sexta-feira, 11 de outubro de 2024

FASCISMO - potentia psicótica?

 

José Paulo

 

O PÓS-MODERNISMO é a pré-história do campo político da atualidade. A tela de gosto pós-moderna tem o fascismo como afeção de um campo político rumo à ditadura de um Estado fascista/mafioso. Este é uma comunidade psíquica linguística como potentia psicótica grotesca pura de transformação da gramática de sentido democrática do campo democrático constitucional. Como a filosofia/ciência pós-modernista vê o fascismo?

Baudrillard:

“O próprio fascismo, o mistério do seu aparecimento e da sua energia coletiva, que nenhuma interpretação conseguiu esgotar (nem a marxista com a sua manipulação política pelas classes dominantes, nem a reichiana com o seu recalcamento sexual das massas, nem a deleuziana com a paranoia despótica) pode interpretar-se já como sobrevalorização <irracional> dos referenciais míticos e políticos, intensificação louca do valor coletivo (o sangue, a raça, o povo etc.), reinjeção da morte, de uma <estética política da morte>, um momento em que o processo de desencantamento do valor e dos valores coletivos, de secularização racional e de unidimensionalização de toda a vida, de operacionalização de toda a vida social e individual se faz já sentir duramente no Ocidente. Mas uma vez, tudo serve para escapar a esta catástrofe do valor, a esta neutralização e pacificação da vida. o fascismo é uma resistência a isto, resistência profunda, irracional,, demente, não interessa, não teria atraído esta energia maciça se não fosse uma resistência a qualquer coisa ainda pior. A sua crueldade, o seu terror, ambos estão de acordo com este outro terror que é a confusão do real e do racional, que s tem aprofundado no Ocidente e é uma resposta a isso”. (Baudrillard. 1981:71-72).

A identidade absoluta entre o real e o racional remete para o Estado  hegeliano das luzes europeias. O fascismo aparece como uma afecção na subjetividade europeia criado e recriado pelo Estado hegeliano dialético como potentia psicótica, que é dominante/hegemônico no campo político conjuntural baudrillardiano.  O Estado hegeliano contém a distribuição da mais-valia pública do Estado fiscal lacaniano da república? (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 16, cap. 13).

Como comunidade psíquica linguística (CPL) o conceito materialista completo de Estado remete para o Estado lacaniano. O Estado dialético em Hegel contém o Estado fiscal lacaniano? O Estado hegeliano é um fenômeno materialista/, como o Estado republicano lacaniano romano?

O Estado fascista baudrillardiano é um Estado dialético/materialista? Ele é uma CPL-fascista que quer distribuir a mais-valia pública para o dominado como os Estado lacaniano?     

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Hegel parte da relação entre o Estado do entendimento da sociedade civil e o Estado da razão da sociedade política. (Zizek: 84).  Zizek fala da conciliação deles que parece não incluir o problema lacaniano da distribuição da mais-valia pública para o dominado, ou Mehrlust, ou plus-de-jouir. (Lacan. S. 16: 30,29). Para Hegel, o problema da mais-valia pública fiscal faz pendant com o pauperismo? O Estado deve ter: instituições públicas para os pobres, iluminação para as ruas etc.”. (Hegel. 1993: 667). A sociedade de classes sociais é o espaço da “do sentimento do direito e da dignidade de existir pelo próprio trabalho e atividade”. (Hegel. 1993: 668). O Estado da razão não se preocupa como o excedente de população do lado de fora da sociedade de classes do capital? O efeito dessa gramática de sentido é a produção da <plebe. e desigualdade na distribuição de riqueza:

“Aqui se põe de relevo que, no meio de excesso de riqueza, a sociedade civil não é bastante rica, isto é, não possui bastante patrimônio que lhec seja peculiar para a subsunção do excesso da pobreza e o surgimento da plebe”. (Hegel. 1993: 669).

O que é a plebe pra o Estado lógico do capital  [burguesia]?

A partir de Lacan torna-se possível falar da plebe como o real da realidade do Estado lógico do capital:

“Há uma orientação, mas essa orientação não é um sentido. O que quer dizer isso? Retomo o que disse da última vez sugerindo que o sentido seja, talvez, a orientação. Mas a orientação nõ é um sentido, uma vez que ela exclui o único fato da copulação do simbólico e do imaginário em que consiste o sentido. A orientação do real, no território que me concerne, foraclui o sentido”. (Lacan. S. 23: 117).

