José Paulo
O PÓS-MODERNISMO é a pré-história do campo político da
atualidade. A tela de gosto pós-moderna tem o fascismo como afeção de um campo
político rumo à ditadura de um Estado fascista/mafioso. Este é uma comunidade
psíquica linguística como potentia psicótica grotesca pura de transformação da
gramática de sentido democrática do campo democrático constitucional. Como a
filosofia/ciência pós-modernista vê o fascismo?
Baudrillard:
“O próprio fascismo, o mistério do seu aparecimento e da sua
energia coletiva, que nenhuma interpretação conseguiu esgotar (nem a marxista
com a sua manipulação política pelas classes dominantes, nem a reichiana com o
seu recalcamento sexual das massas, nem a deleuziana com a paranoia despótica)
pode interpretar-se já como sobrevalorização <irracional> dos
referenciais míticos e políticos, intensificação louca do valor coletivo (o
sangue, a raça, o povo etc.), reinjeção da morte, de uma <estética política
da morte>, um momento em que o processo de desencantamento do valor e dos
valores coletivos, de secularização racional e de unidimensionalização de toda
a vida, de operacionalização de toda a vida social e individual se faz já
sentir duramente no Ocidente. Mas uma vez, tudo serve para escapar a esta
catástrofe do valor, a esta neutralização e pacificação da vida. o fascismo é
uma resistência a isto, resistência profunda, irracional,, demente, não
interessa, não teria atraído esta energia maciça se não fosse uma resistência a
qualquer coisa ainda pior. A sua crueldade, o seu terror, ambos estão de acordo
com este outro terror que é a confusão do real e do racional, que s tem
aprofundado no Ocidente e é uma resposta a isso”. (Baudrillard. 1981:71-72).
A identidade absoluta entre o real e o racional remete para o
Estado hegeliano das luzes europeias. O
fascismo aparece como uma afecção na subjetividade europeia criado e recriado
pelo Estado hegeliano dialético como potentia psicótica, que é
dominante/hegemônico no campo político conjuntural baudrillardiano. O Estado hegeliano contém a distribuição da
mais-valia pública do Estado fiscal lacaniano da república? (Bandeira da
Silveira. 2022: cap. 16, cap. 13).
Como comunidade psíquica linguística (CPL) o conceito
materialista completo de Estado remete para o Estado lacaniano. O Estado
dialético em Hegel contém o Estado fiscal lacaniano? O Estado hegeliano é um
fenômeno materialista/, como o Estado republicano lacaniano romano?
O Estado fascista baudrillardiano é um Estado
dialético/materialista? Ele é uma CPL-fascista que quer distribuir a mais-valia
pública para o dominado como os Estado lacaniano?
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Hegel parte da relação entre o Estado do entendimento da
sociedade civil e o Estado da razão da sociedade política. (Zizek: 84). Zizek fala da conciliação deles que parece não
incluir o problema lacaniano da distribuição da mais-valia pública para o
dominado, ou Mehrlust, ou plus-de-jouir. (Lacan. S. 16: 30,29). Para Hegel, o
problema da mais-valia pública fiscal faz pendant com o pauperismo? O Estado
deve ter: instituições públicas para os pobres, iluminação para as ruas etc.”.
(Hegel. 1993: 667). A sociedade de classes sociais é o espaço da “do sentimento
do direito e da dignidade de existir pelo próprio trabalho e atividade”.
(Hegel. 1993: 668). O Estado da razão não se preocupa como o excedente de
população do lado de fora da sociedade de classes do capital? O efeito dessa
gramática de sentido é a produção da <plebe. e desigualdade na distribuição
de riqueza:
“Aqui se põe de relevo que, no meio de excesso de riqueza, a
sociedade civil não é bastante rica, isto é, não possui bastante patrimônio que
lhec seja peculiar para a subsunção do excesso da pobreza e o surgimento da
plebe”. (Hegel. 1993: 669).
O que é a plebe pra o Estado lógico do capital [burguesia]?
A partir de Lacan torna-se possível falar da plebe como o
real da realidade do Estado lógico do capital:
“Há uma orientação, mas essa orientação não é um sentido. O
que quer dizer isso? Retomo o que disse da última vez sugerindo que o sentido
seja, talvez, a orientação. Mas a orientação nõ é um sentido, uma vez que ela
exclui o único fato da copulação do simbólico e do imaginário em que consiste o
sentido. A orientação do real, no território que me concerne, foraclui o
sentido”. (Lacan. S. 23: 117).
