terça-feira, 8 de outubro de 2024

CPLs - democracia e potentia psicótica

 

José Paulo

 

A CPl/dm é a comunidade psíquica linguística-democrático/moderna que se estabelece na relação representante/representado pelo voto. um homem, um voto. A comunidade psi/signo democrática constitucional/1988 persiste no Brasil. Então, qual potentia faz com que ela persista contra a vontade de poder fascista de desintegrá-la?

O fascismo quer foracluir o significante democracia da cadeia do discurso político brasileiro. Donald Trump quer isso na democracia americana em geral.  A democracia é jogos de significantes do sonho, do chiste, lapsos:

‘”é realmente o próprio significante que deve se articular ao Outro”. (Lacan. 1996:551).

O que é o Outro? Na CPL-individuo:

“encontramos nela os três significantes onde se pode identificar o Outro no complexo de Édipo. Eles bastam para simbolizar as significações da reprodução sexuada, sob os significantes da relação amorosa e da procriação”.

O fundamental:

“é dado pelo sujeito em sua realidade, como tal foracluída no sistema

“E só entrando sob o modo do morto, no jogo de significantes, mas tornando-se o sujeito verdadeiro à medida que esse jogo de significantes vem a fazê-la significar”. (Lacan. 1996:551).

O jogo de significante lacaniano não foi aceito pela semiótica. (Greimas: 421).  Esta não recebe bem o fenômeno da língua como potentia. Assim, proponho uma outra interpretação do jogo de significante como uma potentia que cria e recria no campo político democrático: o Estado territorial nacional:

“Esse jogo dos significantes, com efeito, não é inercial, já que é animado, em cada partícula, por toda a história da ascendência dos outros reais que a denominação dos Outros significantes implica na contemporaneidade do sujeito. Mais ainda, esse jogo, na medida em que se institui como regra para além de cada parte, já estrutura no sujeito as três instancias – eu (ideal), realidade e Supereu – cija determinação será o tema da segunda tópica freudiana”. Lacan. 1966:551).

O Outro dos jogos de significante é a prática política simbólica em geral da democracia. A ditadura s define por não ter o Outro dos jogos de significantes. Rigorosamente, a ditadura não existe como prática política e isso não se confunde com o fato dela ter aparelho de legislação penal. A tradução da CPl-indivíduo lacaniano para a CPl/dm foi feita pelo Estoicismo. Este fala de hegemonikón (Elorduy: 26) ou eu político no campo do Outro dos jogos de significantes. O hegemonikon é a o potestas (como produção e reprodução da gramática de sentido dos jogos de significante) que cria e recria as significações no significado democracia. A foraclisão da gramática de sentido democracia é a pratica de uma potentia psicótica que s sente perseguida pela comunidade psíquica linguística do filósofo como produção do real da democracia constitucional.            

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A obra de Baudrillard foi fabricado na crítica a Michel Foucault e ao campo lacaniano. O livro “À sombra das maiorias silenciosas” é uma crítica a gramática de sentido e à gramática dos jogos de significantes caligráficos freudiano. A massa:

“Figura inaceitável e ininteligível da implosão (trata-se ainda de um processo?), base de todos os nossos sistemas de significações [campo das ideologias] e contra a qual eles se armam com todas as suas resistências, ocultando o desabamento central do sentido como recrudescência de todas as significações e com a dissipação de todos os significantes”; (Baudrillard. 1985: 10).

A massa faz do campo de ideologias a recrudescência das significações no significado da prática política. Ela introduz o campo político em permanente implosão da gramática de sentido, esta como doença ideológica dos jogos de significantes das formas de governo [ou forma de regime]. As massas bloqueiam os jogos de significante/sentido da sociedade classes sociais e da história política:

“O termo massa não é um conceito. Leitmotiv da demagogia política, é uma noção fluída, viscosa, ‘lumpen-analítica’. Uma boa sociologia procurará abarcá-la m categorias ‘mais finas; sócio/profissionais, de classe, de status cultural etc. Erro :é vagando em torno dessas noções fluídas e acríticas (com outrora a de ‘mana’) que s pode ir além da sociologia crítica inteligente. Além do que, retrospectivamente, se poderá observar que os próprios conceitos de ‘classe’, de ‘relação social’, de ‘poder’, de status, todos estes conceitos muito claros que fazem a glória das ciências legítimas, também nunca foram mais do que noções confusas, mas sobre as quais se conciliaram misteriosos objetivos, os de preservar um determinado código de análise”. (Baudrillard. 1985: 11).

