terça-feira, 1 de outubro de 2024

BRASIL - gramáticas de sentido (1964\2024)

 

  José Paulo

 A comunidade psíquica linguística uspiana criou o conceito de ditadura militar (Ianni. 1981; Fernandes. 1982) para o Estado liberal-mercantilista/1964. O século XX criou formas ideológico/políticas como esquerda e direita. Assim, um confronto de ideias entre esquerda e direita se apossou da cena intelectual da cultura brasileira.  Na terceira década do século XXI as formas ideológicas do século XX continuam a dizer que o mundo se divide entre esquerda e direita na grande imprensa, televisão e Youtube. Bem! um outro mundo político surgiu com o século XXI. Um mundo das novas gerações do sécu8lo XXI governadas pelas gerações do século XX, que pesa como chumbo no cérebro das gerações do século XXI da metade da terceira década.

O Estado liberal/mercantilista dos ministros econômicos Roberto Campos, Bulhões de Carvalho e Delfim Neto, do general Golbery do Couto e Silva, de José Sarney, do presidente-general Castelo Branco ainda não teve a descoberta e invenção de sua plurivocidade de tela [de gramática, de gosto, de ideologia] que sobrepuja a superfície ideológica esquerda versus direita. Assim, uma ciência política materialista fazendo pendant com uma filosofia dialética se faz necessário para a cultura brasileira se libertar do velho século XX e suas formas de tela pré-diluvianas.        

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O dramaturgo Nelson Rodrigues descobriu um fenômeno dominante na alma barroca brasileira da elite cultural. Trata-se do <complexo de cachorro vira-lata> do bacharelismo que surge como uma afecção na alma/corpo - no século XIX monárquico. O cosmopolitismo na cultura é refém dessa afecção inexistente na alma do estadunidense, por exemplo. Assim, o conceito de Estado, a gramática do Estado foi tida como um problema factual sem gramática, sem conceito. A ciência social brasileira deixou de pensar, de refletir sobre a gramática do Estado/1964 como um conceito de uma filosofia de Estado hegeliano:

“É crucial acentuar que é apenas através da auto-reflexão dos indivíduos, apenas na medida em que se reconciliam com seu mundo social (racional), percebendo-o corretamente como racional e vivendo suas vidas de acordo com essa percepção, que o próprio mundo social é levado à sua plena substancialidade. Assim, embora as instituições sociais racionais sejam o plano de fundo necessário para a liberdade e para a autonomia real dos indivíduos, sua reflexão, juízo e conduta racional (razoável) são necessários para realizar a substancialidade e a liberdade de seu mundo social”. (Rawls:381).

O Estado liberal/mercantilista brasileiro era um Estado substancialista hegeliano nos trópicos. Mas qual era sua forma ontológica? Na Europa, o Estado hegeliano aparece – no pós-segunda guerra mundial – em uma forma que foi objeto de reflexão em Paris. A filosofia de Estado hegeliana prática:

‘A síntese conduzia ao Estado stalinista fortalecido. Reduzia a história à gênese desse Estado: o que significa que há no stalinismo um historicismo neo-hegeliano, apresentando em nome da <inversão> do hegelianismo. No acasalamento <filosofia-política>, que caracteriza a filosofia em seu último estágio, o aspecto importante é o segundo. A filosofia propõe, o Estado dispõe. O stalinismo realizou a filosofia hegeliana, que anunciava a realização de toda filosofia, de toda racionalidade elaborada pelos filósofos, no e pelo Estado. O stalinismo, sistema prático, forneceu a verdade do sistema especulativo. E com isso, levou a seu ponto final uma história, ada filosofia e a do Estado, dupla história que talvez contenha o essencial da história”. (Lefebre:4).

Herbert Marcuse desenhou em jogos de caligrafia o Estado americano stalinista hegeliano. (Marcuse: 1973). No Brasil, o Estado hegeliano stalinista é uma fabricação de 1964. O Estado hegeliano brasileira emerge como história de efeitos do colapso do Estado populista. (Ianni. 1975a; Ianni. 1975b).  Por isso, JK, Carlos Lacerda, Ulisses Guimarães fizeram parte do golpe de Estado desferido no governo de Joãos Goulart. O golpe de Estado combinou multidões na rua (Rio, São Paulo Belo Horizonte etc. com golpe parlamentar que destituiu João Goulart e seu ministro da Casa Civil. o amigo do marechal Rondon – o antropólogo-modernista Darcy Ribeiro.  

