quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A LÁGRIMA DE ROSA



     José Paulo Bandeira

                                                                             I
Por volta das 22:00 de ontem, Isabel fez novamente seu discurso radioativo. Ela diz que sou um ALIEN enviado por uma civilização alien ecologista para destruir a humanidade, pois, tal civilização não suporta mais ver, ouvir e tatear o sofrimento da humanidade, que reverbera nas estrelas do universo, como poeira cósmica, isto é, matéria matafísica universal.     

Ela (e seus amigos do PSOL ESCOLAR) diz que sou o principal responsável pelo iminente colapso do nosso país.

Dormi! sonhei que acordava de um sonho intranquilo povoado por gritos de mulheres, crianças e estampidos junto à minha cama, de solteiro,  na minha rua em saída! 
                                                                               II
No final da eleição presidencial de 2014 resolvi ajudar Marina Silva. Comecei me conectando com dois sites dela; enviava regularmente meus textos de análise de conjuntura, hoje mais lidos fora do que no próprio Brasil.

Eu dizia para Marina que ela não estava enfrentando dois candidatos/pessoas (e sim duas máquinas de guerra pessoais do Diabo colonial brasileiro) e nem dois partidos políticos, e sim duas máquinas de guerra partidárias semelhantes aos partidos máquinas de guerra colonial do Império. Disse que esses fenômenos inumanos a fariam em pedaços. 

E mais, ainda, disse que eu descobrira uma trilha gramatical em narração teológica gramsciano para diminuir a força letal deles! Transmutá-los de ferozes lupus homino lupus faminto por sangue em gatinhos espécie angorá niteroiense moreirafranco.  

Marina e seu partido ecologista me ignoraram como se eu fosse algum ˂pazzo> buscando aproximação da futura presidente da República. Era apenas um solitário oportunista pequeno-burguês machadiano a procura de oportunidades, visando, provavelmente, um emprego no governo marina silva.

No IFCS carioca, ministrava o curso Política brasileira para 15 alunos. Os alunos tinham lido meu livro sobre Lula e ficaram apaixonados pelo retrato gramatical Lula da Silva.

O retrato foi composto com um LULA colonial, sertanejo de Pernambuco. O retrato foi inspirado na poiética sociológica de algumas páginas do Casa-Grande e Senzala do pernambucano Gilberto Freyre. No retrato, Lula é o senhor (MASTER) colonial esquizo gilbertiano: perverso/neurótico.

Para os alunos, eu dizia que o Lula perverso havia escolhido monocraticamente Dilma Rousseff para substituí-lo em 2010. O Lula neurótico estava possuído pela autoilusão que Dilma agradecida, humilde, usaria a imensa burocracia estatal federal para reelegê-lo em 2014. 

O erro crasso do magnífico sertanejo se deve ao fato de ele ser portador de um conhecimento sertanejo do mundo-da-vida. Trata-se de uma psicologia rústica que faz do sujeito gramatical em narração neurótica Silva uma miséria da filosofia política sindicalista que anda. O psicólogo Silva rústico é o engenho-de-cana-de-açúcar que anda sonhando acordado com o El Dourado da nossa política nacional, até hoje.

No transromance nacional, Lula não é, ou machadianamente carioca, ou euclidianamente de Canudos, e sim um herói gramatical de uma fantasia lacaniana do Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa:
“ Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte”. (Ficção Completa. v 2: 11).

Hoje, o sujeito gramatical nacional é:   O sertão está em toda a parte.

Se o paciente leitor se der ao trabalho, talvez em um dia sem futuro, de ler (não sei quantos páginas digitais já publiquei) o material da física gramatical gramsciano poderá vir a crer que sou, realmente, um alien. Pois, a minha ideia gramatical em narração teológica consistia (há 4 anos) em trazer para a face visível da tela gramatical da vida brasileira a progressão geométrica acelerada da invasão do mundo colonial brasileiro na forma do estado de guerra colonial despertado (como o despertar do Urstaat de Deleuze e Guattari) habitado por grandes máquinas de guerras freudianas (essas trazem consigo, no final, o apocalipse psicótico freudiano) do mundo-da-vida e da política representativa.

Em 2000, publiquei o meu pequeno Evangelho (fantasia lacaniana do futuro). Leitor veja o título do livro:
Política brasileira em extensão. Para além da sociedade civil” (Edição de Autor). O título de meu livro supracitado foi uma conversão prosaica da frase gramatical poiética de Rosa -  O sertão está em toda a parte.

Observe bem que o título do meu modesto Evangelho diz que o país seria objeto de uma INVASÃO (na política moderna representativa) de um discurso (que não fosse semblância baudrillardiana) do político da guerra colonial freudiano em extensão para além da modernidade moderna da política em narração gramatical sociedade civil burguesa carioca/paulista.