No regime de 1988, as massas lulistas se deparam com o fim da gramática de sentido da prática política da hiper-realidade. Outra multidão emergiu na história com o bolsonarismo das classes médias das capitais. A implosão da gramática de sentido da multidão bolsonarista aparece na medida em que ela assume a forma de massa baudrillardiana. Massa fascista que não consegue pôr o sentido ditatorial no significado de desintegração prática da forma de governo democrática constitucional de 1988. Ela se apresenta como agente de foraclusão do significante democracia de 1988.

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Baudrillard é um dos criadores da brilhante e inefável CPLf [do filósofo] pós-modernista. Ele fala do campo político europeu clássico e barroco:

“Exemplificando com Maquiavel, quando o político surge da esfera religiosa e eclesial na época da Renascença, ele é antes de tudo um puro jogo de signos, uma pura estratégia que não se preocupa com nenhuma <verdade> social ou histórica, mas, ao contrário, joga com a ausência de verdade (como, mais tarde, a estratégia mundana dos jesuítas sobre a ausência de Deus). O espaço político inicialmente é da mesma natureza do teatro de intriga da Renascença, ou do espaço perspectivo da pintura, que são inventados no mesmo momento. A forma é a de um jogo, não de um sistema de representação – semiurgia e estratégia, não ideologia -, e a sua utilização depende de virtuosismo e não da verdade (como o jogo sútil e corolário deste, de Balthazar Gracian m ‘Homme de Cour’). O cinismo e a imoralidade da política maquiaveliana estão nisso: não no uso sem escrúpulos dos meios com que o confundiu na concepção vulgar, mas na desenvoltura com relação aos fins, Pois, Nietzsche o viu bem, é nesse menosprezo por uma verdade social, psicológica, histórica, nesse exercício dos simulacros enquanto tais, que se encontra o máximo de energia política, nesse momento em que o político é um jogo e ainda não se deu uma razão”. (Baudrillard. 1985: 19-20).

O texto de Baudrillard fala da transição da época feudal para a época moderna. Acrescento que a transformação entre épocas tem um poder psicótico como motor necessário. Assim, o poder psicótico de semiúrgico cria e recria o real mundial, ele é o capital quase mercantilista em aliança como o Estado territorial da península ibérica, os artistas e os jesuítas. Um poder psicótico do positivo jogos de gramática de sentido cria o real europeu com o Estado mercantilista tardio em aliança com o dominante da sociedade de classes sociais pós-feudal, o artista e o filósofo modernista preparam o campo político moderno com a presença inefável da CPLf iluminista. Os EUA aparecem como gramática de sentido constitucionalista:  

“É a partir do século XVIII, e particularmente depois da Revolução, que o político se infletiu de uma maneira decisiva. Ele se encarrega de uma referência social, o social se apodera dele. No mesmo momento começa a ser representação, seu jogo é dominado pelos mecanismos representativos (o teatro segue um destino paralelo: tornar-se um teatro representativo – o mesmo acontece com o espaço perspectivo: de instrumental que era no início, torna-se o lugar de inscrição de uma verdade do espaço e da representação). A cena política se torna a cena da evocação de um significado fundamental: o povo, a vontade do povo etc. Ela não trabalha mais só sobre signos, mas sobre sentidos, de repente eis que é obrigada a significar o melhor possível esse real que ela exprime, intimada a se tornar transparente, e a se mobilizar e a responder ao ideal social de uma boa representação. Mas durante muito tempo ainda haverá um equilíbrio entre a esfera própria do político e as forças que nele se refletem: o social, o histórico e o econômico. Este equilíbrio sem dúvida corresponde á idade de ouro dos sistemas representativos burgueses (a constitucionalidade: a Inglaterra do século XVIII, os Estados Unidos da América, a França das revoluções burguesas, a Europa de 1848”. (Baudrillard. 1995: 20).

Com o poder psicótico universal como força histórica de transformação do real da realidade das gramáticas, é necessário falar do fenômeno da crise catastrófica do campo político de época. Habermas tem uma ideia:

“Mas apenas quando membros de uma sociedade experimentam alterações estruturais como sendo críticas para a existência contínua e sentem sua identidade social ameaçada, podemos falar de crise”. (Habermas.1980: 14).

Primeiro é preciso que os homens vivam a crise no campo das ideologias:

“Distúrbios de integração sistêmica só ameaçam a existência contínua até o ponto que a integração social esteve em jogo, isto é, quando os fundamentos consensuais das estruturas normativas forem tão danificados que a sociedade se torne anacrônica. Os estados de crise assumem a forma de uma desintegração das institucionais”. (Habermas. 1980: 14).

Habermas está falando da crise catastrófica em contexto lógico.