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O período 1964/1968 é invadido por fenômenos como a guerrilha e o movimento de massa estudantes e intelectuais que desabrocha na passeata dos Cem mil no Rio. Os efeitos desses fatos na superfície da prática política do Estado hegeliano afetaram a superfície da comunidade psíquica linguística forças armadas. O efeito foi deslocar para o proscênio da cena política a contradição entre a fração liberal iluminista e a facção fascio-mercantilista nacionalista. Assim, um golpe de Estado desintegrou o Estado iluminista-liberal-militar-civil e pôs no ougar dele um Estado fascio/mercantilista puro do general Médice e do general Silvio Frota, que chega aos anos 2000 com o governo de Jair Bolsonaro.

Um outro fenômeno liminar é a criação da pequena comunidade psíquica linguística paulista liberal-iluminista universitária CEBRAP:

“Por fim, eu [FHC] não teria tido possibilidade de escrever estes trabalhos e de continuar a participar na vida intelectual do9 país, depois que tive de deixar a convivência universitária, se um grupo de companheiros de trabalho não tivesse decidido criar o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) onde foi possível manter a discussão intelectual”. (Cardoso. 1973: 3).

No pós-ditadura militar, o barroco de Minas Gerais Tancredo Neves foi presidente eleito [com o vice o artista da política José Sarney] pelo Colégio Eleitoral do Estado hegeliano. Tancredo faleceu de uma doença antes de assumir o cargo. Em um petit comitê (FHC, o general de Tancredo, Sarney e Ulisses Guimarães) decidiu que Sarney seria o presidente da verdadeira transição da ditadura para a democracia sem desintegrar o Estado stalinista hegeliano iluminista. Aí nasceu a comunidade psíquica linguística liberal/iluminista/barroca (com o artista barroco de São Luíz do Maranhão, José Sarney) - que iria criar a gramática estrutural /estruturante do regime de 1988.   

 A comunidade psíquica linguística supracitada veio a ser habitada por intelectuais boníssimos como o embaixador José Guilherme Merquior e os filósofos do aparelho de hegemonia iluminista/liberal/barroco Sergio Paulo Rouanet e Carlos Nelson Coutinho.

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O contexto obscuro do liberalismo bolsonarista me levo a fazer a crítica da ideologia liberal de Merquior. Hoje, em um ambiente de mais tranquilidade ideológica, sou capaz de estabelecer a filosofia de Estado hegeliano de Merquior com o contexto original da práxis dela:

“et c’ets comme structure originelle de la práxis que la contradction est intelligible et fonde l’intellibililité de celle-ci”. (Sartre. 1985. V. 2: 12).

A contradição de Merquior é, com muita elegância e clareza, ignorar a crítica da dialética da filosofia de Estado hegeliana. De qualquer modo, ele introduz um conceito de Estado hegeliano/iluminista com pouca realidade em analogia com o Estado hegeliano/iluminista nacional do governo Sarney. Merquior fala da gramática original do Estado hegeliano sem a realidade histórica do século XX, coisa típica da filosofia retórica de Estado da cultura brasileira com origem estrutural na práxis do bacharelismo/jurídico do século XIX pernambucano/paulista. A filosofia de Merquior é um exemplo brilhante da doença infantil do hegemônico saber retórico livresco na comunidade psíquica linguística da nossa alta cultura, que chega aos dias atuais:

“Em Hegel, por fim, a noção de sociedade civil ocupa uma posição intermediária entre esses significados clássico e moderno. Por um lado, conforme vimos, Hegel, influenciado pela teoria social do iluminismo escocês, já concebe a sociedade civil como uma esfera econômica distinta do estado [Estado]. Por outro lado, Hegel ainda não a separa totalmente do estado, como fará Marx. É que Hegel recusa a um só tempo ambos os modelos dicotômicos dentro dos quais fora até então concebida a sociedade civil, o clássico sociedade (sociedade civil/sociedade doméstica) e o iluminista (sociedade civil/humanidade primitiva). O modelo hegeliano é, ao contrário, triádico: frente à sociedade doméstica da família, a sociedade civil hegeliana aparece como forma incompleta de estado; dentro, porém, da estrutura estatal, pertence a um nível inferior – o nível jurídico-administrativo, que expressa e organiza os interesses particulares da cidadania –,  enquanto só o estado propriamente dito representa o momento superior o momento ‘ético-político’, no qual o estado, encarnação da Ideia, funde misteriosamente o interesse do cidadão como indivíduo com o interesse universal do Espírito. Forma-se assim a tríade: família, sociedade civil, estado”. (Merquior. 1987: 46).

