José Paulo Bandeira
I
Por volta das 22:00 de ontem,
Isabel fez novamente seu discurso radioativo. Ela diz que sou um ALIEN enviado por uma
civilização alien ecologista para destruir a humanidade, pois, tal civilização não suporta mais
ver, ouvir e tatear o sofrimento da humanidade, que reverbera nas estrelas do
universo, como poeira cósmica, isto é, matéria matafísica universal.
Ela (e seus amigos do PSOL
ESCOLAR) diz que sou o principal responsável pelo iminente colapso do nosso
país.
Dormi! sonhei que acordava de um
sonho intranquilo povoado por gritos de mulheres, crianças e estampidos junto à
minha cama, de solteiro, na minha rua em
saída!
II
No final da eleição presidencial
de 2014 resolvi ajudar Marina Silva. Comecei me conectando com dois sites dela;
enviava regularmente meus textos de análise de conjuntura, hoje mais lidos fora
do que no próprio Brasil.
Eu dizia para Marina que ela não
estava enfrentando dois candidatos/pessoas (e sim duas máquinas de guerra
pessoais do Diabo colonial brasileiro) e nem dois partidos políticos, e sim
duas máquinas de guerra partidárias semelhantes aos partidos máquinas de guerra
colonial do Império. Disse que esses fenômenos inumanos a fariam em pedaços.
E
mais, ainda, disse que eu descobrira uma trilha gramatical em narração
teológica gramsciano para diminuir a força letal deles! Transmutá-los de
ferozes lupus homino lupus faminto por sangue em gatinhos espécie angorá niteroiense moreirafranco.
Marina e seu partido ecologista
me ignoraram como se eu fosse algum ˂pazzo> buscando aproximação da futura
presidente da República. Era apenas um solitário oportunista pequeno-burguês
machadiano a procura de oportunidades, visando, provavelmente, um emprego no
governo marina silva.
No IFCS carioca, ministrava o
curso Política brasileira para 15 alunos. Os alunos tinham lido meu livro sobre
Lula e ficaram apaixonados pelo retrato gramatical Lula da Silva.
O retrato foi composto com um
LULA colonial, sertanejo de Pernambuco. O retrato foi inspirado na poiética
sociológica de algumas páginas do Casa-Grande e Senzala do pernambucano
Gilberto Freyre. No retrato, Lula é o senhor (MASTER) colonial esquizo gilbertiano:
perverso/neurótico.
Para os alunos, eu dizia que o
Lula perverso havia escolhido monocraticamente Dilma Rousseff para substituí-lo
em 2010. O Lula neurótico estava possuído pela autoilusão que Dilma agradecida,
humilde, usaria a imensa burocracia estatal federal para reelegê-lo em
2014.
O erro crasso do magnífico
sertanejo se deve ao fato de ele ser portador de um conhecimento sertanejo do
mundo-da-vida. Trata-se de uma psicologia rústica que faz do sujeito gramatical
em narração neurótica Silva uma miséria da filosofia política sindicalista que
anda. O psicólogo Silva rústico é o engenho-de-cana-de-açúcar que anda sonhando
acordado com o El Dourado da nossa política nacional, até hoje.
No transromance nacional, Lula
não é, ou machadianamente carioca, ou euclidianamente de Canudos, e sim um
herói gramatical de uma fantasia lacaniana do Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa:
“ Para os de Corinto e do
Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se
divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze
léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus,
arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje,
que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom
render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até
ainda virgens dessas lá há. O gerais corre
em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o
senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a
parte”. (Ficção Completa. v 2: 11).
Hoje, o sujeito gramatical
nacional é: O sertão está em toda a parte.
Se o paciente leitor se der ao
trabalho, talvez em um dia sem futuro, de ler (não sei quantos páginas digitais
já publiquei) o material da física gramatical gramsciano poderá vir a crer que
sou, realmente, um alien. Pois, a minha ideia gramatical em narração teológica
consistia (há 4 anos) em trazer para a face visível da tela gramatical da vida
brasileira a progressão geométrica acelerada da invasão do mundo colonial
brasileiro na forma do estado de guerra colonial despertado (como o despertar
do Urstaat de Deleuze e Guattari)
habitado por grandes máquinas de guerras freudianas (essas trazem consigo, no
final, o apocalipse psicótico freudiano) do mundo-da-vida e da política
representativa.
Em 2000, publiquei o meu pequeno
Evangelho (fantasia lacaniana do futuro). Leitor veja o título do livro:
“Política brasileira em extensão. Para além da sociedade civil”
(Edição de Autor). O título de meu livro supracitado foi uma conversão prosaica
da frase gramatical poiética de Rosa - O sertão está em toda a parte.
