José Paulo
Lacan estabelece o campo
lacaniano a partir das relações da comunidade psíquica linguística (CPL)
freudiana com a CPL filosófica e a marxista de maio de 1968. Do Seminário 16 ao
Seminário 20, ele desenvolve o campo lacaniano barroco. O Seminário 20 é a
discussão com Heidegger sobre o mundo como realidade no discurso: filosofia, do
analista, do maître:
“Já aqui, por mais nada a não ser
por avançarmos na corrente do discurso analítico, demos esse salto que se chama
concepção de mundo, e que deve, entretanto, ser para nós o que há de mais
cômico. O termo concepção de mundo supõe um discurso inteiramente outro que não
o nosso, o da filosofia”.
“Nada é menos garantido, se
sairmos do discurso filosófico, do que a existência de um mundo. Só há mesmo
ocasião para sorrir quando se ouve colocar, sobre o discurso analítico, que ele
comporta qualquer coisa da ordem de tal concepção”. (Lacan. 1975. S. 20: 32).
A concepção de mundo é a
gramática de sentido como forma de consciência ideológica: política, religião,
direito, filosofia, arte. (Marx. 1974:). Heidegger fez um a leitura da
ideologia através do conceito de vontade de poder de Nietzsche. Assim, temos o conceito
de concepção política de mundo”. (Heidegger. 2000:133), ideologia como vontade
de poder, como potentia psicótica grotesco/gótico, como gramática de sentido do
céu dos céus das ideias. (Vieira: 63; 44-45). Lacan procurou cancelar o
significante de Marx ideologia que chegou ao jornalismo brasileiro em 2024.
Lacan quer pôr no lugar da
ideologia o evangelho:
“Eu diria mesmo mais – colocar
tal termo para designar o marxismo, faz igualmente sorrir. O marxismo não me
parece poder passar por concepção de mundo. A isto é contrário, por toda sorte
de coordenadas contundentes, o enunciado do que diz Marx. É outra coisa, que
chamarei um evangelho. É a anunciação de que a história instaura uma outra
dimensão de discurso, e abre a possibilidade de subverter completamente a
função do discurso filosófico, na medida em que sobre ele repousa uma concepção
de mundo”. (Lacan. 1975. S. 20: 32).
2
De Derrida, o Livro “Do espírito”
fala do fim da tela gramatical metafísica que começa com Platão, é restaurada
por Descartes, Leibniz e chega até Hegel. Heidegger viu o fim da tela do
espírito como o fim da supremacia da Europa na história mundial. Ele viu na
gramática de sentido do nacional-socialismo a possibilidade da Europa restaurar
a comunidade psíquica/linguística/filosófica/ alemã como hegemônica:
“O despertar do espírito, a
reapropriação de seu poder passa pois, uma vez mais ainda, pela
responsabilidade do questionamento tal como se acha confiado, assinalado,
destinado a ‘nosso povo’. Que o mesmo capítulo se abre, na sua conclusão,
tratando do destino da língua (Schicksal der Sprache) na qual se funda a
relação (Bezug) de um povo com o ser, isto bem mostra que todas essas
responsabilidades estão entrelaçadas, a de nosso povo, a da questão do ser e a
da nossa língua. Ora, no início do capítulo sobre a gramática da palavra ‘ser’,
´ainda a qualidade espiritual que define o privilégio absoluto da língua
alemã”. (Derrida.1990:85).
A gramática de sentido do ser do
campo político metafísico europeu indica a potentia psicótica grotesca/gótica.
O grotesco é a multidão ou povo de uma CPl nacional da transformação do campo
político mundial. ele significa a desintegração do campo anterior e a
fabricação do novo campo pelo povo alemão. O gótico é o ser de um campo
político que busca o céu dos céus da criação e recriação de ideias políticas
mundiais:
“A gramática das palavras não se
ocupa somente nem em primeiro lugar com a forma literal e fonética das
palavras. das palavras. Toma os elementos morfológicos, que as palavras
apresentam, como indicações de determinadas e diferentes direções de possíveis
significados e como indícios de suas possíveis inserções, prelineadas pelos
significados, numa proposição, i, é numa maior estrutura linguística.
