sábado, 26 de novembro de 2016

ESQUECER A DITADURA TERRORISTA DE UM HOMEM SÓ?

José Paulo Bandeira

Fidel Castro morreu de morte natural. O Partido Comunista Lacaniano (PCL) tinha resolvido não fazer comentários sobre o homo homini lupus caribenho. Ao assistir na GloboNews uma entrevista de uma hora com uma brasileira da Okhrana (sinistro serviço secreto cubano) biógrafa infame juramentada do serviço secreto negro e do próprio Fidel, resolvi estabelecer um novo patamar gramatical para o debate público procedural sobre o fidelismo nas Américas. O motivo imediato dessa intervenção foi a acusação (secundada pela entrevistadora da GloboNews) de que os críticos do DITADOR FASCISTA CARIBENHO usam como fonte a C.I.A. 

Eis uma pequena amostra do que pode ser o debate do PCL sobre Fidel e a conjuntura das guerrilhas e do terrorismo urbano da esquerda latino-americana no Brasil. 

A urgência de publicar esse pequeno texto hoje, me fez sacrificar a criteriosa revisão final do texto. Peço desculpas sinceras por esse grave pecado/predicado gramatical.       
                                                                                  I
Ruy Mauro Marini foi o principal teólogo gramatical brasileiro da revolução proletária latino-americano. Seu ponto de partida dizia que o desenvolvimento do capitalismo mundial gerava o sub-desenvolvimento latino-americano. Ele concebeu a dependência econômica como a fase de internacionalização do capital produtivo em direção à periferia, incluindo a América Latina.

 Nas décadas de 1960 e 70, a América Latina vive a generalização das relações de produção capitalista na cidade e no campo (Marini: 18). Assim, não fazia sentido em defender uma revolução democrática nacional burguesa. A única revolução possível e desejada era a revolução socialista em toda a América latina. 

O triunfo do socialismo em cuba era o ponto de partida de uma linha de força baseada em uma estratégia fatal: “L’action internationaliste de Guevara, la politique révolucionnaire de Cuba annoncent la réponse que les peuples du continent donneront à leurs oppresseurs (Marini: 27). 

No entanto Marine foi um crítico da máquina de guerra blanquista/castrista. No caso brasileiro, ele associava a existência desta máquina a entrada na luta armada da pequena burguesia estudantil:
Dans cette perspective, le mouvement de 1968, outre qu’il eut un caractère stratégique défensive, ne regroupa que des forces limitées. On est donc loin de compter sur l’action résolue des masses contre le régime d’oppression et d’exploitation qui les asservit. C’est ce que la stratégie de la majorité des organisations de gauche confirme, bien qu’elle ne l’admette pas consciemment. Sans renoncer à l’interpréter comme elle le fait en termes de guerre révolucionnaire, ele croit nécessaire de former de petits groupes armés dans la villes et les campagnes afin d’élever l’esprit de lutte des masses. Autant admettre que ces masses ne sont pas encore prêtes à agir. L’esprit d’heroisme et de sacrifice que reflète em définitive l’elitisme et le paternalisme propres à la petit bourgeoisie, accentue cette tendenca. Il se reflète non seulement dans la conduit des organisations, mais aussi dans la psychologie du militant” (Marini: 125-126). 

Marini ensinava como um rhetor precipio do marxismo brasileiro que o aparelho clandestino – máquina de guerra terrorista - tinha como finalidade o trabalho de agitação e organização das massas. Para este revolucionário da linha do marxismo brasileiro não-universitário: “Défendre la nécessité du travail de masse ne veut pas dire rejeter l’action des petits groupes. Son trait le plus notoire, le terrorisme urbain, peut parfaitement se combiner au travail de masse pourvu qu’il ne s’y substitue pas et ne tende pas à devenir l’élément central d’une action révolucionnaire” (Marini: 127). 

O modelo marxista de interpretação da política sublinhava a relação da lógica de classe com a psicologia pequeno burguesa do militante e também com o modelo de organização blanquista elitista que ele atribuía um sentido pequeno burguês. Talvez se pensarmos o aparato terrorista como condensação da metaphysis da cultura política econômica -  ou seja, como máquina de guerra teológica terrorista da metaphysica da sociedade cubana do DITAADURA DE UM SÓ HOMEM (FIDEL CASTRO) - seja possível dar um passo adiante.

