José Paulo
Spinoza faz uma filosofia materialista do poder:
“um espaço onde emergem as singularidades. E estas não
recebem nenhuma mediação, mas simplesmente se colocam em uma imediata relação
de produção da substância”. (Negri. 1993: 101).
Singularidade sem mediação: gramática, ou forma ideológica ou
forma de gosto; singularidade de produção da substância:
“Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma
substância que consta de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma
essência terna e infinita”. (Spinoza. 1973: 84).
Deus um ser em identidade com a natureza (Negri. 1993:55); a
substância não pode ser produzida, mas é próprio de sua essência existir; toda
substância deve ser infinita, isto é, sumamente perfeita em seu gênero. (Negri.
1993: 87); a essência é produtiva, é causa, é potência. (Negri. 1993: 91):
Deus é a substância natureza, a substância que é a terra das
terras é o real em um contraponto analógico a forma de gosto do barroco:
<céu dos céus>. [Deus não é o grande Outro, o Simbólico}; Deus é o
heteróclito. Este não é diabólico, pois, o diabo é apenas uma forma de gosto da
fábula da comunidade psíquica linguística- cristã. Ora, há potentia e potestas:
“’Potentia e potestas: lembremo-nos deste trecho, como
daquele a que alude a Definição VII (sobre a potencia da ação coletiva na
constituição da singularidade), ele representa a indicação de um dos pontos
mais importantes e significativos, como veremos, da filosofia spinozista do
porvir”. (Negri. 1993: 101).
Potentia a potestas tem um significado em comum:
<poder>. (Saraiva: 923). No campo político virtual, potestas aparece como
<poder político> e potentia como o
poder de fazer obras. Potentia é um poder sem gramática política e potestas é o
poder das relações técnicas de produção como general intellect:
“Nos estudos preliminares à ‘Crítica da economia política’
encontra-se uma versão, segundo a qual a história da espécie humana está
comprometida com uma conversão automática de ciência natural e tecnologia em
uma autoconsciência do sujeito social (general intellect) que controla o
processo da vida material”. (Habermas. 1982:64).
2
Filosofia, ideologia, prática política aparecem no Texto de
Spinoza:
“Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si,
em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se
habituaram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quando querem
parecer mais morais, detestá-los. Julgam assim agir divinamente e elevar-se ao
pedestal da sabedoria, prodigalizando toda espécie de louvores a uma natureza
humana que em parte alguma existe, e atacando através de seus discursos a que realmente
existe. Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles
próprios gostariam de fossem”. (Spinoza. 1973:313; 1954: 918).
A forma ideológica na comunidade psíquica linguística
spinozista é análoga a de Marx: “Concebem os homens...”:
“Os que os torna representantes da pequena-burguesia é o fato
de que sua mentalidade não ultrapassa os limites que esta não ultrapassa na
vida, de que são consequentemente impelidos, teoricamente, para os mesmos
problemas e soluções para os quais o interesse material e posição social
impelem – na prática – a pequena-burguesia. Esta é em geral, a relação que
existe entre os representantes políticos e os literários de uma classe e a
classe que representam”. (Marx. 1974: 357). A relação entre representante político
e literários e a classe que representam tem uma forma ideológica:
“ E assim como na vida privada se diferencia o que o um homem
pensa e diz de si mesmo do que ele realmente é e faz, nas lutas históricas
deve-se distinguir mais ainda as frases e as fantasias dos partidos de sua
formação real e de seus interesses reais, o conceito que fazem de si do que são
na realidade”. (Marx. 1974: 355).
Spinoza:
Daí, por consequência, que quase todos, em vez de uma ética,
hajam escrito uma sátira, e não tinham sobre política vistas que possam ser
postas em prática, devendo a política, tal como a concebem, ser tomada como
quimera, ou como respeitando ao domínio da utopia ou da idade de ouro, isto é,
a um tempo em que nenhuma instituição era necessária. Portanto, entre todas as
ciências que têm aplicação, é a política o campo em que a teoria passa a
diferir mais da prática, e não há homens que se pense menos próprios para
governar o Estado do que teóricos, quer dizer, os filósofos”.