(Heidegger. 1978: 81).
A essência da gramática de
sentido é o ser das CPLs que lutam em um campo político de época para ser a
tela gramatical soberana como estrutura de dominação gramatical. A estrutura da
gramática de sentido dos jogos de significante do ser é uma abertura para o
fenômeno invadir o campo da política de uma época:
“Que palavra é essa, ‘o Ser’,
segundo a sua morfologia? Ao ‘ser’ correspondem outras formas, como ‘o voar’,
‘o sonhar’, ‘o chorar’ etc. tais formas linguísticas se comportam na linguagem,
como ‘o pão’, ‘a habitação’, ‘a erva’, ‘a coisa’. Todavia, logo descobriremos
nas primeiras uma diferença. Podemos reduzi-las facilmente aos verbos, ‘voar’,
‘sonhar’, ‘chorar’ etc...o que as segundas parecem não permitir”. (Heidegger.
1978: 83).
Voar, sonhar, chorar constituem a
prática política grotesco\gótico da tela verbal espiritual. Assim, a tela
gramatical metafísica parece indestrutível como CPL soberana do campo político
europeu e/ou mundial.
O jovem Marx viveu o ocaso da
hegemonia da tela metafísica europeia moderna com a crítica da modernidade
hegeliana, que se perpetua aos dias de hoje - com o Estado hegeliano do século
XX. (Lefebvre: 4).
3
No colapso da tela verbal
espiritual hegeliana, o jovem Marx procurou fabricar uma tela gramatical do
campo político simbólico da gramática de sentido da prática política da
transição do feudalismo para a Europa moderna:
“A emancipação política se
resolve de um modo muito simples., ela é, ao mesmo tempo, a dissolução da velha
sociedade, sobre a qual descansava o Estado que se tem alienado ao povo, a
sociedade do poer senhorial”. (Marx. 1982: 481).
A emancipação política tem na
potentia psicótica grotesca/moderna sua força histórica revolucionária para a
época moderna:
“A revolução política é a
revolução da sociedade burguesa. Qual ra o caráter da velha sociedade? Uma
palavra a define. O feudalismo. A velha sociedade civil tinha um caráter
diretamente político; nela, os elementos da vida civil, por exemplo a possessão
dos bens, ou a família, ou o tipo e o modo de trabalho, se haviam elevado ao
plano de elementos da vida estatal, sob a forma da propriedade territorial, o
estamento ou a corporação. Determinavam, sob esta forma, as relações entre o
indivíduo e o conjunto do Estado, isto é, suas relações políticas ou, o que
tanto vale, suas relações de separação e exclusão com respeito a outras partes
integrantes da sociedade. Naquela organização da vida do povo, a possessão dos
bens ou o trabalho não se elevava ao plano de elementos sociais, senão que, ao
contrário, se levava até seu extremo sua separação do conjunto do Estado, para
constituí-los na sociedade aparte dentro da sociedade. Entretanto, as funções e
condições da vida da sociedade civil seguiam sendo funções e condições
políticas, embora políticas no sentido do feudalismo;”. (Marx. 1982: 481).
A gramática de sentido do ser do
campo político feudal era o Estado ser o suporte da democracia feudal do
dominante. Para estes, era carreada toda a mais-valia pública fiscal do Estado
lacaniano feudal. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 16):
“dito de outro modo, excluíam ao
indivíduo do conjunto do Estado e convertiam a relação especial de sua
corporação com o conjunto do Estado em sua própria relação geral com a vida do
povo, a par que convertia sua atividade e sua situação civil determinadas em
sua atividade e situações gerais. E esta organização traía como consequência o
que a unidade do Estado se revelara necessariamente como a consciência, a
vontade e a ação da unidade do Estado, e que o poder de Estado se manifestara,
assim mesmo, como incumbência particular de um senhor dissociado do povo e de
seus servidores”. (Marx. 1982: 481-482).