A máquina de guerra terrorista já era condensação de cultura política populista de esquerda em uma versão latino-americana. O partido blanquista foi uma máquina de guerra criada por uma máquina de guerra biográfica: August Blanqui. Este é fruto da cultura populista revolucionária da Revolução Francesa: “ En efecto, las facciones republicanas habían tomado partido por los girondinos o los montagnards, por Danton Robespierre o Marat. En cambio Blanqui y sus discípulos se consideraban los sucesores de los herbetistas, es decir, los membros de la izquierda jacobina, que tomaron su nombre del periodista popular Jacques-René Herbert” (Bernstein: 290). Tal cultura blanquista teve continuidade com los Narodovoltsy (os populistas russos) que se constituiu como uma máquina populista revolucionária e terrorista (Tvardovskaia: 210-226).

Isaac Deutscher retratou o momento da constituição da megamáquina de guerra stalinista. Em meados de 1929, “Stalin não disse o que deveria acontecer aos dois milhões de Kulaks, que com a família somavam cerca de dez milhões de pessoas, depois de perderem suas propriedades e de serem impedidos de participar das fazendas coletivas.  

Não demorou muito, a Rússia rural transformou-se num pandemônio. A maioria esmagadora dos camponeses enfrentou o governo numa oposição desesperada. A coletivização degenerou numa operação militar, numa guerra civil. Aldeias rebeldes viram-se cercadas de metralhadoras e não tiveram outro remédio senão capitular. Grandes massas de Kulaks foram deportadas para regiões distantes e despovoadas da Sibéria” (Duetscher: 292-293). 

Sobre as fazendas coletivas, Deutscher escreve: “A experiência tinha o aspecto de uma loucura prodigiosa, na qual as regras de lógica e todos os princípios de economia estavam de pernas para o ar. Era como se o país inteiro tivesse repentinamente abandonado e destruído suas casas e cabanas que, apesar de obsoletas e deterioradas, tinham existência real, mudando-se completamente para alguns ilusórios que, na verdade, não passavam de poucos andaimes recém-erguidos. Era como se o país, depois dessa louca migração, se tivesse lançado à fabricação de tijolos para as paredes das novas moradas e descoberto que não dispunham sequer do material indispensável para a feitura dos tijolos” (Deutscher: 294). 

O estalinismo é um passo além na concepção teórico-prática da política como credo quia absurdum (“Creio porque é absurdo”). O Urstaat stalinista bebe nesta fonte. A máquina terrorista stalinista foi a realização da satisfação da gramática niilista pulsão de morte descarregada sobre o povo tendo como objeto específico os Kulaks e a comunidade camponesa, em geral. 

Na origem de tal máquina, a razão gramatical não orienta a ação dela. Aí, Freud tem razão ao associar a máquina de guerra à psicose. O stalinismo é uma das megamáquinas de guerra psicóticas da história política universal. Ela concebeu a economia política como guerra contra uma população inteira de camponeses a partir de uma interpretação teológica negra psicótica das ideias de Engels sobre os camponeses (Idem: 292). 

O stalinismo é a ideologia marxista transformada em delírio político. Trata-se de delírio político que faz laço social: “Mas quem que quer, numa atitude de desafio desesperado, se lance por este caminho em busca de felicidade, geralmente não chega a nada. A realidade é demasiado forte para ele. Torna-se um louco; alguém que, a maioria das vezes, não encontra ninguém para ajudá-lo a tornar seu delírio real. Afirma-se, contudo, que cada um de nós se comporta, sob determinado aspecto, como um paranoico, corrige algum aspecto do mundo do mundo que lhe é insuportável pela elaboração de um desejo e introduz esse delírio na realidade (...) por um remodelamento delirante da realidade” (Freud. XXI: 100). 
O stalinismo transformou o socialismo em um delírio de massas que tinha (e tem) como motor a pulsão de morte (=mito). O stalinismo é o socialismo como delírio de massa mitológico. Marx era um profundo conhecedor do conceito de delírio de massas, ou delírio político: “Demonstra que, frente à velha sociedade, com suas misérias econômicas e seu delírio político, está surgindo uma sociedade nova”. A Comuna de Paris (1871) =e a primeira revolução proletária do planeta?  Historiadores franceses dizem que não havia operariado urbano industrial em Paris. 