(Spinoza.1973313)
A filosofia idealista é a forma ideológica que não é capaz de
conceber o conceito materialista de prática política. O conceito de
filósofo-rei (Edmond; 1991) é um conceito idealista de prática política, como
quimera. O poder político (potestas) é uma quimera? Potestas como fenômeno
institucional significa gramática institucional ou prática política? não é o poder
do jardim das delícias do tirano; se o tirano é o grau zero da gramática
política, não há democracia sem gramática institucional.
3
O que é governar/
Spinoza:
“E é certo estar eu persuadido de que a experiência mostrou
todos os gêneros de cidade [<organização em nação> na tradução
francês] que se podem conceber e onde os homens vivem em paz ao mesmo tempo que
deu a conhecer os meios através dos quais se deve dirigir a multidão [<massas>],
isto é, contê-la dentro de certos limites. (Spinoza. 1973: 313; 1954: 919).
Há uma fronteira que se atravessada – no campo político- este
se torna anárquico. O Brasil tem uma longa história de campo político da
anarquia branca das oligarquias latifundiárias. Sob domínio dessa oligarquia
hoje, o parlamento faz a guerra privada -feudal- contra o resto do país. O
parlamento é uma comunidade psíquica linguística em uma guerra contra a
comunidade psíquica linguística-Brasil. Ele instaurou a anarquia branca como
guerra feudal de desintegração da Constituição democrática de 1988. A singularidade
da multidão parlamentar consiste em ele ser uma massa de homens e mulheres sem
gramática política:
“7. – Poi que, todos os homens bárbaros ou cultivados
estabelecem em toda parte costumes e se dão um estatuto civil, não é dos
ensinamentos da Razão, mas da natureza dos homens, isto ´e, da sua condição que
s deve deduzir as causas e os fundamentos naturais dos poderes públicos, (Spinoza.
1973: 315).
A prática política de homens e mulheres não segue a gramática
racional, e sim uma outra gramática, gramática da natureza humana que produz as
singularidades no campo político natural – do direito natural:
3. – Sabendo, portanto, que o poder pelo qual existem e agem
os seres da natureza é o próprio Deus, conhecemos facilmente o que é o direito
natural. (Spinoza:1973: 315?
O leitor sabe que Deus é a Natureza, e ambos são o real do
campo natural da sociedade e no campo político:
“Pois que, com efeito, Deus tem o direito sobre todas as
coisas e que o direito de Deus não é senão o próprio poder de Deus considerado
na sua liberdade absoluta, todo ser na Natureza tem da Natureza tanto direito
quanta capacidade tem para existir e agir: a capacidade pela qual existe e age
qualquer ser da Natureza não é outra coisa senão o próprio poder de Deus, cuja
liberdade é absoluta”. (Spinoza. 1973: 315)
O poder do direito natural sobre o campo político é a
subsunção do direito positivo ao próprio poder de Deus. A prática política não
é pilotada por formas: políticas ideológicas:
4. – Por direito natural, portanto, entendo as próprias leis
ou regras da Natureza segundo as quais tudo acontece, isto é, o próprio poder
da Natureza> por conseguinte, o direito natural da Natureza inteira, e
consequentemente de cada indivíduo, estende-se até onde vai a sua capacidade,
e, portanto, tudo o que faz um homem, seguindo as leis da sua própria natureza,
fá-lo em virtude de um direito natural soberano, tem sobre a Natureza tanto direito quanto
poder”. (Spinoza. 1973: 315).
Trata-se da Natureza do campo político, pois, natural. A
gramática dos direitos naturais é um poder, é potentia, é relações técnicas de
produção no campo político natural. O general intellect possui uma gramatica
natural da comunidade psíquica linguística-produção que se transforma em
gramatica social no campo político da sociedade:
“Em inglês no original: general intellect. Cf. a distinção
que Marx faz entre trabalho ‘geral’ e ‘coletivo’ no terceiro tomo de ‘O
capital’. ‘Ambos desempenham seu papel no processo de produção, ambos s fundem,
mas também, ambos se diferenciam. É trabalho geral todo trabalho científico,
toda descoberta, toda invenção. Está condicionada, em parte, pela cooperação
com seres vivos e, em parte, pela utilização dos trabalhos de antecessores’. Em
toca, ‘o trabalho coletivo pressupõe a cooperação direta dos indivíduos ‘ (ou
seja, a organização comunista da sociedade)’. (Rosdolsky:539).