O Estado feudal não incluía a
CPL-individuo no campo político do Outro da Europa. O discurso do maître
lacaniano construía o real [como heteróclito] da realidade do campo político
feudal. (Lacan. S.20: 33). A revolução política moderna se faz contra gramática
de sentido gótica do discurso do maître feudal:
“a revolução política, que
derrubou est poder senhorial que elevou os assuntos do Estado a assuntos do
povo e constituiu o Estado político como incumbência geral, isto é, como um
Estado real, acabou necessariamente com todos os estamentos, corporações, grêmios
e privilégios, que eram outras tantas expressões do divórcio entre o povo e sua
comunidade. A revolução política suprimiu, com isto, o caráter político da
sociedade civil. [...]. rompeu as atadura do espírito político, que se achavam
como cindido, dividido e estancado nos diversos becos sem saída da sociedade
feudal:”. (Marx. 1982: 482)
O Estado lacaniano da gestão da
mais-valia pública fiscal se redefine com gramática de sentido moderna. A
foraclusão dos jogos de significantes feudais desintegra a democracia feudal do
discurso senhorial. No lugar, a relação do capital com o Estado lacaniano
define a gramática de sentido do mais-de-gozar, ou plus-de-jouir, ou Mehrlust
(Lacan. S. 16: 30-29) do campo político moderno, campo político do capital como
estrutura de dominação ideológica da sociedade de classes sociais da
modernidade. A transformação do campo político europeu é uma imagem
textualizada de jogos de caligrafia:
“Sem embargo, ao levar-se ao cume
o idealismo e Estado se levava a sua culminação, ao mesmo tempo, o materialismo
da sociedade civil. ao sacudir-se o jugo político, se sacudiam, a par com ele,
as correntes de ferro que aprisionavam o espírito egoísta da sociedade civil. a
emancipação política foi, ao mesmo tempo, a emancipação da sociedade civil em
relação à política, sua emancipação até da mesma aparência de um conteúdo
geral”. (Marx. 1982: 482).
Marx fala de uma tela verbal
narrativa pós-burguesa do ponto de vista da CPL-individuo como soberana no
campo político mundial:
“Só quando o indivíduo real
recobra dentro de si o cidadão abstrato, e se converte, como homem individual,
em <ser> genérico, em seu trabalho individual e em suas relações
individuais; só quando o homem souber reconhecer e organizar suas <forças
próprias> como forças sociais, e quando, portanto, não se arranca já de si
mesmo a força social, sob a forma de força política, podemos dizer que se leva
a cabo a emancipação humana”. (Marx. 1982: 484).
Trata-se da emancipação da
espécie humana, emancipação de todos os seres do planeta. Assim, Marx adianta o
sujeito humanidade como relação entre a essência da técnica e o general
intellect.
4
A essência da técnica (Heidegger.
1972:19) era o inconsciente não penado da época pós-Segunda Guerra mundial:
“Segundo isto, o grave, o que nos
dá que pensar, não é de modo algum prefixado por nós, nem somente estabelecido
ou pré-assentado. Segundo a afirmação em questão, o que de por si dá mais que
pensar, o gravíssimo, é isto: que todavia não pensamos”. (Heidegger. 1972: 12).
Marx pensou a essência da técnica
como general intellect. (Bandeira da Silveira. 2022b):
“Nos estudos preliminares à
“Crítica da economia política” encontra-se uma versão, segundo a qual a
história da espécie humana está comprometida com uma conversão automática de
ciência natural e técnica em autoconsciência do sujeito social (general intellect)
que controla o processo da vida material”. (Habermas: 64).
O general intellect é um sujeito
do inconsciente da
prática política gramática, barroca, universal
- na medida em que qualquer discurso tem um inconsciente. (Lacan. S. 16:
68).
Baltasar Gracián fala do
inconsciente a céu aberto dos simulacros de dissimulação da prática política
barroca da CPL-jesuítica do século de ouro:
“A vida do homem consiste numa
milícia contra a malícia do homem. a astúcia luta com estratégias de intenção.
Nunca faz o que indica. Aponta para enganar, golpeia indiferente no ar e
desfere o golpe, atuando sobre a realidade imprevista com dissimulação atenta.