Marx gerou o marxismo como uma máquina de guerra psicótica poética e ilustrada baseada no delírio político da sociedade do trabalho, sociedade dos neuróticos. A Revolução Bolchevique na Rússia em 1917 é a materialização leninista de tal delírio de massas. O stalinismo tem linhas de força delirante de massas que ligam Stalin à Marx (o Lutero marxista) e a Lênin (o Calvino marxista).                 

No livro marxista mais completo sobre a história da URSS, Charles Bettelheim dissecou o stalinismo. Ele reconstruiu a metamorfose teológica gramatical do stalinismo em populismo. O nacionalismo stalinista tinha ligação com o passado imperial do tzarismo. A ideologia do terror foi desenvolvida como laço social, ou seja, no conjunto da sociedade (Bettelheim. Les dominants:  58-59). 

A população possui a crença na existência do complô capitalista contra a URSS, gramatica de um delírio psicótico de massas usado como semblância para conter a esquerda intelectual cubana que faz oposição à DITADURA DE UM SÓ HOMEM HOMOFÓBICO:
“Quando Lunes desapareceu, este cosmopolita habaneiro ficou oito meses sem trabalho (como Padilla agora), vivendo às custas de sua mulher, que era atriz de teatro e televisão. O governo revolucionário (DE FIDEL CASTRO) literalmente não sabia o que fazer com meu caso (CABRERA INFANTE), entre outras coisas porque meu apartamento do Reino Médico era o centro de reunião de intelectuais cada vez mais numerosos, cada vez mais descontentes, cada vez mais atrevidos. Foi por essa razão que me ofereceram este obscuro cargo de segundo secretário numa embaixada de segunda, que ninguém queria, nem eu. Foi por esta razão que me estenderam o tapete (voador) vermelho para sair de Cuba pela segunda vez e definitiva, já que a casa de meus pais se enchia toda noite de intelectuais e artistas não mais descontentes ou desanimados, mas perseguidos, alguns por serem homossexuais, outros por serem heterodoxos, todos por serem desobedientes, porque a desobediência é o único crime que a Nova Igreja Ortodoxa não perdoa. Alguns desses amigos, desesperados e arrastados pela esteira militante deixada por Allen Ginsberg antes que o deportassem para Cuba, queriam mesmo redigir manifestos (na época a pederastia e o lesbianismo eram crimes políticos idênticos ao abstracionismo: os invertidos culpados como os rr) e desfilar diante do Palácio com cartazes: Homossexuais de todo o país, uni-vos! Não há nada a perder além do sexo”. (Infante: 51)                   

Retomo ao fluxo gramatical principal. O terror de massa foi montado a partir da guerra anticamponesa e na ofensiva antiobreira (Idem. Les dominés: 210-214). Bettelheim associa o fascismo teológico soviético ao uso que Stalin fez do Prefácio de 1859 à Crítica da economia política (Idem. Les dominants: 72-73). 

Neste texto, as forças produtivas aparecem como motor da história universal. Trata-se da teologia economicista da história política universal. Abreviando, a máquina de guerra stalinista baseava-se na lógica de transformação da sociedade de classe soviética em sociedade sem classe, sociedade fundada sobre o povo. A ideia de povo ligou o stalinismo ao populismo russo (narodnik). O stalinismo transformou o populismo em uma máquina de guerra fascista socialista-Com Stalin, o populismo tornou-se indissoluvelmente ligado ao totalitarismo. O stalinismo fez do populismo um artefato simbólico da cultura política totalitária-fascista de esquerda.

                                                                                 II

Na Itália de 1960, máquinas de guerra terroristas se tornaram um fenômeno fatal da política nacional. Nesta época, a comunidade jurídica se transformou em uma potente, insidiosa e funesta máquina de guerra heideggeriana. 

