sábado, 15 de dezembro de 2018

ÁSIA HOJE - NEOMERCANTILISMO E GLOBALIZAÇÃO


José Paulo

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O capitalismo venceu o comunismo. A estrambótica extrema-direita americana diz o contrário: A América virou comunista. São dois pontos-de-partida do debate internacional. Aqui na terrinha tórrida, o clã Bolsonaro segue Steve Bannon. Cúspide!
O capitalismo venceu o comunismo, mas isso não se traduz como fim da história. A partir do momento que o comunismo deixou de ser uma alternativa histórica, o planeta voltou à linha de força gramatical da história universal na qual Ocidente e Oriente se apresentavam como signos hegemônicos universais. 


GRAMÁTICA CAPITALISTA ASIÁTICA
O neomercantilismo asiático (sistema de Estados fortes em conteúdo econômico) é um fato natural da história econômica planetária?
A Europa criou a estratégia União Europeia de enfraquecimento dos Estados-nação fazendo pendant com a globalização econômica e a financeirização em escala ocidental. Olhando de hoje trata-se de uma estratégia que é o avesso do neomercantilismo.
Os EUA querem reinar como potência mais poderosa do planeta. Para a América um sistema neomercantilista nas Américas é inimaginável: triunfo do axioma do século XIX “as Américas para os americanos.
A gramática capitalista asiática é neomercantilismo cum globalismo. Há claramente um NOVO equilíbrio de poder mundial no qual a história econômica capitalista industrial é mais forte que a geopolítica da indústria militar convencional. A geopolítica da indústria milita nuclear aparece como uma espada de dâmocles no domínio, planetário, da história da gramática capitalista asiática.
A gramática asiática tem na China um país com ambições a se tornar a primeira potência mundial nas próximas décadas. Tal ambição lembra aos EUA que ele é uma civilização capitalista em decadência inelutável. Obama metabolizou a decadência americana com a ideia de um poder mundial multipolar. Donald Trump rechaça a doutrina Obama e quer um mundo unipolar do americanismo. Trata-se de um delírio, pois, não tem ancoragem na realidade dos fatos internacionais e nos fatos do domínio do capitalismo corporativo mundial sobre o Banco.
O Ocidente criou uma estratégia para se livrar da sociedade industrial de classes sociais e da luta de classes. O colapso da URSS gerou a percepção sensível de que o capitalismo vencera o comunismo. Então, o Ocidente passou a se dedicar aos problemas existenciais da liberdade do individualismo à enésima potência sexual. Voltado para resolver o problema do terrorismo islâmico, do desequilíbrio climático, efeito estufa, capitalismo em fusão com ecologia etc, o Ocidente esqueceu o desenvolvimento da gramática capitalista industrial asiática.
No terceiro-mundo americano, os mass media fazem propaganda do Ocidente da bancocracia mostrando imagens da sociedade industrial capitalista asiática como a grande poluidora da atmosfera terrestre. Nós do terceiro-mundo tupiniquim, engolimos a propaganda da bancocracia como a verdade planetária.
Se a Europa via recuar e construir um sistema neomercantilista, tal estratégia ainda não faz parte da consciência europeia.
Nas Américas, o neomercantilismo é um anátema para todos os países submetidos (formal ou realmente) ao poder do americanismo. Parece que a decadência civilizatória da América vem acompanhada de uma visão de mundo caipira nuclear da nova situação mundial.
A gramática asiática carrega em si a ideia pacífica de uma mudança no equilíbrio de poder mundial através da história econômica capitalista.
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                                                                                      II
A essência do capitalismo chinês encontra-se em transformação permanente. A categoria capitalismo de Estado entra em choque com o capitalismo corporativo mundial que significa a partilha do cybercapitalismo  industrial entre o sistema neomercantilista asiático e, pari passu, com o capitalismo americano e o capitalismo europeu ocidental. Com certeza, a essência do capitalismo chinês é neomercantilista. Há dúvidas  se o capitalismo chinês é neocolonial resolutamente.

Um pan-latino-americanismo-neomercantilista é um acontecimento muito real impossível de ser suportado pelas nossas elites burguesas que comandam um processo de decadência civilizatório econômico cujo signo mais irrevogável é o apocalipse econômico venezuelano? 

A Venezuela foi vítima de uma conjuntura na qual a esquerda irracional obteve a hegemonia nas urnas. O coronel Hugo Chave se caracterizou pela destruição da economia semi burguesa realmente existente de seu país. No lugar desta, a Venezuela passou a viver da renda do petróleo em uma sociedade militarizada. Se tornou comum no Brasil, os massa media falarem de um NarcoEstado venezuelano sob o comando do Exército nacional.

A sobrevivência de Maduro no poder se deve ao poder militar do bolivariano. Os EUA encenam uma intervenção militar no país de Chaves, mas isto é improvável. Pois, a Venezuela se tornou uma neocolônia econômica do equilíbrio de poder entre a América versus a China mais a Rússia. A situação neocolonial da Venezuela parece apontar para a escolha do poder militar venezuelano em fazer desse país um protetorado chinês.

A Argentina vive uma crise econômica catastrófica. Macri tomou o poder do peronismo com promessas baseadas em um liberalismo economicista privatista da bancocracia que jogou, de fato, o país no colo do FMI e da bancocracia ocidental. É a mesma situação do Brasil que desde Dilma Rousseff têm a economia, cultura e política sob o comando da bancocracia.

