terça-feira, 29 de outubro de 2024

idealismo, materialismo, perversão, comunidade

 

José Paulo

 

LENIN diz que a história da metafísica é a stásis [rebelião, revolta, insurreição, guerra civil] entre dois partidos: idealismo e materialismo. (Lenin1975\; 267-268). O ecletismo é a mistura de idealismo e materialismo em um discurso filosófico. Ele não se constitui em um partido da filosofia na história da civilização europeia.

Marx parte do choque entre filosofia e ciência política materialista desde a antiguidade greco-romano. A filosofia é ideologia, é o partido do idealismo, pois, ideologia é a lógica idealista da ideia. A ciência é materialista, pois, lida com os fenômenos materiais do campo da história. Como já explanei até me empanturrar da posição de Marx, me dou o direito de não citar onde se encontra a posição de partido dele, Marx.

Gramsci é o mais importante especialista do fenômeno ideológico; ele rechaça a ideia de que ideologia é pura aparência, inútil, estúpida etc. (Gramsci. 2015: 237). Há ideologias arbitraria, racionalistas, <voluntaristas>. Mas podem ser historicamente necessárias, e assim as ideologias têm uma validade que é validade <psicológica>; elas <organizam> as massas humanas, formam o terreno no qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam etc. Gramsci deixou ao lado da ideologia a gramática, a tela gramatical narrativa. (Gramsci. 1977: 2341-2345). A discussão se a ciência é do campo das ideologias ou do campo das gramáticas ainda é algo a ser descoberto e inventado no marxismo ocidental:

“A questão mais importante a ser resolvida com relação ao conceito de ciência é a seguinte: se a ciência pode dar , e de que maneira, a <certeza> da existência objetiva da chamada realidade exterior. para o senso comum, esta questão nem sequer existe, mas onde se originou a certeza do senso comum? essencialmente da religião (pelo menos do cristianismo, no Ocidente; mas a religião é uma ideologia, a ideologia mais enraizada e difundida, não uma prova ou uma demonstração. É possível demonstrar que é um erro exigir da ciência como tal a prova da objetividade do real, já que esta objetividade é uma concepção do mundo, uma filosofia, não podendo ser um dado científico. Que pode dar a ciência nesta direção? A ciência seleciona as sensações, os elementos primordiais do conhecimento: considera determinadas sensações como transitórias, como aparentes, como falazes, pois dependem de condições individuais especiais, ao passo que considera determinadas outras como duradoras, como permanentes, como superiores às condições individuais especiais”. (Gramsci.2015: 173).

A ciência não parece depender da comunidade psíquica de gramática do indivíduo especial, o gênio do romantismo alemão:

“O trabalho científico tem dois aspectos principais: um que retifica incessantemente o modo de conhecimento, retifica e reforça os órgãos sensoriais, elabora princípios novos e complexos de indução e dedução, isto é, aperfeiçoa os próprios instrumentos de experiência e de sua verificação; outro que aplica este complexo instrumental [de instrumentos materiais e mentais] para determinar, nas sensações, o que é necessário e o que é arbitrário, individual, transitório. Deter4mina-se o que é comum a todos os homens, o que todos os homens podem verificar da mesma maneira, independente uns dos outros, porque foram observadas igualmente as condições as condições técnicas de verificação. <Objetivo> significa precisamente e apenas o seguinte: que se afirma ser objetivo, a realidade objetiva, aquela realidade que é verificada por todos os homens, que é independente de todo ponto de vista puramente particular ou de classe social. Mas, no fundo, também esta é uma concepção do mundo, uma ideologia. Todavia, esta concepção – em seu conjunto e pela direção que assinala – pode ser aceita pela filosofia da práxis, enquanto deve ser rejeitada a do senso comum, embora ela conclua materialmente da mesma maneira”. (Gramsci. 2015: 173-174).