Em um tribunal inquisitorial que encenou uma farsa, tal máquina condenou Antonio Negri como suposto chefe das Brigadas Vermelhas (BVs): “Mas, muito pelo contrário, nada disto se produziu, havemos de concluir que os verdadeiros chefes das BVs têm, uma vez mais, o mesmo interesse que o nosso Estado em fazer crer que Negri e Piperno são seus chefes. Esta nova convergência de interesses entre o Estado e as BVs não é nada fortuita nem extraordinária, e não pode surpreender senão os estúpidos que não se apercebem que as BVs são o Estado, ou seja, um dos seus múltiplos apêndices armados” (Sanguinette: 20). 

Antonio Negri é, provavelmente, o herdeiro mais brilhante e culto em filosofia marxista ocidental de Antonio Gramsci na cultura marxista europeia. Na trilha que Althusser percorreu na articulação de Spinoza com Marx, Negri reconstrói o artefato simbólico gramsciano Príncipe em filosofia marxista da modernidade italiana. Em Negri, o Partido Comunista não é mais o Príncipe. Não tenho como discutir neste breve texto a concepção do Príncipe negriano. No entanto, seu influente livro sobre Spinoza “A anomalia selvagem” não concebe a política como guerra:
“La libération s’est faite liberté. Le processus atteint son résultat. L’infini n’est pas organisé comme objet, mais comme sujet. La liberte, c’est l’infini. Tout intermédiaire métaphysique dans la recherche de la liberté a été dissous, faisant place à la décision constitutive de la liberté. La série tout entière des conditions à partir desquelles s’est construit le monde est maintenant donnée comme présence. Présence refondatrice de l”action. Tel est le cri ultime de la construction spinozista: elle a en fait réalizé as dissolution systematique, pour l’amener à la vérité de l’action éthique, comme affirmation de la vie contre la mort, de l’amour contre la haine, dela joie contre la tristesse, de la socialité contre l’abrutissement et la solitude. Ici commence donc la vie. La certitude de la connaissance et du progrès réside dans la liberte” (Negri. 1981: 263). 

Spinoza concebeu a pulsão de vida, antes de Freud, como potência e poder de constituição do mundo da vida e da política in nuce. A revolução proletária deve ser lida a partir desta concepção e não através do significante hegel-gramsciano de hegemonia. Tal revolução significa o fim da soberania da cultura política freudiana na história política universal, que tem como motor a pulsão de morte (=mito). A revolução proletária seria a verdadeira passagem do mito à história.

O spinozismo de Negri se transforma em uma crítica demolidora do populismo terrorista (Blanqui/Narodinik/Stalin) e da cultura totalitária republicana (jacobina). Os dois artefatos simbólicos constitutivos da Máquina de guerra terrorista: 
“Questo problema non è certo riconducibile ala tradizone; tenendoci solo a due esempi, il linguaggio populista e quello giacobino, bene, sono entrambi per noi inassumibile. Perché l’uno – quello populista – appiattisce l’innovazione sulle tradizione; l’altro – quello giacobino – esaspera l’utopia in contenuto normativo; il primo trasdice la ‘verità del movimento’ nella sua filologica devozione alla veritá, il secondo esalta il movimento  come veritá, ne trasferisce cioé l’immediatezza nella parola, nega la complessità della creazione di un linguaggio vero (...) Entrambe queste forme linguistiche sono poi del tutto entranee alla qualità produttiva dell’operaio sociale , alla natureza creativa della attuale composizione di classe. Ed è qui, è solamente qui, nella nuova composizione di classe, che la ricerca deve quindi essere portata” (Negri. 1980: 28)

Negri foi encarcerado pela democracia italiana cujo aparelho judicial (máquina de guerra jurídico-heideggeriana) era articulado por uma lei que, materializada em um dispositivo policial, podia manter um acusado na prisão por dez anos sem qualquer processo legal: “Quando o arbitrário já não teme apresentar-se como aquilo que sempre foi, quando o ser-se culpado ou inocente já não tem qualquer importância, pois a condenação passa a ser a única certeza” (Sanguinete: 17). 