O general intellect é um aparecer que produz singularidades
[fenômenos moleculares] no campo político natural.
4
Há uma comunidade psíquica linguística filosófica como
produção de gramática de sentido das singularidades:
“Cari l n’y a pas du tout d’autre vie pour le philosophe.
Humilité, pauvreté, chasteté deviennent dès maintenant les effets d’une vie
particulièrement riche et surabondante, suffisament puissante pour avoir
conquis la pensée et s’être subordonné tout autre instinct – ce que Spinoza
appelle la Nature: une vie qui ne se vit plus à partir du besoin, en fonction
des moyens et de fins, mais á partir d’une prodiction, d’une prodictivité,
d’une puissance, en fonction des causes et des effects”. (Deleuze: 9).
“5. - Quer seja sábio ou
insensato, o homem é sempre parte da Natureza, e tudo aquilo através do qual é
determinado a agir deve ser relacionado com o poder da Natureza, tal como este
pode ser definido pela natureza deste ou daquele homem. Quer seja conduzido
pela Razão ou apenas pelo desejo, o homem, efetivamente, nada faz que não seja
conforme com as leis e as regras da Natureza, isto é, (4 deste capítulo), em
virtude do direito natural”.(Spinoza. 1973:315- 316)
O homem é o general intellect de
uma comunidade psíquica linguística-espécie humana com gramática/direito
natural.
As afecções aristotélicas
produzem singularidades no general intellect no campo político da comunidade
psíquica linguística como o inimigo a granel:
14. - “Na medida em que os homens
sejam tomados pela cólera, pela inveja, ou qualquer sentimento de ódio, eis que
se opõem e entram em contradição mutuamente e se tornam tanto mais temíveis
quanto é certo terem mais potestas,, e hábeis e astutos que os outros animais.
Como atualmente os homens (tal como vimos no 5 deste capítulo) estão muito
sujeitos por natureza a estes sentimentos, são também por natureza inimigos uns dos outros; com
efeito, é meu maior inimigo aquele que para mim é mais temível e de quem mais
devo defender-me”. (Spinosa. 1973: 318: 1954:929).
A comunidade psíquica
linguística-direito natural para existir depende da comunidade psíquica
linguística-Estado-corpo ou aparelho de Estado:
“15 – como no estado natural cada
um é senhor de si próprio, enquanto pode defender-se de forma a não sofrer a
opressão de outrem, e porque, individualmente, o esforço de autodefesa se torna
ineficaz sempre que o direito natural humano for determinado pelo poder
absoluto de cada um, tal direito será na realidade inexistente, ou ao menos só
terá uma existência puramente teórica [virtual], porquanto não há nenhum
meio seguro de o conservar. É também certo que cada um tem tanto menos potestase3,
por conseguinte, menos direito quanto mais razões tem para ter medo. Acrescento
que sem mútua cooperação os homens nunca poderão viver bem e cultivar a sua
alma. Chega-se, portanto, a essa conclusão: que o direito natural, no que
respeita propriamente ao gênero humano, dificilmente se pode conceber, a não
ser quando os homens têm direitos comuns, terras que podem habitar e cultivar
em comum, quando podem vigiar a manutenção de sua potestas, proteger-se,
combater qualquer violência e viver segundo uma vontade comum. Efetivamente,
quanto maior for o número dos que, reunindo-se, tenham formado um corpo [político],
tantos mais direitos usufruirão, também, em comum. E se os escolásticos, pela
razão de os homens em estado de natureza não poderem ser senhores de si mesmos,
quiserem chamar ao homem um animal sociável, nada tenho a objetar-lhes”.
(Spinoza. 1973: 318-319).
O campo ditatorial fascista do
presente quer que o direto natural sem gramática de Estado. Assim, eles querem
destruir a democracia spinozista na qual ao gramatica do direito humano do
general intellect faz pendant como Estado democrático constitucional.