A gramática retórica/Merquior de Hegel tinha pouca realidade da filosofia de Estado hegeliano. A nacionalização de Hegel se faz a partir da cultura livresca do cosmopolitismo brasileiro.     

O aparelho de hegemonia do Estado hegeliano tem como grmático monárquico Joaquim Nabuco. Na república de 1964-2024, a comunidade psíquica linguística (CPL) iluminista/liberal tem como protagonistas: Afonso Arinos de Mello Franco, Carlos Lacerda, José Sar4ney, Luís Viana Filho, Raymundo Faoro, FHC, José Guilherme Merquior e Sergio Paulo Rouanet. A história dessa CPl ainda não foi escrita. No período do governo Sarney, Merquior aparece como o ponto alto. Síntese do CPl iluminista/liberal republicano.

Rouanet:

“Em minha resenha, recusei tanto o Liberal-Iluminismo como o Marxo-\iluminismo, que supõem a institucionalização e a domesticação das Luzes, e propus uma distinção perfeitamente evangélica (conhecemos, desde as epístolas de São Paulo, a diferença entre espírito que vivifica e a letra que mata) entre o iluminismo vivo, demônio fáustico cuja função é negar – der Geist der stets verneint -, e o iluminismo de museu, cuja função é celebrar a ordem constituída. Habilitam-se, então, herdeiros de um tipo terceiro tipo: os livres-atiradores do iluminismo, que não falam em nome de uma sociedade e conservam em toda a sua virulência o espírito iluminista original”. (Rouanet. 1987: 201).

Rouanet fala do espírito [gramática original] do iluminismo. O iluminismo de Fausto é aquele da CPL capaz de produzir mudança non espírito do Estado e na natureza do campo político conjuntural:

“Em suma, o <espírito do iluminismo>, para retomar minha expressão, é ao mesmo tempo subversivo e racional; pois a razão é sempre crítica, e o irracionalismo é sempre reacionário. Essas duas condições, que caracterizam o Iluminismo clássico, caracterizam também seus autênticos herdeiros. São condições necessárias e suficientes. Elas bastam para caracterizar como contra iluminista as posições as posições conservadoras, desde a Gegeneaufklarung romântica até o neoconservadorismo de hoje, como o de Arnold Gehlen na Alemanha e o de Daniel Bell  na América, porque ao menos uma das condições – ou aspecto crítico ou aspecto racional – está ausente. E bastam para caracterizar como iluministas autores como Marx e Adorno, mesmo, ou sobretudo, quando criticam o iluminismo”. (Rouanet. 1987: 204-205).

A CPl iluminista/liberal é do Rio, pois, Merquior., Rouanet e FHC são cariocas da gema FHC é um ersatz de paulistano.   

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Entre FHC [iluminista/liberal] e Michel Temer [advogado do Diabo, maître das singularidades do heteróclito do largo de São Francisco/ USP], houve a transição lulista. Esta consistiu no simulacro de simulação (Baudrillard: 177) da reciprocidade antagonista sartreana, isto é, simulação de conciliação barroca (Hatzfeld: 61). Com efeito, a transição foi a guerra feudal privada do PT contra o PSDB. Com Michel Temer, a guerra feudal privada contra o Estado hegeliano liberal/iluminista torna-se a gramática do campo político feudal sob a tutela/soberania de um Estado ditatorial/mafioso retórico do bacharelismo da USP.  

A história da comunidade psíquica linguística – jurídica paulista ainda está por ser tecida. Michel Temer e Alexandre de Moraes [professor da USP} são os dois gramáticos do CPL em tela jurídica paulista. Provavelmente, a gramática da guerra feudal privada foi uma descoberta e invenção da CPL supracitada. No campo político nacional, a gramática da guerra feudal é obra artística de Temer e Moraes, que foram dirigentes do aparelho penal de Estado de São Paulo, quando viveram a experiência da guerra feudal das organizações criminosas como a do PCC paulista.

O que é a guerra feudal?

