática bürokratische invade o real deixando um
rastro de rios de sangue camponês, sangue da classe simbólica do terror do
Estado bürokratische, fenômeno que o
mundo só veio a tomar conhecimento décadas depois do acontecimento.
A ciência
abstrata e a classe simbólica foram determinantes na produção da ideologia
gramatical stalinista abstrata força prática
bürokratische de abstração da realidade que significa a destruição da
sociedade civil tradicional russa e a construção de um Staatliche bürokratische post-kapitalistischen, do qual Hitler
nutria sentimentos de ódio e amor: de aversão sexual, inveja e desejo sexual
intenso.
A IMPOLÍTICA da modernidade
adquire sua forma completa como o Urstaat comunista populista de Stalin fazendo
pendant com o Estado hitleriano.
O nazismo perdeu a II Guerra,
então, por que inúmeros autores escrevem no pós- 1947 dizendo que o
totalitarismo se apossou da América democrática liberal?
Tal sociedade totalitária
americana não explica a soberania do Staatliche
bürokratische post-kapitalistischen no século XXI como criminostat
periferia lacaniano R.S.I?
SEGUNDA
PARTE
LOUCURA E REVOLUÇÃO – NORMAL E PATOLÓGICO
MESMER E SCHREBER
Enquanto Schreber tem seu nome
ligado à história da loucura via a leitura que Freud fez do Memórias de um doente dos nervos, Mesmer
é visto como parcela da cultura da política popularesca ligada ao choque com o
Ancien Régime:
“Os mesmeristas radicais expressavam
a sensação dos seus contemporâneos de que o Ancien Régime havia decaído para
além da possibilidade de uma recuperação natural. Era necessária uma grande
intervenção cirúrgica, e não se poderia confiar nos médicos da corte para
executá-la. Os mesmeristas assumiram a tarefa, armados por sua própria medicina
e conseguiram infligir alguns profundos sofrimentos; mas, depois da morte da
antiga ordem, viram que a sua união se devia a um desejo comum de
transformação, e não objetivos claramente definidos, e viraram-se uns contra os
outros”. (Darnton. 1988: 142).
O mesmerismo fez pendant com a
cultura da política popularesca científica do maravilhoso (absurdos para Kant)
que ajudou a elite revolucionária com as ideias dele delirante psicóticas a pôr
um fim no poder europeu da aristocracia na França:
O mesmerismo também atraiu alguns
privilegiados, homens como Lafayte, Duport e d’Eprémesnil, que flertavam com
ideias que socavavam sua elevada posição social. Esses homens defendiam o
mesmerismo como uma medicina do povo simples, uma ciência que restauraria os
saudáveis primitivos de Rousseau e Court de Gébelin. A saúde geraria virtude, a
virtude descrita por Rousseau e Montesquieu, e a virtude geraria harmonia no
corpo político e nos indivíduos. O mesmerismo regeneraria a França destruindo
os ‘obstáculos’ à ‘harmonia universal’; remediaria os efeitos perniciosos das
artes (outra ideia adaptada de Rousseau) restabelecendo uma sociedade ‘natural’
onde as leis físico-morais da natureza afogariam os privilégios aristocráticos
e o governo despótico num mar de fluído mesmérico. Os primeiros a ir,
evidentemente, seriam os médicos. O programa da revolução mesmerista a seguir
tornava-se vago, mas sua posição central mantinha-se clara: a eliminação dos
médicos poria em movimento as leis naturais para erradicar todos os abusos
sociais, pois o despotismo dos médicos e seus aliados acadêmicos representava a
última tentativa de preservação da velha ordem contra as forças da verdadeira
ciência da natureza e da sociedade”. (Idem: 141-142).
A ideia central de Mesmer é uma
ideia delirante a altura das ideias delirantes de Schreber. Mesmer diz:
“Em fevereiro de 1778, Franz
Anton Mesmer chegou a Paris e anunciou sua descoberta sobre um fluido ultrafino
que penetrava e cercava todos os corpos. Mesmer não vira realmente esse seu
fluido; chegou à conclusão de que ele devia existir como o meio para a ação da gravidade,
visto que os planetas não poderiam se atrair num vácuo. Além de imergir todo o
universo nesse ‘agente da natureza’ primordial, Mesmer trouxe-o para à Terra, a
fim de abastecer os parisienses com calor, luz, eletricidade e magnetismo, e
exaltou particularmente sua aplicação na medicina. Ele sustentava que a doença
resultava de um ‘obstáculo’ ao fluxo do fluído através do corpo, o qual se
assemelhava a um imã. As pessoas poderiam controlar e fortalecer a ação do
fluído ‘mesmerizando’ ou massageando os ‘polos’ do corpo, e com isso superar o
obstáculo, induzir uma ‘crise’ muitas vezes sob a forma de convulsões, e
restaurar a saúde ou a ‘harmonia’ do homem com a natureza”. (Idem: 13-14).