É uma platitude que a modernidade se constitui como autonomia relativa entre as esferas. Estas são as globais CPLs:  economia, política, cultura. As CPLs são vividas na crise de época no campo das ideologias: política, religião, direito, arte, filosofia etc.

Na modernidade política um poder psicótico oligophilico faz uma foraclusão no campo renascentista/barroco e desintegra o campo político do inimigo/inimigo:

“A <oligophilia> (Derrida. 1994: 19) é uma espécie de política da amizade”. (Bandeira da Silveira. 2023: cap.28).

O campo político moderno se define por ser um campo sem a reciprocidade antagônica amigo/inimigo. O inimigo interno só aparece na stasis e esta é foracluida no espaço da representação política. o inimigo deixa de ser um fenômeno do simbólico e é jogado para o campo do heteróclito, como queria Platão.

Com o capital mercantilista/liberal industrial do século XX, um poder psicótico heteróclito move a esfera da economia, como definiu Schumpeter:

“A abertura de novos mercados – estrangeiros ou domésticos – e o desenvolvimento organizacional, da oficina artesanal aos conglomerados como a U.S. Steel, ilustram o mesmo processo de mutação industrial – se me permitem o uso do termo biológico – que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro , incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de Destruição Criativa é o fato essencial acerca do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí que têm de viver todas as empresas capitalistas”. (Schumpeter: 112-113).  

A comunidade psíquica linguística do capital, mercantilista, industrial tem como motor o poder psicótico revolucionário <destruição criativa>. Então, qual é o poder psicótico de foraclusão da gramática de sentido da época da modernidade do Estado mercantilista industrial da multinacional?                 

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A prime3ira imagem do poder psicótico heteróclito não se encontra em Platão e sim em Aristóteles. É a comum idade psíquica linguística psicótica do bárbaro que é ethos (vida de gosto ético natural agradável) e páthos (vida de gosto grotesco desagradável):

“Algumas coisas são agradáveis por natureza, e destas umas são irrestritamente agradáveis, enquanto outras o são em relação a determinadas classes de animais ou de indivíduos; por outro lado, outras não são naturalmente agradáveis, mas algumas destas se tornam agradáveis por causa de monstruosidades, outras por causa de hábitos e outras ainda por causa de doença sexual”.

“Portanto, é possível descobrir em relação a cada uma das espécies da segunda classificação disposições de caráter semelhantes às identificadas a respeito do primeiro caso; refiro-me às disposições bestiais, como n o caso da mulher que, segundo relatam, abria o ventre das mulheres grávidas e devorava os fetos; ou das coisas com que, de acordo com certos relatos, algumas das tribos selvagens do litoral do mar Negro possuíam o hábito de deleitar-se – com alimentos crus ou carne humana, ou com a troca de crianças entre a tribos para serem  objeto sexual em suas festas – ou na narrativa sobre Fálaris”. (Aristóteles.1992 :137).

O cinema americano do capital industrial de hoje criou e recriou uma tela estética que apresenta a comunidade psíquica linguística do poder psicótico do bárbaro aristotélico como um estado natural da vida do homem.  

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Na CPL romântica alemã, o poder psicótico heteróclito é angelical diabólico. (Godin:732):

Fausto

No mundo que tua habitas, senhor, a natureza

Dos seres se conhece em nomes, com certeza.

Está tudo bem claro e por mim tanto faz

Te chames Belzebu, Demônio ou Satanás.

Qual o teu nome, então?

Mefistófeles

Sou parcela do Além,

Força que cria o mal e também faz o bem!

Fausto

Que dizes com palavras dúbias, meu herói?

Mefistófeles

Eu sou aquele gênio que nega e que destrói!

E o faço com razão; a obra da Criação

Caminha com vagar para a desintegração.

Seria bem melhor se nada fosse criado.

Por isso, tudo aquilo a que chamas pecado,

Ou também ‘desintegração’, ou simplesmente ‘o mal’

Constitui meu elemento eleito e natural”. (Goethe: 59-60).

No final da vida, Freud  definiu a CPl espécie humana como tendo um estado de afecção próprio para a persistência do poder psicótico m geral:  

“É bem sabido que em todos os períodos houve, como ainda há, pessoas que podem tomar como objetos sexuais membros de seu próprio sexo, bem como do sexo oposto, sem que uma das inclinações interfira na outra. Chamamos tais pessoas de bissexuais e aceitamos sua existência sem sentir muita surpresa com ela. Viemos a admitir, contudo, que todo ser humano é bissexual nesse sentido e que sua libido se distribui, quer de maneira manifesta, quer de modo latente, por objetos de ambos os sexos”. (Freud. v. 23: 277).