Sartre fala da gramática universal da guerra a partir do campo político francês:

“cela signifie qu’il totalise successivement le champ pratique de deus points de vue opposés. A partir de là, il considère chaque manouvre comme un effort concerte pour réaliser le plein emploi des circonstances et de moyens donnés pour obtenir la destruction de l’adversaire. Il  saisit donc chacune par la compréhension. [...] il reprend toutes les manoeuvres possibles dans la situation envisagée pour determiner si celle qui a été faite emn realité est bien la meilleure possible, comme elle droit et prétendre être. Ces possibles n’ont jamais eu d’existence réelle mais ils ont été mis em relief, la plupart du temps, par cent ans de discussion dans les écoles militaires. Chacun d’eux est l’origine d’une bataille avec peut-être une autre issue. Et chacun doit être étudié á la fois du point vue des modifications qu’il entraînait dans le groupe considéré et du point de vue des réponses possible de l’adversaire”. (Sartre. V. 2: 15).

O conceito de natureza de reciprocidade antagonista sartreano (Sartre. V. 2: 17) do campo político da guerra feudal começou a ser desenvolvido com o governo de Michel Temer e adquiriu um gosto brutalista com o governo de Bolsonaro.

Sartre fala mais um pouco do conceito de guerra no campo político conjuntural:

“A partir de là, nous pouvons remarquer que la bataille réelle devient un cas particulier d’um ensemble complexe de nx possibilites rigouresement liées les unes aux autres. Pour l’officier, en effet, l problème n’est pas historique mais pratique: il envisage donc pour une situation donnés l’ensemble des manoeuvres possibles (parmi lesquelles la manoeuvre réelle figure) et pour chacune de ces manoeuvres l’ensemble possible des ripostes avec toutes les conséquences que celle-ci et celle-là entrînent pour l’une et l’autre des armées. Sa supériorité sur les combattants vient de ce qu’il connaît l’issue d’au moins un ensemble réel de possibles et de ce que les documents livres aux historiens lui donnent de chaque armée une connaissance beaucoup plus precise et beaucoup plus vraie que celle qu’en possédait l’état-major adverse”. (Sartre. V. 2: 16).    

  A ditadura feudal psicótica é um fenômeno universal nas civilizações e povos policiados. (Lacan; 1987; Schreber; 1995):

“Ele vê que o olho. Vejo que ele vê. Ele vê que esto0u vendo que ele vê... A análise não tem fim, e se fosse a medida de todas as coisas, os olhares se insinuariam indefinidamente um no outro, sempre haveria um único cogito ao mesmo tempo. Ora, ainda que os reflexos dos reflexos vão, em princípio, ao infinito, a visão faz com que as negras aberturas dos dois olhares ajustem-se uma à outra,  que tenhamos, não mais duas consciências com sua teleologia própria, mas dois olhares um dentro do outro, sós no mundo. ela delineia aquilo que o desejo realiza quando expulsa dois ‘pensamentos’ para essa linha de fogo entre eles, essa superfície ardente, onde buscam uma realização que seja identicamente a mesma para ambos, como o mundo sensível pertence a todos”. (Merleau-Ponty: 16).

A propriedade das singularidades do mundo sensível define o poder feudal ditatorial psicótico. No século XVII, Spinoza fez a filosofia da crítica materialista da gramática da ditadura barroca/feudal psicótica. Hoje, se trata de criar um domínio da filosofia dialética da crítica materialista da ditadura feudal mafiosa psicótica. Todo poder é tirânico psicótico paranoico, pois, se sente perseguido pelo filósofo. (Strauss: 43-44). O campo político feudal ditatorial psicótico nacional é um efeito da gramática da comunidade psíquica linguística- jurídica paulista psicótica.

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Em uma outra filosofia:

“la lutt n’y apparaît, en effet, comme l’avatar d’une groupe déjà integre: ce que3 nous avons montré, en somme, c’est que que si l’unité synthétique existe dájà -comme effet et6 comme condition d’une práxis commune – le conflit interne, comme assomption pratique des contre-finalités sécrétées par l’action n’est, dans son mouvemnt de réciprocité antagonistique comme dans ses produits objectifs, qu’une incarnation et qu’une historialization de la totalisatio0n globale , en tant qu’elle doit aussi totaliser ses déchets et ses produits de désassimilation. Et nous avons bien noté que la totalisation n’est pas un mouvement idéal et transcendant mais qu’elle s’opère par les activités discrètes des individus sur la base du serment commun. Mais , bien qu’il se produise fréquentemment dans l’expérince concrète – et à tous les niveux de la patique -, bien qu’il soit, en un mot, du domaine propre de l’histoire , condition et conséquence de l’évolution globale de la société où il se produit, ce cas privilegie où l’unité précède et engendre la discorde intérieure ne peut évidemment se donner que pour une spésification du processus historique”. (Sartre. V. 2: 129).