O homem comum tem uma posição ideológica que não deve ser desprezada, e no entanto, a comunidade psíquica de gramatica do cientista é a proprietária do conceito de realidade da história da civilização ocidental:  

“O senso comum afirma a objetividade do real na me3dida em que a realidade, o mundo, foi criado por Deus independentemente do homem, antes do homem; ela é3, portanto, expressão da concepção de mitológica de mundo; o senso comum, ademais, ao descrever esta objetividade, incide nos erros grosse3iros, em grande parte, ele ainda permanece na fase da astronomia ptolomaica, não sabe estabelecer os nexos reais de causa e efeito etc., isto é, afirma ser ‘objetiva’ uma certa ‘subjetividade’ anacrônica, já que nem sequer sabe conceber a possibilidade de existência de uma concepção subjetiva do mundo e o que isso queria ou possa significar. Mas tudo isto que a ciência é ‘objetivamente’ verdadeiro? De modo definitivo? Se as verdades científicas fossem definitivas, a ciência teria deixado de existir como tal, como investigação, como novas experiências, reduzindo-se a atividade científica à repetição do que já foi descoberto. O que não é verdade, para a felicidade da ciência. Mas, se nem mesmo as verdades científicas são definitivas e peremptórias, também a ciência é uma categoria histórica, um movimento em contínua evolução. Só que a ciência não coloca numa forma de ‘incognoscível’ metafísico, mas reduz o que o homem não conhece a um empírico ‘não conhecimento’ que não exclui a cognoscibilidade, mas a condiciona ao desenvolvimento dos instrumentos físicos e ao desenvolvimento da inteligência histórica dos cientistas individuais”. (Gramsci. 2015: 174)   

O homem comum de Gramsci é o homem europeu da década de 1930. O conhecimento europeu depende do cientista individual. O conhecimento do real é o sintoma do cientista que descobre e inventa gramáticas de sentido da realidade europei8a. Ora, Freud se considerava um cientista do campo da psicanálise. Freud mudou a imagem textualizada do homem comum? para ele os homens não são semelhantes a homens, há dissemelhantes, isto é, heterogêneos e há  heteróclitos na psicopatologia da vida cotidiana. Gramsci diz que Freud fala do homem comum. A revolução freudiana ocorre na tela da gramática narrativa e não no campo das ideologias:

“33. Freud. Ac difusão da psicologia freudiana parece dar como resultado o nascimento de uma literatura tipo século XVIII; o <selvagem>, numa forma moderna, é substituído pelo homem freudiano. A luta contra a ordem jurídica é feita através da análise psicológica freudiana. Ao que parece , esse é um aspecto da questão. Não pude estudar aqs teorias de Freud e não conheço o outro tipo de literatura chamada <freudiana>: Proust-Svevo-Joyce”. (Gramsci. 2015: 229).  

Gramsci faz o laço social de Freud com o liberalismo:

“Deve-se ver se o freudismo não devia necessariamente concluir o período liberal, que se caracteriza precisamente por uma maior responsabilidade (e sentimento de dessa responsabilidade) de grupos selecionados na construção de <religiões> não autoritárias, espontâneas, libertárias etc.”. (Gramsci. 2015: 265).

Gramsci acaba por pensar a gramatica de sentido do campo freudiano como  um passo adiante na história do homem da civilização ocidental:

“Até agora todas as mudanças do modo de ser e de viver deram-se por coerção brutal, isto é, através do domínio de uma classe social sobre todas as forças produtivas da sociedade: a seleção ou <educação> do homem, adaptada aos novos tipos de civilização, isto é, às novas formas de produção e de trabalho, deu-se com o uso de brutalidades inauditas, lançando no inferno das subclasses os fracos e os refratários ou eliminando-os totalmente. Em todas as chegadas de novos tipos de civilização, ou no decorrer do processo de desenvolvimento, houve sempre crises. Mas quem é que foi apanhado por estas crises? Não as massas trabalhadoras, mas as classes medias e uma parte da própria classe dominante, que tinham sentido, também elas, a pressão coercitiva, que era necessariamente exercida sobre toda a área social. As crises do libertinismo foram numerosas: cada época histórica teve a sua”. (Gramsci. 1974: 162).