A fim de conquistar a atenção e a confiança dos outros, deixa transparecer um
intento. Logo em seguida, porém, muda de posição e vence pela surpresa. A
inteligência perspicaz previne-se da astúcia observando-a detidamente,
espreita-a com cuidado, entende o oposto do que a astúcia quis que
compreendesse e percebe de imediato as falsas intensões. A inteligência ignora
a primeira intenção, aguardando a segunda, e até a terceira. A simulação cresce
mais ainda a ver seu truque descoberto e tenta enganar contando a verdade. Muda
de jogo, engana com a aparente falta de malícia. Sua astúcia se baseia na maior
franqueza. Mas a observação se adianta, discernindo através de tudo isso
percebendo as sombras envoltas em luz. Decifra a intenção, que mais parece singela.
Assim é a luta da astúcia de Pitão contra a franqueza dos penetrantes raios de
Apolo”. (Gracián: 29).
O inconsciente barroco é o da
potentia psicótica dos jogos de estratégica da foraclusão dos significantes
soberanos (MacCarthy: 333). Pela práxis individual do: despistar, do simular,
dissimular, enganar, mentir, iludir, sugestionar, do golpe político...
5
O lugar da imaginação no
inconsciente da prática política só é bem compreendido com a gramática de
sentido da pintura que faz a esfera do imaginário se encontrar com a esfera do
simbólico no quadro “A vocação de São Mateus”, de Caravaggio:
“Mais decisivo ainda é forte raio
de Sol que ilumina o rosto e a mão de Jesus no sombrio interior, assim levando
o seu chamamento até S. Mateus. Sem esta luz – tão carregada de sentido
simbólico -m o quadro perderia a magia, o seu poder de nos fazer sentir a
presença divina”. (Janson: 500).
Gracián:
24 – Temperar a imaginação
Devemos ora refreá-la, ora
estimulá-la. Toda felicidade depende da imaginação, e esta deveria ser
orientada pelo bom senso. Às vezes, ela se comporta como um tirano. Não lhe
bastando especular, toma conta de nossa vida, a qual torna agradável ou
desagradável, tornando-nos infelizes ou satisfeitos demais conosco mesmos. A
alguns causa desgosto, pois a imaginação é um algoz dos tolos. A outros promete
felicidade e aventura, alegria e vertigem. Ela pode fazer tudo isso, se não for
temperada pela prudência e pelo bom senso”. (Gracián: 33-34).
A imaginação em qualquer tela se
torna o imaginário de produção e irradiação de imagem textual, por exemplo,
imagens da gramática de sentido no campo político simbólico barroco.
A relação da imagem plástica da
profundidade do espaço/tempo com o campo político barroco ergue uma comunidade
psíquica linguística de gosto, de estilo:
“É ele o agudo sentimento da
incontrolável força do tempo. Porque o verdadeiro protagonista do drama do
Barroco é o tempo. Assim, se a pintura tem buscado e achado essa visão e afeto
de profundidade que nos atrai e arrasta em direção ao fundo do quadro, se nos
arrebata até esses lejos de que tanto vezes nos falam os poetas, se nos obriga
a sentir-nos envoltos nesse espaço contínuo, é porque esta visão espacial é a
única na qual pode ser representado plasticamente o tempo. Esta visão de
profundidade é a forma visual sobre a qual se pode projetar a sucessão dos atos
como se desenvolvem na consciência. Já Spengler assinalava a equivalência
espaço-tempo dizendo <que a profundidade do espaço é o tempo
solidificado>. E partindo da representação da lejanía espacial na pintura
barroca, Klages tem insistido nessa essencial comunidade de significação. Ante
a imagem de uma visão do mar em repouso, em cujo estremo limite do horizonte
veríamos desfazer-se a nubecilla de humo de um navio, e a que suscita a recordação
da irrecuperável juventude, o grande filósofo assinala como <ambos os afetos
os encontrarão confundidos quem possua o dom de entrar no reino da
interioridade”. (Orozco: 57).
6
Derrida fala da afecção:
“Tentemos aproximar nossa
linguagem desse braseiro. Braseiro do espírito, nesse duplo genitivo pelo qual
o espírito afeta, se afeta, e s acha afetado pelo fogo. O espírito se inflama e
dá fogo, digamos o espírito in-flama, em uma ou duas palavras, verbo e
substantivo ao mesmo tempo. O que se toma e se dá ao mesmo tempo é o fogo. O
fogo do espírito. Não esqueçamos o que foi dito anteriormente e que relemos
ainda: o espírito entrega a alma (psiquê), não a entrega só na morte”.