A orientação do real do Estado lógico do capital é foraclusão
de uma parcela da população (plebe) da distribuição da riqueza pelo Estado
fiscal da mais-valia pública, foraclusão do plus-de-jouir para o dominado de
fora da sociedade classes do capital, foraclusão dessa gramática de sentido que
seria a pedra-de-toque do Estado socialdemocrata no século XX europeu. O Estado
lógico socialdemocrata é a redução do real do Estado lógico do capital, isto é,
da foraclusão da gramática de sentido dos jogos de significantes que tem a
plebe como problema soberano da realidade do campo político europeu.
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Uma CPL filosófica parisiense fabricou a teologia da
realidade da época que alcançou a terceira década do século XXI. Deleuze fala
das CPLs: neurótica, psicótica e perversa. A perversa existe pela foraclusão da
gramática de sentido fundada no Outro. Ela substitui a gramática de sentido do
Outro pela superfície dos simulacros, e em Baudrillard pela superfície dos
simulacros de simulação. O Estado baudrilardiano é um Estado de uma CPL
perversa? O Estado hegeliano é um Estado
histérico sublime. (Zizek; 1988):
“Neurose e psicose são as aventuras da profundidade. A
estrutura Outrem organiza a profundidade e a pacifica., torna-a possível de ser
vivida. Da mesma forma as perturbações desta estrutura implicam um
desregramento, um enlouquecimento da profundidade, como um retorno agressivo do
sem-fundo que não podemos mais conjurar. Tudo perdeu o sentido, tudo se torna
simulacro e vestígio, mesmo o objeto do trabalho, mesmo o ser amado, mesmo o
mundo em si mesmo e o eu no mundo...”. (Deleuze. 1974:324).
A ´plebe hegeliana é do mundo da falta de gramática sentido
do Estado lógico do capita. Ela é um fenômeno da CPL-perversa? Foucault fala da
<plebe> que já não é mais a plebe hegeliana:
“Il ne faut sans doute pas concevoir la <plèbe> comme
le fond permanent de l’histoire, l’objectif final de tous les assujettiments,
le foyer jamais tout á fait éteint de toutes les révoltes. [...]. <La>
plèbe n’existe sans doute pas, mais il y a <de la> plèbe. Il y a de la
plèbe dans les corps, et dans les âmes, il y en a dans les individus, dans le
prolátariat, il y en a dans le bourgeoisie, mais avec une extension, des
formes, des énergies, des irréductibilités diverses. Cette part de plèbe, c’est
moins l’extérieur par rapport aux relations de pouvoir, que leur limite, leur
envers, leur contrecoup. [...]. soit par son assujettissement effectif, soit
par son utilisation comme plèbe (cf. l’exemple de la déliquance au XIX siécle),
soit encore lorsqu’elle se fixe selon une stratégie de résistence”. (Foucault.
1984: 421).
A plebe pode ser uma potentia psicótica de CPLs; Barroca,
grotesca ou neogrotesca. O professor Muniz Sodré fala da CPL do Estado
pós-modernista do mercantilismo/liberal da multinacional - que desbanca o
Estado hegeliano:
“Os simulacros teletcnológicos constituem um momento típico
dessa nova ordem social. Há uma solidariedade lógico-histórica entre eles
economia transnacional. Nesse novo modelo, separam-se cada vez mais
radicalmente os termos polarizados nos circuitos de troca (produtor/consumidor,
falante/ouvinte, governante/governado), mas ao mesmo tempo se mascara a
separação por ideologias ‘circulatórias’ ou comunicacionais, que em suas
superfícies incitam ao contato, à troca. O imperativo da ‘comunicação’ é ao
mesmo tempo demanda e máscara de um território humano já ‘irradiado’, isto é,
estruturalmente atingido pela distância psíquica entre indivíduos e grupos
socialmente atomizados”. (Sodré: 81).