Por não aplicar a sua ideia de tela gramatical em sua análise concreta, Gramsci chama a gramática Protestante como ideologia:

“Quando a pressão coercitiva é exercida em todo o conjunto social (e isto dá-se especialmente depois da queda da escravatura e com o advento do cristianismo), desenvolveu-se ideologias puritanas que dão a forma exterior da persuasão e do consenso ao uso intrínseco  da força; mas uma vez que o resultado foi atingida, pelo menos numa certa medida, a pressão despedaça-se (historicamente, esta fratura verifica-se nos mais variadíssimos modos, como é natural, porque a pressão sempre assumiu formas originais, muitas vezes pessoais: identificou-se com um movimento religioso, criou um aparato próprio que se personificou em determinados estratos ou castas, tomou o nome de Cromwell ou de Luís XV, etc. ) e dá-se a crise do libertinismo )a crise francesa depois da morte de Luís XV, por exemplo, não pode ser comparada com a crise americana depois da chegada de Roosevelt, ne o proibicionismo se acha já nas épocas precedentes, com o seu séquito de gangsterismo etc. ) [...] também o proibicionismo não foi querido pelos operários, e a corrupção que o contrabando e o gangsterismo trouxeram consigo estava difundida nas classes superiores”. (Gramsci. 1974: 162-163).

A gramática de sentido sexual freudiana é relida pelo marxismo ocidental.

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A ideia de transpolítico [fim da política moderna] aparece na viagem que Baudrillard faz de carro na América:

“O Transpolítico encontra na transversalidade do deserto, na ironia da geologia, o seu espaço genérico e mental”. (Baudrillard.1986: 10. O transpolítico é a transparência e a obscenidade de todas as estruturas em um universo desestruturado, a transparência da obscenidade do social nas massas:

“Fin de la scène de l’histoire, fin de la scène du politique, fin de la scène diu phantasme, fin de la scène du corps – irruption de l1obscène. Fin du secret – irruption de la transoparence”. (Baudrillard. 1983: 29).

O transpolitico é a gramática de sentido da perversão sem aparências de semblância, sem teatro, sem essência e o aparecer do fenômeno. Baudrillard viu na natureza geológica americana uma metafísica perversa:

‘A própria ideia de milhões e de centenas de milhões de anos que foram preciso para assolar aqui a superfície da terra com doçura é uma ideia perversa [...]”. (Baudrillard. 1986).

Marx vê a gramática de sentido da perversão n fetichismo da mercadoria:

“À primeira vista, a mercadoria parece se coisa trivial, imediatamente compreensível. Analisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheia de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas. (Marx.1977: 68).

Marx esclarece o mistério metafísico e teológico da mercadoria:

“Longe disso, o valor transforma produto do trabalho em um hieroglifo social”. (Marx. 1977: 70).

O livro “O capital”, tem no trabalho produtivo de mais-valia privada a essência da superfície como o aparecer do fenômeno mercadoria como fetiche. Baudrillard diz que a pós-modernidade do americanismo é o real da foraclusão da gramática de sentido dialética materialista. Adeus ao, “O capital” de Marx:

É completamente impossível entender “O capital” de Marx, e em especial o primeiro capítulo, sem haver estudado e entendido a fundo toda a Lógica de Hegel. Por conseguinte, faz meio século que os marxistas não entenderam a Marx”. (Lenine. 1984. V. 38: 170).

A essência do capital é o grande Outro real perverso do campo político conjuntural. Essa essência se manifesta na formação social como um fenômeno desenvolvido ou subdesenvolvido:

“Ora, de um discurso suficientemente desenvolvido resulta que, sejam vocês quantos forem e quer estejam aqui ou nos EUA, dá na mesma, e além disso, por outro lado vocês são subdesenvolvidos em relação a esse discurso”. Lacan. S. 18: 48-49). O grande Outro real do capital existe como discurso do capitalista como fenômeno que abrange o fetichismo da mercadoria. O discurso publicitário organiza a superfície do capital pelo fetichismo da mercadoria. O auditório de Lacan nos EUA é agenciado por um discurso subdesenvolvido do capital americano. Como isto é verossímil?

Lenin ajuda a entender tal fato?     