Observe, leitor amado, que se trata e uma Edição de Autor, pois, nenhuma grande editora burguesa  da sociedade civil burguesa do Sudeste cogitou em publicá-lo. 

Meu filósofo carioca freudiano cum Nietzsche Carlos Henrique Escobar procurou os irmãos Eduardo Portela (Editora Tempo Brasileiro) para publicar seu primeiro livro. O irmão Portela de peruca disse para o querido Carlos – vou publicar, pois, és de uma alvura encantadora.

Eu jamais procurei a Tempo Brasileiro para submeter meus livros ao julgamento de uma peruca ariana.             

                                                                       III
Marina me tratou como se eu fosse um pobre professor universitário querendo parasitá-la. Me tornar famoso as custas de uma fama benigna, que ela conquistou com muito esforço, sacrifício, engolindo muito sapo-barbudo (que não entrava goela abaixo de Leonel Brizola, só no café-da-manhã dos pampas).

Depois um amigo dos tempos de estudantes do Partido Rede, me confessou, preocupadíssimo, que fora o dândi londrino Eduardo Giannetti que fez minha caveira para a antiga ecologista Marina. A razão era simples. Giannetti teria planejado em Londres se tornar o Gilberto Freyre do século XXI, com a ajuda de seu amigo famoso tropicalista Caetano Veloso.

Hoje, descobri a verdadeira identidade civili do mano Caetano!  

O livro de Giannetti de 2016 tem TROPICALISMO TRÓPICOS no título. O livro foi divulgado pelo Grupo Globo, insistentemente, apresentado como o Evangelho da sociedade burguesa dos ricos carioca/paulista. Giannetti (um homem rico familialmente) confessou que o livro é um fracasso.
Hoje, Giannetti fechou as portas da sociedade civil burguesa cariocapaulista para Marina Silva e o Partido Rede. 

Continuei minha campanha por Marina no Instituto público carioca. 

A coordenação do Curso recebeu várias reclamações de alunos. Recebeu a reclamação de uma aluna da disciplina que informava - relatorilmente - estar sendo assediada (mortalmente perturbada) por meu discurso político em favor de Marina.

Não parei!

Um professor da alta administração do Instituto, quadro da direção carioca do PT e do comando nacional da campanha de Dilma Rousseff (ele se apresentou a mim com esses títulos políticos), me disse, com raiva e veementemente, que ia abrir um processo administrativo contra mim. Ele me perguntou seu imaginava o significado prático do processo. Não respondi.

Ele me disse que com o processo administrativo eu não poderia me aposentar. Ou, eu morreria dando aula, ou na idade compulsória seria despedido automaticamente. 

Procurei uma secretária do estrato superior da burocracia universitária muito séria. Ela disse que a informação era verdadeira.

Continuei a campanha a favor de Marina!

Um dia entrei na sala-de-aula e a turma tinha se multiplicado de 15 para 70. Milagre dos peixes! 

Finalmente, o anfiteatro lotara. Imaginei que o alunato recobrara, até que fim, a lucidez política.

Mas logo a realidade bateu na minha janela gramatical. Essa turma era composta por um minusculo grupo de 5 alunos profissionais da direção estudantil nacional do PT. Eram alunos que iam dos 30 aos 40 anos e idade. A outra parcela dos “novos alunos” era constituída por massas lúmpen bolivariana irascíveis, sinceramente zangadas.

Eu comecei a argumentar em favor de Marina enquanto eles gritavam, xingavam, diziam para eu calar a boca. Ai, o altoclero estudantil bolivariano, no meio da algaravia, fez discursos dizendo que Marina é um agente da CIA...

Usei energicamente minha autoridade de professor - os expulsei do anfiteatro!

Dos 15 alunos reais, 5 se retiraram em protesto, contra meu ato, é claro!

Então, iniciei uma parole para os dez restantes. 

Disse, sem rodeios ou firulas, que se Marina não fosse eleita, tal acontecimento mergulharia o Brasil em uma CRISE GRAMATICAL NACIONAL, cujo desfecho seria a desintegração da política brasileira nacional.

A antiga profecia racional do século XIX de um Brasil dividido em muitos brasilis se realizaria.

Eles riram (gargalhadas desbragadas invadiram os corredores)  e me disseram que eu estava apaixonado por Marina. Que eu era o teórico da campanha, membro importante do comitê central do futuro Partido Rede.

Não pude evitar! uma única lágrima de Rosa escapuliu de meu olho gramatical. 
      
                           

     

Nenhum comentário:

Postar um comentário