A práxis comum da prática política feudal ditatorial é uma unidade com conflitos internos que criam as aparências de semblância (Arendt: 31) de que se vive em um espaço democrático, na medida em que há uma Constituição liberal política virtual, isto é, no papel, mas não na realidade das práticas políticas. O que há é a reciprocidade antagonista nas obras secretas das práxis – que se desenvolvem na superfície reprofunda do campo político conjuntural - como <totalização global> de um processo político em passagem ao ato. A ditadura feudal psicótica é totalização global de passagem ao ato das práticas políticas nas regiões de gosto da historialização das comunidades psíquicas linguísticas- feudais.

Como é a experiencia concreta desse fenômeno vivido em segredo da justiça?

Os indivíduos e multidões são fenômenos da doença da sociedade, eles vivem sob o domínio da gramática do mundo heteróclito, da realidade sensível das singularidades. A olho nu, sem estar no domínio em tela, um observador pode falar algo sobre esse mundo heteróclito da historialização da superfície reprofunda da ditadura feudal mafiosa?

Os partidos políticos são a base gramatical/institucional da democracia constitucional/1988. No entanto, os partidos políticos não aparecem com ideologia democrática nem com retórica política democrática. O dia internacional da democracia passou em brancas nuvens na vida partidária. Os partidos são autotélicos, eles não possuem ligação real com a sociedade das CPLs. Eles vivem do dinheiro público em bilhões de reais e, assim, os cofres públicos são objeto da aura sacra fames dos políticos e partidos:

“Nem porque a auri sacra fames, a avidez de ouro, fosse, então , ou seja agora, menos potente fora do capitalismo burguês do que dentro de sua esfera peculiar, como levam a crer as ilusões de modernos românticos. A diferença entre os espíritos capitalistas e pré-capitalistas não se encontra neste ponto. A voracidade [do mandarim chinês, do velho aristocrata romano, do camponês moderno] resiste a qualquer comparação. E a auri sacra fames de um cocheiro ou de um barcaiuolo napolitano e, ainda, certamente, as de representantes asiáticos de atividades semelhantes, assim como a dos artesãos de países do Sul da Europa e da Ásia é, como qualquer um pode descobrir por si mesmos, muito mais intensa, e, especialmente mais inescrupulosas, por exemplo, do que aquela de um inglês em circunstâncias similares”. (Weber: 35-36).       

Os grandes partidos políticos vivem do direito natural a uma parte substantiva da mais-valia pública. São direitos feudais do dominante político que faz da política uma <profissão privada> com dinheiro estatal. 0 <espírito> dos grandes partidos [sua tela gramatical narrativa] é <tempo político é dinheiro público> para o bolsinho, para enriquecimento individual, familial, e de clã. Nada se sabe sobre a vida real dos partidos. Eles são criaturas pré-diluvianas da meia-noite do século XX na terceira década do século XXI. É uma superfície política das singularidades heteróclitas do abismo da democracia constitucional. Com efeito, eles são parte da ditadura/1964 que invadiu a história democrática de 1988. 

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A crítica sartreana da gramática dialética se estabelece como u modo de esclarecer a relação entre representante e representado, entre partido e classe social em uma época de ocaso da revolução socia. Assim:

La réponse immédiate mais insuffisante, c’est qu’il n’y aurait pas même une ébauche de totalization partielle si l’individu n’état par soit-même totalisant. Tout la dialectique historique repose sur la práxis individuelle en tant que celle-ci est déjà dialectique, c’est-à-dire dans la mesure où l’action est par elle-même dépassement négateur d’une contradiction, déterminatin d’une totalization présente au nom d’une totalité future, travail réel et efficace de la matière. [...]. Mais j’ai dit que l’expérience fournissait elle-même son intelligibilité. Il faut donc voir au niveau de la praxis individuelle (peu nous importe, pour l’instant, quelles sont les contraintes colletives qui la suscitent, la limitent ou lui ôtent son efficacité) quelle est la ratinalité proprement dite de l’action”. (Sartre. V. 1: 194).       