5
A democracia
lógica/constitucional [com soberania da multitudo spinozista com aparelho de
hegemonia de uma gramática (único pensamento gramatical) a ser reconhecida e
seguida] é um fenômeno do campo político da atualidade?
Spinoza:
“7. – É preciso considerar em
primeiro lugar que, s no estado natural tem mais poder e depende mais de si
mesmo aquele que vive sob a conduta da Razão, da mesma forma a cidade [forma
lógica da comunidade psíquica linguística-política] fundada na razão e
dirigida por ela, esta é a poderosa e mais dependente de si própria. O direito
da cidade, com efeito, é definido pelo poder das massas que é, de certo modo,
conduzido por um único pensamento, e esta união das almas não se pode conceber
de nenhuma maneira se a cidade não tende eminentemente à finalidade que a sã
Razão ensina a todos os homens que lhes é útil atingir”. (Spinoza. 1973: 322).
Spinoza:
Com efeito, o que seria, senão um
delírio, a lei a que ninguém pode ser constrangido? Falo aqui expressamente das
coisas que não podem ser do direito da cidade e das quais a natureza humana tem
geralmente horror. Que um insensato ou um demente não possa ser levado por
qualquer promessa ou ameaça a obedecer a ordens, e mesmo que um ou outro, por
estar submetido a esta ou aquela religião, julgue que as leis do Estado são
piores que qualquer mal, nem por isso essas leis são abolidas, pois, que a
maioria dos cidadãos se lhes submete. Por conseguinte, aqueles que não têm
temor nem esperança não dependem senão de si próprios e são inimigos do Estado,
aos quais o Estado tem o direito de tomar contra os inimigos dele medidas de
constrangimento”. (Spinoza. 1973: 323; 1954938-939
O aparelho penal de Estado com
sentido lógico gramatical é um mal muito menor do que o Estado delirante sem
lógica de sentido, Estado do direito natural brutalista ou da soberania da
comunidade psíquica linguística religiosa no campo político da civilização
histórica.
5
Spinoza:
“D’autant que, pour les problèmes
les plus importants, on leur accorderait lec temps de la réflexion. Au surplus,
ce serait une grande erreur de croire qu’une assemblée, composée d’une petit
nombre d’hommes, est plus favorisée à cette égard. Bien au contraire, une
assemblée réduit comprend une proportion relativement enorme d’hommes incultes.
Car chaque membre s’efforce, autant qu’il le peut, de se trouver en compagnie
de collèguyes stupides, qui veuillent bien le charge de penser à leur place.
Tandis que, dans une assemblée tant soit peu considdérable, une telle tactique
serait vooée à l’échec”. (Spinoza. 1954: 970).
“Especialmente porque, para os problemas mais importantes, teriam
tempo para reflexão. Além disso, seria um grande erro acreditar que uma
assembleia, composta por um pequeno número de homens, seja mais favorecida
neste aspecto. Pelo contrário, uma pequena assembleia inclui uma proporção
relativamente grande de homens incultos. Porque cada membro se esforça, tanto
quanto pode, para estar na companhia de colegas estúpidos, que estão dispostos
a se encarregar de pensar por eles. Ao passo que, numa grande assembleia , tal
táctica estaria condenada ao fracasso”. (Spinoza. 1973: 338).
A forma de governo democrático por grandes assembleias tem
que resolver o problema da formação cultural de homens e mulheres. As grandes
assembleias podem ser o corpo política da democracia das Luzes barrocas na
China?
A China tem uma general intellect gramatical de 500 milhões
de pessoas. Trata-se de uma pequena-burguesia proprietária de capital cultural.
(Bourdieu:39). O Estado lacaniano chinês tem um governo do general intellect
potentia como potestas na época do mercantilismo do capital asiático:
‘Na articulação da hegemonia do mercantilismo capitalista, o
gneral intelect existe como o partido que faz a junção da política com a
economia, da gramática com a ciência. O campo das ideologias se transforma,
pois, a ideologia deve funcionar como domínio da luta do mercantilismo
capitalista contra o ancien regime”. ( (Bandeira da Silveira. 2022a: cap. 170.
