José Paulo
OS mass media são uma máquina de comunicação morologus. Máquina de comunicação de dizer tolices, extravagancias,
disparates, besteiras para a audiência. O morologus é o princípio de
funcionamento da gramática da comunicação mass
media.
O disparate de Goya se tornou o
signo irrevogável no mundo da cultura ocidental com a soberania dos mass media do americanismo no
mundo-da-vida. Sobre o americanismo, Heidegger é revelação na tradução
brasileira:
“A maquinação é o acabamento
incondicionado do ser enquanto vontade de poder. Mas mesmo a maquinação enquanto essência do
ser tem ainda uma inessência.
A inessência da maquinação exige
uma humanidade que não desertifique toda tradição, mas propague para além da
desertificação, isto é, para o interior de sua inessência, justamente uma
tradição desertificada da metafísica (e, isto é, da história ocidental),
essencialmente sem raízes. Esta instauração da inessência da maquinação está reservada
ao americanismo.
Mais tenebroso do que toda e
qualquer selvageria asiática é esta ‘moralidade’ desenraizada e alastrada até o
engodo incondicionado.
Somente aqui o abandono do ser
alcança a condição extrema de uma constância.
Será que reconhecemos
suficientemente que tudo o que há de tenebroso reside no americanismo e de modo algum no mundo russo? (Heidegger.
2000: 156-157).
O que é o americanismo senão um
ersatz de ser social como sociedade de comunicação de massa. Esta é o fim da história econômica da metafísica
como organização da cultura do mundo ocidental. A máquina morologus de
comunicação é um bandade Moebius. No lado direito o morologus, no avesso a
teologia da comunicação de massa.
II
O fim da era econômica da
metafísica significa o início da era teológica heideggeriana. No livro “A
ideologia alemã”, Marx diz que a era da metafísica é a era das ideologias
filosóficas. Então, temos o fim da era das ideologias substituída pela era das
teologias. Em Lacan, o livro “O Capital” é visto como o evangelho secular revolucionário
da classe operária (Lacan. S.20:32). A teologia de Marx é o falar do capital
fazendo pendant com o falar da revolução social como texto utópico. No entanto,
me interessa a teologia heideggeriana dos massa media.
Heidegger fala da teologia do americanismo:
“A teologia tornar-se diabologia que não se restringe
certamente ao inofensivo do ‘diabo’ enquanto um anjo decaído, mas introduz e
solta pela primeira vez a inessência
incondicionada de Deus na verdade do ente. O desdobramento expressivo das diabologias é
ainda iminente”. (Heidegger. 2000: 160).
A teologia de Heidegger é falar
de um diabo que pode ser uma coisa
análoga ao diabo do romantismo alemão:
“MEFISTÓFELES
Sou parcela do Além
Força que cria o mal e também faz
o bem! (Goethe: 59).
A sociedade de comunicação de
massa é Força que cria o mal?
A teologia fazendo pendant com a
metafísica ocidental é a criação do falar do mal pela sociedade de comunicação
de massa. O discurso dos massa media
é o falar ficionalizado do mal da sociedade. Os mass media são a Força diabólica que criam o mal ao ficcionalizarem
as misérias das nações e da Terra. Usa-se vulgariza-se e banaliza-se informação
científica para ficcionalizar o mal que aflige os seres humanos. Por exemplo, a
sociedade capitalista industrial asiática é um mal mundial, pois gera a
poluição que se traduz por catástrofe climática. A fome e as doenças endêmicas na
África são um mal a ser remediados pelos países civilizados do Ocidente. No
Brasil, a violência urbana é um mal indeterminado que se traduz na
ficcionalização do mundo como rua colonial ameaçadora e delegacia de polícia.
Nos EUA, o terrorismo é o mal ficcionalizado pelo americanismo fazendo parelha
com o serial killer americano. Na
Europa, o mal é as massas que se revoltam organizadas pelo WhatsApp contra
estado de exceção econômico do Banco de Macron.