A crítica da gramática dialética da totalização a partir da práxis individual põe como pressuposto e referente da história política a comunidade psíquica linguística- individuo. Aí a experiência doa sua inteligibilidade a apresenta como ação racional. A razão é um fato da CPL-indivíduo. A práxis individual da prática político é compreensível em termos da lógica de sentido que tem um futuro, um horizonte. O sentido articula o campo das ideologias racionais na práxis individual da prática política. Assim auri sacra fames [totalização imediata de sentido prático] não é mais ou menos do que aquilo que doa sentido racional para a práxis individual da prática política parlamentar nacional brasileira.    

Auri sacra fames é afecção da prática política parlamentar nacional [afecção institucional] como comunidade psíquica linguística- práxis individual. A gramática de sentido dialético-materialista da prática política doa a unidade do campo político como racional na práxis individual que tem como motor a afecção supracitada. O contexto racional tem como subjacente um saber democrático virtual, inconsciente, do fazer o bem-comum. Daí que os efeitos da prática política global apareçam como racional na fabricação das leis, segundo determinados interesses econômico e de vaidade por obter poder político e levar uma vida agradável. Aí está incluída a contradição entre o páthos da vida heteróclita da prática política e o ethos da vida agradável, da vida ética na práxis individual vivida em comunidade psíquica linguística-das relações humanas com sentido racional que evita a foraclussão do real sobre a práxis como trabalho (Sartre. V. 1: 222) da política  

Sartre:

“De fait, dans le momento où je découvre l’um ou l’autre, chacun dans son projet fait apparaître le monde, comme enveloppement objective de son travail et de ses fins: ce dévoilement sphérique revient sur lui pour le situer par rapport à ce est derrière lui comme à ce qui est devant, par rapport à ce qu’il voit comme à ce qu’il ne voit pas; l’ objective et le subjective sont indicernables”. (Sartre. V. 1: 216).

Na comunidade psíquica linguística o objetivo e o subjetivo habitam a mesma superfície da identidade absoluto da práxis política. Ora, isso seria dizer que na prática política se dissolve a relação entre eu e outro, entre eu e fantasia e/ou fantasma. Assim, chega-se a conclusão logica da impossível unidade de toda e qualquer CPL. Os estoicos falam, então, de um hegemonikon (Elorduy: 26)), um eu político que é a garantia da unidade da prática política que evita o real heteróclito como projeto catastrófico.

Sartre:

“je suis désigné moi-même et remis en question; trois  possibililités objectives sont donnés dans ma perception même: la première, c’est d’établir moi-même une relation humane avec l’ub ou l’autre, la seconde, d’être la médiation pratique qui leur permettra de comumniquer entre eux, autrement dit d’être dévoilé par eux comme ce milieu objective que je suis déjà”. (Sartre. V. 1: 216).

O pessimismo da sociologia falava de uma impossibilidade lógica de uma democracia constitucional sem laço social humano. Estamos em uma época em que há a subsunção das relações humanas às rlções ´práticas cibernéticas. O pessimismo da sociologia vê aí o fim da democracia em um tempo de discurso da ciência natural - que anuncia a extinção das grandes espécies. As novas gerações vivem em um campo de ideologias racionais da <ilusão do fim> como afecção da prática política historial.

Baudrillard:

“No que respeita à história, a recitativa tornou-se impossível, uma vez que, por definição (recitatum), é a recorrência possível de uma sequência de sentido”. (Baudrillard. 1992: 9).

Antes do milenarismo da ciência natural, uma comunidade psíquica linguística se constitui: a da globalização liberal do fim do século XX:

‘Ora, cada acontecimento, através do impulso de difusão e de circulação total, é libertado para si só – cada facto torna-se atômico, nuclear, e prossegue a sua trajetória no vazio [de gramática de sentido]. Para ser difundido n infinito tem de ser fragmentado como uma partícula, assim podendo atingir uma velocidade de não regresso, que o afastará definitivamente da história. Cada conjunto, cultural, factual, tem de ser fragmentado, desarticulado, para entrar nos circuitos, cada linguagem tem de ser convertida em dispositivo binário para circular, não nas nossas memórias, mas na memória, eletrônica e luminosa, dos computadores. Nenhuma linguagem humana resiste à velocidade da luz. Nenhum acontecimento resiste à difusão planetária. Nenhum sentido resiste à sua aceleração. Nenhuma história resiste à centrifugação dos factos, ou ao seu curto-circuito em tempo real (na mesma ordem de ideias, nenhuma sexualidade resiste à sua libertação, nenhuma cultura resiste à sua promoção, nenhuma verdade resiste à sua verificação etc.”. (Baudrillard. 1992: 9-10).

Ora antes do final, espera-se este de papo para o ar?  