O problema da forma de governo se transforma no campo das
ideologias do século XXI. No século XX. Os EUA é uma democracia e a China uma
ditadura. No século XXI, a forma de governo não se define autotelicamente [como
pensa a ciência política universitária] no campo político. Ela é um conceito
que se define como uma comunidade psíquica linguística viva em relação à
relação dela com o Estado e a sociedade. A relação Estado/sociedade se define
como do capital feudal com o Estado lacaniano. É a relação feudal de direitos à
mais-valia pública entre dominante dominado. O Estado lacaniano no campo
político ressignifica a forma de governo para além da imagem textualizada
ideológica do século XX, isto é, EUA igual a democracia e China igual a
ditadura. A democracia das luzes barrocas da China tem 500 milhões de pessoas
no seu governo de assembleias:
“Em E. h. Gombrich, o Estado lacaniano aparece no
desenvolvimento da engenharia civil de Estado”.
“A relação do Estado lacaniano com os artistas é parte de uma
gramática do poder republicano como liame social da articulação da hegemonia”.
(bandeira da Silveira. 2022b: cap. 16)
O Estado lacaniano é um aparelho de hegemonia da comunidade
psíquica linguística-polis e3m um governo de assembleias da multitudo:
“A gramática da arte romana vive em função da segurança do
Estado”.
“na nossa contemporaneidade, o Estado chinês não aparece como
reedição do Estado lacaniano da República?’. (Bandeira da Silveira, idem, cap.
16):
“O Estado lacaniano barroco é outro fenômeno da tela
gramatical narrativa do mercantilismo do capital barroco. Ele administra a
mais-valia pública”.
“O general intellect gramatical é um outro fenômeno da tela
narrativa do mercantilismo do capital barroco”. (Bandeira da Silveira. 2023:
cap. 3).
A democracia da Luzes barrocas faz pendant com um Estado que
distribuiu a mais-valia pública pa ra o general intellect gramatical, para a
pequena-burguesia proprietária de capital cultural que acaba por ser o
significante que define a forma de governo no campo político feudal/barroco
chinês.
Como estabelecer uma analogia com o discurso do domínio da
ciência jurídica do Estado democrático constitucional? Segue meu texto do livro
“ciência política materialista”:
“Hans Kelsen escreve sobre a tela
gramatical/normativa/narrativa da democracia (Kelsen: cap. 10) na cultura
política ... nacional/popular/cosmopolita. A tela da democracia faz pendant com
a forma de governo e sua concepção política d vida. na época da nova
moderníssima democracia, a tela gramatical democrática faz uma luta ciclópica
com as outras telas pela hegemonia como estrutura de dominação de uma
civilização democrática”.
“O saber democrático pressuposto é uma descoberta e invenção
gramatical de várias civilizações, na história, mas nosso objeto ou fantasia
real é a civilização ocidental. A tela democrática é a ------------------polis.
Kelsen diz que os agentes de produção da tela democrática são, ou a assembleia
popular, ou o parlamento”.
“Na democracia pós-moderna, um partido mafioso das meia-noite
da superfície profunda do Ocidente se constitui como vontade política de
desintegrar a democracia, se aproveitando do ocaso dessa forma de tela
gramatical pós-moderna. A nova moderna democracia se choca com o poder
pós-moderno mafioso. Daí surge a crise catastrófica entre pós-modernidade
cesarista/tirânica e a nova modernidade democrática”.
“A crise catastrófica é aquela da foraclusão da estrutura de
dominação do hegemonikón do campo político a curto prazo e da cultura política
nacional/popular democrática a longo prazo; a crise se atualiza com a classe
dominante mafiosa em aliança com classes médias mafiosas pós-modernas querendo
governar somente pela tela gramatical do aparelho de Estado/ legislação penal:
dominação puro sangue”.
‘Os fenômenos monstruosos abriram as comportas sujas do mundo
para a existência de uma realidade heteróclita, que fascina os mass media e
políticos”. (Bandeira da Silveira. 2024: 417-418).
A realidade heteróclita é o real como natureza reprofunda do
campo político como subsunção da democracia constitucional das luzes barrocas
feudais à gramática dos direitos naturais como forma de gosto do brutalismo. (Souriau:281).
