José Paulo
.
O capitalismo venceu o comunismo.
A estrambótica extrema-direita americana diz o contrário: A América virou
comunista. São dois pontos-de-partida do debate internacional. Aqui na terrinha
tórrida, o clã Bolsonaro segue Steve Bannon. Cúspide!
O
capitalismo venceu o comunismo, mas isso não se traduz como fim da história. A
partir do momento que o comunismo deixou de ser uma alternativa histórica, o
planeta voltou à linha de força gramatical da história universal na qual
Ocidente e Oriente se apresentavam como signos hegemônicos universais.
GRAMÁTICA CAPITALISTA ASIÁTICA
O neomercantilismo asiático
(sistema de Estados fortes em conteúdo econômico) é um fato natural da história
econômica planetária?
A Europa criou a estratégia União
Europeia de enfraquecimento dos Estados-nação fazendo pendant com a
globalização econômica e a financeirização em escala ocidental. Olhando de hoje
trata-se de uma estratégia que é o avesso do neomercantilismo.
Os EUA querem reinar como
potência mais poderosa do planeta. Para a América um sistema neomercantilista
nas Américas é inimaginável: triunfo do axioma do século XIX “as Américas para
os americanos.
A gramática capitalista asiática
é neomercantilismo cum globalismo. Há claramente um NOVO equilíbrio de poder
mundial no qual a história econômica capitalista industrial é mais forte que a
geopolítica da indústria militar convencional. A geopolítica da indústria
milita nuclear aparece como uma espada de dâmocles no domínio, planetário, da
história da gramática capitalista asiática.
A gramática asiática tem na China
um país com ambições a se tornar a primeira potência mundial nas próximas
décadas. Tal ambição lembra aos EUA que ele é uma civilização capitalista em
decadência inelutável. Obama metabolizou a decadência americana com a ideia de
um poder mundial multipolar. Donald Trump rechaça a doutrina Obama e quer um
mundo unipolar do americanismo. Trata-se de um delírio, pois, não tem ancoragem
na realidade dos fatos internacionais e nos fatos do domínio do capitalismo
corporativo mundial sobre o Banco.
O Ocidente criou uma estratégia
para se livrar da sociedade industrial de classes sociais e da luta de classes.
O colapso da URSS gerou a percepção sensível de que o capitalismo vencera o
comunismo. Então, o Ocidente passou a se dedicar aos problemas existenciais da
liberdade do individualismo à enésima potência sexual. Voltado para resolver o
problema do terrorismo islâmico, do desequilíbrio climático, efeito estufa,
capitalismo em fusão com ecologia etc, o Ocidente esqueceu o desenvolvimento da
gramática capitalista industrial asiática.
No terceiro-mundo americano, os
mass media fazem propaganda do Ocidente da bancocracia mostrando imagens da
sociedade industrial capitalista asiática como a grande poluidora da atmosfera
terrestre. Nós do terceiro-mundo tupiniquim, engolimos a propaganda da
bancocracia como a verdade planetária.
Se a Europa via recuar e
construir um sistema neomercantilista, tal estratégia ainda não faz parte da
consciência europeia.
Nas Américas, o neomercantilismo
é um anátema para todos os países submetidos (formal ou realmente) ao poder do
americanismo. Parece que a decadência civilizatória da América vem acompanhada
de uma visão de mundo caipira nuclear da nova situação mundial.
A gramática asiática carrega em
si a ideia pacífica de uma mudança no equilíbrio de poder mundial através da
história econômica capitalista.
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II
A essência do capitalismo chinês encontra-se
em transformação permanente. A categoria capitalismo de Estado entra em choque
com o capitalismo corporativo mundial que significa a partilha do cybercapitalismo industrial entre o sistema neomercantilista
asiático e, pari passu, com o capitalismo americano e o capitalismo europeu
ocidental. Com certeza, a essência do capitalismo chinês é neomercantilista. Há
dúvidas se o capitalismo chinês é
neocolonial resolutamente.
Um
pan-latino-americanismo-neomercantilista é um acontecimento muito real
impossível de ser suportado pelas nossas elites burguesas que comandam um
processo de decadência civilizatório econômico cujo signo mais irrevogável é o
apocalipse econômico venezuelano?
A Venezuela foi vítima de uma
conjuntura na qual a esquerda irracional obteve a hegemonia nas urnas. O
coronel Hugo Chave se caracterizou pela destruição da economia semi burguesa
realmente existente de seu país. No lugar desta, a Venezuela passou a viver da
renda do petróleo em uma sociedade militarizada. Se tornou comum no Brasil, os
massa media falarem de um NarcoEstado venezuelano sob o comando do Exército nacional.
A sobrevivência de Maduro no
poder se deve ao poder militar do bolivariano. Os EUA encenam uma intervenção
militar no país de Chaves, mas isto é improvável. Pois, a Venezuela se tornou
uma neocolônia econômica do equilíbrio de poder entre a América versus a China mais
a Rússia. A situação neocolonial da Venezuela parece apontar para a escolha do
poder militar venezuelano em fazer desse país um protetorado chinês.
A Argentina vive uma crise
econômica catastrófica. Macri tomou o poder do peronismo com promessas baseadas
em um liberalismo economicista privatista da bancocracia que jogou, de fato, o
país no colo do FMI e da bancocracia ocidental. É a mesma situação do Brasil
que desde Dilma Rousseff têm a economia, cultura e política sob o comando da
bancocracia.