As relações técnicas de produção cibernéticas invadem a prática política promovendo seu colapso de sentido? As novas gerações do século XXI, em geral, sofrem com o fim da gramática de sentido. Movimentos políticos europeus buscam a gramática de sentido no nacionalismo e na tomada do poder político do Estado territorial.   

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Sartre fala da gramática de sentido do campo heteróclito;   

  “ - il est nécessaire, nous le verrons bientôt, que l’histoire humaine soit vécue – à ce niveau d’expérience – comme histoire inhumaine. Et cela ne signifie pas que les événements vont nous apparaître comme une succession arbitraire de faits irrationnels, mais au contraire qu’ils vont prendre l’unité totalizante d’une négation de l’homme: l’Histoire, prise à ce niveau offre un sens terrible et désespérant”. (Sartre. V. 1: 234-235).

A gramática de sentido heteróclita pode ser lógica, infralógica e paralógica, mas nunca irracional. As classes baixas se caracterizam por viverem, sem escolha, nas regiões da gramática de sentido heteróclita. Os aparelhos de hegemonia [escola pública, igreja, clube de futebol  etc.] são escolas da gramática de sentido que faz das singularidades práticas políticas simbólicas lógicas em um contraponto ao contrário da vida terrível e desesperante vivida no real lacaniano, o impossível de ser suportado como diabólico, como a penitenciária do agir inerte no inferno da Terra:

“il apparaît, em effet, que les hommes sont unis par cette négation inerte et démoniaque qui leur prend leur substance (c’est-à-dire leur travail) pour la retourner contre tous sous forme d’inertie ctive et de totalization par extermination. Nous allons voir que cette relation étrange – avec la première aliénation qui resulte – comporte as propre intelligibilité dialectique dès qu’on examine ler apport d’une multiplicité d’individus avec le champ pratique qui les entoure, en tant que ce rapport est pour chacun une rapports reciproques qui les unissent”. (Sartre. V. 1: 234-235).

Em geral, as classes medias ricas e os ricos se espantam com o grau de solidariedade recíproca antagônicas da vida popular das classes baixas, pois, sabem que o real lacaniano [heteróclito] parece invadir a vida dessas populações. No Brasil, junho de 2013 despejou nas ruas das grandes capitais multidões que manifestara, em linguagem simples, uma concepção política de mundo evocando a desintegração do sistema brasileiro. O sistema era visto como a estrutura de dominação subdesenvolvida do capital feudal com seus direitos do dominante a quase totalidade da mais-valia publica fiscal. Os partidos políticos foram rechaçados como parte dessa infralógica do subdesenvolvimento.  A revolução barroca dentro da ordem das classes baixas produziu potestas que se aproveitaram das ideias e afetos antissistemas em seus jogos de caligrafia eleitoral - para tomar o poder político nacional. Junho de 2013 foi uma eclosão do inumano na prática política em geral?                

                                                                             

A práxis individual é dialética (Sartre. V. 1: 194) e a antipráxis é o grau zero da dialética:

“Autrement dit, nous découvrirons là l’anti-praxis permanente comme moment nouveau et nécessaire de la práxis. Sans un effort pour le déterminer, l’intelligibilité historique (qui est l’évidence dans la complexité d’um développement temporrel) perd un moment essentiel et se transforme en inintelligibilité”. (Sartre. V. 1: 236).

A gramática de sentido da antipraxis doa a inteligibilidade da época atual, da prática política do Estado feudal/liberal dos EUA e Europa. Este é um fenômeno que foraclui a dialética como gramática de sentido dos fenômenos. O Estado feudal/liberal não se constitui como projeto dialético de futuro. Os governos de Michel Temer e Bolsonaro representaram o Estado feudal/liberal como instrumento de destruição do Estado hegeliano/iluminista liberal como exemplo de antipraxis. O Estado deixa de acolher a práxis individual na sua prática política como gramática dialética de sentido fundada no futuro.  O governo de Lula procura a práxis industrial dialética do vice-presidente como projeto de futuro.

Ergue-se contra o Estado feudal/liberal, a práxis de Xi Jinping como projeto de futuro de grande potência. O Estado confuciano/maoista:

“A revolução barroca chinesa desse o início põe e rpõe como mta a fabricação de um general intelect gramatical. É o ‘Esboço do programa de longo prazo para o desenvolvimento da ciência e tecnologia nos anos 1956 e 1967’ (XU baofeng: 731). O mercantilismo do capital barroco:

‘A tela narrativa barroca histórica da atualidade é uma fabricação da China. Mao Zedung teceu a dialética da conciliação barroca de capitalismo e socialismo como mercantilismo do capital asiático continuada por Xi Jinping. Tal capitalismo chinês é o mercantilismo do capital barroco”. (Bandeira da Silveira. 2024: cap. 26).