A orientação do real do Estado lógico do capital é foraclusão de uma parcela da população (plebe) da distribuição da riqueza pelo Estado fiscal da mais-valia pública, foraclusão do plus-de-jouir para o dominado de fora da sociedade classes do capital, foraclusão dessa gramática de sentido que seria a pedra-de-toque do Estado socialdemocrata no século XX europeu. O Estado lógico socialdemocrata é a redução do real do Estado lógico do capital, isto é, da foraclusão da gramática de sentido dos jogos de significantes que tem a plebe como problema soberano da realidade do campo político europeu.             

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Uma CPL filosófica parisiense fabricou a teologia da realidade da época que alcançou a terceira década do século XXI. Deleuze fala das CPLs: neurótica, psicótica e perversa. A perversa existe pela foraclusão da gramática de sentido fundada no Outro. Ela substitui a gramática de sentido do Outro pela superfície dos simulacros, e em Baudrillard pela superfície dos simulacros de simulação. O Estado baudrilardiano é um Estado de uma CPL perversa?  O Estado hegeliano é um Estado histérico sublime. (Zizek; 1988):

“Neurose e psicose são as aventuras da profundidade. A estrutura Outrem organiza a profundidade e a pacifica., torna-a possível de ser vivida. Da mesma forma as perturbações desta estrutura implicam um desregramento, um enlouquecimento da profundidade, como um retorno agressivo do sem-fundo que não podemos mais conjurar. Tudo perdeu o sentido, tudo se torna simulacro e vestígio, mesmo o objeto do trabalho, mesmo o ser amado, mesmo o mundo em si mesmo e o eu no mundo...”. (Deleuze. 1974:324).

A ´plebe hegeliana é do mundo da falta de gramática sentido do Estado lógico do capita. Ela é um fenômeno da CPL-perversa? Foucault fala da <plebe> que já não é mais a plebe hegeliana:

“Il ne faut sans doute pas concevoir la <plèbe> comme le fond permanent de l’histoire, l’objectif final de tous les assujettiments, le foyer jamais tout á fait éteint de toutes les révoltes. [...]. <La> plèbe n’existe sans doute pas, mais il y a <de la> plèbe. Il y a de la plèbe dans les corps, et dans les âmes, il y en a dans les individus, dans le prolátariat, il y en a dans le bourgeoisie, mais avec une extension, des formes, des énergies, des irréductibilités diverses. Cette part de plèbe, c’est moins l’extérieur par rapport aux relations de pouvoir, que leur limite, leur envers, leur contrecoup. [...]. soit par son assujettissement effectif, soit par son utilisation comme plèbe (cf. l’exemple de la déliquance au XIX siécle), soit encore lorsqu’elle se fixe selon une stratégie de résistence”. (Foucault. 1984: 421).

A plebe pode ser uma potentia psicótica de CPLs; Barroca, grotesca ou neogrotesca. O professor Muniz Sodré fala da CPL do Estado pós-modernista do mercantilismo/liberal da multinacional - que desbanca o Estado hegeliano:

“Os simulacros teletcnológicos constituem um momento típico dessa nova ordem social. Há uma solidariedade lógico-histórica entre eles economia transnacional. Nesse novo modelo, separam-se cada vez mais radicalmente os termos polarizados nos circuitos de troca (produtor/consumidor, falante/ouvinte, governante/governado), mas ao mesmo tempo se mascara a separação por ideologias ‘circulatórias’ ou comunicacionais, que em suas superfícies incitam ao contato, à troca. O imperativo da ‘comunicação’ é ao mesmo tempo demanda e máscara de um território humano já ‘irradiado’, isto é, estruturalmente atingido pela distância psíquica entre indivíduos e grupos socialmente atomizados”. (Sodré: 81).