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As massas estatísticas/virtuais da soberania popular pós-moderna:

“O fato de a maioria silenciosa (ou as massas) ser um referente imaginário não significa que ela não existe. Isso quer dizer que não há mais representação possível”.  (Baudrillard. 1985:22).

A soberania popular não é mais a relação entre representante e representado como seleção da elite governamental:

“As massas não são mais um referente porque não têm mais natureza representativa. Elas não se expressam, são sondadas. Elas não se refletem, são testadas. O referendo (e as médias são um referendo perpétuo de perguntas/respostas dirigidas) substitui o referente político. ora, sondagens, testes, médias são dispositivos que não dependem mais de uma dimensão representativa, mas simulativa. Eles não visam mais um referente não visam mais um referente, mas um modelo. A revolução aqui é total contra os dispositivos da sociedade clássica (de que ainda fazem parte as eleições, as instituições, as instancias de representação, e mesmo a repressão): em tudo isso, o sentido social ainda passas de um polo ao outro, numa estrutura dialética que dá lugar a um jogo político e às contradições”. (Baudrillard. 1985: 22).

Baudrillard fala do poder psicótico pós-modernista da foraclusão da dos jogos de significante da dialética da reciprocidade antagônica no campo político pós-moderno:

“Ninguém pode dizer que representa a maioria silenciosa, e esta é sua vingança. As massas não são mais uma instancia à qual            se possa referir como outrora se referia à classe ou ao povo. isoladas em seu silencio, não é mais sujeito (sobretudo não da história), elas não podem, portanto, ser faladas, articuladas, representadas, nem passar pelo ‘estágio do espelho’ político e pelo ciclo das identificações imaginárias. Percebe-se que poder resulte disso: não sendo sujeito, elas não podem ser alienadas – nem em sua própria linguagem (elas não têm uma), nem em alguma outra que pretendesse falar por elas. Fim das esperanças revolucionárias. Porque estas sempre especularam sobre a possibilidade de as massas, como da classe proletária, s negarem enquanto tais. Mas a massa não é um lugar de negatividade nem de explosão, é um lugar de absorção e de implosão”. (Baudrillard. 1985: 23).

São massas sem gramática de sentido real da realidade do campo político conjuntural pós-modernista.        

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Brasil. Eleição municipal de outubro de 2024. Há a metamorfose das <maiorias silenciosas> em nova soberania popular. O voto ideológico esquerda/direita é negado pela soberania popular; o fluxo do voto ideológico é interrompido; ele não faz mais sentido para as massas:

“Hoje tudo mudou: o sentido não falta, ele é produzido em toda parte, e sempre mais – é a demanda que está declinando. É a produção dessa demanda de sentido que se tornou crucial para o sistema. Sem essa demanda, sem essa receptividade, sem essa participação mínima no sentido, o poder só é simulacro e o efeito solitário de perspectiva”. (Baudrillard. 1985:27).    

O poder simulacro:

“- simulacros de simulação, baseados na informação, no modelo, no jogo cibernético – operacionalidade total, hiper-realidade, objetivo de controle total”. (Baudrillard1981177).

A tela cibernética de jogos de signos da política faz da soberania popular uma maioria silenciosa. Jornalistas e cientistas políticos universitários criam e recriam as massas estatísticas virtuais da maioria silenciosa ideológica esquerda/direita. Porém, eles não conseguem explicar a hegemonia do designado Centrão (reunião/aliança tática informal de partidos políticos que controlam o Congresso). O centrão não pertente mais a demanda da gramática de sentido do simulacro de simulação da hiper-realidade - na eleição municipal:

“Ora, aí também a produção da demanda é infinitamente mais custosa que a produção do próprio sentido. No limite ela ´impossível, toda as energias reunidas do sistema não serão suficientes. A demanda de objetos e de serviços sempre pode ser produzida artificialmente, a um preço elevado mas acessível, o sistema já o demonstrou. O desejo de sentido, quando falta, o desejo de realidade, quando se faz ausente em todas partes, não podem ser plenamente satisfeito e são um abismo definitivo”. (Baudrillard. 1985: 27).

A falta de realidade da demanda da gramática de sentido ideológica é o abismo dos partidos divididos em esquerda/direita. A soberania popular não é mais hiper-realidade, e sim um real mais real que o próprio hiper-real das massas estatísticas virtuais de jornalistas e cientistas políticos universitários. A soberania popular agora é uma potentia psicótica de foraclusão da hiper-realidade e da época pós-moderna.