O Estado pós-modernista já não é propriamente uma comunidade
psíquica linguística; e está além da CPL-perversa? Sodré fala de um simulacro
de simulação de plebe de uma CPL-grotesca:
“O neogrotesco configura-se, entretanto, como anomalias ou
aberrações sem efeitos híbridos, como algo sem virtualidade trágica, porque já
surge como figura de um campo intensivamente equacionado por uma ordem tão
operativa (tecnoburocrática) que já não dá lugar à lucidez pelo escândalo de
estrutura. O traço grotesco continua a ser a adequação monstruosa de
disparidades, mas no quadro de uma indiferença estrutural à deformação das
regras e das cenas (que ajudaram a constituir o sujeito moderno) e à frieza do
controle estatístico das populações”. (Sodré: 1100.
Uma plebe pós-modernista neogrotesca fascista procurou agir,
estrategicamente, como potentia psicótica grotesca no golpe de Estado contra o
governo Lula em 08/01/2023.
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Com a pós-modernidade, o campo político é substituído pelo
campo transpolítico:
“Le transpolitique c’est la transparence et l’obscénité de
toutes les structures dans umn univers déstructuturé, la transparence et
l’obscénité du changement dans un déhistorisé, la transparence et l’obscénité
de l1information dans un univers désévénementialisé, la transparence et
l’obscénité de l’espace dans la promiscuité des réseaux, la transparence et
l’obscénité du social dans les masses, du politique dans la terreur [...]. Fin de la scène de l’histoire,
fin de la scène du politique, fin de la scène du phantasme, fin de la scène du
corps, irruption de l’obscène, Fin du secret – irruption de la transparence”.
(Baudrillard. 1983: 29).
O transpolítico já é o efeito do real como foraclusão dos
jogos de significantes como: povo-nação, sociedade civil e Estado nacional. a
potentia psicótica grotesca pura que desintegra a tela gramatical da
modernidade como um todo é a globalização do cosmopolitismo liberal do fim do
século XX e ela entra no século XXI. No entanto, uma outra potentia psicótica
passa a agir para foracluir a época pós-moderna. Assim, a realidade dominante
desse século 21 deixa de ser aquela do capital capitalista. Quais
transformações se realizaram até o momento:
“Como relação social de produção, o capital é mercadoria,
capital mercantil, capital comercial, capital industrial, capital fictício etc.
As partes ou frações não estão subsumidas a um todo, a um capital que englobe
todos os fragmentos de capital. No campo político, as partes do capital lutam
para dominar as instituições do Estado, que são pedaços de Estado como governo
nacional, parlamento, judiciário que se despedaça em mil partes, governos
locais, burocracia pública. O estado nacional não é uma totalidade. Como a
filosofia da identidade opera com totalidade e conceito [não dialético
materialista], ela ‘explica’ a existência e reprodução da sociedade do capital
a partir do capital como um todo. Este todo da identidade é como se fosse
dominação, coerção, segurança burguesa, e hegemonia sobre o Estado e sociedade.
Tal ilusão é um pressuposto do agir dos agentes no campo político”. (Bandeira
da Silveira. 2024a: cap.26).
O leitor deve ser paciente com a gramática que continua a
operar com categorias ideológicas como sociedade. A foraclusão dos jogos de
significantes não elimina de uma vez os significantes do século XX. Eles
continuam a persistir nas gramáticas do século XXI como categorias ideológicas
até que a transição para a nova época se complete no texto e na realidade.
Uma analogia como a
passagem do feudalismo para a época moderna talvez ajude as pessoas a
abandonarem as estruturas de dominação de pensamento do século 20:
“Na transição do feudalismo para a idade moderna, um campo
político europeu foi se constituindo de um modo fragmentado, ambíguo,
ambivalente, como fenômenos semelhantes, dissemelhantes e até contraditórios. O
capital mercantil das navegações atlânticas é a emergência da economia no campo
político. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 1, parte 1). A sociedade de corte,
a Igreja, o Estado nacional na Peninsula Ibérica, estes fenômenos fizeram
pendant como Estado lacaniano (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 16) e a telade
juízo do classicismo no Renascimento”. (Bandeira da Silveira. 2024a: cap. 32).