(Derrida: 103).
A afecção é fogo afetada pela
tela espiritual barroca e afetando a tela e, simultaneamente, o campo político
barroco. A afecção de gosto universal é o real da realidade do discurso (Lacan.
S. 20: 33) político barroco:
Começa por descobrir o elo mais
fraco da CPL- indivíduo, das afecções da vaidade ou <ídolos> da CPL- do
inconsciente da prática política barroca:
“26. - A arte de influenciar a
vontade dos outros envolve mais habilidade que determinação. É preciso saber
qual a porta de acesso. Cada vontade tem seu foco de interesse: varia de acordo
com o gosto. Todos são idólatras: uns da estima, outros do dinheiro, e a
maioria do prazer. A minha consiste em identificar os ídolos capazes de motivar
os indivíduos. É como possuir a chave do querer alheio. É preciso atingir a
motivação básica, que nem sempre consiste em algo elevado. A maioria das vezes
é mesmo muito baixo, porque no mundo existem mais desordenados do que
disciplinados. Primeiramente, avalie a índole; então toque no ponto fraco.
Tente-o com o objeto de sua afeição e infalivelmente dará xeque-mate no seu
arbítrio”. (Garcián: 34).
A tela neobarroca da televisão é
um pastiche surrealista da tela barroca clássica:
“A minha tese geral é de que
muitos importantes fenômenos de cultura do nosso tempo são marcas de uma
<forma> interna específica que pode trazer à mente o barroco”.
(Calabrese: 27).
Qual o elo mais fraco da tela
neobarroca?
“Por <clássico>
entenderemos substancialmente categor4izações dos juízos fortemente orientadas
para as homologações estavelmente orientadas. Por <barroco> entenderemos,
ao contrário, categorizações que <excitam> fortemente a ordenação do
sistema e que desestabilizam em algumas partes, que o submetem a turbulências e
flutuações e que o suspendem quanto á resolubilidade dos valores”. (Calabrese:
39);
A tela barroca de gosto põe e
repõe o campo político numa crise permanente. A tela neobarroca destitui esse
jogo de significantes do fim da política. Ora! O elo mais fraco dela é a
evolução das relações técnicas de produção que criam uma nova tela de gosto
pós-neobarroca. Ela cria e recria a tela cibernética do neogrotesco (Sodré; 92)
psicótico ou simulacros de dissimulação de psicóticos grotescos. (Kayser, 1986;
Rosen, 1991).
A tela barroca é movida pela
razão da gramática de sentido barroca:
“Esteja sempre do lado da razão,
e com firmeza de propósito que nem a tirania o desviará da razão”. (Gracián:
35).
A prática política do Principe
barroco/gótico é o de evitar a forma de governo do tirano:
“La position sublime de
l’empereur d’une part, l’impuissance criminelle de ses actes d’autre part, ne
permettent pas de décider au fond s’il s’agit d’un drame du tyran ou de
l’histoire d’un martyr”. (Benjamin: 74):
“Mas onde estará essa fênix de
equidade? Poucos cultivam a integridade. Muitos a louvam, mas poucos a habitam.
Alguns a seguem até que a situação se torne perigosa. Em perigo, os falsos a
renegam e os políticos a simulam. Ela não teme contrariar a amizade, o poder
e mesmo o seu próprio bem, e é nessa
hora que é repudiada”. (Gracián: 35).
A definição do político barroco
serve, como gramática de sentido, para o político moderno? Este ainda guarda as
aparências de semblãncia (Arendt: 31) de representar a gramática de sentido dos
interesses dos representados. O político pós/moderno age pelos simulacros de
simulação de psicótico grotesco; ele,
com efeito, á da CPL-do perverso para quem o Outro [como gramática de sentido]
persiste como simulacro de dissimulação, isto é, fora dos jogos de signos da
democracia constitucional. A CPL/ do perverso sustenta e recria o campo da
ditadura na forma democrática de governo. Por exemplo, na forma de regime
democrático constitucional 1988:
“Assim é a simulação, naquilo que
se opõe à representação. Esta parte do princípio de equivalência do signo e do
real (mesmo se esta equivalência é utópica, é um axioma fundamental”.