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Lenin fala do Estado e da gramática:

“ A constituição de um Estado , junto com sua religião...filosofia, pensamento, cultura, <forças exteriores> (clima, vizinhos), constitui ‘uma substância, um Espírito”. (Lenine. 1984. V. 38: 293).

  O Estado é o espírito da lei. (Taminieux: 57). O Estado é a tela gramatical narrativa em uma língua nacional realização em uma gramática de sentido de uma Constituição:

A linguagem é o mais rico entre os povos em estado primitivo, subdesenvolvido – a linguagem se empobrece com o avanço da civilização e o desenvolvimento da gramática”. (Lenine. 1984. V. 38: 294).      

O avanço da civilização se deve à evolução das relações técnicas de produção que afetam a gramática culta de uma língua nacional. O inglês falado nos EUA viria a se tornar uma gramática subdesenvolvido?

“O caráter uniforme e repetitivo do texto impresso criou a aritmética política do século dezessete e o cálculo hedonístico do século dezoito”. (MacLuhan: 283).

O texto impresso cria a gramática de sentido do campo político barroco. não se pode falar de gramática subdesenvolvida em relação a gramáticas orais, espontâneas. A riqueza da gramática impressas se revela nos fenômenos da superfície política ocidental:

“A palavra impressa criou a uniformidade nacional e o centralismo governamental, mas também criou o individualismo e a oposição ao governo, como tal”. (MacLuhan: 318).

Bem!:

“Assim, por exemplo, hoje as crianças nas escolas, quando são convidadas a considerar o baixo nível mental do que lhes oferecido pelos meios de comunicação, ficam chocadas. Elas nutrem silenciosamente a ideia de que tudo o que o mundo adulto se empenha em realizar tem valor. Supõem que os adultos en masse jamais se entregariam à práticas perversas”> (MacLuhan: 331).

A complexidade da gramática de sentido da realidade, ou da experiência, era conhecida dos modernos:

“Vico concebe a estrutura-tempo da história como ‘não-linear, porém contrapontística. Tem que ser definida ao longo de várias linhas de desenvolvimento [...]’. Para Vico toda história é contemporânea ou simultânea, realidade decorrente, acrescentaria Joyce da própria língua”. (MacLuhan: 336).

A lógica do fetichismo/perverso do capital invadiu o campo política da literatura, e, portanto, da cultura:

“Á medida que a sociedade de mercado se definia, passava também a literatura ao papel de mercadoria de consumo. O público tornava-se o mecenas ou patrono. A arte mudou de função, deixando de ser o guia da percepção para se fazer uma das amenidades da vida, uma mercadoria corrente”. (MacLuhan: 3660

 Ao se tornar mercadoria, a arte se transforma em um hieroglifo social, em fetiche, perversão. Como relação técnica de produção na comunicação:

“Tivesse ele, Wilson, televisão à disposição, e teria ficado surpreso ao descobrir quanto os africanos a compreenderiam mais prontamente que o filme, pois com o filme a gente é a câmara, e o homem não alfabetizado não usa os olhos como um câmara. Com a televisão, no entanto, a gente é a tela. E o televiso é bidimensional e escultural em seus contornos táteis. Não é um meio para narrativa, não é tanto visual quanto audiotátil. Essa é a razão por que é empática e por que o modo ótimo da imagem na televisão é o desenho animado. O desenho animado empolga os nativos como as nossas crianças, porque é u mundo em que o componente visual é tão pequeno, que o espectador tem tanto a fazer quanto num jogo de palavras cruzadas”. (MacLuhan: 68).

Na TV, a lógica do fetichismo da mercadoria é a potentia que faz da dessa televisão o real de foraclusão da gramática da norma culta da língua inglesa falada nas escolas públicas para criança - nos EUA. A relação da TV com a comunidade tem algo a ver com o mundo letrado?:

“Com efeito, enquanto o homem não elevou desse modo o comportamento visual do seu sensorium, as comunidades não conheceram senão a estrutura tribal. A destribalização do indivíduo, pelo menos no passado, dependeu de uma imensa vida visual promovida e alimentada pela cultura letrada e de letras somente do tipo alfabético”. )MacLuhan: 73-74).