6
A analogia/comparação entre a democracia das Luzes spinozista
e a democracia das Luzes barrocas asiática cria a condição de possibilidade de
pensar os conceitos de campo político e prática política. A prática política
como unidade de corpo/alma significa a unidade do real (corpo) com a alma
(gramática política). Zizek fala da emergência da forma de governo monárquica a
partir do corpo orgânico do Rei. (Zizek: 42-43). Spinoza diz:
“Pelo que precede, compreendemos não somente que a alma
humana está unida ao corpo [...]’.
“Efetivamente, de qualquer coisa existe necessariamente a
ideia em Deus e Deus é a causa dessa ideia da mesma maneira que é a causa da
ideia de corpo humano [...]. E, todavia, não podemos negar que as ideias
diferem entre si como os próprios objetos, e que uma ideia é superior a outra e
contém mais realidade na medida em que o objeto de uma é superior ao objeto da
outra e contém mais realidade. Por essa razão, para determinar em que é a alma
humana difere das outras e é superior a elas, é-nos necessário, como digo,
conhecer a natureza do seu objeto, isto é, a natureza do corpo humano”.
(Spinoza. 1973: 152).
Há uma distinção entre corpo humano e corpo exterior:
“A ideia de qualquer afecção do corpo humano não envolve o
conhecimento adequado do corpo exterior”. (Spinoza> 1973: 162). São duas
comunidades psíquicas linguísticas da prática política. a docorpo humano emerge
da natureza humana – como pontentia - e a segunda da gramática do corpo
político ou potestas. Qual delas tem mais realidade para a filosofia da ciência
política materialista?
A democracia das Luzes barroca é a emergência da natureza ou
real da comunidade psíquica linguística sociedade do general intellect como
pequena-burguesia proprietária de capital cultural.
7
O que é a filosofia?:
“Para falar a verdade, as ciências, as artes, as filosofias
são igualmente criadoras – mesmo se compete apenas à filosofia criar conceitos
nbo sentido estrito. Os conceitos não nos esperam inteiramente feitos, como
corpos celestes. Não há céu para os conceitos. Eles devem ser inventados,
fabricados ou antes criados e não seriam nada sem a assinatura daqueles que os
criam. Nietzsche determinou a tarefa da filosofia quando escreveu: ‘os
filósofos não devem mais contentar-se em aceitar os conceitos que lhes são
dados, para somente limpá-los e fazê-los reduzir, mas é necessário que eles
comecem por fabricá-los, cria-los, afirmá-los, persuadindo os homens a
utilizá-los”. (Deleuze e Guattari: 13-14).
Então, a filosofia é aparelho de contrahegemonia de
fabricação de gramáticas [política, econômica, cultural] e de campos de
ideologias. Ora! Há um agente histórico que pilota o aparelho de filosofia?
Bem! a comunidade psíquica linguística filosófica é esse agente do aparelho de
hegemonia da filosofia. A filosofia de Spinoza tem o aristotelismo e o
estoicismo como fontes de conhecimento gramatical. o que isso significa? Que a
comunidade psíquica linguística é uma superfície do materialista/dialética:
“Quando corpos exteriores determinam as partes fluidas do
corpo humano a vir a chocar-se, muitas vezes, contra as partes mais moles, as
superfícies destas últimas são modificadas. Daí resulta qu as partes fluidas
são fletidas de maneira diferente do que o faziam antes, e, mais tarde, vindo
pelo seu movimento espontâneo a encontrar as superfícies novas, não fletidas da
mesma maneira que quando foram impelidas pelos corpos exteriores contra essas
superfícies;”. (Spinoza. 1973: 157; 1954: 376).
A plurivocidade de prática política da comunidade psíquica
linguística é uma superfície constituída de afecções e fenômenos lógicos,
infralógicos, supralógicos. A afecção do corpo é a imagem da coisa. (Spinoza.
1973: 158). A afecção tem uma produção na relação social
[materialista/dialética entre corpos na plurivocidade de comunidade psíquica
linguística no campo político conjuntural:
“As afecções, com efeito, são modos pelos quais as partes do
corpo humano, e, consequentemente, o corpo humano, na sua totalidade é
afetado”. (Spinoza. 1973: 163).