(Baudrillard. 1991: 13)”.
Mesmo que a representação opere
como pura ficção (Kelsen: 315) da gramática de sentido
representante/representado - no campo político simbólico/moderno.
Baudrillard segue:
“A simulação parte, ao contrário da utopia, do
princípio de equivalência, parte da negação radical do signo como valor, parte
do signo como reversão e aniquilamento de toda referência. Enquanto, a
representação tenta absorver a simulação interpretando-a como falsa
representação, a simulação envolve todo o próprio edifício da representação
como simulacro”. (Baudrillard. 1991: 13).
Gracián:
“Os astutos elaboram sofismas
sutis e falam de louváveis motivos superiores ou de razão de Estado. Mas o
homem realmente leal considera a dissimulação uma espécie de traição e preza
mais ser firme do que o ser sagaz e se encontra se4mpre do lado da verdade. Se
diverge dos outros, não é devido à sua inconstância, mas porque os outros
abandonaram a verdade”. (Gracián: 35).
A tela verbal do relato da
verdade é aquela da CPL-do psicótico barroco/gótico. Ela é uma aporia com a
tela verbal da CPL-do perverso neogrotesco <astuto> do poder estratégico no Youtube, por exemplo.
7
A história da civilização
política é aquela da comunidade psíquica linguística (CPL) que para a semiótica
á a CPS, isto é, comunidade psíquica de significantes ou CPS (Greimas: 259). As
gramáticas de sentido podem ser da língua natural ou do conjunto de significantes
artificiais, significantes semióticos. (Greimas: 258: 262). O CPS da época
pósmodernista é do perverso (CPSp). Uma serie de livros tratam da época do
perverso pós-modernista no poder governamental: Da “Sedução”, de Baudrillard, A
“Anti-Natureza”, de Clémant Rousset, o Pós-modernismo. A “lógica cultural do
capitalismo tardio”, o “Crítica de la razon cínica”, de Peter Sloterdijk.
O problema gravitacional é a
gramática de sentido das CPS ou CPL. Há gramática de sentido das CPL:
neurótica, psicótica, perversa, filosófica ou homem normal que se guia pelo
logos. (Samaranchy: 192). A investigação do neurótico, do psicótico e do perverso
tem sido objeto do campo do indivialismo metodológico freudiano. (Kelsen.
1993). Na psicanálise dialética fazendo pendant com a ciência política
materialista (Bandeira da Silveira, 2024a; Bandeira da Silveira, 2024b;
Bandeira da Silveira, Sociologia e psicanálise gramatical, 2017, amazon), a CPL
existe como tela verbal de relato no campo da civilização política.
Hoje interessa investigar a época
da atualidade que é um choque agônico entre a CPL perversa (do Outro como
simulacros de dissimulação [na televisão e no Youtube) e a CPL do filosofo da
terceira década do século 21. Platão falou de uma gramatica de sentido natural
(Nescke-Hentschke; 1995), do direito natural em oposição a gramática de direito
positivo, gramática semiótica, pois, pois.
8
Em 1983, na aurora do globalismo
libera pós-modernista (Ianni; 1996), o professor Eugène Enriquez publicou um
livro sobre Freud, dominação e o Estado. Ele fala do capital capitalismo como
uma estrutura racional pilotada por fetiche. (Enriquez: 260). O capital
capitalismo aparece como a comunidade psíquica linguística do perverso. Bem! a
CPLp se define pelo significante fetiche no campo lacaniano da filosofia:
“Mais il y a la loi, qui comande
la transgression, et qui est elle-même transgressive. La loi comande de
<fair ela loi> parce que seule la loi peut transgresser. Ce quid ire que
le signifiiant de la loi doit apparaître dans le réel, como un objet. C’est le
fetiche. La présence du fetiche au couer de tout perversion est notée par Lacan
qui, parlant de la fonction que l’objet a reçoit du symbolique, nomme celle
<de fetiche dans la strutyure perverse comme condition absolut du
désir>”. (Juranville: 259).