O Estado pós-modernista já não é propriamente uma comunidade psíquica linguística; e está além da CPL-perversa? Sodré fala de um simulacro de simulação de plebe de uma CPL-grotesca:

“O neogrotesco configura-se, entretanto, como anomalias ou aberrações sem efeitos híbridos, como algo sem virtualidade trágica, porque já surge como figura de um campo intensivamente equacionado por uma ordem tão operativa (tecnoburocrática) que já não dá lugar à lucidez pelo escândalo de estrutura. O traço grotesco continua a ser a adequação monstruosa de disparidades, mas no quadro de uma indiferença estrutural à deformação das regras e das cenas (que ajudaram a constituir o sujeito moderno) e à frieza do controle estatístico das populações”. (Sodré: 1100.

Uma plebe pós-modernista neogrotesca fascista procurou agir, estrategicamente, como potentia psicótica grotesca no golpe de Estado contra o governo Lula em 08/01/2023.            

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Com a pós-modernidade, o campo político é substituído pelo campo transpolítico:

“Le transpolitique c’est la transparence et l’obscénité de toutes les structures dans umn univers déstructuturé, la transparence et l’obscénité du changement dans un déhistorisé, la transparence et l’obscénité de l1information dans un univers désévénementialisé, la transparence et l’obscénité de l’espace dans la promiscuité des réseaux, la transparence et l’obscénité du social dans les masses, du politique dans la  terreur [...]. Fin de la scène de l’histoire, fin de la scène du politique, fin de la scène du phantasme, fin de la scène du corps, irruption de l’obscène, Fin du secret – irruption de la transparence”. (Baudrillard. 1983: 29).

O transpolítico já é o efeito do real como foraclusão dos jogos de significantes como: povo-nação, sociedade civil e Estado nacional. a potentia psicótica grotesca pura que desintegra a tela gramatical da modernidade como um todo é a globalização do cosmopolitismo liberal do fim do século XX e ela entra no século XXI. No entanto, uma outra potentia psicótica passa a agir para foracluir a época pós-moderna. Assim, a realidade dominante desse século 21 deixa de ser aquela do capital capitalista. Quais transformações se realizaram até o momento:

“Como relação social de produção, o capital é mercadoria, capital mercantil, capital comercial, capital industrial, capital fictício etc. As partes ou frações não estão subsumidas a um todo, a um capital que englobe todos os fragmentos de capital. No campo político, as partes do capital lutam para dominar as instituições do Estado, que são pedaços de Estado como governo nacional, parlamento, judiciário que se despedaça em mil partes, governos locais, burocracia pública. O estado nacional não é uma totalidade. Como a filosofia da identidade opera com totalidade e conceito [não dialético materialista], ela ‘explica’ a existência e reprodução da sociedade do capital a partir do capital como um todo. Este todo da identidade é como se fosse dominação, coerção, segurança burguesa, e hegemonia sobre o Estado e sociedade. Tal ilusão é um pressuposto do agir dos agentes no campo político”. (Bandeira da Silveira. 2024a: cap.26).

O leitor deve ser paciente com a gramática que continua a operar com categorias ideológicas como sociedade. A foraclusão dos jogos de significantes não elimina de uma vez os significantes do século XX. Eles continuam a persistir nas gramáticas do século XXI como categorias ideológicas até que a transição para a nova época se complete no texto e na realidade.         

 Uma analogia como a passagem do feudalismo para a época moderna talvez ajude as pessoas a abandonarem as estruturas de dominação de pensamento do século 20:

“Na transição do feudalismo para a idade moderna, um campo político europeu foi se constituindo de um modo fragmentado, ambíguo, ambivalente, como fenômenos semelhantes, dissemelhantes e até contraditórios. O capital mercantil das navegações atlânticas é a emergência da economia no campo político. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 1, parte 1). A sociedade de corte, a Igreja, o Estado nacional na Peninsula Ibérica, estes fenômenos fizeram pendant como Estado lacaniano (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 16) e a telade juízo do classicismo no Renascimento”. (Bandeira da Silveira. 2024a: cap. 32).