Faz o bem?
Os mass media fazem o bem ao
organizarem a cultura nacional, como no Brasil. Porém, trata-se de um bem
diabólico. A organização da cultura serve à gramática de dominação econômica do
Banco que levará o país rumo a um apocalipse econômico.
Um outro aspecto é a teologia do
sentido:
“Alors que l’intelligence
décompose le sens, le myte le compose.
C’est pourquoi il ne saurait être compris d’après une supposée valeur explicative:
le mythe n’est pas une science des primitifs mais un moyen de compréhension
immédiate du réel. L’opposé du symbolique, c’est, proprement, le dia-bolique”.
“(Godin:732).
A força de lei dos mass media se deve a atividade de compreensão
imediata do real como teologia do mal em imagens mitológicas eletrônicas.
Trata-se, portanto, de pensar os mass
media como ersatz do mito. O dia-bolique
se encontra na oposição entre o simbólico e o saber mitológico. Qual mito?
O simbólico nos remete para a logos de uma época
em oposição ao discurso mitológico:
“Car le langage n’appartient pas
exclusivement au domaine du mythe; dès le départ, une autre force est agissante
en lui, la force du logos”. (Cassirer:120).
A teologia da leitura de
Heidegger pela psicanálise em gramática econômica da sociedade de comunicação
de massa pensa a linguagem dos mass media
em uma unidade concreta com o mito. Tal fato é correlato ao início da linguagem
e arte:
“Comme le langage, l’art, dans
ses débuts, se révèle étroitement mêlé au mythe. Mythe, langage, et art forment
d’abor une unnité concrète encore indivise, qui ne se déploie que
progressivement en une tríade de modes de figuration spirituels et
indépendants”. (Cassirer: 120-121).
A teologia da imagem eletrônica é
o início de uma era na qual a linguagem aparece em um todo concreto indivisível
com o mito e a estética:
“Cari l n’y a pas ici des
désignations simplement <abstraites>; chaque mot se transforme immédiatement en une
figure mythique concrète, en dieu ou en démon”. (Cassirer: 119).
A sociedade de comunicação de massa
secreta uma linguagem religiosa secular.
A linguagem da sociedade de
comunicação de massa funciona através de uma teologia de imagens figurativas em
uma ação ersatz do dia-bolique no lado direito; no lado avesso, ela se
constitui pela “matematização galilaica” (Husserl: 16) da cultura informacinalis como ersatz de
metafísica:
“A ‘matemática’ só se torna decisiva
para a metafísica com a mudança da veritas
para a certitudo. A matemática
não é contudo aí apenas um modelo de conhecimento ‘maximamente rigoroso’. Ao contrário,
o elemento matemático – o estar-certo -caracteriza o modo fundamental do ser
enquanto a re-presentacionalidade”. (Heidegger: 160).
A compreensão imediata do real como o
estar-certo da matematização da cultura dota os mass media de uma força violenta, injusta, sem regra, arbitrária. A
gramática dos mass media contém seu
WhatsApp, ou seja, a força sem regra, arbitrária da comunicação (Derrida. 1994:
20). E mais ainda:
“il s’agit toujours du rapport entre
la force et la forme, entre la force et la signification; il s’agit toujours de
force <performative>, force
illocutionnaire ou perlocuttionaire, de force persuasive et de rhétorique, d’affirmation
de signature, mais aussi et surtout de toutes les situations paradoxales où la
plus grande force et la plus grande faiblesse s’échangent étrangement”. (Derrida.
1994: 20-21).