A CPLp é o inconsciente a céu
aberto sem recalque, a não ser o recalque originário. (Juranville: 258=259). A
globalização liberal pós-modernista fez do inconsciente a céu aberto o fenômeno
dominante no Ocidente e Oriente? Para existir, o inconsciente a céu aberto
necessita de tela técnica de imagem textualizadas. Assim, a televisão aparece
como a tela da CPlp através do discurso publicitário que faz da mercadoria
capitalista um fenômeno de uma sociedade do espetáculo. (Debord; 1992). O nosso
problema é a existência da CPLp no campo político de época. Assim, um fenômeno
elementar é o da autoridade:
Nietzsche definiu a autoridade
governamental como ´poder da gramática de sentido no campo da civilização
política. (Nietzsche: 54). Baltasar Gracián fala da autoridade no campo
político do barroco:
“42. Autoridade nata.
“É de uma força superior,
secreta. Não deve emanar de artificialismo enfadonho, mas de um domínio
natural. Todos se submetem a ela sem saber o porquê, reconhecendo o secreto
vigor da autoridade nata. Tais pessoas têm um caráter altivo: reis, por mérito,
leões por direito natural. Cativam o respeito, o coração e até a mente dos
outros. Quando abençoados com outros dons, nascem para ser excelentes
políticos. São capazes de realizar mais com uma insinuação do que outros com
prolixidade”. (Gracián: 40).
A autoridade é uma gramática de
sentido natural, do direito natural. Ela não é uma gramática de sentido
artificial, semiótica, gerada pela Constituição. A não ser que ela seja um
fetiche lacaniano? A não ser se ela for a autoridade instalada como CPLp no
campo político de uma formação social territorial. A autoridade fetiche do
inconsciente a céu aberto?
Quant a l’identefication
imaginaire qui donne sens à tous les phénomènes de la perversio, c ‘est
l’identification à la mére comme l’objet primordial. C’est à la plenitude
imaginaire de la mère que la transgression porte atteinte, et lui portanto
atteinte, elle la suppose. Bien plus elle lui apporte ce qui est censé la
combler, soit le phallus dont la castration est déniée, puisqu’il est là dans
le fetiche. Le paradoxe de la transgression, c’est qu’elle est un mal , bien
sur, mais un mal qui s’efface comme tel parce qu’il apport ela joissance. Dans
la perversion, le mal radical est dénnié. La transgression est le seul Moyen de
produire avec tout mal um bien. Mais c’est aussi introduire la violence exercée
sur soi et sur l’autre dans le désir”. (Juranville: 260).
Fazer da Constituição um fetiche
de imagem textualizada põe e repõe a CPLp como autoridade governamental em
geral na tela técnica cibernética de um campo político - dos países
continentais das Américas. O desejo de poder/autoridade e realiza por uma
gramática de sentido do fetiche como objeto constitucional. A violência dessa
gramática fetichista de sentido gera toda a violência sobre si e sobre o outro
como estamos vendo na violência verbal da guerra feudal particular do pastor Malafia com Bolsonaro e personalidades dos partidos políticos do campo ditatorial de
1988.
‘ 9
No Brasil, nos EUA, na Argentina,
a relação da CPL do rico com o Estado lacaniano d mais-valia fiscal pública
define a época atual. Há a gramática de sentido privatista feudal do rico, que
quer uma ditadura feudal dos direitos materiais do dominante e zero de direitos
materiais do dominado na distribuição da mais -valia feudal fiscal. Assim, o
campo político é uma estrutura de dominação gramatical do rico, uma ditadura
plutocrática, cujo modelo de maior potentia perversa é os EUA.
A investigação da CPlp do rico
nas Amáricas é a chave para o entendimento da gramática de sentido do perverso
no poder gramatical, como autoridade da gramática de sentido da comunidade
psíquica de significante do rico perverso. O Rio Grande do Sul e o Paraná
aparecem como a mais avançada estrutura de dominação ideológica da CPLp no
campo político federalista territorial brasileiro.
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