A gramática da bancocracia tem
gerado regimes neofascistas representativo como o de Victor Orbán. No Brasil, o problema
consiste na existência de um bloco histórico em decomposição. Este se define
pela aliança do Banco com o velho modelo industrial do capitalismo do automóvel
no comando da economia real. O velho modelo industrial ´é uma força do atraso,
pois, ele não quer morrer e deixar que emerja a criação de um espaço público
procedural, que seja expressão da articulação da hegemonia do capitalismo
corporativo mundial em um espaço de pan-latino-americanismo neomercantilista.
No centro do bloco histórico do
automóvel + Banco, uma empresa de comunicação funciona organizando a cultura
nacional. Ela representa os interesses econômico, político e ideológico do
Banco e da velha indústria paulista da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O Brasil é um país no qual as elites não sabem o que elas fazem. A elite
jornalística do Grupo Globo não sabe que ela é a organizadora da cultura
nacional, pois, ela não sabe nada de como se organiza a cultura nacional pelos
mass media. É um trabalho baseado em uma experiência empírica que não acumula
saber técnico e se recusa a ser parte da consciência histórica nacional.
O Grupo Globo detém o monopólio
da organização da cultura nacional. O Governo Federal, o Congresso, a
universidade estatal, todos não sabem como quebrar o monopólio em tela. O
cyberespaço ´é um espaço fragmentado culturalmente, repartido em sua “fala”
(escrita que é um ersatz de fala) sem gramática (como o whatsapp) até o
infinito; e esta é a razão para ele não quebrar o monopólio dos massa media. A
cybercultura realmente existente ainda não obteve êxito em articular-se como
forma de articulação da hegemonia nacional. Ainda não apareceu um centro hegemônico
de organização da cultura nacional no cyberespaço.
III
A nossa elite econômica tem
potência para sair da crise brasileira? Ela crê que se destruir o Estado
neogetulista 1988, em um passe de mágica, a velha indústria voltará a crescer.
Privatizar pornograficamente o aparelho econômico estatal é a panaceia da
bancocracia para uma retomada do desenvolvimento econômico. Um analfabeto
banqueiro em história econômica capitalista da produção do contemporâneo está
no comando da política econômica. Trata-se de um banqueiro com negócios
familiares na área de educação privada: sr. Paulo Guedes.
Movido por esse interesse de
acumulação de fortuna familiar, o banqueiro, em conluio com o Grupo Globo, traça
planos para destruir a universidade estatal. Conhecido como “posto ypiranga”, o
banqueiro quer transformar o Estado em um Estado barato a serviço de seus
interesses econômicos. O banqueiro trabalhou no Chile de Pinochet e por osmose
metabolizou a gramática neofascista da ditadura de Pinochet.
O banqueiro carioca prepara uma
reforma trabalhista inspirada na reforma trabalhista de Victor Orban. Esta
reforma se aproxima da ideia de trabalho compulsório da Alemanha nazista de
Hitler. O banqueiro e seu colega do ministério da Infraestrutura vão mergulhar
o Brasil em um capitalismo neocolonial do terceiro mundo superficial. A Nigéria
é o capitalismo neocolonial do terceiro-mundo profundo, para efeito de
comparação.
A visão capitalista neocolonial
de mundo do governo Temer e, agora, do governo Bolsonaro organiza a cultura
nacional através dos mass media. A visão-de-mundo em tela legitima a fabricação
da gramática da república neofascista das famílias e clãs cariocas (RobertoMarinhos,
Bolsonaros, Guedes).
IV
O leitor deve estar se
perguntando como o planeta chegou à
situação atual da conjuntura capitalista asiática como efeito da história
econômica industrial capitalista. O neomercantilismo do final do século XIX
ergueu o capitalismo europeu colonial fazendo de geoespaços do terceiro mundo
mercados de consumo das mercadorias das metrópoles capitalistas. Trata-se do
colonialismo capitalista tout court.
Na produção da contemporaneidade,
um novo colonialismo nos espera como atractor no horizonte da era da globalização do capitalismo
corporativo mundial (Bandeira da Silveira; 2002). A Venezuela é uma colônia econômica
chinesa. A África está em um processo de recolonização, agora, pelo capitalismo
asiático. A Argentina pode enviesar para
um capitalismo neocolonial do terceiro mundo com o colapso da política de
Macri. Após o fracasso retumbante da política econômica do sr. Paulo Guedes, o Brasil não terá saída a não ser evoluir para o capitalismo neocolonial do terceiro-mundo?
O estado de violência real gerado
por uma stásis dos de baixo, entre
nós, já é um efeito da decadência de nossa civilização industrial. Trata-se de
um efeito da história econômica do capitalismo tupiniquim. A China já se
ofereceu para fazer do Brasil um protetorado do capitalismo industrial asiático.
Ela quer colonizar com gente (camponeses inclusive) e coisas (e internet das
mercadorias) o Brasil.
Quem não tem cão, caça com gato?
O colapso da política do
banqueiro Paulo Guedes poderá resultar na formação de um novo governo econômico
na era Bolsonaro? O governo econômico do
sr. Guedes é uma ditadura neofascista sustentada por um governo criptomilitar. O
colapso da ditadura Guedes poderá provocar uma mudança de direção na política econômica?
Só há uma direção que pode surgir como alternativa à ditadura Guedes. Já falamos
do neomercantilismo pan-americano latino. Este necessita de ideias econômicas que
só serão produzidas em um espaço procedural a ser criado no Brasil e na América-Latina.
Uma ideia é a transformação do Estado
getulista 1988 em um Estado neomercantilista do século XXI. Para isto, a organização
da cultura nacional tem que ser arrancada das garras neocoloniais dos mass
media.
Como fazer?
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Capitalismo corporativo mundial.Papel & Virtual (PUC/RJ), 2002.
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