Um paralelismo com o campo político barroco torna possível
antever a emergência dos jogos de significantes do campo política da atualidade
em uma revolução barroca contra ao campo do transpolítico da hiper-realidade da
televisão e do Youtube que não quer morrer como estrutura de dominação
ideológica dominante do século 20 no século 21:
“O campo político barroco não tem um centro (Buci-Klucksmann:
147) substancial e fixo, ancorado na realidade com uma práxis social. Com
efeito o centro é o hegemonikón (Elorduy: 26) ou eu político. O centro é o
dizer do hegemonikón a partir da concepção política de mundo dele”. (Bandeira
da Silveira. 2024a: cap. 32, parte 3).
Um fenômeno devastador e obsceno para o Brasil é a existência
de um duplo hegemonikón:
“Nos grandes países ocorre o fenômeno do duplo hegemonikón.
Além do governo, um eu político quase invisível reparte a dominação da política
com o governo. É o caso do capitalismo criminoso do Banco nas margens da
profundidade escura do campo político. estrategicamente, o Banco evita aparecer
na tela gramatical analógica. No entanto, sua concepção política de mundo
aparece no ponto de vista dos economistas burgueses e profissionais”. (Bandeira
da Silveira. 2024ª: cap. 32, parte 3).
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A textualidade feudal da atualidade encontra-se em formação:
“O Estado feudal da atualidade requer uma discussão da
relação entre a imagem textualizada da atualidade e o campo do pressuposto
saber moderno. por exemplo. A crítica da modernidade de Marx ainda é o
paradigma do pressuposto saber para se conhecer a atualidade? Marx parte de
algo além da autonomia relativa das esferas: economia, política, cultura. A
cultura e a política são englobadas na ideia de Forma ideológica. (Marx.
Pensadores: 136). Hegel fala da cultura reflexiva (Hegel. 1955: v. 2: 29) que
não oculta a realidade e não é produção de ilusão. Com o Estado hegeliano no
campo político/estético, a política não precisa ser agente histórico de
produção de ilusão. O Estado pode ser um
fenômeno da manifestação da verdade de uma época”. (Bandeira da Silveira.
2024b: 76).
O Estado da hiper-realidade do transpolítico foi a verdade da
época pós-modernista. E onde se encontra a verdade da época pós-posmodernista?
Recorro a situação brasileira para falar da verdade da época atual:
“A classe dirigente é o lulismo e o PT no poder político
nacional. A crise de hegemonia é a do Estado surrealista-barroco. Tal crise se
transforma da crise do Estado em conjunto, isto é, na crise do Estado nacional.
A crise do Estado nacional irá se transformar em um colapso, ou melhor,
desintegração da formação social nacional, da democracia feudal e a
substituição desta por uma ditadura feudal. Assim, emerge a formação social
feudal fascista. O futuro só terá como via o desenvolvimento e aprofundamento
de um feudalismo pós-modernista subdesenvolvido. A democracia feudal é um
<estado de direitos> geral, mas não generalizável. O monopólio do Estado
em geral pelo Estado feudal despótico/ditatorial será o fim da sociedade de
direitos feudal/democrático da Constituição de 1988”.
“As formações sociais são depositárias dos efeitos dos jogos
de caligrafia do choque traumático entre o mercantilismo feudal multinacional e
o mercantilismo do Estado nacional surrealista/barroco asiático”. (Bandeira da
Silveira. 2024b: 81).
A gramática do século 21 começa com a plurivocidade de
categoria científica <comunidade psíquica linguística> no campo político
da nova modernidade - na terceira década do século XXI.
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical,
ensaios. EUA: amazon, 2022
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna. EUA:
amazon, 2024a
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Ciência política
materialista. EUA: amazon, 2024b
BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée,
1981
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d’Àgua,
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BAUDRILLARD, Jean. Les stratégis fatales. Paris: Grasset,
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DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. SP: Perspectiva, 1974
FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Vol. 3. 1976-1979. Paris:
Gallimard, 1994
HEGEL. Fundamentos de la filosofia del derecho. Madrid:
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LACAN, Jaques. O Seminário. livro 23. O sinthoma. 2007
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 16. De um Outro ao outro.
RJ: Zahar, 2008
SODRÉ, Muniz. O social irradiado: violência urbana,
neogrotesco e mídia. SP: Cortez, 1992
ZIZEK, Slavoj. Le plus sublime des hysteriques. Hegel passe.
Paris: Point Hors Ligne, 1988
ZIZEK, Slavoj. Menos que nada. Hegel e a sombra do
materialismo histérico. SP: Boitempo, 2013
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