Antonio foi vítima desta atroz máquina de guerra jurídica. Ele que sempre criticou o pensamento revolucionário que concebe a política como guerra: “Impariamo a comunicare, construiamo questi nuovo códice di transmissione – dentro la guerra, contro la guerra” (Negri. 1980: 29). 
A primeira vista, nenhuma época -  a não ser o Baixo Império romano – foi tão juridicializada como a conjuntura pós-Segunda Guerra Mundial em países como a Itália (Poulantzas: 241). A máquina de guerra jurídica heideggeriana instala uma crise permanente na comunidade jurídica, fato sublinhado por Dominique Charvet: “E é certamente uma batalha, uma guerra “civil” que a justiça conduz quotidianamente para impor a norma social, seja entre particulares, seja entre particulares e sociedade. Nesta perspectiva, a democracia representativa-justa torna-se um dos impossíveis freudianos, ao lado do governar, educar e psicanalisar (Freud. v. XXIII: 282).   

A máquina de guerra jurídica-heideggeriana era a vanguarda de um exército político, ponta de lança do Urstaat Okhraniano italiano. A democracia italiana era, especialmente, uma democracia despótica dirigida por partidos associados à máfia sob tutela da Okhrana italiana - dos serviços secretos italianos (SISDE, SISMI, CESIS, DIGOS, UCIGOS). 

E estas são somente as siglas dos serviços secretos oficiais (Sanguinete: 21). O Urstaat também operou através das máquinas de guerra terrorista/populistas como as BVs. Após Segunda Guerra mundial, o serviço secreto americano (Okhrana do complexo industrial-militar) articulou a integração da máfia ao bloco no poder italiano como uma arma política para conter o avanço do PCI.

As máquinas terroristas/populistas eram um artefato político produzido pela luta de classes e a crise orgânica do Estado italiano? Esta é uma hipótese conjuntural que tem força de realidade. No entanto, tais máquinas aparecem, pari passu, em uma conjuntura mundial dominada, cada vez mais, pela aceleração histórica da cultura política totalitária, ou melhor, fascista teológica. Negri foi um objeto retaliado sexualmente por tal fascismo teológico acusou o teórico da revolução comunista proletária mundial de ser chefe do populismo terrorista das BVs. (Brigadas Vermelhas)

Ao não negar que Negri era seu chefe, as BVs se integraram ao Urstaat-Okhrana italiano e à sociedade do espetáculo debordiana que constituíam um artefato único amalgamando terrorismo burguês republicano e terrorismo populista “revolucionário”. 

Tal artefato era o produto da subjetividade territorial do americanismo cum industrialismo, na velha língua política, da cultura capitalista totalitária que surgiu após a Segunda Guerra Mundial (Marcuse: 32, 34, 50). Na década de 1960, um brilhante sociólogo português pós-moderno - Boaventura de Souza Santos - não leu Marcuse como o pensador marxista que concebeu o devir capitalista como cultura capitalista totalitária, inclusive, nas primeiras décadas do século XXI (Santos: 246).  
                                                                     III

Nas ciências sociais, o pós-modernismo se perdeu em um labirinto barroco! Agora, chegou a hora de reconstruir a discussão de Karl Popper sobre o totalitarismo. No livro “A sociedade aberta a seus inimigos”, ele concebeu o totalitarismo (tela gramatical teológica fascista) como um artefato simbólico que já pode ser encontrado na filosofia grega da antiguidade. 

No entanto, o totalitarismo moderno seria parte da cultura política totalitária/historicista que tem em Hegel seu ponto de origem. Hegel teria usado os elementos totalitário do pensamento da antiguidade grega para construir os axiomas do historicismo moderno (Popper. 1959: 26). 

O stalinismo seria a matriz teológica da cultura política totalitária (historicismo econômico) que concebe a história e a política tendo como motor o desenvolvimento econômico. E põe no lugar da classe escolhida o povo escolhido (o povo soviético): populismo stalinista. A URSS significava o devir do mundo como fim da história política universal. Popper diz que: “E os que nisso acreditam extraem daí certeza com referência ao resultado final da história humana” (Popper. 1959: 25). 