Um paralelismo com o campo político barroco torna possível antever a emergência dos jogos de significantes do campo política da atualidade em uma revolução barroca contra ao campo do transpolítico da hiper-realidade da televisão e do Youtube que não quer morrer como estrutura de dominação ideológica dominante do século 20 no século 21:

“O campo político barroco não tem um centro (Buci-Klucksmann: 147) substancial e fixo, ancorado na realidade com uma práxis social. Com efeito o centro é o hegemonikón (Elorduy: 26) ou eu político. O centro é o dizer do hegemonikón a partir da concepção política de mundo dele”. (Bandeira da Silveira. 2024a: cap. 32, parte 3).

Um fenômeno devastador e obsceno para o Brasil é a existência de um duplo hegemonikón:

“Nos grandes países ocorre o fenômeno do duplo hegemonikón. Além do governo, um eu político quase invisível reparte a dominação da política com o governo. É o caso do capitalismo criminoso do Banco nas margens da profundidade escura do campo político. estrategicamente, o Banco evita aparecer na tela gramatical analógica. No entanto, sua concepção política de mundo aparece no ponto de vista dos economistas burgueses e profissionais”. (Bandeira da Silveira. 2024ª: cap. 32, parte 3).  

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A textualidade feudal da atualidade encontra-se em formação:

“O Estado feudal da atualidade requer uma discussão da relação entre a imagem textualizada da atualidade e o campo do pressuposto saber moderno. por exemplo. A crítica da modernidade de Marx ainda é o paradigma do pressuposto saber para se conhecer a atualidade? Marx parte de algo além da autonomia relativa das esferas: economia, política, cultura. A cultura e a política são englobadas na ideia de Forma ideológica. (Marx. Pensadores: 136). Hegel fala da cultura reflexiva (Hegel. 1955: v. 2: 29) que não oculta a realidade e não é produção de ilusão. Com o Estado hegeliano no campo político/estético, a política não precisa ser agente histórico de produção de ilusão.  O Estado pode ser um fenômeno da manifestação da verdade de uma época”. (Bandeira da Silveira. 2024b: 76).

O Estado da hiper-realidade do transpolítico foi a verdade da época pós-modernista. E onde se encontra a verdade da época pós-posmodernista? Recorro a situação brasileira para falar da verdade da época atual:

“A classe dirigente é o lulismo e o PT no poder político nacional. A crise de hegemonia é a do Estado surrealista-barroco. Tal crise se transforma da crise do Estado em conjunto, isto é, na crise do Estado nacional. A crise do Estado nacional irá se transformar em um colapso, ou melhor, desintegração da formação social nacional, da democracia feudal e a substituição desta por uma ditadura feudal. Assim, emerge a formação social feudal fascista. O futuro só terá como via o desenvolvimento e aprofundamento de um feudalismo pós-modernista subdesenvolvido. A democracia feudal é um <estado de direitos> geral, mas não generalizável. O monopólio do Estado em geral pelo Estado feudal despótico/ditatorial será o fim da sociedade de direitos feudal/democrático da Constituição de 1988”.

“As formações sociais são depositárias dos efeitos dos jogos de caligrafia do choque traumático entre o mercantilismo feudal multinacional e o mercantilismo do Estado nacional surrealista/barroco asiático”. (Bandeira da Silveira. 2024b: 81).

A gramática do século 21 começa com a plurivocidade de categoria científica <comunidade psíquica linguística> no campo político da nova modernidade - na terceira década do século XXI. 

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical, ensaios. EUA: amazon, 2022

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna. EUA: amazon, 2024a

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Ciência política materialista. EUA: amazon, 2024b

BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée, 1981

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d’Àgua, 1991

BAUDRILLARD, Jean. Les stratégis fatales. Paris: Grasset, 1983

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. SP: Perspectiva, 1974

FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Vol. 3. 1976-1979. Paris: Gallimard, 1994

HEGEL. Fundamentos de la filosofia del derecho. Madrid: Libertarias/Prodhifi, 1993

LACAN, Jaques. O Seminário. livro 23. O sinthoma. 2007

LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 16. De um Outro ao outro. RJ: Zahar, 2008

SODRÉ, Muniz. O social irradiado: violência urbana, neogrotesco e mídia. SP: Cortez, 1992

ZIZEK, Slavoj. Le plus sublime des hysteriques. Hegel passe. Paris: Point Hors Ligne, 1988

ZIZEK, Slavoj. Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo histérico. SP: Boitempo, 2013

 

  

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