Observe bem que o título do meu
modesto Evangelho diz que o país seria objeto de uma INVASÃO (na política
moderna representativa) de um discurso (que não fosse semblância baudrillardiana)
do político da guerra colonial freudiano em extensão para além da modernidade
moderna da política em narração gramatical sociedade civil burguesa
carioca/paulista.
Observe, leitor amado, que se trata e uma Edição de
Autor, pois, nenhuma grande editora burguesa da sociedade civil burguesa do Sudeste cogitou em
publicá-lo.
Meu filósofo carioca freudiano cum Nietzsche Carlos Henrique
Escobar procurou os irmãos Eduardo Portela (Editora
Tempo Brasileiro) para publicar seu primeiro livro. O irmão Portela de
peruca disse para o querido Carlos – vou
publicar, pois, és de uma alvura encantadora.
Eu jamais procurei a Tempo Brasileiro para submeter meus
livros ao julgamento de uma peruca ariana.
III
Marina me tratou como se eu fosse
um pobre professor universitário querendo parasitá-la. Me tornar famoso as
custas de uma fama benigna, que ela conquistou com muito esforço, sacrifício,
engolindo muito sapo-barbudo (que não entrava goela abaixo de Leonel Brizola,
só no café-da-manhã dos pampas).
Depois um amigo dos tempos de estudantes
do Partido Rede, me confessou, preocupadíssimo, que fora o dândi londrino
Eduardo Giannetti que fez minha caveira para a antiga ecologista Marina. A
razão era simples. Giannetti teria planejado em Londres se tornar o Gilberto
Freyre do século XXI, com a ajuda de seu amigo famoso tropicalista Caetano
Veloso.
Hoje, descobri a verdadeira identidade civili do mano Caetano!
O livro de Giannetti de 2016 tem
TROPICALISMO ≅TRÓPICOS
no título. O livro foi divulgado pelo Grupo Globo, insistentemente, apresentado
como o Evangelho da sociedade burguesa dos ricos carioca/paulista. Giannetti
(um homem rico familialmente) confessou que o livro é um fracasso.
Hoje, Giannetti fechou as portas
da sociedade civil burguesa cariocapaulista para Marina Silva e o Partido
Rede.
Continuei minha campanha por
Marina no Instituto público carioca.
A coordenação do Curso recebeu várias
reclamações de alunos. Recebeu a reclamação de uma aluna da disciplina que informava - relatorilmente - estar sendo assediada (mortalmente perturbada) por meu discurso político em
favor de Marina.
Não parei!
Um professor da alta
administração do Instituto, quadro da direção carioca do PT e do comando nacional da
campanha de Dilma Rousseff (ele se apresentou a mim com esses títulos
políticos), me disse, com raiva e veementemente, que ia abrir um processo
administrativo contra mim. Ele me perguntou seu imaginava o significado prático
do processo. Não respondi.
Ele me disse que com o processo
administrativo eu não poderia me aposentar. Ou, eu morreria dando aula, ou na
idade compulsória seria despedido automaticamente.
Procurei uma secretária do estrato
superior da burocracia universitária muito séria. Ela disse que a informação
era verdadeira.
Continuei a campanha a favor de
Marina!
Um dia entrei na sala-de-aula e a
turma tinha se multiplicado de 15 para 70. Milagre dos peixes!
Finalmente, o anfiteatro
lotara. Imaginei que o alunato recobrara, até que fim, a lucidez política.
Mas logo a realidade bateu na
minha janela gramatical. Essa turma era composta por um minusculo grupo de 5
alunos profissionais da direção estudantil nacional do PT. Eram alunos que iam
dos 30 aos 40 anos e idade. A outra parcela dos “novos alunos” era constituída
por massas lúmpen bolivariana irascíveis, sinceramente zangadas.
Eu comecei a argumentar em favor
de Marina enquanto eles gritavam, xingavam, diziam para eu calar a boca. Ai, o
altoclero estudantil bolivariano, no meio da algaravia, fez discursos dizendo que Marina é um agente da CIA...
Usei energicamente minha
autoridade de professor - os expulsei do anfiteatro!
Dos 15 alunos reais, 5 se
retiraram em protesto, contra meu ato, é claro!
Então, iniciei uma parole para os
dez restantes.
Disse, sem rodeios ou firulas, que se Marina não fosse eleita,
tal acontecimento mergulharia o Brasil em uma CRISE GRAMATICAL NACIONAL, cujo
desfecho seria a desintegração da política brasileira nacional.
A antiga profecia racional do
século XIX de um Brasil dividido em muitos brasilis
se realizaria.
Eles riram (gargalhadas desbragadas invadiram os corredores) e me disseram que eu
estava apaixonado por Marina. Que eu era o teórico da campanha, membro
importante do comitê central do futuro Partido Rede.
Não pude evitar! uma única
lágrima de Rosa escapuliu de meu olho gramatical.
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