FHC – DO MARXISMO HEGELIANO AO FASCISMO TEOLÓGICO BURGUÊS.                                                                               
A USP leu Hegel no departamento de filosofia política. FHC mantinha um diálogo amigável com tal departamento. Não sei se ele extraiu deste diálogo a ideia de um Hegel totalitário. A versão FHC de Hegel é categórica peremptória e bombástica: “Na sociedade burguesa a relação entre o Estado e a Sociedade aparece pois como contraditória e como fonte de alienação. A alienação dos homens – sua incapacidade de reconhecer-se no estado e de reconhecê-lo como a expressão objetiva de suas vontades coletivas – levá-los-ia à Religião. Mas, para Hegel, a superação desta contradição, seria possível pela mediação do próprio estado. Na relação entre Família, Mercado e Estado, este último constitui a categoria fundamental (fundante) do processo de desenvolvimento histórico” (CEBRAP21.Cardoso: 7). 

Havia a vontade intelectual de FHC de constituir um polo de marxismo hegeliano liberal no Brasil? Daí ele sacrifica Hegel (na mesma linha de pensamento de Popper) como pensador do totalitarismo da filosofia moderna? Ele desconsidera a dialética hegeliana (ele faz uma apropriação positivista de Hegel) do discurso do mestre e a ideia de hegemonia hegeliana que Gramsci transformou em uma contramáquina: Príncipe moderno. 

No entanto, ele descarta a interpretação de Popper: “Surge assim uma imagem do Estado que só na aparência se assemelha ao Leviatã”. (Idem: 70).  

Em Gramsci o Partido Comunista deveria ser uma contramáquina hegemônica antinômica ao Partido Stalinista: máquina de guerra psicótica. De qualquer modo, não estamos, no Brasil, no grau zero da discussão sobre o totalitarismo e Hegel. O trabalho consiste em extrair a ganga bruta da ideologia contrahegeliana que bloqueia o uso da obra de Hegel na experiência de pensar a tela gramatical teológica fascista brasileira no século XXI.       

A propósito, FHC criou o partido da social democracia brasileira na década de 1980. FHC governou o país durante 8 ANOS. Hoje esse PSDB se tornou um partido teológico fascista burguês de apoio tático imprescindível à pinguela econômica (governo Temer caiu hoje sem o poio de FHC e do sobrinho gramatical teológico de Tancredo Neves, Aécio Neves chefe formal do PSDB fascista teológico burguês) para o futuro. 

BETTHELHEIM, Charles. Les luttes de classes en URSS. 3ème période. 1930-1041. Les dominés. Paris: Seuil/Maspero, 1982
BETTHELHEIM, Charles. Les luttes de classes en URSS. 3ème période. 1930-1041. Les dominants. Paris: Seuil/Maspero, 1983
BERARDO, João Batista. Guerrilhas e guerrilheiros no drama da América latina. SP: Ediçoes Populares, 1981
CARDOSO, Fernando Henrique. CEBRAP 21, 1977. Estado capitalista e marxismo. Editora Brasileira de Ciências Sociais LTDA. 
FREUD. Obras Completas. XXIII. RJ: Imago, 1975  
INFANTE, Guillermo Cabrera. SP: Companhia das Letras, 1996
MARINI, Ruy Mauro. Sous-développement et révolution en Amérique Latine. Cahiers libres 217-218. Paris: Maspero, 1971
NEGRI, Antonio. Il comunismo e la guerra. Milano:  Editora Feltrinnelli, 1980
NEGRI, Antonio. L’anomalie sauvage. Puissance et pouvoir chez Spinoza. Paris: PUF, 1981
POPPER, Karl. A sociedade democrática e seus inimigos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959
SANGUINETTI, Gianfranco. Do terrorismo e do Estado. A teoria e a prática do terrorismo divulgadas pela primeira vez. Lisboa: Antígona, 1981
DEUTSCHER, Isacc. Stalin. A história de uma tirania. Tomo 1. RJ: Civilização Brasileira, 1970
TVARDOVSKAIA, Valentina A. El populismo russo. Espanha: Siglo XXI, 1978  

BERNSTEIN, Samuel. Blanqui y el blanquismo. Espanã: Siglo XXI, 1975

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