O modelo dialético materialista:
“ – comme donnant à ces affets leus contenu ou leur raison
d’être , sous la forme de la fin vers laquelle ils tendente et qu’ils cherchent
á s’aproprier ou `s destruire: entraînée ainsi dans les aventures aléatoires de
l’amour et de la haine, qui, avec leus logique antagoniste définie par les
mécanisme de la fluctuatio animi, sont, au sens exact du terme, des passions,
ce que ne sont point au départ les effects primaires de l ajoie et de la
tristesse [...]”. (Macherey: 56).
Ora:
‘qui concerne la façon dont l’âme appréhende les affections
du corps, tout cela est parfaitement possible, dans les limites normalement
imparties á nos capacités intellectualles et mentales qui déterminant la
puissance naturalle de l’âme humaine”. (Macherey: 55).
O conceito de afecção foi fabricado por Aristóteles:
“Bem! parece que todas as afecções da alma estão ligadas ao
corpo: a ira, a educação, o medo, a piedade, a valentia, a alegria, igual ao
amor e ao ódio, já que quando estas afecções aparecem, também o corpo é
afetado. Isto resulta absolutamente evidente. As vezes não se manifesta nenhuma
indignação, ou temor, ainda quando as provocações sejam fortes e claras, e, ao
contrário, causas pequenas e quase inadvertidas produzem movimentos, quando o
corpo está predisposto a ira e está de humor colérico”. (Aristoteles. 1982:
109).
Os estoicos falam de objeto interior [fantasma] sem relação
com o mundo exterior [relação social] e do objeto esterno fantasia que afeta a
comunidade psíquica linguística-indivíduo. (Elorduy;36). As relações
materialista/dialética entre tais objetos produzem as afecções do
corpo/alma.
8
A história dos efeitos conjunturais é plurivocidade de
comunidade psíquica linguística e, sobretudo, prática política em um campo de
conhecimento:
1)
Das
coisas singulares que os sentidos representam mutiladas, confusas e sem ordem à
inteligência; por esta razão tomei o hábito de chamar a essas percepções
conhecimento pela experiência vaga;
2)
Dos
sinais, por exemplo, do fato de termos ouvido ou lido certas palavras, nos
recordamos das coisas e delas formamos ideias semelhantes àquelas pelas quais
imaginamos as coisas. Para o futuro, chamarei a essas duas maneiras de
considerar as coisas: conhecimento do primeiro gênero, opinião ou imaginação;
3)
Finalmente,
do fato de termos noções comuns e ideias adequadas das propriedades das coisas.
A este genro darei o nome de Razão e conhecimento do segundo gênero.
“Além desses dois gêneros de conhecimento, há ainda um
terceiro, como o mostrarei a seguir., a que chamamos ciência intuitiva. Esse
gênero de conhecimento precede da ideia adequada da essência formal de certos
atributos de Deus para o conhecimento adequado da essência das coisas”.
(Spinoza. 1973: 169).
Há problemas específicos para os vários gêneros de
conhecimento das práticas políticas e das comunidades psíquicas linguísticas.
Um problema da <ciência intuitiva> diz respeito a Deus, ou seja, a Natureza da
história dos efeitos conjunturais do campo político de época:
‘Daí se segue que todas as coisas particulares são
contingentes e corruptíveis. Com efeito, não se pode ter qualquer conhecimento
adequado da sua duração, e é precisamente isso que devemos entender por
contingência das coisas e pela possibilidade de sua corrupção. Com efeito, Á
parte disso, nada existe de contingente”. (Spinoza. 1973: 165).
A natureza do campo político conjuntural não é um fenômeno
particular, então não é contingente e corruptível. Bem, a natureza política é
um tempo eterno? O olhar autotélico retira do campo político sua possibilidade
de mudança da forma de governo. A filosofia materialista dialética vê a
possibilidade de mudança na natureza do campo político, na sua tela gramatical
hegemônica. O campo político é, também, uma plurivocidade de tela: gramatical,
de gosto, de ideologia.
Para encerrar, a mudança na natureza da história dos efeitos
conjunturais [produzidos pela dialética/materialista das telas] tem como agente
as relações técnicas de produção como potentia atualizada como general
intellect no campo político conjuntural.
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