Lacan fala que o europeu e o americano são subdesenvolvidos em relação ao chinês:

“As culturas podem elevar-se artisticamente muito acima de civilização, mas sem o alfabeto fonético permanecem tribais, como se dá com as culturas chinesa e japonesa”. )MacLuhan: 80).

Lenin diz que os povos subdesenvolvidos não foram afetados pelo desenvolvimento da gramática da norma culta como os povos desenvolvidos. Os subdesenvolvidos em gramática culta são mais desenvolvidos em gramática de sentido da língua nacional. O português falado no Brasil é mais desenvolvido do que o português de Portugal. Om Inglês americano é mais desenvolvido do que o inglês da Inglaterra. A desintegração da gramática de sentido fonético pela televisão na língua do homem comum americano preparou o terreno para a mudança das relações técnicas de produção na internet: pátria do grau zero da gramática de sentido da norma culta em inglês nos EUA e na Inglaterra.    

A relação entre a civilização alfabética [fonética] e a comunidade de propriedade tribal é o essencial da discussão aqui. Comunidade e civilização se chocam na história moderna e pós-moderna. Eu sou a tela audiovisual do Youtube? Ou sou a câmara do Youtube/filme? Ou outra coisa qualquer? Ou sou a vontade de poder que desenvolve minha concepção política de mundo? Qual? Individual ou de comunidade psíquica de significante (CPS)?

Tocqueville pensou a CPS americana já como gramática de sentido estabelecida na relação do poder com o gozo?  

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Em Freud, a gramática de sentido da civilização do homem é a dialética essência/aparência. A essência do homem é a perversão. A aparência é o que aparece como fenômeno, isto é, a comunidade psíquica de significante: neurótico, psicótico, perverso. Em Guimarães Rosa, a civilização do homem é o SERTÃO:

“O gerais correm volta. Esses gerais são sem tamanha. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões...O sertão esta em toda parte”. (Rosa: 11).

O sertão ´a essência perversa que está em toda a parte; mas a gramática de sentido [pão ou pães] é do campo da doxa, fenômeno antes ou depois da ideologia. Como sintoma da democracia do americanismo, o sertão americano foi dito por Tocqueville:

“Au-dessus de ceux-là s’élève un pouvoir immense et tutélaire, qui se charge seul d’assurer leur jouissance et de veiller sur leur sorte. Il est absolu, détaillè, régulier, prévoyant et doux. Il ressemblerait à la puissance parternelle si, como elle il avait pour objet de préparer les hommes à l’âge viril; mais il ne cherche, au contrarie, qu’à les fixer irrévocablement dans l’enfance; il aime que les citoyens se réjouissent, pourvu qu’ils ne songent qu’à se réjouir. Il travaille vpolontiers à leur bonheur; mais il veut en être l’unique agente et l seul arbitre; il pourvoit à leur sé curité, prévoit et assure leus besoins, facilite leurs plaisirs, conduit leurs principales affaires, dirige leur industrie, règle lus successions, divise leurs héritages; que ne peut-il leur ôter entièrement le trouble de penser et la peine de vivre?  

O poder da democracia americano tem aparências de semblância paternais para a vida adulta. O homem normal da família surge dessa gramática de poder americano perversa que o lança mais e mais para a infância. A tela verbal narrativa do poder americano faz com que o homem americano não pense na comunidade. O poder americano perverso é verdadeiramente perverso, pois, tem como suporte as aparências de semblâncias autênticas da democracia da soberania popular:

“De acordo com a distinção que Portmann faz entre aparências autênticas e inautênticas, poder-se-ia falar de semblãncias autênticas e inautênticas. Estas últimas, miragens como a de alguma fada Morgana, dissolvem-se espontaneamente ou desaparecem com uma inspeção mais cuidadosa; as primeiras, como o movimento do Sol levantando-se de manhã para pôr-se ao entardecer, ao contrário, não cederão a qualquer volume de informação científica, porque esta é a maneira pela qual a aparência do Sol e da Terra parece inevitável a qualquer criatura presa à Terra e que não pode mudar de moradia”. (Arendt: 31).