Freud fala de Schreber como um
louco que conseguiu convencer a sociedade alemã de que ele Schreber não era
louco:
“Nas numerosas solicitações aos
tribunais, através das quais o Dr. Schreber esforçou-se por recobrar a
liberdade, não repudiou de modo algum seus delírios ou fez qualquer segredo da
intenção de publicar as Denkwürdigkeiten.
Pelo contrário, estendeu-se sobre a importância de suas ideias para o
pensamento religioso e sua invulnerabilidade aos ataques da ciência moderna;
mas, ao mesmo tempo, dava ênfase à ‘absoluta inocuidade (430) de todas as
noções que, como se dava conta, seus delírios obrigavam-no a realizar. Na
verdade, tais eram sua perspicácia e a força convincente de sua lógica, que
finalmente, e apesar de ser ele paranoico reconhecido, seus esforços coroaram-se
de sucesso. Em julho de 1902, os direitos civis do Dr. Schreber forma
restabelecidos e, no ano seguinte, suas Denkwürdigkeiten
eines Nervenkranken apareceram, embora
censuradas e com muitas partes omitidas”. (Freud. v. XII: 31).
O que Freud não foi capaz de entender foi o
êxito da autogramaticalização em narrativa lógica do inconsciente do discurso
do político do Dr. Schreber. Porém o tribunal a metabolizou e cedeu a liberdade
a Schreber por esse triunfo da razão gramatical sobre a loucura desse herói tão
mal visto (e tratado como o homem-lobo em um jardim da Babilônia de Nabucodonosor) pelo campo freudiano, até
os dias atuais.
O ponto culminante delirante de
nosso herói é assim relatado:
“Para uma descrição mais
pormenorizadas de seus delírios, tal como apareceram em sua forma final,
podemos recorrer ao Relatório do Dr. Weber. O ponto culminante do sistema
delirante do paciente é a sua crença de ter a missão de redimir o mundo e
restituir à humanidade o estado perdido de beatitude. Foi convencido a essa
tarefa, assim assevera, por inspiração direta de Deus, tal como aprendemos que
foram os Profetas; pois, os nervos , em condições de grande excitação, assim
como os seus estiveram por longo tempo, têm exatamente a propriedade de exercer
atração sobre Deus – embora isso signifique tocar em assuntos que a fala humana
mal é capaz de expressar, se é que o pode, visto jazerem inteiramente fora do
raio de ação da experiência humana e, na verdade, terem sido revelados somente
a ele”. (Idem: 32).
Freud se refere a esses tipos de
ideias como ideias de um pensamento específico. Trata-se da teologia psicológica. Tal
teologia psicológica põe no centro do debate o lugar da mulher na periferia RSI
(Real/Simbólico/Imaginário):
“A parte mais essencial de sua
missão redentora é ela ter de ser precedida por sua transformação em mulher. Não se deve supor que ele deseje ser transformado em mulher;
trata-se antes de um ‘dever’ baseado na Ordem das Coisas, ao qual não há
possibilidade de fugir, por mais que, pessoalmente, preferisse permanecer em
sua própria honorável e masculina posição na vida. Mas nem ele nem o resto da
humanidade podem reconquistar a vida do além, a não ser mediante a
transformação em mulher (processo que pode ocupar muitos anos ou décadas), por
meio de milagres divinos”. (Idem: 32).
Se este escrito de Schreber fosse
contemporâneo da discussão de Lacan sobre o homem como totalidade fálica e a
mulher como não-todo constituindo uma razão antitética da inexistência de
relação sexual; se o escrito fosse da era do movimento da mulher que começa na
década de 1960; então a mulher como parcela do além é o não-todo como parte da
periferia simbólico. Nesse sentido, o dito de Schreber sobre a transformação da
humanidade em mulher (como parte da redenção da humanidade) não evoca Goethe
(pp 59):
Mefistófeles
Sou parcela do
Além,
Força que cria o mal e também faz o bem! (Goethe: 59)
Assim, como Mesmer o foi na
França da Revolução francesa, Schreber seria integrado à cultura da política
mundial da revolução da mulher (parcela do Além) no século XXI, como aquele que
não para de e inscrever na nova ordem simbólica mundial.