O capital barroco asiático acolhe a práxis individual de reciprocidade antagonista na fabricação da nova ordem mundial, coisa que foi rechaçada pelo Estado feudal/liberal americano da antipraxis mundial. O Estado hegeliano asiático mercantilista/liberal sustenta a ideia d projeto sartriano como gramática de sentido da história da espécie humana no século XXI. tal projeto se choca com a antipraxis do Estado feudal/liberal puro que possui uma pratica política de uma tela  cibernética como soberana: <a tela cibernética no comando da política>

A tela cibernética da antipraxis se apresenta como gramática de sentido da vida fugaz, da prática política do hic e nuc, ela serve uma gramática de migalhas de sentido oriunda do mundo heteróclito, todo santo dia. Ora! A gramática de sentido é indestrutível no cérebro. Ela organiza e põe e repõe em relações de reciprocidade antagônicas as regiões do cérebro: da gramática, do gosto, da ideologia. A gramática de sentido antipraxis apela para a infralógica e a supralogica, para o Estado delirante feudal/liberal virtual/territorial. Essa é a doença atual do ocaso do Ocidente como civilização policiada de 1500/?.

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A comunidade psíquica linguística é um campo de pulsões, de  Trieb (Bloch: 62). A gramática de sentido da Trieb se desenvolve e funciona nas regiões do cérebro. Essa gramática de sentido cerebral transforma pulsão em afecção como vontade de potentia do [querer] do corpo/alma. (Bloch: 63-64).   

Deleuze segue Freud no conceito de <instinto de morte> na espécie humana:

Daí ter-nos parecido ser preciso manter a palavra <instinto de morte>, para designar essa instância transcendente e silenciosa. Quanto às pulsões, pulsões eróticas e destrutivas, devem somente designar os componentes das combinações determinadas, isto é, os representantes, no de3terminado, de Eros e de Tanatos, os representantes diretos de Eros e os representantes indiretos de Tanatos, sempre misturados no Id. Tanatos é; não existe, portanto <não> no inconsciente., porque nele a destruição é sempre dada como o inverso de uma construção, no estado de uma pulsão que se combina necessariamente com a de Eros”. (Deleuze: 124-125).

Derrida:

“Ce qui lie ou oppose ainsi sans fin le couple ami/ennemi, ennemi/ami dans la pulsion ou la décision de mort, dans la mise à mort ou dans la mise de mort, ce serait justament, ne l’oublions pas, le politique. C”est de l’ennemi polítique que nous parlions au départ de cette analyse”. (Derrida: 144).

 O instinto de morte aprece no campo político na relação inimigo/inimigo. Derrida fala de gramáticas de sentido na relação inimigo/inimigo. Ele a distinção entre dois tipos de inimigo: um na pólemos (guerra entre povos ou Estados) e stásis [rebelião, revolta, insurreição até a guerra civil”. (Derrida: 110-111).

Ernest Bloch estabelece uma relação entre pulsão instintual de morte e a práxis individual de Hitler no campo político europeu: “Enfin le fascisme, à son tour, animera d’une rage nouvelle l’instinct de mort, qui pour les contemporains de Werder était encore sentimental et pour les romantiques , avant toute nocturne. C’est un mobile bien différent, un mobile social qu’il evoque pour stimuler cet instinct de mort et l’orienter dans une diraction nouvelle. Ca si cet instinct est mis à l’honneur par le fascisme c’est en partie pour les massacres de la guerre imperialiste et en partie à cause de la situation désespérée de la bourguesie agonisante”. (Bloch: 67).

O <instinto de morte> é uma pulsão instintual que cava a gramática de sentido de afecção fascista no cérebro do europeu. A Primeira Guerra Mundial europeia e o Estado mercantilista europeu do final do século XIX e início do século XX, tais fenômenos criam a gramática de sentido afecção/instinto de morte. Bloch faz pendant com Derrida., pois, o extinto de morte estabelece o campo político inimigo/inimigo como gramática de sentido de afecção, já presente na reflexão de Platão. (Platon: 1047; Schmitt: 55).

 

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