A estatística usada nos mass media é uma invasão do real como certitudo ou estar-certo que caracteriza
o modo de funcionamento do ser da sociedade de comunicação de massa como
re-presentacionalidade. No domínio da subjetividade, os mass media trabalham com a certitudo
articulando a verdade como vontade de poder:
“Na mudança essencial da verdade
enquanto veritas para a verdade enquanto
certitudo está prelineado o ser
enquanto re-presentacionalidade do re-presentra-se, na qual a essência da
subjetividade desdobra-se. O nome mais simples para a determinação da entidade
do ente que aqui vai se preparando é a ‘vontade’: vontade enquanto querer-se”. (Heidegger: 162).
Os mass
media trabalham a subjetividade da audiência como vontade de poder (vontade
como querer-se):
“Logo que o ser se abre porém como
vontade sob o modo de vontade de poder, o ser-si-mesmo da subjetividade na qual
a vontade quer a si mesma mostra-se
como a constante legitimação do poder comandar enquanto a maneira decisiva do querer-para-além-de-si
(a extensão do poder)”. (Heidegger: 163-164).
A audiência não é inocente ou passiva.
Ela é a subjetividade (sujeito sgrammaticatura)
como vontade de poder legítima de comandar o real da realidade dos fatos da
política e do Estado de polícia. Dou um exemplo.
A televisão carioca começou uma campanha
para destruir o milagreiro João de Deus. João foi preso pela polícia (Estado de
polícia) que se apresenta como extensão da vontade poder “mulher assediada”
sexualmente pelo milagreiro. O poder da televisão é a extensão da vontade poder
da multidão de mulheres que se definem como uma subjetividade assediada. A máquina
de comunicação morologus é a produção de besteira que leva a gramaticalização
da realidade dos fatos pela psicanálise em gramática econômica. Esta
gramaticalizou a ficcionalização da libido de João de Deus pelos mass media como a produção da besteira <João de Deus é uma versão caipira
latifundiária do dom Juan europeu>. Para
o João de Goiás, a multidão de mulheres é parte de seu latifúndio sexual. A relação
da psicanálise em gramática econômica com a animalidade dos mass media se apresenta assim:
“Este indeterminado, este sem-fundo, é
igualmente a animalidade própria ao pensamento, a genitalidade do pensamento:
não esta ou aquela forma animal, mas a besteira. Com efeito, se o pensamento só
pensa coagido e forçado, se ele permanece estúpido enquanto nada o força a pensar,
aquilo que o força a pensar não é também a existência da besteira, a saber, que
ele não pensa enquanto nada o força?”. (Deleuze: 434).
Os mass
media e a psicanálise em gramática econômica constituem uma banda de
Moebius do ser da cultura Ocidental no século XXI.
CASSIRER, Ernest. Langage et mythe. À propos
des noms de dieux. Paris: Minuit, 1973
DELEUZE, Gilles. Diferença e
repetição. RJ: Graal, 1988
DERRIDA, Jacques. Force de loi. Paris:
Galilée, 1994
GODIN, Christian. La totalité. V. 1. De
l’imaginaire au simbolique. Paris: Champ Vallon, 1998
GOETHE. Fausto & Werther. SP: nova
Cultural, 2002
HEIDEGGER, Martin. Nietzsche.
Metafísica e niilismo. RJ; Relume Dumará, 2000
HUSSERL, Edmund. A crise das ciências
europeias e a fenomenologia transcendental. RJ: Forense Universitária, 2012
LACAN, Jacques. Encore. Le Seminaire. Livre
XX. Paris; Seuil, 1975
Muito bom, estamos vivendo uma situação do querer por querer e o querer por poder, a banalização dos meios de comunicação de massa gera na sociedade uma sensação de poder pela cultura do ódio, que é o oposto a meu ver do que se repara nas citações teológicas. cabe uma pergunta: quando será que a humanidade vai acordar para isso e se convencer que o mal é apenas a ausência do bem? ´Pois teoricamente fazer o bem deveria ser bem mais fácil, assim como existe nos dias de hoje uma necessidade quase explícita de que para salvarmos o planeta e a humanidade, necessário é que se apague a cultura do satanismo dos que detém o poder condigno no mundo atual.
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