A gramática da bancocracia tem gerado regimes neofascistas representativo como o de Victor Orbán. No Brasil, o problema consiste na existência de um bloco histórico em decomposição. Este se define pela aliança do Banco com o velho modelo industrial do capitalismo do automóvel no comando da economia real. O velho modelo industrial ´é uma força do atraso, pois, ele não quer morrer e deixar que emerja a criação de um espaço público procedural, que seja expressão da articulação da hegemonia do capitalismo corporativo mundial em um espaço de pan-latino-americanismo neomercantilista.

No centro do bloco histórico do automóvel + Banco, uma empresa de comunicação funciona organizando a cultura nacional. Ela representa os interesses econômico, político e ideológico do Banco e da velha indústria paulista da CNI (Confederação Nacional da Indústria). O Brasil é um país no qual as elites não sabem o que elas fazem. A elite jornalística do Grupo Globo não sabe que ela é a organizadora da cultura nacional, pois, ela não sabe nada de como se organiza a cultura nacional pelos mass media. É um trabalho baseado em uma experiência empírica que não acumula saber técnico e se recusa a ser parte da consciência histórica nacional.

O Grupo Globo detém o monopólio da organização da cultura nacional. O Governo Federal, o Congresso, a universidade estatal, todos não sabem como quebrar o monopólio em tela. O cyberespaço ´é um espaço fragmentado culturalmente, repartido em sua “fala” (escrita que é um ersatz de fala) sem gramática (como o whatsapp) até o infinito; e esta é a razão para ele não quebrar o monopólio dos massa media. A cybercultura realmente existente ainda não obteve êxito em articular-se como forma de articulação da hegemonia nacional. Ainda não apareceu um centro hegemônico de organização da cultura nacional no cyberespaço.

                                                                                    III

A nossa elite econômica tem potência para sair da crise brasileira? Ela crê que se destruir o Estado neogetulista 1988, em um passe de mágica, a velha indústria voltará a crescer. Privatizar pornograficamente o aparelho econômico estatal é a panaceia da bancocracia para uma retomada do desenvolvimento econômico. Um analfabeto banqueiro em história econômica capitalista da produção do contemporâneo está no comando da política econômica. Trata-se de um banqueiro com negócios familiares na área de educação privada: sr. Paulo Guedes.  

Movido por esse interesse de acumulação de fortuna familiar, o banqueiro, em conluio com o Grupo Globo, traça planos para destruir a universidade estatal. Conhecido como “posto ypiranga”, o banqueiro quer transformar o Estado em um Estado barato a serviço de seus interesses econômicos. O banqueiro trabalhou no Chile de Pinochet e por osmose metabolizou a gramática neofascista da ditadura de Pinochet.

O banqueiro carioca prepara uma reforma trabalhista inspirada na reforma trabalhista de Victor Orban. Esta reforma se aproxima da ideia de trabalho compulsório da Alemanha nazista de Hitler. O banqueiro e seu colega do ministério da Infraestrutura vão mergulhar o Brasil em um capitalismo neocolonial do terceiro mundo superficial. A Nigéria é o capitalismo neocolonial do terceiro-mundo profundo, para efeito de comparação.

A visão capitalista neocolonial de mundo do governo Temer e, agora, do governo Bolsonaro organiza a cultura nacional através dos mass media. A visão-de-mundo em tela legitima a fabricação da gramática da república neofascista das famílias e clãs cariocas (RobertoMarinhos, Bolsonaros, Guedes). 

                                                                              IV

O leitor deve estar se perguntando como o planeta chegou  à situação atual da conjuntura capitalista asiática como efeito da história econômica industrial capitalista. O neomercantilismo do final do século XIX ergueu o capitalismo europeu colonial fazendo de geoespaços do terceiro mundo mercados de consumo das mercadorias das metrópoles capitalistas. Trata-se do colonialismo capitalista tout court.

Na produção da contemporaneidade, um novo colonialismo nos espera como atractor no horizonte da era da globalização do capitalismo corporativo mundial (Bandeira da Silveira; 2002). A Venezuela é uma colônia econômica chinesa. A África está em um processo de recolonização, agora, pelo capitalismo asiático.  A Argentina pode enviesar para um capitalismo neocolonial do terceiro mundo com o colapso da política de Macri. Após o fracasso retumbante da política econômica do sr. Paulo  Guedes, o Brasil não terá saída a não  ser evoluir para o  capitalismo neocolonial do terceiro-mundo?

O estado de violência real gerado por uma stásis dos de baixo, entre nós, já é um efeito da decadência de nossa civilização industrial. Trata-se de um efeito da história econômica do capitalismo tupiniquim. A China já se ofereceu para fazer do Brasil um protetorado do capitalismo industrial asiático. Ela quer colonizar com gente (camponeses inclusive) e coisas (e internet das mercadorias)  o Brasil.

Quem não tem cão, caça com gato?

O colapso da política do banqueiro Paulo Guedes poderá resultar na formação de um novo governo econômico na era Bolsonaro?  O governo econômico do sr. Guedes é uma ditadura neofascista sustentada por um governo criptomilitar. O colapso da ditadura Guedes poderá provocar uma mudança de direção na política econômica? Só há uma direção que pode surgir como alternativa à ditadura Guedes. Já falamos do neomercantilismo pan-americano latino. Este necessita de ideias econômicas que só serão produzidas em um espaço procedural a ser criado no Brasil e na América-Latina.

Uma ideia é a transformação do Estado getulista 1988 em um Estado neomercantilista do século XXI. Para isto, a organização da cultura nacional tem que ser arrancada das garras neocoloniais dos mass media.

Como fazer?     

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Capitalismo corporativo mundial.Papel & Virtual (PUC/RJ), 2002.       


        



           

    





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