A democracia americana é o significante-semblante. (Lacan. S. 18: 114). Os jogos de significantes da democracia aparecem como gramática de sentido de semblâncias autênticas. Donald Trump se apresenta como o sintoma do real da foraclusão do significante-aparência-americanismo.     

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A violência privada ou pessoal nos EUA é aquela de uma potentia psicótica grotesca? Não se observa que ela é uma violência teatralizada, ela tem aparências de semblância inautêntica. Então, ele pode ser uma práxis obra-de-arte do fetichismo, da lógica do fetichismo da mercadoria no campo político privado, campo do grande Outro perverso, isto é, o capital?

Deleuze:

“Igualmente que a relação do sádico com os fetiches é uma relação de destruição que deve ser interpretada pela forma de projeção em uso”> (Deleuze: 81).

Um professor criou um campo de ideologias freudiana bem verossímil:

“O fetiche ‘armadilha de Deus’ revela-se a ‘armadilha de homens’. A vontade de onipotência realizada (e o seu corolário, a fantasia de domínio total) é sempre uma vontade de destruição. (Enriquez: 262).

Como a generalização da mercadoria, a lógica do fetichismo faz da comunidade psíquica d significante perverso a gramática de sentido dominante no campo político do capital capitalista. Todavia, a stasis e a polemos (Schmitt: 55)) do século XXI já são efeito da lógica do fetichismo da mercadoria em um campo político feudal do dominante, como nos mostra o campo político dos EUA.

O fim do domínio da CPS-perversa põe e repõe uma discussão sobre o  significante-semblante do fenômeno comunidade em Marx:

“O conceito e associação de Marx não é teleológico como o de Aristóteles. A associação marxiana não é formada necessariamente com vistas a algum propósito determinado. É espontânea, consiste em uma agregação de potencias, uma simples composição de sujeitos. É, todavia, assim como a concepção de aristotélica, de certo modo natural – mas não decorre de um ‘fim’ natural senão da própria liberdade humana. O que poderia ser tomado como seu objetivo é na verdade seu efeito natural e espontâneo, o compartilhamento das consequências da ação e do pensamento daqueles envolvidos na associação”. (Pogrebinschi: 122).  

A comunidade de Marx é o sintoma de uma filosofia que foraclui o aparelho penal de Estado e o aparelho de hegemonia de Estado. E mais ainda. A comunidade de Marx é a abolição da comunidade psíquica de significante, como tal. Ela á a comunidade do general intellect, comunidade da espécie humana. (Habermas: 64). No essencial, a a filosofia da comunidade de Marx desfaz o laço social entre governo e gramática:

“Le philosophe n’aurait-il pas le droit de s’élever au-dessus de la foi que régit la grammaire? Tous nos respect aux gouvernantes; mais ne serait-il temps pour la philosophie d’abjures la foi des gouvernantes? (Nietzsche: 54).

Thamy resume os jogos de caligrafia de Marx:

“Afirmar que a comunidade é a forma política da verdadeira democracia e da emancipação implica aceitar que é definitivamente esse conteúdo conceitual que Marx teria em mente ao referir-se, em ‘A guerra civil na França’, à Comuna de Paris, á ‘sociedade comunista’ como aquela que adviria da superação da sociedade capitalista e do Estado no qual suas raízes encontram-se fincadas”. (Pogrebinschi: 166).

O fim do domínio da comunidade psíquica de gramática perversa já não  será o desparecer da gramática de sentido dialética/materialista civilização versus barbárie?

 

ARENDT, Hannah. A vida do Espírito. RJ: UFRJ, 1992

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ROSA, João Guimarães. Ficção Completa. V. 2. RJ: Aguilar, 1994

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TAMINIAUX, Jacques. Naissance de la ´philosophie hégélienne de l’État. Paris: Payot, 1984 

TOCQUEVILLE, Alexis. De la démocratie en Amérique. Paris: Gallimard, 1961   

    

          

        

    

 

     

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