Hoje, homens desejarem se
transformarem em mulher não é mais classificado, e tratado, como caso policial de
psicose paranoide delirante.
Para não deixar só Freud falando
por Schreber, vejam o texto delirante seguinte do próprio Schreber:
“Além da língua humana habitual
há ainda uma espécie de língua dos nervos, da qual, via de regra, o
homem não é consciente. Em minha opinião, a melhor maneira de ter uma ideia
disso é recordar os procedimentos pelos quais o homem tenta gravar na memória
certas palavras numa determinada sequência, como, por exemplo, quando um
estudante, decora uma poesia que precisa recitar na escola ou um padre decora o
sermão que tem de dizer na igreja. As palavras em questão são então repetidas em silêncio (como em uma
oração silenciosa que do púlpito se exorta os fiéis a fazer), isto é, o homem
incita seus nervos a induzir as frequências vibratórias correspondentes ao uso
das palavras em questão, ao passo que os instrumentos próprios da linguagem
(lábios, língua, dentes etc.) não são postos em movimento ou o são apenas
casualmente”. (Schreber: 61).
Na metafísica, encontramos muitos
textos que se assemelham com o supracitado. Do campo da filosofia, Monica David-Ménard
diz:
“Quando ele [Kant] retoma em 1781 o tema da redefinição da filosofia como
ciência do limite da razão humana, a questão da relação com Swedenborg não é
mais mencionada; o debate este último é substituído pelo debate com a
metafísica. Mas todos os termos que caracterizavam o ocultismo – loucura,
delírio, alucinação – servem agora para qualificar a metafísica”.
(David-Ménard: 22-23).
E em seguida ela se interroga:
“a Crítica da razão pura distingue duas formas do impossível: o
contraditório puramente lógico e o que ‘sem ser impossível no sentido da
contradição não pode ser contado entre os possíveis’. Deste, há duas formas: o
númeno leibniziano e as forças fundamentais que Swedenborg forjava ao admitir a
existência dos espíritos, a transmissão de pensamento e a predição do futuro. O
fato de o nome de Swedenborg não se pronunciado ao lado do de Leibniz não
impede que aí a estrutura do problema do impossível se refira explicitamente ao
pensamento visionário, e à perigosa vizinhança do númeno com os espíritos dos
mortos”. (Idem: 27).
Do contraditório como terapêutica de
libertação,
Fernando Pessoa considera a “coerência,
a convicção e a certeza são além disso, demonstrações evidentes – quantas vezes
escusadas – da falta de educação”. Pois: “Se há um fato estranho e inexplicável
é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentado
sobre a mesma opinião sempre coerente consigo próprio”. (Pessoa: 581).
A ideologia gramatical na esfera
da política produz essa espécie de sujeito gramatical falta de educação do fernandismo mesmo com o mundo dele desabando a
sua volta ou em ruínas. Trata-se claramente de uma forma de loucura artificial
da qual o sujeito só se livra quando é quebrado com a spaltung da ideologia gramatical
do fernandismo falta de educação.
Na cultura da política mundial: “Certos
estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm, sobretudo quando excessivos,
o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas,
religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variarão, como é de
entender, consoante esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz de
sua sensibilidade e de sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é
republicano de manhã, e monárquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, é
católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo
admitir senão Mallarmé àqueles momentos do anoitecer citadino em que
desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo uma invenção de louco
quando, ante uma solidão de mar, ele não souber mais do que a da ‘Odisséia’.
(Pessoa: 581).
Além de ser um modo de escapar do
determinismo lacaniano o sujeito é efeito
do significante-metre, o sincretismo gramatical do sujeito parece o caminho
mais óbvio para enfrentar o estado do louco permanente da ideologia gramatical
que como uma peste domina a humanidade durante centenas ou até milênios de anos
estabelecendo o discurso delirante do político do louco:
“Convicções profundas, só as têm as
criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem
apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os
íntegros e os coerentes. A política e a religião gostam d’essa lenha, e é por
isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida”. (Idem: 581-82).
A política do íntegro e do
coerente é aquela da oligarquia colonial brasileira da atualidade (e de toda
forma de oligarquia que se ampare na escola sofista de Platão) sempre da mesma
opinião: Donc faire du bien aux amis, du mal aux ennemis, c’est là que Simonide entend par justice? – A mon
avis” (Platon: 864).
Porém quando a política do íntegro e coerente entra em crise ela faz o mal ao amigo e bem ao inimigo! E
então toda a possibilidade da normalidade dos que se atem a mesma opinião do
mesmo vai para o cafundó do judas que perdeu as botas tentando fugir da cruz,
ou da forka!
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