Qual espécie de potentia psicótico surge com a eleição municipal de outubro?  Faço citações do meu livro “Além da época pós-moderna” para mostrar a emergência do real heteróclito das singularidades das práxis individuais o poder psicótico grotesco/gótico da soberania popular <outubro/2024>:

“A civilização foi u esforço a mais para distinguir o corpo da classe dominante do corpo das classes dominadas: camponês e operário. Trabalho de distinção. A afecção repugnância é plantada no coração do campo do indivíduo dominante e no campo político da sociedade do dominante. Já [Ferreira] Gullar retoma o senso comum da carnavalização popular do corpo do dominado:

‘Nem Bilac nem Raimundo. Tuba de alto clangor, lira singela? Nem tuba nem lira grega. Soube depois: fala humana, voz de gente, barulho escuro do corpo, intercortado de relâmpagos

Do corpo. Mas corpo feito de carne e de osso.

Esse osso que não vejo, maxilares, costelas,

flexível armação que me sustenta no espaço

que não me deixa desabar como um saco

vazio

que guarda as vísceras todas

funcionando

como retorta e tubos

fazendo o sangue que faz a carne e o pensamento

e as palavras

e as mentiras

e os carinhos mais doces mais sacanas

mais sentidos

para explodir como uma galáxia

de leite

no centro de tuas coxas no fundo

de tua noite ávida

cheiro de umbigo e de vagina

graves cheiros indecifráveis

como símbolos

do corpo

do teu corpo do meu corpo

corpo [...]. (Gullar: 237=38). (Bandeira da Silveira. 2024a: cap.14)

A soberania popular outubro de 2014 é esse corpo do dominado como poder psicótico grotesco/gótico que foraclui a época pós-moderna e seus significantes seriais.

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  Cito o livro “Ciência política materialista”:

“Na democracia pós-moderna, um partido mafioso da meia-noite da superfície profunda do Ocidente se constitui como vontade política de desintegrar a democracia, se aproveitando do ocaso dessa forma de tela gramatical pós-moderna. A nova moderna democracia se choca com o poder pós-moderno mafioso. Daí surge a crise catastrófica entre pós-modernidade cesarista tirânica e a nova modernidade democrática”. (Bandeira da Silveira; 2024b: 418).    

  O Centrão é a demanda de gramática de sentido do campo político da democracia constitucional do dominado. Como há falta da gramática de sentido de partidos democráticos, o poder psicótico grotesco/gótico desenvolve o Estado territorial/virtual como comunidade psíquica linguística ditatorial, como estrutura de dominação de uma gramática de sentido:

 “A crise catastrófica é aquela da foraclusão da estrutura de dominação do hegemonikón do campo político a curto prazo e da cultura política nacional/popular democrática a longo prazo; a crise se atualiza com a classe dominante mafiosa em aliança com classes médias mafiosas pós-modernas querendo governar somente pela tela gramatical do aparelho de Estado/legislação penal: dominação puro sangue”.

“Os fenômenos monstruosos abriram as comportas sujas do mundo para a existência de uma realidade heteróclita, que fascina os mass media e políticos”. (Bandeira da Silveira. 2024b: 418).

O poder psicótico soberania popular poderá desenvolver a democracia constitucional de 1988, caso partidos políticos democráticos se constituam como demanda de gramática de sentido real/concreta da nossa democracia. Para isso acontecer, o partido democrático aparecerá como negação de uma dupla tradição. Em fratura: com a tradição do pensamento autoritário; com a tradição retórica do mundo jurídico; com a hiper-lógica da realidade da política da pós-modernidade.   

 

ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Edunb, 1992

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Revolução barroca dentro da ordem. EUA: amazon, 2023

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna. EUA: amazon, 2024a

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Ciência política materialista. EUA: amazon, 2024b

BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée, 1981

BAUDRILLARD, Jean. À sombra das maiorias silenciosas. O fim do social e o surgimento das massas. SP: Brasiliense, 1985

GODIN, Christian. La totalité. V. 1. De l’imaginaire au symbolique. Paris: Champ Vallon, 1998

ELORDUY, Eleuterio. El Estoicismo. Madrid: Grados, 1972

FREUD. Obras Completas. Análise terminável e interminável. v. 23. RJ: Imago, 1975

GOETHE, J. W. Fausto e Werder. SP: Nova Cultural, 2002

GREIMAS E COURTÉS. Dicionário de semiótica. SP: Cultrix, 1979

HABERMAS, Juergen. A crise de legitimação do capitalismo tardio. RJ: Tempo Brasileiro, 1980

LACAN, Jacques. Écrits. Paris: Seuil, 1966

SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. RJ; Zahar, 1976

 

 

 

      

    

 

 

 

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